Capítulo 3: Palavras de um Jade


 Ao entrar no cômodo separado, os olhos de Chu Jin Yao se arregalaram. Era o tecido mais bonito e requintado que ela já havia visto. Sim, aquilo não era pano, era brocado.

As jovens senhoritas vibraram e correram para olhar mais de perto. Até mesmo Chu Jin Xian, sempre tão digna e graciosa, sorriu e se apressou. As jovens da família Chu pegaram os brocados e começaram a discutir animadamente, comparando os diferentes padrões florais. Chu Jin Yao se aproximou do grupo e observou com olhos arregalados de surpresa. Tocou o tecido com todo o cuidado, como se fosse um tesouro raro.

Chu Jin Yao ficou maravilhada com a sensação. O brocado era um tipo de seda especial e tributária de YingTianFu. Tinha o brilho das nuvens, por isso era chamado de YunJin (brocado das nuvens). O custo de fabricação era tão alto que apenas os dois tecelões mais habilidosos conseguiam trabalhar juntos para tecer um cun (aproximadamente 1 polegada) por dia. Daí vinha o ditado: “um cun de brocado, um cun de ouro”. Todos esses brocados raros e requintados eram enviados à nobreza no Palácio. Somente quem tinha conexões conseguia comprar alguns rolos — em pequenas quantidades — e nunca eram vendidos em público. Pode-se imaginar o valor que esse tecido teria no mercado aberto.

Até as jovens que cresceram na residência do Marquês achavam raro, que dirá Chu Jin Yao. Ela não resistiu e tocou novamente, mas não esperava que algo desse errado. Por causa dos anos de trabalho no campo, ainda tinha calos nos dedos. Ao roçarem contra o tecido delicado, um fio acabou sendo puxado para fora.

Chu Jin Yao recolheu a mão rapidamente, mas seu gesto atraiu a atenção das outras. A Sétima Senhorita do Segundo Ramo, Chu Jin Jiao, viu e imediatamente gritou:

— Como você pôde puxar um fio do brocado?!

Chu Jin Yao apertou a mão contra o corpo enquanto os olhares das outras se voltavam para ela com expressões estranhas. Os dedos delicados de Chu Jin Miao passaram pelo tecido, e um leve sorriso se formou no canto de seus lábios.

Bem o que se espera de alguém do campo. Tão inferior que não serve nem para ser mostrada em público.

Chu Jin Xian franziu o cenho e repreendeu:

— Já basta. É só um rolo de brocado. Como todas vão escolher um, esse ficará com a Quinta Senhorita. Suas coisas são de seu próprio uso.

A Sétima Senhorita fez um biquinho:

— Esse padrão de flores é hortênsia roxa sobre fundo branco. Eu também gostei. Por que dar pra ela?

Chu Jin Xian assumiu uma expressão séria e demonstrou a autoridade de filha mais velha legítima ao encarar a Sétima Senhorita. Só então ela parou de reclamar, ainda que a contragosto.

O episódio logo passou, e as jovens senhoritas voltaram, alegres, a escolher seus padrões florais. Mesmo que seus rostos não demonstrassem nada, Chu Jin Yao sabia que por dentro todas riam dela.

Depois de selecionarem os padrões, as jovens continuaram juntas, costurando. Moças solteiras só se concentravam em poucas coisas, e como só havia algumas flores realmente bonitas, logo começaram a disputar entre si. Chu Jin Yao já não estava muito contente, e como o cômodo virou uma confusão, ela se aproximou de Chu Jin Xian e disse em voz baixa:

— Irmã Mais Velha, vou sair primeiro.

Chu Jin Xian olhou para Chu Jin Yao, como se quisesse dizer algo, mas no fim apenas suspirou:

— Vá, então.

Chu Jin Yao voltou para seu quarto sem dizer uma palavra, nem parar para descansar pelo caminho. Ding Xiang carregava o brocado em silêncio, pois sua senhora também não dizia nada. Shan Cha vinha atrás de Chu Jin Yao e, à medida que ela acelerava o passo, começou a ficar sem fôlego.

