Capítulo 96
— Eu podia jurar que ainda tinha um pouco... Como é que acabou tudo?
Shen Xianjun revirava o armário de Hu Jun. Ele finalmente tinha pegado gosto por comida apimentada e já fazia tempo que vinha de olho no estoque de molho de pimenta do cunhado. Hoje, ele tinha encontrado a oportunidade perfeita.
— Seu pestinha, mexendo nas minhas coisas de novo!
Hu Jun chegou justo a tempo de pegá-lo no flagra.
— E ainda por cima tá usando minhas roupas!
Shen Xianjun apontou para a roupa que Hu Jun vestia. A expressão de Hu Jun vacilou por um momento.
— Eu tinha uma reunião pra ir. E você aproveitou a minha ausência pra saquear meu armário. Ainda vamos conversar sobre isso.
— Conversar o quê? Admite logo que a mamãe gosta mais de você. Cunhado, cadê o molho de pimenta?
Shen Xianjun desistiu de procurar.
— Acabou. Só tinha um pote — você sabe o quanto o pessoal aqui come.
Hu Jun fechou o armário com firmeza.
— E o pote? Dá pra raspar o restinho.
— O Liao Yuanjie teve a mesma ideia. Raspou até o fim, e o pote já deve estar secando depois de lavado.
— Aquele desgraçado... Fez de propósito!
Na mesma hora, Shen Xianjun decidiu que ia desafiar Liao Yuanjie para uma "luta amigável" naquela noite.
— Melhor você focar na avaliação de amanhã.
O comentário de Hu Jun murchou o entusiasmo de Shen Xianjun na hora.
O programa de treinamento de três meses tinha espremido cada segundo do dia deles. Tirando o tempo das refeições, todos estavam afundados em materiais de estudo. Shen Xianjun também já tinha voltado a treinar fisicamente há algum tempo.
Yang Yufen estava de pé com um espanador na mão, lançando um olhar severo para as crianças ajoelhadas à sua frente.
— Vovó Yang, a culpa foi minha. Fui eu que chamei os outros pra pegar a galinha.
Hu Zhenghao estava ajoelhado na frente, protegendo os três irmãos mais novos atrás de si.
— Vovó Yang, eu também tenho culpa. Não protegi bem o Erbao, e ele acabou levando uma bicada.
Dabao segurava a galinha sem vida pelo pescoço quebrado, enquanto Erbao fungava, os olhos cheios de lágrimas.
Era fim de semana, e as crianças não tinham aula. Yang Yufen achou que seria seguro deixá-las brincando no pátio do conjunto habitacional, então não pensou muito no assunto.
Depois de terminar o turno na barraca de macarrão, ela voltou pra casa ouvindo um barulho desesperado vindo do quintal. Pensando que uma doninha tinha invadido o galinheiro, pegou o espanador e correu — só pra se deparar com os gritos das crianças assim que entrou.
Só de ver o espanador na mão dela, os meninos caíram de joelhos por reflexo.
O coração de Yang Yufen disparou. Ela prendeu o espanador na cintura e puxou Erbao para perto, inspecionando o machucado na mão dele.
Parecia dolorido — não havia sangue, mas o hematoma era feio. Não era de se espantar que ele chorasse tanto. Pelo menos não era um ganso; aí teria sido pior.
— Vocês mexeram com uma galinha choca — é claro que ela bicou vocês! Se queriam ver os pintinhos, por que não esperaram eu voltar?
Ela achava que tinham ficado curiosos com os filhotes.
— Não, vovó Yang. A gente queria fazer uma peteca. Desculpa — a gente não queria matar a galinha.
Hu Zhenghao explicou, cheio de culpa.
— Uma peteca?
Yang Yufen piscou.
— É pro aniversário da jiejie Yaoyao — acrescentou Dabao.
— Mas as penas dessa galinha nem são bonitas. Vocês queriam dar uma peteca de presente pra Yaoyao?
Yang Yufen não conseguiu segurar a risada.
Erbao assentiu, as lágrimas já secando.
— Temos penas sobrando em casa — guardei algumas da última vez. Depois vou separar umas bonitas pra vocês. Mas nada de entrar no galinheiro escondido, entenderam? Sempre perguntem a um adulto antes. E como vocês admitiram o erro, aceitam a punição?
Ela pegou a galinha morta das mãos de Dabao.
— Puna a gente, vovó Yang!
Wang Xing assentiu com entusiasmo.
— Então cada um vai escrever o próprio nome por uma página inteira. Você é o mais velho, Zhenghao — duas páginas pra você. Caprichado, sem letra feia. Entendido?
Ela lançou um olhar sério para Hu Zhenghao.
— Sim, senhora!
Hu Zhenghao endireitou as costas e respondeu com firmeza.
As quatro crianças, ainda cheias de penas pelo corpo, sentaram obedientemente em banquinhos pequenos, agarrando os lápis para começar a escrever.
Yang Yufen testou o pescoço da galinha. Quando chegou, tinha visto Dabao agarrando o bicho depois que ele bicou Erbao. O aperto do menino foi tão forte que a galinha parou de se mexer quase na hora. O garoto tinha força mesmo.
