Capítulo 91
Após ser transferida para o Terceiro Hospital, Gui Xiang achou muito mais fácil cuidar da família. Aqueles que antes duvidavam dela agora entendiam a gravidade da situação de sua família. Os que sentiam inveja já não tinham mais motivo — como invejar um lar que mal consegue sustentar não um, mas dois pacientes, um buraco financeiro sem fim?
Mesmo assim, Gui Xiang continuava a vender café da manhã com um sorriso alegre todos os dias, sem jamais se lamentar. Eram as enfermeiras e as famílias dos outros pacientes que espalhavam a história de suas dificuldades, tendo testemunhado tudo de perto.
O tempo passou devagar. Em três dias, Qin Nian também partiria.
— Nian Nian, pense onde esconder isso — ou costura nas roupas ou mantenha perto do corpo. Sua mãe sugere esconder uma parte com você e guardar o resto em outro lugar quando chegar lá.
Yang Yufen tirou as barras de ouro e as pequenas bolinhas de ouro.
— Mãe, você trocou todo o dinheiro por barras de ouro? Espera — nossa família não tinha tanto dinheiro assim. Mãe, você...?
Qin Nian fitava os objetos dentro do saquinho de pano vermelho, sentindo o peso deles em vários sentidos.
— É o que você me deu, a mesada do Xianjun, o que sobrou da tia Gui Xiang e o aluguel — só deu para isso. Viu? As coisas que você comprou para mim ainda estão aqui.
Yang Yufen ergueu a mão levemente.
— Rápido, pense em como esconder. Se algo acontecer, lembre-se: dinheiro pode ser perdido, mas não a sua vida. Isso aqui é terra que eu mesma cavei, a mais limpa que achei. Se você sentir saudade de casa ou tiver problemas para se adaptar, mistura na água e bebe. Tomara que você não precise, mas guarde como lembrança. É um remédio antigo.
Yang Yufen repetiu as instruções antes de sair.
Da Bao e Er Bao sabiam que a mãe estava indo embora em breve e estavam grudados em Qin Nian nos últimos dias.
Shen Xianjun ligou para casa.
— Papai!
As duas crianças se amontoaram ao redor do telefone.
— Ei, vocês sentiram minha falta, né? Sua mãe também vai sair para a escola, mas vai ligar para vocês, igual eu. Comportem-se e escutem a vovó, combinado?
Shen Xianjun nunca sentira tanta saudade de casa.
— Vamos!
Ouvindo ao lado, Qin Nian sentiu calor no coração. Talvez esse homem não fosse tão ruim assim.
Talvez por saber que os pais ligariam, o humor de Da Bao e Er Bao melhorou. Com Hu Zhenghao inventando novas maneiras de entretê-los, as crianças finalmente pararam de se sentir tão tristes.
No dia em que Qin Nian partiu, Yang Yufen segurava os dois enquanto passavam o dia observando aviões no céu.
— A mamãe está naquele avião?
Er Bao apontou para um avião que passava. Demorou até outro aparecer, mas a criança não parecia se importar de ficar com o pescoço esticado.
A tristeza das crianças passa rápido. Elas lembram, mas com a família por perto, não ficam remoendo como os adultos.
— Vovó! Vovó! Eu quero uvas!
As duas crianças ficaram fixas nas videiras do quintal da tia Wang. As uvas já tinham o tamanho de dedinhos, estavam rechonchudas e com um verde vibrante.
Junto dos gêmeos, um grupo de outras crianças travessas se reuniu.
Hoje, a escola de Hu Zhenghao e Yaoyao organizou um piquenique, então só ficaram as crianças menores no condomínio.
— Ainda não estão maduras. Quando estiverem, a tia Wang vai pegar para vocês, tá?
A tia Wang ria enquanto as crianças corriam de uma casa para outra.
— Tia Wang, eu quero agora!
Da Bao abraçou a perna dela e a balançou.
— Ei, devagar! Não derruba a tia Wang.
Yang Yufen apareceu do lado de casa.
— Essas crianças só aprendem na marra. Se continuarem importunando, vão acabar tentando subir nas videiras.
Ela colheu algumas das uvas mais densas e distribuiu.
— Aqui, já que pediram. Uma para cada um. Depois disso, comportem-se.
A tia Wang não conseguiu segurar a risada.
— Você só precisa conversar com eles. Parece que não tem medo deles sofrerem um pouco.
— Por que teria? Se eles não aprenderem do jeito difícil, vão achar que tudo é tesouro — ou que os adultos gostam de mentir para eles.
Yang Yufen também riu.
— Eca! Que azeda!
— Que nojo! É horrível!
As crianças fizeram caretas, se acalmando na hora.
— Vai brincar com a bola de bambu.
Yang Yufen pegou uma bola trançada de bambu e logo as crianças estavam chutando barulhentas.
— Você é ótima com eles!
— Criança para de ser incômodo quando está ocupada.
Yang Yufen sorriu. Na verdade, com as crianças na creche na maior parte dos dias, todos estavam acostumados com elas. As professoras as mantinham ocupadas — só esse único dia da semana era particularmente cansativo.
