Capítulo 85 a 87


 Capítulo 85: O Imperador Convoca

Consorte Chen estava na masmorra havia um dia e uma noite.

À medida que os efeitos do afrodisíaco se dissipavam, ela foi recobrando a consciência aos poucos — mas não tinha lembrança alguma do que havia feito. Os guardas diziam que ela era uma mulher infiel e, agora que o Imperador a havia pego em adultério, mesmo que não fosse executada, seu destino seria viver no Palácio Frio na próxima vida. Naturalmente, ela não aceitava aquilo e gritava desesperadamente, insistindo que fora vítima de uma armação. Mas ninguém se comovia com seus apelos.

No entanto, alguém próximo da Imperatriz Viúva apareceu.

A Imperatriz Viúva sempre estivera ao seu lado. Embora Consorte Chen não compreendesse totalmente os conflitos entre a Imperatriz e a Imperatriz Viúva, sabia claramente que a Imperatriz Viúva a tratava muito melhor do que tratava a Imperatriz. Mas Consorte Chen também sabia que aquele afeto não era genuíno — era apenas uma relação de interesses mútuos. A única coisa que ela tinha a oferecer era sua ligação com a família Chen. Nunca se preocupou com isso — ela era o orgulho dos Chen, a favorita do Imperador, e por causa dela a família havia ascendido ao poder. Agora que caíra em desgraça, toda a família seria arrastada junto.

Uma mulher no palácio nunca representa apenas a si mesma.

Por isso, quando o atendente da Imperatriz Viúva lhe disse o que fazer, Consorte Chen concordou sem hesitar.

Sentindo a garganta seca, ela chamou o guarda à porta da cela:

— Estou com sede. Vá buscar um pouco de chá pra mim.

O guarda, um homem de meia-idade, rosto redondo e orelhas grandes, não conteve um riso debochado diante daquela ordem.

— Uma senhorita como você me mandando assim? Chá não tem, mas se quiser, posso te oferecer uma chaleira do meu mijo.

Consorte Chen jamais fora tão insultada em toda a vida. Enfureceu-se na hora e, com postura arrogante, rebateu:

— Que audácia a sua! Eu sou a mulher mais amada do Imperador! Não teme que ele mande cortar sua cabeça por ousar me tratar assim?

O guarda pareceu ouvir tal coisa pela primeira vez. Aproximou-se, gargalhando:

— Tem nobre preso aqui aos montes. E você ainda acha que continua sendo uma dama? Quem é jogado nessa masmorra não volta mais. Em todos esses anos, nunca vi um só voltar!

E aquilo não era exagero. Quem ia parar na masmorra já estava com um pé na cova. Quantos parentes da realeza entraram e nunca mais saíram?

Consorte Chen sentiu um arrepio na espinha ao pensar nisso, mas teimosa, insistiu:

— Eu sou inocente! O Imperador certamente virá me tirar daqui!

O guarda soltou uma risada como se tivesse ouvido a piada mais absurda do mundo.

— Inocente? Uma consorte nobre pega no flagra com outro homem ainda pode dizer que foi armada? Dizem que o próprio Imperador viu tudo. Tsk, tsk... Mas que mulher formosa mesmo. — Ele esfregou o queixo, olhando-a de cima a baixo com olhos lascivos.

Consorte Chen deu um passo para trás, surpresa.

— O que você quer?

O guarda riu baixo:

— Agora que a Consorte está presa nesse inferno... Em toda a minha vida, nunca dormi com a mulher de um Imperador...

Enquanto falava, mexia nas chaves penduradas na cintura, claramente se preparando para entrar. Consorte Chen empalideceu de medo e recuou várias vezes. Já ouvira histórias de mulheres abusadas pelos guardas e soldados na prisão, mas nunca imaginou que isso poderia acontecer com ela.

Naquele instante, sentiu um ódio visceral por Han Yan e Fu Yunxi, a ponto de desejar arrancar-lhes a pele e os tendões.


Enquanto isso, ao receber o edito imperial, Han Yan ficou genuinamente chocada.

O Imperador a convocava ao palácio. Fu Yunxi não estava no Palácio de Xuanqing naquele momento, e ignorar aquele decreto não era uma opção. Após a prisão da Consorte Chen, qualquer um presumiria que Han Yan havia sido chamada para esclarecer o ocorrido. O Imperador não a chamaria sem motivo — alguém certamente o guiara a suspeitar dela. E essa pessoa só poderia ser a Imperatriz Viúva.

Ji Lan olhou para Han Yan, ansiosa:

— Senhorita, devemos ir mesmo?

Embora não soubesse o que estava acontecendo, ao ver a expressão preocupada de Han Yan, ficou ainda mais apreensiva. A senhorita havia acabado de escapar das garras do palácio; aquele lugar não era seguro.

— Claro que vamos. Vamos desafiar o decreto, por acaso? — Han Yan sorriu. — Prepare a carruagem e reúna alguns guardas hábeis em artes marciais da residência.

A situação era extraordinária; ela não queria complicar ainda mais as coisas. Felizmente, os criados da mansão a tratavam com respeito, e reunir alguns guardas não foi difícil. Após pensar um pouco, Han Yan deteve Ji Lan, que já ia saindo:

— Ah, e se o Príncipe voltar, diga a ele que fui convocada ao palácio.

Se algo inesperado ocorresse no caminho e Fu Yunxi soubesse a tempo, talvez as coisas não saíssem do controle.

Shu Hong ainda se recuperava dos ferimentos e não podia acompanhá-la. Han Yan suspirou, pensando no palácio, e franziu levemente o cenho.

Era, de fato, um lugar que devorava pessoas.

Muros altos, pilares vermelhos pintados, telhas douradas e cortinas de pérola.

