Capítulo 46: Ensinando a Tia
Logo cedo, na manhã seguinte, Han Yan havia acabado de chegar à casa principal para saudar Zhuang Shiyang quando viu Tia Zhou e Zhuang Yushan já esperando de lado. Zhuang Yushan estava rindo e conversando com Zhuang Shiyang de maneira tão íntima que o deixava visivelmente satisfeito. Na memória de Han Yan, ela raramente vira Zhuang Shiyang mostrar tal calor em sua presença. Seu olhar esfriou enquanto se aproximava para cumprimentar:
— Filha vem saudar o pai.
Ao vê-la entrar, Zhuang Shiyang franziu ligeiramente a testa, demonstrando certo desagrado.
— Por que está tão atrasada? Yushan chegou há meia hora. Sendo a filha legítima da família Zhuang, como pode ser tão preguiçosa?
Suas palavras foram bastante duras. Antes que Han Yan pudesse responder, Tia Zhou interveio com um sorriso gentil:
— A Quarta Senhorita se esforçou muito ontem para trazer honra à família Zhuang no banquete do palácio. Dormir um pouco mais é compreensível. O senhor deveria ter mais compaixão por ela, Mestre.
Ao ouvir menção ao banquete, Zhuang Shiyang logo se lembrou das palavras de Han Yan diante do Imperador, quando ela omitira por completo sua identidade como filha dele. Isso o deixou ainda mais irritado, e sua expressão se tornou mais fria.
— Hmph, não foi nada demais. Não se ache tanto.
Ao ver Han Yan sendo repreendida, Zhuang Yushan, que observava de lado, não conseguiu evitar um leve brilho de satisfação no olhar. Han Yan apenas permaneceu de pé, com postura adequada, e respondeu suavemente:
— Pai tem razão. A partir de agora, chegarei meia hora mais cedo para os cumprimentos, assim como a irmã Yushan.
Alinhar-se ao horário de Zhuang Yushan significava mudar a rotina da casa. Como filha legítima da família Zhuang, ter que se ajustar a uma filha de concubina era, no mínimo, humilhante. A expressão de Tia Zhou mudou por um breve instante, mas ela logo sorriu e disse:
— A Quarta Senhorita tem um bom coração; com certeza o Mestre compreende isso.
Han Yan apenas sorriu em resposta e não replicou. Diante disso, Tia Zhou falou com doçura a Zhuang Shiyang:
— Mestre, tenho um pedido a fazer.
Zhuang Shiyang indagou:
— O que foi?
Tia Zhou lançou um olhar a Han Yan antes de continuar:
— Ontem, a caligrafia e a pintura da Quarta Senhorita foram impressionantes. Yushan me pediu para rogar à Quarta Senhorita que a ensine.
Zhuang Shiyang fez um gesto displicente com a mão:
— Isso não é problema algum. Han Yan, você não faz nada o dia inteiro; vá ensinar sua irmã.
Sob o olhar impositivo de Zhuang Shiyang e a expressão fingidamente esperançosa de Zhuang Yushan, Han Yan apenas sorriu:
— São apenas habilidades triviais; como ousaria me vangloriar delas? Não é que eu me recuse, mas a irmã Yushan já é naturalmente talentosa. Seria melhor se Pai convidasse a mulher mais renomada da capital, a Senhorita Yan, para ensinar minha irmã. A Senhorita Yan era insuperável em talentos na sua juventude, sendo exímia em música, xadrez, caligrafia e pintura. Certamente seria uma instrutora muito melhor do que eu. O que acham, Tia Zhou e irmã Yushan?
Zhuang Yushan nunca gostou de admitir que era inferior a Han Yan, mas queria aprender a pintar como ela. Ao perceber que não precisaria aprender diretamente sob sua sombra, e que a professora seria ainda mais talentosa, respondeu sem muita convicção:
— Isso soa bem...
Ela ia dizer mais, mas ao cruzar o olhar com Tia Zhou, conteve-se. Tia Zhou olhou para Han Yan, descontente com sua recusa, mas também tentada pela reputação da Senhorita Yan. Han Yan não mentia: a mulher era realmente extraordinária. Se Zhuang Yushan pudesse absorver parte de seus conhecimentos, certamente superaria Han Yan e teria vantagem ao se casar com alguém de prestígio no futuro.
De fato, após um momento, Tia Zhou sorriu e disse:
— Eu me sentiria mal em fazer Yu Shan incomodar a Quarta Senhorita o dia inteiro. Que tal convidarmos a Senhorita Yan? Só não sei se conseguiríamos persuadi-la...
