Capítulo 127: Você Gosta de Mim?


 

Sobre os rios, o luar se estendia por milhas, gelado até os ossos. A luz branca e cintilante filtrava-se pelas frestas entre os galhos da floresta, como neve persistente que ainda não havia derretido.

He Yan virou a cabeça para olhar para a pessoa à sua frente.

Os olhos do jovem eram como águas de outono, naturalmente cativantes, sem necessidade de adornos. Seu perfil era afiado e bem definido, exalando tanto carisma quanto preguiça. O leve sorriso no canto dos lábios a transportou de volta, por um instante, àquela noite no templo da montanha.

É você, pensou, sentindo-se um pouco atordoada e confusa.

No fim, ela nunca soube quem ele era.

Tudo o que lembrava era de ter sido levada para um quarto no templo por alguém, onde uma mulher de voz suave cuidou dela, limpou-a e a enviou de volta para Xu Zhiheng.

Xu Zhiheng perguntou o que havia acontecido, e He Yan simplesmente respondeu que tinha saído para dar uma volta e se perdido sem querer. Ele não fez mais perguntas, e tampouco mencionou a pessoa que a havia trazido de volta. Assim, ela permaneceu sem saber quem era o estranho que encontrou naquela noite.

Mas aquela frase que ele disse — “Se você realmente tem força de vontade, mesmo que fique cega, isso não importa. Mesmo sem enxergar, você ainda pode ser a mais excepcional entre os cegos” — ficou marcada em sua mente, palavra por palavra, impossível de esquecer.

Mais tarde, ela tentou ouvir e identificar formas pelo som, aprendendo a viver sem depender dos olhos. O processo foi difícil, mas sempre que pensava em desistir, lembrava-se da lua por trás do templo na montanha.

A lua era linda, e desistir assim seria um desperdício.

Ela também refletiu sobre tudo o que aconteceu naquele dia, tentando organizar os pensamentos com clareza. Talvez algumas coisas não tivessem sido mera coincidência. Como foi que, exatamente naquele momento, ela ouviu as criadas conversando na porta? Como conseguiu atravessar as montanhas tropeçando, sem ser notada pelos servos dos Xu? E quando foi levada de volta, por que Xu Zhiheng aceitou suas palavras tão facilmente, sem questioná-la mais a fundo?

Talvez… eles realmente esperassem que ela encontrasse o próprio caminho para fora.

Ela não era um gatinho branco criado no pátio de uma família rica, para ser mimado pelas madames e jovens damas, brincando com novelos de lã e crescendo sem preocupações. Ela era uma gata selvagem, saída dos becos escuros, suja e resistente. Mesmo que perdesse a visão, ainda poderia subir no muro para caçar.

Eles queriam que ela morresse, mas ela se recusou teimosamente. Afinal, neste mundo, existia alguém que lhe havia dado um doce, apresentando-lhe a doçura da vida.

He Yan sempre pensou que o estranho que conheceu naquela noite devia ser um jovem mestre bondoso ou alguém de grande paciência. Mas nunca imaginou que fosse Xiao Jue.

Como poderia ser ele?

Ela perguntou suavemente:

— Como é… a Madame Xu?

Xiao Jue sorriu preguiçosamente e respondeu:

— É feroz, chorona e de péssimo temperamento.

He Yan também riu, mas com um brilho úmido nos olhos.

— Você acha que Madame Xu sabe que você fala dela assim pelas costas?

O lado mais sombrio da sua vida ficou com Xiao Jue naquela noite. E talvez, naquela mesma noite, Xiao Jue tenha mostrado a ela seu lado mais gentil.

Ele não sabia que sua presença naquela noite havia se tornado a única salvação de He Yan em meio ao desespero.

A lua pairava sozinha no céu, distante e fria, mas ninguém sabia que, certa vez, sua luz suave iluminou alguém.

— Ela nunca teve a chance de saber — Xiao Jue disse indiferente.

Porque Madame Xu já havia morrido.

— Talvez saiba — He Yan sorriu levemente. Em seguida, olhou para o horizonte e suspirou: — A lua está realmente linda.

Xiao Jue apoiou-se com as mãos ao lado do corpo e também ergueu o olhar, mas não para ela.

— Você não ia beber com Chu Zilan? Trouxe vinho?

He Yan proclamou alto:

— Um brinde às montanhas, rios, lagos e mares!