A mão direita de Erbao doía por causa da bicada, então ele usou a esquerda. Yang Yufen notou, mas não disse nada. Quando terminou de limpar e cozinhar a galinha, as crianças já estavam prontas para mostrar o castigo cumprido.
— Nada mal. Agora podem ir fazer a peteca.
Ela entregou as penas. Quando conferiu a página de Erbao, se surpreendeu ao ver que a letra dele quase não entortou, mesmo com a mão não dominante.
— Erbao, escreve outra pra mim, tá?
Ela já tinha ouvido falar de gente ambidestra, mas nunca tinha visto.
Erbao ficou confuso, mas obedeceu.
— Muito bem. Vai brincar com seus irmãos agora.
Yang Yufen observou os caracteres — o nome completo dele, nada menos — e deixou o papel separado antes de voltar para o fogão.
— Tia Yang, desculpa pelas crianças. Aqui tem dois yuans — por favor, aceite.
Os pais de Wang Xing chegaram para buscá-lo. Hoje em dia, nem precisavam mais ir à creche — sabiam que os filhos estariam na casa dela.
Saber que o filho tinha matado uma galinha poedeira — e depois ainda jantado a pobre — deixou os pais entre exasperados e divertidos.
— Guarda isso. Criança é assim mesmo — não foi por maldade, e a carne não foi desperdiçada. Todos comemos juntos.
Yang Yufen recusou firmemente o dinheiro.
Naquela noite, ela levou os dois meninos até a casa dos Hu. No fim do mês, Shen Xianjun ligou pra casa.
— Dá uma olhada nessa caligrafia, compadre.
Yang Yufen mostrou os papéis de Erbao. As crianças tinham corrido para o quarto de Hu Zhenghao para brincar.
— Muito caprichado! A pegada do Erbao melhorou muito!
Professor Wen elogiou imediatamente.
— Essas foram escritas com a mão direita. Depois que levou a bicada, ele trocou pra esquerda. Essa aqui — pedi pra ele escrever especialmente.
Yang Yufen apontou para o outro papel.
— Com a mão esquerda?
Professor Wen se inclinou, examinando os caracteres.
— As duas mãos produzem letras quase idênticas. Olha aqui — foi onde ele trocou. Um pouco trêmulo no começo, mas logo se adaptou.
— Será que a gente deve corrigir ele por usar a esquerda?
Yang Yufen se preocupou.
— De jeito nenhum. Na verdade, é melhor observar. Se ele for realmente ambidestro, temos que incentivar. Niannian também escrevia lindamente com as duas mãos.
— Ah, então puxou à Niannian! Faz sentido — o temperamento do Erbao é mais parecido com o dela.
A preocupação de Yang Yufen se desfez.
— É uma bênção, essa esperteza. Só lamento não saber ler. Se a Niannian estivesse aqui, as crianças teriam aprendido muito mais.
Ela temia ser um obstáculo para eles.
— Crianças como Niannian e Erbao costumam ter talento pra aprender, principalmente línguas. Notei que o Erbao presta muita atenção quando vê TV. Faça assim — depois da escola e do jantar, manda ele pra mim.
— Zhenghao já começou a ter aula de língua estrangeira. Quanto mais cedo, melhor, e estar imerso ajuda. Ensinar mais um não vai fazer diferença. Ouvindo, lendo, escrevendo — devagar, tudo ajuda.
Capítulo 97
— Certo, agradeço todo o esforço que você está fazendo, minha comadre.
Yang Yufen assentiu. Ela mesma não era muito de ensinar — quando criou os próprios filhos, deixou a educação por conta dos professores. Se aprontassem, apanhavam. Mas agora, quando se tratava dos netos, ela não tinha coragem nem de levantar a mão.
— Aquele menino que brinca bastante com o Dabao e o Erbao — o nome dele é Wang Xing, certo? Deixa ele participar também. Parece um garoto esperto, e estudar fica mais fácil quando a criança tem companhia.
O professor Wen pensou por um instante antes de falar. Yang Yufen já vinha pensando em como abordar os pais de Wang Xing, e agora isso já estava resolvido.
— Só fico preocupada com o Dabao — aquele menino não para quieto. E tem uma força… Foi ele quem matou a galinha hoje.
Yang Yufen não pôde deixar de pensar no Dabao de novo.
— Melhor ainda. O Zhenghao também não para quieto. Com os pequenos por perto, ele vai ter que dar bom exemplo. Vamos fazer os irmãos treinarem boxe militar juntos — estudo e preparo físico podem andar lado a lado.
O professor Wen não via isso como um problema.
— Parece ótimo!
Yang Yufen assentiu em concordância.
— Então nem precisa cozinhar em casa. Eu passo aí e preparo as refeições pras duas famílias. Já que você está ajudando a ensinar as crianças, seria perda de tempo ficar indo e voltando.
Falar em dinheiro entre suas famílias só serviria para esfriar a relação.
— Então a gente vai comer bem! O Velho Hu e os outros vivem elogiando sua comida.
— Desde que vocês gostem, está ótimo. Só fico com receio de que meu tempero não agrade.
