Capítulo 43 – O Exame Imperial
O exame imperial se aproximava, e de repente os negócios nas estalagens de Chang’an prosperaram. Até os quartos vagos em casas de plebeus bem localizadas foram rapidamente ocupados, tornando a busca por acomodação o maior problema para os candidatos que chegavam à capital. Felizmente, Xiao Jingduo era natural de Chang’an e não precisava se preocupar com hospedagem. Além disso, aproveitando seu conhecimento local, pôde fazer alguns preparativos antecipados.
Xiao Jingduo já havia enviado suas credenciais acadêmicas e informações familiares ao Ministério dos Ritos. As credenciais acadêmicas eram certificados emitidos pela Academia Imperial, registrando brevemente sua identidade, local de origem e desempenho acadêmico. Já os antecedentes familiares foram escritos pelo próprio Xiao Jingduo, listando os nomes e origens de seus ancestrais até a terceira geração. Após verificar as informações, o Ministério dos Ritos o fez confirmar os dados com outros dois candidatos, registrando sua residência em Chang’an. Só depois de completar esses procedimentos é que Xiao Jingduo foi oficialmente inscrito no exame imperial.
Como Xiao Jingduo havia ido cedo, concluir esses trâmites não foi difícil. No entanto, aqueles que acabaram de chegar a Chang’an ou se atrasaram, inevitavelmente, tinham que enfrentar longas filas diante do Departamento de Assuntos de Estado nestes dias.
No Dia de Ano Novo, Xiao Jingduo, junto a vários outros candidatos, reuniu-se diante dos portões do palácio para serem recebidos pelo imperador. De pé diante do Portão Chengtian, Xiao Jingduo, com mais de mil estudantes, curvou-se profundamente diante do imperador.
Era a segunda vez que Xiao Jingduo via o imperador. Não pôde deixar de lembrar como, anos atrás, em Zhuojun, havia testemunhado o então Príncipe Qin liderar a cavalaria em uma investida pelas planícies. Naquele tempo, Xiao Jingduo sentia apenas admiração. Quem poderia imaginar que um dia eu reencontraria essa figura lendária assim, nessa condição?
O imperador permanecia elevado sobre os muros do palácio, aparentemente oferecendo palavras de encorajamento. Contudo, Xiao Jingduo não ouviu — ou melhor, não precisava ouvi-las. Já posso imaginar que tipo de palavras ele está dizendo.
Após a audiência imperial, Xiao Jingduo e os demais seguiram para prestar homenagem à estátua de Confúcio. A cerimônia foi presidida pela Academia Imperial, a escola de Xiao Jingduo, então ele estava bastante familiarizado com o processo, sem dificuldade alguma.
Quando todas essas atividades terminaram, já era meados do primeiro mês do calendário lunar, com menos de dez dias até o início oficial do exame imperial.
O exame seria realizado no salão do Ministério dos Ritos e duraria dois dias. Para chegar cedo no dia da prova, muitos optavam por se hospedar nas proximidades. Xiao Jingduo também não queria permanecer na Mansão do Marquês de Dingyong, então alugou com antecedência um quarto na área e planejava mudar-se para lá nos próximos dias.
Xiao Jingduo estava prestes a fazer o exame, e embora se mantivesse calmo, os outros no Pátio Qingze estavam tão ansiosos quanto formigas em frigideira quente. Qiuju revisava a bagagem de Xiao Jingduo repetidamente, com medo de que ele passasse desconforto fora de casa. Se Xiao Jingduo não a tivesse interrompido, ela teria esvaziado quase todo o pátio.
— Jovem Mestre, arrumei sua bagagem e a deixei no quarto lateral. Amanhã, quando Xiao Lin chegar, peço que ele carregue tudo na carruagem.
Xiao Jingduo suspirou, sem conter um sorriso:
— Qiuju, eu vou ficar fora só por alguns dias. Não precisa de tudo isso.
Era o exame dele, mas parecia que quem estava mais nervosa era a própria Qiuju.
— Eu sei, mas mesmo sendo um exame, não podemos deixar o Jovem Mestre passar dificuldades... É uma pena eu não poder ir com o senhor. Só espero que aquele idiota do Xiao Lin saiba cuidar bem de você. — No meio da frase, Qiuju exclamou subitamente: — Ah! Esqueci de embalar o conjunto de chá preferido do Jovem Mestre! Vou preparar agora mesmo!
Qiuju saiu às pressas. Xiao Jingduo achou graça, mas deixou que ela fizesse como quisesse.
Todos no Pátio Qingze sabiam que aquele exame era crucial para Xiao Jingduo. Muitas pessoas na Mansão do Marquês de Dingyong estavam esperando para ver o que aconteceria. Se Xiao Jingduo fracassasse, perderia o direito de opinar em vários assuntos — desde casamento até sua carreira. Era justamente por entenderem a importância do exame que Qiuju estava tão ansiosa, andando de um lado para o outro por dias.
Enquanto todos estavam nervosos por ele, Xiao Jingduo mantinha-se sereno. Nestes últimos dias, não saía de casa: acordava ao amanhecer, praticava artes marciais e boxe, e depois voltava para o estúdio para estudar. Manteve a mesma rotina da Academia Imperial: pela manhã, revisava os clássicos; à tarde, escrevia redações; à noite, lia antologias e jornais da corte, dormindo pontualmente entre 21h e 23h.
Na verdade, o tempo de preparação de Xiao Jingduo para o exame imperial foi bastante curto. Ele se formou na Academia Imperial em agosto e faria o exame em janeiro — pouco menos de quatro meses. Muito desse tempo foi ocupado com trâmites burocráticos. Considerando a extrema dificuldade do exame imperial, onde apenas um em cada cem passava, as chances de sucesso de Xiao Jingduo eram incertas. Não era de se estranhar que os outros na mansão não tivessem grandes esperanças. O mais frustrante era que, mesmo com o tempo apertado, Xiao Jingduo mantinha seu ritmo habitual, sem a menor pressa ou intensidade, deixando os observadores ainda mais aflitos.
Qiuju, claramente, era uma dessas pessoas aflitas.
Ela correu apressada até o quarto onde estavam as malas, mas parou assim que entrou. Por um momento, ficou olhando sem reação, até que pareceu recobrar a consciência e disse:
— Senhorita, por que está aqui? Essas criadas estão mesmo muito negligentes, nem nos avisaram que a Senhorita havia chegado. Isso é uma grande falta de respeito!
