O chefe do Departamento Médico Imperial havia presumido que essa visita se limitaria a um simples exame de pulso, jamais esperando uma situação tão grave.
Quanto ao envenenamento, Ye Jingchuan claramente não tinha a intenção de se aprofundar, e o Médico Imperial Wang sabia muito bem que não devia se intrometer.
— Lorde Ye, talvez possamos começar com uma prescrição padrão de antídoto.
Se funcionaria era incerto, mas ao menos não causaria mal algum.
Ye Jingchuan assentiu.
— Agradeço, Médico Imperial Wang. Peço que mantenha em sigilo o fato de minha esposa e eu termos sido envenenados.
Ele tirou uma nota de cem taéis de prata da manga e a pressionou na mão do médico.
O Médico Imperial Wang recusou o dinheiro.
— Fique tranquilo, Lorde Ye. Este velho sabe quando deve manter a boca fechada.
Sua década como chefe do departamento se devia justamente à sua estrita dedicação em apenas tratar doenças — sem bisbilhotar, sem espalhar boatos.
Depois de escrever a prescrição, ele se preparou para partir.
Ye Jingchuan acrescentou rapidamente:
— Poderia examinar meu filho mais novo, Jun’er? Desde a infância ele vem sendo secretamente prejudicado pelo médico da casa, e sua saúde está praticamente arruinada.
— Mostre o caminho.
Eles chegaram ao Pátio Esmaltado.
O Médico Imperial Wang olhou para Ye Anjun deitado na cama — frágil, pálido, com o corpo completamente debilitado.
Após examinar seu pulso, puxou Ye Jingchuan para fora, o semblante grave.
— Lorde Ye, temo que o jovem mestre tenha menos de dois anos de vida. No máximo, posso prescrever tônicos para aliviar seu sofrimento.
Ao ouvir o mesmo diagnóstico de médicos anteriores, Ye Jingchuan explodiu em ódio por Kong Ru.
— Não precisa. Já tenho prescrições de tônicos de sobra.
— Lorde Ye talvez devesse procurar o Divino Doutor Xue para o jovem mestre. Agora, devo ir.
Depois de acompanhar o Médico Imperial Wang até a saída, Ye Jingchuan seguiu para o Pátio do Alvorecer Tranquilo.
Pátio do Alvorecer Tranquilo.
Ye Chutang praticava artes marciais novamente.
Dan’er, que separava legumes para o jantar, perguntou:
— Senhorita, posso treinar com você?
Ela queria aprender algumas técnicas de defesa pessoal.
Ye Chutang se aproximou, examinou a estrutura óssea de Dan’er e balançou a cabeça.
— Seus ossos já endureceram. É tarde para as artes marciais, mas posso lhe ensinar técnicas mais simples de defesa. Começaremos quando seus ferimentos cicatrizarem.
Dan’er abriu um largo sorriso.
— Obrigada, Senhorita!
Jinzhi se aproximou, rindo de forma tola.
— Senhorita, Jinzhi também quer aprender!
Ela treinaria duro para proteger sua jovem mestra!
— Certo.
Ye Chutang concordou e puxou Jinzhi para a posição de cavalo.
Quando Ye Jingchuan chegou, lançou um olhar para a postura desajeitada de Jinzhi e zombou.
— Preciso falar com Chutang a sós. Todas vocês, saiam.
Jinzhi riu feito boba, fingindo não entender.
Dan’er simplesmente o ignorou.
Shuang’er, que descansava no interior, chegou a se levantar — mas recuou ao perceber que as outras não se moviam.
A autoridade de Ye Jingchuan como chefe da família estava sendo desafiada.
— Estão surdas?! — rugiu.
Ye Chutang ergueu o olhar, seus olhos sarcásticos encontrando a fúria dele.
— Lorde Ye, se veio aqui para exibir autoridade, escolheu o lugar errado.
Lembrando-se de seu propósito, Ye Jingchuan suavizou o tom.
— Chutang, você já disse que poderia curar a doença de Jun’er. Era verdade?
— Claro.
— Então deixo ele em suas mãos.
— Com prazer. Mas não trabalho de graça.
Ye Jingchuan já antecipava a extorsão.
— Quanto?
Ye Chutang se aproximou.
— Pai, desta vez não quero dinheiro.
