Capítulo 40: Conspiração e Provocação
Uma bela mulher sentada diante do guqin, com uma postura graciosa e gestos refinados, criou uma atmosfera serena. Han Yan observava com um leve sorriso. Embora não tivesse muita afeição por Li Jia Qi, reconhecia a elegância digna de uma dama de uma família proeminente. Fazia sentido que o Chanceler Li depositasse grandes expectativas em sua filha.
Todos no banquete prenderam a respiração, atentos à jovem no centro do salão. Li Jia Qi mantinha uma expressão orgulhosa enquanto seus dedos dedilhavam suavemente as cordas, produzindo uma nota melodiosa.
Ela tocava uma peça chamada Pintando Languidamente as Sobrancelhas, uma melodia bela e harmoniosa que narrava a história de uma mulher graciosa e talentosa tocando qin sob a lua. Naquele momento, Li Jia Qi, vestida com roupas esvoaçantes, movia-se em perfeita harmonia com a essência da música.
Han Yan prestava atenção. A reputação de Li Jia Qi como mulher talentosa era merecida; sua técnica era refinada. A peça exigia várias transições e o uso de diferentes estilos de dedilhado, mas Li Jia Qi executava tudo com naturalidade, seu desempenho fluindo como água. O som do qin, límpido e suave, preenchia o coração da plateia, como uma nascente tranquila borbulhando delicadamente após a dança vibrante da Princesa Yun Ni. Aos poucos, os olhares ao redor se voltavam para ela, tomados de admiração.
Deng Chan cutucou levemente o braço de Han Yan:
— Eu não esperava que ela tivesse mesmo alguma habilidade. Mas, Han Yan, se você subisse lá, não tocaria pior do que ela.
Entre as artes do qin, xadrez, caligrafia e pintura, Han Yan se destacava no qin. Sua mãe fora uma musicista excepcional, e Han Yan, quando criança, presenciara a mãe tocando enquanto borboletas vinham dançar ao redor — uma cena tão bela que despertou nela o amor pelo instrumento. Inspirada a ser tão graciosa quanto a mãe, ela praticou com dedicação até se destacar em sua técnica.
Deng Chan completou:
— Mas sua mão está queimada agora, então provavelmente nem conseguiria tocar as cordas. Que pena! Caso contrário, se você subisse hoje, com certeza brilharia.
Han Yan balançou a cabeça.
— Minhas habilidades no qin não são tão boas quanto as dela.
Essa frase não era falsa; embora Han Yan tivesse talento, não tocava havia três anos, desde que sua mãe adoecera. Após o falecimento dela, Han Yan queimara seu amado qin, para não ser assombrada por lembranças. Três anos sem praticar haviam enfraquecido sua destreza; se fosse ao palco hoje, provavelmente não se igualaria a Li Jia Qi.
Deng Chan fez um biquinho.
— Você é modesta demais.
Han Yan apenas sorriu, sem discutir. Em vez disso, observou a expressão orgulhosa de Zhuang Yushan do outro lado, compreendendo a situação. Provavelmente, Zhuang Yushan havia informado Li Jia Qi sobre sua habilidade no qin, o que resultou no incidente do chá mais cedo. Zhuang Yushan simplesmente não queria que Han Yan brilhasse mais do que ela, mas Han Yan nem desejava esse reconhecimento. Para ela, era um movimento desnecessário.
Ainda assim, ao refletir sobre Li Jia Qi, Han Yan não esperava que a filha de um chanceler recorresse a truques tão baixos. Com todo seu orgulho, Li Jia Qi não preferiria desafiar Han Yan de forma direta, competindo abertamente? Se fosse por medo, Han Yan achava difícil de acreditar; sendo a mulher mais talentosa da capital, Li Jia Qi deveria confiar em si mesma.
A não ser que... O olhar de Han Yan escureceu levemente. Talvez Li Jia Qi tenha outros planos em mente.