Ela estendeu as mãos como se segurasse uma taça invisível, e o luar parecia preenchê-la por completo. Levantou-a bem alto em direção ao céu vazio e disse:

— Um brinde à lua!

O jovem a observou friamente e zombou:

— Você é louca.

Mas He Yan se virou para ele, erguendo sua “taça” com uma expressão solene, e disse:

— E um brinde a você também!

O olhar cansado e sombrio de antes havia sumido. Naquele momento, seus olhos brilhavam, e seu sorriso era radiante. Em seu olhar para ele, havia até mesmo um traço de gratidão.

Gratidão?

Xiao Jue arqueou uma sobrancelha, soltou um riso curto e não reagiu à bobagem dela.

— Puxa-saco.

He Yan encarou os olhos de Xiao Jue e, silenciosamente, pensou consigo mesma:

“Obrigada… muito obrigada.”

Naquela noite, He Yan e Xiao Jue ficaram sentados juntos por um longo tempo. No final, foi o frio da montanha que os obrigou a descer.

Quando ela voltou para casa, já era meia-noite. No dia seguinte, acordou mais tarde do que o habitual. Depois do almoço, pretendia conversar com Chu Zhao sobre o que aconteceu na noite anterior, mas descobriu que a casa estava vazia.

— Está procurando por Chu Zilan? — Lin Shuanghe passou por ali e comentou. — Logo de manhã, ele já partiu para a capital com as pessoas que vieram de Shuojing.

— De manhã cedo? — He Yan ficou surpresa. — Ele não me disse que partiria hoje.

— Os viajantes estavam com pressa — explicou Lin Shuanghe, abanando-se com seu leque. — Irmão He, encontros e despedidas são coisa do destino. Mais cedo ou mais tarde, ele teria que voltar para Shuojing. Não adianta forçar as coisas.

He Yan ficou intrigada; o que exatamente ela estaria forçando? Só sentiu um pouco de arrependimento por Chu Zhao ter ido embora sem sequer se despedir. Afinal, nesses últimos dias, Chu Zilan a ajudou bastante a estabelecer contatos no círculo político de Shuojing.

Mas agora que ele se foi, não havia mais o que fazer.

Pouco depois da partida de Chu Zhao, Song Taotao e Cheng Lisu também seguiram para Shuojing. Xiao Jue providenciou escolta para levá-los de volta à capital. Quando a garotinha estava prestes a partir, agarrou-se à roupa de He Yan, chorosa.

— Irmão He, você tem que voltar para me visitar…

— Por que ele iria te visitar? Você é uma jovem dama, e meu irmão é um homem feito. Como ele poderia ir te ver? — Cheng Lisu a puxou para longe e, tomando seu lugar, abriu um sorriso para He Yan. — Irmão mais velho, olha para mim, olha para mim! Vá até nossa mansão nos visitar, eu te levarei para comer nos melhores restaurantes de Shuojing!

— Cheng Lisu! — esbravejou Song Taotao.

— Tá bom, tá bom, eu cancelo o noivado assim que chegarmos — Cheng Lisu murmurou, coçando a orelha e resmungando baixinho. — Bruxa, quem ia querer se casar com você?

Os dois começaram a discutir como sempre, então, pelo menos, a viagem deles não seria solitária.

He Yan os observou subir na carruagem. Sentiu um aperto no peito. Por mais barulhentos e travessos que fossem, na hora da despedida, ela percebeu o quanto sentia carinho por eles.

Quando viveu como "He Rufei", devido à sua identidade, nunca pôde se aproximar muito de seus próprios irmãos. Cheng Lisu e Song Taotao eram como irmãozinhos de uma família comum e, de certa forma, preencheram um vazio que existia em seu coração.

Wang Ba e Jiang Jiao se aproximaram. Jiang Jiao chamou-a:

— Irmão He.

Depois que o mal-entendido foi resolvido, Jiang Jiao finalmente acreditou que He Yan não havia tentado roubar a esposa de ninguém, e sua atitude melhorou um pouco. Ele disse:

— Minha família mandou alguns itens. Separei algumas comidas e mantimentos. Pode pegar para mim depois?

Wang Ba zombou:

— O jovem mestre da escola de artes marciais tem sorte, hein? Até depois de entrar no exército, ainda recebe mimos de casa.

He Yan ficou surpresa.

— Você não era chefe de uma gangue de bandidos? Por que seus subordinados não te mandaram nada?

