Extra 5


 — Alteza, a aula de hoje terminou. Pedirei licença.

— Senhor, vá com calma — respondeu Rong Sheng, levantando-se para se despedir do mestre como um aluno bem-educado. Assim que o professor saiu, ele também virou-se para sair. Os guardas e eunucos postados do lado de fora o seguiram apressadamente, mas ninguém se atreveu a carregar sua bolsa de livros.

Essa era uma ordem de Sua Majestade: dizia que o príncipe, como estudante, deveria tratar seus próprios livros com respeito, e permitir que outros os carregassem não condizia com a conduta de um verdadeiro cavalheiro.

Felizmente, embora tivesse apenas sete ou oito anos, o príncipe era uma criança muito sensata. Como o pai lhe pedira para carregar seus próprios livros, ele nunca se sentiu injustiçado por isso.

Todos os dias, após terminar os deveres, Rong Sheng ia até o Estúdio Imperial mostrar as lições ao pai. Depois da revisão, pai e filho retornavam juntos ao harém para jantar com a mãe. Mas hoje parecia que algo inesperado havia ocorrido — ele até ouvira a voz de seu pai repreendendo os ministros.

O pai sempre mantinha o bom humor e raramente se irritava. Se alguém conseguira deixá-lo tão furioso, certamente havia tocado em seu ponto fraco.

— Alteza — Wang De, que vigiava do lado de fora do salão, adiantou-se para saudá-lo —, Sua Majestade está conversando com os ministros. Deseja entrar agora?

Rong Sheng pensou por um momento:

— Conduza-me até ele.

Ele queria saber quem deixara seu pai tão zangado.

— Majestade, vosso harém está vazio há mais de dez anos. Agora que obtivemos uma grande vitória, com bom clima, abundância de grãos, e todas as nações vindo à corte... Se os emissários estrangeiros souberem que temos apenas uma imperatriz no harém e apenas um filho sob vossos joelhos, o que pensarão de nós?

Ao ouvir isso, Rong Sheng parou brevemente, mas manteve o rosto inexpressivo. Caminhou até o centro do salão, curvou-se diante de Rong Xia e disse:

— Saúdo meu pai.

— Sheng’er — ao ver o filho, a expressão de Rong Xia suavizou. Estendeu a mão, chamando-o para sentar-se a seu lado, e então se virou para o ministro:

— É a primeira vez que ouço que, para julgar se um imperador é bom ou não, deve-se olhar para o número de mulheres em seu harém, e não para seus feitos políticos. Quantos reis perderam seus reinos por causa de mulheres, e ainda assim vocês me aconselham a tomar concubinas e entregar-me aos prazeres? Qual é a intenção de vocês?!

— Majestade! — o ministro ajoelhou-se, pálido — Jamais tive tal intenção! Só quero que acrescente alguns aliados para o príncipe...

As sobrancelhas de Rong Sheng se contraíram levemente. Ele abriu o livro que carregava e não interrompeu. Mamãe sempre disse que conversar com idiotas é pior do que pensar no que se vai comer no jantar. De qualquer forma, o que esses idiotas dizem é inútil — só servirá para deixar o imperador mais irritado.

Quanto mais inteligente a pessoa, menos ela tolera a estupidez. E o imperador é tão sábio... Como poderia suportar gente assim?

E Rong Sheng estava certo. Não demorou muito para que o pai repreendesse severamente aquele oficial, até rotulando-o de traidor por “tentar induzir Sua Majestade ao devaneio com mulheres”. Ainda assim, o homem manteve-se ajoelhado, insistindo com desfaçatez.

— Essas palavras não estão ruins. Já dá para ver um pouco de caráter — comentou Rong Xia, lendo o conteúdo do dever de casa de Rong Sheng. Estendeu a mão e tocou sua testa. — Pronto, guarde tudo. Vamos jantar com sua mãe.

Rong Sheng, obedientemente, guardou o material, segurando os livros com uma mão, enquanto com a outra era conduzido por Rong Xia. Caminhavam tranquilamente, e o pai lhe contava algumas anedotas pelo caminho.