Logo depois de dizer isso, Cheng Huizhen apenas sorriu e assentiu com a cabeça, saindo do local com sua criada. Por algum motivo, Qiuju sentiu-se estranhamente desconfortável. Sacudiu a cabeça com força, tentando afastar pensamentos irrelevantes, depois abriu as malas de novo e forçou o conjunto de chá para dentro.
— Passe ou não no exame, o Jovem Mestre não pode passar necessidade. Como vai ter carruagem amanhã, melhor levar o que for possível...
Na manhã seguinte, bem cedo, Xiao Jingduo deixou a Mansão do Marquês de Dingyong a cavalo. Xiao Lin vinha atrás, guiando uma carruagem carregada de bagagens rumo ao norte da cidade.
O palácio imperial ficava ao norte de Chang’an, com seus salões externos e internos exclusivos da família imperial. Fora dos portões do palácio havia outro muro, envolvendo os Três Departamentos e os Seis Ministérios, Nove Cortes e Três Diretorias — onde os funcionários do governo trabalhavam. Essa área era chamada de Cidade Imperial. Fora da Cidade Imperial ficavam as residências dos plebeus e dos altos funcionários. Chang’an era dividida pela Rua do Pássaro Vermelho em partes leste e oeste: a nobreza concentrava-se no leste, e o povo comum, no oeste.
Tradicionalmente, quanto mais próximo do palácio e da Cidade Imperial, mais escassas e prestigiadas eram as residências. Assim, os lares próximos à Cidade Imperial eram, em sua maioria, mansões de príncipes e princesas, seguidos pelas residências de primeiros-ministros e oficiais favorecidos. Já marquises de segundo escalão, como o Marquês de Dingyong, só podiam construir suas casas em locais de terceira categoria.
Por isso, Xiao Jingduo insistia em se mudar para fora. No dia do exame, as ruas estariam lotadas, e a Mansão do Marquês ficava longe da Cidade Imperial — chegar atrasado seria catastrófico.
Muitas pessoas pensaram como Xiao Jingduo. As mansões dos príncipes e princesas, a leste do palácio, eram inacessíveis. Só restava alugar casas de civis a oeste da Cidade Imperial — e os locais com boas condições estavam cada vez mais raros. A vantagem de Xiao Jingduo foi ter agido cedo e pago generosamente, garantindo um quarto com antecedência.
A casa ficava mais para o interior do bairro, exigindo uma caminhada para sair da área, mas era silenciosa, o que compensava o incômodo. Xiao Jingduo parou seu cavalo diante da casa, entregou as rédeas a um criado da mansão e entrou sozinho. Casas pequenas não tinham estábulos, por isso ele trouxera outro criado apenas para levar o cavalo de volta.
Ao vê-lo chegar, o dono da casa correu com um sorriso:
— Jovem Mestre Xiao, chegou! Já preparamos o seu quarto. Vai se hospedar hoje mesmo, senhor?
— Sim. Agradeço pela hospitalidade e lamento o trabalho.
— O senhor não precisa dizer isso! — respondeu o dono, coçando a cabeça com uma risada honesta. E ele realmente falava sério. Xiao Jingduo havia pago o depósito cedo e com generosidade, quase sem negociar. Muito mais agradável do que lidar com outros candidatos. O proprietário o recebeu com entusiasmo — se pudesse, receberia mais dez como ele. Aquela era a hora de fazer boa cara.
Desde que a corte imperial criou o sistema de exames, para dizer o mínimo, aquilo se tornara uma boa fonte de renda para os plebeus do lado oeste da Cidade Imperial. No primeiro ano do exame, alguns perceberam a oportunidade e prepararam cômodos para alugar a candidatos, lucrando bem. No segundo ano, muitos seguiram o exemplo, e com o aumento dos estudantes, a demanda superou a oferta. Assim, aquela região passou a reservar quartos para aluguel de forma recorrente, sendo muito procurada do décimo segundo mês até o terceiro mês do ano seguinte.
O dono daquela casa também aderiu à tendência. A família inteira se espremia em um canto da casa, enquanto limpavam o salão principal e dois quartos laterais, que estavam em melhores condições, para alugar aos estudantes. Xiao Jingduo alugara o salão principal e um dos quartos laterais.
Xiao Lin estacionou a carruagem na entrada e começou a descarregar os itens. O dono, vendo aquilo, foi ajudar:
— Uau, Jovem Mestre Xiao, trouxe bastante coisa!
Enquanto Xiao Lin e o dono se ocupavam com as bagagens, dois outros inquilinos no pátio notaram e comentaram baixinho, com desdém:
— Mais um filhinho de nobre que só quer conforto...
Quem falava era Dong Peng, um estudante vindo de fora de Chang’an para fazer o exame. Ele vinha de uma família comum e havia estudado por anos para passar nos exames do condado e da prefeitura, conquistando finalmente o direito de vir à capital para o exame imperial. Ao chegar em Chang’an, embora impressionado com a grandiosidade da cidade, também começou a sentir um forte senso de injustiça.
Esses humildes estudiosos como eu lutam por anos para conseguir um lugar aqui. E em Chang’an, há tantas famílias nobres cujos filhos nem precisam passar por exames — muito menos pelo imperial — para conquistar altos cargos e subir na vida... Que mundo injusto.
Agora, um exemplo claro dessa injustiça surgia bem diante dos olhos de Dong Peng. Ele observava discretamente Xiao Jingduo, que aparentava ter por volta de dezessete anos, com feições justas e elegantes, viajando com uma carruagem e servos — claramente um filho da nobreza, provavelmente de uma família muito boa. Em contraste, Dong Peng tinha vinte e sete anos, ainda sem qualquer cargo oficial, sem estar casado nem estabelecido em uma carreira. E agora, precisava competir no mesmo exame com um jovem dez anos mais novo que ele. Que ironia.
Dong Peng sorriu com amargura, não querendo mais assistir àquilo. Justamente nesse momento, Wu Tai o chamou de dentro, e Dong Peng se virou e entrou de volta.
…
Xiao Jingduo não gostava de dividir alojamentos com outras pessoas. Embora não tivesse escolha na Academia Imperial, agora que tinha recursos, naturalmente não se privaria de conforto. Assim, alugou prontamente dois quartos — o principal e um lateral. Ele ficaria no quarto principal, enquanto Xiao Lin ocuparia o quarto lateral.
Enquanto Xiao Jingduo se familiarizava com seu alojamento para os próximos dias, de repente ouviu uma voz familiar do lado de fora:
— Xiao Jingduo, é você?