Era a primeira vez que Han Yan era convocada sozinha pelo Imperador. E quando viu a Imperatriz Viúva sentada no assento elevado, uma percepção relampejou em sua mente.

— Levante-se. Olhe para mim, quero ver seu rosto — disse o Imperador.

Han Yan se pôs de pé e ergueu o rosto conforme a ordem.

O Imperador estreitou os olhos, observando atentamente a jovem que era considerada sua cunhada. No fundo, ele realmente não compreendia por que Fu Yunxi — sempre frio e indiferente — se interessara por uma garota tão comum. Ela até demonstrava certa esperteza e talento, mas se fosse apenas isso, Fu Yunxi poderia muito bem ter escolhido uma mulher talentosa da capital anos atrás. Afinal, a origem de Han Yan era bastante ordinária. Ao vê-la erguer o rosto, o Imperador finalmente pôde ver com clareza sua aparência.

A jovem diante dele tinha a pele alva, com uma aparência algo frágil, mas seus olhos negros e brilhantes transbordavam de vitalidade — como uma flor silvestre vigorosa. Comparada ao ar infantil que tivera antes, agora parecia um pouco mais madura, como se essa fosse sua verdadeira natureza. Suas feições eram delicadas e dóceis, mas por alguma razão, havia algo de rebelde por trás daquele olhar obediente. Como um cavalo selvagem fingindo mansidão.

O olhar do Imperador se apertou ainda mais — de repente, achou aquela menina de apenas treze anos difícil de decifrar.

Era estranho. Quando ouvira sobre os abusos de Zhuang Shiyang contra sua filha legítima, bem como a forma como as concubinas a maltratavam, pensara que talvez Fu Yunxi tivesse se compadecido dela e, por isso, decidira se casar com ela. Mas agora, olhando para Han Yan, ele via uma jovem calma e composta, astuta e perspicaz — sem nenhum traço da timidez ou do ressentimento de alguém que teria sofrido abusos. Pelo contrário: ela mantinha um leve sorriso nos lábios, como se jamais tivesse passado por algo ruim, e seus olhos brilhavam com felicidade.

Aqueles que sabem se disfarçar são os que escondem mais fundo.

Ele lançou um olhar significativo a Han Yan.

— Senhorita Zhuang, o motivo de eu tê-la convocado hoje é porque ouvi dizer que, na noite do aniversário da Consorte Chen, você desapareceu sem motivo no Jardim Imperial — disse o Imperador, indo direto ao ponto ao ver a postura tranquila da jovem. — Por que saiu no meio do evento?

Han Yan se curvou e respondeu:

— Em resposta à Vossa Majestade, naquela noite eu estava assistindo aos fogos com a Consorte e as outras damas. Em dado momento, senti vontade de ir ao toalete, mas no caminho me deparei com um assassino.

— Um assassino? — O Imperador franziu a testa, surpreso. — Que tipo de assassino?

Han Yan balançou a cabeça, com expressão assustada:

— Já era tarde naquela hora, e eu não consegui ver o rosto dele claramente. Minha criada ficou ferida ao tentar me proteger, e eu fiquei aterrorizada. Por sorte, enquanto fugia, encontrei o Príncipe. Depois disso, desmaiei e só acordei no Palácio do Príncipe de Xuanqing.

A Imperatriz Viúva, que até então permanecia em silêncio, falou de repente:

— Já que a senhorita Zhuang alega ter encontrado um assassino, por que não relatou isso ao Imperador? A saúde de Sua Majestade é preciosa — se algo acontecesse, quem assumiria a responsabilidade? Está tentando nos enganar?

Han Yan se assustou e rapidamente caiu de joelhos.

— Jamais ousaria enganar Vossa Majestade! Antes de desmaiar, eu avisei sobre a presença do assassino no palácio. O Príncipe também enviou pessoas para procurá-lo e para encontrar minhas duas criadas. Mas a Imperatriz Viúva os impediu, dizendo que era o aniversário da Consorte Chen e que não seria adequado causar alarde. — O rostinho de Han Yan revelava tanto pânico quanto mágoa. — Suponho que o Príncipe, por receio de incomodar a Consorte Chen, optou por manter tudo em segredo e não permitir que o assunto se espalhasse.

O Imperador trocou um olhar pensativo com a Imperatriz Viúva.

— Entendo.

A Imperatriz Viúva sorveu seu chá com calma.

— Sendo assim, parece que a culpa é minha.

Han Yan respondeu prontamente:

— Jamais ousaria dizer isso! Vossa Majestade é como uma bodisatva — como poderia estar envolvida num caso desses? A culpa é toda do assassino. Como pode existir alguém tão ousado neste mundo, capaz de se infiltrar no Palácio e tentar ferir alguém da família real? Essa pessoa certamente vai cair nas dezoito camadas do inferno e jamais renascer!

O Imperador permaneceu em silêncio. A Imperatriz Viúva manteve o sorriso habitual, mas seus dedos tremeram ligeiramente.

— Você está ciente de que a Consorte Chen foi presa?

Han Yan arregalou os olhos, surpresa:

— Eu não sabia...

A Imperatriz Viúva olhou-a com tranquilidade, esboçando um leve sorriso enquanto explicava:

— A Consorte Chen foi flagrada em adultério. Por isso, foi detida.

O rosto de Han Yan demonstrou um misto de surpresa e confusão. No entanto, talvez por medo da autoridade imperial, ela não se atreveu a fazer perguntas. O Imperador analisava sua expressão — a reação era completamente normal, exatamente o que se esperaria de uma jovem ouvindo tal notícia pela primeira vez. Mas sua atuação era perfeita demais, sem a menor falha, o que despertou suspeitas. Era como se Han Yan não devesse demonstrar perplexidade, mas sim uma certa compreensão contida.