Shan Cha pensava consigo mesma que crescer no campo era mesmo diferente de ser uma verdadeira senhorita. As jovens senhoritas se cansavam depois de dar dois passos, mas não aquela ali. Até ela, uma criada, já estava ofegante por ter caminhado do Salão Rong Ning até o Pátio Chao Yun, mas para Chu Jin Yao aquilo não era nada.

Chu Jin Yao morava no Pátio Chao Yun. Apesar do nome bonito, a localização era bastante afastada. A Residência do Marquês Chang Xing era voltada para o sul, com os fundos ao norte, dividida em três alas: Leste, Central e Oeste. O pátio mais nobre e luxuoso do lado norte da ala central pertencia à Velha Madame Chu. O Marquês e Zhao shi moravam no pátio central da ala central, e os demais ramos da família ficavam distribuídos pelas outras alas. Como Chu Jin Xian era a filha legítima do Ramo Principal, deveria morar com Zhao shi, mas esta ocupava o pátio principal com a Primeira e a Quarta Senhoritas nos pátios laterais. O pátio da Primeira Senhorita era o maior. Havia até um pequeno pátio nos fundos, onde moravam as outras jovens filhas de concubinas, que não podiam ser realocadas. Já atrás do pátio da Quarta Senhorita ficava parte do dote de Zhao shi. Zhang Mama sugeriu mover o dote para os fundos e dar aquele pátio para a Quinta Senhorita, mas Zhao shi recusou, dizendo que a umidade ali era muito alta e poderia danificar seus baús de madeira de mogno. Por isso, arrumaram um pátio vazio na ala leste para Chu Jin Yao.

Chao Yun Yuan ficava no canto norte da ala leste. Era longe e isolado, e poucos estavam dispostos a ir até lá. Quando Chu Jin Yao chegou, tinha um pátio independente, que à distância até parecia maior que o da Primeira Senhorita — mas o significado por trás era completamente diferente.

Chu Jin Yao pensou em silêncio que, mesmo nas vilas, as crianças moravam junto com os pais. Porém, ela foi colocada para morar sozinha. Isso mostrava o quanto Zhao shi não gostava dela e nem queria vê-la.

Shan Cha acariciava o brocado com alegria — afinal, era um brocado tributário. Como a Quinta Senhorita não sabia o valor daquilo, no fim seriam elas, as criadas, que o cortariam. Ao fazer as roupas, ela ainda poderia preparar um pequeno enxoval para si mesma.

Shan Cha não conseguia desgrudar os olhos do brocado branco com hortênsias roxas, mas Chu Jin Yao estava completamente desinteressada.

— Guarde isso — disse.

Guardar? — Shan Cha hesitou, relutando em soltar o brocado. Ding Xiang o pegou, mas Shan Cha ainda segurava a outra ponta, sem querer largar.

Ding Xiang lançou-lhe um olhar severo e disse:

— Você não ouviu o que a Senhorita disse?

Só então Shan Cha soltou as mãos, a contragosto, e observou enquanto Ding Xiang trancava o brocado e ainda guardava a chave.

— Não há mais nada para resolver aqui. Vocês podem sair.

Ding Xiang e Shan Cha se entreolharam. Sempre deveria haver alguém no quarto da Senhorita... No entanto, vendo a expressão ruim de Chu Jin Yao, não ousaram desobedecer e se curvaram:

— Senhorita, então nós vamos sair primeiro?

En.

Somente quando o quarto ficou completamente silencioso, Chu Jin Yao se sentou na cama, abraçou os joelhos e se recostou, desamparada, contra a cabeceira.

Naquela residência, sua Mãe fingia que ela não existia, ZhuMu era fria, e o Pai, que a trouxera de volta, não era visto há dias. Ela não tinha ninguém próximo e se sentia perdida e sem apoio. Até mesmo a Irmã Tang mais nova implicava com ela deliberadamente, e ela não sabia como responder.