Sem saber dos pensamentos de Han Yan, Li Jia Qi desfrutava da adoração da multidão, sentindo-se cada vez mais orgulhosa. Ainda assim, sua expressão permanecia calma, como se ponderasse se aquela pessoa poderia ver seu talento e beleza.
Deng Chan não demonstrava interesse em assistir à apresentação de Li Jia Qi; em vez disso, lançava olhares discretos para Cheng Lei, que notou o olhar e, confuso, devolveu o olhar. Seus olhos se encontraram e, surpresa, Deng Chan desviou rapidamente, abaixando a cabeça com o coração acelerado, sem saber o que fazer.
Han Yan observava cada movimento, percebendo que, embora Cheng Lei estivesse focado em Deng Chan, não notava que a Princesa Yun Ni também o observava atentamente.
Era surpreendente que o General Cheng tivesse tanto carisma, a ponto de atrair a atenção de duas damas nobres. Han Yan pensou consigo mesma que, desde os tempos antigos, belas mulheres sempre admiraram heróis. Cheng Lei, nomeado general ainda jovem, possuía um vigor masculino que o diferenciava dos jovens mestres abastados. Claramente, Deng Chan e a Princesa Yun Ni tinham bom gosto. Inicialmente, Han Yan achara que Deng Chan e Cheng Lei eram perfeitos um para o outro, mas com o interesse da princesa, se ela realmente desejasse Cheng Lei e pedisse ao imperador um decreto de casamento, Deng Chan não teria chance.
Vendo a amiga tão encantada, Han Yan não sabia como cortar essa ilusão. Seria melhor resolver isso logo do que deixar que se transformasse em sofrimento no futuro.
Após um breve devaneio, Han Yan percebeu que se tornara uma espécie de casamenteira de Deng Chan, preocupando-se com o futuro da amiga mesmo quando nada estava confirmado.
Nesse instante, a apresentação de Li Jia Qi chegou ao fim. Seus dedos dançavam pelas cordas, criando uma melodia tão bela que parecia cintilar como joias. Por fim, com um movimento elegante, concluiu com uma nota perfeita, encerrando tudo.
O salão permaneceu em silêncio por um momento, até que o Sétimo Príncipe irrompeu em gargalhadas, batendo palmas.
— Verdadeiramente digna do título de mulher mais talentosa da capital! Uma música tão maravilhosa só pode ser apreciada ao vivo!
Enquanto o Príncipe elogiava, outros ministros também teceram louvores, e o imperador sorria, visivelmente satisfeito.
Contudo, Han Yan franziu levemente a testa. O apoio repetido do Sétimo Príncipe a Li Jia Qi parecia intencional, e ela suspeitava que o Primeiro-Ministro Li também estivesse aliado ao príncipe. Isso era preocupante; seus inimigos estavam se unindo, dificultando enfrentá-los depois, enquanto seu único aliado... bem, ela o havia ameaçado no jardim imperial.
— De fato, uma mente perspicaz. Lady Li, você educou bem sua filha! Concedo-lhe um rosário de preces de Guanyin e quatro rolos de cetim luxuoso do Palácio Changchun.
Li Jia Qi curvou-se com elegância.
— Agradeço, Vossa Majestade.
Naquele momento, ela estava sob os holofotes, havia provado seu talento diante de todos, e sabia que no dia seguinte a notícia se espalharia por toda a capital, o que a deixava ainda mais orgulhosa.
Enquanto Han Yan a observava, de repente notou o olhar de Zhuang Yushan, que parecia olhá-la com um leve prazer malicioso. Instintivamente, Han Yan sentiu que problemas se aproximavam.
— Vossa Majestade, tenho um pedido um tanto ousado — disse Li Jia Qi de repente, chamando a atenção de todos e silenciando o salão.
O imperador acenou com a mão.
— Pode falar livremente.