O coração dele disparou.
— Então o quê?
Ela pronunciou lentamente:
— Ye Anzhi é um monstro devasso. Quero vê-lo arruinado.
Ela havia prometido vingança a Dan’er, e nunca quebrava sua palavra.
Planejara expor a depravação de Ye Anzhi durante o banquete de retorno, mas perdeu a chance.
Ye Jingchuan a encarou, incrédulo.
— Perdeu a razão?
— Escolha: a reputação do seu filho mais velho ou a vida do mais novo.
— Chutang, você jurou tratar Jun’er após o banquete!
Ela quase riu da audácia dele.
— Lorde Ye, está delirando? Esqueceu o que aconteceu no banquete? Se sacrificar Ye Anzhi não bastar, posso arrastar toda a família Ye junto com ele!
Inclinando-se, sussurrou:
— Pai, será que o Príncipe Herdeiro sabe que você apoia secretamente o Segundo Príncipe?
Se aquilo chegasse aos ouvidos do Príncipe Herdeiro ou do Imperador, a família Ye estaria acabada.
Ye Jingchuan empalideceu.
Como ela descobriu? Teria sido o “ladrão fantasma” que esvaziou meu cofre secreto?
Impossível! Os itens roubados eram numerosos demais para que uma única pessoa conseguisse carregar ou esconder.
Esforçando-se para se recompor, ele sibilou:
— Chutang, palavras de traição como essas são fatais! O destino da família Ye está atado ao seu!
Ela sorriu diante do pânico dele.
— E ainda assim não pensou nisso ao tramar contra mim.
Farta da hipocrisia dele, lançou o ultimato:
— Pai, pergunto mais uma vez: quem você vai proteger?
Se tivesse de escolher, Ye Jingchuan optaria pelo segundo filho.
O primogênito já era causa perdida — mesmo que herdasse o título, o desperdiçaria. O mais novo precisava ser salvo e preparado.
Sombrio, ele questionou:
— Chutang, até o Médico Imperial Wang disse que Jun’er tem no máximo dois anos. Você pode realmente salvá-lo?
Não podia sacrificar o herdeiro apenas para perder também o substituto.
Ye Chutang o lembrou:
— Se eu não tivesse intervindo naquele dia, Jun’er já estaria morto.
Era verdade. Ye Jingchuan cedeu.
— Se curar Jun’er, vou garantir a desgraça de Anzhi — mas só depois do casamento de Ling’er.
— Hoje. Sem negociações.
Ele se irritou.
— Isso é impossível…
Ela o interrompeu, astuta como uma raposa:
— Um homem da sua inteligência encontrará uma maneira.
Rangendo os dentes, Ye Jingchuan disse a si mesmo para suportar — apenas mais cinco dias!
— Está bem. Vou tentar. Quando recebo o antídoto para o Veneno do Coração Partido?
— Traga-me metade do dote de Kong Ru depois que cumprir sua parte.
O dote de Tang Wanning superava em muito o de Kong Ru. Sem hesitar, ele concordou.
— Fechado.
Antes de sair, perguntou:
— O antídoto é para uma pessoa ou duas?
Ye Chutang levantou um dedo.
A mandíbula dele se contraiu.
— Kong Ru não pode morrer ainda. Os casamentos de Ling’er e Yin’er seriam adiados!
— Relaxe. Ela não morrerá até sofrer o bastante.
Satisfeito, Ye Jingchuan partiu.
Meia hora depois, uma criada — com o corpo coberto de feridas — foi encontrada enforcada nos portões da Mansão do Ministro.
Antes de morrer, ela havia ensanguentado os lábios amaldiçoando as atrocidades de Ye Anzhi em seu quarto.
Outra criada espalhou os instrumentos que ele usava para torturá-las diante das casas de oficiais, narrando em detalhes suas perversões.
Quando a notícia chegou ao Pátio do Alvorecer Tranquilo, toda a capital já sabia.
Ye Anzhi estava arruinado.
— Tsc, tsc, aquilo não é uma coleira de cachorro? O filho mais velho da família Ye realmente não trata as criadas como seres humanos, não é?
— Não apenas como menos que humanos — aquelas duas criadas não têm um pedaço de pele sem hematomas. Que tragédia!
