Capítulo 109: Valorize quem está à sua frente
Feng Xue permanecia em coma e, durante a noite, começou a sentir febre. Li You gentilmente enviou mana para ele duas vezes, ajudando-o a se recuperar. Após cinco ciclos, a situação de Feng Xue estabilizou. Neste momento, Li You o observava desajeitada. Hesitou, tirou suas roupas manchadas de sangue, colocou-as sobre o corpo de Feng Xue, cobriu-o com um cobertor e sentou-se ao seu lado, preocupada, observando-o de soslaio.
Ela podia sentir a respiração de Feng Xue voltando ao normal e seu corpo se recuperando, mas enquanto ele não abrisse os olhos, Li You não se sentia tranquila. Ela costumava achar tudo isso sem sentido, mas agora esperava boba a noite toda, desejando ver o momento em que Feng Xue despertasse.
Talvez Feng Xue tivesse ouvido essa expectativa, pois suas pálpebras tremularam levemente e lentamente se abriram.
— Você finalmente acordou. Como se sente? Está bem? — Li You quase prendeu a respiração ao ver os olhos cor de neve novamente. — Feng Xue, acredite em mim, não vai haver uma próxima vez.
Um acidente já foi suficiente; ela jamais permitiria que algo assim acontecesse outra vez.
— Senhora... Mestra... Você se preocupou comigo? — havia um sorriso fraco no rosto de Feng Xue, claro como o sol da primavera.
— Que besteira dizer isso! Depois de um ferimento tão grave, como eu não poderia me preocupar? Como está agora? Ainda sente dor?
Os olhos de Feng Xue olharam fundo para Li You, que ficou em silêncio. Então um sorriso maior se abriu no rosto dele, até que lágrimas surgiram no final daquele sorriso. Aquela cena — ser cuidado de forma tão sincera — fez Feng Xue sentir que nada mais precisava pedir.
— Por que está chorando? Ainda dói? Me diga onde está doendo... — Li You, ao ver as lágrimas, não sentiu aversão, como imaginava, mas só tristeza e vontade de secar aquelas lágrimas.
— Feng Xue não sente dor, nada dói. Ele só está emocionado e feliz — confessou, sabendo que parecia tolo rir e chorar ao mesmo tempo, mas simplesmente não conseguia evitar.
— Feliz a ponto de chorar? Deve ser o ferimento afetando o cérebro. O que há para ser feliz depois de sofrer uma lesão tão grave? Quando estiver curado, terá que treinar duro. Você está tão machucado... é um tolo! — Li You dizia, sabendo que protegeria todos o quanto pudesse, mas não era deusa. Acidentes sempre poderiam acontecer e ela não podia garantir que estaria ao lado deles o tempo todo. Por isso queria que cada um tivesse força para se defender. Quando voltasse, reuniria todos e lhes ensinaria métodos de cultivo adequados para mortais. Talvez pudessem tentar.
Feng Xue treinava com Li You, mas seu sorriso era ainda mais evidente, e a felicidade naquele sorriso só aumentava. Li You suspirou, vendo aquele jeito bobo de Feng Xue. Ela não sabia o que ele pensava, mas sorrir tanto assim... Como poderia repreendê-lo?
— Pare de rir, descanse agora. Você está ferindo sua energia vital e precisa de repouso — disse Li You, ajeitando alguns fios bagunçados no cabelo de Feng Xue, falando baixinho enquanto o olhava.
Feng Xue assentiu obediente e fechou os olhos suavemente. Se não fosse pela felicidade que o sustentava, já teria desmaiado há muito tempo. Desde que despertara, sentia todo o corpo clamando por descanso. A dor em cada canto era insuportável; o poder da explosão do espírito da inundação era realmente enorme...
De repente, Feng Xue pareceu lembrar de algo e abriu os olhos num tom ansioso:
— Mestra, e a Guarda Secreta? Está bem? — Perguntou. Embora tentasse protegê-la, a Guarda Secreta era apenas um mortal, será que não aconteceu nada com ele?
— Ele está bem, só sofreu ferimentos leves. Por isso digo, Feng Xue, obrigado. Se não fosse por você, talvez quem estivesse deitado aqui fosse ele, e seus ferimentos seriam muito piores. Mas... — Li You fez uma pausa — não se sacrifique pela vida dos outros. Eu assumo a responsabilidade por ter te machucado desta vez, mas não na próxima.