Um pressentimento sombrio passou pela mente de Han Yan. Antes que pudesse refletir, ouviu a voz suave de Li Jia Qi:
— Ouvi dizer que a quarta senhorita da família Zhuang possui talento e habilidade extraordinários, especialmente ao tocar guqin. Como uma oportunidade dessas é rara, gostaria de solicitar que ela nos agraciasse com uma apresentação. Ouviria com total atenção.
O coração de Han Yan deu um salto. Ela ergueu o olhar e viu Li Jia Qi, separada pela multidão, lançando-lhe um sorriso provocativo.
Capítulo 41: Dar uma Surpresa
Assim que as palavras de Li Jia Qi ecoaram no ar, instalou-se um breve silêncio no salão, logo seguido pelos olhares curiosos dos convidados voltando-se para a mesa das damas, ansiosos para ver a jovem elogiada pelo talento da capital.
Criada por sua mãe para manter a etiqueta e jamais ultrapassar os limites, Han Yan raramente participava de eventos além dos estritamente formais. Por isso, os convidados não estavam muito familiarizados com ela como a quarta Senhorita da família Zhuang.
Zhuang Yushan olhou para Han Yan com um ar de triunfo. Considerando que Han Yan havia acabado de queimar a mão, seria impossível tocar guqin agora. Se recusasse, acabaria envergonhando o imperador, que provavelmente se irritaria. Assim, Zhuang Yushan poderia se apresentar em seu lugar sob o pretexto de resgatar a reputação da família Zhuang, ganhando a admiração de todos.
Han Yan observou discretamente a expressão de Zhuang Yushan e, à distância, percebeu que a Imperatriz Viúva também a observava com um olhar impenetrável, impossível de decifrar.
O imperador ergueu a voz:
— Quem é a quarta Senhorita da família Zhuang?
Só então Han Yan se levantou. Sob os olhares atentos de todos, caminhou lentamente até o imperador e fez uma profunda reverência.
— Sou Zhuang Han Yan. Venho prestar meus respeitos a Vossa Majestade.
Apesar de sua estatura pequena, não havia hesitação em seus gestos. Parecia ter por volta de onze ou doze anos, mas sua postura superava a de muitas jovens treinadas nas regras da corte.
Ao ver isso, os olhos do imperador revelaram maior apreço. A imperatriz reconheceu Han Yan e sorriu, dizendo:
— Estava me perguntando de quem era essa filha tão refinada e talentosa. Acontece que é a quarta Senhorita da família Zhuang.
O imperador raramente ouvia a imperatriz elogiar alguém, então comentou:
— A senhorita Li acaba de mencionar suas habilidades musicais excepcionais. Que tal nos agraciar com uma melodia, para que eu e os demais possamos julgar quem é a melhor musicista, você ou a senhorita Li?
Com esse tom autoritário, o imperador falava como se ela fosse uma cortesã. Han Yan franziu levemente a testa, mas logo ergueu a cabeça e sorriu abertamente para o imperador.
— Não posso aceitar, Vossa Majestade.
No instante em que suas palavras saíram, ouviu-se um suspiro coletivo no salão, seguido por um silêncio tão profundo que seria possível ouvir uma agulha cair.
Li Jia Qi, próxima o bastante para ouvir, quase riu de alegria com a ousadia de Han Yan, mas manteve uma postura orgulhosa e serena diante da multidão.
Zhuang Yushan, sentada mais abaixo, passou despercebida enquanto um sorriso satisfeito surgia em seus lábios. Trocou um olhar cúmplice com alguém da família Zhou, pensando que Han Yan acabara de selar seu destino ao ofender o imperador, e a família Zhuang não a perdoaria facilmente. Reclinou-se para aproveitar o espetáculo.
Deng Chan torcia o lenço nas mãos, angustiada, quase se levantando para defender Han Yan mencionando a queimadura, mas foi gentilmente contida por um par de mãos suaves. Ao se virar, viu que era a criada de Han Yan, Shu Hong. Embora tanto ela quanto Ji Lan demonstrassem preocupação, mantinham-se calmas ao lado.