Yang Yufen criava elas de maneira solta — deixava correrem por aí, desde que ficassem dentro do condomínio, não havia perigo.
Antes de Qin Nian partir, a família de Wang Aimin também tinha se mudado. Wang Aimin cometera um erro grave no trabalho e, por alguma razão, a mãe Wang escreveu uma carta acusando Qin Nian e o diretor Hu.
Quando as autoridades investigaram, logo descobriram a verdade. A mãe Wang havia causado desunião interna, e Wang Aimin foi removido permanentemente do instituto de pesquisa.
Com uma diferença de fuso horário de mais de doze horas, do outro lado do oceano, Qin Nian não esperava ficar doente logo ao chegar.
Não era só ela — todos do grupo haviam adoecido. Buscar tratamento médico ali era muito mais difícil do que ela imaginava.
Discriminação racial, comida estranha — tudo era uma luta.
— Se ao menos você tivesse trazido um pouco de terra de casa.
Um veterano que estava lá há um ano falou.
Qin Nian lembrou de repente do que a sogra havia embalado para ela e logo pegou a terrinha.
— Trouxe.
— Que ótimo! Pode parecer superstição, mas funciona. Vou ferver água — todo mundo deve beber um pouco.
Seja efeito psicológico ou não, depois de beber a água, todos se sentiram visivelmente melhor.
Qin Nian embalou com cuidado a terra restante e guardou.
Estudar era exaustivo. Os professores ali não explicavam com a paciência dos de casa, nem diminuíam o ritmo para quem não era nativo.
Não havia vantagens especiais. Mesmo alguém tão brilhante como Qin Nian precisava virar a noite, passando os dias livres enterrada na biblioteca. Os alunos se juntavam em grupos para ajudar e motivar uns aos outros.
De manhã cedo, Yang Yufen levou as duas crianças direto para a sala de telefone do instituto. A professora Wen e o diretor Hu já estavam lá.
— Calculando a diferença de horário, deve ser por volta de agora. Mas não se preocupem — mesmo aí, para ligar, tem fila.
O diretor Hu os tranquilizou.
— Triiiim—
O tom agudo do telefone chamou a atenção de todos. Depois do segundo toque, o diretor Hu atendeu.
— Alô?
— Professora, sou eu — Nian Nian.
A voz de Qin Nian chegou pelo telefone.
Depois de um dia inteiro de aulas, correndo até a embaixada mesmo depois de terem dificultado tudo o dia todo — só o pensamento de ligar para casa naquela noite animava seu ânimo.
— Mamãe!
— Mamãe!
Da Bao e Er Bao gritaram juntos.
Apesar da linha estar ruim, as crianças reconheceram a voz imediatamente e gritaram de alegria.
— Da Bao! Er Bao!
Qin Nian quase chorou, rapidamente tampando a boca e respirando fundo.
Capítulo 92
— Da Bao, Er Bao, comportem-se.
— Mamãe, sentimos sua falta! Eu cresci de novo! — Da Bao relatou animado.
— Mamãe, eu também sinto sua falta. — A voz de Er Bao veio logo em seguida.
— Tudo bem, vocês vão escutar a vovó, e a mamãe também sente falta de vocês.
— Nian Nian, cuide bem de si aí e não se preocupe com as crianças — chamou Yang Yufen.
— Mãe, eu sei. Estou indo bem aqui, e todo mundo me trata muito bem.
O tempo da ligação era curto, então Qin Nian trocou mais algumas palavras com o diretor Hu e a professora Wen antes do fim da chamada.
— Vamos lá, vovó vai levar vocês para a escola. Na próxima vez a gente fala com a mamãe, tá?
— Tá! — Da Bao e Er Bao responderam obedientes.
A professora Wen caminhava ao lado de Yang Yufen, observando as crianças entrarem na creche antes de falar com ela.
— Yufen, nossa região vai cancelar oficialmente o sistema obrigatório de compra de porcos e passar para um modelo de compra e venda orientada. O preço da carne vai subir, com certeza, mas comprar carne vai ficar muito mais fácil — você não vai precisar mais dos talões de racionamento e vai ter mais carne de porco disponível.
— Que notícia boa! É normal ficar um pouco mais caro sem os talões. Nossa vida está melhorando aos poucos — disse Yang Yufen alegre, decidida a contar a novidade para Gui Xiang depois.
— Eu pretendo me aposentar este ano. Já reduzi minha carga de aulas e, se você ficar muito ocupada com Da Bao e Er Bao, pode deixar eles ficarem lá em casa. Eu vou cuidar deles — a professora Wen sugeriu de repente.
— O quê? Professores podem se aposentar? Não deveriam valer mais conforme vão ficando mais velhos? Se fosse na minha cidade, disputariam você! — Yang Yufen exclamou surpresa.
A professora Wen riu da reação dela.
— Não, ainda vou dar algumas aulas de vez em quando. Só que não vou mais ter uma agenda tão cheia. Estou me afastando do cargo de vice-diretora, mas vou continuar ensinando.
— Ah, entendi. Eu estava me perguntando — professores bons são tão difíceis de encontrar, e você ainda é tão jovem — Yang Yufen assentiu com compreensão.