Feng Xue e a Guarda Secreta eram muito importantes para ela. Não queria perder ninguém. Só podia agradecer pela proteção que Feng Xue dera à Guarda Secreta...
— A Guarda Secreta não é um estranho. Ele também é alguém que você valoriza. Naquele momento, pensei que se você se machucasse, ficaria triste. Ele não sabe lançar feitiço, é apenas um mortal, por isso quero protegê-lo. Mas... — A expressão de Feng Xue mudou e ficou séria. Ao dizer isso, demonstrava o quanto a imperatriz se preocupava com a solidão e tristeza da Guarda Secreta, com sua ansiedade. No fim, ele sorriu, animado: — Feng Xue achou que tudo valeu a pena, porque finalmente entendeu que seu relacionamento com Li You é recíproco. Isso já basta. Não importa o quanto sofra ou passe fome...
— ...Tolo! — disse Feng Xue, embora houvesse muitos desencontros, Li You sentiu-se profundamente tocada. Nunca imaginara como os outros a viam, e essas pessoas tolas eram justamente as que ela mais queria proteger, as que guardava no coração.
— Mestra, estou exausto, quero descansar, estou com sono... — Feng Xue insistia, mas o corpo enfraquecido o fazia falar cada vez mais baixo, até cair em coma novamente.
— Apenas descanse quando estiver com sono. Quando acordar, tudo estará bem... E, pequena raposa, não me chame mais de mestra. Eu nunca quis ser sua mestra. Nem antes, nem agora — Li You confessou. Antes, não queria ter qualquer contato com aquele pequeno raposo; embora o tivesse salvado, não queria sua gratidão. Agora, porém, descobriu que começava a gostar dele. Queria que ele fosse seu, não um servo, e acreditava que isso era o que ele sempre desejara.
Sabe-se que só valorizamos o que perdemos — essa frase é uma tragédia. Por isso, devemos aprender a valorizar enquanto temos, para que a vida seja uma comédia. Quem sabe valorizar a felicidade, será feliz!
Feng Xue não ouviu essas palavras; dormia tranquilamente, seus cabelos brancos espalhados para trás e o rosto sereno, como uma fada em uma pintura. Li You ficou um pouco estática, a mão movendo-se involuntariamente sobre o rosto de Feng Xue.
As sobrancelhas dele eram delicadas e brancas, transmitindo uma gentileza extrema. O nariz, fino e reto, parecia macio ao toque. Os lábios pequenos, suaves e delicados exalavam uma aura única. Feng Xue era realmente belo — encantador, frágil, teimoso, iluminado e maduro — todas as suas facetas passavam rapidamente pela mente de Li You, fazendo-a sorrir sem querer.
— Fofo pequeno raposo, descanse bem. Vou te dar tudo o que deseja — pensou ela. Sempre soube o que Feng Xue esperava e planejava, na hora certa, fazê-lo realmente seu. Mas agora mudou de ideia. Percebeu que não precisava esperar por ocasião alguma; o sabor da espera era insuportável. Agora, ela sabia o que queria e o que Feng Xue sentia.
— Imperatriz, posso entrar? — era cedo quando a Guarda Secreta voltou, preocupado com os ferimentos de Feng Xue.
— Pode entrar — Li You respondeu, voltando-se para Anhui com olhar preocupado e suavemente falou: — Por que não descansa mais? Mesmo com ferimentos leves, você precisa repousar.
— Guarda Secreta está bem, não se preocupe. Ele acabou de buscar um novo conjunto de roupas para quando a mestra Feng Xue acordar — a Guarda Secreta entrou no quarto, aproximou-se da cama e olhou preocupado para Feng Xue, segurando um conjunto branco para ele.
— Vamos deixar ali. Ele acordou há pouco, mas voltou a dormir. Não se preocupe, está tudo bem. Vá descansar — Li You segurou a mão de Anhui, que por sua vez parecia aliviado, já que sua ferida não era grave.
— Guarda Secreta, tudo bem. Imperatriz, deixe-me ficar aqui com você. Se eu me sentir cansado, volto para descansar, mas não quero ficar preocupado com a mestra Feng Xue. Ela sofreu tanto para me salvar — Anhui insistia. Como poderia descansar com o corpo doendo? Ele sentia uma dor leve, mas nada que o impedisse.