Zhang Wei estava exultante com a cena. Essa garota desprezível acabou de me esbofetear, e agora o imperador a está repreendendo — bem feito! O jovem príncipe à mesa da família olhava para Han Yan com uma mistura de desprezo e curiosidade, perguntando-se se ela ignorava as consequências de contrariar o pai ou se tinha algum plano oculto.
O rosto de Zhuang Shiyang se fechou, os punhos cerrados sob a mesa enquanto fulminava Han Yan com o olhar. Essa filha nunca lhe agradara, e agora havia enfurecido o imperador, o que poderia comprometer toda a família Zhuang. Pensou que, quando Wang deu à luz, deveriam ter se livrado de mãe e filha para evitar esse tipo de problema!
Zhuang Hanming, por outro lado, mantinha os lábios comprimidos e as costas rígidas enquanto observava a irmã sem piscar. Embora não soubesse o que estava acontecendo, confiava que ela não recusaria o imperador sem um bom motivo. E, se ela fosse punida, ele aceitaria as consequências em seu lugar.
No entanto, após um rápido olhar ao redor, já estava claro para Han Yan o que se passava. Mantendo o sorriso no rosto, respondeu ao imperador, cuja voz não demonstrava nem alegria nem raiva:
— Oh? Por que não pode?
Han Yan sorriu levemente, inclinando a cabeça com um toque de inocência:
— Não sei de onde a senhorita Li tirou essa informação, mas minhas habilidades com o qin nunca foram ensinadas por um mestre. Sou realmente sem talento e não ouso me envergonhar diante de todos. Se tocasse aqui hoje com minha técnica desajeitada, Vossa Majestade perceberia logo de cara.
Com o rosto ligeiramente corado, ela abaixou a cabeça como se estivesse envergonhada:
— Com tantos nobres presentes, sinto-me realmente constrangida.
Ela já era bastante adorável, e sua aparência era ainda mais refinada. Ao falar com suavidade e um toque de inocência infantil, diante das damas mais velhas e maduras em pensamento, Han Yan parecia uma garotinha completamente inofensiva. Sua simplicidade a tornava ainda mais cativante.
A expressão do imperador suavizou um pouco:
— Entendo.
No entanto, ele não demonstrou intenção de prolongar o assunto.
Li Jia Qi sorriu delicadamente:
— Talvez tenha sido um mal-entendido entre os moradores da capital. Mas a senhorita Zhuang é inteligente e talentosa. Mesmo que lhe falte habilidade com o qin, certamente deve ter outros talentos a mostrar, não é?
Diante disso, o que Han Yan poderia fazer? Se admitisse não ter talento algum, jamais conseguiria se integrar aos círculos da nobreza da capital.
Era uma boa oportunidade — o primeiro passo em uma situação de tudo ou nada. Inicialmente, Han Yan não tinha interesse em se destacar em banquetes da corte, mas já que Li Jia Qi estava sendo agressiva, mostraria a ela que era possível atirar no próprio pé.
O jovem de vermelho entre os convidados masculinos comentou, visivelmente intrigado:
— Então ela é a quarta Senhorita da família Zhuang. Não parece nada com uma dama recatada — tão ousada, bem interessante!
O rapaz elegante ao seu lado permaneceu impassível, apenas lançando um olhar à pequena figura no salão dourado. Chamá-la de “menina” parecia até exagero — mais parecia uma boneca delicada saída de uma pintura tradicional. Ao observá-la, o rosto de Fu Yunxi se curvou em um leve sorriso.
He Lian Yu não notou a mudança de expressão do amigo; caso contrário, ficaria chocado ao ver o lendário Príncipe Gélido demonstrando calor diante de uma garotinha que mal crescera.