Xiao Jingduo se virou ao ouvir e viu um colega da Academia Imperial parado no portão. Ele sorriu e caminhou rapidamente até ele.
— Irmão Zhao, você também está hospedado nesta área?
— Sim, para chegar cedo ao local do exame, precisamos ficar por perto. Irmão Xiao, faz tempo desde que nos separamos na Academia Imperial. Por que você não apareceu no encontro de colegas do ano passado?
Embora Zhao Lang não tivesse ingressado na Academia no mesmo ano que Xiao Jingduo, ele já ouvira falar da reputação do rapaz. Estava apenas dando um passeio casual e ficou animado ao encontrar um rosto conhecido, puxando conversa com Xiao Jingduo imediatamente.
Enquanto Xiao Jingduo conversava com o colega do lado de fora, Xiao Lin se ocupava diligentemente em mover os pertences para dentro, caminhando com leveza para não atrapalhar o diálogo.
Ao carregar uma caixa da carruagem, Xiao Lin viu um homem de aparência erudita parado no batente da porta, espiando para dentro.
— O que você está fazendo?
Assustado pela voz súbita atrás dele, Dong Peng se virou rapidamente e viu Xiao Lin o encarando com desaprovação.
Dong Peng bateu no peito e suspirou:
— Por que você falou de repente? Que falta de educação.
Xiao Lin bufou friamente:
— Hmph, você está espiando o quarto do nosso jovem mestre sem permissão e ainda fala de falta de educação?
— Que espiando o quê? Quanta grosseria! — Dong Peng sacudiu a manga com nojo e franziu a testa ao recuar, como se não quisesse estar no mesmo lugar que Xiao Lin. — Uma pessoa tão rude não merece conversa.
Xiao Lin revirou os olhos mentalmente, sem vontade de continuar lidando com aquele sujeito. Continuou levando os objetos para dentro, enquanto Dong Peng permanecia parado à porta, aparentemente relutante em ir embora.
— Ei, vocês alugaram dois quartos? Meu amigo Wu Tai e eu estamos dividindo apenas um quarto lateral, e vocês ocupam dois com toda essa pompa. Que absurdo!
Xiao Lin, mantendo o rosto impassível, disse de forma mecânica e monótona:
— Por favor, afaste-se. Você está bloqueando meu caminho.
Dong Peng estava furioso, mas achou indigno discutir com um servo. Assim que Xiao Lin saiu, Dong Peng cuspiu com desprezo nas costas dele:
— Inculto.
Depois dessa maldição silenciosa, Dong Peng se sentiu um pouco melhor. Estava prestes a sair quando de repente seus olhos se fixaram em algo:
— Ei, o que é isso?
Quando Xiao Lin voltou, Dong Peng já não estava mais na sala principal. Xiao Lin finalmente soltou um suspiro de alívio. Foi então que notou que o baú de livros de Xiao Jingduo havia sido jogado perto da porta. Apressadamente, largou o que carregava e levantou com muito cuidado o baú, reorganizando os livros com esmero.
— O Jovem Mestre valoriza muito esses livros. Não podemos deixá-los se danificar.
Xiao Jingduo finalmente conseguiu se despedir do colega tagarela e voltou para o quarto. Descobriu que, no curto tempo em que estivera fora, muitos objetos haviam sido colocados no cômodo.
As sobrancelhas de Xiao Jingduo se contraíram.
— Por que tem tanta coisa aqui?
— Eu também não sei. A Qiuju mandou trazer tudo — respondeu Xiao Lin com sinceridade.
Após um longo silêncio, Xiao Jingduo esfregou a testa:
— Eu devia ter impedido ela. Estou aqui para fazer o exame, não para passear. Que impróprio trazer tanta coisa.
— O conjunto de chá e a roupa de cama até vão, mas para que trazer aquecedores de mão e incenso? — Xiao Jingduo estava exasperado. — Deixe os livros, leve todo o resto. Coloque no seu quarto por enquanto.
Xiao Lin obedeceu em silêncio, retirando os itens desnecessários do quarto principal, enquanto Xiao Jingduo abria espaço, pretendendo sentar-se para revisar seus livros.
Ao tocar o baú de livros, franziu a testa subitamente:
— Xiao Lin, alguém mexeu no meu baú de livros.
— Sim, fui eu. Reorganizei um pouco quando fui mover os livros.
Entendendo agora, Xiao Jingduo assentiu e deixou o assunto de lado, concentrando-se na leitura.
Com o exame se aproximando, estudar clássicos e antologias poéticas já não era útil. Xiao Jingduo focava principalmente em dissertações políticas e atualidades. Seus anos de acúmulo eram suficientes; ele não precisava de uma maratona de estudos de última hora. Pegava os livros mais por hábito, para manter o raciocínio afiado.
Agora, ele finalmente compreendia por que o Mestre Chu não lhe dissera com antecedência quais textos cairiam no exame. O exame imperial selecionava oficiais com base na escrita, buscando recrutar indivíduos talentosos para servir na corte, e não estudantes que apenas memorizavam clássicos. O exame valorizava o conhecimento acumulado, não o desespero de decorar textos relevantes. Focar apenas nisso era pôr a carroça na frente dos bois.
Num piscar de olhos, chegou o dia do exame.
Xiao Jingduo levantou-se cedo, caminhando em direção ao salão de exames ao som dos tambores da alvorada. Um grupo de estudantes já se reunia diante do prédio, conversando em voz baixa em pequenos grupos.
À medida que o sol subia, mais e mais estudantes chegavam. Após longa espera, as portas do salão finalmente se abriram lentamente. Oficiais do Ministério dos Ritos posicionaram-se nos degraus e anunciaram em voz alta:
— O exame imperial está prestes a começar. Estudantes convocados, por favor, venham à frente. Após a verificação de identidade, poderão entrar. Todos, por favor, mantenham silêncio agora. Quando seu nome for chamado, aproxime-se imediatamente. Su Nuo, da Província de Huainan!
Houve um burburinho na multidão. Um a um, os estudantes se dirigiam à frente, e assim, o exame imperial do nono ano de Qiyuan começava oficialmente.
Capítulo 44 – O Exame
O nome de Xiao Jingduo foi chamado logo em seguida. Ele avançou em resposta. Após os oficiais do Ministério dos Ritos confirmarem sua identidade e a placa com seu nome, o encaminharam para o lado, onde foi revistado. Outros oficiais examinaram cuidadosamente suas roupas e mangas. Só depois de confirmarem que ele não carregava anotações, facas ou outros itens proibidos, assentiram com a cabeça e o deixaram entrar.