Zhuang Shiyang gesticulou novamente, com indiferença:
— Qual a dificuldade? Mandarei meus servos entregarem o convite agora mesmo; é só esperar.
Vendo seu objetivo alcançado, Han Yan sorriu e disse:
— Pai, também tenho um compromisso hoje com a irmã Deng Chan, então me retiro.
Zhuang Shiyang já estava achando sua presença incômoda e, ao ouvir isso, respondeu impaciente:
— Então vá logo.
Han Yan fez uma reverência novamente e se retirou com polidez.
No caminho de volta ao Pátio Qingqiu, Ji Lan não conseguiu se conter:
— Senhorita, por que sugeriu uma ideia tão boa à Tia Zhou? Se uma mulher talentosa como a Senhorita Yan não lhe ensinar nada e acabar beneficiando aquela outra do Pátio Gongtong, e se essa garota te superar no futuro?
Antes que Han Yan pudesse responder, Shu Hong disse em tom firme:
— Aquela garota jamais poderá se comparar à nossa Senhorita.
Han Yan ficou surpresa por um instante, depois sorriu, e vendo que não havia ninguém por perto, disse em voz baixa:
— Vocês sabem quem realmente é a Senhorita Yan?
Ji Lan ficou momentaneamente confusa, mas logo reagiu, olhando para Han Yan com certa empolgação:
— Seria...
— Ela não é alguém fácil de lidar — comentou Han Yan, casualmente. — A irmã Yu Shan está com tempo demais sobrando; é bom que tenha algo para ocupar a cabeça.
Ji Lan não conseguiu conter a admiração:
— Senhorita, você é mesmo muito astuta!
Han Yan não respondeu.
Seu conhecimento sobre a Senhorita Yan vinha da vida passada, graças à própria Tia Zhou. Naquela vida, depois que Han Yan soube que se casaria com Wei Ru Feng, temendo não estar à altura, implorou a Tia Zhou que contratasse uma tutora para instruí-la. Tia Zhou de fato trouxe uma mulher talentosa da capital — a tal Senhorita Yan.
A mulher era realmente dotada, mas talento não equivalia a bom caráter. Quando jovem, quase se tornara uma cortesã talentosa do palácio, mas fracassara por ter aparência comum. Por isso, nutria desprezo por todas as mulheres belas. Somando-se às "instruções especiais" de Tia Zhou, Han Yan havia sofrido muito nas mãos dela. Com a beleza estonteante de Zhuang Yu Shan, era certo que a Senhorita Yan lhe causaria grandes dificuldades.
Além disso, com o temperamento arrogante e orgulhoso de Zhuang Yu Shan, os conflitos entre as duas só tenderiam a aumentar. Restava saber se ela cederia em nome do aprendizado ou se reagiria por puro orgulho. De qualquer forma, não era mais problema de Han Yan.
De volta ao Pátio Qingqiu, Shu Hong perguntou:
— Senhorita, vamos à residência do Ministro Deng?
Han Yan balançou a cabeça:
— Vamos procurar uma carruagem mais discreta. Vamos para a Academia de Artes Marciais Shun Chang.
Ji Lan ficou surpresa, mas foi procurar a carruagem. Enquanto isso, Han Yan trocou de roupa: vestiu um colete de cetim azul simples, por cima uma jaqueta curta prateada com detalhes em vermelho, e uma saia de seda branca. Prendeu o cabelo em um coque alto, parecendo uma criada de família abastada.
A jaqueta já estava um pouco curta, e Shu Hong comentou:
— Senhorita, quando vai ao Pavilhão Rui Yi mandar fazer algumas roupas novas? Esta está muito curta...
Só então Han Yan notou e sentiu-se um pouco relutante; aquelas roupas haviam sido feitas por sua mãe enquanto ainda era viva. Desde que sua mãe morrera, ninguém na casa — além das criadas e de Mamãe Chen — se importava com suas vestimentas ou com seu bem-estar. Ela não pôde deixar de sorrir com amargura.
— Não é preciso. Eu acho esta aqui perfeita.
Shu Hong hesitou:
— Senhorita, o dinheiro que costuma dar de recompensa aos criados daria para fazer várias roupas novas...
Han Yan balançou a cabeça.
— As roupas não caem bem, mas ainda servem. O problema não são as roupas, e sim os criados desta casa. Se eles não mantiverem a ordem, aí sim teremos problemas. Além disso, não é como se me faltasse prata... — Ela sorriu novamente. — Deixa pra lá, não vamos falar disso. Vamos logo.