— Não consigo evitar a sensação de que a senhorita Li está tentando dificultar as coisas para ela — comentou He Lian Yu. Como jovem mestre, tinha sensibilidade natural para esse tipo de intriga.
Fu Yunxi arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada. Dificultar? Talvez não tenham percebido quem realmente está dificultando as coisas para quem.
Ao ouvir as palavras de Li Jia Qi, Han Yan abriu um sorriso doce:
— Sou desajeitada e tola desde pequena; não me considero talentosa. Mas, já que é para animar o banquete imperial, apresentarei uma pequena performance para todos.
Diante de sua declaração, Li Jia Qi e Zhuang Yushan congelaram, encarando Han Yan com incredulidade. Seria possível que ela tivesse algum talento oculto? Mas sua mão direita estava inutilizada — pretendia dançar? No entanto, após a apresentação anterior da Princesa Yun Ni, mesmo que dançasse bem, o imperador não demonstraria interesse por uma forasteira.
Han Yan correspondeu ao olhar duvidoso de Zhuang Yushan com um leve sorriso, pensando que ela tomaria seu lugar por não poder mostrar talento? Uma piada — não haveria uma segunda chance para alguém usurpar seu lugar!
Os convidados do banquete ainda não sabiam o que esperar, mas seus olhares se tornavam cada vez mais complexos. Entre eles, alguns pareciam especialmente profundos, como espinhos nas costas de Han Yan.
Um certamente era o da Imperatriz Viúva, e quanto aos outros, ela se perguntava se o Sétimo Príncipe estaria entre eles.
— Diga-me, o que pretende apresentar? — perguntou o imperador.
Han Yan inclinou a cabeça e respondeu:
— Peço a Vossa Majestade que me conceda papel, pincel e tinta.
A imperatriz se surpreendeu:
— Vai escrever ou pintar?
Han Yan assentiu:
— Sim.
— Tragam papel, pincel e tinta! — ordenou o imperador com um gesto, e várias criadas do palácio trouxeram os itens para Han Yan.
O papel xuan, branco como a neve, foi estendido, e a tinta exalava uma fragrância suave. Han Yan posicionou uma das mãos atrás das costas e segurou o pincel com a outra, mergulhando-o completamente na tinta.
Num instante, a empolgação tomou conta do salão, pois todos puderam ver claramente que a mão que segurava o pincel era a esquerda!
Han Yan, porém, sorriu com serenidade, como se estivesse apenas fazendo algo comum. Sua voz era clara e luminosa como o orvalho da manhã:
— Vossa Majestade, machuquei minha mão direita em casa há poucos dias e ainda não me recuperei, por isso não posso segurá-lo com ela. Sendo assim... hoje escreverei com a mão esquerda!
Capítulo 42: Virando o Jogo
Se antes as pessoas olhavam para Han Yan com curiosidade, agora estavam em choque.
Escrever com a mão esquerda era algo que até uma pessoa comum consideraria difícil — quanto mais uma garota de onze ou doze anos como Han Yan. Ela nem parecia ser canhota; como podia sequer pensar em fazer aquilo?
Li Jia Qi não esperava que Han Yan fosse fazer isso. Já de volta ao seu assento, ouviu Zhuang Yushan sussurrar ao seu lado:
— Que palavras presunçosas! Espero que ela não se envergonhe.
Li Jia Qi hesitou por um momento, fitando os olhos confiantes de Han Yan. Perguntou-se se ela realmente passaria vergonha.
Zhuang Yushan pareceu perceber seus pensamentos e a tranquilizou:
— Não se preocupe. Nunca ouvi dizer que ela tenha qualquer talento com escrita ou pintura; provavelmente só está tentando tapar o buraco.
Com isso, Li Jia Qi finalmente se acalmou.