— Tudo bem, então fique aqui um pouco com ele, eu vou descansar — Li You concordou.
— Sim, imperatriz — um sorriso apareceu no rosto sério da Guarda Secreta.
Li You assentiu e saiu do quarto, retornando pouco depois acompanhada do dono da estalagem trazendo comida.
— Deixe isso ali e podem sair — a Guarda Secreta indicou a mesa.
— Sim — respondeu o jovem atendente, organizando tudo e saindo.
— Guarda Secreta, coma algo primeiro. Você pode não descansar, mas não deve parar de se alimentar — Li You falou.
— Obrigado, imperatriz — respondeu Anhui, emocionado com o cuidado da imperatriz. Sentou-se silencioso para comer, sabendo que Li You não precisava se alimentar, mas preparava tudo para ele, o que o comovia profundamente.
Enquanto a Guarda Secreta comia, Feng Xue dormia em paz. Li You os observava discretamente, e não conseguiu evitar pensar nos homens que ainda estavam no palácio. Ela sentia que essas pessoas eram o maior ganho de sua vida terrena, pois pensar nelas a fazia sentir uma profunda satisfação...
Um sorriso suave surgiu no canto dos lábios de Li You — e satisfação, muitas vezes, é sinônimo de felicidade.
Capítulo 110: Você é minha esposa
Já era manhã quando Feng Xue acordou novamente, e o sol brilhava em seu rosto, tornando-o extraordinariamente sagrado.
— Mestra, você ficou aqui o tempo todo? — Feng Xue abriu os olhos e encontrou aqueles olhos negros profundos. Esfregou-os e sorriu, tímido e satisfeito.
— Não me chame de mestra, Feng Xue. Posso me casar com você? — Li You tinha pensado muito durante a espera e não queria perder tempo ao ver Feng Xue acordar.
Feng Xue congelou por um momento, depois exibiu um sorriso deslumbrante, assentiu suavemente e respondeu baixinho que sim... Só que, logo depois, pareceu pensar em algo e, hesitante, olhou para Li You, um pouco inquieto, perguntando:
— Feng Xue não deveria chamar você de mestra?
— Tolo, eu me casei com você, você é meu marido, acha que deve me chamar como?
— ...Esposa, senhora, você é minha esposa e minha senhora. Desde que não me abandone, quero te servir por toda a vida... — embora Feng Xue fosse um espírito, trazia em si a essência de um homem comum. Para ele, firmar-se com alguém era para a vida toda, e enquanto essa pessoa não o abandonasse, ele a seguiria sem hesitar.
Li You ficou um pouco envergonhada com o olhar doce de Feng Xue. Baixou a cabeça e deu um beijo suave nos lábios dele.
— A vida é longa, você tem certeza do que diz? — sussurrou.
Dez mil anos a ensinaram a não acreditar no que é eterno e imutável. Tudo que ela acreditara mudara drasticamente em um instante. Até quando poderia durar essa ausência de sentimentos? Mas, se era Feng Xue quem falava, ela estava disposta a acreditar.
— Já pensei muito sobre isso há muito tempo — respondeu ele. — Minha vida pode ser longa, mas isso não mudará minha decisão. Algumas escolhas não se alteram por nada.
Alguns sentimentos são preciosos demais, pois quando os conquistamos, são para a vida inteira. Não há por que duvidar, temer ou se preocupar. Quem encontra algo assim, deve valorizar.
— Feng Xue, você me deixou sem resposta — disse Li You, meio sorrindo. Talvez fosse assim desde o começo, afinal, como teria deixado Feng Xue ficar ao seu lado? Ela não era de negar nada, mas nunca negou verdadeiramente a ele, que insistia em aparecer. De ignorá-lo passou a aceitar, de aceitar passou a permitir, de estranhos passaram a ser felizes juntos. Seu sentimento por Feng Xue cresceu aos poucos, talvez esse fosse o tal amor duradouro.