Chu Jin Yao sempre pensou que, embora todos ainda não estivessem acostumados com ela, com o tempo as coisas melhorariam. Mesmo se esforçando para aprender, ainda assim não conseguia se integrar à Residência do Marquês. Não compreendia essas etiquetas nobres, mas isso era culpa dela? Por que ninguém lhe dava sequer uma chance?

Enquanto pensava nisso, lágrimas começaram a escorrer sem que percebesse. Dizem que os filhos dos pobres amadurecem cedo — até mesmo o choro de Chu Jin Yao era silencioso. Ela sabia que, mesmo se chorasse alto, ninguém viria consolá-la e, em vez disso, acabaria preocupando a Irmã mais velha Su Hui.

Depois de um tempo, uma voz repentinamente soou no quarto silencioso:

Não chore.

Assustada, Chu Jin Yao pulou e até esqueceu de chorar. Ainda havia lágrimas em seu rosto, mas ela se levantou de súbito e começou a olhar em volta.

Tinha alguém no quarto?

Mas ela havia mandado todos saírem... Espera aí. Aquela voz era límpida como jade tocada pela água, e só pelo tom dava para perceber que era masculina.

Chu Jin Yao olhou ao redor, mas não viu ninguém. Todos os pelos de seu corpo se arrepiaram. Aquele pátio era afastado e remoto, ouviu dizer que estava abandonado há muito tempo. Será que... esse lugar é assombrado?

O rosto de Chu Jin Yao ficou pálido e ela gaguejou:

— Q-qu... que tipo de ser sagrado é você?

Ao mesmo tempo, seus pés se moviam discretamente em direção à porta, planejando abri-la imediatamente para chamar ajuda.

A voz não apareceu por um bom tempo. Depois de um momento, o outro riu levemente, com um traço de divertimento:

Você acha que eu sou um fantasma?

Chu Jin Yao parou e rebateu:

Você não é?

Seu coração ainda batia alto como tambores. Por que ela sentia que essa voz estava ficando cada vez mais próxima, como se estivesse ao seu redor...

Tem algo atrás de você!

Aah! — Chu Jin Yao gritou e se encolheu, abraçando os joelhos. O outro riu alegremente ao vê-la se assustar tanto com palavras tão simples. Essa risada era diferente da anterior. A anterior era fria, como resultado de anos de indiferença. Mas esta... era incontrolável.

A voz dele era muito agradável — a mais bela que Chu Jin Yao já ouvira. No entanto, isso não escondia o quão detestável ele era. Agora, ela percebia exatamente de onde vinha a voz: do seu pingente de jade!

Chu Jin Yao arrancou o pingente do pescoço e o jogou na cama, esbravejando:

Seu canalha!

O pingente de jade quicou duas vezes sobre a colcha e caiu rapidamente sobre o brocado. O outro pareceu surpreso e perguntou:

O que foi que você disse?

Ao falar, sua voz não teve variação, mas o tom no final subiu levemente, soando extremamente ameaçador. Chu Jin Yao quase morreu de susto com aquele canalha. E pensar que ele ainda era tão arrogante! Ela ficou furiosa, correu até a cama, pegou o pingente e o jogou de novo:

Você me assusta e ainda quer estar com a razão?

Chu Jin Yao crescera no campo. Como sua família não era exatamente pacífica, ela não tinha um temperamento submisso. Nos últimos dias, sofrera várias injustiças na Residência do Marquês. Primeiro, se intimidou com o luxo do lugar. Até mesmo um Imperador se sentiria pequeno no Palácio Celestial, que dirá uma jovem de treze anos, recém-chegada a um lugar onde não conhecia ninguém. Como poderia se adaptar?

Além disso, Chu Jin Yao queria se dar bem com seus verdadeiros parentes. Por isso, sorria para todos que conhecia e se esforçava para aprender e imitar as etiquetas, os cumprimentos e a forma de falar.

Mas, mesmo assim, no fundo, ela não estava nada otimista.