— A Consorte Chen alegou ter sido vítima de uma armação. Ela disse que foi envenenada com veneno da primavera... e que quem a envenenou foi você — Princesa Consorte de Xuanqing.

Han Yan empalideceu de espanto e respondeu de imediato:

— Estou sendo injustiçada! Jamais faria algo assim!

A Imperatriz Viúva retrucou com frieza:

— Não quer saber por que a Consorte Chen afirma que você quis prejudicá-la?

Han Yan a fitou com confusão nos olhos.

— A Consorte Chen disse que viu você cometendo adultério com um homem desconhecido. — Ao dizer isso, os lábios da Imperatriz Viúva se curvaram num sorriso sutil, ao mesmo tempo confiante e sinistro — um sorriso que fez estremecer até os ossos.


Capítulo 86: Virgindade
Ao ouvir aquilo, Han Yan exclamou imediatamente:
— Estou sendo injustiçada! Jamais cometi atos tão imundos com homem algum! Peço a Vossa Majestade que busque a verdade!
O Imperador permaneceu em silêncio, enquanto a Imperatriz Viúva sorriu:
— Então, quer dizer que a Consorte Chen está te caluniando?
Han Yan sacudiu a cabeça várias vezes:
— Não ouso afirmar isso. Adultério não é um assunto pequeno, e eu jamais o cometi.
O Imperador a fitou e disse:
— Princesa Consorte de Xuanqing, segundo as leis, uma mulher culpada de adultério deve ser despida, exposta em público, marcada com ferro em brasa e, nos casos mais graves, executada. — Após uma pausa, questionou: — Você... se declara culpada?
Han Yan quase riu por dentro: Já disse antes que nunca fiz tal coisa. Como posso me declarar culpada? Ela sempre fora firme diante dos fortes, e quando se deparava com o absurdo, não via razão para se rebaixar. Era porque havia agido de forma dócil demais que agora achavam que podiam me intimidar ao ponto de me fazer calar? Que piada!
Ela olhou firmemente para o Imperador, sentado em seu trono elevado:
— Em todas as questões deve haver causa e consequência. Se Vossa Majestade e a Imperatriz Viúva acreditam que cometi esse crime, então, por favor, apresentem provas. A lei deve tratar o Imperador e o povo de forma igual. Agora que o adultério da Consorte Chen foi comprovado, ela foi apenas aprisionada, enquanto eu devo confessar algo que nunca fiz? — Um leve sarcasmo brilhou em seus olhos límpidos. — Se é apenas porque a posição da Consorte Chen está acima da minha, levando a um tratamento desigual, então não tenho mais nada a dizer.
— Você... — O Imperador ficou sem palavras. Como governante, orgulhava-se de ser justo e imparcial, detestando ver seus ministros oprimirem os mais fracos. Agora, as palavras de Han Yan o colocavam exatamente nesse mesmo papel, fazendo-o se sentir extremamente constrangido.
A Imperatriz Viúva levantou a mão:
— O Imperador sempre agiu com integridade. — Sua presença opressora se impôs. — Você é apenas filha de um humilde oficial de quinto escalão, e ainda assim ousa questionar o Imperador? Não teme as consequências?
Han Yan sorriu levemente:
— Vossa Majestade talvez tenha se esquecido, mas eu não sou apenas filha de um oficial de quinto escalão; também sou Princesa Consorte de Xuanqing. — Seus lábios se curvaram num sorriso travesso, e sua voz ganhou leveza: — Será que a Imperatriz Viúva considera o título de Princesa Consorte de Xuanqing equivalente ao de filha de um oficial de quinto escalão?
O Imperador estreitou levemente os olhos. De repente, percebeu que essa jovem, à primeira vista ingênua, era quase idêntica a seu irmão mais novo — orgulhoso e frio — ambos não estavam dispostos a sofrer perdas. A Imperatriz Viúva, experiente e acostumada a batalhas palacianas, já havia perdido várias investidas contra ela. Suas palavras vinham carregadas de significados, cortando todos os caminhos de fuga — nada de rodeios, ela avançava de frente.
O clima na sala tornou-se tenso.
Ninguém se pronunciava, fosse o Imperador com seu rosto impassível, a Imperatriz Viúva saboreando o chá com calma, ou Han Yan, que mantinha o sorriso no rosto. O Salão Jin Luan, geralmente animado, agora exalava uma frieza estranha.
Após um longo silêncio, a Imperatriz Viúva finalmente ergueu o rosto:
— Já que a Princesa Consorte de Xuanqing afirma que não cometeu tal ato, então deve haver alguma base para as acusações. Terá de apresentar provas de sua inocência.
Han Yan sorriu em resposta:
— O que Vossa Majestade deseja dizer com isso?
— A marca de virgindade — a Imperatriz Viúva finalmente desviou o olhar da xícara de chá, fitando Han Yan com profundidade e declarou —: A marca de virgindade. Se você é inocente, certamente ainda a terá.
A marca de virgindade é uma substância utilizada para verificar a castidade de uma mulher. Dizem que, uma vez aplicada ao corpo, permanece por toda a vida — mas, se a mulher tiver relações com um homem, ela desaparece imediatamente. Por causa dessa propriedade, é usada como prova de virgindade. Filhas de famílias nobres recebem essa marca ao nascer, e ela só desaparece após o casamento. Agora, ao pedir a Han Yan que comprove a existência da marca, a Imperatriz Viúva a humilhava profundamente — fosse qual fosse o resultado. Isso demonstrava uma completa descrença em sua castidade e em seu caráter. Se fosse alguém de temperamento mais impulsivo, talvez escolhesse morrer como forma de protesto.