— Com um escândalo desses, o filho mais velho vai ter dificuldade em arrumar esposa agora.
— Dificuldade? O Ministro Ye é um oficial favorecido. Muitas ainda jogariam suas filhas nos braços dele!
— …
Por um tempo, parecia que toda a capital não falava de outra coisa senão da família Ye — especialmente de Ye Anzhi.
Ele havia abusado das criadas, forçando-as a servir como concubinas. Embora não fosse contra a lei, violava a moralidade e revelava sua completa falta de virtude.
Sua reputação estava destruída, assim como suas perspectivas.
É claro, Ye Anzhi sempre fora um inútil desprezível, sem perspectivas desde o início.
Mas ele não se via assim. Trancado em seu quarto, amaldiçoava as duas criadas que haviam acabado com ele.
— Onde está Hongxiu? Vou matá-la!
Hongxiu era a criada que fugira da casa Ye e jogara objetos incriminadores nos portões das residências nobres.
Ela havia sido capturada e agora estava trancada no depósito de lenha.
— Jovem Mestre, o senhor está em prisão domiciliar. Não pode fazer nada que irrite o mestre.
Ye Anzhi agarrou um bule de argila roxa da mesa e o atirou contra o chão.
— Aquela vadia me arruinou! Ela merece morrer!
Assim que as palavras deixaram sua boca, Ye Chutang apareceu.
— Quem é que merece morrer?
Dan’er estava ao seu lado.
No instante em que Ye Anzhi viu a belíssima Ye Chutang, sua fúria desapareceu, substituída por um sorriso bajulador.
— Irmã mais velha, você é a única que se importa comigo. Veio me ver.
— Iludido tolo. Enganou-se — eu vim para rir de você e depois espancá-lo.
Deslumbrado pelo sorriso de Ye Chutang, Ye Anzhi não compreendeu o sentido de suas palavras.
— Irmã mais velha, o que está dizendo?
Ye Chutang o ignorou, voltando-se para Dan’er, cujos olhos ardiam de ódio.
— Vá em frente. Devolva o sofrimento que suportou.
Dan’er assentiu, puxando um chicote de couro de trás das costas e avançando lentamente em direção a Ye Anzhi.
Ela sempre fora a vítima dos espancamentos, e um medo instintivo dele ainda permanecia.
A cada passo, seu terror crescia.
Mas sabia que apenas superando esse medo poderia recomeçar.
Então seguiu adiante, firme.
Ye Anzhi a encarou, o chicote em sua mão.
— Mingyue, o que pensa que está fazendo?
“Mingyue” era o nome que ele lhe dera quando ela era sua criada.
A resposta veio com o chicote estalando em seu braço.
Crack!
A carne se abriu.
— Aaah!
Ye Anzhi gritou, agarrando o braço ensanguentado enquanto o suor frio escorria por seu rosto.
Um criado avançou contra Dan’er.
— Maldita insolente, como ousa se rebelar?!
Ye Chutang enganchou um banco com o pé e o lançou, derrubando o criado inconsciente.
Dan’er não se conteve. Cada golpe era alimentado pelo ódio, cada estalo impiedoso.
Os gritos de Ye Anzhi eram intermináveis.
Ele tentou revidar.
Mas Dan’er estava tomada pela fúria, e ele não tinha chance alguma.
Logo, seus gritos enfraqueceram.
Dan’er finalmente parou, arfando de cansaço.
Abaixou-se ao lado de Ye Anzhi, fitando friamente seu rosto coberto de cortes.
Quando seus olhos encontraram os dela — cheios de intenção assassina — ele perdeu o controle dos intestinos de puro terror.
Humilhado, desviou o olhar às pressas.
— A-afaste-se de mim!
Dan’er pressionou a ponta do chicote contra uma de suas feridas.
— Engraçado, não é? Só quando o chicote atinge a sua própria carne é que entende a dor. Jovem Mestre, agora estamos quites.
Ela havia sido apenas uma criada miserável, vendida pelo próprio pai, abusada e atormentada até não querer mais viver.
Mas Ye Chutang lhe dera dignidade, bondade e a chance de vingança.
Cortara o passado de Dan’er e lhe concedera uma nova vida.
Dan’er se ajoelhou diante de Ye Chutang, os olhos avermelhados brilhando.