Agora, ao se deparar com um ser desconhecido, que fazia brincadeiras de mau gosto e ainda era particularmente arrogante, toda a raiva reprimida dentro de Chu Jin Yao explodiu de uma vez. Apesar de seu jeito direto, ela era esperta. Jogou o pingente com força, mas sobre a cama. Aquele era o pingente protetor que ela carregava desde pequena — seria ela mesma a mais aflita se ele se quebrasse. Mesmo ao tentar disciplinar a entidade desconhecida, não iria estragar seu próprio pertence!

A voz no jade claramente não esperava que alguém ousasse tratá-lo daquele jeito. Não falou nada enquanto era arremessado, mas, assim que parou, soltou um riso frio:

Você é Chu Jin Yao da Residência do Marquês Chang Xing, certo? Espere para ver.

Como você sabe meu nome? — Chu Jin Yao ficou surpresa e desconfiada. Antes que o outro respondesse, a voz de Shan Cha soou do lado de fora:

— Senhorita, está tudo bem?

Como Chu Jin Yao gritou e jogou coisas, já havia alarmado as pessoas do lado de fora.

Ela não respondeu. Em vez disso, abaixou a voz, deitou-se sobre a cama e ameaçou o pingente:

É melhor confessar tudo direitinho, senão eu te entrego pra elas. Aí, vão chamar um sacerdote taoísta pra fazer um ritual, e sua alma pode se dispersar!

A voz no jade riu levemente e respondeu:

Então tente. Este Lorde já cresceu tanto, e ninguém jamais ousou me ameaçar.

Chu Jin Yao realmente já não sabia mais o que fazer. O outro parecia imune tanto à gentileza quanto à intimidação. Parecia que não era um fantasma maligno no pingente, mas sim um espírito. Quando estava na aldeia, ela ouvira dizer que jade tinha essência espiritual, e muitos imortais usavam essa essência para alcançar a imortalidade. Muitos mortais também usavam jade para melhorar a saúde.

Desde pequena, Chu Jin Yao sentia que seu jade era poderoso. Enquanto o usava, não pegava nem resfriado o ano todo. Por isso, ao ver um espírito saindo dele, embora surpresa, achou até razoável.

Ela costumava carregar o jade junto ao corpo — do contrário, Su Shen já o teria tomado. Mas ao chegar à Residência do Marquês, havia muitas regras, inclusive usar várias camadas de roupa. Chu Jin Yao já não conseguia mais usá-lo colado à pele e passou a imitá-las, amarrando o pingente com um cordão e pendurando-o por fora das roupas.

Na verdade, Chu Jin Yao não pretendia entregar o pingente de jade — ela só queria assustá-lo. Aquele era o jade que a acompanhava havia treze anos. Mesmo que houvesse um espírito dentro dele, Chu Jin Yao ainda sentia que esse espírito estaria mais inclinado a ajudá-la. Se isso se tornasse público e a coisa dentro do jade não se manifestasse, ninguém saberia se o que ela dizia era verdade ou não. Talvez as pessoas da Residência do Marquês suspeitassem que ela estivesse enlouquecendo. Nesse caso, Madame Zhao teria um ótimo pretexto para mandá-la embora. Chu Jin Yao não era burra. A Residência do Marquês era originalmente sua casa — por que deveria ir embora e deixá-la para os outros? Ela precisava ficar e viver bem.

Vendo que o espírito do jade não se intimidava e que Shan Cha continuava chamando do lado de fora, Chu Jin Yao só pôde elevar a voz e dizer:

— Estou bem. Pode se retirar.

Diante da insistência de Chu Jin Yao, Shan Cha ainda resmungou algumas palavras antes de se afastar. Quando teve certeza de que a criada estava longe, Chu Jin Yao então olhou para o pingente de jade:

— Por que você está no meu pingente de jade? Você tem nome?

Qin Yi também queria saber por que estava dentro de um pingente de jade carregado por uma jovem da linhagem de um marquês. Naquele dia, ele havia liderado um grupo na perseguição de alguns bárbaros tártaros e parecia ter sofrido ferimentos graves. Quando recobrou a consciência, já estava ali.