— Eu tô falido! Pobre! Você acha que dá para manter uma gangue de bandidos depois que se dispersa? — Wang Ba resmungou, frustrado. — E por que tá perguntando? Você também não recebeu nada!

— … Eu só fiquei curiosa, não precisa se irritar tanto — pensou He Yan. Se sua família ainda mandasse alguma coisa para ela, seria porque queriam que ela morresse mais rápido ou porque os cartazes de procurado ainda não estavam surtindo efeito?

— Enfim… Jiang Jiao, por que sua família resolveu mandar essas coisas agora? — perguntou He Yan.

Jiang Jiao suspirou, como se a resposta fosse óbvia.

— He Yan, você esqueceu que o Ano Novo está chegando?

Ano Novo?

He Yan ficou surpresa por um momento. A vida andava tão movimentada ultimamente que ela quase esqueceu que, em poucos dias, chegaria o Ano Novo.

O novo ano estava prestes a começar.

O primeiro Ano Novo de "He Yan".

De repente, sentiu-se animada, e Jiang Jiao e Wang Ba ficaram perplexos. Wang Ba a olhou desconfiado.

— Por que essa felicidade toda? O Comandante Xiao te deu alguma coisa escondido de novo?

He Yan respondeu com seriedade:

— Claro! Comida boa, vinho bom e um futuro brilhante. Está com inveja, né? Com ciúmes, né?

Ela se virou e saiu andando, deixando Wang Ba confuso. Ele rapidamente correu atrás dela.

— Ei, explica isso direito! O que foi que ele te deu? Não foge!

O Ano Novo em Liangzhou foi bastante agradável. Xiao Jue, o comandante, ofereceu um grande banquete para seus novos recrutas de Nanfu e para a Guarnição de Liangzhou. Com pratos deliciosos e bom vinho, a celebração foi animada, ajudando a aliviar um pouco do frio cortante da fronteira.

À medida que as festividades passavam, os ferimentos de He Yan já estavam quase completamente curados. Ela começou a treinar junto com a Guarnição de Liangzhou. Embora quisesse integrar o Batalhão das Nove Bandeiras, a intensidade do treinamento no Exército de Nanfu era alta demais para ela, especialmente considerando que ainda se recuperava de uma doença grave. Assim, teve que se contentar com o rigoroso treinamento da Guarnição de Liangzhou.

Os dias passaram tranquilos, até que, certa manhã, Fei Nu recebeu uma carta vinda do Condado de Lou.

Dentro da residência, Fei Nu conversava com Xiao Jue.

— Jovem Mestre, pelo que Luan Ying quis dizer, seria melhor que o Comandante encontrasse um acompanhante adequado e partisse nos próximos dias, se já estiver preparado. A viagem de Liangzhou até Jiyang é longa. Se sairmos agora, chegaremos na primavera. Isso pode coincidir com o aniversário da filha de Mengji Wang, e Chai Anxi pode aparecer.

Xiao Jue ergueu os olhos.

— Qiao Huanqing?

— Qiao Huanqing é sobrinho de Cui Yuezhi, o general sob o comando da filha de Wang de Jiyang — explicou Fei Nu. — Ele foi sequestrado pelos inimigos de Cui ainda jovem, mas, por sorte, foi resgatado e acabou nos Planos Centrais. Foi adotado por um rico comerciante que não tinha filhos. Casou-se no ano passado, mas, de alguma forma, Cui Yuezhi conseguiu rastreá-lo. Como Cui Yuezhi não tem mais família, escreveu uma carta convidando-o para o aniversário da filha de Mengji Wang. No entanto, Qiao Huanqing é bastante medroso. Nem chegou a Jiyang ainda e, ao passar pelo Condado de Lou, foi roubado por bandidos e sofreu ferimentos leves. Depois de ouvir sobre os perigos da viagem, recusou-se terminantemente a seguir viagem.

Os olhos de Xiao Jue brilharam levemente, e ele sorriu sem dizer nada.

Não era preciso dizer que esses “bandidos” eram, sem dúvida, obra de Luan Ying. Porém, depois de assustar Qiao Huanqing assim, ele agora estava com medo demais para continuar até Jiyang.

— A pessoa enviada por Luan Ying fez um acordo com Cui Yuezhi para comparecer ao banquete em Jiyang no lugar de Qiao Huanqing. No entanto, Qiao Huanqing receberá mil taéis de ouro como compensação. Ele esteve separado de sua família por muitos anos, e Cui Yuezhi não vê seu sobrinho há mais de uma década. Portanto, ninguém sabe como Qiao Huanqing se parece agora. A identidade desse substituto é adequada, e o momento é oportuno. Luan Ying também enviou a permissão de viagem e o token de identidade. Jovem Mestre, não deve haver problemas.

