Capítulos 16 a 18


 Capítulo 16: Destruindo o Espírito da Borboleta

— Você... o que diabos é você? — Die Wu fitou a mulher à sua frente, com incredulidade estampada nas feições marcadas pelo pânico. Ela não conseguia acreditar que essa pessoa a tinha derrotado com apenas um único movimento.

— A coisa aqui é você. Não quero perder tempo com conversa fiada. Se quer continuar viva, entregue o dantian da cobra, caso contrário, eu mesma vou recuperá-lo. — Um espírito de borboleta que se cultivou roubando o dantian de outro demônio... essa habilidade milenar não passava de uma piada. Seria até aceitável se seu poder real de cultivo fosse de apenas seis ou setecentos anos.

(Dantian: essência espiritual primordial localizada no “núcleo do elixir” de um cultivador, geralmente na região abdominal — o centro do seu poder.)

— Você...! — Os olhos de Die Wu se moviam rapidamente, analisando. No fim das contas, ela achava que não tinha perdido tanto assim. Se não podia vencer a adversária, o melhor seria fugir. Reuniu com esforço os fragmentos de sua essência, mesmo com seu cultivo gravemente danificado, tentando escapar!

— Nem tente fugir. Será inútil, desperdício de esforço. — Qianhe Liyou foi direta, sem paciência para perder mais tempo com aquele espírito de borboleta.

O espírito da borboleta foi cercado num instante por uma névoa negra misturada com vermelho-sangue, e começou uma luta desesperada e dolorosa.
— N-não... não... não...!

Em cerca de meia hora, o corpo do espírito da borboleta encolheu cada vez mais, até finalmente se transformar em uma borboleta do tamanho da palma da mão. Então, dois dantian — um maior e outro menor, um rosa e outro dourado brilhante — materializaram-se no ar. O espírito da borboleta perdeu, de uma vez só, os mil anos de cultivo. Com um movimento de manga, os dois dantian internos pousaram nas palmas estendidas de Qianhe Liyou.

— Vá embora. Boas ações trazem recompensas; más ações, retribuição kármica. — aconselhou Qianhe Liyou à borboleta. Ela havia tomado os mil anos de cultivo do espírito, mas não se apressou em matá-la — em vez disso, deixou-lhe um caminho de sobrevivência, na esperança de que ela pudesse se redimir.

A pequena borboleta saiu voando do aposento, e Qianhe Liyou também soltou a mão que segurava Feng Xue. Sua expressão voltou ao habitual ar frio e indiferente, como se fosse uma completa estranha.

Feng Xue ficou um pouco desnorteado com a atitude indiferente de Qianhe Liyou. Queria dizer algo, mas antes que pudesse abrir a boca, viu quando ela estendeu seu dedo pálido e elegante, tocando suavemente sua testa. Sua consciência se apagou na mesma hora, mergulhando na escuridão. Quando despertou, pôde sentir que todo o cultivo e poder que havia perdido há tanto tempo haviam sido totalmente restaurados!

— Você... você quebrou o meu selo, você realmente quebrou... obrigado, muito obrigado... — Feng Xue estava tão emocionado e feliz que mal conseguia encontrar palavras. Aquela mulher era poderosa demais: derrotara o espírito da borboleta instantaneamente e ainda por cima havia libertado o selo de seu corpo. Ele mal podia acreditar que tudo aquilo tinha realmente acontecido... em apenas uma noite!

— Aqui. — Qianhe Liyou colocou os dois dantian nas mãos de Feng Xue. — Pode usá-los, salve seu amigo. Faltam duas horas para o nascer do sol, então quero descansar aqui. Você pode ir ou ficar, faça como quiser. — Aquele homem havia recuperado seu cultivo e reencontrado seu amigo. Para ela, já era hora de partir.

O que Feng Xue decidisse fazer a partir dali não dizia respeito a ela. No momento, seu corpo não estava em condições normais. Uma corrente de calor percorria incessantemente seu interior, deixando-a extremamente desconfortável.

