Capítulo 44 – O Exame


 O nome de Xiao Jingduo foi chamado logo em seguida. Ele avançou em resposta. Após os oficiais do Ministério dos Ritos confirmarem sua identidade e a placa com seu nome, o encaminharam para o lado, onde foi revistado. Outros oficiais examinaram cuidadosamente suas roupas e mangas. Só depois de confirmarem que ele não carregava anotações, facas ou outros itens proibidos, assentiram com a cabeça e o deixaram entrar.

O salão de exame era extremamente espaçoso, com longos corredores nos lados leste e oeste. Os candidatos sentavam-se sob esses corredores para responder às provas. O exame durava dois dias, com duas matérias aplicadas por dia. Os candidatos só podiam sair ao anoitecer, após finalizarem os testes do dia. Não era permitido sair ao meio-dia. Curiosamente, o Ministério dos Ritos não fornecia refeições — os candidatos tinham que levar seus próprios alimentos secos. Se quisessem, poderiam até levar utensílios de cozinha, velas e outros itens para preparar comida, sem interferência por parte do ministério.

Como o sistema de exame imperial havia sido implementado apenas há alguns anos, os assuntos e procedimentos ainda não eram padronizados anualmente. No ano anterior, a corte debateu por quase metade de um mês antes de decidir o formato da prova daquele ano. Além da composição de poesias, interpretação de clássicos e redação de ensaios políticos — que já faziam parte das provas anteriores —, foi adicionada uma nova categoria: redação miscelânea.

Era a primeira vez que esse tipo de redação aparecia no exame. Ninguém sabia exatamente como ela seria cobrada, apenas que deveriam escrever um texto livre, priorizando fluidez e forma com significado elevado. A mudança de última hora por parte da corte causou grande angústia entre os candidatos da geração de Xiao Jingduo. Adicionar uma matéria nova de repente não deixava tempo para preparação e, pior ainda, não havia exemplos de provas anteriores para referência. Como se espera que façamos algo que ninguém ensinou?

Mas, independentemente das reclamações silenciosas dos estudantes, o exame imperial do nono ano de Qiyuan começou como programado. O vice-ministro dos Ritos que presidia o exame fez um breve discurso de encorajamento antes de instruir os oficiais a distribuírem as folhas de prova.

O exame imperial durava dois dias. No primeiro, eram cobradas composição de poesia e interpretação de clássicos. No segundo, redação miscelânea e ensaios políticos. Após completar a primeira matéria do dia, havia uma pausa para descanso, alimentação ou preparo de comida. Os candidatos podiam sair após a segunda matéria. Uma vez dispensados, podiam descansar livremente — o Ministério dos Ritos não interferia, desde que chegassem pontualmente no dia seguinte e passassem pela verificação de identidade e revista corporal.

As primeiras folhas de prova foram distribuídas. Assim que recebeu a sua, Xiao Jingduo a examinou de cima a baixo. A prova exigia a composição de dois poemas e um fu (um tipo de prosa poética), com temas convencionais focados na descrição de paisagens e expressão de ambições pessoais.

Aquilo não era difícil. Na época, a composição poética era extremamente popular — até crianças nas ruas sabiam recitar poemas famosos. Embora Xiao Jingduo não se considerasse capaz de compor versos espontaneamente, escrever alguns poemas e fu com métrica correta estava muito dentro de suas capacidades.

Ele redigiu seus rascunhos rapidamente, transcrevendo-os para a folha final com poucas revisões. Como resultado, terminou de escrever com uma rapidez impressionante, causando espanto nos colegas ao seu redor quando largou o pincel.

— Já terminou?

Xiao Jingduo ignorou completamente a pressão que estava criando ao redor. Como muitos ainda não haviam terminado, ele não podia sair. Limitou-se a sentar-se ereto, refletindo silenciosamente sobre a redação miscelânea do dia seguinte.

A composição de poesia e fu era uma etapa eliminatória no exame imperial. Aqueles com pouca habilidade literária seriam cortados já nesse estágio. Se seus textos não atingissem um certo padrão, as demais provas sequer seriam lidas pelos examinadores. Essa primeira barreira exigia um talento literário altíssimo. No entanto, para estudantes como Xiao Jingduo, que almejavam se tornar oficiais, poesia e fu eram o mínimo. A interpretação dos clássicos era trivial. O verdadeiro teste de capacidade estava nos ensaios políticos e na imprevisível redação miscelânea.