Ter um sobrinho do Fan Wang que esteve separado por anos era uma identidade bastante conveniente, mas…

— Você fala como se fosse simples — Chiwu não pôde deixar de comentar. — Mas Luan Ying já disse que o convite de Cui Yuezhi especifica a presença de Qiao Huanqing e sua esposa recém-casada. O Comandante pode não ser um problema, mas onde vamos encontrar uma mulher para acompanhá-lo como sua esposa? Não dá para simplesmente dizer que ela desapareceu no meio do caminho, não é?

Fei Nu manteve a expressão séria, mas sabia que Chiwu tinha razão. O Exército de Nanfu e o Batalhão das Nove Bandeiras nunca careceram de homens. Para qualquer missão, havia soldados ágeis, inteligentes, astutos e até bonitos, mas o que lhes faltava eram mulheres. A única mulher no grupo era Luan Ying, mas… seu filho já tinha doze anos. Não havia como ela se passar pela jovem esposa de “Qiao Huanqing”!

Xiao Jue franziu a testa e, pela primeira vez, uma expressão de desconforto apareceu em seu rosto impecável.

— Podemos procurar uma guerreira treinada… — sugeriu Fei Nu.

— Como faríamos isso? — Chiwu rejeitou a ideia na hora. — Não as conhecemos bem. Se tiverem segundas intenções e fizerem mal ao Jovem Mestre, poderemos assumir essa responsabilidade?

Chiwu foi direto ao ponto, e Fei Nu não teve resposta.

— Você tem alguma sugestão, então? — perguntou Fei Nu.

— Eu? — Chiwu pensou por um instante e, então, respondeu com seriedade: — Nem vou falar dos soldados do Exército de Nanfu. Mas, mesmo na Mansão Xiao, não conhecemos muitas jovens que saibam lutar. Quando a Senhora ainda era viva, ela não gostava que o Mestre praticasse artes marciais. Mesmo as criadas que ela trouxe só sabiam escrever poemas e cuidar de flores e plantas. Nunca vi muitas mulheres assim.

— Procurando por uma jovem dama? — Alguém do lado de fora da janela abanava-se com elegância e falou com um tom despreocupado. — Eu sei tudo sobre isso. Deixe esses dois brutos comigo. Xiao Huaijin, você está mesmo se preocupando com isso? Eles já viram alguma jovem dama antes? Em vez de perguntar algo tão difícil para eles, por que não me perguntar? Vim iluminar a sua mente.

Xiao Jue lançou-lhe um olhar de soslaio e respondeu com calma:

— Quem foi que deixou ele entrar?

Chiwu:

— Não fui eu!

Fei Nu:

— Eu também não.

— Eu ainda preciso de permissão? — Lin Shuanghe parecia extremamente confiante. — A Guarnição de Liangzhou sabe que você e eu somos amigos de longa data, e eu sou o milagroso Médico Divino de Roupas Brancas, capaz de trazer os mortos de volta à vida. Naturalmente, sou tratado com grande respeito. Tenho livre acesso a cada canto da Guarnição de Liangzhou.

— Joguem ele para fora.

Fei Nu: — …

— Ei, Xiao Huaijin, o que deu em você com essa atitude? — Lin Shuanghe disse ao entrar naturalmente pela porta principal, acenando para que Fei Nu e Chiwu saíssem. — Deixem que eu resolvo o problema difícil do seu Jovem Mestre.

Fei Nu e Chiwu se retiraram, e Lin Shuanghe fechou a porta e a janela. Xiao Jue observou suas ações com um olhar frio. Lin Shuanghe sentou-se em uma cadeira diante dele e perguntou:

— Procurando uma jovem dama?

Xiao Jue lhe deu um chute.

Lin Shuanghe saltou rapidamente e disse:

— Vamos apenas conversar, sem necessidade de violência. Eu não estava espionando sua conversa, mas ouvi algumas partes. Para que você precisa de uma jovem habilidosa? Uma guarda-costas?

Xiao Jue o encarou por um instante e, de repente, sorriu. Seus lábios se curvaram de forma preguiçosa, e ele respondeu, casualmente:

— Para encontrar uma "esposa".