Feng Xue pegou os dois dantian com gratidão, observando-os atentamente com olhos cheios de empolgação. Aqueles dantian eram o tipo de coisa que demônios e fadas como eles sonhavam em conseguir — cada um deles podia conceder centenas de anos de cultivo de uma vez só. E aquela pessoa os havia lhe entregue com tamanha facilidade...

— Benfeitora, obrigado, obrigado mesmo... eu... eu não sei como posso retribuir isso. Você pode me dizer seu nome? — Ele ainda não sabia o nome de sua salvadora. Apesar de ser um demônio, Feng Xue sabia muito bem que uma graça que salva a vida deve ser paga. Mas ele não fazia ideia do que ela gostaria em troca. Pensou por um momento... e não pôde evitar lembrar que, no início, havia tirado a roupa tão descaradamente, e mesmo assim, ela não se aproveitara da situação. Essa benfeitora era realmente uma verdadeira dama. E agora, ainda lhe dera esses preciosíssimos dantian. Ele sinceramente não sabia como poderia compensá-la.

— Não me chame de benfeitora. Eu não sou sua benfeitora. — Ela não fizera nada daquilo esperando retribuição do pequeno demônio raposa. As coisas apenas aconteceram assim.

— Mas você é sim! Você salvou a mim e ao Xiao Jin. Por favor, diga seu nome. Eu vou retribuir. — Feng Xue insistia, determinado. Ele jamais aceitaria uma dívida dessas sem pagá-la por completo.

— Que sujeito incômodo... cala a boca. — Agora, uma chama intensa rugia dentro do corpo dela. A presença daquele homem persistente, tagarela e grudento a estava irritando profundamente. Qianhe Liyou abriu os olhos e olhou para ele, deixando transparecer, no olhar, a impaciência crescente.

O corpo inteiro de Feng Xue estremeceu ao encontrar aquele olhar frio e ao mesmo tempo abrasador. Piscando com uma expressão um tanto magoada, ele se levantou e segurou Xiao Jin nos braços, dizendo suavemente:

— Xiao Jin, me desculpa... fui eu quem te deixou chegar nesse estado. Aqui, este é seu dantian. Tome primeiro e vá se recuperando aos poucos. Daqui a algum tempo, você vai conseguir assumir sua forma humana de novo. — Colocando o dantian dourado sobre a mesa, Feng Xue acariciou delicadamente o corpo escorregadio e coberto de escamas de Xiao Jin, o olhar cheio de ternura.

Qianhe Liyou, de repente, notou que tudo havia ficado em silêncio. Quando abriu os olhos, viu Feng Xue acariciando Xiao Jin com doçura. Seus olhos brilharam por um instante — um lampejo de dourado avermelhado surgiu no meio da escuridão de suas pupilas.

— Feng Xue, é melhor você sair daqui agora. — A voz de Qianhe Liyou saiu baixa, carregada com uma aura de perigo e intenção assassina que era impossível ignorar.

Feng Xue não era tolo. Percebeu imediatamente a mudança no tom dela. Olhou surpreso para a mulher à sua frente e, ao se deparar com aqueles olhos tingidos de fogo, entendeu tudo de uma vez.

Ela havia bebido aquele chá. Era impossível não ter reação alguma...

— Eu não vou embora... você... pode fazer o que quiser comigo... eu... eu estou disposto... — Feng Xue murmurou, com o rosto corado, gaguejando suas últimas palavras.

— Não há necessidade de você fazer isso. Eu já disse: não sou sua benfeitora. Não quero que me retribua dessa forma. Vá embora agora. — Qianhe Liyou fechou os olhos novamente. Naquele momento, até sentira o impulso de fazer algo, mas não queria agir daquela maneira com alguém que se entregava por gratidão. Ela desprezava esse tipo de pessoa!

Feng Xue, ao ser rejeitado, pareceu pensar em algo — e seu rosto corado empalideceu na mesma hora. Perguntou, com a voz trêmula:

— Você... você tem nojo de mim? Eu... eu fiz aquelas coisas...

Não importava se era humano ou demônio, certas coisas ainda eram consideradas igualmente importantes. Os dois anos que passou em um bordel eram uma ferida profunda e sombria na vida de Feng Xue — uma lembrança que doía.