— Minha senhora, a partir de hoje, entrego minha vida a você!
Ye Chutang a ajudou a se levantar.
— Não se preocupe. Enquanto estiver comigo, você não morrerá — viverá no luxo.
Em seguida, cutucou Ye Anzhi com o pé, seu olhar gélido descendo mais baixo.
— Se algum dia tocar em outra mulher, garanto que vai virar eunuco.
Ela não podia mudar a rígida hierarquia daquela era, nem queria — afinal, se beneficiava dela.
Mas manter um ou dois homens sob controle? Isso estava ao seu alcance.
Ye Anzhi sentiu um arrepio entre as pernas e apressadamente as fechou.
— S-sim, entendi.
Ye Chutang e Dan’er saíram, dirigindo-se ao Pátio Esmaltado.
Lá, encontraram Shuang’er, que acabara de sair.
Shuang’er congelou, o pânico estampado no rosto.
— Minha senhora, eu… eu…
Tentou se explicar, mas a mente ficou em branco.
Kong Ru, ouvindo o alvoroço, saiu para intervir.
— O casamento de Ling’er está se aproximando, e a mansão está com falta de pessoal. Estou pegando criados de todos os pátios para ajudar.
Shuang’er agarrou-se à desculpa.
— Minha senhora, nos próximos dez dias não poderei atendê-la. Peço perdão.
Ye Chutang sorriu de canto, observando a Shuang’er sem arrependimento.
— Esqueceu? Ainda tenho seu contrato de servidão.
Aterrorizada com a ideia de ser vendida para o bordel mais baixo, Shuang’er caiu de joelhos.
— Jamais esqueceria! Se minha senhora não gosta de…
Ye Chutang a interrompeu:
— Já que está tão ansiosa para trabalhar, vou satisfazê-la. De agora em diante, será responsável por todos os penicos da mansão do ministro.
— Mas, minha senhora, meus ferimentos ainda não sararam. Não consigo fazer trabalhos pesados!
Shuang’er ousava desafiar Ye Chutang porque acreditava que ela era bondosa e indulgente.
A refeição do meio-dia fora prova disso.
Ye Chutang se agachou diante dela, erguendo-lhe o queixo.
— Quando foi que lhe dei a impressão de que eu era uma santa?
Depois, inclinou-se e sussurrou em seu ouvido:
— Quer que eu conte a Kong Ru por que você não foi vendida a um bordel depois de me trair?
Shuang’er voltou a sentir o sufocante aperto do medo.
Seu rosto empalideceu, e ela se corrigiu às pressas.
— Eu… eu vou limpar cada penico até ficar brilhando.
Ye Chutang se levantou.
— Ótimo. E quando terminar, lave-se bem antes de voltar ao Pátio do Alvorecer Tranquilo.
Ela não revelara a duplicidade de Shuang’er diante de Kong Ru porque ainda podia usá-la — para trair Kong Ru novamente.
Shuang’er se curvou até o chão.
— Como minha senhora ordenar.
Com isso, saiu apressada.
Kong Ru sabia que Ye Chutang estava por trás da desgraça de seu filho mais velho e ansiava por despedaçá-la.
Mas tanto sua vida quanto a de seu filho mais novo estavam nas mãos de Ye Chutang. Só lhe restava suportar.
— Chu’er, o que a traz ao Pátio Esmaltado?
— Quero os contratos de servidão de Hongxiu e Chunlan. Em troca, deixarei você viver até o casamento de Su Ling’er.
Hongxiu estava trancada no depósito de lenha; Chunlan havia se enforcado.
Desesperada para sobreviver, Kong Ru tremia.
— E depois?
Ye Chutang ignorou a pergunta.
— Os contratos.
— Espere aqui.
Kong Ru trouxe os documentos e os entregou.
Ye Chutang os pegou e se virou para sair — apenas para encontrar a Velha Madame Ye bloqueando o portão, apoiada em Nana Gui.
A Velha Senhora Ye tinha vindo da Academia Wenbo, onde estudava Ye Anzhi.
Ao ver seu neto mais querido açoitado até a carne se rasgar, seu coração doeu tanto que quase desmaiou.
Quando descobriu que Ye Chutang e sua criada eram as responsáveis, avançou furiosa direto para o Pátio Liuli.