Shu Hong pegou um véu e cuidadosamente o colocou no rosto dela. Han Yan então pegou uma nota de prata de dentro da caixa e a guardou na manga. A Academia de Artes Marciais Shun Chang havia criado recentemente uma divisão feminina, atraindo muitas mulheres da capital e causando grande alvoroço. Han Yan já ouvira falar disso... Estava na hora de colher os frutos do seu investimento.
Yang Qi havia, afinal, aceitado sua sugestão.
Capítulo 47: A Mestra Assassina
Enquanto a carruagem seguia pelas ruas da cidade oeste, Han Yan ouvia os sons agitados dos vendedores ao redor e se lembrava do que Ji Lan havia descoberto sobre a divisão feminina da Academia de Artes Marciais Shun Chang.
A divisão feminina era diferente da masculina. Por conta de seu status especial, as mulheres podiam escolher seus próprios instrutores e não precisavam treinar dentro da academia. Em vez disso, podiam receber os ensinamentos em casa, evitando os inconvenientes que suas identidades poderiam causar.
Quando Yang Qi implementou essa mudança, os habitantes da capital primeiro se surpreenderam, depois observaram com curiosidade, até que, aos poucos, passaram a se interessar. Especialmente as filhas de famílias militares, que não se interessavam por artes femininas e tinham muito mais afinidade com habilidades marciais — a possibilidade de contratar um instrutor particular em casa era extremamente atraente. Depois que a primeira ousou fazer isso, outras seguiram o exemplo, e gradualmente, a divisão feminina ganhou imensa popularidade, talvez até superando a masculina.
Han Yan sentiu um alívio. Uma preocupação que a atormentava havia muito tempo finalmente havia sido resolvida. Dois anos após sua vida passada, uma escola de artes marciais voltada para mulheres realmente havia sido fundada, mas não por Yang Qi, e sim pela família da Consorte Chen — mais precisamente, pelo Lorde Chen. Naquela época, a escola feminina prosperava, enquanto Yang Qi, doente, via a Academia Shun Chang entrar em declínio. O Lorde Chen havia reunido muitos nobres da capital em torno daquela escola, fortalecendo ainda mais a facção do Sétimo Príncipe.
Quando ela sugeriu a ideia para Yang Qi, foi justamente para impedir que a facção do Sétimo Príncipe ganhasse poder. Se Yang Qi administrasse a escola, sua influência seria ainda maior. Ela havia ficado preocupada, sem saber se Yang Qi aceitaria ou não sua proposta, mas, agora, diante da situação atual, ela se sentia tranquila.
A carruagem parou em frente à academia, e Han Yan permitiu que Ji Lan e Shu Hong a ajudassem a descer. Ultimamente, com muitas mulheres indo contratar instrutores, os transeuntes já haviam se acostumado com a cena. O rapaz que abriu o portão ainda era o encantador Xiao Li; ele reconheceu Ji Lan e Shu Hong imediatamente e logo percebeu que Han Yan era a jovem disfarçada de rapaz que estivera ali antes. Corando, disse:
— Senhorita, por favor, me acompanhe.
Han Yan não demonstrou qualquer hesitação, seguindo o rapaz por diversos corredores até chegarem ao salão onde ela havia se encontrado com Yang Qi anteriormente. Assim que entrou, viu Yang Qi sentada no centro, em uma cadeira de madeira de pereira amarela, tomando chá. Ao vê-la, Yang Qi apenas comentou num tom neutro:
— Veio mesmo.
Han Yan fez uma reverência e permaneceu no centro do salão, dizendo:
— Parece que a divisão feminina está indo muito bem, Mestra.
Yang Qi levantou os olhos e respondeu num tom difícil de decifrar:
— Veio cobrar os juros?
— Sim — respondeu Han Yan diretamente, o que fez Yang Qi fitá-la por alguns segundos antes de suspirar:
— Você é ousada. Bem diferente das moças comuns.
Han Yan sorriu levemente.
— Está me elogiando, Mestra.
Yang Qi a observou com atenção, percebendo o olhar calmo por trás do véu, e sentiu certa frustração.
— Com tão pouca idade, e já com esse ar maduro... Me pergunto quem a ensinou a ser assim. Muito bem. Xiao Li, vá chamar as mestras.
Ji Lan e Shu Hong trocaram olhares enquanto o rapaz saía apressado. Pouco depois, ele retornou com cerca de dez mulheres vestidas com roupas de treino.