Mas Deng Chan estava um tanto preocupada. A caligrafia e a pintura de Han Yan no máximo podiam ser consideradas medianas — e escrever com a mão esquerda seria ainda mais desafiador. Se ela aceitasse aquilo só para preservar a reputação da família Zhuang e acabasse se humilhando, poderia provocar a ira do imperador.
He Lian Yu acariciou o queixo, pensativo:
— Escrever com a mão esquerda é bem inusitado; essa garotinha está ficando cada vez mais interessante.
Fu Yunxi permaneceu em silêncio, seu olhar passando casualmente pela pequena figura diante do papel xuan, os olhos escuros mergulhados em contemplação.
Alheia aos pensamentos de todos, Han Yan ficou quieta, encarando o papel xuan por um momento. Pouco antes, a dança alegre e vibrante da Princesa Yun Ni era como fogo ardente, enquanto a canção suave e melodiosa de Li Jia Qi trazia serenidade e graça. Entre essas duas exibições contrastantes, elas se complementavam perfeitamente, mostrando dois aspectos distintos do feminino. Se ela acrescentasse outra performance, quebraria esse equilíbrio — como pintar pernas em uma serpente. Assim, cantar ou dançar já não eram opções; ela precisava seguir outro caminho.
Quem a conhecia provavelmente não esperava que ela escrevesse.
Todos estavam intrigados sobre o que Han Yan faria, e o imperador a observava com atenção. Viu Han Yan erguer levemente o pulso delicado, o pincel de pelos de lobo completamente embebido em tinta, e então, de repente, ela fechou os olhos.
O pincel parecia ganhar vida em sua mão, movendo-se com elegância e fluidez, deixando rastros perfumados enquanto dançava como nuvens. A garotinha permanecia ereta, olhos fechados; embora não olhasse para cima, parecia enxergar tudo com clareza, exalando naturalmente uma aura de inteligência. Seu sorriso era sutil, mas digno — como se estivesse pintando. Trabalhava com rapidez e fervor e, num piscar de olhos, o papel xuan já estava tomado por traços entrelaçados de tinta. As pessoas no salão não podiam ver o que ela pintava, mas sua postura e elegância diziam tudo; um verdadeiro especialista saberia à primeira vista que aquele talento não se conquistava sem ao menos dez anos de prática árdua!
Com os olhos fechados e o perfume da tinta girando ao seu redor, Han Yan movimentou o pulso, mergulhou o pincel novamente na tinta e o deslizou pelos espaços em branco. Sua figura pequena e adorável contrastava com os traços graciosos e fluídos de tinta — lembrando nuvens errantes ou um dragão despertando e voando, como cisnes dançando no mar e garças subindo ao céu.
Os ministros mais velhos ali presentes enxergaram naquela menina uma sabedoria amadurecida pelo tempo — uma sabedoria refinada, moldada pelas emoções do mundo. Era como se sua presença tivesse se distanciado do ruído da prosperidade, limpa de qualquer pretensão.
Por um breve instante, tudo pareceu um sonho. Han Yan concluiu o último traço, pousou o pincel, abriu os olhos e sorriu docemente para o público, fazendo todos voltarem a si.
— Senhorita Zhuang, já terminou? — perguntou a imperatriz, sentindo crescente afeição pela jovem. Ao ver Han Yan brilhar naquele momento, sua admiração só aumentou.
— Majestade, ainda não — respondeu Han Yan, girando o corpo e pegando uma jarra de vinho em uma bandeja de prata segurada por uma serva próxima. — Posso pedir emprestada uma gota desse belo vinho?
Com a taça em mãos, ela derramou uma gota sobre o papel, e um amarelo brilhante e sutil surgiu na pintura.
Aquele vinho, chamado Huanhua, era feito com diversas flores frescas, de sabor adocicado e cor amarela clara e translúcida. Agora, em contraste com a tinta preta e branca sobre o papel de arroz, o tom amarelado se tornava especialmente vívido.