Ao perceber a hesitação de Han Yan, o sorriso da Imperatriz Viúva se aprofundou, seu olhar se tornou mais intenso e opressor, e sua voz soou fria e dura:
— Princesa Consorte de Xuanqing, você ousa?
Han Yan compreendeu perfeitamente a intenção. Era provável que o veneno da primavera que a Consorte Chen usara contra ela fosse de um tipo raro — e Han Yan sentira bem sua potência na época. A Imperatriz Viúva acreditava que, se ela havia conseguido neutralizar o veneno, então certamente havia se deitado com um homem. Se a marca de virgindade tivesse desaparecido, não haveria argumento capaz de defendê-la. Caso fosse constatado que Han Yan não era mais virgem, ela inevitavelmente enfrentaria a acusação de adultério. E se Fu Yunxi declarasse que havia se deitado com ela, uma vez espalhado o boato, ele também seria alvo de zombarias. No tribunal, quando um casal tinha relações antes do casamento, isso era considerado adultério — algo que apenas os mais baixos plebeus e cortesãs faziam.
A estratégia da Imperatriz Viúva era, de fato, cruel. Se Fu Yunxi admitisse, seria arrastado com ela; se negasse, ela seria marcada como uma mulher que havia perdido a virgindade — condenada à vergonha eterna. Um beco sem saída.
A Imperatriz Viúva brincava casualmente com a xícara nas mãos, enquanto o Imperador observava Han Yan em silêncio. Ambos haviam se preparado. Não era possível saber o que haviam conversado antes, mas estava claro que a Imperatriz Viúva desejava eliminá-la — usando até as palavras da Consorte Chen para atacá-la. Estava esperando que ela entrasse em pânico? Desta vez, no entanto, provavelmente se decepcionaria.
Os olhos de Han Yan se arregalaram em incredulidade:
— Vossa Majestade, isso é uma demonstração de desconfiança! Eu nunca fiz tal coisa; por que preciso ser examinada...?
O sorriso no rosto da Imperatriz Viúva se aprofundou:
— Como pode ser falta de confiança? Estou justamente lhe dando uma chance de provar sua inocência porque confio tanto em você... Vossa Majestade, não concorda?
O Imperador assentiu:
— De fato. Você deve verificar se ainda possui a marca de virgindade. Se não tiver, será punida por enganar a corte; se tiver, então é, obviamente, inocente.
Han Yan sacudiu a cabeça com força:
— Eu não vou me submeter a exame algum! Sou inocente! Isso é uma humilhação... Imperatriz Viúva, a senhora não pode...
A Imperatriz Viúva, com um semblante cansado, acenou com a mão:
— A Princesa Consorte de Xuanqing provavelmente é jovem demais para compreender minhas boas intenções. Lady Li, leve a Princesa Consorte de Xuanqing para o exame.
— Sim. — Uma mulher de meia-idade deu um passo à frente e agarrou Han Yan com brutalidade. Sua força era imensa, e com um puxão, desequilibrou Han Yan, que ainda estava ajoelhada no chão. Han Yan sacudia a cabeça em desespero, apavorada, e gritava:
— Não, eu não vou! Ahhh!
A ama acenou com a mão, e várias criadas altas do palácio se aproximaram rapidamente, arrastando e puxando Han Yan à força para trás de um biombo.
O Imperador observava enquanto Han Yan era levada pelas criadas, seu semblante carregado de conflito. Pensava em como Fu Yunxi reagiria se soubesse o que ele e a Imperatriz Viúva estavam fazendo com sua pequena Princesa. Um sentimento incômodo de suspeita surgiu; o caso envolvendo a Consorte Chen parecia mesmo estranho. A Imperatriz Viúva nunca o enganara, e como ela desconfiava de Han Yan, talvez houvesse mesmo algo de errado com essa Princesa Consorte de Xuanqing.
Choros e gritos vinham de trás do biombo, e o Imperador franziu o cenho:
— Essas mulheres estão sendo brutais demais.
Afinal, ela era apenas uma jovem mimada, ainda nem em idade de se casar, provavelmente nunca havia passado por algo assim. Se realmente fosse inocente, isso marcaria sua vida com uma vergonha profunda.
— O Imperador é bondoso demais... — comentou calmamente a Imperatriz Viúva. — Além disso, vejo que essa Princesa Consorte de Xuanqing tem um espírito bem ousado; um pouco de sofrimento físico não irá abalar seu ânimo.
O Imperador percebeu o sentido oculto nas palavras da Imperatriz Viúva e, de repente, sentiu sua mãe — normalmente piedosa e compassiva — estranhamente diferente. Os métodos dela naquele dia, ao lidar com aquela jovem, não demonstravam qualquer misericórdia.
Enquanto isso, atrás do biombo, Han Yan era segurada por várias criadas altas e fortes. A ama-chefe começou a remover suas vestes externas, e, ao resistir, Han Yan gritava:
— Soltem-me! Não me toquem!
Li Mama, serva experiente que seguia a Imperatriz Viúva há muitos anos, era astuta e tinha prazer em humilhar os mais fracos. Ao perceber que Han Yan não colaborava, forçou um sorriso e disse:
— Alteza, com uma pele tão delicada, é melhor não se mexer. Estou velha, minha visão já não é como antes... se eu acabar te machucando sem querer...
Han Yan cuspiu nela com fúria:
— Sua velha maldita e dissimulada, como ousa ameaçar esta Princesa? Me soltem! Se o Príncipe souber disso, ele vai matar todas vocês!
Li Mama sorriu e respondeu suavemente:
— Se o Príncipe descobrir que a Princesa não é virtuosa, provavelmente não vai mais querer saber de você. Já que é um fato consumado que cometeu adultério, por que um Príncipe tão bonito e encantador se interessaria por uma mulher baixa como você?