O imperador não era um pai severo no sentido tradicional. Rong Sheng ouvira de seus colegas que muitos filhos de nobres tinham que decorar textos e praticar caligrafia desde pequenos, e que, ao cometerem erros, eram punidos pelos pais. O seu, no entanto, jamais o tratou com tamanha rigidez. Ainda assim, Rong Sheng o admirava profundamente — nenhum outro cavalheiro sabia tanto quanto seu pai.

Estar ao lado dele ampliava seus horizontes. Estar com sua mãe fazia cada instante ser cheio de alegria. Com ela, ele conhecia todo tipo de coisa nova e divertida. Sempre que ouvia falar dos filhos dos outros, sentia-se incrivelmente sortudo por ter aqueles pais.

Mas justamente por isso, ele não se permitia relaxar. Seus pais se esforçavam tanto por ele... Se não retribuísse devidamente, em que ele seria melhor que uma besta?

Pai e filho andavam devagar, mas o Estúdio Imperial ficava perto do harém, e logo chegaram ao salão interno do Palácio da Grande Lua.

Ao entrarem, viram Banhua cantando junto com uma cantora. Ao perceber a chegada dos dois, ela sentou-se ereta na chaise longue e acenou com um sorriso:

— Filho, venha ver com a mamãe... Não está especialmente bonito hoje?

Rong Sheng correu até Banhua em três passos. Ela apertou suas bochechas claras e macias:

— Sabia! Está mesmo mais bonito do que ontem. Comer direitinho faz efeito.

— Mãe, já tenho sete anos — Rong Sheng cobriu o rosto. Sua mãe dizia esse tipo de “mentirinha” há anos... Não podia trocar o repertório?

— Sete anos, não dezessete — Banhua tocou sua mão, e após se certificar de que não estava quente nem fria, disse a Rong Xia:

— Pedi ao refeitório imperial que fizesse pãezinhos de coelhinho para você e Sheng’er. Lembre-se de prová-los depois.

Rong Xia riu. Um homem de mais de trinta anos, comendo o mesmo que o filho... Mas Huahua insistia que sua infância havia sido entediante, e queria compensá-la junto de Sheng’er. Por isso, sempre preparava algo para o filho — e secretamente preparava também uma porção para ele. Só restava rir.

Embora achasse isso um pouco constrangedor por dentro, ele respondeu com naturalidade:

— Está certo.

Era o desejo de Huahua, e ele não suportava desapontá-la nem um pouco.

Os pãezinhos de coelho estavam lindos, macios e deliciosos. Rong Xia comeu um... e não resistiu a comer outro. Ao se virar, viu Ban Hua sorrindo para ele. Abaixou-se e sussurrou em seu ouvido:

— Por que Hua Hua está sorrindo assim?

Banhua riu:

— Estava pensando... Você devia ser tão fofo quanto Sheng’er quando era pequeno.

Rong Xia olhou para Rong Sheng. Ele comia com atenção, segurando um pão de coelhinho no bolso. As bochechas estufadas, parecia mesmo um coelhinho branco e inofensivo.

Ele balançou a cabeça:

— Quando criança, eu não era tão querido quanto Sheng’er.

— Quem disse isso? — Banhua segurou sua mão —. Você é um homem de trinta e poucos anos e continua adorável. Imagina quando era criança.

Rong Xia: Um velho...?

Ele tocou o próprio rosto e pensou em pedir ao médico imperial que encontrasse algumas prescrições de embelezamento no dia seguinte. E se um dia Huahua deixar de gostar de mim por causa da minha velhice?

Depois do jantar, a família de três conversou por um tempo. Rong Xia acompanhou Rong Sheng até os aposentos para descansar, e ele e Ban Hua também se prepararam para se lavar e ir dormir.

Mas talvez por ter comido demais de tão feliz, sentiu-se sonolento e um pouco desconfortável. Quando abriu os olhos, Huahua já não estava mais ao seu lado.

— Sua Majestade está acordada? — Wang De perguntou do lado de fora da cortina.

Rong Xia olhou para o espaço vazio ao seu lado e, instintivamente, estendeu a mão. Ao tocar o local, sentiu o tecido frio. Franziu o cenho. Ainda está amanhecendo, com o temperamento da Huahua, como ela estaria disposta a levantar tão cedo?