As duas conversaram e riram até que o telefone tocou.
Era Hu Jun. Hu Zhenghao saiu correndo e respondeu ao pai com o mínimo de entusiasmo.
— Comporte-se em casa. Nada de aprontar todo dia.
— Entendi, eu...
Hu Zhenghao ia dizer que nunca causava problemas, mas aí lembrou da galinha de mais cedo — embora estivesse uma delícia.
— Se meteu em confusão de novo?
Hu Jun logo percebeu algo estranho.
— Não! Para de inventar coisa!
Hu Zhenghao quase se irritou.
— É bom mesmo. Continue com o boxe militar todo dia. Quando eu voltar, quero ver seu progresso.
Dito isso, Hu Jun saiu da linha, e Shen Xianjun tomou o lugar.
— Mãe, você podia fazer mais conservas e molho de pimenta pra gente? Mesmo que a gente não possa sair, você ainda pode mandar entregar.
— Sem tempo. A barraca de macarrão tem estado movimentada. Dabao, Erbao, venham falar com o pai de vocês.
Yang Yufen cortou o assunto e passou o telefone.
Sempre sonhando.
Shen Xianjun lançou um olhar ressentido para Hu Jun, que fingia estar interessado no teto.
Mesmo depois da ligação, Shen Xianjun ainda estava emburrado.
— Eu disse pra você pedir, mas me fez fazer isso no seu lugar.
— Quem mandou ser impopular? E além disso, eu não sou tão guloso quanto você. Faltam só mais três meses.
Hu Jun deu de ombros, despreocupado.
— Três meses! Três meses já é fim de ano!
Com o sol se pondo, Yang Yufen levou os gêmeos para casa.
— O que houve, Velho Hu?
O professor Wen percebeu a expressão carregada do marido ao vê-lo entrar.
— Dá uma olhada nisso — a revista saiu.
O reitor Hu se sentou pesadamente.
— Eu estava esperando com a Yufen a ligação das crianças mais cedo.
O professor Wen pegou a revista das mãos dele.
— Dados especiais de alto desempenho submarino — eles deram mais um passo. Logo depois de reduzirmos nossas Forças Armadas, acontece isso...
Só de ler o título, o coração dela apertou.
— Quando nos reunimos para ler isso hoje, todos ficaram atônitos. A diferença é gigantesca — a gente nem tinha alcançado a tecnologia anterior deles, e agora isso parece impossível.
A voz do reitor Hu transbordava frustração.
A sala ficou em silêncio. Hu Zhenghao espiou pela porta e rapidamente se retirou.
— Velho Hu...
O professor Wen não sabia o que dizer.
O reitor Hu passou a mão pelo rosto.
— Tá tudo bem. A gente não pode continuar sendo pressionado por eles. O aço é a base de tudo. Quanto mais avançadas as armas e equipamentos, maior a exigência na qualidade do aço. Se não conseguirmos alcançar em um ano, vamos levar cinco. Se não em cinco, então em dez. Ainda estou com saúde pra trabalhar!
Vendo o quanto o marido tinha emagrecido ultimamente, o professor Wen foi silenciosamente até a cozinha e trouxe a refeição.
— Homem é feito de ferro, e arroz é seu aço. Coma bem, que terá forças pra continuar pesquisando.
Só quando já estavam deitados na cama o professor Wen voltou a falar.
— Velho Hu, a educação começa cedo. Acho que deveríamos ampliar o currículo da creche do conjunto habitacional. Não dá pra deixar as crianças só brincando o dia inteiro.
— Ideia brilhante. Elas são o futuro da nação. O alto escalão já está planejando fundar uma Universidade Nacional de Defesa pra formar talentos de elite. Nossos filhos têm oportunidade de aprender mais — não podemos desperdiçar.
Apesar de o professor Wen trabalhar com educação e o reitor Hu com pesquisa, o casal sempre encontrava um ponto em comum.
— Vou pensar mais a respeito.
O professor Wen conferiu o horário e decidiu não se alongar. Com a carga horária mais leve de aulas agora, ela poderia começar pelos próprios netos.
Gui Xiang trouxe o marido e o filho de volta pra casa, e Qing ficou radiante.
— Vovô! Pai!
— Boa menina, Qing.
— Irmãzinha!
Ershun chamou Qing de “irmãzinha”, mas ela não se incomodou.
— Fiquem um pouco no pátio e tomem sol. Já está quase na hora do almoço — vamos abrir a loja em breve.
Gui Xiang acomodou os dois. Qing se ocupou trazendo água e lanches, até compartilhou os doces que tinha guardado com o pai.
Ao ver aquilo, Gui Xiang enxugou discretamente uma lágrima, apesar do sorriso no rosto.
Yang Yufen chegou logo depois, carregando uma cesta.
— Já estão de volta — e andando sozinhos. Que maravilha.
Ela avistou o pai de Ershun se movendo pelo pátio.
— Tudo isso só foi possível graças a você, irmã. Se não fosse sua ajuda esses dias, a Gui Xiang não teria dado conta.
— Que isso, não fala como se fôssemos estranhas. A vida ainda vai melhorar muito.