Sua voz era baixa, sussurrada, e não chegava ao Imperador do lado de fora. No entanto, ao ver a expressão de Li Mama ao mencionar Fu Yunxi, o coração de Han Yan se apertou. Será que essa velha também é apaixonada por Fu Yunxi, e por isso está me torturando assim? Mas, como o jogo precisava continuar, Han Yan declarou com raiva:
— Eu não fiz nada disso!
Li Mama já havia removido a última peça de roupa de Han Yan e soltou uma risada:
— Por que esconder, Alteza...?
Ela puxou a última camada de roupa de baixo — e então congelou.
Diante dela, brilhava uma marca delicada e rosada no braço justo e alvo de Han Yan, semelhante a uma ameixa vermelha recém-florida, bela e encantadora — símbolo da pureza de uma donzela.
Num silêncio repentino, Han Yan desabou em lágrimas.
Naquele momento, alguém irrompeu repentinamente de trás do biombo. As criadas ao redor ofegaram em choque. A pessoa que entrou estava coberta de poeira e trazia consigo o frio do lado de fora. Com um movimento ágil, ergueu Han Yan nos braços e a envolveu — vestida apenas com suas roupas de baixo — em seu grande manto. Sua expressão era glacial, fazendo qualquer um que o visse estremecer involuntariamente. Com feições belas agora marcadas por uma aura sutil de perigo, Fu Yunxi se inclinou, e naquele instante fugaz em que encarou Han Yan, seu olhar tornou-se infinitamente gentil.
— Está tudo bem agora.
Han Yan agarrou-se às vestes dele, encarando em transe aquela figura que mais parecia um deus descido dos céus. Em seu abraço quente, sentiu uma segurança que jamais havia conhecido.
Fu Yunxi a carregou para fora com passos largos. No Salão Jin Luan, o Imperador estava um tanto atônito; instantes antes, Fu Yunxi havia entrado sem dizer uma palavra e desaparecido atrás do biombo, agora surgia segurando sua pequena Princesa. Se isso se transformar em confronto, o que farei?
A Imperatriz Viúva apenas lançou um olhar para Han Yan, encolhida sob o manto de Fu Yunxi, mostrando apenas a cabeça, os olhos marejados como se tivesse sofrido uma injustiça profunda e um grande susto. Li Mama e algumas criadas saíram logo depois.
— Li Mama, qual foi o resultado? — perguntou a Imperatriz Viúva, o olhar escurecendo.
Li Mama também estava confusa. Não haviam dito antes que a marca de beleza da Princesa Consorte de Xuanqing havia desaparecido? Agora, inexplicavelmente, reaparecera. E depois da ofensa cometida contra a Princesa Consorte, temia que, se o Príncipe ficasse furioso, sua vida correria perigo. Pensando nisso, permaneceu em silêncio.
— Li Mama, estou perguntando: qual foi o resultado? — O Imperador notou o rosto de Fu Yunxi se tornando cada vez mais sombrio e sentiu a ansiedade crescer; ele também estava muito preocupado com o desfecho.
Li Mama hesitou ao falar:
— A Princesa Consorte... ainda é donzela.
Ao ouvir isso, o cobertor nas mãos da Imperatriz Viúva escorregou e caiu no chão, respingando água em sua saia. Ela não se importou e fixou o olhar em Han Yan.
Han Yan gritou em prantos:
— Eu disse que não fiz nada! Já que Vossa Majestade e a Imperatriz Viúva não acreditam em mim, então é melhor que eu morra! Agora envergonhei a família Zhuang e o Príncipe... wuwu...
As palavras dela soavam completamente infantis, mas o Imperador sentiu um arrepio na espinha. Era uma coisa Fu Yunxi não levar o assunto adiante, mas, se resolvesse fazê-lo, aquelas palavras de Han Yan só serviriam para jogar mais lenha na fogueira — e Fu Yunxi certamente não deixaria barato dessa vez.
E, de fato, Fu Yunxi lançou um olhar gélido para o Imperador e a Imperatriz Viúva, dizendo:
— Não entendo o que a Princesa Consorte fez para provocar tamanha desconfiança de Vossa Majestade e de minha mãe.
A Imperatriz Viúva sabia que, naquele momento, não podia mais fazer nada contra Han Yan, então disse:
— Yunxi, faço isso para o seu próprio bem. Se sua Princesa Consorte não fosse pura, você também sairia perdendo...
Han Yan se agitou nos braços de Fu Yunxi, exclamando:
— Por que acreditam nas palavras de alguém que está na prisão? Eu não suporto mais essa calúnia! Agora perdi toda a minha honra. Príncipe, por favor, me divorcie.
Sua atuação improvisada estava se tornando cada vez mais teatral, e ver o rosto pálido do Imperador era quase cômico. A expressão da Imperatriz Viúva era ainda mais marcante; ela havia acreditado que tudo estava sob controle, mas agora tudo escapava de suas mãos.
Fu Yunxi a consolou com algumas palavras suaves, e sua ternura deixou o Imperador atônito. Mas, ao levantar os olhos para encará-lo, toda a suavidade desapareceu, substituída por uma frieza cortante.
— Mãe sempre teve grande discernimento, e também acho a Consorte Chen bastante suspeita. Por que não me deixa cuidar desse caso? Acredito que, com tortura adequada, Consorte Chen acabará contando uma história bem diferente, especialmente sobre o que aconteceu em seu aniversário.
— Yunxi, você nunca lidou com esse tipo de coisa... Deixe isso com o Ministério da Justiça — disse a Imperatriz Viúva, a doçura agora tingida de tensão, sua mão inconscientemente se fechando em punho ao lado do corpo.
— Não se preocupe, mãe — respondeu Fu Yunxi com serenidade. — Passei muitos anos no exército e conheço mais de cem métodos para fazer prisioneiros inimigos revelarem a verdade.