Qianhe Liyou começou a se irritar ainda mais ao ouvir aquilo. Já tinha acontecido, de que adiantava autopiedade e orgulho agora? Ela não sentia pena dele — e naturalmente, não o consolaria. Aquele homem... dizer essas coisas nesse momento, ele queria mesmo que ela fizesse algo só para provar que não o desprezava?

Com o silêncio de Qianhe Liyou, Feng Xue concluiu que sua suposição estava certa, e não pôde deixar de se sentir miserável. Por um instante, teve uma vontade imensa de chorar.

— Me desculpe. Mais uma vez falei coisas baixas e deprimentes... mas mesmo assim, eu queria saber seu nome. Por favor, me diga... se disser, eu irei embora imediatamente...

— Qianhe Liyou. Esse é meu nome. Agora, pode sair.

— Qianhe Liyou... você... você é a atual Imperatriz! — Feng Xue a olhou com um misto de surpresa e espanto, claramente atordoado. Ele sabia que ela era uma figura misteriosa, mas jamais teria imaginado que fosse a Imperatriz — conhecida por sua crueldade e libertinagem... Por que, então, a mulher diante dele parecia tão diferente dos rumores?

— Esquece... se você não vai embora, eu vou. — Qianhe Liyou já não conseguia mais conter a irritação crescente. E ao ver o céu começar a clarear com tons rosados e dourados, decidiu que era hora de voltar ao Palácio Imperial.

Com esse pensamento, Qianhe Liyou se levantou rapidamente. Feng Xue a observava com cautela, como se quisesse dizer algo. Ela percebeu, mas não queria ter mais nenhum envolvimento com aquele homem. Estava se sentindo extremamente impaciente — só queria ir embora. Mas, ao se aproximar da porta, de repente sentiu um par de braços frágeis a abraçando por trás.

— O que você pensa que está fazendo? — A voz de Qianhe Liyou caiu vários graus, gelada. Aquele homem não entendia o que era uma rejeição?

****

Capítulo 17: Estabilizando a Corte

— E-eu sinto muito. Eu não deveria ter tocado em você, mas você é minha benfeitora, eu preciso retribuir. Por favor, me deixe segui-la e servi-la. Não me expulse! — Ao ver a expressão sombria de Qianhe Liyou, Feng Xue soltou-a rapidamente e se ajoelhou no chão, o rosto distorcido por emoções como pânico e desespero.

Ele queria seguir aquela mulher. Seja por gratidão ou por outro motivo qualquer, ele queria ficar ao lado dela.

Qianhe Liyou ficou furiosa — esse homem não entendia o significado das palavras?

— É melhor sair do caminho. Não me irrite. — Qianhe Liyou já tinha deixado claro que não permitiria que o pequeno demônio raposa a retribuísse de forma alguma. Uma névoa negra surgiu de seus dedos e rapidamente envolveu o corpo de Feng Xue. Ele tentou dizer algo, mas percebeu que não conseguia mover um único músculo — muito menos emitir som algum.

Qianhe Liyou foi embora sem olhar para trás e foi direto procurar Long Xizhao. Assim que a encontrou, arrastou a mulher, que ainda não havia despertado, para fora do Pavilhão Zhaixing.

Naquele dia, a Imperatriz cancelou a audiência matinal e foi diretamente para seus aposentos ao retornar de fora do palácio. Lá, dispensou todos os atendentes e permaneceu sozinha o dia inteiro. Só à noite permitiu que alguns servos trouxessem comida.

Durante todo esse tempo, Qianhe Liyou não se moveu. Permaneceu deitada na cama, com os olhos fechados, cochilando de vez em quando. Ela deixou que o veneno irritante que percorria seu corpo fosse lentamente suprimido por sua constituição poderosa e seu cultivo formidável.