O salão de exame era extremamente espaçoso, com longos corredores nos lados leste e oeste. Os candidatos sentavam-se sob esses corredores para responder às provas. O exame durava dois dias, com duas matérias aplicadas por dia. Os candidatos só podiam sair ao anoitecer, após finalizarem os testes do dia. Não era permitido sair ao meio-dia. Curiosamente, o Ministério dos Ritos não fornecia refeições — os candidatos tinham que levar seus próprios alimentos secos. Se quisessem, poderiam até levar utensílios de cozinha, velas e outros itens para preparar comida, sem interferência por parte do ministério.
Como o sistema de exame imperial havia sido implementado apenas há alguns anos, os assuntos e procedimentos ainda não eram padronizados anualmente. No ano anterior, a corte debateu por quase metade de um mês antes de decidir o formato da prova daquele ano. Além da composição de poesias, interpretação de clássicos e redação de ensaios políticos — que já faziam parte das provas anteriores —, foi adicionada uma nova categoria: redação miscelânea.
Era a primeira vez que esse tipo de redação aparecia no exame. Ninguém sabia exatamente como ela seria cobrada, apenas que deveriam escrever um texto livre, priorizando fluidez e forma com significado elevado. A mudança de última hora por parte da corte causou grande angústia entre os candidatos da geração de Xiao Jingduo. Adicionar uma matéria nova de repente não deixava tempo para preparação e, pior ainda, não havia exemplos de provas anteriores para referência. Como se espera que façamos algo que ninguém ensinou?
Mas, independentemente das reclamações silenciosas dos estudantes, o exame imperial do nono ano de Qiyuan começou como programado. O vice-ministro dos Ritos que presidia o exame fez um breve discurso de encorajamento antes de instruir os oficiais a distribuírem as folhas de prova.
O exame imperial durava dois dias. No primeiro, eram cobradas composição de poesia e interpretação de clássicos. No segundo, redação miscelânea e ensaios políticos. Após completar a primeira matéria do dia, havia uma pausa para descanso, alimentação ou preparo de comida. Os candidatos podiam sair após a segunda matéria. Uma vez dispensados, podiam descansar livremente — o Ministério dos Ritos não interferia, desde que chegassem pontualmente no dia seguinte e passassem pela verificação de identidade e revista corporal.
As primeiras folhas de prova foram distribuídas. Assim que recebeu a sua, Xiao Jingduo a examinou de cima a baixo. A prova exigia a composição de dois poemas e um fu (um tipo de prosa poética), com temas convencionais focados na descrição de paisagens e expressão de ambições pessoais.
Aquilo não era difícil. Na época, a composição poética era extremamente popular — até crianças nas ruas sabiam recitar poemas famosos. Embora Xiao Jingduo não se considerasse capaz de compor versos espontaneamente, escrever alguns poemas e fu com métrica correta estava muito dentro de suas capacidades.
Ele redigiu seus rascunhos rapidamente, transcrevendo-os para a folha final com poucas revisões. Como resultado, terminou de escrever com uma rapidez impressionante, causando espanto nos colegas ao seu redor quando largou o pincel.
— Já terminou?
Xiao Jingduo ignorou completamente a pressão que estava criando ao redor. Como muitos ainda não haviam terminado, ele não podia sair. Limitou-se a sentar-se ereto, refletindo silenciosamente sobre a redação miscelânea do dia seguinte.
A composição de poesia e fu era uma etapa eliminatória no exame imperial. Aqueles com pouca habilidade literária seriam cortados já nesse estágio. Se seus textos não atingissem um certo padrão, as demais provas sequer seriam lidas pelos examinadores. Essa primeira barreira exigia um talento literário altíssimo. No entanto, para estudantes como Xiao Jingduo, que almejavam se tornar oficiais, poesia e fu eram o mínimo. A interpretação dos clássicos era trivial. O verdadeiro teste de capacidade estava nos ensaios políticos e na imprevisível redação miscelânea.
Havia cinco perguntas políticas, colocadas na última parte da prova, servindo como a triagem final e mais crucial para seleção oficial. As questões do tipo ce exigiam que os candidatos respondessem a problemas específicos citando os clássicos ou analisando os acontecimentos atuais. Já as questões lun envolviam a avaliação de eventos ou figuras históricas. As cinco perguntas cobriam temas como política, estratégia militar, agricultura, medicina, hidráulica e outros. Até o último momento, era impossível prever o que a corte cobraria. Portanto, a resolução das questões políticas dependia do conhecimento acumulado. Essa seção também demonstrava com maior clareza a eloquência e sensibilidade política dos candidatos — atributos essenciais para um futuro oficial.
Enquanto Xiao Jingduo refletia, cada vez mais candidatos foram abaixando os pincéis. Quando o incenso na mesa da frente terminou de queimar, o vice-ministro dos Ritos anunciou o fim da sessão. Os oficiais então começaram a recolher as folhas de prova, seguindo a ordem.
Com a primeira parte encerrada, os candidatos finalmente puderam suspirar de alívio e tirar seus mantimentos para um intervalo. Foi então que Xiao Jingduo percebeu que alguns candidatos haviam levado panelas para cozinhar arroz com óleo.
Ele balançou a cabeça, divertido, mas não deu mais atenção.
A sessão da tarde era de interpretação de clássicos. Essa prova consistia em apresentar metade de uma frase dos grandes clássicos para que o aluno completasse de memória, ou então oferecer um trecho completo para que fosse explicado. Nada particularmente desafiador. Xiao Jingduo crescera memorizando textos médicos e depois passou anos recitando escrituras budistas no Templo Qingyuan. Se eu consigo recitar textos médicos e sutras tão obscuros e profundos, interpretar os clássicos é brincadeira de criança. Ele escreveu num ritmo constante e logo voltou a largar o pincel.
Como os exames daquele dia haviam terminado, Xiao Jingduo pôde sair mais cedo desta vez. Após ver com os próprios olhos o examinador recolher sua prova, deixou o salão com tranquilidade e compostura.
O candidato ao lado de Xiao Jingduo ficou visivelmente desconcertado. Esse rapaz é mesmo real? Parece tão jovem… Será que está fingindo, querendo se exibir?
Do lado de fora do salão, Xiao Lin também se espantou ao ver Xiao Jingduo:
— Jovem mestre, o que foi isso…?