Capítulo 87: A Espada Imperial

Han Yan não tinha dúvidas de que, se Fu Yunxi realmente recorresse à tortura, seria uma questão de vida ou morte para qualquer envolvido. A Consorte Chen, que sempre fora mimada, certamente não suportaria tamanha crueldade. Se confessasse, a Imperatriz Viúva dificilmente conseguiria se isentar das consequências. A pressão implacável de Fu Yunxi fez com que a expressão da Imperatriz Viúva mudasse.

— Yunxi, já lhe disse: você não deve interferir nesse assunto — seu tom tornou-se mais firme, indicando claramente que não daria qualquer chance para Fu Yunxi virar o jogo contra ela.

O Imperador percebeu a tensão entre os dois e ficou em um impasse. Um era seu irmão de sangue, a outra, a Imperatriz Viúva que o criara; ele não queria ferir nenhum dos dois. Após respirar fundo e se recompor, disse:

— Yunxi, eu lhe prometo que darei uma explicação sobre esse assunto. O que aconteceu hoje foi mal conduzido, e eu lhe devo um pedido de desculpas.

Han Yan, aconchegada nos braços de Fu Yunxi, abaixou a cabeça em contemplação. Embora os outros não pudessem ver sua expressão, ela refletia em silêncio. O Imperador, aquele que ocupava o ápice do poder, estava se desculpando com tanto cuidado diante de Fu Yunxi. Parecia que os rumores lá fora eram verdadeiros: o Imperador realmente favorecia Fu Yunxi. No entanto, a relação entre a Imperatriz Viúva e Fu Yunxi era bastante delicada, o que a deixava intrigada.

Fu Yunxi respondeu com frieza:

— Não ouso aceitar, mas, como homem que nem ao menos consegue proteger a própria esposa, é vergonhoso servir de exemplo ao mundo. Peço que Vossa Majestade retire meu cargo oficial; não tenho mais rosto para me apresentar diante do povo.

Com tamanha simplicidade, ele rejeitou as palavras do Imperador — e aquilo quase fez Han Yan rir. Em seu coração, aplaudiu Fu Yunxi por recusar abertamente o pedido de desculpas imperial. O olhar do Imperador recaiu sobre Han Yan, que fingiu se assustar e escondeu o rosto no peito de Fu Yunxi. Era engraçado pensar que ele imaginava que ela pudesse se acalmar e suavizar a situação. O Imperador subestimava Zhuang Han Yan; quem ousasse arrancar suas penas devia estar preparado para ter os olhos bicados.

É claro que o Imperador não permitiria que Fu Yunxi renunciasse ao cargo, mas estava completamente perdido sobre como seguir adiante. Sentia-se dividido entre a raiva pela imprudência da Imperatriz Viúva e a frustração com Han Yan por não perceber o momento — afinal, tudo tinha começado por causa dela. Com um suspiro, perguntou:

— Diga-me, o que posso fazer para que você se acalme?

Fu Yunxi não hesitou nem por um segundo:

— Peço que Vossa Majestade conceda à minha esposa uma espada imperial. Ver essa espada será como ver o próprio Imperador; ninguém ousará agir contra ela.

Han Yan ficou surpresa, jamais esperando que Fu Yunxi fizesse tal pedido. Um calor reconfortante tomou conta de seu coração. De fato, se ela tivesse uma espada imperial, nem mesmo a Imperatriz Viúva se atreveria a causar problemas — pelo menos, não diante dos outros. No entanto, espadas imperiais só eram concedidas àqueles que prestaram grandes serviços, representando honra suprema. Ela, que nada fizera e ainda ocupava uma posição baixa, hesitou. Parecia impossível que recebesse um item tão valioso...

— Insolente! — Antes que Han Yan conseguisse pensar em uma forma de lidar com aquilo, a Imperatriz Viúva gritou com fúria — Yunxi, não ultrapasse os limites! A Princesa Consorte não prestou nenhum serviço; como poderia receber uma espada imperial? Está tratando a dignidade imperial como brincadeira?

Dizendo isso, lançou um olhar feroz a Han Yan.

Han Yan não se intimidou e apenas sorriu de leve, enquanto ouvia Fu Yunxi responder:

— Não ouso tal desrespeito, mas, se o Imperador não concordar, não me resta alternativa. O mundo exterior é perigoso demais; só posso renunciar ao cargo e permanecer em casa para proteger minha esposa.

Ele lançou um olhar sutil à Imperatriz Viúva:

— A Princesa Consorte é jovem e pode facilmente sofrer “acidentes”, como hoje, quando quase houve um diante do Imperador e da Imperatriz Viúva.

— Que acidente ela teve? — A Imperatriz Viúva rugiu de raiva, temendo que o Imperador realmente concedesse a espada imperial a Fu Yunxi — algo que seria desastroso para ela. Com frieza, disse: — Só queria verificar se ela ainda era virgem!

Ao perceber que o momento certo havia chegado, Han Yan subitamente tossiu, revelando manchas de sangue no lenço. Ergueu o olhar e desmaiou nos braços de Fu Yunxi. Ao ver isso, ele não se deu ao trabalho de continuar a conversa. Disse apenas, com frieza:

— Com licença.

E virou-se, saindo a passos largos.

O Imperador sabia que seu irmão mais novo jamais voltava atrás em suas decisões, e agora estava deixando o palácio de verdade. Rapidamente gritou:

— Espere!

Fu Yunxi não diminuiu o passo, mas ouviu o Imperador clamar atrás dele:

— Eu lhe darei a espada imperial; não renuncie!

Fu Yunxi finalmente parou por um instante:

— Agradecido.