Yang Yufen fez um gesto de desdém com a mão.
— Tia!
Ershun correu até ela, todo empolgado. Yang Yufen, por instinto, tirou um doce do bolso.
— Obrigado, tia!
Ershun aceitou com alegria, mas não comeu. Em vez disso, quebrou ao meio e deu uma parte pra Qing.
— Você dividiu seu doce comigo, então eu divido o meu com você!
Os dois começaram a brincar juntos, enquanto o pai de Ershun os observava para evitar travessuras.
Depois de tanto tempo trabalhando juntas na loja, Gui Xiang e Yang Yufen se moviam como engrenagens sincronizadas. Deixaram tudo pronto rapidinho. Assim que abriram as portas, os clientes começaram a chegar.
— Tia, se eu chego tarde, fico sem. Não dá pra fazer mais? Eu adoro demais seu macarrão.
— Bem que eu queria, mas estamos com pouca gente agora. Ainda tenho que cuidar dos netos, não é fácil.
Yang Yufen respondeu com simpatia, trocando gentilezas. Assim que a correria começou, mal tiveram tempo de respirar por duas horas seguidas.
Qing até ajudou, lavando louça em um momento.
Ershun também contribuiu — quebrou uma tigela, mas fora isso, não causou problemas. O turno do almoço passou sem imprevistos.
Vendo aquilo tudo, Yang Yufen se perguntou se talvez pudessem mesmo estender o horário da loja.
— Hoje acabamos mais cedo, graças à ajuda da Qing e do Ershun com as louças. Deu uma folga pra gente. Na verdade, tem algo que eu queria conversar com você.
Capítulo 98
— O que foi?
Gui Xiang largou depressa o pano de prato.
— Notei que o pai do Ershun já se recuperou bem, e o Ershun também pode ajudar. Nossa loja fica parada da tarde até a noite. Depois de tanto tempo funcionando, muitos clientes perguntaram se não abriríamos também à noite. Acho que não devemos desperdiçar essa oportunidade.
Yang Yufen serviu-se de um copo de água.
— Então vamos vender macarrão também à noite?
Gui Xiang vinha pensando a mesma coisa, mas sozinha não dava conta.
— Sim, macarrão é simples. Quando esfriar, podemos preparar uma panela de sopa de carneiro e incluir macarrão com sopa de carneiro no cardápio. Acho que dá pra administrar. Vou cuidar do fornecimento da carne, mas talvez eu não consiga ficar nas noites. Vai depender de vocês — só fechar depois de vender tudo.
— Se der dinheiro, não nos importamos com o trabalho!
O pai de Ershun logo se prontificou.
— Eu e o Ershun podemos ajudar a lavar legumes e louça, limpar as mesas, varrer o chão — tranquilo!
Yang Yufen sorriu e assentiu. Avisaria os clientes mais tarde. Por ora, estava com pressa de voltar pra casa. Hoje era o primeiro dia em que seu neto iria à casa da família Hu para estudar, e Yang Yufen levava isso muito a sério. Queria ver se podia preparar alguma coisa.
— Chegou cedo, hein?
A professora Wen se surpreendeu ao vê-la.
— Terminei meus afazeres cedo e pensei em vir ver se precisava de ajuda com alguma coisa.
— Que coincidência! Justamente agora eu ia organizar um espaço para os estudos das crianças. Temos mesas e cadeiras, só precisamos liberar o espaço.
A professora Wen segurava o Bebêzinho nos braços.
— Deixa comigo. Só me diga onde mover as coisas. Poeira não faz bem pro pequeno.
Yang Yufen amarrou o avental, arregaçou as mangas e se preparou para o trabalho.
Depois que a professora Wen explicou como queria tudo, Yang Yufen assentiu.
— Tá certo. Afasta um pouco com o neném. Se precisar ajustar algo, é só falar.
Vendo a professora Wen sair com o bebê, Yang Yufen começou a trabalhar.
A área de estudos ficava perto da janela, com ótima luz natural — dava pra ver que a professora Wen pensou em tudo.
Até a TV foi reposicionada — visível da área de estudos, mas longe o bastante para não atrair os adultos, ficando perfeita para as crianças.
Mover os móveis exigia limpeza e organização, e também foi preciso limpar mesas e cadeiras. Quando tudo terminou, já estava quase na hora das crianças voltarem da escola.
— Sem você, acho que não teria conseguido arrumar isso sozinha.
A professora Wen ficou impressionada, embora já soubesse da competência de Yang Yufen.
As estantes estavam organizadas, as mesas e cadeiras em ordem, e havia até um tapete no chão para criar uma área de brincadeira para o Bebêzinho, o que facilitaria o ensino da professora.
— Isso tudo é coisa usada — herança do Dabao e do Erbao.
Yang Yufen olhou em volta, satisfeita por não faltar nada, e foi até a cozinha para começar o jantar.
A professora Wen acomodou o bebê no tapete e se juntou a ela — uma lavava, a outra cortava. Quando Hu Zhenghao chegou com os irmãos mais novos, a comida já estava pronta.
— Uau! Que cheiro bom!