— Terminei de escrever, então saí mais cedo.
Xiao Lin finalmente soltou um suspiro de alívio.
— Que bom… Eu pensei…
Xiao Lin engoliu as palavras que ainda não tinha dito. No início, achara que algo ruim havia acontecido e que Xiao Jingduo precisara sair antes da hora. Embora as palavras do jovem mestre tivessem dissipado esse medo, Xiao Lin não se sentia completamente tranquilo.
Será que ele não saiu cedo demais? Todos os outros ainda estão lá dentro…
Mas Xiao Lin era naturalmente reservado. No fim das contas, decidiu confiar em seu jovem mestre e guardou essas preocupações para si.
Quando Xiao Jingduo voltou, naturalmente Dong Peng e Wu Tai — os outros hóspedes da mesma hospedaria — ainda não haviam retornado. Ele cumprimentou o dono da casa com um leve sorriso antes de se recolher ao quarto para revisar.
Com as provas de clássicos e poesia já finalizadas, não havia mais necessidade de revisar esses assuntos por enquanto. No entanto, a redação miscelânea e os ensaios políticos do dia seguinte exigiam toda a atenção. Graças às suas conexões com a mansão do Marquês Dingyong, Xiao Jingduo possuía certo entendimento da política recente da corte. Ele tirou os boletins oficiais que havia reunido com cuidado e começou a folheá-los, um a um.
Apesar de o conteúdo da redação miscelânea ainda ser incerto, os ensaios políticos certamente abordariam temas da atualidade. Embora não esperasse adivinhar as questões exatas, revisar mais uma vez não fazia mal.
Logo, a noite caiu, e Xiao Jingduo teve que acender uma vela para continuar estudando. Após um tempo indefinido, ouviu vagamente um burburinho do lado de fora. Xiao Jingduo soube, então, que Dong Peng e os outros haviam retornado. As regras do Ministério dos Ritos para o exame eram bastante flexíveis, sem pressionar os candidatos quanto ao tempo. Os examinandos podiam continuar escrevendo até depois do pôr do sol, mas tinham que entregar as provas antes que duas velas de madeira se consumissem. Pelo horário em que Dong Peng e seus companheiros chegaram, provavelmente haviam ficado até o último instante.
O barulho vindo de Dong Peng e Wu Tai mal registrou na mente de Xiao Jingduo antes de desaparecer completamente. Ele não deu muita atenção aos dois.
No entanto, embora ele não se importasse com os outros, os outros repararam nele. Após uma sequência de sons vindos dos aposentos laterais, alguém bateu à porta de Xiao Jingduo.
— Irmão Xiao, você está aí?
Xiao Jingduo teve que pôr o livro de lado para responder:
— Estou aqui.
Dong Peng empurrou a porta e encontrou um quarto espaçoso e arrumado, com mobília simples. Perto da janela havia uma escrivaninha baixa, coberta por pincéis de escrita, tinta e livros. Um tinteiro repousava no canto direito da mesa de madeira escura, enquanto vários pergaminhos empilhados com ordem ocupavam o lado esquerdo. Os rolos dos pergaminhos eram lisos e polidos, emitindo um brilho marrom suave. No centro da mesa havia um livro aberto. Sua capa era uma longa faixa de seda rígida avermelhada, extremamente comprida e presa a dois rolos de sândalo em cada extremidade. Páginas brancas estavam coladas sobre a base de seda, permitindo ao leitor ajustar o avanço girando os rolos de madeira. Dong Peng olhou para o rolo esquerdo do pergaminho, que estava espesso e enrolado, enquanto o direito permanecia fino, o que deixava claro que Xiao Jingduo estava quase terminando o livro.
Dong Peng sentiu-se dividido e não conseguiu evitar o comentário:
— Irmão Xiao, há quanto tempo você voltou?
— Nem prestei atenção, talvez cerca de duas horas.
— Você está tão confiante na prova de hoje a ponto de ter saído tão cedo?
— Não diria isso. Só tenho um pouco de proficiência na interpretação dos clássicos.
Dong Peng sorriu de forma estranha:
— O Irmão Xiao parece mesmo calmo e contido. Gostaria de saber quais são seus planos para amanhã?
Xiao Jingduo achou a pergunta estranha:
— Amanhã simplesmente farei a prova conforme as regras. Por que a pergunta, Irmão Dong?
— Nada demais — Dong Peng balançou a cabeça, lançando a Xiao Jingduo um olhar ambíguo. — Já que o Irmão Xiao quer revisar os textos diversos e os ensaios de política, não vou incomodar mais. Com licença. Fique à vontade.
Essas palavras soaram estranhamente enigmáticas. Xiao Jingduo observou Dong Peng sair em silêncio. Sozinho no quarto, franziu a testa, confuso.
Ele está insinuando algo. O que ele quis dizer, afinal?
No segundo dia do exame imperial, tudo transcorreu como de costume.
Após a tradicional revista corporal, os candidatos foram autorizados a entrar no salão de provas. Xiao Jingduo sentou-se em seu assento designado e recebeu a tão comentada prova de redação miscelânea.
À primeira vista, Xiao Jingduo ficou momentaneamente atônito.
E ele não foi o único; outros candidatos sob os corredores leste e oeste explodiram em uma série de reclamações:
— O que é isso? Como podem cobrar isso?
A reação dos candidatos era compreensível. Embora o tema da prova não fosse obscuro — na verdade, era bastante famoso — parecia propositalmente difícil.
Porque o tema era "Tian Wen" (Perguntas Celestiais).
Tian Wen era uma peça literária antiga e extraordinária. Desde sua criação mil anos atrás, ninguém havia conseguido interpretá-la completamente. E agora, esse texto enigmático aparecia nas folhas da prova.
"Onde estão o sol e a lua? Onde se dispõem as estrelas? Elas nascem no Vale do Calor e se põem no Vale da Escuridão. Do brilho à escuridão, quantos li percorrem? Que virtude possui a luz noturna? Por que morre e depois renasce? O que se perde e o que se preserva? E por que há uma lebre em seu ventre?"
Como eu deveria saber onde o sol e a lua nascem, ou onde as estrelas caem? Do Vale do Calor ao da Escuridão, da luz à sombra, quantos li se percorre? Que virtude tem a lua? Crescendo e minguando, morrendo e renascendo num ciclo sem fim — como ela consegue alcançar a imortalidade? Quais são as manchas escuras na lua? Será que há mesmo um coelho escondido em seu ventre?