Han Yan estava quase morrendo de tanto rir nos braços dele. Era a primeira vez que via alguém ameaçar o Imperador de forma tão descarada, e não resistiu em comentar:

— Sua Alteza é realmente brilhante, hahaha!

Fu Yunxi a ajudou a subir na carruagem e a acomodou de lado. Naquele momento, Han Yan vestia apenas um dudou vermelho, e sentiu-se bastante envergonhada, cobrindo-se rapidamente com os braços. Fu Yunxi tirou seu manto e o colocou sobre ela, dizendo:

— Que bagunça.

(Dudou: roupa íntima feminina tradicional chinesa)

Han Yan lançou-lhe um olhar irritado.

— Que bagunça eu fiz, hein!

Os eventos daquele dia haviam sido um jogo de sobrevivência, um passo de cada vez; não era exagero dizer que ela estivera por um triz. Ainda assim, não esperava que a Imperatriz Viúva fosse tão ousada. Havia calculado tantas coisas, mas não previra o fato de que nada acontecera entre ela e Fu Yunxi — e mesmo assim o veneno da primavera havia sido resolvido. Refletindo sobre isso, perguntou curiosa:

— Pelo que a Imperatriz Viúva disse, esse veneno da primavera definitivamente não é algo que uma pessoa comum possa curar. Quem você trouxe para resolver isso?

Fu Yunxi apertou os laços do manto ao redor do peito dela e respondeu:

— O médico imperial.

Han Yan então compreendeu. O médico imperial! Não era de se espantar que as habilidades médicas fossem tão excepcionais. Logo depois, ouviu Fu Yunxi perguntar:

— Por que você foi ao palácio sem me esperar?

Han Yan ficou surpresa.

— Era para eu desobedecer a ordem? Além disso, não mandei alguém avisar você? Se você soubesse, com certeza viria ao Palácio. O Imperador não ousaria me fazer nada na sua frente.

— E se eu não tivesse ido ao palácio? — Ao ouvir a resposta dela, Fu Yunxi fez uma pausa.

Han Yan o encarou, surpresa.

— Não vir ao palácio? Isso é impossível; você nunca me deixaria sozinha.

Ao dizer isso, ela congelou. Quando foi que comecei a confiar tanto assim em Fu Yunxi? Confiar a ponto de acreditar que, enquanto ele estivesse por perto, ela estaria segura? Que, se soubesse que ela estava em perigo, viria salvá-la sem hesitar?

Mas Fu Yunxi apenas perguntou:

— Por que você está cuspindo sangue?

Han Yan não entendeu o que ele quis dizer a princípio, mas então viu que ele puxava um lenço da sua mão, revelando manchas de sangue nele. Ela sorriu levemente:

— Peguei isso antes... Não é nada.

Fu Yunxi apertou os lábios e disse:

— Da próxima vez, não vá a lugares perigosos.

Han Yan ficou surpresa por um instante, mas assentiu:

— Entendi.

No Salão Caifeng, pela primeira vez, o som de uma xícara de chá se quebrando ecoou pelo ambiente.

A Imperatriz Viúva encostava-se em seu sofá, olhando fixamente para a mesa de incenso à sua frente, os olhos carregados de várias emoções. Hoje, Li Mama havia sido ordenada pelo Imperador a receber cinquenta açoites e enviada para a lavanderia. Embora fosse um decreto do Imperador, isso servia para descarregar sua raiva contra Fu Yunxi. Li Mama servira por mais de dez anos, e agora era vítima desse incidente. Que raiva, essa Zhuang Han Yan!

Hoje, ela não tinha nenhuma acusação contra Han Yan, mas havia perdido uma ajudante confiável. Zhuang Han Yan apenas encenou um espetáculo e conseguiu fazer o Imperador emitir tal ordem! Seu olhar tornou-se frio; essa Zhuang Han Yan tinha uma qualidade fundamentalmente antagonista contra ela. Não podia deixar que ela ficasse; não podia deixar que ficasse — mantê-la só traria inimizade.

Antes, por algum motivo, ela só queria que Han Yan não pudesse se tornar a Princesa Consorte de Xuanqing, vivendo uma vida humilde bem debaixo do seu nariz. Agora, porém, era questão de vida ou morte! Fu Yunxi já começara a se precaver contra ela, e agora, com Zhuang Han Yan envolvida, era como estar cercada por dois filhotes de lobo — nunca deveria ter deixado nenhuma das duas permanecer.

Depois de pensar por um momento, ela disse:

— Para a masmorra.

Em apenas um dia, Consorte Chen parecia outra pessoa. Suas roupas estavam desarrumadas, o rosto abatido e exalava um odor fétido. O Imperador ordenara que ninguém da família Chen pudesse visitá-la. Ali, ela suportava toda a sujeira e o abandono do tempo; era seu ponto mais baixo e sua maior vergonha.

No momento em que viu a Imperatriz Viúva, achou que enxergava esperança e quase se jogou na porta da cela:

— Imperatriz Viúva, me salve!

A Imperatriz Viúva agachou-se diante dela:

— Como eu poderia salvá-la?

Como alguém se agarrando a um último fio de esperança, Consorte Chen ignorou tudo e se ajoelhou loucamente:

— Imperatriz Viúva, me salve! Fui armada contra por aquela pequena maldita, Zhuang Han Yan. A senhora deve ter um jeito de me tirar daqui, não é?

A Imperatriz Viúva apenas a observava enlouquecer até que uma leve mancha de sangue apareceu no chão de pedra diante dela, então disse:

— Vim aqui apenas para lhe dizer que o Imperador ordenou que, em consideração ao seu casamento, você não morrerá, mas será enviada para o palácio frio, sem jamais pisar fora dos portões do palácio novamente.