O tribunal imperial estava em um momento de grande turbulência. Porém, sob as reformas conjuntas de Long Xizhao, Li You e Mu Qingwan, essa instabilidade se transformou rapidamente em um impulso positivo. Logo, todo o império e os quatro países vizinhos foram impactados pelas mudanças. Atraídos pelas novas políticas do império, muitos talentos e pessoas inteligentes vieram investigar o que estava acontecendo. Como resultado, civis, generais e oficiais de todos os níveis foram afetados tanto pelas reformas quanto pela chegada desses talentos. Contudo, surgiram complicações: alguns oficiais tentaram resistir às mudanças, pois seus interesses estavam sendo severamente prejudicados pelas novas medidas. Mas sob a força avassaladora do exército imperial — e a presença imponente de Qianhe Liyou — esses protestos foram rapidamente abafados.

Cerca de dez dias depois, Long Xizhao apresentou à Imperatriz a lista de candidatos para os cargos de oficiais civis de nível inferior, administradores e generais, junto com uma segunda lista contendo os nomes para os altos cargos do governo.

Qianhe Liyou não olhou imediatamente as listas. Em vez disso, lançou um olhar provocativo para os três que estavam à sua frente.

— Os nomes de vocês estão incluídos nessas listas? — perguntou ela, com um tom que oscilava entre o desinteresse e o sarcasmo.

Os três se levantaram quase ao mesmo tempo, suas expressões ficando imediatamente cautelosas e tensas.

— Em resposta à pergunta de Vossa Majestade, esta ministra não incluiu seu próprio nome na lista. Esta ministra acredita que julgar os outros é fácil, mas julgar a si mesma é extremamente difícil. Apesar de ter refletido bastante, não ouso concluir que sou adequada para qualquer cargo. Vossa Majestade deve decidir tanto o meu destino quanto o dos demais indicados. Além disso, durante esse processo de seleção, esta ministra deseja informar que todos os nomes passaram por rigorosos critérios e testes elaborados por mim e pelas outras duas ministras. Fizemos investigações cuidadosas e avaliações minuciosas. Embora acreditemos que esses nomes sejam apropriados, também reconhecemos que as pessoas mudam. Aqueles que hoje são justos e sábios podem não ser honestos e corretos amanhã. Vossa Majestade confiou uma responsabilidade imensa a nós três. Esta ministra dará tudo de si para cumprir com excelência, sem interesses pessoais. Por isso, quanto à escolha desses nomes e à nomeação dos cargos, suplico que Vossa Majestade tome a decisão final.

Essas palavras deixavam claro que Long Xizhao não tomaria decisões definitivas, pois não tinha autoridade para tanto. Mas suas palavras também tinham um peso ambíguo. Ela já havia sido uma ministra influente no passado, uma das favoritas da Imperatriz — como podia dizer que não tinha poder? Mas agora era, de fato, diferente. Escolher e avaliar todos os oficiais do império equivalia a selar o destino — vida ou morte — de suas carreiras. Esse novo poder fazia os olhos dos outros brilharem de inveja. Sua porta estava constantemente cercada por pessoas das famílias nobres, militares e de oficiais, enviando presentes e implorando por favores. Durante alguns dias, ela sequer ousou usar a entrada principal de sua própria casa.

Provavelmente, Li Yao e Mu Qingwan estavam passando pelas mesmas dificuldades.

Ao pensar nisso, Long Xizhao sentiu vontade de chorar. Trabalhavam com tanto cuidado, do amanhecer ao anoitecer, ocupadas com os assuntos da corte e os desejos da Imperatriz. E essa Imperatriz… simplesmente não fazia nada! Dava inveja do estilo de vida despreocupado dela, ah!

— Como você mesma disse, ninguém é imutável. Então será preciso criar uma agência de supervisão para vigiar os novos indicados. Amada Oficial Long, essa tarefa será sua responsabilidade. — Essa era uma daquelas frases clássicas, usadas por Imperatrizes ao longo da história. Se você sugerisse algo, acabava responsável por colocar em prática.