O aroma os envolveu assim que entraram. Depois de um dia inteiro de escola e correria, os meninos estavam famintos.
— Lavem as mãos primeiro. A vovó Yang preparou o jantar.
A professora Wen trouxe os pratos, enquanto Yang Yufen terminava de limpar a panela.
— Vovó!
Dabao e Erbao correram e se agarraram às pernas de Yang Yufen.
— Vamos lá, lavem as mãos.
Yang Yufen serviu água para eles, que obedientemente lavaram as mãos na bacia.
Hu Zhenghao já havia posto as tigelas e os hashis.
— Em fila! Do mais novo pro mais velho. Erbao, segura firme.
Como o mais velho, Hu Zhenghao naturalmente assumiu o comando, e os três menores o seguiram, levando suas tigelas e se sentando em silêncio, esperando os adultos se juntarem.
— Zhenghao está mesmo assumindo o papel de irmão mais velho.
A professora Wen sorriu enquanto preparava a mamadeira para o Bebêzinho.
— O Zhenghao sempre foi um bom irmão mais velho.
Yang Yufen também sorriu. Ver as crianças saudáveis e felizes já era o bastante para ela.
Depois do jantar, Yang Yufen achou que a professora Wen iniciaria as lições das crianças, mas em vez disso, ela mandou que terminassem a lição de casa primeiro. Quem acabasse cedo, poderia brincar.
— Ainda não é hora. Se mexer depois de comer faz bem.
Percebendo a confusão de Yang Yufen, a professora Wen explicou.
Yang Yufen assentiu, embora sem saber exatamente o que esperavam.
— Já vai dar seis. Zhenghao, terminou a lição?
A pergunta repentina da professora Wen fez Hu Zhenghao, que coçava a cabeça frustrado, se animar de repente.
— Quase! Espera, vovó!
Ele rabiscava freneticamente. Dabao e Erbao ficaram curiosos, enquanto os olhos de Wang Xing brilhavam de empolgação.
— Vai começar o desenho animado!
Wang Xing contou animado ao Dabao e ao Erbao.
— Olha só como você entende das coisas! Que desenhos você já viu? Conta pra vovó Wen.
A professora Wen sorriu calorosamente para Wang Xing.
— Eu já vi Hailibu e Casquinha de Ovo!
Wang Xing respondeu orgulhoso.
— Muito bem! E sabe o que vai passar hoje?
Wang Xing balançou a cabeça. Estava brincando tanto com Dabao e Erbao ultimamente que fazia tempo que não ligava a TV.
— Não faço ideia.
— Não tem problema. Logo vai descobrir. Por que não conta para o Dabao e o Erbao como são os desenhos que você já viu?
O jeito gentil da professora Wen deixava todos à vontade.
Wang Xing assentiu animado e começou a descrever seus desenhos preferidos para os dois irmãos menores.
Hu Zhenghao ouvia com inveja, mas olhou para a lição e para o relógio. Respirou fundo e voltou a se concentrar — se não fizesse isso, não acabaria nunca.
Por quê? Por quê? Por que tem tanta lição hoje? Devia ter feito mais na escola em vez de brincar!
Finalmente, pouco antes das 18h30, ele terminou. A caligrafia não estava tão ruim — esperava que passasse pela inspeção da mãe.
Quando a TV foi ligada, uma música alegre começou a tocar, e a cena de abertura do desenho apareceu — um veado majestoso sobre uma montanha banhada pelo pôr do sol.
— É o Veado d'Água! Já vi esse!
Hu Zhenghao exclamou animado antes de cruzar o olhar com a avó.
— Deixa o Dabao e os outros assistirem primeiro.
Ele assentiu depressa, mas no fundo estava orgulhoso por já ter assistido antes dos irmãos mais novos.
Enquanto isso, o Bebêzinho, agora com uma área só para ele, engatinhava contente, explorando os brinquedos novos enquanto o desenho passava ao fundo.
— Você me salvou. Eu já estava preocupada com como cuidar do Bebêzinho agora que ela engatinha, mas você resolveu o problema.
Não precisar segurar o bebê o tempo todo era um alívio para a professora Wen, que não interferia enquanto a pequena explorava à vontade.
— Lá no interior, a gente carrega o bebê nas costas ou deixa ele brincar no chão. No campo tem menos coisas pra esbarrar. Na cidade é diferente, então a gente se vira com o que tem.
Yang Yufen não imaginava que aquelas coisas guardadas seriam tão úteis tão cedo.
Capítulo 99
Quando o desenho acabou, as crianças ficaram relutantes em sair.
— Ué, por que os gêmeos eram tão malvados? Dabao e Erbao são muito mais legais! — exclamou Wang Xing, indignado.
— Pelo menos o veado d’água usou magia pra dar uma lição neles!
— Vocês ficaram com raiva? — perguntou a professora Wen com delicadeza, e as crianças assentiram todas de uma vez.
— O veado d’água é incrível! — disseram em coro.
— Pois se o veado d’água é tão poderoso assim, vocês não acham que deveriam tentar ser como ele também?
A professora Wen guiava os pequenos com paciência, enquanto Yang Yufen assistia, confusa. Será mesmo que dá pra aprender alguma coisa com um desenho animado?