Será que era realmente por consideração ao casamento? Um sorriso frio curvou os lábios da Imperatriz Viúva; Chen Shilang havia ganhado bastante poder na corte ao longo dos anos, e não era fácil abalar essa base. As ações do Imperador eram, afinal, compreensíveis.

Consorte Chen ficou atônita e balançou a cabeça:

— Eu não acredito. Uma vez no palácio frio, nunca poderei sair de novo. Imperatriz Viúva, a senhora não disse que poderia arruinar Zhuang Han Yan e me libertar? Imperatriz Viúva!

— Eu realmente gostaria de salvá-la. — A Imperatriz Viúva olhou para ela com um olhar calmo — Afinal, você fez muito por mim, mas... você não tem esse destino.

Consorte Chen ficou momentaneamente zonza, balançando a cabeça em descrença, entendendo que a Imperatriz Viúva a abandonava:

— A senhora não tem medo de que eu revele seus segredos...?

A Imperatriz Viúva sorriu suavemente:

— Fale o que quiser, desde que alguém acredite em você.

Ela lançou um olhar para Consorte Chen:

— Vim apenas para vê-la pela última vez. No caminho para o Mundo Amarelo, não confunda as pessoas.

Consorte Chen observou a figura da Imperatriz Viúva se afastando, gritando loucamente:

— Me deixe sair! Não fui eu! Imperatriz Viúva, Zhuang Han Yan me trouxe até aqui. Mesmo como fantasma, não vou deixar passar!

Quando a Imperatriz Viúva saiu da masmorra, a criada do palácio que a acompanhava rapidamente acendeu uma lanterna. A Imperatriz Viúva suspirou aliviada, confirmando que Consorte Chen parecia alheia àquele assunto — bom.

Consorte Chen desabou no chão, coberta de lama e sangue. Agora nem mesmo os guardas lascivos se aproximavam mais. Ela jamais imaginara que enfrentaria um dia assim, tornando-se a pessoa mais miserável, sem nada, sem chance de reverter a situação. A ideia de ser enviada para o palácio frio fazia-a tremer incontrolavelmente. Por muitos anos, fora favorecida, subindo degrau por degrau até sua posição atual, mas Zhuang Han Yan a derrubara a esse ponto. Ela odiava Fu Yunxi, odiava Zhuang Han Yan ainda mais e desprezava a Imperatriz Viúva. Foi ela quem arquitetou tudo, mas se colocou na linha de frente, vendo Consorte Chen ser presa sem oferecer ajuda. Abandonar o carro para salvar o cavalo — abandonar o carro para salvar o cavalo!

As emoções humanas são frias e quentes, só se revelando em momentos de infortúnio. Consorte Chen sentava-se ali atordoada, com a mente vazia.

— Mãe! — uma voz puxou seus pensamentos de volta.

Consorte Chen se virou incrédula e viu o rosto do Sétimo Príncipe, que brilhava intensamente contra o fundo escuro da masmorra. Lágrimas imediatamente encheram seus olhos:

— Pequeno Sete!

O Sétimo Príncipe entregou-lhe a cesta de comida através de uma pequena abertura:

— Mãe, você sofreu!

Consorte Chen olhou atentamente para seu rosto:

— Pequeno Sete, como você entrou aqui?

O Sétimo Príncipe olhou para ela:

— Desculpe, mãe. É minha culpa que você esteja nessa situação.

O plano para prejudicar Han Yan havia sido proposto pelo Sétimo Príncipe, e foi justamente por causa dessa tentativa frustrada que Consorte Chen sofreu a retribuição, levando-a ao estado em que se encontrava.

Consorte Chen balançou a cabeça:

— Não é sua culpa; é de Zhuang Han Yan, Fu Yunxi e da Imperatriz Viúva.

Seus olhos estavam cheios de ódio e resistência:

— Pequeno Sete, você precisa vingar sua mãe!

— Eu entendo, mãe. — O Sétimo Príncipe olhou para Consorte Chen — Você deve estar morrendo de fome. Aqueles guardas sempre maltratam as pessoas. Aqui, experimente a comida que trouxe; são todas suas favoritas.

Assim que a requintada cesta de comida foi aberta, um aroma delicioso se espalhou, revelando uma variedade de petiscos e pratos delicados. Consorte Chen havia vivido uma vida miserável ali por um dia e uma noite, recusando-se a comer a comida grosseira da prisão. Ela não tinha dado uma mordida sequer, mas ao ver tais iguarias, aquilo que normalmente desprezava parecia saboroso. Começou a comer vorazmente.

Observando-a comer, as lágrimas do Sétimo Príncipe escorreram:

— Mãe, me desculpe...

Consorte Chen, ainda mastigando, murmurou:

— Pequeno Sete, você realmente se importa comigo. Você é o único no mundo que mais me ama...

As lágrimas do Sétimo Príncipe caíam ainda mais fortemente, e ele não conseguia falar por causa do soluço. Esse filho filial, normalmente elogiado na corte, parecia tão miserável que qualquer um que o visse sentiria compaixão.

Consort Chen terminou cada pedaço da cesta e bebeu todo o vinho doce, sentindo-se completamente satisfeita. Quando se virou, viu o Sétimo Príncipe olhando para ela através das grades de ferro, o rosto marcado pelas lágrimas, repetindo:

— Mãe, me desculpe.

Consorte Chen sentiu uma pontada no coração e apressou-se a enxugar suas lágrimas através das grades:

— Pequeno Sete, você não precisa pedir desculpas. Isso não é sua culpa. É justo que eu faça qualquer coisa por você. Não chore.

O Sétimo Príncipe olhou para cima, com uma expressão repentinamente estranha:

— Então, você estaria disposta a morrer por mim, mãe?

Consorte Chen ficou chocada:

— O quê?

— Mãe, me desculpe, mas eu envenenei sua comida.

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