#Ah ah ah alerta de alta tensão.
#É humano ou fantasma?
#O fantasma chegou!
O vento maligno rodopiava e se contorcia em volta dos pés do homem, como se tentasse levantá-lo do chão.
Subitamente, os pés dele se moveram, e o som da areia sendo arrastada era extremamente desagradável.
Jiang Zheng não aguentava mais aquela cena bizarra e perguntou, trêmula:
— Sua Excelência, por favor, não nos culpe por termos invadido esse terreno sagrado por engano…
O vento girou mais rápido sob seus pés, de repente enroscando-se entre suas pernas.
A garganta do homem parecia ter um buraco enorme. Ele gemia contra o som do vento, mas era impossível entender o que dizia.
O coração de Jiang Zheng deu um salto. Aquela ventania maligna a deixava atordoada.
Por mais esquisita que fosse a cena, no fim, ainda devia ter sido criada pelo diretor. Pensando nisso, ela se abaixou, pegou uma pedra e a lançou contra o soldado à frente, que se recusava a virar.
Diretor: “…” Ele já sabia que essa mulher faria isso.
#Hahahaha Pode tacar pedra nos outros assim, ao vivo?
#Meu Deus, colapsou!
Assim que a pedra tocou a nuca do soldado, uma rajada repentina de vento soprou, e a cabeça do soldado virou areia movediça, como se fosse feita de água — restaram apenas os membros e o torso.
Liang Xiaoduan estava à beira do choro. Que diabos era aquilo?!
Ji Muye, seguindo o exemplo de Jiang Zheng, também começou a jogar pedras. Onde quer que acertassem, os soldados viravam areia, até que o último deles, poderoso, virou um monte de areia fina, esvoaçando com o vento.
Jiang Zheng fungou.
— Homem de areia? Uma pessoa esculpida em areia? Escultura de areia, pra abreviar?
#Hahahaha Agora não tô mais com medo.
#A lógica desse desafio é fluida e bizarra.
#Pura enrolação teatral.
Os três se aproximaram para investigar — havia um buraco escuro onde a escultura de areia havia desabado.
— Alguém se esforçou pra nos levar até esse buraco — disse Jiang Zheng, esfregando as mãos e rindo.
Ji Muye resmungou:
— Então vamos descer pra ver. Se tiver fantasma ou monstro, que apareça logo.
Ele voltou pelo mesmo caminho e chamou os outros três.
Assim que viu He Xiao, Liang Xiaoduan começou a tagarelar sem parar, olhando em volta enquanto falava, com medo de que surgisse outra escultura de areia de repente.
He Xiao a ouviu com o rosto impassível. Liang Xiaoduan, vendo aquela expressão fria, perdeu completamente a vontade de conversar.
Se ele não consegue nem simpatizar com a situação, de que adianta?
Jiang Zheng jogou uma pedra no buraco. O som levou um bom tempo pra voltar, o que mostrava o quão fundo era.
Ji Muye deitou-se na borda e observou por um tempo. A camada de solo na entrada do buraco era muito dura ao toque, até um pouco úmida. Não havia vestígios de terra nova, então aquele buraco claramente não fora cavado pelos saqueadores.
Provavelmente, no passado, para lidar com invasões nômades, a Cidade Chiyou tinha construído túneis subterrâneos além das muralhas. Em tempos de guerra, os soldados podiam se mover rapidamente por passagens secretas para se apoiar mutuamente, e civis podiam se esconder por um tempo e se proteger.
Milhares de anos haviam se passado — talvez algo horrível estivesse escondido ali. Por isso, todos estavam com um certo receio.
Segundo o que diz o Ghost Blows Out the Lamp[1], ao entrar num buraco desses, era necessário primeiro fazer oferendas aos deuses. Só se entrava se a vela permanecesse acesa. Também deviam deixar galinhas vivas e outros bichos passarem primeiro. Se sobrevivessem, as pessoas podiam entrar. Além disso, arroz glutinoso, sangue de cachorro ou casco de burro eram recomendados.
Mas a equipe do programa não tinha providenciado nada disso.
Xiao Cheng ficou empolgadíssimo ao saber que o tema do episódio era sobre saqueadores de tumbas. Disse a todos que seu sonho era explorar tumbas antigas e bater papo com um cadáver de mil anos.
Agora, suspirava enquanto andava ao redor da entrada do buraco, e ainda perguntou ao cinegrafista que o seguia:
— Tem sangue de cachorro? Casco de burro?
O câmera apenas balançou a cabeça, indiferente.
Sem mais delongas, o grupo resolveu não perder tempo. Ji Muye foi na frente, seguido por He Xiao.