O significado profundo das palavras de Li You fez Feng Xue piscar. Depois, ele mostrou uma expressão magoada e disse firmemente:
— Só isso você não pode negar. Dói quando você me rejeita. Se não fosse pela minha persistência, aquela rejeição fria que você sempre me dava teria te afastado. — Embora parecesse uma reclamação, ele sentia assim de verdade, mas isso só o fazia agradecer ainda mais pela insistência dela, porque finalmente conquistara o que queria.
Persistência é uma palavra poderosa, capaz de fazer as pessoas conquistarem sonhos, mas também de fazê-las perder coisas que amam.
— Ei, o pequeno raposo está reclamando? Vai começar a cobrar as antigas dívidas? — Li You olhou para Feng Xue com cara de quem brincava, não estava zangada, apenas achava engraçado aquele jeito dele.
— Como ousa, Li You? — Feng Xue sorriu feliz, aliviado por saber que ela não estava brava.
Li You entendeu o que ele queria dizer e sorriu.
— Quer levantar? Já ficou sentado tempo demais.
— Tá bom. — Feng Xue também sentia desconforto de tanto tempo deitado, tentou levantar, mas caiu fraco. Li You o abraçou e ajudou a sentar devagar. Durante esse cuidado, a respiração dos dois se entrelaçou. O hálito leve de Feng Xue tocou o pescoço branco de Li You, que tremeu levemente, mas logo recuou ao se sentar junto dele.
Feng Xue segurou a mão de Li You, querendo que ela se aproximasse, mas viu um brilho dourado estranho nos olhos dela, um desejo profundo que fez sua mente voltar àquela cena quente, e sua respiração acelerou.
— Não pense nisso, você precisa descansar — Li You disse, percebendo que ele estava mexido, mas ainda coberto de feridas e sem condições para tais coisas.
— Você não quer? — ele perguntou, ousado, notando o desejo evidente no olhar dela.
— Claro que quero, mas não agora. Você precisa se recuperar antes. Beba um pouco de água — Li You serviu um copo para Feng Xue. Eles não precisavam de comida, o cultivo já supria isso, mas água fresca era importante para ele, ainda fraco e com mana limitada.
— Obrigado... — Feng Xue tomou alguns goles e lembrou-se de outra coisa. — E a Guarda Secreta?
— Está descansando na sala ao lado, levemente ferido, mas preocupado com você.
— Que bom. Diga que não se preocupe. Não era para ele ter se machucado com tudo aquilo do poder do espírito da inundação... Foi assustador — Feng Xue olhou preocupado para Li You, que era muito forte, mas o poder da autodestruição era realmente terrível.
— Estou bem, não se preocupe. Vou descansar depois de beber — Li You hesitou, embora dissesse que estava tudo bem, não era verdade. Naquele dia, a explosão da Jiao Jing a ferira, e ela precisara usar um método especial para prender a alma da Jiao Jing e muita energia para curar as feridas da Guarda Secreta e de Feng Xue. Isso a deixou desconfortável, e ela ainda estava preocupada com Feng Xue. Ela vinha escondendo sua própria dor para não causar preocupação, as feridas não eram graves, só precisava de um lugar tranquilo para se recuperar.
Feng Xue permaneceu em silêncio, mas o olhar preocupado não desaparecia. Ele percebeu a hesitação da imperatriz, que não queria falar sobre isso. Ele não podia perguntar, mas também não conseguia deixar para lá, então só podia olhar para ela com preocupação...
Li You ergueu as sobrancelhas. Os olhos de Feng Xue a fizeram se sentir culpada, como se o enganasse. Saber que a preocupação vinha dela mesma a impedia ainda mais de dizer que estava tudo bem.
Eles se olharam por um tempo, até que Li You cedeu. Suspira levemente e disse:
— Estou realmente bem. Só gastei um pouco de mana e me recuperarei em alguns dias de cultivo. Você não deveria ter medo de mim. Se for corajoso para me encarar assim, não temo te punir.
Aquele pequeno raposo era tão valente que até ousava enfrentá-la com uma política de recusa, mas... ela tinha que admitir que gostava dele.
— Não tenho medo. Comparado à sua lesão, não temo nada — respondeu Feng Xue, olhando para Li You com preocupação, mas vendo que ela estava bem, relaxou e acreditou nela.
— Você está melhor e mais forte. Vamos ver se não te castigo — Li You disse e, sem avisar, o beijou com força. Os olhos de Feng Xue se arregalaram, sentindo o calor do beijo, enquanto o rosto corava lentamente.