Lin Shuanghe: — ?

Após um momento, ele finalmente entendeu o que Xiao Jue quis dizer e exclamou:

— Você vai se casar? Sério?

— Não, você é quem está sempre falando sobre casamentos arranjados e casamentos silenciosos. Se for para casar, deve ser por escolha própria. Por que está deixando Fei Nu e os outros escolherem como se estivessem pegando verduras no mercado? Xiao Huaijin, você está falando besteira?

Xiao Jue respondeu, impaciente:

— Eu disse que estavam arrumando uma esposa para mim?

Lin Shuanghe protestou:

— Você ajuda os outros, mas nem sequer resolveu sua própria situação!

Xiao Jue bufou, irritado:

— É um disfarce, você entende o conceito de atuação?

— O quê? — Lin Shuanghe ficou surpreso, processando lentamente a informação. Ele olhou para Xiao Jue por um tempo, notando o desagrado em seu rosto, então se inclinou e disse:

— Você está planejando algo parecido com o que fez da última vez na Guarnição de Liangzhou, quando lidou com Sun Xiangfu? Encontrar alguém para fingir ser sua esposa e resolver algum problema?

Da última vez, Lin Shuanghe conseguiu extrair a verdade da boca de Song Taotao. A jovem não era páreo para alguém tão sagaz quanto ele — bastaram algumas frases para ele entender o que realmente estava acontecendo.

— Não é uma ideia ruim.

— Então, você já tem a pessoa certa bem na sua frente. — Sem nem pensar muito, Lin Shuanghe sugeriu imediatamente: — Claro que deveria ser minha irmãzinha He! Esqueceu que minha irmã He também é uma mulher e bastante capaz? Ela é corajosa, esperta, nada fresca e ainda por cima adorável! Se ela pode se passar por seu sobrinho, pode muito bem fingir ser sua esposa.

Xiao Jue respondeu:

— Não.

— Por quê? — Lin Shuanghe perguntou, insatisfeito. — Se ela já te chamou de "pai", chamar de "marido" seria pedir demais?

Xiao Jue tomou um gole de chá e olhou para ele com indiferença:

— Você pegou dinheiro da He Yan para falar por ela?

— Eu já tenho tanto dinheiro, por que pegaria o de outra pessoa? Mas e você? — Lin Shuanghe se inclinou um pouco mais, estreitando os olhos. — Por que está resistindo tanto? Xiao Huaijin, você se lembra de que está procurando uma esposa falsa? Não é hora de ser exigente com as qualidades de uma esposa de verdade. Ou será que…

Ele se endireitou, abanando-se com elegância e assumindo um tom misterioso e onisciente:

— Você tem medo de se apaixonar por ela?

Xiao Jue se engasgou com o chá.

Sem expressão alguma, ele disse:

— Pode ir embora.

— Tudo bem, estou indo. — Lin Shuanghe se levantou e acrescentou: — Mas não diga que eu não avisei. He Yan é a melhor escolha que você pode encontrar. Eu não sei o que você está planejando, mas seja lá o que for, é perigoso. Em uma situação dessas, moças comuns não conseguiriam lidar com isso, e aquelas que conseguiriam, você não confia. He Yan já lutou ao seu lado algumas vezes, então você tem uma noção do que esperar dela.

Ele lançou um olhar divertido para Xiao Jue antes de continuar:

— Ou está considerando levar Shen Muxue com você? Acho que ela aceitaria de bom grado te acompanhar. Mas se o Lorde Shen descobrir, tenho certeza de que ele virá correndo para Liangzhou e cortará suas pernas.

— Veja bem, eu já conheci mais garotas do que você já treinou soldados. E, ao que parece, a Pequena Irmã He ainda não gosta de você. Uma mulher que não gosta de você e finge ser sua esposa é a menos propensa a causar problemas. Se for Shen Muxue, aí sim você terá uma grande dor de cabeça.

— O mais importante é que a Pequena Irmã He sempre se vestiu como um homem. Fora você, ninguém sabe como ela realmente é. É como se tivesse caído do céu. Se sua verdadeira identidade for exposta, será fácil esconder a verdade.

Xiao Jue olhava calmamente para a xícara de chá, sem deixar claro se estava ouvindo ou não.

— A mente de uma mulher é a mais difícil de decifrar. Mas alguém como a Pequena Irmã He, que é direta e mostra tudo na cara, é o tipo de pessoa perfeita para essa missão.