Mas vendo que Wang De mantinha uma expressão normal, sem parecer preocupado, ele não fez mais perguntas.

A caminho da corte, ele lançou um olhar para o canto inferior direito do salão. Nem o sogro nem o cunhado compareceram, provavelmente por preguiça. Mas até aqueles velhotes ausentes habituais também não vieram. Será que combinaram de faltar todos no mesmo dia? Normalmente, quando se ausentavam da corte, revezavam. Por que hoje foi todo mundo de uma vez?

Rong Xia sentiu um incômodo inexplicável no peito. Felizmente, nada de anormal aconteceu durante a audiência. Ele até se distraiu em alguns momentos, mas ninguém pareceu notar.

Após a corte, ele voltou ao Estúdio Imperial e começou a examinar os relatórios. Um memorial informava que uma seca em Xizhou causara sofrimento ao povo, e que muitos estavam passando fome. Rong Xia franziu o cenho imediatamente. A colheita de soja este ano foi abundante... como assim estão passando fome?

Jogou o memorial de lado. Seu semblante se fechou como o céu antes da chuva.

— Wang De, onde está sua senhora?

— S-Sua Majestade... — Wang De hesitou, surpreso. Sua Majestade raramente mencionava mulheres, ainda mais no Estúdio Imperial. O que houve hoje?

— Sua Majestade, de qual senhora está falando...? — assim que disse isso, percebeu que o olhar de Rong Xia mudara. Era como se ele estivesse sendo vigiado... ou até mesmo suspeitado.

— De quem você acha que estou falando?

Ai meu Deus... Wang De suava frio. O harém tem poucas concubinas, e Sua Majestade não valoriza nenhuma delas. Às vezes mal entra no harém uma vez por mês. Como é que eu vou saber de quem ele está falando?

— Talvez... esteja falando da Concubina De, a imperatriz?

A pálpebra de Rong Xia tremeu levemente. O silêncio caiu pesado no Estúdio Imperial. Ele encarou Wang De por um longo tempo.

— Estou te perguntando... o que aconteceu com a família do Duque de Jingting?

— O Duque de Jingting... — Wang De pensou com atenção. — Ah, Vossa Majestade está falando de Ban Shuiqing, o filho da falecida Princesa Dening? A família dele teve o título revogado pelo Rei Li, doze anos atrás. Depois, Vossa Majestade cuidou para que eles levassem uma vida próspera e tranquila na Prefeitura de Yujing. Mas talvez Vossa Majestade esteja confundindo... Ban Shuiqing não era duque, e sim marquês...

Crash! O som da porcelana se espatifando ecoou pela sala.

A mão de Rong Xia tremia. A xícara caiu ao chão, quebrando-se em pedaços.

— Sua Majestade! O que houve?! — Wang De o olhou, alarmado. — Chamem o médico imperial, rápido!

— Não precisa. — Rong Xia o encarou fixamente. — E a filha dele, a Srta. Ban Xiangjun?

— A Srta. Banxiang... A Srta. Banxiang... — Wang De empalideceu, caindo de joelhos. — A Srta. Banxiang foi assassinada há muitos anos. Vossa Majestade... esqueceu? Na época em que Vossa Majestade liderou as tropas pela fronteira e se tornou imperador, encontrou-se com ela uma única vez em uma casa de chá... E ela foi assassinada ao sair. Vossa Majestade teve tanta pena dela, por ser uma mulher gentil e discreta, que ordenou que fosse enterrada com os ritos de uma princesa, e...

Assassinada?! — A mente de Rong Xia explodiu em ruído. Ele não conseguia mais ouvir as palavras de Wang De.

O mundo inteiro girava, gelado como neve.

Pof.

Uma golfada de sangue jorrou de sua boca, tingindo de vermelho o dorso da própria mão.

— Sua Majestade!! Chamem o médico imperial, rápido! — Wang De se arrastou até a porta desesperado. — Chame o médico imperial agora!!

