Aeroporto. Saguão de desembarque.
Uma silhueta elegante passou apressada. De cabeça baixa e usando máscara, ela não chamou a atenção de ninguém. Um homem a seguia, carregando a bagagem.
Os dois caminharam rapidamente até o estacionamento, onde um carro já os aguardava havia algum tempo.
Assim que entrou no veículo e se acomodou, Jiang Zheng tirou a máscara e soltou um longo suspiro.
Han Yi entrou logo depois e disse em tom grave:
— Vamos direto ao hospital. Usem o acesso VIP.
O motorista respondeu afirmativamente, e a van preta se misturou ao tráfego da cidade como um tubarão ágil.
Vendo o semblante péssimo de Jiang Zheng, Han Yi tentou tranquilizá-la:
— Eu perguntei à Jing Meini. O Ji Muye já foi operado, e correu tudo bem. Agora é só repouso e logo ele se recupera.
Jiang Zheng apertou os dedos e respondeu em voz baixa:
— Cair do cavalo é brincadeira? E se tiver sequelas? Ele ainda é tão jovem, e a carreira dele acabou de alcançar outro nível…
Algum tempo atrás, ela havia terminado de filmar sua série principal e viajado para o exterior para gravar comerciais, participar de desfiles de moda e tirar umas férias. Enquanto isso, Ji Muye continuava gravando O Vento e as Nuvens da Capital Antiga. Tudo estava indo bem, até que ontem surgiu a notícia: durante a filmagem de uma cena de guerra, o cavalo de Ji Muye se assustou com o som de um canhão e o lançou violentamente ao chão. Ele desmaiou na hora. Se não fosse por um funcionário que o puxou às pressas para longe das patas do cavalo…
Jiang Zheng sentiu o medo aumentar só de pensar nisso. Seus ombros tremiam ligeiramente.
— O que o médico decidir é o melhor.
Han Yi resmungou em concordância. No dia anterior, ele e Jiang Zheng estavam remando no belíssimo rio Sena quando viram a notícia no microblog chinês. Imediatamente ligou para Jing Meini e confirmou: algo realmente havia acontecido com Ji Muye.
A expressão de Jiang Zheng mudou na hora, e ela mandou que ele comprasse passagens para voltar ao país. Nem deixou espaço para argumentar.
Ele nem sabia como conseguiu passar pelas primeiras dez horas — teve que ligar para o patrocinador da marca e explicar a situação, depois se virar para conseguir um voo. O mais complicado era: todos os olhos estavam voltados para o hospital onde Ji Muye estava. Tinha câmeras por toda parte. Se Jiang Zheng aparecesse correndo lá, seria como apontar uma arma para si mesma.
Ele simplesmente não entendia que tipo de relação ela tinha com Ji Muye agora.
Os dois estavam separados por milhares de quilômetros. Jiang Zheng ficava encarando o celular, sorrindo de vez em quando, mas não dizia nada quando ele perguntava.
Assim que saíram do viaduto e entraram na área urbana, Jing Meini ligou e passou o endereço de outro hospital.
A van deu meia-volta e seguiu rumo ao oeste da cidade.
Jiang Zheng viu que os repórteres que faziam live em frente ao hospital ainda estavam todos lá. Admirou-se com a capacidade de Jing Meini em transferir Ji Muye no meio daquela confusão toda.
Ela não teve coragem de pedir muitos detalhes a Han Yi — tinha medo de não aguentar ouvir.
Mas, quando Jing Meini a levou até o quarto no último andar do hospital e ela viu Ji Muye, com o braço esquerdo enfaixado e suspenso, metade do rosto coberto por bandagens e o corpo cheio de tubos… sentiu como se tivesse sido mergulhada num balde de gelo. Tudo escureceu diante dos seus olhos.
Jing Meini pigarreou e puxou Han Yi para fora.
Jiang Zheng ficou atônita por um longo tempo até conseguir enxergar claramente a figura na cama.
As lágrimas, que ela ainda segurava, vieram com força e escorreram pelos olhos.
Fazia só meia quinzena que não o via, e aquele que recitava poemas para ela e a fazia rir… estava agora nesse estado.
Jing Meini viu os ombros trêmulos de Jiang Zheng pela janela e suspirou. No fundo, acendeu uma vela para Ji Muye.
Jiang Zheng chorou por um tempo, mas seu celular não parava de vibrar — era Su Yue ligando. Ela não teve coragem de atender, com medo de desabar.