— Está satisfeito com esse castigo? — Li You perguntou, sorrindo. Seus olhos brilhavam perigosamente ao ver o rosto corado e atraente de Feng Xue.
Ela queria devorá-lo, mas precisava se controlar. O corpo dele ainda estava muito fraco.
Feng Xue, já debilitado, sentiu a forte investida do beijo quase fazê-lo desmaiar. Agora, ao ouvir aquelas palavras audaciosas da imperatriz, corou e ficou sem palavras.
— Parece que gostou bastante. Está tão satisfeito que nem consegue falar, não é? — Li You continuou a provocá-lo, vendo o rosto tímido e vermelho de Feng Xue, o que a deixou feliz. Ela preferia mil vezes esse Feng Xue àquele pálido e fraco após a lesão.
— Você sabe que está me provocando. Vou descansar. Vá cuidar da Guarda Secreta. Ele pode estar ferido, mas é um mortal — Feng Xue disse corado, deitando de novo.
— Se estiver cansado, descanse. Eu vou cuidar dele quando você dormir — Li You respondeu. Na verdade, estava preocupada com a Guarda Secreta, mas Feng Xue estar em coma a assustava e a impedia de sair do quarto. Vendo que Feng Xue parecia estável, sentiu-se aliviada e concordou em ir verificar Anhui. Apesar dos ferimentos internos não serem graves, as lesões externas eram muitas. Mesmo parecendo forte, ele era paciente demais. Os homens fortes costumam esconder seus pontos mais vulneráveis, tornando difícil perceber sua dor e resistência.
Feng Xue adormeceu novamente, exausto. Li You o observou dormir, levantou-se e saiu. Foi até o quarto ao lado, empurrou a porta suavemente e entrou...
— Imperatriz! — Anhui estava passando remédio em si mesmo, mas ao perceber a presença, vestiu-se rapidamente e puxou a espada ao lado. Com seus movimentos bruscos, reabriu o ferimento, e o sangue começou a escorrer pelo casaco fino.
Li You ficou impressionada, correu até ele, tirou seu casaco escuro, revezou o remédio e fez a bandagem com cuidado. Depois, apenas o repreendeu levemente:
— Por que tanta imprudência? Na próxima, não será tão fácil. Seu sangue pertence a mim.
Anhui ficou ali, sem saber o que fazer, deixando que Li You cuidasse dele. Apesar da dor, sentia que tudo valia a pena pelo carinho da imperatriz.
— Vou tomar mais cuidado! — prometeu, mas não queria preocupar a imperatriz por causa de si mesmo.
Capítulo 111 — Incidente de Nanping
Durante os dois dias em que Li You ficou na estalagem com Anhui e Feng Xue, toda a Mansão do Rei de Nanping mergulhou no caos. O mestre celestial em quem o rei confiava desapareceu subitamente, e a mansão ficou em ruínas. O chão estava manchado de sangue e carne, uma cena extremamente aterrorizante. A única sorte foi que o Rei de Nanping não estava em casa naquele dia. Quando soube de tudo, ele correu para lá, mas só pôde encarar um monte de escombros, sem palavras.
A rede de Nanping não fez grandes movimentações à vista, mas agiu secretamente, emitindo uma série de ordens. Os homens mortos da Mansão do Rei de Nanping até buscaram o nome completo do assassino do dia, mas como tudo fora feito às escondidas, com muitas ações sigilosas, ninguém viu o assassino de verdade. Tang Enbo não conseguiu encontrar nada, apenas detectou algumas presenças estranhas. E assim, nesses dois dias de busca silenciosa, Li You e os outros se mantiveram escondidos.
A lesão de Feng Xue já estava visivelmente recuperada. Depois de dois dias de descanso, ele conseguia se movimentar normalmente, sem fraqueza. Aliviado no coração, sentia-se relaxado e feliz. Anhui, com seu trauma, estava se recuperando mais lentamente, mas sem ferimentos internos graves. No geral, nada que afetasse muito. Pensando bem, Li You considerou voltar à Mansão do Rei de Nanping para enfrentar Xiao Yuwei diretamente, mas não precisou: antes que pudesse agir, os homens mortos de Xiao Yuwei apareceram na porta. Isso fez com que os três, desprezando o perigo, escondessem seus rastros — seu jeito de agir, seu hálito e até sua presença eram muito peculiares. Os homens mortos os observavam havia um dia inteiro, mas não agiam. A razão? Eles eram arrogantes demais. Nenhum assassino ousaria se esconder tão descaradamente na estalagem, mas eles não encontraram outros suspeitos. Por fim, decidiram arriscar matar por engano para não deixar passar a chance — essa era a ordem do Rei de Nanping.