Em todo caso, a segurança dos participantes era prioridade. Havia degraus escavados e cordas para apoio.
O problema era que a entrada era estreita demais, e exigia que passassem curvados — um incômodo enorme para Jiang Zheng e Ji Muye, que eram altos.
Dentro do túnel, havia pequenos nichos escavados na parede a cada vinte metros.
Jiang Zheng acendeu a lanterna e viu um suporte de lâmpada enferrujado em formato de feijão, ainda em pé. Parecia que havia óleo no pratinho.
#Lâmpadas a óleo de mil anos atrás?
#O formato lembra muito as lâmpadas[2] da tumba do Rei Jing da dinastia Han em Zhongshan[3].
#Essa cidade seria da dinastia Han?
Conforme avançavam, perceberam a complexidade do labirinto subterrâneo. Os caminhos se estendiam em todas as direções — um descuido e já estariam perdidos.
Por sorte, Ji Muye tinha um senso de direção excelente. Guiava o grupo rumo à pagoda no canto nordeste.
Depois de pisarem sobre sete ou oito ossadas, encontraram três ou quatro ratos gigantes e algumas cavernas ocultas com soldados petrificados em posições humanas. Em certo momento, viram um feixe de luz do sol vindo do alto e ouviram várias vozes humanas.
Jiang Zheng fez sinal para todos pararem.
— Rápido, rápido. Amarra com a corda!
— Di Ling, precisamos sair daqui antes de escurecer!
— Chefe, dá pra encontrar algo bom em tão pouco tempo? Vamos só dormir aqui essa noite.
— Você não entende nada. Essa Cidade Chiyou só é calma de dia. Quando anoitece, o vento traz a areia amarela e varre todos vocês canalhas.
Ji Muye sinalizou para Jiang Zheng. Ela assentiu em silêncio.
De acordo com o chefe dos saqueadores, a Cidade Chiyou parecia ter um "timer". Durante o dia, a cidade aparecia totalmente. Assim que o sol se punha, a areia amarela cobria tudo. No dia seguinte, outro vento soprava e revelava a cidade de novo. E assim por diante, eternamente.
Jiang Zheng olhou para cima. O sol entrava de lado, e ela ainda estava a centímetros de alcançar a abertura mesmo na ponta dos pés. Caso contrário, poderiam observar melhor o lado de fora.
Olhou ao redor — não havia escadas ou algo parecido.
Ji Muye se aproximou e ajoelhou-se à frente dela.
Jiang Zheng: — …
#Mamãe! Vai subir no pescoço dele?
#Cena lendária!
#wsl[4]. Casem aqui mesmo! Se você já montou no meu pescoço, falta o quê pra ser a pessoa ao meu lado?
Jiang Zheng piscou e perguntou baixinho:
— O quê?
Liang Xiaoduan observava os dois, animadíssima.
Ji Muye apontou para o próprio pescoço, sinalizando para que ela subisse.
Mesmo com mil coragens, Jiang Zheng jamais ousaria montar no pescoço dele. Deu um passo pra trás, recusando.
Nesse instante, um som horrendo de motosserra veio de cima. Os saqueadores pareciam prestes a agir.
Jiang Zheng pulou imediatamente no pescoço de Ji Muye, agarrou as orelhas dele com as duas mãos e fez sinal para que ele se levantasse.
#Hahahaha que fofos.
#Um se agacha, o outro sobe.
#Esses saqueadores são muito violentos. Motosserra pra quê?!
Através de uma grelha discreta, Jiang Zheng viu sete ou oito homens de preto nas sombras.
Um deles estava sentado de qualquer jeito numa poltrona, cigarro na boca, dando ordens aos outros.
Parecia ser o salão principal de um templo. Comparado aos alojamentos dos soldados, esse lugar estava bem preservado — as janelas de madeira ainda estavam penduradas e várias colunas grandes permaneciam de pé.
Jiang Zheng ficou espantada. A madeira ao redor já havia apodrecido… por que ali permanecia intacta?
Ao virar o pescoço para a direita, viu uma estátua alta, com várias cordas amarradas ao redor. Um homem com uma motosserra afiava a lâmina mirando o pescoço da estátua…
— Segura a cabeça do Buda aí em cima. Vai com calma na motosserra. Se rachar, vou esmagar suas bolas.
— Me esforcei tanto pra não achar nada. Só essa estátua vale algum dinheiro.
Naquele instante, Jiang Zheng parecia possuída — sua alma foi capturada pela imagem da deusa.