— Vou assumir mais aulas quando meu filho mais novo estiver na idade de entrar na creche — disse a professora Wen pensativa. Ela havia refletido bem. Com menos aulas e menos trabalho administrativo, finalmente poderia se dedicar a escrever e organizar seu conhecimento acumulado.
Depois de se despedir da professora Wen, Yang Yufen seguiu para visitar Gui Xiang. Assim que saiu da portaria, voltou de repente.
— Comandante do Exército Liao?
— Já me aposentei. Não precisa mais me chamar de comandante. Pode me chamar de Velho Liao, igual o Velho Hu — respondeu ele sorrindo.
— Você se aposentou e veio parar aqui? — Yang Yufen ficou pasma. Ela tinha visto as notícias — houve um grande corte militar. Nunca imaginou que alguém como o comandante Liao fosse afetado. Seu filho devia ter uma sorte incrível.
— Isso é ótimo. Dá o que fazer. Quando as pessoas ficam ociosas, viram madeira podre. Além disso, o instituto de pesquisa lida com assuntos confidenciais — precisa de proteção adequada — disse o comandante Liao, claramente despreocupado com a aposentadoria.
— Então, você devia vir aqui em casa para um almoço qualquer dia desses. As crianças já estão na creche agora, e eu tenho coisa para fazer. A gente conversa outra hora — disse Yang Yufen, sem insistir.
— Pode deixar, pode deixar — acenou o comandante Liao.
Desde que foi transferida para o Terceiro Hospital, Gui Xiang não estava tão atarefada quanto antes. Ela não precisava mais ir de bicicleta ao hospital militar, tornando o trajeto muito mais fácil.
— Yufen, você chegou. Eu revolvi a terra de novo e estou planejando plantar mais verduras. Também estou pensando em criar umas galinhas igual você.
— Vovó Yang!
Qing viu Yang Yufen chamando alguém e rapidamente trouxe uma cadeira.
— Ah, boa menina, como estão as coisas?
Yang Yufen sentou-se.
— Com a Qing aqui, tenho economizado muito trabalho. Dá para ganhar quarenta a cinquenta por dia, e depois de descontar o custo da farinha e da carne, ainda sobra uns vinte a trinta yuans por dia.
— Mas não podemos deixar a Qing ficar em casa sem ir para a escola. Quando o avô e o pai voltarem do hospital, devemos mandá-la para a escola.
Yang Yufen sentiu uma pontada de simpatia ao ver o comportamento exemplar de Qing.
— É o que pretendo fazer.
Gui Xiang também havia pensado nisso. Agora que tem uma renda estável, decidiu não se apressar para pagar dívidas, mas juntar dinheiro primeiro para mandar Qing para a escola.
— Espere um momento.
Gui Xiang entrou e voltou rápido com um caderno e um monte de dinheiro.
— Perguntei por aí, alugar um quintal assim custa bem caro. Tenho que te dar isso, e você também deve ter uma parte da venda dos pãezinhos, além do dinheiro dos tickets da carne e da compra do açúcar.
Gui Xiang era mais alfabetizada que Yang Yufen e conseguia fazer contas simples. Em pouco tempo, tirou oitenta e seis yuans e entregou para Yang Yufen.
— Empréstimo é empréstimo, essas coisas não podem se misturar.
— Tudo bem, deixa eu contar uma coisa boa. Agora podemos comprar carne sem ticket.
Yang Yufen guardou o dinheiro no bolso.
— Sério? Que ótimo!
Gui Xiang não conseguiu esconder a empolgação.
— Sim, vamos dividir os ganhos da barraca de pãezinhos desta vez. Agora você terá tempo livre ao meio-dia. Eu queria abrir uma loja de macarrão, mas abrir o dia inteiro é impossível, então vamos abrir meio período. Assim, a loja não fica ociosa, ficamos ocupados só na hora do almoço. Não atrapalha a manhã, e eu ainda posso voltar para buscar e cuidar das crianças à tarde.
As crianças foram se adaptando aos dias sem os pais em casa, e Yang Yufen realmente não conseguia ficar parada.
A sensação de não ter dinheiro na mão é inquietante.
— Tá bom.
Gui Xiang também queria ganhar um pouco mais. Agora estava muito mais conveniente do que antes; não precisavam mais de cartas de apresentação. Bastava ter um lugar para ficar fora e registrar os dados.
As duas conversaram e decidiram não complicar. Irão preparar alguns pratos cozidos, e como a carne pode ser comprada sem ticket, poderiam negociar e encomendar na cooperativa de abastecimento!
Verduras, macarrão com ovo, macarrão simples e algumas mesas a mais. Não precisavam montar a loja logo em frente ao hospital pela manhã. Avisando as pessoas com antecedência, quando a loja estiver pronta, elas naturalmente virão comprar.
Depois de conversar um pouco, Yang Yufen saiu e olhou instintivamente para a portaria. Não vendo o comandante Liao, não prestou muita atenção.
Cozinhando e buscando as crianças, Yang Yufen contou seu plano de abrir uma loja de macarrão para a professora Wen.