Entrou escondida no grupo de fãs de Ji Muye e, como esperado, todos estavam chorando.
Jiang Zheng chorou ainda mais. As lágrimas escorriam sem parar, e ela nem percebeu que os dedos de Ji Muye haviam se mexido discretamente diante de seus olhos embaçados.
Depois de um tempo, enxugou o rosto. Ao ver os lábios ressecados de Ji Muye, pegou um cotonete, molhou em água morna e começou a umedecê-los com cuidado…
Os dedos dele estremeceram de tão confortável que estava, e seus lábios quase se curvaram em um sorriso — pena que Jiang Zheng estava tão concentrada em não machucá-lo que não notou nada.
Jing Meini ficou conversando com Han Yi do lado de fora por um bom tempo, até não ter mais assunto. Só então retornaram ao quarto.
Han Yi logo tentou convencer Jiang Zheng a ir descansar. Com mais de dez horas de voo nas costas, suas olheiras estavam quase saltando.
— Amanhã, quando Ji Muye acordar da anestesia, voltamos pra cá.
Diante disso, Jiang Zheng enfim cedeu.
Jing Meini ficou parada na porta observando os dois se afastarem. Quando se virou de volta, viu Ji Muye tirando a bandagem do rosto com uma mão e removendo o tubo de oxigênio com a outra… e ainda dando um sorrisinho.
Ela ralhou, irritada:
— Você tem coragem de enganar a Jiang Zheng? Tá querendo morrer, é isso?
Ji Muye lembrava da delicadeza de Jiang Zheng, o cheiro dela ainda no ar. E murmurou:
— Eu… não menti. Só…
Ergueu a bandagem na mão — era realmente algo assustador de se ver à primeira vista.
Ele escutara os soluços sufocados de Jiang Zheng. Aquilo o surpreendeu. No fim, fingir estar em coma tinha dado certo.
O acidente fora na manhã anterior. Jiang Zheng soube à tarde e correu de volta. Quando ele descobriu, já era de manhã, e ele acabara de sair da cirurgia.
Era só uma fratura. Atores estavam acostumados com esse tipo de coisa. Mas… e se Jiang Zheng chegasse, visse que era pouca coisa e decidisse ir embora logo?
Foi por isso que ele armou esse teatro. No entanto… Jiang Zheng chorou por mais de meia hora.
Agora… estava encrencado.
Era a primeira vez que via Jiang Zheng chorar daquele jeito. Jing Meini já tinha até feito uma prece silenciosa por ele. Mas então mudou de assunto:
— Muye, você não acha que seu maior gold finger é a Jiang Zheng?
Ji Muye: — …?
Jing Meini:
— Você tem fãs incríveis. Quem mais tem isso, hein?
Ji Muye: — …
A notícia do acidente de Ji Muye dominava os assuntos mais comentados há dois dias. No dia da queda, sua equipe confirmou o acidente ao público e aos fãs, mas não especificaram a gravidade da lesão.
Depois que ele foi levado ao primeiro hospital, alguém revelou a localização na internet e até postou fotos dele sendo levado para dentro. Isso fez com que jornalistas e fãs corressem ao local. Virou um caos total, e o hospital ficou sobrecarregado.
A equipe publicou uma segunda nota no Weibo, pedindo calma e discrição, para que não atrapalhassem o trabalho hospitalar. Ji Muye estava em tratamento, e seu estado era estável. Isso acalmou um pouco os fãs, mas os repórteres queriam de todo jeito fotografá-lo. Alguns chegaram a se disfarçar de enfermeiras e entrar no hospital com celulares escondidos. Se não tivessem sido reconhecidos…
Diante disso, Jing Meini rapidamente providenciou a transferência dele em segredo e organizou a cirurgia.
Enquanto isso, os fãs estavam em verdadeira oração coletiva. Já tinham feito um prédio inteiro só de posts, e muitos até relembravam detalhes da estreia dele.
Na manhã seguinte, Jiang Zheng foi ao hospital e se sentou ao lado da cama até Ji Muye acordar.
Jing Meini, de longe: A atuação dele tá boa mesmo.
Os cílios de Ji Muye tremeram. Seus lábios se moveram. Jiang Zheng sentia o coração apertar ao vê-lo assim.
Não era como se aquilo nunca tivesse acontecido antes. Muitos atores realmente se aposentaram depois de acidentes no set, e às vezes uma pequena chance perdida fazia a carreira desandar.