— Estas são algumas das melhores instrutoras da academia. Pode escolher quem quiser — disse Yang Qi diretamente.
Han Yan passou os olhos pelo grupo de mulheres, todas com espírito aguçado e postura firme. Apenas de olhar, já se sentia contagiada por aquela aura de retidão e força. Realmente impressionante...
No entanto, escolher entre tantas opções era uma tarefa difícil.
Ela parou diante de uma mulher vestida de vermelho. Alta, com presença forte, seus olhos brilhavam com franqueza. Xiao Li apressou-se em explicar:
— Esta mestra treinou sob um general. É extremamente habilidosa.
Han Yan não disse nada e seguiu em frente. A próxima era uma mulher de pele escura e corpo robusto. Xiao Li continuou:
— Essa senhorita trabalhou como guarda-costas em uma vila rural. Suas habilidades eram tão boas que o velho Príncipe a contratou como guarda pessoal da Princesa.
As candidatas seguintes também tinham especialidades variadas — algumas com espada, outras com facas, outras ainda com combate corpo a corpo. Eram diversas em aparência: algumas comuns, outras belas, e algumas até pareciam homens. Seus históricos também eram notáveis. Ao caminhar entre elas, Han Yan começou a entender melhor. Com essa seleção cuidadosa de Yang Qi, não é de se admirar que a reputação da divisão feminina seja tão forte.
Porém, ao chegar à última candidata, Han Yan sentiu de repente o peito apertar. Instintivamente, ergueu os olhos e encontrou um par de olhos claros.
A mulher diante dela vestia preto, com trajes de seda. Sua aparência era tão comum que facilmente passaria despercebida em meio a uma multidão. Era baixa e magra, sem qualquer característica marcante. No entanto, o que chocou Han Yan foi que, apesar de parecer ordinária, aquela mulher possuía um par de olhos carregados de intenção assassina.
Olhos como um lago calmo... mas com uma frieza sombria por trás. Alguém que já enfrentou a morte reconhece esse olhar. Han Yan sabia muito bem: aquela mulher não era apenas indiferente ou insensível — ela desprezava a vida e conhecia a morte intimamente.
Vendo que Han Yan hesitava diante daquela mulher, Xiao Li ficou nervoso. A mulher se chamava Chai Jing, tinha uma personalidade estranha e raramente interagia com os demais. Toda vez que Xiao Li se deparava com ela, sentia um medo verdadeiro. Preocupado que Han Yan se deixasse levar pela presença intimidadora, tentou intervir:
— Senhorita, a senhorita já pensou bem...
Antes que ele terminasse, Han Yan olhou para a mulher de preto e perguntou em voz baixa:
— Posso saber o que a senhorita fazia antes?
A jovem respondeu com frieza:
— Assassina.
O tom era calmo, sem qualquer emoção.
Após alguns segundos de silêncio, Han Yan fez uma reverência respeitosa:
— Humildemente, peço que me ensine artes marciais.
A reação foi imediata. Todos no salão ficaram espantados. Nenhum dos outros mestres esperava que Han Yan escolhesse aquela mulher. Xiao Li e as duas criadas a encararam incrédulos. Aquela mulher de preto era assustadora — como Han Yan pôde escolhê-la?
Chai Jing franziu levemente a testa, surpresa com o respeito da jovem. Mordeu o lábio, mas não disse nada. Yang Qi, sentada ao lado, lançou um olhar significativo para Han Yan antes de beber mais um gole de chá.
— Tem certeza disso? — perguntou Yang Qi.
— Já pensei bem — respondeu Han Yan com firmeza.
— Sendo assim — Yang Qi acenou com a mão —, Chai Jing, você será a mestra dessa garota.
Chai Jing respondeu apenas:
— Está bem.
Com a escolha feita, os outros mestres se retiraram, deixando apenas Han Yan, suas duas criadas e Yang Qi no salão.
— Garotinha, por que escolheu justamente ela? — perguntou Yang Qi.
Han Yan sorriu.
— Apenas senti uma afinidade.
Percebendo que ela não queria se aprofundar, Yang Qi não insistiu e perguntou:
— Quando trará seu irmão?
Han Yan se surpreendeu por um instante, depois sorriu alegremente:
— Nos próximos dias. Desculpe incomodar, anciã. — Ela tirou uma nota de prata da manga e ofereceu — Por favor, aceite isso.
Yang Qi não pegou a nota. Suspirou e disse:
— Deixe isso de lado. Já tirei benefício demais com essa divisão feminina. Como poderia aceitar seu dinheiro? Talvez... você ainda não saiba quão complexas são as coisas por trás disso.