— Seu timing está mesmo perfeito. Quando as crianças saírem da escola, vou pedir para o Zhenghao trazê-las para casa. Como você vai abrir a loja de macarrão, faça todo o trâmite necessário. Não é igual vender batata-doce assada na barraca — explicou a professora Wen, detalhando onde ir, quais documentos levar e quais certificados precisava. Yang Yufen assentiu várias vezes.
— A gente realmente precisa fazer aula de língua estrangeira?
Shen Xianjun congelou por um momento.
— Você achou que isso era férias? Vai logo.
Hu Jun não perdoou e deu um chute rápido em Shen Xianjun. O cara tinha comido escondido as suas conservas, que ele guardava para ir comendo aos poucos.
Shen Xianjun desviou, deixando um risco na calça. Ele limpou e foi para a aula obediente.
Línguas estrangeiras, informática, mecânica, notícias internacionais — tudo era coberto. Até o treino físico não era poupado, e nada disso era menos duro do que o treinamento tribal que ele tinha feito antes.
Shen Xianjun, que sabia dirigir, não precisava só demonstrar a habilidade, mas também aprender a consertar veículos — e não qualquer veículo militar comum.
Depois de um dia longo e cansativo de treino, ele finalmente voltou ao dormitório, só para descobrir que não escaparia do olhar atento do cunhado. Foi obrigado a continuar estudando.
Sua consciência ideológica precisava melhorar, e ele tinha que estar afiado e familiarizado com os assuntos internacionais.
Capítulo 93
Hu Jun foi chamado para uma reunião, e sua expressão ficou séria ao ouvir o conteúdo.
O objetivo do encontro era se adaptar à mudança estratégica na filosofia de desenvolvimento do PLA e formar oficiais superiores completos. Os superiores decidiram fundir a Academia Militar, a Academia Política e a Academia de Logística para criar a Universidade de Defesa Nacional.
Esse treinamento na escola do Partido também servia como preparação para essa transição.
Não podiam mais depender de métodos ultrapassados ou ficar estagnados. O aprendizado contínuo era essencial — quem não acompanhasse ficaria para trás, e a pressão era enorme.
Para alguém como Hu Jun, vindo de uma família educada, a adaptação era tranquila. Mas muitos jovens oficiais não tinham suas vantagens.
O olhar de Hu Jun caiu sobre Shen Xianjun. Aquele cara teve uma sorte enorme. Até Liao Yuanjie estava com dificuldades, mas Shen Xianjun, por estar adiantado, se adaptava com mais facilidade.
Qin Nian logo chamou a atenção do professor por seu desempenho acadêmico.
Esse professor, uma figura do país deles, era tão rigoroso que até os alunos locais tinham medo dele.
Na aula, ele só explicava uma vez — quem não entendesse, era simplesmente considerado incompetente.
Ainda assim, seu conhecimento era inquestionável, conferindo-lhe autoridade absoluta.
No começo, alguns locais tentaram se aproveitar de Qin Nian, vendo nela uma garota bonita e vulnerável. Embora ela evitasse suas investidas repetidamente, as más intenções persistiam.
— Você, venha ajudar no meu laboratório — o professor declarou, apontando para ela na frente de todos. Suas palavras imediatamente afastaram os que tinham segundas intenções.
Pop! Pop! Pop!
Fogos de artifício estouravam anunciando a abertura da Casa de Macarrão do Velho Yang!
Com o calor do verão, Yang Yufen tinha incluído um prato de macarrão gelado no cardápio — pepinos frescos ralados e um molho de tomate ácido, temperados para uma refeição rápida e refrescante.
Ela tinha adicionado principalmente porque Da Bao e Er Bao adoravam.
— Tia Yang, um prato de macarrão gelado, por favor!
— Já vai! — Yang Yufen serviu o macarrão na tigela.
— Quer pimenta?
— Pouca, por favor.
— Aqui está, Pequeno Zhang! Quanto tempo!
Só ao colocar a tigela no balcão Yang Yufen reconheceu o rosto dele.
— Faz tempo que não venho aqui, tia. Ouvi os fogos e vim dar uma conferida. Vi você e quis passar para apoiar.
O Pequeno Zhang sorriu.
— Então prova e me diz o que achou.
Yang Yufen tinha programado os fogos de artifício para as 11h28, dando sorte.
Curiosos começaram a chegar devagar.
— Macarrão simples: 25 centavos. Macarrão gelado: 30 centavos. Macarrão com ovo: 40 centavos. Cobertura de carne: 50 centavos. Um liang de macarrão precisa de um liang de cupom de grãos, dois liang, dois.
Os preços eram razoáveis, e macarrão extra custava só cupons a mais, então os clientes entravam felizes para comer.
— Tia Yang, esse macarrão é delicioso! Volto para o jantar.
Um cliente habitual elogiou logo na primeira garfada.
— Ah, desculpa, mas à noite fechamos — preciso ir para casa cuidar dos meus netos. Mas abrimos todos os meios dias!
Yang Yufen sorriu enquanto colocava outra porção de macarrão na água fervente, cronometrando cada lote para obter a textura perfeita, meio firme.
