Capítulo 6 – Um Bully Não Pode Comer Panquecas?


 — Ruanxing, onde você está? — A voz da mulher no telefone era íntima e cheia de preocupação. — Ontem à noite, fui atender uma ligação no coquetel e, quando voltei, você tinha sumido. Foi pra casa?

Song JinXing tinha boa memória e reconheceu imediatamente que a voz era da mulher que ouvira na varanda na noite anterior.

— Eu não estava me sentindo bem, então fui embora mais cedo — respondeu ele. — Aconteceu algo?

Ao ouvir aquele tom frio, Duan Mangyun sentiu um leve pânico. Zhong Ruanxing sempre fora uma pessoa animada, cheia de energia em tudo que dizia e fazia. Como podia, de repente, estar tão fria com ela? Será que havia percebido que o que aconteceu na noite passada tinha algo a ver com ela?

Duan Mangyun riu de forma sem graça.

— Ah, nada demais. Só fiquei um pouco preocupada com você.

— Se não for nada, vou desligar.

E desligou mesmo.

Duan Mangyun ficou ouvindo o sinal de "bip bip" ao telefone, atônita, antes de finalmente reagir.

Depois de desligar, Song JinXing falou num tom calmo:

— Era ela.

Zhong Ruanxing tinha uma expressão decepcionada e triste. Antes que Song JinXing pudesse consolá-la, ela rapidamente se recompôs e animou a si mesma:

— Deixa pra lá. Foi culpa minha por julgar mal o caráter das pessoas. Vou ser mais esperta da próxima vez!

Ao terminar de falar, notou que Song JinXing a encarava, meio distraído. Acenou com a mão diante dos olhos dele.

— O que foi?

Song JinXing voltou ao normal rapidamente, balançando a cabeça.

— Nada. É melhor você ir pra empresa agora. Tem reunião às oito da manhã. O gravador de voz está na gaveta do seu escritório. Lembre-se de gravar a reunião inteira.

Reclamando algo como “Que tipo de empresa do inferno marca reunião às oito da manhã de um sábado?”, Zhong Ruanxing massageou os ombros doloridos e se levantou. Apesar da mansão ser raramente ocupada, era completamente equipada para o dia a dia. Depois de se arrumar no banheiro, cada um seguiu seu caminho.

Fu Ling, que esperava ansiosamente do lado de fora por, no mínimo, um abraço de despedida entre os dois belos jovens: …Foi só isso?

O motorista já havia aberto a porta do carro. Zhong Ruanxing entrou e disse:

— Para a empresa.

Fu Ling a acompanhou, entrando também. Apesar de si mesmo, não conseguiu evitar perguntar:

— E a jovem senhorita?

Eles já haviam combinado que Zhong Ruanxing não teria muito trabalho nos próximos dias — apenas se ambientar ao círculo da família Zhong enquanto aguardava o aviso do Diretor Zeng sobre a audição. Enquanto revia a agenda para confirmar os planos do chefe, respondeu:

— Não se preocupe com ela.

Como o chefe podia ser tão frio com uma beldade daquelas?!

Conhecendo o temperamento do patrão, Fu Ling não ousou perguntar mais nada e ficou quieto.

Enquanto o carro descia rumo à cidade, Zhong Ruanxing perguntou ao motorista:

— Pode parar ali na frente?

O motorista olhou para a placa de trânsito.

— Senhora Zhong, podemos parar por três minutos.

— Tudo bem, pare um pouco adiante. — Ela se virou para Fu Ling. — Vai correndo comprar uma panqueca de cebolinha naquele carrinho ali.

Apontou para um carrinho de rua perto da entrada do metrô.

Fu Ling achou que tinha ouvido errado.

Zhong Ruanxing apressou:

— Anda logo, só temos três minutos.

Fu Ling saiu do carro voando.

Vestido com um terno impecável, cabelo penteado com gel, o retrato de um profissional de escritório, ele agora se esgueirava entre a multidão na entrada do metrô, gritando para o vendedor:

— Com ovo extra! Rápido, por favor! Obrigado!

Só quando voltou ao carro com a panqueca ainda quente nas mãos, Fu Ling começou a se dar conta do que tinha acabado de fazer. Enquanto isso, sua chefe ao lado já mordiscava calmamente a panqueca.

Como a maioria dos chefes, Song JinXing tinha um problema de estômago. Assim que entrou no carro, Zhong Ruanxing sentiu um desconforto — como se o estômago estivesse se contraindo, tentando digerir algo inexistente. Estava acostumada a comer regularmente e não aguentava ficar de barriga vazia, então precisou comer algo imediatamente.

A panqueca quente e recém-preparada aquecendo o estômago finalmente a fez se sentir viva novamente. Havia garrafas de água mineral no carro, mas Zhong Ruanxing não gostava de água fria. Depois de alguns goles, instruiu Fu Ling:

— A partir de agora, deixe uma garrafa térmica no carro com água quente.

Fu Ling respondeu:

— Ok, chefe. — E entregou o notebook. — Aqui está a pauta da reunião de hoje. Já compilei tudo.

Zhong Ruanxing ficou abismada com as dezenas de slides no PowerPoint.