Capítulo 48: Ansiosa Expectativa
O coração de Han Yan se agitou ao suspeitar que Yang Qi estava se referindo aos interesses entre a escola de artes marciais e o Sétimo Príncipe. No entanto, esta não era sua vida passada; se Lorde Chen fundasse uma escola feminina de artes marciais dali a três anos, certamente não teria o mesmo efeito. Será que algumas coisas já estavam se tornando evidentes agora?
Mas, como uma jovem dama, não podia demonstrar preocupação com assuntos da corte diante dos outros. Por isso, sorriu e disse:
— Mestre, meu irmão mais novo...
Yang Qi a encarou por um momento antes de dizer:
— Escolha um dia para trazê-lo até aqui. Se ele for esperto, não me furtarei a ensiná-lo algumas técnicas de artes marciais.
Han Yan percebeu que a atitude de Yang Qi com ela se tornava gradualmente mais familiar e amigável, o que, naturalmente, a agradava. Aproveitando o momento, ela retirou de seu bolso uma almofada macia:
— Esta é uma joelheira que minha criada confeccionou. Como o senhor pratica artes marciais diariamente, é fácil ferir as articulações, especialmente no inverno. Meu avô usava joelheiras para aliviar a dor; e mesmo que suas articulações estejam bem, isso também pode ajudar a mantê-las aquecidas. Por favor, não hesite em aceitá-la.
Yang Qi ficou surpreso. Qi Lan se adiantou com a joelheira, e Yang Qi a pegou, notando que era feita de cetim azul-acinzentado com pele de coelho, com costuras delicadas e sem cores chamativas, apenas um pequeno bordado de um Pixiu no canto. Ao ver o capricho do objeto, sentiu uma mistura de emoções.
Yang Qi nunca havia se casado nem tido filhos. Ao levantar os olhos, viu Han Yan, pequena e encantadora, mas com um porte que revelava sabedoria além da idade. Isso o fez refletir. Se uma menina tão esperta e espirituosa fosse minha filha, com certeza eu a amaria e teria orgulho dela.
— Você é muito atenciosa — suspirou Yang Qi, depois de um longo silêncio.
Han Yan fez uma reverência:
— Foi apenas uma sugestão minha, o trabalho é das criadas; não ouso tomar o crédito. — Após uma pausa, acrescentou: — Uma vez mestre, sempre como um pai. O senhor será o mestre do meu irmão, então é natural que eu lhe demonstre respeito.
Yang Qi soltou uma gargalhada:
— Eu ainda nem concordei com isso.
Xiao Li ficou pasmo. O Mestre Yang riu! Durante todos esses anos, salvo por raros momentos de alegria, ele mantinha sempre uma expressão austera. Mas hoje parecia genuinamente bem-humorado, lançando a Han Yan um olhar contemplativo.
Han Yan apenas sorriu em silêncio.
Após se despedir de Yang Qi, Han Yan encontrou Chai Jing esperando no pátio de treinamento da escola de artes marciais. Mesmo agora, com a relação mestre-discípula estabelecida, Han Yan ainda sentia um arrepio ao encarar Chai Jing.
Chai Jing a olhou com calma e perguntou:
— Quando começamos?
Ela queria saber quando os treinamentos teriam início. Han Yan pensou por um instante, então se recompôs e respondeu:
— Amanhã.
Chai Jing pareceu surpresa. Normalmente, moças jovens hesitavam em praticar artes marciais — salvo algumas filhas de famílias militares. Agora que as mulheres da capital estavam aderindo às escolas de artes marciais, muitas o faziam apenas por modismo. Era evidente que poucas tinham real vontade de aprender. A escolha de Han Yan por ela como mestra já fora inesperada, e agora, ver sua pressa deixava Chai Jing ainda mais intrigada.
Han Yan disse:
— Mestre, tenho um pedido humilde.
Ao ouvir a forma como foi chamada, Chai Jing teve uma leve mudança de expressão:
— Diga.
— As pessoas da minha casa não sabem que estou treinando artes marciais. Poderia a mestra encontrar-se comigo todas as manhãs, na quinta vigília, no topo da montanha dos fundos, a oeste da cidade?
Chai Jing virou o rosto, encarando os olhos dela:
— Quinta vigília?
Han Yan baixou a cabeça:
— Sinto vergonha de incomodar os doces sonhos da mestra.