Ela já tinha feito as contas: quantidade fixa diária, sem exageros. Vende rápido, vai para casa cedo; vende devagar, espera um pouco mais. Sem aluguel para pagar, ganhar uns 30 yuans por dia era mais que suficiente.
Depois de dividir o lucro com Gui Xiang, sua renda mensal ficava boa.
Como esperado, vendiam tudo antes das 14h.
— Vamos fazer mais? — Gui Xiang perguntou, vendo o movimento e o tempo que ainda restava.
— Não, você precisa descansar. Não vale a pena estragar sua saúde — você tem marido e filho para cuidar.
Trabalhar juntas acelerava tudo. Lavar e arrumar levava só meia hora.
No caminho para casa, Yang Yufen viu o comandante Liao no posto de segurança outra vez. Já estavam familiarizados e trocavam cumprimentos. Ela lhe entregou uma marmita.
— Macarrão gelado. Está quente e a gente perde o apetite. Considere isso um pequeno agradecimento por tudo que fez.
— Então não vou ficar de cerimônia — o comandante Liao aceitou sorrindo.
— Vi o Da Bao na creche hoje. A maneira como ele escalou o muro me lembrou o pai dele.
Yang Yufen congelou.
— O quê? Da Bao escalou um muro?
A imagem mental a fez temer o caos que vinha pela frente.
— O garoto está bem. Só está ativo — e ele não foi o único.
— Er Bao também? — ela perguntou, aflita.
— Não. Er Bao ficou preso no portão. Quietinho. Os professores só perceberam depois de tirarem toda a fila do muro. Ele não chorou — ficou calmo.
Yang Yufen sentiu uma veia pulsar na têmpora.
— Da Bao disse que queria trazer os amigos para a sua loja. Falou que o seu macarrão é melhor que o da cantina da creche, então todos ficaram curiosos e tentaram escapar quando os professores não estavam olhando.
O comandante Liao riu entre uma mordida e outra.
— Tenho que admitir, essa tigela faz jus à fama. Não é à toa que as crianças são viciadas.
Yang Yufen foi direto para a creche em vez de ir para casa. O porteiro a reconheceu e a deixou entrar.
— Vovó, desculpa.
Da Bao e Er Bao baixaram a cabeça, totalmente envergonhados após a bronca dos professores.
Yang Yufen suspirou e primeiro checou a orelha um pouco vermelha de Er Bao — nada grave.
— Obrigada pela paciência — disse aos professores. — Agora podem ir brincar com os amigos.
Depois de pedir desculpas, ela mandou os meninos irem.
— Não se preocupe — garotos são garotos. Da Bao pode ter sugerido, mas não foi o líder. Todos foram repreendidos.
Mas quando Yang Yufen saiu, encontrou os gêmeos cercados por um grupo de crianças que a olhavam esperançosas.
— Vovó... — Da Bao piscou inocente.
— Tudo bem, se quiserem macarrão, faço depois da escola. Mas nada de fugir da aula, combinado?
Em casa, Yang Yufen adubava a horta — a colheita do quintal abastecia a loja.
— Yufen, aqui. Meus tomates e pepinos estão demais. Como você precisa para a loja, não faz sentido comprar em outro lugar se pode pegar os meus.
A tia Wang chegou com uma cesta. Os terrenos delas eram vizinhos, facilitando.
— Perfeito! Me poupa uma ida ao mercado. A gente acerta as contas depois.
— Combinado. Quer cebolinha? Vou cortar enquanto cuido da horta — ela ofereceu.
— Pode ser. Eu preparo o adubo.
Yang Yufen não fez cerimônia.
— Hoje vamos comer macarrão gelado. Pula o fogão e vem com a gente.
— Fechado. Depois eu ajudo.
A tia Wang se abaixou para colher a cebolinha.
Depois de cuidar do jardim, a tia Wang voltou com os filhos.
— Por que tanto macarrão? — ela exclamou, vendo a tigela enorme.
As duas famílias frequentemente compartilhavam as refeições, então o apetite delas não era surpresa.
Capítulo 94
— Estimo que vai vir um monte de crianças hoje à noite. Hoje, o Da Bao falou para a molecada no quintal que ia na loja de macarrão comer. Um grupo foi pego tentando escalar o muro. O Er Bao não conseguiu subir, então tentou sair pela porta da frente. Ele enfiou a cabeça, mas o corpo não passou e ficou preso na fresta da porta.
Depois que Yang Yufen terminou de falar, não conseguiu segurar o riso.
— O quê? Hahaha, esses dois moleques são mesmo demais. Dizem que aos três anos é a idade em que até gatos e cachorros já não suportam crianças. Agora parece que é verdade.
A tia Wang também riu ao ouvir aquilo. De repente, achou que suas duas filhas em casa eram mesmo muito comportadas, espertas e limpinhas.
— Ainda bem que não tem gato nem cachorro em casa.
Yang Yufen suspirou.
Como Yang Yufen esperava, nem precisou buscar os gêmeos. Hu Zhenghao estava levando eles, e atrás deles vinha um grupo de outras crianças, todos olhando para Yang Yufen com expectativa.
— Vai lavar as mãos. Quem precisar fazer lição depois de comer já pode ir começando.