No instante em que avistou Ye Chutang, a Velha Senhora Ye ergueu a mão para estapear o rosto da garota.
— Sua desgraçada inútil, igualzinha à sua ma…
Ye Chutang pretendia apenas desviar, mas, ao ouvir a velha insultar sua falecida mãe, reagiu.
Paf!
Ela usou o mesmo golpe que aplicara em Ye Jingchuan antes: uma palmada firme e certeira contra a matriarca.
A Velha Senhora Ye cambaleou dois passos para trás, o pulso deslocado.
A dor lancinante irradiava pela palma, arrancando-lhe gritos incessantes.
— Aaah!
A Ama Gui estremeceu ao ver a “mão quebrada” da Velha Senhora Ye, a voz trêmula.
— Senhora, esta serva vai buscar o médico!
Ye Chutang comentou com frieza:
— Chamar um médico de fora vai levar quase uma hora. Será que a avó aguenta tanto tempo de agonia?
Dan’er captou o recado e completou:
— A jovem senhorita entende de medicina.
A Ama Gui compreendeu a exigência implícita — pedir clemência.
Sem hesitar, ajoelhou-se diante de Ye Chutang.
— Suplico que a jovem senhorita trate a senhora.
Nesse momento, Kong Ru chegou apressada.
— Chu’er, sua avó tem a saúde frágil. Ela não pode suportar esse tormento. Cuide dela agora mesmo, ou será tachada de ímpia!
— Sua garota maldita! Como ousa erguer a mão contra um ancião? Acredite, mandarei jogá-la na prisão! — gritou a Velha Senhora Ye.
Dan’er começou a suar frio pela sua senhora.
Conduta ímpia era punida por lei!
Ainda assim, Ye Chutang permaneceu inabalável, sorrindo docemente para a matriarca de rosto lívido.
— Eu não acredito. O pai não permitiria. Além disso, eu nunca bati na avó — nossas palmas apenas se encontraram com entusiasmo demais.
Velha Senhora Ye: — …Sem-vergonha!
— Já que a avó recusa minha ajuda para recolocar o pulso… — Ye Chutang virou-se para sair.
— Pare!
— A avó precisa de mais alguma coisa?
A velha estava em agonia real, as roupas encharcadas de suor frio.
Engolindo a fúria, forçou um tom afetuoso:
— Chu’er sempre foi bondosa. Rápido, arrume o pulso da avó.
Ye Chutang curvou os lábios num sorriso zombeteiro.
— Se tivesse se contido antes, não estaríamos aqui.
Aproximou-se da Velha Senhora Ye, ergueu a mão mole e pendente — e lhe deu um sacolejo proposital.
A dor dilacerante quase a fez desmaiar.
— Maldita garota! Está fazendo isso de prop…
Antes que terminasse, Ye Chutang soltou a mão.
— Se a avó não confia em mim, chame outro curandeiro.
O pulso deslocado latejava ainda mais após o sacolejo, arrancando novas gotas de suor. A Velha Senhora Ye temeu morrer de dor antes que qualquer médico chegasse.
— Chu’er… se você arrumar meu pulso, eu lhe darei as joias que sua mãe me presenteou.
Isso agradou Ye Chutang.
— Combinado! — disse, radiante.
Segurou de novo o pulso ferido e voltou a sacudi-lo vigorosamente.
A matriarca tremia violentamente, mas não ousava reclamar.
Cliq!
Num instante ela urrava; no seguinte, girava o pulso com alívio surpreso.
— Está curado! Meu pulso voltou ao normal.
Ye Chutang sacudiu as mãos como se tirasse poeira imaginária, com desdém.
— Não esqueça de mandar aquelas bugigangas para o Pátio Ningchu.
Ao sair do Pátio Liuli, uma ideia súbita a fez parar. Virou-se e chamou docemente:
— Cresci no campo, forte e resistente. Não mexam comigo, a não ser que queiram braços e pernas quebrados — ou, pior, conhecer a própria morte.
Com isso, foi embora.
Kong Ru esperava assistir a um espetáculo, mas antes que começasse, a Velha Senhora Ye já sofrera uma derrota esmagadora.
— Quem diria que a outrora gloriosa residência do Ministro acabaria dominada por uma caipira?