— Não é nada. — Chai Jing já havia ocultado suas emoções. — Um artista marcial não tem direito a sonhos doces; só precisa suportar as dificuldades.
Han Yan suspirou:
— Se suportar as dificuldades me permitir preservar a vida, que mal há em sofrer uma vida inteira?
Ao ouvir isso, Chai Jing ficou genuinamente surpresa, deixando transparecer uma leve emoção. Mas ao encarar a jovem diante dela, com o rosto coberto por um véu branco, sentiu-se cada vez mais incapaz de decifrá-la.
— Muito bem. Até amanhã. — Após um momento de silêncio, Chai Jing assentiu para Han Yan e se virou para partir.
Han Yan observou sua silhueta se afastar e murmurou:
— Essa mestra é mesmo... muito especial.
Ji Lan comentou:
— Ela parece um pouco assustadora, Jovem Senhorita. A senhorita vai mesmo pedir que ela a ensine artes marciais?
Han Yan balançou a cabeça:
— Assustadora por quê? Ela deve ser alguém com uma história. Escutem bem, isso não deve ser contado a ninguém, nem mesmo à Mamãe Chen. — Mamãe Chen com certeza não aprovaria, ainda mais ao saber quem ela escolheu como mestra.
Ji Lan assentiu vigorosamente, mas Shu Hong, que estava calada até então, perguntou:
— Jovem Senhorita, por que tanta pressa?
Han Yan olhou para o horizonte:
— Shu Hong, não está quase na véspera do Ano-Novo?
Ji Lan respondeu prontamente:
— Faltam cerca de vinte dias, Jovem Senhorita. Não deveríamos providenciar roupas novas e algumas joias?
Han Yan sorriu levemente:
— Não há necessidade; haverá um grande presente naquela data.
Ji Lan ficou um pouco confusa, mas ao ver que Han Yan não pretendia explicar, deixou o assunto de lado. No entanto, Shu Hong percebeu que a expressão de Han Yan havia mudado de repente, como se tivesse caído em uma lembrança — mas não era boa. Um traço de dor cruzou seus olhos, logo substituído por uma frieza indiferente, como se tudo no mundo tivesse perdido a importância. Um leve ódio disfarçado brilhou como uma ilusão passageira, sumindo no instante seguinte.
Ódio...?
No último dia do décimo terceiro ano de Da Zong, na véspera do Ano-Novo, Zhuang Han Yan e Zhuang Yushan haviam descido da montanha após prestarem homenagens no templo. Pretendiam pegar a carruagem da família Zhuang, que as aguardava, para irem aproveitar o Festival das Lanternas com a família Zhou — mas foram atacadas por bandidos. Zhuang Han Yan foi capturada, enquanto Zhuang Yushan conseguiu escapar. A família Zhou alertou as autoridades, que fecharam a cidade e realizaram buscas por dois dias e duas noites. Eventualmente, Zhuang Han Yan foi encontrada pela família Zhou com a ajuda dos guardas da família Zhuang, e os bandidos foram todos capturados.
Aquele dia se tornou inesquecível por toda a vida. Após dois dias e noites de isolamento, ao reencontrar sua família, Zhuang Han Yan passou a depender completamente deles. Ela tratou a instigadora como uma salvadora, confiando nela de coração — apenas para descobrir que havia sido manipulada como um brinquedo.
Graças às ordens da família Zhou às autoridades, a busca diligente e o fechamento da cidade fizeram com que todos soubessem que a quarta jovem senhorita da família Zhuang havia sido sequestrada por bandidos. A partir daquele dia, quando as mulheres nobres da capital procuravam esposas para seus filhos, já não consideravam a quarta jovem senhorita da família Zhuang. Quem desejaria uma noiva cuja reputação foi manchada?
Zhuang Han Yan baixou os olhos. O governador local Yin, que havia conquistado a aprovação de Zhuang Shiyang por sua lealdade, conseguira ascender ao quinto posto do governo atual. Podia-se considerar uma ascensão completa. Se não fosse por ter enviado Ji Lan para investigar em segredo, Han Yan pensaria que era mera coincidência Yin ser primo distante da família Zhou.
A família Zhou realmente sabia como não sair perdendo. Teria sido um benefício em dobro? Um incidente com bandidos arruinou sua reputação e, ao mesmo tempo, construiu a imagem da esposa como uma mãe amorosa e dedicada aos olhos de todos, conquistando confiança — e ainda promovendo seu próprio primo.
Foi por isso que Han Yan estava tão ansiosa em encontrar uma mestra — porque já não havia mais tempo.
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