— Uau! Vovó, você é demais!
Da Bao comemorou, e Er Bao veio logo e se esfregou na perna de Yang Yufen.
As crianças não eram exigentes. Dois ou três dividiam uma tigela e comiam com os hashis juntos.
— Uau, Da Bao, o macarrão que sua vovó faz é mesmo mais gostoso que o da creche!
— Mais gostoso até que o da minha avó!
Um grupo de crianças elogiava enquanto comia. Quando os pais vieram buscar os filhos, os pequenos já tinham se fartado e começado a brincar.
— Ainda bem que você preparou bastante.
A tia Wang suspirou.
— Criança é tudo assim. Antigamente não tinha jeito. Agora que a vida melhora aos poucos, não consigo tratar mal.
Yang Yufen sorriu enquanto lavava as tigelas. Os pais que sabiam das traquinagens dos filhos na escola, principalmente o pai da criança que liderou a escalada no muro, ficaram envergonhados. Trouxeram uma cesta de caquis e pepinos para entregar.
— Meu menino é arteiro desde pequeno. Ama escalar muro e árvore, não tem como segurar. Achei que a creche ia ajudar, mas quem diria que ele ia arrastar os outros para aprontar? Ainda bem que não aconteceu nada e você ainda deu comida para eles. Tem que aceitar isso, senão eu ia ficar mal mesmo.
Cada pai conhece bem seu filho. Depois de um vai e vem, Yang Yufen não teve escolha e aceitou a oferta.
Depois desse prato de macarrão, os gêmeos fizeram muitos amigos novos. Estava ótimo agora. Yang Yufen nem precisava mais levar eles para a escola de manhã. O líder da turma que escalou o muro era Wang Xing, e ele chegava bem cedo.
— Bom dia, vovó Yang!
— Bom, bom, bom. Da Bao e Er Bao estão tomando café. Wang Xing, vem comer também.
— Obrigado, vovó Yang. Posso levar Da Bao e Er Bao para a creche a partir de agora! Sou mesmo capaz!
Wang Xing bateu no peito, pensando que aquele era o jeito de trocar trabalho por comida gostosa.
O café da manhã era mingau de abóbora com milho. Yang Yufen acrescentou um pouco de açúcar e também fritou panquecas de ovo. Os três enterraram a cabeça na comida e beberam o mingau. Com um amigo a mais para brincar, os gêmeos comeram ainda melhor.
— Vovó Yang, olha como lavei limpinho a tigela!
Depois de terminar, Wang Xing até lavou a própria tigela e mostrou para Yang Yufen.
— Muito limpa! Você é demais!
Yang Yufen não esperava que o garoto fosse tão esperto. Ele não só observava bem, como também gostava de ajudar.
— Vovó! Vovó! A gente também sabe lavar as tigelas!
Os gêmeos mostraram logo os resultados.
— Uau, vocês são demais. São todos crianças boas.
Yang Yufen estendeu a mão e afagou as cabecinhas dos dois.
— Vovó Yang, eu vou levar Da Bao e Er Bao para a creche.
Wang Xing segurou um gêmeo em cada mão e saiu na frente.
— Tá bom, tomem cuidado no caminho.
Yang Yufen ficou um pouco preocupada e quis seguir para dar uma olhada. Mas depois de um tempo seguindo, as crianças perceberam.
— Vovó Yang, a gente sabe o caminho. Pode ficar tranquila.
Wang Xing gritou alto, e os gêmeos acenaram concordando várias vezes.
Yang Yufen parou e ficou no mesmo lugar, até que as crianças insistiram para ela voltar.
Quando Hu Zhenghao foi buscar os gêmeos depois da escola, sentiu como se o céu estivesse caindo.
Da noite para o dia, os irmãos que tinham comido juntos ontem... os gêmeos tinham feito uma “deserção”!
— Ah! Irmão!
Da Bao reagiu e quase saiu sem esperar o irmão. Agora fazia sentido o porquê do Er Bao ter puxado suas roupas antes.
— Eu sou seu irmão mais velho. Ninguém passa na minha frente. Você, você, moleque, tá bem, você é o segundo. Já que Da Bao e Er Bao gostam tanto de você, a partir de agora você também é meu irmão mais novo! Tem que me chamar de irmão mais velho, entendeu?
Briga estava fora de questão. Mesmo sem o pai em casa, a mãe podia fazer o famoso prato “broto de bambu frito com carne” (um eufemismo para palmadas).
Hu Zhenghao apontou para Wang Xing e reorganizou a hierarquia.
— Irmão mais velho!
Wang Xing reconheceu Hu Zhenghao como irmão mais velho com naturalidade.
— Ei, segundo irmão!
Hu Zhenghao se sentiu aliviado por ter mais um irmãozinho.
— Vamos nessa!
— Irmão Hu, a comida aí de casa não é gostosa?
Wang Xing cochichou.
— Não, é que a comida que a vovó Yang faz é mais gostosa. Será que a comida da sua casa não é gostosa?
— Não é. A gente sempre come a comida que a cantina traz para casa. Minha mãe planta legumes, mas eles nem crescem tão bem quanto as ervas daninhas. Os caquis e pepinos que mandamos para a vovó Yang ontem vieram de casa dos outros.