Então, Li You sentiu a aproximação dessas presenças estranhas e rapidamente pegou Feng Xue pelo braço, indo para o quarto onde a Guarda Secreta estava escondida. — Ninguém vai tocar em vocês!
Feng Xue e Anhui não eram fracos, e já haviam detectado alguém ali. Quando os homens mortos de Nanping surgiram, os três já esperavam há bastante tempo.
— Quem são vocês? — perguntou um dos homens mortos, direto e sem cerimônia, sem saber que estava diante de uma luta de vida ou morte.
— A pessoa que vocês procuram! — Li You não se incomodou em esconder sua identidade, muito menos para aqueles subordinados.
Assim que falou, Li You agiu rapidamente e eliminou os atacantes sem deixar um único cadáver, apenas uma poça de sangue.
— Vamos — disse Li You, a aura de sangue a deixando fria e com o tom sombrio.
Anhui e Feng Xue saíram da estalagem logo atrás dela, seguindo direto para a Mansão do Rei de Nanping. Mas a decepção veio ao descobrir que Xiao Yuwei não estava lá. A mansão havia virado ruínas — não pela cena sangrenta do dia anterior, mas porque um incêndio a transformara em cinzas.
E quem teria coragem para tal ato senão Xiao Yuwei, o Rei de Nanping? Isso mostrava o quão cruel ele era. Ele realmente era um tirano, mas onde estaria agora?
— Imperatriz, devo mandar alguém verificar? — Anhui sussurrou.
— Não, eu tenho um método! — Li You respondeu. O sangue é um feitiço usado pelos clãs zumbis para encontrar pessoas e objetos. Ela furou a ponta do dedo, deixou cair uma gota e, com ela, desenhou um símbolo estranho no ar.
— Vamos! — Li You partiu rumo ao sul com Yin Hui e Feng Xue, e logo encontrou uma mansão muito refinada. Ela entrou rapidamente e, em instantes, capturou uma pessoa e saiu com ela em um piscar de olhos.
— Voltemos ao palácio! — missão cumprida, Li You não quis perder tempo e imediatamente voltou para a Cidade Imperial com todos.
Como Xiao Yuwei fora capturado pela Guarda Secreta da imperatriz, ela não queria que o caso fosse público nem que ele ficasse detido no Ministério da Justiça. Ao mesmo tempo, Li You decretou que Li Yao e Long Xizhao escolhessem alguém adequado para cuidar dos assuntos de Nanping, já que o Rei de Nanping desaparecera misteriosamente e a região estava uma bagunça. Era hora de alguém competente governar Nanping.
Mas tudo isso já não era problema da imperatriz. Feng Xue e Anhui estavam resolvidos, e Li You ficou sozinha no Estudo Imperial. Ela afastou todos os guardas e lançou um encantamento com um gesto de mana, aprisionando a alma da Jiao dentro do corpo do capturado na palma da mão.
— Você, onde acha que vai? Consegue reunir almas, mas o que quer de mim? O que quer fazer? — a alma da Jiao tremia, apavorada, incapaz de encontrar paz nem na morte.
— O que eu quero? Quero que você pague o preço. Acha que morrer é suficiente? Quem me feriu, vai morrer sem descanso! — os dedos de Li You dançaram com agilidade, e entre suas palmas surgiu uma chama negra que exalava um frio cortante. Não queimava a mão, mas era capaz de queimar a alma até a morte.
A alma da Jiao começou a se contorcer de dor, o rosto se tornou assustado, e Li You sorriu de modo estranho. Seus dedos se mexeram mais uma vez e, no meio da chama, um estranho brilho vermelho surgiu.
A expressão horrorizada da alma se distorceu ainda mais, e ela não conseguiu conter um rugido agonizante. Seu grito perfurava o coração, como um inferno de sofrimento, doloroso ao ponto de querer acordar os mortos!