E aquilo não era pra ser aula de língua estrangeira? Por que estavam falando em armadilhas agora? Parecia tudo tão aleatório.
Yang Yufen não entendia, mas não disse nada, só ficou ouvindo — até que começou a ficar sonolenta. Estava claro que não conseguia acompanhar o ritmo das crianças.
Os pequenos tagarelavam animados, debatendo o desenho até às sete horas, quando começou o noticiário da noite. Todos assistiram atentos.
Curiosamente, Yang Yufen não sentiu mais sono durante o jornal.
Quando o programa terminou, ela achou que o dia tinha acabado, mas a professora Wen chamou as crianças para irem lá fora.
— Vamos dar uma voltinha com o bebê.
Os pequenos pularam na hora, sem demonstrar nenhum cansaço.
— Viram os soldados no jornal? Não foram incríveis, resgatando as pessoas durante o desastre?
Enquanto caminhavam, a professora Wen continuava perguntando sobre o que tinham visto nas notícias.
Em meio às conversas, surgiram palavras em línguas estrangeiras que Yang Yufen não compreendia. Quando se deu conta, já tinham passado mais de trinta minutos caminhando de volta ao redor do quarteirão.
Zhou Ang e o diretor Hu já haviam voltado do trabalho.
Yang Yufen levou os gêmeos pra casa, e no caminho, os dois apontavam para as casas e árvores, repetindo as palavras que a professora Wen havia ensinado.
— Então… aprender essa “língua de passarinho” não é tão difícil quanto eu pensava? — murmurou Yang Yufen para si mesma, achando até que tinha decorado algumas palavras.
Naquela noite, ela sonhou que discutia com um estrangeiro enquanto vendia coisas, e acordou toda agitada.
Jogou água fria no rosto, preparou o café da manhã e foi para o quintal alimentar as galinhas e regar os legumes.
— Dinda, aqui estão os exercícios que preparei. Faz os pequenos estudarem direitinho. Vai ter uma prova essa semana — se ela passar, já pode se matricular — disse Xiao Fang.
— Ah, obrigada, Xiao Fang. Você tem se esforçado tanto.
Yang Yufen pegou os papéis rapidamente.
— Que nada. Já estou indo pra escola.
— Tá bom, vai com cuidado.
O pai de Wang Xing deixou o filho na porta da casa de Yang Yufen com a bicicleta, e o garoto entrou confiante.
— Vovó Yang, cheguei!
— Veio na hora certa, vamos comer.
O tempo passou num piscar de olhos. Enquanto a creche permanecia aberta, os alunos do ensino fundamental estavam de férias.
Talvez por causa do feriado, o movimento na loja de macarrão cresceu muito, com várias famílias indo jantar lá.
Uma tigela grande de macarrão, paga com cupons extras de ração, era o suficiente para alimentar toda a família — e ninguém precisava lavar a louça depois.
Apesar do lucro por porção ser menor, o aumento das vendas mantinha a receita diária estável.
Como o pai de Ershun havia sugerido, ninguém ali tinha medo de trabalhar. Ele mesmo começou a fazer pães achatados cobertos de gergelim, que vendiam bem pela manhã e combinavam perfeitamente com o macarrão no almoço. Crocantes por fora e macios por dentro, tornaram-se um dos favoritos dos clientes.
Yang Yufen não pegou nem um centavo da venda dos pães — afinal, não foi ideia dela, nem ocupava o espaço dela. E ainda ajudava o movimento geral da loja.
Para as crianças, férias deviam ser motivo de alegria — a não ser quando elas fugiam pra brincar na água.
Yang Yufen sacou uma vara de vime e deu uma bela surra no Dabao e no Erbao.
Seu coração quase parou quando alguém apareceu correndo com a notícia.
— Tia Yang! Vem rápido! As crianças caíram na água — um grupo inteiro, incluindo seu Dabao e seu Erbao! Tem uma criança se afogando!
Yang Yufen correu o mais rápido que pôde, e seus olhos logo encontraram Dabao, que estava sendo carregado pelo Comandante Liao.
Dabao foi colocado no chão, e Erbao também estava lá — só era pequeno demais pra ser visto no meio da criançada.
Yang Yufen bateu o olho — os dois molhados, sem calça — e então olhou para o rio. Ninguém mais submerso. Uma criança estava deitada no chão, enquanto alguém fazia massagem cardíaca.
Sem hesitar, ela puxou os gêmeos para perto — sem bronca, foi direto pra vara de vime.
Zás! Zás! Zás!
As palmadas vieram tão rápido que os meninos nem conseguiram chorar de imediato.
Dabao foi o primeiro a berrar, e logo depois foi a vez de Erbao.
— Uááá! Uááá!
Os gritos deles deram início a uma reação em cadeia — outros pais começaram a agir, arrancando cintos ou distribuindo palmadas. A beira do rio ecoava com o som da correção.
— Ele está vivo! Está vivo!
A criança no chão tossiu água de repente, e todos os adultos soltaram um suspiro de alívio.
Os ombros de Yang Yufen relaxaram.
Zás! Zás!