Wang Xing não teve vergonha de expor as falhas dos pais.
— Não é à toa que você é tão magro.
Hu Zhenghao de repente achou que seu recém-adotado segundo irmão tinha uma vida meio azarada.
— No ano passado, minha mãe estava cozinhando e me mandou para o hospital. O feijão verde não tinha cozinhado direito.
Wang Xing sentiu que tinha encontrado um lugar para desabafar e soltou tudo.
Durante a refeição, Hu Zhenghao dividiu mais carne e macarrão do próprio prato com Wang Xing.
— Obrigado, irmão mais velho! Você é ótimo, tão bom quanto a vovó Yang!
Yang Yufen achava graça de ouvir aquilo. Depois do café da manhã, os gêmeos lavavam as louças ativamente, e Hu Zhenghao até pegava a tigela de Yang Yufen para lavar junto. As crianças limpavam a mesa e varriam o chão.
— Uau, Da Bao e Er Bao, vocês têm muitos brinquedos!
Wang Xing foi levado por Da Bao e Er Bao até o quarto deles, onde mostrou os tesouros para Wang Xing.
— Feitos pela vovó!
Da Bao disse com orgulho.
— Por que sua vovó é tão incrível? Eu não tenho vovó.
Wang Xing abaixou a cabeça.
Da Bao e Er Bao sentiram pena dele de repente, mas também não queriam abrir mão da avó deles.
Os gêmeos ficaram numa sinuca de bico.
— Minha vovó também não sabe fazer essas coisas. A vovó Yang é diferente das outras!
Hu Zhenghao disse.
— É! A vovó Yang é mesmo incrível!
O humor de Wang Xing mudou rápido. O tom dele estava cheio de admiração e inveja.
As crianças voltaram a brincar juntas. Wang Xing até esqueceu de ir para casa até os pais irem procurá-lo.
— Tia Yang, desculpa mesmo. A gente está ocupado no trabalho e às vezes busca as crianças tarde. Normalmente elas vão para casa sozinhas. Não esperávamos que ele viesse para sua casa.
— Tudo bem. Eu gosto mesmo do Wang Xing.
Yang Yufen sorriu. Sentiu-se aliviada ao ver que as crianças se davam bem e não havia perigo.
Os pais de Wang Xing se olharam de repente, e o casal chegou a um consenso instantâneo.
— Tia Yang, podemos pedir um favor? Estamos mesmo envergonhados. Se não fosse realmente necessário, não teríamos pedido.
Capítulo 95
— A gente, como pais, nem sabe direito como criar uma criança direito — falou o pai do Wang Xing, tudo de uma vez —. É só graças à resiliência do nosso menino que ele tá assim. Sinceramente, a gente se sente péssimo, mas não tinha escolha. Já pedimos ajuda a outras pessoas, e mesmo dando comida e cupom de ração, elas economizavam na comida dele.
— Depois disso, o menino se recusou a comer na casa de qualquer um e preferia pegar comida na cantina. Mas agora, não só ele aceita comer na sua casa, como nem quer ir embora à noite — tá se divertindo demais. A gente quer que ele faça as refeições aí com vocês.
— Vamos dar os cupons de ração e a comida todo mês. Ele pode comer o que vocês comerem, e a gente busca ele à noite. Também pagamos quinze yuans por mês — pode ser assim?
— Nem precisa do dinheiro. Só garantam que tenha comida suficiente quando ele vier. Mas se acontecer alguma coisa, tipo machucado ou ralado...
Yang Yufen não recusou direto.
— Não se preocupem com isso. A gente escreve uma garantia, com o diretor como testemunha.
— Mamãe, papai, será que eu posso mesmo comer a comida da vovó Yang com o Da Bao e o Er Bao?
Wang Xing chegou correndo, animado — ele tinha escutado tudo.
— Pode, mas não aprontem.
Ver o filho tão feliz era raro, e os pais de Wang Xing sentiram um aperto no coração.
— Uau! Da Bao, Er Bao, agora eu posso comer com vocês! Hahaha!
Wang Xing ficou tão empolgado que tentou levantar os gêmeos, que também ficaram radiantes.
Criança não pensa nas coisas complicadas como adulto — nem queriam se separar na hora de ir embora.
Ter mais uma criança em casa podia parecer mais trabalho, mas Wang Xing era diferente.
Ele nunca se atrasava para a escola, sabia se vestir direitinho quando chovia, e se cuidava muito bem. Os bons hábitos dele até influenciaram os gêmeos.
— Você anda mais animado ultimamente, sempre sorrindo — Gui Xiang riu enquanto lavava a louça —. Pensei que você tinha achado dinheiro ou coisa assim.
— Melhor que achar dinheiro. O Da Bao e o Er Bao ficaram muito mais responsáveis — Yang Yufen sorriu, torcendo um pano —. Lavam a louça depois de comer e ainda ajudam a limpar a mesa e varrer o chão.
— Agora vocês vão viver melhor!
— Veremos. O Ershun e o pai dele já estão quase saindo do hospital?