— Imperatriz, isso é apropriado? Esta ministra já está encarregada de selecionar os candidatos adequados, e Vossa Majestade ainda deseja que eu escolha os nomes para a agência de supervisão? Isso não parece certo, não é? — Long Xizhao sentia a cabeça latejar. No passado, os ministros mais importantes viviam com medo de atrair a suspeita da Imperatriz. Ela provavelmente era a única oficial que sentia dor de cabeça porque a Imperatriz confiava demais nela.

— Xizhao, está se recusando a obedecer ao decreto de zhen? — Quanto mais Long Xizhao resistia, mais Qianhe Liyou queria empurrar essa responsabilidade para ela. Isso era um dos pequenos prazeres da Imperatriz no dia a dia. A razão de ter incumbido esses três de suas tarefas não era apenas por confiança. Li Yao era íntegra e sensata, Long Xizhao era astuta e sagaz, e Mu Wanqing era direta e franca, mas lúcida. Essas três tinham personalidades muito distintas, e embora não fossem completamente leais de coração à Imperatriz, eram oficiais extremamente competentes — e os resultados falavam por si.

Além disso, ela contava com sua Anbu, a Tropa Secreta de Elite, e com Yin Long, um titã do comércio, para lhe fornecer informações. Quanto aos nomes apresentados nas listas, ela já tinha reunido os detalhes sobre cada um deles há muito tempo.

— Esta ministra não ousa! Não foi essa a intenção! — respondeu Long Xizhao, apressadamente.

— Então, a tarefa é sua. — Qianhe Liyou tomou um gole do chá perfumado preparado por An Guifei e, de forma casual, lançou essa missão de peso direto no colo de Long Xizhao.

(Guifei: Título de consorte imperial de mais alto escalão, logo abaixo da Imperatriz.)

Long Xizhao não teve escolha a não ser engolir tudo em silêncio — suportando um amargor indescritível que não podia colocar para fora. Só lhe restou curvar-se, agradecer à Imperatriz e aceitar a missão que fazia outros morrerem de inveja.

(“Suportando um amargor indescritível que não podia colocar para fora” é um ditado que remete à imagem de alguém que foi forçado a engolir ervas extremamente amargas, mas que, mesmo assim, não pode reclamar — alguém jogado numa situação difícil que precisa apenas suportar em silêncio.)

— Imperatriz, Vossa Majestade irá supervisionar pessoalmente a seleção dos oficiais de terceiro escalão para cima? Embora haja alguns velhos oficiais na lista, há também candidatos selecionados de várias regiões e países, e até mesmo... ahem, pessoas de quem Vossa Majestade não gostava anteriormente. Esses ministros precisam ser aprovados por Vossa Majestade, no fim das contas. Além disso, há outros três ministros cujas posições precisam ser designadas pessoalmente. Esta ministra solicita que a Imperatriz providencie isso e, por favor, reserve um tempo para conceder a esses oficiais os devidos títulos e cargos — disse Li Yao com sua habitual retidão e franqueza. Justamente por ser tão séria, quando ela tentava fazer uma piada, acabava parecendo ainda mais ridícula com aquela expressão dura contrastando com palavras ousadas.

— Cof, cof, cof... — Long Xizhao tentou conter o riso, mas acabou caindo numa crise de tosse para disfarçar a gargalhada.

Mu Qingwan arregalou levemente os olhos e permaneceu ali, com uma expressão completamente apática.

As sobrancelhas finas e bem desenhadas de Qianhe Liyou se arquearam com leveza antes que ela dissesse, com um tom indiferente:

— Oficial Li, zhen não se lembra de ter feito nada para você. Pedir um título a zhen dessa forma me deixa até constrangida...

— Hahahaha... — Long Xizhao e Mu Qingwan não conseguiram mais se segurar e caíram na gargalhada, batendo nos joelhos. A Imperatriz realmente era diferente — a antiga Imperatriz que conheciam jamais teria um senso de humor assim.

De repente, houve uma comoção do lado de fora do Estudo Imperial, e Feng Ying entrou apressada.

— Imperatriz, uma pessoa estranha apareceu de repente no palácio. Tem cabelos brancos e está ajoelhada na entrada do salão principal. Os guardas imperiais tentaram capturá-lo, mas não conseguiram. Ele continua dizendo que deseja uma audiência com Vossa Majestade. O que devemos fazer?

