Capítulo 16 – Um Juramento que Ele Fez para Si Mesmo (1)
A cor escura e marcante do sangue contra a pele porcelana de Mo Linyuan fez Ye Mu encarar. — O que aconteceu? — ela perguntou, irritada.
Quando a criada viu que Ye Mu havia saído pessoalmente, seu rosto imediatamente perdeu a cor, mas logo se recompôs e sorriu arrogante. Tentando levar o crédito por aquele ato horrível, disse: — Jovem senhorita, foi você quem se incomodou com o barulho desses insignificantes? Não se preocupe, esta serva está aqui para supervisioná-los direito... Não vou deixar que fiquem preguiçosos nem por um segundo!
Ye Mu olhou para a ferida sangrando de Mo Linyuan, depois voltou o olhar para a criada. Por um bom tempo ficou sem palavras, atônita.
O agressor ainda se divertiu! Ahhh! Sua irmã, toda a sua família vai morar no crematório!
Para de rir — você sabe que vai morrer miseravelmente no futuro pelas mãos de quem você chicoteou, né?!
Guardando esses pensamentos para si, Ye Mu vestiu sua expressão fria e perguntou com voz gélida:
— Quem te deu permissão para punir meus protegidos?
Ao ouvir isso, a criada sentiu pavor e rapidamente se ajoelhou, implorando por misericórdia. Ela não entendia o que estava acontecendo. Antes, a jovem senhorita nunca se importava com essas coisas. Não era ela que gostava de ver sangue? Por que agora estava agindo assim...?
Outros servos por perto, que estavam bisbilhotando, tentaram espiar a confusão. Queriam ver se a jovem senhorita tinha realmente mudado de personalidade milagrosamente.
Ye Mu olhou em volta, seu rosto frio se tornando ainda mais severo:
— Todos escutem! Esses dois são meus minions cuidadosamente criados. São meus objetos! Quem ousar tocá-los sem minha permissão, esta jovem senhorita promete uma morte cruel! Entenderam?!
Depois dessa declaração, todos entenderam que a jovem senhorita nunca mudou, apenas arranjou um novo hobby de manter pessoas como bichinhos de estimação; ela não melhorou realmente.
A criada que se ajoelhava quase teve um ataque cardíaco ao ouvir aquelas palavras. Lembrou dos métodos brutais de tortura de Ye Mu e de como acabara de mover a mão contra seus “pets”.
Ela tentou suplicar novamente:
— Por favor... por favor, poupe a vida desta serva! Nunca mais vou ousar fazer isso! Nunca, jamais!
Ye Mu resmungou convencida, franzindo o nariz em desprezo.
— Hoje esta jovem senhorita está de bom humor, por isso vou deixar passar só desta vez. Se acontecer de novo, jogarei seu corpo na toca dos tigres para que eles te devorem viva!
— Esta serva entende! A jovem senhorita é benevolente! Obrigada, jovem senhorita! — ela fez uma pequena reverência, não percebendo o olhar franzido de Ye Mu.
— Sim, sim... Seu rosto me irrita muito. Saia logo da minha vista!
Ordenou com uma voz maléfica, fazendo a serva fugir apressadamente, com medo que Ye Mu mudasse de ideia.
Quando ela saiu correndo, todos os servos que bisbilhotavam também se dispersaram feito formigas. Vendo que o local estava livre de espectadores, Ye Mu finalmente pôde observar Mo Linyuan novamente...
— Essa pessoa é um verdadeiro imã para problemas. Mesmo sem ter saído ainda para o mundo, já sofre infortúnios!
— Tudo bem... vamos encerrar por hoje. Vocês dois podem ir — e mande Xiaolang passar pomada na sua ferida. Podem se retirar agora.
Mas a atenção de Mo Linyuan estava em outro lugar; seus olhos escuros fitavam os pés dela. Ninguém percebeu, mas Ye Mu havia saído descalça. Seus pés pequenos, brancos como jade, estavam escondidos sob a longa saia — difícil de notar, a não ser que alguém estivesse quase ao nível do chão.
Será que Ye Mu sentiu urgência ao ouvi-los em apuros?
Saiu correndo sem nem lembrar de calçar os sapatos. Será que não tem segundas intenções?
Quando Mo Linyuan viu que Ye Mu ia embora, abriu a boca de repente, fazendo-a parar:
— Ainda não passou uma hora hoje.
Ele se referia ao tempo que deveriam passar na postura do cavalo. Ye Mu olhou para ele, inclinando a cabeça, confusa.
— Você está ferido... consegue continuar?
— Sim.
Ele se levantou reto, então entrou em meio agachamento, dando um passo zama, suor brilhando em sua testa pálida. Já tinham sido quase dias de treino, por isso ele estava mais decidido e não queria se deixar abalar pela dor. Seus olhos estavam mais afiados, e o orgulho não deixava que recuasse para não parecer inútil para Ye Mu.