Xiao Jingduo sentia-se completamente sem saída. Como eu deveria saber tudo isso?
Tradicionalmente, o conteúdo do exame imperial era retirado dos Cinco Clássicos. Da Academia Imperial às escolas particulares, todo o ensino girava em torno desse material. Tudo que se aprendia e praticava era voltado ao exame imperial. Mas Tian Wen, registrado no Chu Ci (Cânticos de Chu), estava completamente fora do escopo do currículo oficial!
Imediatamente, alguns alunos protestaram:
— Senhor examinador, esse tema não faz parte do conteúdo do exame! Exigimos a troca do tema!
Logo, vozes de apoio se espalharam pelo salão:
— Isso mesmo! Como podem cobrar algo fora dos Cinco Clássicos? Estão dificultando de propósito!
— Pois é, o que está acontecendo aqui?
Capítulo 45 – Um Mistério
A súbita inclusão de um conteúdo fora do programa oficial no exame imperial causou um alvoroço entre os estudantes no salão de provas. Muitos ignoraram a disciplina do exame e começaram a protestar em voz alta.
Para economizar tempo, a maioria dos candidatos não havia lido nada além dos Quatro Livros e dos Cinco Clássicos, por isso sabiam muito pouco sobre obras renomadas como Tian Wen. Quem poderia imaginar que a corte lançaria uma dessas, não apenas escolhendo a pergunta principal do exame a partir de Tian Wen, como também exigindo a redação de um ensaio dissertativo sobre o texto?
Parecia uma brincadeira cruel. Alguns estudantes imediatamente se opuseram, exigindo com razão a troca do tema.
No entanto, o tema havia sido definido pelo Ministério dos Ritos, o exame era organizado pelo próprio ministério, e o examinador-chefe era um vice-ministro de Estado. Acostumado a enfrentar tempestades, como esse veterano seria intimidado por calouros? Ele já esperava por esse tipo de reação e manteve-se calmo na frente do salão. Quando o tumulto diminuiu um pouco, ele pigarreou e anunciou em voz alta:
— Silêncio! O tema do exame jinshi foi decidido em conjunto por diversos ministros e Sua Majestade. Aqueles que desejarem se opor podem entregar suas provas e sair agora, sem perturbar os demais. Este exame será cronometrado com incenso. Quando o incenso se apagar, todos devem parar de escrever. Cuidem do tempo e não se atrasem.
Três bastões de incenso, espessos como dedos, queimavam no incensário à frente. Os candidatos olharam para frente e xingaram baixinho por dentro. Mas, naquele momento, só lhes restava engolir a indignação. O tema já era obscuro o bastante; se ainda perdessem tempo, então escrever qualquer coisa seria impossível.
Após o choque inicial, Xiao Jingduo logo se recompôs e focou em analisar o enunciado. Enquanto os outros ainda estavam atordoados, ele já pensava em como abordá-lo.
Tian Wen abordava astronomia, geografia, natureza, agricultura e questões humanas. Ao escolher esse texto como tema, os examinadores provavelmente não esperavam respostas literais às perguntas de Qu Yuan, mas queriam avaliar a visão dos candidatos sobre o céu e a terra, a história e até mesmo a autoridade imperial.
Portanto, embora incomum, o tema era ousado. Para escrever bem sobre Tian Wen, não bastava uma prosa elegante e complexa — era necessário também amplo conhecimento em história, astronomia, geografia e outras matérias diversas.
Apesar da dificuldade, Xiao Jingduo sentiu uma forte vontade de aceitar o desafio. Se os examinadores tinham ambições tão grandiosas a ponto de ousar questionar os céus, ele também queria se mostrar à altura.
Organizando suas ideias, ele começou seu ensaio abordando o nascer e o pôr do sol e da lua.
Começou com uma introdução, seguida de uma transição suave, entrando então na parte principal em forma de pergunta e resposta, que redigiu com extremo cuidado. Após concluir o núcleo do texto, passou naturalmente para a conclusão, finalizando com as humildes palavras de praxe.
Ao terminar o longo ensaio, Xiao Jingduo soltou um longo suspiro de alívio, só então percebendo como seu punho estava rígido e dolorido. Flexionando o pulso lentamente, releu seu texto. Depois de uma revisão geral e algumas correções sutis, pegou o pincel e começou a copiar a versão final na folha oficial selada.
Embora o conteúdo fosse o foco da avaliação, a caligrafia era uma exigência tácita. Quem escrevia mal não só tinha dificuldades no exame, como também era malvisto em cargos oficiais. No Reino Xuan, todos se orgulhavam da boa caligrafia. A escrita de Xiao Jingduo, assim como ele mesmo, não era particularmente refinada, mas era limpa, bela, firme e vigorosa — impecável. Apesar do ensaio extenso, sua cópia final ficou organizada e agradável aos olhos.
Ele gastou quase metade do tempo apenas transcrevendo. Tinha acabado de conferir seu nome e naturalidade quando o tempo do exame se encerrou.
O salão foi tomado por lamentos. Muitos não haviam terminado, haviam interpretado mal o tema ou estavam revoltados com a ousadia da corte.
Xiao Jingduo também sentia algum arrependimento. Não esperava perguntas a partir do Chu Ci, e embora o tivesse lido, não havia revisado com afinco antes do exame. Alguns trechos estavam nebulosos em sua memória, e ele teve que suavizar certos pontos no ensaio.
Mas isso era inevitável. Quem podia adivinhar os temas da prova? Xiao Jingduo suspirou internamente e deixou isso de lado.
A sessão anterior, com o ensaio dissertativo, tinha sido desmoralizante. Quando chegou a vez do ensaio político final, muitos candidatos estavam desanimados.
Talvez o azar já tivesse sido esgotado. As cinco perguntas políticas da tarde foram surpreendentemente favoráveis. Duas sobre agricultura, uma sobre recursos hídricos e duas sobre questões políticas recentes. Para alegria de Xiao Jingduo, os temas políticos abordavam epidemias e auxílio médico.
As duas perguntas agrícolas eram clássicas: como incentivar os agricultores e aumentar a produção de grãos. Recursos hídricos também era um tema recorrente, geralmente envolvendo drenagem e construção de diques. As últimas duas abordavam o controle de epidemias frequentes após enchentes na Província de Ze e a fome causada por seca e pragas de gafanhotos no Norte.