Qin Yi suspeitava que o que havia acontecido com ele era que sua alma havia se desprendido do corpo, como mencionavam os sacerdotes taoístas do Palácio. Os ferimentos daquele dia não foram leves, e talvez, por causa disso, sua alma tenha se separado. Na verdade, Qin Yi também possuía um pingente de jade parecido com o de Chu Jin Yao — um jade com veios vermelhos, mas maior. Ele o usara por muitos anos, mas como partira às pressas naquele dia, acabara esquecendo-o. Após ser gravemente ferido, apareceu no pingente de jade de Chu Jin Yao. Aquele jade deveria ter o efeito de nutrir a alma, pois Qin Yi se sentia muito mais confortável ali.

Anos atrás, um sacerdote taoísta itinerante enganou sua mãe imperial para que comprasse o pingente a um preço exorbitante, prometendo que ele salvaria sua vida em tempos de crise. Qin Yi havia zombado disso na época, mas agora parecia que era verdade.

Ele claramente sentiu que havia um veio vermelho a menos no jade branco, e sua alma já havia se recuperado bastante.

Quanto à última pergunta, Qin Yi hesitou por um momento antes de responder:

— Meu nome é Qi Ze. Pode me chamar de Qi Ze.

— Qi Ze... — repetiu Chu Jin Yao em voz alta, elogiando logo em seguida: — Nome bonito.

— Sim. — Qin Yi respondeu com indiferença. O nome de sua geração era Shui, e após seu nascimento, o Tutor Imperial foi quem escolheu seu nome, com o Astrônomo Imperial encarregado de interpretar o significado celestial. O Tutor Imperial dissera que “Yi” representava as vastas terras e céus que concedem graça a tudo. Por isso, deu-lhe o nome de cortesia “Yi Ze”. Qin Yi pegou um dos caracteres desse nome de cortesia e acrescentou o sobrenome de sua mãe imperial. De fato, era um nome excelente — proposto pelo Tutor Imperial e aprovado pelo Gabinete.

Chu Jin Yao tossiu. Ela queria se dar bem com Qi Ze e, por isso, elogiou seu nome. Dizem que ninguém dá um tapa em quem sorri! Mas ele realmente aceitou o elogio?

Chu Jin Yao achava que esse espírito devia ter se tornado espírito recentemente e não entendia muito bem as interações humanas. Pensando nisso, decidiu que deveria ser mais compreensiva com ele. Assim, generosamente, não se incomodou com a resposta de Qi Ze e perguntou:

— Qi Ze, quando você apareceu no meu pingente de jade?

Pela primeira vez, Qin Yi ficou sem palavras. Depois de um tempo, respondeu vagamente:

— Há alguns dias.

— Alguns dias... — Chu Jin Yao ficou um tanto constrangida. — Então você viu tudo o que aconteceu hoje?

Na verdade, foi mais do que isso.

Qin Yi havia despertado com o choro de uma mulher. Inicialmente, queria gritar com a pessoa que ousava chorar em seu quarto, mas ao levantar a mão, percebeu que algo estava errado. Após o choque inicial, rapidamente se acalmou e observou a situação. Depois, descobriu que aquela moça se chamava Chu Jin Yao e que havia sido recentemente encontrada fora da residência. Ela chorava porque ouvira palavras cruéis de sua mãe biológica.

Qin Yi achou a garota muito lamentável, mas ainda assim não pretendia intervir. Ter a alma de um vivo fora do corpo, recuperando-se num pingente de jade carregado por uma jovem da família de um marquês — isso parecia história de fantasia. Além disso, Qin Yi não queria que a família Chu soubesse de sua existência. Por isso, manteve-se em silêncio nos últimos dias, alojado no pingente de jade de Chu Jin Yao, esperando que seus ferimentos melhorassem para então sair em silêncio, sem deixar rastros.

Sem perceber nada, Chu Jin Yao havia saído usando o pingente, cumprimentado pessoas e chorado sozinha, abraçada a ele à noite. Qin Yi se sentia um pouco constrangido. E nesse constrangimento, havia também certa culpa.