Feng Xue! Ao ouvir o relato de Feng Ying, Qianhe Liyou teve certeza de que era ele. Não esperava que aquele pequeno demônio raposa a perseguisse até aqui sem desistir. Ele era realmente persistente...

***

Capítulo 18: O Reaparecimento de Feng Xue

— O que você está fazendo aqui? — Como esperado, era mesmo Feng Xue. A mancha branca no meio da multidão se destacava com facilidade, ainda mais com aquela aura encantadora que envolvia seu rosto. Se não fosse Feng Xue, quem mais poderia ser? Somando suas características físicas únicas, agora totalmente recuperado em termos espirituais, a aura sedutora e cativante que o rodeava estava ainda mais intensa. Pelos olhares fascinados e curiosos das pessoas ao redor, era evidente que ele parecia uma fada celestial que havia descido ao mundo mortal para abençoá-lo com sua presença.

— Mestra, por favor, aceite Feng Xue. Feng Xue está disposto a ser escravo por toda a vida, servindo a Mestra para retribuir o favor de ter salvo sua vida.

Ao avistar a figura de Qianhe Liyou, ele se assustou por um momento, mas logo reafirmou com firmeza sua súplica.

Em meio à grande multidão reunida no salão, as palavras de Feng Xue causaram um grande alvoroço, e as especulações começaram a borbulhar nas mentes de todos ali. A maioria conjecturou que aquele era mais um fruto cármico de um caso de amor provocado pela Imperatriz. No entanto, dessa vez, a Imperatriz realmente havia agido como uma boa pessoa ao salvar aquela beldade.

Qianhe Liyou não era alguém facilmente irritável, mas se sentia profundamente provocada pela presença daquele pequeno demônio raposa diante dela — exatamente como se sentira no dia em que se conheceram. Com um leve movimento do corpo, ela apareceu à frente de Feng Xue em questão de segundos e se inclinou, aproximando o rosto do dele. Com um tom extremamente perigoso e gélido, disse:

— Você acha que é tão fácil assim se tornar meu escravo? Eu te concedi a liberdade, e você a jogou fora. Você é tão moralmente baixo que precisa ser um escravo para se sentir digno?!

Feng Xue já estava pálido havia muito tempo, o desespero estampado em seu rosto diante das palavras impiedosas de Qianhe Liyou, mas, mesmo assim, respondeu com firmeza:

— Um favor de salvação de vida deve ser retribuído com total devoção. Não importa os insultos ou palavras que diga, eu não irei embora.

Feng Xue abaixou a cabeça, ainda ajoelhado no chão, o rosto sombrio e de um branco cadavérico ao pronunciar tais palavras. Todos os presentes ficaram comovidos com sua aparência lamentável, mas reconheciam a frieza inflexível de sua soberana.

— Não vai embora? Muito bem. Você sabe quais deveres precisa cumprir como escravo?

É claro que Feng Xue não fazia ideia do que Qianhe Liyou estava se referindo. Depois de pensar cuidadosamente por alguns segundos, ele hesitou antes de perguntar:

— O que você quer que eu faça?

— A primeira coisa que um escravo precisa ser capaz de fazer é obedecer às ordens de seu Mestre sem resistência. Você consegue fazer isso? — Esse pequeno demônio raposa ainda não tinha aprendido a lição, mesmo depois de passar por tantos anos de experiências cruéis e degradantes. Se ele queria segui-la, será que realmente pensava bem dela? Que absurdo.

— Eu consigo! Desde que esteja dentro das minhas capacidades, eu farei! — Ao ouvir as palavras de Qianhe Liyou, Feng Xue sentiu uma esperança secreta florescer em seu peito. Seu rosto corou de felicidade evidente, transformando completamente sua expressão.

Qianhe Liyou sorriu. Mas não era um sorriso comum, tampouco um sorriso visível. Ainda assim, uma emoção indefinível cintilou em seus olhos escuros como um abismo, mas o sorriso não chegou até eles. Era um sorriso desprovido de alegria, sem calor — carregado de implicações sombrias.