Tendo crescido no interior de Zhuo até os oito anos, Xiao Jingduo não era estranho à agricultura. Seu conhecimento médico e sua experiência pessoal durante a epidemia no sul de Chang’an tornaram essas perguntas políticas fáceis. Ele até incluiu prescrições em sua resposta sobre prevenção de doenças pós-desastre.
Respondeu às cinco questões com facilidade. O temido exame de política acabou sendo surpreendentemente simples, deixando até mesmo Xiao Jingduo incrédulo. Se não soubesse melhor, acharia que o exame fora feito sob medida para ele.
Outros candidatos o observavam com cautela. Quando viram que ele já havia largado o pincel, choraram por dentro.
Por que tão rápido? Mesmo as perguntas mais difíceis ele entregava antes dos demais. Será que esse garoto tinha algum tipo de conexão?
Xiao Jingduo deixou o salão de provas e saiu da academia imperial com passos leves. A atmosfera do Ano Novo ainda pairava no ar do primeiro mês, com um leve cheiro de pólvora de fogos de artifício. Parado diante dos portões da academia, respirou fundo.
O exame imperial, para o qual se preparara durante sete ou oito anos, finalmente havia terminado. Dentro de dez dias, o Ministério dos Ritos anunciaria os resultados. E então, tudo seria revelado — se ele passaria ou não, se ingressaria na corte como oficial ou seria forçado a um casamento.
Com o exame concluído, Xiao Jingduo não precisava mais permanecer fora. Já era tarde, e se voltasse agora, poderia ser pego pelo toque de recolher. Como não estava com pressa, decidiu passar mais uma noite ali e retornar à mansão do marquês ao amanhecer.
— Jovem mestre, deseja mais alguma coisa? — perguntou Xiao Lin.
— Não. Pode ir na frente. Como não temos pressa, carregamos a carruagem amanhã — respondeu Xiao Jingduo.
— Sim, senhor. — Xiao Lin assentiu e se retirou discretamente. Ao ficar sozinho, lembrando-se da prova de hoje, Xiao Jingduo decidiu pegar o Chu Ci e estudá-lo com atenção.
Logo, Dong Peng e seu companheiro retornaram, fazendo barulho demais. Xiao Jingduo conseguia ouvir o alvoroço à distância.
— Irmão Dong, anda logo! Combinei com meus conterrâneos de ir ao Distrito das Cortesãs. Se demorarmos, vamos perder os melhores lugares.
Distrito das Cortesãs?
A mão de Xiao Jingduo parou no meio da rolagem do livro. Ele não pôde evitar olhar na direção de Dong Peng.
Quanto tempo eles estavam em Chang’an para já conhecerem o Distrito das Cortesãs?
Xiao Jingduo, morando há anos em Chang’an, conhecia bem aquele lugar. Todas as noites, quando as luzes da cidade se apagavam, apenas as lanternas vermelhas do Distrito das Cortesãs brilhavam intensamente, atraindo visitantes até o amanhecer.
Era um bairro repleto de casas de entretenimento, onde cortesãs eram mestres em canto, dança e música. Se uma poesia agradasse uma cortesã, ela poderia se espalhar por toda Chang’an em uma noite, trazendo fama instantânea ao autor. Por isso, era o refúgio favorito de muitos letrados. Mesmo na Academia Imperial, Xiao Jingduo já fora convidado inúmeras vezes a visitar o local, sempre recusando. Mas nunca imaginou que esses estudantes recém-chegados da província, mal saindo do exame, já planejassem ir se divertir ali.
Antes que pudesse terminar seu raciocínio, sua porta foi aberta. Dong Peng apareceu do lado de fora, animado:
— Irmão Xiao, alguns de nós, da mesma província, estamos indo ao Distrito das Cortesãs. Quer vir conosco?
— Não — respondeu Xiao Jingduo, sem mudar a expressão.
Dong Peng pareceu decepcionado, mas ainda tentou persuadi-lo:
— Irmão Xiao, embora você ainda seja jovem, não é nada demais abrir os olhos e conhecer o mundo no Distrito das Cortesãs. As moças de lá são cultas e compreensivas, muito mais interessantes que esposas e concubinas. Ah, certo, você ainda não é casado, né?
— Ainda não. — Vendo que Dong Peng começava a ultrapassar os limites, Xiao Jingduo o interrompeu rapidamente: — Irmão Dong, não precisa dizer mais nada. Não vou. Já que você tem planos com seus conterrâneos, aproveite.
— Ah, você vem de família nobre. Em tese, deveria conhecer bem essas coisas. Como pode ser ainda mais rígido que os velhos estudiosos? — Dong Peng tinha vindo com boas intenções — e com segundas intenções também. Imaginava que, depois de algumas taças, poderia arrancar de Xiao Jingduo alguma informação sobre o exame de nomeação em maio. Mas não esperava uma recusa tão firme. Se o próprio Xiao Jingduo não vai, o que nós de fora podemos fazer? Confuso, Dong Peng apenas balançou a cabeça e saiu, suspirando. Ao cruzar a soleira, notou de repente um livro sobre a mesa de Xiao Jingduo.
Os olhos de Dong Peng se estreitaram e ele parou abruptamente, avançando rapidamente. Ao ver o conteúdo sobre a escrivaninha de Xiao Jingduo, suspirou, desapontado:
— Por que Chu Ci?
Dong Peng vinha agindo de forma estranha desde que entrara. Xiao Jingduo o observou com atenção, e ao ouvir esse comentário, ficou ainda mais desconfiado:
— A prova de escrita diversa de hoje foi sobre Tian Wen. Se eu não estiver lendo Chu Ci, o que mais deveria estar lendo?
Dong Peng riu:
— Tudo bem, tudo bem, não vou discutir com você. O que você disser. Mas, Irmão Xiao, a prova já acabou. Não é meio exagerado estar lendo Chu Ci agora?
— Exagerado? O que quer dizer com isso?
Ao ver a expressão séria de Xiao Jingduo, Dong Peng percebeu que havia falado demais. Rapidamente acenou com a mão, desconversando:
— Ah, Wu está me chamando. Devíamos nos apressar. Vou indo na frente.
Depois que Dong Peng saiu, os olhos de Xiao Jingduo voltaram para o pergaminho, mas desta vez, ele não virou a página por um longo tempo.
Havia algo estranho nas palavras de Dong Peng mais cedo. O que exatamente ele estava insinuando?
Essa pergunta perturbou Xiao Jingduo durante toda a noite, sem que ele conseguisse encontrar uma resposta. Quando amanheceu no dia seguinte, só pôde, por ora, deixar os pensamentos de lado e começar a arrumar seus pertences.