Han Yan assentiu com a cabeça, sinalizando para que duas jovens servas se aproximassem e estendessem o papel sobre uma base de madeira dourada acolchoada com seda vermelha, para que o Imperador e a Imperatriz pudessem ver. Quando o Imperador olhou para a pintura, seu olhar se fixou nela, e ele permaneceu em silêncio por um momento.
As pessoas no banquete ficaram confusas, sentindo a tensão no ar diante do silêncio do imperador, e a curiosidade sobre a pintura aumentava. Zhuang Yushan e Li Jia Qi trocaram olhares, cheios de incerteza. Vendo a expressão aparentemente séria do imperador, suspeitaram que a obra de Han Yan pudesse tê-lo enfurecido. A imperatriz observava a pintura com um olhar difícil de decifrar. Quando todos já estavam inquietos, o imperador de repente soltou uma gargalhada e disse:
— Venham, deixem todos verem essa obra!
As criadas correram para abrir o papel e apresentá-lo ao público e, à medida que a pintura se revelava, o salão de banquete caiu em silêncio.
Com apenas alguns traços de tinta, habilmente aplicados, a pintura parecia ter surgido espontaneamente, mas era rica em detalhes. Sob as chamas crescentes da guerra, soldados vitoriosos retornavam, e ao longe, um ponto de amarelo brilhante indicava a figura do imperador.
O que Han Yan pintara era a cena de um exército retornando em triunfo — retratando o imperador em sua posição elevada no auge de um império florescente!
No entanto, o que mais chocou a todos foi o poema inscrito nos espaços em branco:
"Após cem batalhas, a armadura de ferro se rompe,
A cidade do sul já caiu muitas vezes.
No acampamento repentino, abatemos o General Hu Yan,
Guiando os soldados restantes para casa em mil corcéis."
Com apenas alguns versos, ela capturou a imagem de um bravo general repleto de feitos heroicos. A jovem garota, que não parecia ter mais de dez anos, parecia ter vivido tudo aquilo. Sua caligrafia era primorosa — ousada, mas graciosa; firme, mas elegante — uma fusão impressionante de força e beleza. Era como se a tinta fluísse com a leveza de uma brisa suave, uma visão encantadora difícil de acreditar que tivesse saído das mãos da menina sorridente de coque no cabelo!
Dizem que o caráter de uma pessoa se reflete na escrita; tal espírito é realmente raro!
Após o choque inicial, Zhuang Yushan e Li Jia Qi foram tomadas por um ressentimento sem fim. Han Yan estava roubando todos os holofotes, deixando Zhuang Yushan sem nenhuma chance de brilhar. Por quê? Se ela fosse a filha legítima da família Zhuang, todos os elogios naquele salão seriam seus. Pensando nisso, o olhar que lançou para Han Yan se encheu de inveja.
Li Jia Qi estava tomada por um ódio enlouquecido; quanto mais olhava para o sorriso de Han Yan, mais sentia como se estivesse sendo zombada. Han Yan claramente tinha tanto talento, mas escondia isso tão bem — e, há poucos instantes, ainda fingia estar em apuros, saboreando o próprio triunfo como se estivesse brincando com Li Jia Qi. O orgulho de uma filha de ministro de alto escalão havia sido ferido, e ela já marcara Han Yan como sua maior inimiga na vida.
Han Yan piscou para Deng Chan, sinalizando que tudo estava bem. Deng Chan estava ao mesmo tempo empolgada e confusa. Quando a caligrafia de Han Yan se tornou tão impressionante? Enquanto ela escrevia no salão, Deng Chan sentia como se aquela não fosse mais Han Yan — sua elegância era tão nova e ofuscante que chegava a cegar.
Enquanto todos estavam perdidos em pensamentos, Han Yan permanecia sozinha no centro do salão, sentindo-se como se estivesse fora do mundo mundano, olhando para as marcas de tinta enquanto cenas de seu passado passavam diante de seus olhos.
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