Era como se vivesse de forma íntima com uma moça. Dormir juntos. Nem mesmo marido e mulher faziam isso com tanta proximidade.

Qin Yi pretendia levar o segredo para o túmulo, mas quando viu Chu Jin Yao encostada à cabeceira da cama chorando — e ainda por cima, chorando em silêncio, deixando as lágrimas escorrerem discretamente —, não conseguiu suportar. Só pôde consolá-la com um “não chore”.

Era preciso entender que, na vida de Qin Yi, aquele já era um gesto raríssimo de gentileza.

No fim, Chu Jin Yao não ficou nem um pouco consolada. Pelo contrário, se assustou terrivelmente e ainda teve a ousadia de xingá-lo. Qin Yi considerou que, já que o pingente dela o havia salvado, relevaria por enquanto. Mas se ela cometesse outro deslize...

Chu Jin Yao não fazia ideia de que, em tão pouco tempo, já havia dado uma volta inteira na lista de observação especial dos JinYiWei. Ela ainda remoía o ocorrido há pouco.

— Então você me viu estragando a seda brocada?

— É só um rolo de brocado. — Qin Yi bufou com desprezo. A Família Imperial recebia montanhas de brocado todos os anos. No Palácio, brocado era algo corriqueiro — apenas um tipo de tecido para confeccionar roupas. Ele simplesmente não conseguia entender por que Chu Jin Yao chorava por causa de um rolo de brocado. Pensou consigo mesmo que, se ela gostasse tanto, quando ele se recuperasse, mandaria entregar uma carroça cheia — desde que ela não chorasse mais.

Chu Jin Yao suspirou:

— Não é por causa do brocado...

Sentou-se no apoio de pés e apoiou o queixo na cama, falando diretamente com o pingente de jade, cara a cara:

— Não importa o quão raro seja o brocado, no fim das contas é só um pano. É bom ter, e está tudo bem usar um que não seja tão bom. Como poderia valer a pena chorar por isso? Eu não consegui segurar o choro porque me senti impotente. Eu realmente me esforcei muito para me adaptar à vida aqui, mas nunca tinha visto uma casa grande antes, então como poderia entender as especificidades dessas famílias nobres? Mesmo que eu me esforce para aprender, não deveriam me dar um tempo para estudar? Mas não deram. Todos riram de mim pelas costas. Minha mãe sabe que eu acabei de chegar e não sei de nada, mas nem sequer arranjou alguém para me ensinar etiqueta.

Ao ouvir o que Chu Jin Yao disse no começo, Qin Yi concordou profundamente. Era isso mesmo. Por mais valioso que fosse, era apenas um objeto morto. Como poderia ser motivo para que um ser vivo sofresse? No entanto, ao escutar até o final, até mesmo Qin Yi, sempre tão racional e rígido, sentiu uma pontada de dor no coração.

A filha havia sido recém-encontrada. Em famílias comuns, as mães geralmente se mostravam diligentes, davam atenção cuidadosa e ensinavam pessoalmente, querendo compensar todo o amor materno perdido. Mas no caso de Chu Jin Yao, Madame Zhao nem sequer enviou uma ama de confiança. Qin Yi não achava que fosse por avareza — uma Furen de marquês não seria tão mesquinha. Era mais provável que Madame Zhao simplesmente tivesse esquecido, pois não se importava com o assunto.

Chu Jin Yao tinha apenas treze anos e, de repente, se viu em um ambiente completamente desconhecido — como não se sentiria desamparada? Mas Madame Zhao, sua mãe, não mostrava interesse; a velha Furen, sentada em sua posição elevada, não conseguia enxergar o sofrimento ao redor; e o Marquês Chang Xing, que raramente voltava ao pátio interno, já havia esquecido da filha que acabara de encontrar. No fim, foi Qin Yi — um completo estranho — quem não conseguiu mais ignorar aquilo.

— Eu conheço as etiquetas. Eu vou te ensinar.


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