— Sim, o médico disse que estão se recuperando bem. Meu marido já consegue andar. Vamos levá-los para casa em três dias. Eles não vão precisar ficar deitados o tempo todo, podem até sentar lá no quintal para pegar um sol.
Três meses se passaram num piscar de olhos.
A recuperação no hospital era cara, mas os resultados compensavam. Gui Xiang havia decidido firme manter o marido e o filho ali, mesmo com a boca no trombone.
Antes, quando o dinheiro era curto e só tinham o pedacinho de terra em casa, ela nem teria pensado nisso — teria que deixar o marido se acabar na cama.
Ershun ainda não recuperou a memória por completo, mas está tão obediente quanto quando criança. Com oito ou nove anos, já entende o que falam, e as dores de cabeça diminuíram — chora bem menos.
— Logo vou poder levar os dois para casa no triciclo.
Gui Xiang já estava preparada para cuidar deles caso ficassem acamados. Agora, apesar da dívida, marido e filho estavam muito melhor do que ela esperava. Parecia que a vida finalmente melhorava.
— Yufen, você pode me ajudar a achar uma escola para a Qing? Meu marido já pode se mexer, então pode ajudar a cuidar do menor. Ele já come e bebe sozinho, e não preciso da Qing para a barraca do café da manhã — eu me viro sozinha.
— Claro. Minha afilhada é professora. A Qing tem acompanhado os estudos? Como estão as lições?
— Ela está lendo. A menina é aplicada — já terminou todas as tarefas que você deu. Qing, vai pegar sua lição e mostra para a vovó Yang para ela levar para a professora.
Qing correu para o quarto buscar o trabalho.
— Vovó Yang, aqui está minha lição. E essas são as partes que eu não entendi.
— Tá bom, vou levar depois.
Yang Yufen assentiu, secou as mãos e guardou os cadernos numa sacola de pano.
Do outro lado do oceano
— Professor, posso sair um pouco mais cedo hoje?
Qin Nian soou inquieta.
— O que houve? Você só começou agora. Se não for urgente, deixe para depois.
— Preciso ligar para meus filhos em casa.
O professor ficou em silêncio por um momento.
— Você tem duas horas. É a última vez. Minha regra é que, ao entrar na equipe de pesquisa, corta todo contato externo. Se não puder, é melhor sair agora.
Qin Nian congelou, mas assentiu.
Yang Yufen e as crianças já esperavam ao telefone cedo. Quando ele tocou, o professor Wen atendeu.
— É a Nian?
— Sim, sou eu, Shifu.
— Mamãe!
— Mamãe!
— Da Bao, Er Bao.
A voz de Qin Nian veio, seguida dos gêmeos falando o quanto sentiam falta dela.
— Da Bao, Er Bao, deixa a vovó falar com a mamãe um pouco, tá? Mamãe precisa conversar com ela.
Qin Nian conferiu a hora. Atrás dela, já a pressionavam para se apressar.
— Vovó, a mamãe quer falar com você.
Da Bao e Er Bao saíram de lado.
— Nian, estou aqui. Pode falar.
— Mamãe, me colocaram numa equipe de pesquisa. Até o fim do experimento, não vou poder contatar ninguém de fora. Pode demorar bastante até eu ligar para você ou para as crianças de novo.
Yang Yufen ficou surpresa por um segundo.
— Tudo bem, tudo bem. O Xianjun vai voltar logo mesmo. Se cuida aí. Os meninos já cresceram, tão mais altos e gordinhos — não se preocupe com eles.
— Mamãe, obrigada por tudo.
Qin Nian segurou as lágrimas enquanto as vozes atrás dela ficavam impacientes. Ela não teve escolha a não ser desligar e voltar correndo.
Da Bao e Er Bao olharam para Yang Yufen.
— Sua mãe é incrível — explicou ela —, está trabalhando num projeto super secreto, por isso não pode ligar. Mas o papai vai chegar logo e vai levar vocês para brincar. O amigo de vocês, Wang Xing, está esperando — vamos voltar logo.
Yang Yufen confortou as crianças.
Depois de mandá-los embora, ela olhou para o professor Wen, preocupada.
— Isso é normal na Nian?
— Nian é brilhante — respondeu ele —, não é surpresa ela ter sido escolhida para a equipe. Essas regras existem mesmo. Só não esperava que ela fosse passar com só dois meses. É impressionante.
O professor também estava preocupado, mas tentou tranquilizá-la.
— Vou pedir para o velho Hu mexer os pauzinhos e investigar.
— Tá bom.
Yang Yufen assentiu.
Qin Nian voltou correndo para o laboratório, conferiu o horário — ainda tinha dez minutos.
— Agora que você está aqui, foque no que importa. Tem trabalho para fazer pelo país. Estude bastante — você tem menos de dois anos. Sabe a urgência. Termine de revisar todos esses dados hoje à noite.
Uma pilha grossa de documentos foi jogada nas mãos de Qin Nian. Ela pegou sem hesitar e começou a estudar sob a luz da lâmpada.
O quarto pequeno dela tinha só uma cama simples — nenhum móvel, nenhum chá, só café amargo que ela ainda não se acostumava, nem um grão de açúcar.
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