Antes tarde do que nunca — a mãe do menino, que estava ajoelhada ao lado dele chorando, o abraçou forte e deu duas palmadas bem dadas na traseira.
Mais um choro estridente se juntou ao coro.
Os menores apanhavam, enquanto os maiores — entre três e treze anos — ficavam de cabeça baixa. Quase metade do bairro tinha se reunido.
A professora Wen chegou correndo, ofegante, com o bebê nos braços.
— Devagar — me dá ele aqui.
Yang Yufen estendeu os braços para pegar a criança.
— Tá bom, mas me passa essa vara de vime.
A professora Wen entregou o bebê, mas ficou de olho na vara na mão de Yang Yufen.
Yang Yufen a entregou.
Hu Zhenghao, que acabara de levar uma surra da avó, não ousava chorar.
— Vai pra casa escrever uma redação de reflexão — não menos que 800 palavras.
Aí sim Hu Zhenghao caiu no choro. A avó nunca tinha batido nele — sempre fora tão gentil! E agora, por influência da vovó Yang, além de apanhar, ainda teria que escrever uma redação! Oitocentas palavras!
A professora Wen, embora raramente ficasse tão brava, ignorou as marcas vermelhas na pele das crianças, mesmo com o coração apertado.
— Sim, vovó. Eu sei que errei.
Enxugando o nariz, Hu Zhenghao pegou roupas secas para Dabao e Erbao e ajudou os dois a se vestirem.
Wang Xing foi o único que escapou do castigo — tinha medo de água desde que quase se afogou quando pequeno, então ficou na margem. Também foi o primeiro a notar que uma criança estava se afogando.
Quando os outros, imprudentemente, nadaram em direção ao fundo, feito uma corrente de “irmãos cabaça tentando salvar o vovô”, foi Wang Xing quem correu pra pedir ajuda a tempo.
O incidente causou um grande alvoroço, e Yang Yufen não voltou à loja de macarrão por três dias.
— As crianças erraram, mas os adultos também. No calor, todo mundo quer se refrescar — crianças e adultos. Talvez devêssemos construir uma piscina — sugeriu o Comandante Liao ao diretor Hu naquela noite.
Em vez de só alertar os pequenos para ficarem longe da água perigosa, eles precisavam de um lugar seguro pra nadar — afinal, também era uma forma saudável de se exercitar. Não dava pra simplesmente proibir.
Capítulo 100
— Podemos considerar essa questão. Vamos anunciar amanhã e ver o que todos acham. Se mais da metade concordar, então construiremos.
A decisão foi recebida com aprovação unânime. Um local foi escolhido, e todos se ofereceram para ajudar. Até as crianças reconheceram seu erro.
Com muitas mãos trabalhando, a piscina foi concluída em apenas cinco dias. Embora fosse ao ar livre, tanto adultos quanto crianças ficaram encantados. Um supervisor dedicado foi designado para garantir a segurança, resolvendo qualquer preocupação.
No entanto, Hu Zhenghao e os outros acabaram recebendo mais dever de casa por causa do incidente. Hu Zhenghao não ousava reclamar — afinal, tinha sido ele quem levara os irmãos menores para brincar na água. Levou uma surra da avó e outra da mãe. Estava apenas aliviado que o pai não estivesse em casa — teria sido ainda pior.
Do outro lado do mar...
— Estes são os fundamentos. Memorize tudo.
Um caderno grosso foi colocado diante de Qin Nian.
— Professor, isso não tem relação com o que estou estudando no momento...
Antes que pudesse terminar, o professor ergueu a mão para interrompê-la.
— Esse material não está disponível em nosso país. Você consegue memorizar ou não?
O olhar do professor penetrou em Qin Nian, a urgência mal disfarçada.
— Consigo.
Qin Nian assentiu. Que diferença fazia se não tinha estudado aquilo antes ou se não era da sua área? Estava ali para aprender — como poderia recuar diante de mais conhecimento?
— Ótimo. Não mostre isso a ninguém, e não discuta com os outros — nem mesmo com seu grupo de estudos.
Com isso, o professor se afastou. Qin Nian guardou o caderno discretamente, enquanto os outros alunos chegavam pouco a pouco, mergulhando nos estudos e experimentos.
— Velho Hu, percebi que a capacidade de aprendizado das crianças é impressionante. Mesmo que não entendam tudo de imediato, ao imitar e depois aprofundar a compreensão pela prática, elas assimilam mais rápido que os adultos.
A professora Wen compartilhava com o marido suas observações e métodos ao ensinar os pequenos.
— Hu Zhenghao e o Bebezinho têm temperamentos parecidos — agitados, mas com raciocínio rápido, especialmente quando se trata de tarefas práticas. Os outros dois mostram um talento excepcional para linguagem e números. São igualmente bons em Sudoku, e se Hu Zhenghao não fosse alguns anos mais velho, não teria chance contra eles.
— Mentes tão brilhantes não podem ser desperdiçadas.
O diretor Hu começou a refletir.
— Assim que o Bebezinho tiver idade para a creche, pretendo levar os pequenos para assistir aulas na universidade com regularidade.
— Boa ideia. Já conversou com a Yang Yufen?