Rong Xia ignorou completamente Wang De. Saiu às pressas do Estúdio Imperial e correu até o salão interno do Palácio da Grande Lua. Mas o lugar onde ele e Huahua costumavam descansar juntos estava vazio. Não havia sinal algum dela, como se... como se Huahua jamais tivesse estado ali.

— Majestade, o que aconteceu com Vossa Majestade?

— Sua Majestade.

— Sua Majestade...

Ele virou a cabeça e olhou para a criada e o eunuco ajoelhados atrás dele. Apertando o peito com força, cuspiu várias golfadas de sangue vermelho vivo.

Sem a Huahua... de que serve ele neste mundo?

Na noite anterior, ele havia jantado com Huahua. Ela deitou-se ao seu lado, sorrindo, dizendo que naquele dia tinha pedido ao Yushufang que fizesse pãezinhos de frutas para ele. Como, então, ele acordou tão cedo... e não restava mais nada?

Huahua está morta?

Morta, doze anos depois, e ainda assim... morreu diante dele?

Ele sequer... a enterrou com um funeral de princesa?

Isso não pode ser verdade. É impossível. Como ele pôde tratá-la assim?

Wang De ficou chocado ao perceber que Sua Majestade estava chorando.

Chorava, diante de todos os servidores do palácio, como se tivesse perdido a coisa mais preciosa que lhe dava razão de viver.

De fato, Sua Majestade demonstrara certa admiração pela Senhorita Banxiang naqueles tempos. Caso contrário, não a teria enterrado com os ritos de uma princesa. Mesmo após sua morte, ordenou que a família Ban fosse protegida, permitindo que se mudassem para a Prefeitura de Yujing, longe dos abusos e da crueldade da capital.

Mas era só isso. Nos últimos dez anos, Sua Majestade raramente mencionava a Senhorita Banxiang. No máximo, caminhava em silêncio pelo lago congelado do Jardim Imperial, durante o pico do inverno, olhando fixamente para o gelo.

Então por que está tão triste hoje, se nem ao menos mencionava esse nome há uma década...?

Dois dias depois, o Rei Changqing, que estava encarcerado na prisão, foi sentenciado à morte por ordem de Sua Majestade.

Naquele dia, Wang De vigiava diante do Palácio da Grande Lua e ouviu os gritos do imperador, um após o outro — lamentos amargos, como o choro solitário de um ganso perdido.

— Huahua...

Ouviu o nome de forma vaga.

Huahua... era o nome de solteira da Senhorita Banxiang, não era?

Uma mulher como uma flor, gentil e graciosa.

— Sua Majestade, Sua Majestade, o que houve?!

Rong Xia abriu os olhos e olhou para a mulher ao seu lado. Estendeu os braços e a puxou com força contra o peito, abraçando-a tão apertado que não restava espaço entre os dois.

— Teve um pesadelo? — Ban Hua o acariciou nas costas como fazia com Rong Sheng quando pequeno. — Não tenha medo, eu estou aqui.

Ela estava com Rong Xia havia mais de dez anos, mas era a primeira vez que o via chorar durante o sono — claramente, um sonho cheio de tristeza.

— Huahua — Rong Xia soluçou —, não me deixe.

— Que bobagem é essa? — Ban Hua tocou seu rosto, sentindo as lágrimas com a ponta dos dedos. Seus dedos tremiam levemente. — Você e Sheng’er estão aqui... Para onde mais eu iria?

Apertando-a nos braços, Rong Xia sentiu calor espalhar-se pelo corpo. Era só um sonho. Tudo aquilo era falso. Huahua estava ali, bem, em seus braços, sendo sua imperatriz.

Ela não estava sozinha deitada ao chão, sem nome. Não fora sepultada com a dignidade mínima apenas como princesa.

Um império sem Huahua era solitário e assustador demais.

— Huahua.

— Hm?

— Ter você é a maior sorte da minha vida.

— Pfft — Ban Hua sorriu e beijou o canto molhado dos olhos dele —, pra mim também.

A vida é cheia de acasos. Mas o mais belo deles foi que se encontraram, se apaixonaram... e ficaram juntos.

Só você vive neste mundo.

FIM DOS EXTRAS


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