A Velha Senhora Ye não era surda ao tom sarcástico de Kong Ru.
Ergueu a mão e lhe deu um tapa no rosto.
— Se não fosse pela sua ideia venenosa de trazer Ye Chutang como noiva substituta, a residência do Ministro não estaria em tamanha desgraça hoje!
Ela podia ser impotente contra Ye Chutang, mas lidar com Kong Ru era brincadeira.
— Garanta que o casamento de Ling’er ocorra sem problemas. Não envergonhe a família de novo!
Kong Ru levou a mão à face ardente, rangendo os dentes ao responder:
— Sim, mãe.
— Chame um médico para Zhi’er. Seus ferimentos são graves.
Após dar suas ordens, a Velha Senhora Ye se retirou.
No caminho de volta ao seu pátio, avistou Ye Chutang indo em direção à cozinha principal.
Quando se aproximou do galpão de lenha, Ye Chutang sentiu o cheiro metálico de sangue.
— Abram a porta, agora!
O ajudante de cozinha que segurava a chave destrancou apressado e empurrou a porta.
Lá dentro, Hongxiu estava caída contra a pilha de lenha, as roupas rasgadas, a língua decepada pendendo da boca enquanto o sangue jorrava.
Ela havia tentado morder a própria língua!
Ye Chutang imediatamente agarrou-a pela nuca, inclinando sua cabeça para frente a fim de drenar o sangue e evitar que coagulasse na garganta.
Limpar a boca também facilitaria o exame do ferimento.
A língua tinha sido mordida recentemente — não apenas a mulher podia ser salva, como a língua também.
Após avaliar o dano, Ye Chutang aplicou acupuntura para estancar o sangramento.
Sob seus cuidados, Hongxiu começou a recobrar a consciência.
Pálida pela perda de sangue e quase incoerente, ouviu uma voz serena sussurrar em seu ouvido:
— Você quer morrer, ou quer viver?
Ye Chutang não desperdiçaria esforço em alguém que buscava a morte.
Os olhos desfocados de Hongxiu lentamente se firmaram, encarando a figura etérea de Ye Chutang como se fosse uma deusa descida dos céus.
Ela abriu a boca, mas não conseguiu falar — não por estar sem língua, e sim por não saber como escolher.
Tivera coragem de morrer uma vez, mas não para encarar a morte de novo.
E ainda assim, viver parecia impossível.
Ao notar sua hesitação, Ye Chutang acrescentou:
— Se escolher a morte, eu a farei rápida. Se escolher a vida, vou reimplantar sua língua e a enviarei para a propriedade rural onde vivi. Lá poderá viver em paz.
— Pisque uma vez para morrer, duas para viver.
Após longa pausa, Hongxiu piscou duas vezes.
O frio mortal da morte e seu desespero sufocante eram aterrorizantes demais para suportar uma segunda vez.
Com a resposta dada, Ye Chutang a tomou nos braços e levou-a de volta ao Pátio Ningchu.
— Dan’er, preciso tratar Hongxiu. Você e a tia Jin vigiem o quarto principal. Ninguém entra, e não me interrompam.
— Sim, Jovem Senhorita.
Ye Chutang deitou Hongxiu na cama de descanso e a desacordou com um golpe rápido na nuca.
De seu espaço de armazenamento, retirou instrumentos cirúrgicos para sutura.
Após aplicar anestesia, limpou e costurou o ferimento.
O procedimento foi simples e logo concluído.
Ye Chutang guardou os instrumentos, descartou os resíduos e saiu do quarto.
Entregou a Dan’er um pote de pomada.
— Limpe o corpo de Hongxiu, trate seus outros ferimentos e troque suas roupas.
Dan’er aceitou o remédio.
— Entendido, Jovem Senhorita.
Guardando o pote na manga, pegou uma caixa de joias ornamentada de casco de tartaruga que estava numa bandeja próxima.
— Jovem Senhorita, a Ama Gui entregou isto mais cedo. Disse que a Velha Senhora Ye enviou para a senhora.
Ye Chutang abriu a caixa e contemplou as delicadas, mas de pouco valor, bugigangas lá dentro, soltando uma risadinha leve.
— Trapaceira.
Já que a velha não sabia ser honesta, ela mesma esvaziaria seu pátio naquela noite.
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