— Ela se importa com a educação das crianças ainda mais do que você. Embora não tenha formação acadêmica, sua mente aberta é extraordinária.
Yang Yufen ia todos os dias cozinhar para as crianças — tarefa que alguns poderiam ver como degradante, como se fosse uma criada.
Mas Yang Yufen nunca pensou assim. Sem qualquer ressentimento, a atmosfera era tão harmoniosa que a professora Wen achava mais confortável que o próprio casamento. Yang Yufen sempre aparecia no momento certo para cuidar das pequenas tarefas — como pegar o Bebezinho quando ele acordava ou precisava ser trocado, até mesmo alimentá-lo enquanto a professora ensinava, tudo de forma tão natural que ela mal percebia.
O tempo passou rápido. Quando Hu Jun e Shen Xianjun ligaram novamente, nem Yang Yufen nem a professora Wen se lembraram — estavam ocupadas demais assistindo ao jornal com as crianças.
— Vovó, o telefone!
O grito de Hu Zhenghao tirou a professora Wen do transe, e ela correu para atender.
— Filho.
— Hu Jun, está tudo bem aqui em casa. Não se preocupe.
A atenção da professora Wen ainda estava no noticiário, já pensando em como discutir o conteúdo com os pequenos depois.
Yang Yufen pegou o telefone em seguida.
— Da próxima vez, ligue depois do jornal. Mais alguma coisa?
O tom foi direto. Shen Xianjun ficou muda, atônita, antes que o som do desligar cortasse a linha. As crianças nem sabiam quem tinha ligado.
— Desligaram? Nem consegui ouvir a voz dos meninos.
Shen Xianjun olhava para o telefone, incrédula.
— O que a Yang Yufen disse? — perguntou Hu Jun.
— Minha mãe disse pra ligar depois do jornal da próxima vez.
A ficha caiu — tinham ligado na hora errada.
Mas a ligação tinha terminado, e não dava pra ligar de novo. Tiveram que deixar pra lá.
— Você não vai ligar? — Shen Xianjun se virou para Liao Yuanjie.
— Meu pai não faz questão de atender, e eu também não faço questão de ligar.
Liao Yuanjie deu de ombros, já acostumado. Ainda assim, ver o que Shen Xianjun passava lhe dava uma estranha sensação de equilíbrio.
— Vamos logo. Nada de enrolar. Em formação, rápido! — gritou Hu Jun.
As aulas recomeçaram, e Hu Zhenghao estava um pouco relutante. Tinha feito todos os deveres de uma vez só durante o recesso e aproveitou as férias como nunca — até ajudou Wang Xing a superar o medo de água.
Agora, com a mochila nas costas, Hu Zhenghao olhava os colegas correndo pra terminar a lição de casa e não resistiu: estufou o peito e puxou o dever completo da mochila.
— Tsc, tsc... vocês ainda não terminaram? O professor já vai chegar.
— Você terminou? Mas passou as férias brincando também! — seu colega de carteira estava incrédulo.
— Terminei faz tempo.
Hu Zhenghao abanou o dever até que o outro o arrancou das suas mãos.
— Empresta aí, irmão! Te dou minha bolinha de gude favorita — socorro de emergência!
Hu Zhenghao sorriu. Talvez escola nem fosse tão ruim assim.
— Hu Zhenghao, venha me ajudar a carregar os livros novos.
Assustado com o chamado repentino, ele se levantou depressa ao perceber que era pra ajudar a professora.
— Vamos acrescentar uma nova matéria este semestre. Um novo professor vai chegar em breve — certifique-se de que a turma o receba com entusiasmo, entendeu?
— Entendido!
— Ótimo. Confio em você. Só esses livros aqui.
Hu Zhenghao não pensou muito até ver os títulos em letras grandes na capa: tudo em inglês.
Nem consegui escapar das aulas da minha avó em casa, e agora a escola também?
Yang Yufen observava o fluxo constante de clientes no movimento da manhã da loja de macarrão. Mesmo tão cedo, o negócio ia de vento em popa.
— Yang Yufen, chegou cedo hoje.
— Lá em casa tá tranquilo, então vim logo. Cadê a Ershun?
— O pai dela levou pro hospital. Ele é quem cuida das sessões de terapia agora. Não sei se é influência da Qing, mas a mente da Ershun tá ficando mais esperta.
Gui Xiang não conseguia parar de sorrir.
— A Qing tá na escola já, né?
— Tá sim, foi pra aula.
Enquanto conversavam, o estoque da manhã já quase tinha se esgotado.
No hospital, o pai de Ershun repetia a mesma coisa.
— É totalmente possível. Estudar estimula o cérebro, promove o desenvolvimento. A memória e cognição dela estavam paradas no nível de uma criança de oito ou nove anos, mas com os estudos ela tem progredido. Continuem assim.
Lágrimas encheram os olhos do pai de Ershun. Sempre haviam menosprezado sua filha, dizendo que o futuro da família dependia do filho mais velho. Mas quem disse que meninas são menos capazes?
Se não fosse pela paciência e dedicação da neta, eles nunca teriam visto essa melhora.
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