Embora não entendesse nada do conteúdo, fingiu examinar tudo com atenção. Mesmo que o conteúdo fosse um mistério, ao menos podia apreciar o design e o layout — muito mais profissional que a apresentação de perfil de carreira que a empresa fizera pra ela. Quando terminou, não esqueceu de elogiar o esforço do assistente:

— Muito bem, bom trabalho.

Fu Ling ficou surpreso e radiante com o elogio.

Em todo o tempo trabalhando ali, era a primeira vez que o chefe o elogiava! O jovem assistente conteve-se para não deixar as sobrancelhas saltarem.

— Nenhum trabalho, só fazendo meu dever.

Do outro lado, o carro que viera buscar Song JinXing também havia chegado. Ele entrou, passou o endereço da casa da família Zhong e recostou-se no banco para descansar com os olhos fechados.

O motorista, inconscientemente, olhou pelo retrovisor para a belíssima mulher no banco de trás. Ele conhecia aquela mansão — era a casa que os pais do Senhor Song deixaram. Depois da morte deles, ele a mantivera trancada. Exceto pelas faxineiras, ninguém entrava ou saía de lá.

Foi só quando o Senhor Song voltou ao país, há meio ano, que ela foi reaberta, mas mesmo assim, só ele entrava e saía sozinho. Quem seria essa mulher que teve permissão para passar a noite lá? A mente do motorista fervilhava de fofocas.

Do banco de trás, a mulher falou subitamente, sem abrir os olhos:

— É assim que a família Song ensina seus funcionários a tratar os clientes que entram no carro?

Mesmo com os olhos fechados, todo o seu corpo exalava uma aura gélida e cortante, fazendo o motorista se sentir nu naquele espaço fechado. Ele desviou o olhar em pânico:

— Desculpe, senhorita. Fui inconveniente.

Não houve mais nenhum som vindo de trás. O motorista, sem ousar olhar novamente, manteve os olhos fixos na estrada.

Mais de uma hora depois, a luz do dia já iluminava completamente a cidade, trazendo vida às ruas. O sedã discreto parou diante de um prédio de apartamentos de idade mediana. Song JinXing abriu os olhos. Assim que o motorista abriu a porta, ele colocou uma máscara no rosto, saiu do carro com os sapatos baixos que Fu Ling havia entregue na noite anterior, além de um casaco deixado na mansão que escondia sua silhueta atraente.

O vestido vermelho e a pele clara chamariam atenção demais.

Os prédios tinham mais de uma década. A vegetação era abundante, e cada apartamento parecia cultivar suas próprias plantas em vasos. Camélias triangulares, em tons vibrantes de roxo e vermelho, despencavam das grades enferrujadas das janelas. A viela estreita mal comportava um carro, e o chão estava salpicado de pétalas neste início de verão.

Bicicletas elétricas e scooters passavam ocasionalmente pelo caminho arborizado, junto de moradores indo ao trabalho ou às compras, praticando tai chi ou levando crianças para brincar na área comum. O ambiente era vibrante e cheio de vida.

Mas Song JinXing não gostava — e tampouco estava acostumado — com tanta agitação.

Apertou o casaco em volta do corpo e acelerou o passo, logo localizando o apartamento da família Zhong no Bloco 1 do Edifício 3. Quando as portas do elevador estavam prestes a se fechar, alguém gritou:

— Espera aí!

E correu até ali. Ele estendeu o braço para segurar as portas. Elas se abriram novamente, revelando uma tia de cabelo cacheado carregando uma sacola de legumes.

— Obrigada, viu?

Ela apertou o botão do sexto andar. Olhando para o botão do nono andar também aceso, exclamou de repente:

— Ruanxing, é você?!

Song JinXing ficou surpreso.

A tia cacheada se aproximou com entusiasmo:

— Toda encasacada desse jeito, nem te reconheci! Faz dias que não vejo você nem sua mãe caminhando lá embaixo. Mas o YoungYoung tem saído pra brincar todos os dias. Ontem mesmo brigou com o menino gordinho do primeiro andar por causa de um brinquedo!

Depois que terminou de falar, ficou olhando para ele, esperando uma resposta.

Song JinXing sentiu que o elevador estava subindo lentamente demais sob o olhar dela. Depois de uma longa pausa, e diante do olhar cada vez mais intrigado da tia, finalmente murmurou:

— Uhum. — E abaixou o tom de voz. — Tô um pouco cansada.

A tia logo entendeu:

— Claro, só de olhar dá pra ver que você acabou de sair de uma gravação noturna e veio correndo pra cá. Deve estar exausta! — Ela remexeu na sacola de legumes e tirou um sanduíche embalado. — Isso aqui era pra MiaoMiao, mas fica pra você! Aposto que nem tomou café da manhã ainda.

Song JinXing recusou:

— Tá tudo bem, obrigada.

Mas a tia insistiu, empurrando o sanduíche para as mãos dele:

— Não precisa fazer cerimônia com a tia! Leva. E leva sua mãe pra dar uma volta de tarde, ela deve estar com saudade de você depois de tantos dias sem ver a filha.

O elevador chegou ao sexto andar. Finalmente, ela saiu.

Song JinXing soltou um suspiro de alívio. Olhou para o sanduíche nas mãos. Só quando as portas se abriram novamente, respirou fundo e saiu.


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