— Muito bem. Então tire sua roupa, como naquele dia… — Como Feng Xue estava ajoelhado no chão o tempo todo, Qianhe Liyou teve que se inclinar levemente ao dizer isso.

Sua voz desceu diversas oitavas, articulando cada palavra com clareza. O tom baixo fez o corpo de Feng Xue estremecer involuntariamente.

— O que foi, está com medo? Os servos aqui são propriedade privada do Mestre. Talvez, com o tempo, eu te conceda a honra de me acompanhar — como nas coisas que você já fez antes — ou talvez eu te entregue a outra pessoa. Um escravo é apenas um objeto para o seu Mestre, nem sequer é considerado um ser humano. O que você acha que vou fazer com você?

Às vezes, ela realmente não conseguia entender como os humanos pensavam. Eles não queriam sua liberdade e, ainda assim, estavam dispostos a se tornar escravos. Não importava qual era a dinastia ou a época, o status de escravo nunca foi mais valioso do que a própria vida — e o que ela havia dito era apenas a ponta do iceberg. Esse pequeno demônio raposa era completamente ingênuo!

— Você… realmente faria isso? — A voz de Feng Xue tremia, enquanto ele erguia ligeiramente a cabeça para olhar Qianhe Liyou, um leve brilho de esperança ainda visível em seus penetrantes olhos cinzentos.

— Você já não sabia que eu, como Imperatriz, sempre fui esse tipo de pessoa? — Qianhe Liyou retrucou com uma pergunta retórica, sua expressão fria como gelo.

A pequena chama de esperança nos olhos de Feng Xue se apagou, pouco a pouco, até que restaram apenas cinzas ainda mornas. Ele abaixou a cabeça e respondeu com uma voz tão baixa, tão sussurrante, que mal podia ser ouvida:

— Se é isso que você quer, então… eu… eu consigo.

Ele já era considerado impuro, sua inocência há muito havia sido manchada após passar dois anos num bordel. Se não fosse pela intervenção de Qianhe Liyou, ainda estaria preso naquele lugar, humilhado e profanado, com um destino pior que o de um cão. Agora, era apenas uma questão de tirar as roupas — só isso. Ele podia aguentar! Prometera a si mesmo que, enquanto essa pessoa pudesse salvar Xiao Jin, ele faria qualquer coisa!

As mãos de Feng Xue tremiam enquanto ele desatava o cinto de seus mantos externos e começava a despir-se, peça por peça, de cima para baixo. Todos ao redor prenderam a respiração, observando cada movimento seu com atenção!

— Imperatriz… — Long Xizhao tentou intervir, mas assim que abriu a boca, o olhar de Qianhe Liyou percorreu seu corpo de cima a baixo, como uma lâmina gelada. Um arrepio percorreu-lhe a espinha, e ela fechou a boca imediatamente, assustada.

Qianhe Liyou observava Feng Xue friamente. Suas vestes externas já haviam caído ao chão, restando apenas as roupas internas de linho branco puro. As mãos de Feng Xue se moveram para remover essas últimas camadas, seus dedos tremendo violentamente ao alcançar o pequeno cordão que segurava o que restava de sua dignidade.

Aquilo não era nada, realmente nada. Não era só tirar a roupa? Seu corpo já havia sido visto e tocado por tantas pessoas… isso não era nada… Feng Xue tentava se consolar em silêncio, cerrando os olhos com força enquanto seus dedos pálidos se moviam, desamarrando o cordão…

— Já basta. Vista-se. Feng Ying, essa pessoa ficará sob sua responsabilidade a partir de agora. No futuro, não preciso mais de um atendente para limpeza em meus aposentos. Deixe que essa pessoa cuide disso. — Qianhe Liyou estava exasperada, extremamente irritada com aquele homem teimoso a ponto de parecer um idiota, alguém que seguia cegamente tudo o que lhe era ordenado. Também estava insatisfeita consigo mesma, por ter amolecido no último momento.