— Por que não chama ela de tola de uma vez?

Lin Shuanghe pigarreou e disse:

— Já falei o que precisava. Só estou dizendo isso porque somos irmãos. Pense bem! Escolha alguém depois de refletir com calma!

Dito isso, saiu abanando-se com seu leque.

Depois que ele se foi, Xiao Jue colocou a xícara de chá de volta sobre a mesa e suspirou levemente.

Tarde da noite, depois de terminar sua rotina de cuidados, He Yan sentou-se em frente ao espelho.

Ela havia se alimentado muito bem durante o Ano Novo no exército e, ao se olhar no espelho de bronze, percebeu que tinha ganhado um pouco de peso. Felizmente, a Senhorita He sempre foi naturalmente esbelta e delicada, então um pequeno ganho de peso não a deixava rechonchuda. Pelo contrário, dava a ela um certo charme. Agora, até parecia uma daquelas jovens frágeis criadas em famílias ricas.

Mas essa aparência delicada destoava completamente em um acampamento militar. He Yan fez uma careta feroz para si mesma no espelho e, não sentindo nenhuma perda de dignidade, relaxou. Depois, foi para a cama.

O colchão estava gelado como gelo. Apesar do clima ter esquentado um pouco depois do Ano Novo, as noites ainda eram bem frias. Ela precisava aquecer a cama com o próprio corpo.

Justo quando começava a sentir um pouco de calor, ouviu batidas na porta. He Yan ficou momentaneamente perplexa. Praguejou baixinho. Quem poderia ser a essa hora? Logo agora que tinha conseguido aquecer a cama, teria que se levantar e sentir frio de novo.

As batidas continuaram, e ela não podia fingir que não tinha ouvido. Resignada, vestiu um casaco e foi abrir a porta. Ao fazê-lo, viu Lin Shuanghe parado do lado de fora.

Aquele homem… No meio de um frio desses, vestindo apenas uma túnica branca fina. Mesmo que tivesse um pouco de algodão por dentro, não podia ser muito grosso, senão ele não teria conseguido manter aquele ar elegante. E ainda por cima carregava um leque.

Ele olhou para He Yan com um pouco de irritação, e ela não resistiu — pegou o leque de suas mãos.

— Dr. Lin, pode parar de se abanar? Está realmente frio.

Lin Shuanghe parou o movimento e sorriu.

— Tudo bem.

— Por que veio me procurar tão tarde?

Lin Shuanghe respondeu:

— Irmão He, podemos conversar lá dentro?

— Por mim, tudo bem — He Yan disse. — Mas você não vive dizendo que um homem e uma mulher…

Antes que pudesse terminar a frase, o jovem já tinha passado por ela e entrado no quarto, murmurando para si mesmo:

— Estou congelando!

He Yan: "…"

Ela fechou a porta e se virou. Lin Shuanghe continuava falando:

— Por que não tem um braseiro no seu quarto? Está muito frio aqui.

— O carvão acabou — He Yan respondeu pacientemente. — Já que está com tanto frio, o Dr. Lin poderia ir direto ao ponto?

— Estive pensando e preciso lhe contar sobre isso…

Toque, toque, toque.

O som interrompeu suas palavras, e os dois olharam para a porta no meio do quarto. As batidas vinham do outro lado.

He Yan ficou surpresa. As batidas na porta central… Seria Xiao Jue? O que ele queria no meio da noite?

Ela olhou para Lin Shuanghe, que também parecia confuso. Então, caminhou até a porta e, depois de hesitar um instante, destrancou-a diretamente.

O Segundo Jovem Mestre Xiao mantinha uma expressão calma e elegante. Seu olhar passou brevemente por Lin Shuanghe antes de se fixar em He Yan.

Talvez fosse coisa da cabeça dela, mas He Yan sentiu que sua expressão estava um pouco estranha.

— Comandante… Aconteceu algo?

— Senhorita He.

Ele deu um passo à frente, inclinou-se ligeiramente e a encarou diretamente nos olhos. O jovem era incrivelmente bonito, seus cílios longos e levemente curvados eram bem definidos. Sua voz era baixa e magnética, transmitindo um calor que fazia a pele formigar.

— Você gosta de mim?

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Nota de rodapé

He Yan: !!! Quem poderia resistir a isso?

Esse trope de fingir ser marido e mulher é tão batido… Mas, de algum jeito, eu gosto dessas histórias clichês. Facepalm.


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