Havia cinco perguntas políticas, colocadas na última parte da prova, servindo como a triagem final e mais crucial para seleção oficial. As questões do tipo ce exigiam que os candidatos respondessem a problemas específicos citando os clássicos ou analisando os acontecimentos atuais. Já as questões lun envolviam a avaliação de eventos ou figuras históricas. As cinco perguntas cobriam temas como política, estratégia militar, agricultura, medicina, hidráulica e outros. Até o último momento, era impossível prever o que a corte cobraria. Portanto, a resolução das questões políticas dependia do conhecimento acumulado. Essa seção também demonstrava com maior clareza a eloquência e sensibilidade política dos candidatos — atributos essenciais para um futuro oficial.

Enquanto Xiao Jingduo refletia, cada vez mais candidatos foram abaixando os pincéis. Quando o incenso na mesa da frente terminou de queimar, o vice-ministro dos Ritos anunciou o fim da sessão. Os oficiais então começaram a recolher as folhas de prova, seguindo a ordem.

Com a primeira parte encerrada, os candidatos finalmente puderam suspirar de alívio e tirar seus mantimentos para um intervalo. Foi então que Xiao Jingduo percebeu que alguns candidatos haviam levado panelas para cozinhar arroz com óleo.

Ele balançou a cabeça, divertido, mas não deu mais atenção.

A sessão da tarde era de interpretação de clássicos. Essa prova consistia em apresentar metade de uma frase dos grandes clássicos para que o aluno completasse de memória, ou então oferecer um trecho completo para que fosse explicado. Nada particularmente desafiador. Xiao Jingduo crescera memorizando textos médicos e depois passou anos recitando escrituras budistas no Templo Qingyuan. Se eu consigo recitar textos médicos e sutras tão obscuros e profundos, interpretar os clássicos é brincadeira de criança. Ele escreveu num ritmo constante e logo voltou a largar o pincel.

Como os exames daquele dia haviam terminado, Xiao Jingduo pôde sair mais cedo desta vez. Após ver com os próprios olhos o examinador recolher sua prova, deixou o salão com tranquilidade e compostura.

O candidato ao lado de Xiao Jingduo ficou visivelmente desconcertado. Esse rapaz é mesmo real? Parece tão jovem… Será que está fingindo, querendo se exibir?

Do lado de fora do salão, Xiao Lin também se espantou ao ver Xiao Jingduo:

— Jovem mestre, o que foi isso…?

— Terminei de escrever, então saí mais cedo.

Xiao Lin finalmente soltou um suspiro de alívio.

— Que bom… Eu pensei…

Xiao Lin engoliu as palavras que ainda não tinha dito. No início, achara que algo ruim havia acontecido e que Xiao Jingduo precisara sair antes da hora. Embora as palavras do jovem mestre tivessem dissipado esse medo, Xiao Lin não se sentia completamente tranquilo.

Será que ele não saiu cedo demais? Todos os outros ainda estão lá dentro…

Mas Xiao Lin era naturalmente reservado. No fim das contas, decidiu confiar em seu jovem mestre e guardou essas preocupações para si.

Quando Xiao Jingduo voltou, naturalmente Dong Peng e Wu Tai — os outros hóspedes da mesma hospedaria — ainda não haviam retornado. Ele cumprimentou o dono da casa com um leve sorriso antes de se recolher ao quarto para revisar.

Com as provas de clássicos e poesia já finalizadas, não havia mais necessidade de revisar esses assuntos por enquanto. No entanto, a redação miscelânea e os ensaios políticos do dia seguinte exigiam toda a atenção. Graças às suas conexões com a mansão do Marquês Dingyong, Xiao Jingduo possuía certo entendimento da política recente da corte. Ele tirou os boletins oficiais que havia reunido com cuidado e começou a folheá-los, um a um.

Apesar de o conteúdo da redação miscelânea ainda ser incerto, os ensaios políticos certamente abordariam temas da atualidade. Embora não esperasse adivinhar as questões exatas, revisar mais uma vez não fazia mal.

Logo, a noite caiu, e Xiao Jingduo teve que acender uma vela para continuar estudando. Após um tempo indefinido, ouviu vagamente um burburinho do lado de fora. Xiao Jingduo soube, então, que Dong Peng e os outros haviam retornado. As regras do Ministério dos Ritos para o exame eram bastante flexíveis, sem pressionar os candidatos quanto ao tempo. Os examinandos podiam continuar escrevendo até depois do pôr do sol, mas tinham que entregar as provas antes que duas velas de madeira se consumissem. Pelo horário em que Dong Peng e seus companheiros chegaram, provavelmente haviam ficado até o último instante.

O barulho vindo de Dong Peng e Wu Tai mal registrou na mente de Xiao Jingduo antes de desaparecer completamente. Ele não deu muita atenção aos dois.

No entanto, embora ele não se importasse com os outros, os outros repararam nele. Após uma sequência de sons vindos dos aposentos laterais, alguém bateu à porta de Xiao Jingduo.

— Irmão Xiao, você está aí?