No final da manhã, Dong Peng e Wu Tai finalmente retornaram, bêbados. Apoiaram-se um no outro, murmurando palavras incompreensíveis, tropeçando pelo pátio. Dong Peng de repente tropeçou com o pé direito. Com os reflexos lentos de um bêbado, estava prestes a cair à beira do caminho quando Xiao Jingduo, incapaz de apenas assistir, estendeu a mão para segurá-lo.
— Irmão Dong, Irmão Wu, vocês beberam demais.
Dong Peng, apoiado em Xiao Jingduo, estava quase inconsciente. Wu Tai, um pouco mais lúcido, ergueu o olhar e, após encará-lo por um tempo, reconheceu-o. Resmungou, grato:
— Ah, é o irmãozinho Xiao do outro quarto. Obrigado, obrigado…
— A prova acabou ontem, e vocês já estão nesse estado. Não têm medo de que o examinador-chefe desaprove?
— Ha, do que temos que ter medo? Isso já é meu — disse Wu Tai, com a mente enevoada pela bebida, despejando uma enxurrada de palavras. — Não somos como você. Olhe pra você, decidiu prestar os exames imperiais e sua família está abrindo caminho. Vai conseguir seu título de jinshi e entrar no oficialato em grande estilo. Como filhos de famílias ricas poderiam entender as dificuldades dos estudantes pobres? Essa é a primeira vez que vejo um lugar próspero como Chang’an, quero ficar aqui pra sempre.
As palavras eram desconexas, mas vinham todas do fundo do coração de Wu Tai. Talvez por estar bêbado e as emoções à flor da pele, e porque Dong Peng também estava embriagado e inconsciente, sem poder alertá-lo, Wu Tai falava cada vez com mais liberdade. Depois de reclamar um pouco, ele de repente riu:
— Mas meu destino vai mudar. Logo passarei nas provas com notas altas e me tornarei um oficial. E a partir daí, vou subir na carreira como foguete.
A estranha premonição de Xiao Jingduo voltou, exatamente como nas palavras de Dong Peng na noite anterior. Ele lançou um olhar para Dong Peng e, de repente, decidiu mudar seu alvo de questionamento. Dong Peng era cauteloso demais e não diria muito, não importava como fosse pressionado, mas talvez conseguisse encontrar uma brecha com o bêbado Wu Tai.
Assim, Xiao Jingduo suavizou a voz e acompanhou o raciocínio de Wu Tai, perguntando:
— Sério? Está tão confiante de que vai tirar uma nota alta? Por que tem tanta certeza? Quem garante que não está só se gabando?
Wu Tai riu alto. Lutou para dar um tapinha no ombro de Xiao Jingduo e disse, cambaleando:
— Estou confiante por sua causa, Irmão Xiao. Fique tranquilo, somos colegas de exame, vamos servir juntos na corte no futuro. Não vou contar isso a ninguém.
Xiao Jingduo ficou chocado e confuso ao mesmo tempo. Fez mais algumas perguntas, mas Wu Tai continuava desviando do ponto. Nesse momento, Xiao Lin o chamou para partir. Vendo que não conseguiria mais nada dali, Xiao Jingduo teve que deixar para lá — por ora.
Mesmo assim, as informações reveladas nas palavras de Wu Tai já eram o suficiente para deixar Xiao Jingduo em alerta. Enquanto cavalgava em direção à mansão do Marquês de Dingyong, ficou refletindo sobre o assunto o caminho inteiro.
Finalizar os exames imperiais deveria ser motivo de celebração, e os criados da mansão queriam participar da comemoração. No entanto, ao verem a expressão sombria de Xiao Jingduo, só puderam engolir as palavras de congratulações.
Xiao Lin, sempre o mais reservado, não fez muitas perguntas ao ver o semblante carregado de Xiao Jingduo. Apenas conduziu a carruagem, silenciosamente seguindo atrás do jovem mestre.
— Xiao Lin — perguntou de repente Xiao Jingduo —, durante esses dias de exame, Dong Peng e Wu Tai fizeram algo estranho? Ou chegaram a entrar no meu quarto?
Ao ouvir a pergunta, Xiao Lin franziu os olhos, pensativo, depois balançou a cabeça com firmeza:
— Não, fiquei vigiando seu quarto, jovem mestre. Não deixei ninguém entrar. Ah, mas… — Xiao Lin pareceu se lembrar de algo e parou abruptamente de falar.
— Mas o quê? — pressionou Xiao Jingduo.
— No dia em que chegamos, enquanto eu estava movendo as coisas, acho que vi Dong Peng parado à porta, parecendo estar pegando alguma coisa.
— O que havia próximo à porta?
— Vários baús para guardar roupas… ah, e acho que também havia o baú de livros do jovem mestre.
Xiao Jingduo assentiu, pensativo. Baús de roupas, e o baú de livros. Embora sentisse que não havia nada de errado com esses itens, toda a bagagem fora arrumada por Qiuju. Talvez perguntando a ela ao voltar conseguisse alguma resposta.
Xiao Jingduo retornou à mansão com a expressão severa durante todo o caminho. Vendo seu semblante, os criados abriram caminho em silêncio, sem ousar dizer uma palavra. Isso, indiretamente, apenas confirmava a suspeita de todos na mansão do marquês — os resultados do jovem mestre nos exames certamente não haviam sido bons.
O Pátio Qingze já havia começado os preparativos ao saber da volta de Xiao Jingduo. Qiuju correu para abrir o portão, recebendo-o com alegria.
— Jovem Mestre, finalmente voltou!
— Hm — respondeu Xiao Jingduo, de forma indiferente.
— Que bom que está de volta, Jovem Mestre. Agora há pouco, a Jovem Senhorita (Cheng Huizhen) mandou alguém perguntar. Quem diria que, logo depois que os criados dela foram embora, o senhor retornaria? Que timing azarado. Mas pensando bem, foi igual da última vez. A Jovem Senhorita veio ao Pátio Qingze, ficou por ali um tempo e foi embora sem vê-lo.
Xiao Jingduo de repente parou no lugar e se virou, fixando um olhar intenso em Qiuju:
— O que você disse?
Assustada com o olhar de Xiao Jingduo, Qiuju gaguejou:
— No dia anterior à sua partida da mansão, a Jovem Senhorita também veio ao Pátio Qingze. Há algum problema com isso?
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