Antes do budismo chegar à China, todas as estátuas de Buda eram masculinas. Mas aqui, começaram a surgir representações femininas. As mulheres budas tornaram-se mais atraentes, especialmente para outras mulheres que viviam reclusas. Ainda assim, essas deusas transmitiam dignidade e compaixão. Era a primeira vez que Jiang Zheng via uma estátua tão linda quanto uma imortal celestial — sobrancelhas graciosas, olhar sedutor[5].
O saqueador riscou uma linha branca no pescoço da estátua. Jiang Zheng se alarmou e começou a bolar um plano para enganá-lo.
Ji Muye tocou o dorso da mão dela — havia três pedrinhas em sua palma.
Jiang Zheng entendeu. Apertou levemente os dedos e lançou uma pedra através da grade, que caiu no chão diante da estátua.
Mas o barulho da motosserra abafava qualquer som.
Ela ajustou a mira e atirou novamente. A pedra acertou a perna de um saqueador, mas ele nem percebeu.
Restava só uma pedra. Jiang Zheng juntou as mãos em prece:
Estátua linda, sua cabeça está prestes a ser decepada. Manifeste-se, por favor!
Fez seu pedido e lançou a última. Dessa vez, parecia que a pedra tinha olhos. Primeiro acertou o peito da estátua e depois… a testa do chefe dos saqueadores.
Jiang Zheng ficou de boca aberta. Inacreditável.
#Aigoo! Manifestou-se!
#HAHAHAHA todos caíram de joelhos de medo!
#Essa estátua não pertence ao budismo nem ao taoismo. Parece mais uma homenagem a alguém.
A pedra foi tão certeira que feriu a testa do chefe, deixando vermelha.
Os que seguravam motosserra, cordas e caixas largaram tudo e se ajoelharam diante da estátua, rezando e pedindo perdão.
O chefe limpou o rosto, viu a pedra vinda da estátua, pisou nela e grunhiu:
— Eu estou na sua frente. Que tipo de fantasmas ou monstros são vocês? Não passam de nada pra mim!
Ergueu-se, arrancou a motosserra da mão de outro e subiu nos degraus com o rosto fechado, decidido a fazer o trabalho com as próprias mãos.
Nesse momento, como um trovão na terra, um pequeno redemoinho surgiu no meio do salão, levantando poeira e areia fina do chão.
A motosserra caiu, acertando o pé dele. Ele despencou da estrutura, feriu a perna e ficou estatelado, implorando por clemência.
A areia e o vento bateram na grade da janela. Jiang Zheng foi pega desprevenida — seu rosto ficou coberto de areia num instante.
Ji Muye, ao ouvir o barulho, agachou-se depressa.
Jiang Zheng apertava os olhos. A areia havia entrado, e doía demais.
Ji Muye entrou em pânico. Segurou o rosto dela com cuidado, examinando.
— Está doendo? Está doendo?
Jiang Zheng franziu a testa e gemeu.
Ji Muye pediu rapidamente para Liang Xiaoduan acender a lanterna. Não havia água fria nem soro — só a água do poço. Precisavam lavar os olhos dela para evitar infecção.
Ele pensou um pouco.
— Zhengzheng, tem alguma maneira de te fazer chorar agora?
As lágrimas podiam lavar a areia dos olhos.
Jiang Zheng não entendeu.
— …O quê?
Ji Muye:
— Quebrei a perna?
Jiang Zheng: — …
— Fui sequestrado por bandidos?
Por fim, ele tentou:
— Me casei oficialmente?
Jiang Zheng:
— …Sr. Ji, você subestima a minha habilidade de chorar.
Assim que terminou de falar, duas linhas de lágrimas escorreram do canto dos olhos. Primeiro umedeceram os cílios, depois aumentaram, virando dois fios cristalinos descendo pelas bochechas.
Ji Muye: — …Awww.
—
Nota da autora: O irmão Ji está ficando cada vez mais sem vergonha. Um cachorro fala como cachorro e se comporta como cachorro.
—
Notas de rodapé:
[1] Ghost Blows Out the Lamp (Gui Chui Deng) é uma série de romances de fantasia escrita por Zhang Muye sobre uma equipe de saqueadores de tumbas em busca de tesouros. Publicado online em 2006.
[2] Provavelmente refere-se a um modelo semelhante de lamparina arqueológica.
[3] Liu Sheng (m. 113 a.C.), conhecido como Rei Jing de Zhongshan, foi um príncipe do império Han Ocidental. Seu túmulo é um dos sítios arqueológicos mais importantes da família imperial Han.
[4] wsl é uma sigla chinesa de internet, usada como exagero para expressar emoção: “estou morrendo”, “estou surtando”. Deriva da expressão awsl.
[5] Refere-se à estátua feminina com traços etéreos e sedutores, como uma imortal celestial.
0 Comentários