Ji Muye estendeu a mão, tremendo, os dedos caídos e fracos. Jiang Zheng mordeu o lábio e segurou sua mão com firmeza:
— Professor Ji, não fique triste. Foi só uma cirurgia simples. Vai se recuperar logo.
— Tô melhorando…
Ji Muye espremia duas lágrimas falsas e respondeu com a voz fraca.
Foi aí que o médico entrou, sorrindo:
— Sr. Ji, que bom que acordou.
Ji Muye respondeu com um murmúrio frágil.
O médico franziu a testa:
— Pela dose de anestesia, o senhor devia ter acordado ontem à tarde. Será que o farmacêutico errou na quantidade?
Ji Muye: — …
Jiang Zheng olhou para Ji Muye, tensa. Já ouvira dizer que excesso de anestesia podia deixar a pessoa com sequelas. Mas… o irmão Mu era forte. Ele ia ficar bem.
Jing Meini interveio às pressas:
— Talvez ele só estivesse muito cansado e quis dormir mais.
O médico assentiu:
— Também pode ser isso.
Jing Meini logo arranjou uma desculpa para tirá-lo do quarto.
Jiang Zheng respirou fundo. A bandagem na cabeça de Ji Muye havia sido retirada, e havia uma mancha vermelha visível na têmpora — uma visão assustadora. Mas ela se consolava: Com o avanço da estética médica… talvez nem fique cicatriz.
— Você não precisa vir todo dia… — parecia que Ji Muye usava todas as forças do mundo para espremer essas sete palavras.
Jiang Zheng fez um shhh para ele:
— Não fala. Só quero experimentar o papel de enfermeira… vai que eu uso isso em alguma atuação da próxima vez.
Ji Muye franziu os lábios. Ela sempre teve essa habilidade de fazer os outros se sentirem confortáveis.
Jiang Zheng ficou ocupada a manhã inteira — ora descascava maçãs, ora limpava o rosto de Ji Muye. A enfermeira que Jing Meini contratou nem teve chance de fazer nada.
Na hora do almoço, Jiang Zheng trouxe uma tigela de mingau de costela de porco. Aquele mingau tinha sido feito com caldo de ossos que ela pedira à sua tia para cozinhar por horas. Era para ajudar na cicatrização — ela torcia para que os ossos de Ji Muye se curassem logo.
Mas, quando Jiang Zheng o ajudou a se sentar e colocou a colher em sua mão direita, Ji Muye virou o rosto e disse:
— Tô sem apetite.
Jiang Zheng respondeu com paciência:
— Come um pouquinho. Senão, como vai ter força? Hein?
Ji Muye franziu novamente os lábios, em silêncio.
Jing Meini, do lado de fora da janela, viu aquilo e pensou: Que cachorro.
Jiang Zheng não tinha experiência em mimar os outros — sua família sempre que a mimava, não o contrário.
Ela imitou o tom da tia Chen Meiting ao tentar convencê-la a comer:
— Esse mingau foi feito com muito carinho pela minha tia. Se você comer mais, ela vai se preocupar menos.
Ji Muye encarou os olhos úmidos dela.
— Você pode me dar na boca?
Ele tentou levantar o braço direito, mas conseguiu só um pouquinho.
Jiang Zheng se apressou em pedir desculpas, pegou a colher, tirou uma pequena porção da parte de cima do mingau, fez um biquinho e assoprou, depois levou até os lábios de Ji Muye.
De repente, Ji Muye virou um bebê obediente. Abriu a boca direitinho e tomou o mingau.
Era a primeira vez que Jiang Zheng o via tão fofo e vulnerável. Um instinto maternal a invadiu na hora, e ela serviu mais uma colherada.
Depois de três goles, Ji Muye balançou a cabeça, dizendo que não queria mais.
Jiang Zheng ficou tonta. Ele tá doente ou aconteceu uma mutação que fez ele regredir de idade?
Mesmo insistindo por bastante tempo, Ji Muye simplesmente não abriu mais a boca.
Jiang Zheng pousou a tigela com um suspiro.
— E o que você gostaria de beber, então?
Ji Muye mordeu o lábio inferior:
— É só me chamar de irmão Mu… e eu tomo.
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A autora tem algo a dizer:
Tsk, tsk, tsk… Que cara de pau. Sentem e esperem o dia em que ele vai ter que correr atrás da esposa até o crematório.
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