— Sim, Vossa Majestade! — observando a Imperatriz se retirar tomada por uma fúria gélida, Feng Ying lançou um olhar curioso ao homem ainda ajoelhado no chão, visivelmente perdido. Que sujeito intrigante...

— Jovem Mestre, por favor, venha comigo. — A atitude de Feng Ying era extremamente respeitosa. Embora a Imperatriz tivesse tratado aquele homem com frieza e desdém, com seus muitos anos de experiência, Feng Ying suspeitava que aquele Jovem Mestre não era alguém comum — e que sua posição no coração da Imperatriz era, sem dúvida, significativa. Apesar da ordem de designá-lo como o encarregado da limpeza do Palácio Qin, ela pretendia conduzir tudo com muito cuidado.

— Meu nome é Feng Xue, pode me chamar pelo nome. Sou apenas um escravo, não precisa ser tão cortês. — O rosto de Feng Xue ainda estava pálido, mas a expressão de alegria era evidente para qualquer um que o olhasse. No fim, ela o deixara ficar… e não exigira que ele fizesse aquilo. Feng Xue tinha a nítida sensação de que acabara de retornar da beira da morte. Sua fragilidade parecia maior que nunca, e embora seu corpo ainda estivesse fraco, ele apertava com força as roupas desalinhadas contra o peito.

Claro que ele não queria ser tratado daquela forma. Que indiferença, que frieza — tudo isso não passava de mentiras para se consolar. Como poderia não se importar de verdade? Quando Qianhe Liyou havia feito aquele tipo de exigência, seu coração quase se despedaçara por completo. Ele não queria acreditar que sua benfeitora o trataria daquela forma. Ele realmente acreditava nela… foi por isso que viera, para retribuir. Felizmente, ela não o decepcionou.

— Jovem Mestre Feng Xue, por favor, venha comigo. — Feng Ying não respondeu às palavras dele, preferindo se manter discreta. Ela providenciou um quarto simples, porém confortável, com móveis decentes e ambiente agradável. Após explicar algumas regras básicas do palácio, deixou Feng Xue para que se adaptasse ao novo lar.

— Imperatriz, aquele Jovem Mestre... Vossa Majestade pretende mesmo colocá-lo como encarregado da limpeza no Palácio Qin? — Murong Xuanhe vinha servindo a Imperatriz nos últimos dias, e durante esse tempo, percebera que o humor dela parecia estranho, sombrio. Suspeitava que isso tinha a ver com aquele jovem que aparecera recentemente, por isso arriscou abordar o assunto com cautela.

— Intrometido! — Quando foi que ele passou a ter o direito de se meter e se preocupar com seus assuntos? Qianhe Liyou lançou-lhe um olhar impaciente, seu tom cortante como uma lâmina.

Nesta vida, Qianhe Liyou havia se tornado a imperatriz de um império grandioso e florescente. Mas antes disso, havia sido uma zumbi que cultivou arduamente por milhares de anos. Seja no reino demoníaco ou no imortal, ninguém em sua vida passada foi páreo para ela. Seu poder espiritual ultrapassava de longe o dos cultivadores comuns, e esses milênios de refinamento espiritual a tornaram uma existência indomável. Por natureza, era indiferente e não nutria aquele desejo cego por poder que costumava acompanhar a ascensão de força. Se não fosse por sua alma ter sido transferida para esse corpo imperial, jamais teria desejado ser imperatriz.

Mas sua indiferença natural não significava ausência de personalidade. Tendo vivido dezenas de milhares de anos sem restrições, sua teimosia, frieza e natureza dominante haviam se enraizado profundamente, tornando-se traços imutáveis. O que era ou não possível para ela, o que devia ou não ser feito, não era algo que ela permitiria que outros interferissem.

Murong Xuanhe, após ser repreendido, manteve no rosto uma expressão magoada e inocente — ele só estava preocupado com ela...

— An guifei, está dispensado. Zhen não precisa mais que você fique aqui.

— ...Sim. — O "sim" de Murong Xuanhe quase veio acompanhado de lágrimas contidas. Ele não queria ir embora, mas sabia que não tinha sequer o direito de contestar...


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