Xiao Jingduo teve que pôr o livro de lado para responder:

— Estou aqui.

Dong Peng empurrou a porta e encontrou um quarto espaçoso e arrumado, com mobília simples. Perto da janela havia uma escrivaninha baixa, coberta por pincéis de escrita, tinta e livros. Um tinteiro repousava no canto direito da mesa de madeira escura, enquanto vários pergaminhos empilhados com ordem ocupavam o lado esquerdo. Os rolos dos pergaminhos eram lisos e polidos, emitindo um brilho marrom suave. No centro da mesa havia um livro aberto. Sua capa era uma longa faixa de seda rígida avermelhada, extremamente comprida e presa a dois rolos de sândalo em cada extremidade. Páginas brancas estavam coladas sobre a base de seda, permitindo ao leitor ajustar o avanço girando os rolos de madeira. Dong Peng olhou para o rolo esquerdo do pergaminho, que estava espesso e enrolado, enquanto o direito permanecia fino, o que deixava claro que Xiao Jingduo estava quase terminando o livro.

Dong Peng sentiu-se dividido e não conseguiu evitar o comentário:

— Irmão Xiao, há quanto tempo você voltou?

— Nem prestei atenção, talvez cerca de duas horas.

— Você está tão confiante na prova de hoje a ponto de ter saído tão cedo?

— Não diria isso. Só tenho um pouco de proficiência na interpretação dos clássicos.

Dong Peng sorriu de forma estranha:

— O Irmão Xiao parece mesmo calmo e contido. Gostaria de saber quais são seus planos para amanhã?

Xiao Jingduo achou a pergunta estranha:

— Amanhã simplesmente farei a prova conforme as regras. Por que a pergunta, Irmão Dong?

— Nada demais — Dong Peng balançou a cabeça, lançando a Xiao Jingduo um olhar ambíguo. — Já que o Irmão Xiao quer revisar os textos diversos e os ensaios de política, não vou incomodar mais. Com licença. Fique à vontade.

Essas palavras soaram estranhamente enigmáticas. Xiao Jingduo observou Dong Peng sair em silêncio. Sozinho no quarto, franziu a testa, confuso.

Ele está insinuando algo. O que ele quis dizer, afinal?

No segundo dia do exame imperial, tudo transcorreu como de costume.

Após a tradicional revista corporal, os candidatos foram autorizados a entrar no salão de provas. Xiao Jingduo sentou-se em seu assento designado e recebeu a tão comentada prova de redação miscelânea.

À primeira vista, Xiao Jingduo ficou momentaneamente atônito.

E ele não foi o único; outros candidatos sob os corredores leste e oeste explodiram em uma série de reclamações:

— O que é isso? Como podem cobrar isso?

A reação dos candidatos era compreensível. Embora o tema da prova não fosse obscuro — na verdade, era bastante famoso — parecia propositalmente difícil.

Porque o tema era "Tian Wen" (Perguntas Celestiais).

Tian Wen era uma peça literária antiga e extraordinária. Desde sua criação mil anos atrás, ninguém havia conseguido interpretá-la completamente. E agora, esse texto enigmático aparecia nas folhas da prova.

"Onde estão o sol e a lua? Onde se dispõem as estrelas? Elas nascem no Vale do Calor e se põem no Vale da Escuridão. Do brilho à escuridão, quantos li percorrem? Que virtude possui a luz noturna? Por que morre e depois renasce? O que se perde e o que se preserva? E por que há uma lebre em seu ventre?"

Como eu deveria saber onde o sol e a lua nascem, ou onde as estrelas caem? Do Vale do Calor ao da Escuridão, da luz à sombra, quantos li se percorre? Que virtude tem a lua? Crescendo e minguando, morrendo e renascendo num ciclo sem fim — como ela consegue alcançar a imortalidade? Quais são as manchas escuras na lua? Será que há mesmo um coelho escondido em seu ventre?

Xiao Jingduo sentia-se completamente sem saída. Como eu deveria saber tudo isso?

Tradicionalmente, o conteúdo do exame imperial era retirado dos Cinco Clássicos. Da Academia Imperial às escolas particulares, todo o ensino girava em torno desse material. Tudo que se aprendia e praticava era voltado ao exame imperial. Mas Tian Wen, registrado no Chu Ci (Cânticos de Chu), estava completamente fora do escopo do currículo oficial!

Imediatamente, alguns alunos protestaram:

— Senhor examinador, esse tema não faz parte do conteúdo do exame! Exigimos a troca do tema!

Logo, vozes de apoio se espalharam pelo salão:

— Isso mesmo! Como podem cobrar algo fora dos Cinco Clássicos? Estão dificultando de propósito!

— Pois é, o que está acontecendo aqui?


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