— Não, não... ah, me deixe morrer... — Jiao Jing implorava com dor. Agora ela entendia de verdade o que era pior que a morte: a própria morte era melhor que o que estava vivendo!
— Você já está morta, como quer morrer? — Li You sorriu, mas aquele sorriso era aterrador. Mesmo assim, ela parou os movimentos dos dedos, dando um breve descanso para Jiao Jing.
— Me mate, me mate, não me torture... — Jiao Jing ofegava, suplicando. Antes, achava-se uma mestra da tortura e até se excitava ao ver cenas sangrentas, mas agora sabia o que era tortura de verdade — aquela dor era simplesmente insuportável.
— Tortura? Você sabe o que é tortura, mas sabe quantas pessoas você destruiu? Quantos inocentes? Eles sequer tiveram chance de defesa. E você, vilã, ainda tem a audácia de interceder? Acha que vou te deixar escapar? Não, eu tenho mil formas de te torturar!
— Você não tem moral para me julgar! Acha que é certinha? Os feitiços que usa são muito piores que os meus. Seu sangue é repugnante! Que direito você tem de falar comigo? Finge ser inocente, sua vilã desprezível! — Jiao Jing estava profundamente abalada, física e mentalmente. Sem chance de pedir clemência, sem forças para continuar, soltou um grito furioso.
— Claro que não sou uma boa pessoa, mas isso não me impede de te dar uma lição. Quem me fere paga o preço. Quer explodir de novo? Venha, mostre outra explosão. Quero ver se sua alma aguenta! — Li You nem se importou com as palavras de Jiao Jing, voltou a mexer os dedos.
O rosto horrorizado de Jiao Jing reapareceu, seus rugidos continuaram, e Li You controlava o sofrimento com os movimentos dos dedos.
Não se sabe quanto tempo duraram os gritos intermitentes, mas Li You finalmente parou de novo...
— E aí, como se sente? Está satisfeita? — perguntou, num tom divertido.
Jiao Jing mal tinha forças para responder. Qualquer um que passasse por aquela tortura jamais quisesse repetir. Se pudesse morrer, preferiria. Nada sabia, só sentia que já estava morta, mas ainda precisava passar por aquilo.
— Hmph, sabe o que é tortura, né? Mas isso é só o começo. — Li You desenhou símbolos estranhos no ar e invocou chamas fantasmas. A alma de Jiao Jing foi colocada ali, lutando em vão.
— Em sete vezes sete dias, sua alma será consumida e desaparecerá deste mundo. Durante esse tempo, poderá aproveitar o castigo que lhe dei. — Depois disso, as chamas sumiram, e aquela punição parecia pouco para Li You. Comparado ao sofrimento de Anhui e Feng Xue, não passava de um piscar de olhos.
Silêncio absoluto no Estudo Imperial. Ninguém sabia que algo pior que o inferno de Jiuyou acontecia ali.
— Vou sair para dar uma volta, não me sigam — disse Li You, deixando para trás os que aguardavam.
Mesmo sendo imperatriz, tinha que lidar com tantas coisas enfadonhas que se sentia sobrecarregada. Afinal, era a rainha dos mortos-vivos que ignorava o mundo, mas precisava cuidar dessa pobre situação mesmo com pouco descanso. Que incômodo! Um ou dois dias até suportava, mas se tivesse que viver assim por 20 ou 30 anos...
Ela precisava achar um jeito de lidar com esses assuntos mundanos de forma permanente. Pensando nisso, não pôde deixar de lembrar do imperador bebê, que não via há dias. Agora que tinha tempo, queria visitá-lo. Será que aquele serzinho fofo sentia saudades dela?
Li You seguiu em direção ao Palácio do Demônio Yugong, pensando na carinha adorável de Qian Hejing. Talvez pudesse ter mais filhos e ensiná-los direito, para que crescessem rápido. Assim escolheria o mais adequado para herdar o trono — e finalmente não ficaria tão atarefada.
Quanto mais pensava, mais gostava da ideia, concordando consigo mesma. E, já que era um plano, tinha que colocá-lo em prática logo para se livrar de tanta chatice e afazeres mundanos o quanto antes.
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