Xiaolang viu que Mo Linyuan insistia em continuar o treino e teve que acompanhá-lo contra sua vontade. Ele só queria descansar! Realmente não conseguia folgar com Mo Linyuan por perto...
Vendo a determinação deles, os cantos da boca de Ye Mu se levantaram, até que ela sorriu.
— Muito bem! Vocês estão indo muito bem. A partir de amanhã, serão duas horas por dia!
— Agh! Jovem senhorita, não! — Ye Xiaolang gritou lamentando. Mo Linyuan apenas assentiu e respondeu com uma palavra:
— Sim.
Ye Mu finalmente riu. Vendo o esforço deles, seu coração ficou menos inquieto. Quando o sol da manhã quente tocou seu rosto, sentiu-se especialmente revigorada.
Para recompensá-los, Ye Mu acrescentou uma nova sequência no treino, deixando a agenda deles praticamente cheia o dia todo. Ye Xiaolang reclamava sem parar, mas estudava com dedicação. Tudo graças a Aji, que dizia que aprender aquilo os faria melhores no futuro.
Capítulo 17 – Um Juramento que Ele Fez para Si Mesmo (2)
Era mais um dia, já perto do meio-dia.
Depois de estarem ocupados com os estudos durante toda a manhã, Mo Linyuan e Xiaolang almoçaram com Ye Mu, sentados à mesma mesa. Naquele momento, apenas a criada Xiaoqiu os servia.
Mo Linyuan deu duas mordidas antes de parar, imóvel...
Ele sempre teve o mau hábito de ser seletivo com comida — em especial, detestava alho.
Na verdade, seria mais apropriado dizer que ele odiava tudo que tivesse cheiro forte. Isso vinha de sua criação, já que cresceu na família imperial do País Mo, conhecido por ser o oposto do úmido e frio País Yue, além de ter uma culinária menos carregada em temperos.
Por isso, ele não apenas detestava alho, mas também qualquer outro tipo de prato muito condimentado. Assim, sempre que comiam, só se via Ye Xiaolang devorando grandes bocados, enquanto Mo Linyuan, do outro lado, se esforçava para engolir pequenas porções lentamente.
Mas hoje, ele de repente percebeu que não havia sequer um leve cheiro de alho na mesa. Quase todos os pratos que comiam antes levavam alho no preparo, mas hoje o cenário era completamente diferente.
— O que foi?
Ye Mu viu que ele havia parado de comer e arqueou levemente as sobrancelhas em dúvida. Mas Mo Linyuan permaneceu calado, como se tivesse visto um fantasma. Ye Xiaolang, ao perceber isso, também achou estranho. Olhou para Mo Linyuan com curiosidade.
— O que foi? Tem algo ruim na comida?
Xiaoqiu, a criada que até então permanecia em silêncio, sorriu e disse:
— A jovem senhorita disse que não gostava do sabor do alho. No entanto, cozinhar sem alho causa deficiência na constituição física. Então, esta serva pediu à cozinha que encontrasse uma forma de retirar o sabor do alho.
Ao ouvir isso, Mo Linyuan olhou para Ye Mu com ainda mais surpresa estampada no rosto. Mas Xiaoqiu continuou, revelando um detalhe atrás do outro sem perceber a tensão que causava.
— Nossa jovem senhorita é muito esperta. A cozinha disse que não sabia como tirar o cheiro do alho. Mas a jovem senhorita resolveu o problema e mandou que eles cozinhassem o alho no vapor junto com chá e outras especiarias aromáticas. No final, o alho cozido no vapor não tem mais aquele cheiro forte nem o gosto marcante! Agora, a cozinha principal começou a adotar esse método para preparar os pratos com alho.
Ao ouvir tudo aquilo, Mo Linyuan ficou atônito e imediatamente cortou uma almôndega de porco à sua frente com os hashis. Ao olhar de perto, havia mesmo alho ali. Mas ao dar uma mordida, não sentiu nenhum gosto.
Por algum motivo, o peito de Mo Linyuan se encheu de inquietação.
Quando era pequeno, sempre sofria de dores no estômago por se recusar a comer alho. Naquela época, seus pais ainda estavam vivos, mas ninguém pensava em encontrar um jeito de retirar o gosto do alho para que ele pudesse comer os pratos sem passar mal com o cheiro. Simplesmente chamavam o médico imperial para receitar algum remédio e seguiam com a vida.
Mas Ye Mu notou até um detalhe tão pequeno! E ainda pensou numa forma de resolver isso. Esse gesto...
Se esse gesto for falso, então o que mais pode ser verdadeiro?
Sentindo o clima estranho que se formava à mesa, Ye Mu bateu na madeira da mesa e disse apressada:
— Ficar falando demais na hora da refeição... Estão pensando em fugir das tarefas escolares da tarde?
Só de lembrar da montanha de tarefas que tinham pela frente, Ye Xiaolang rapidamente devorou o resto da comida.
O atordoado Mo Linyuan também voltou a comer em silêncio. Mesmo mastigando, sentia como se espinhas de peixe estivessem entaladas na garganta.
Ele tinha apenas nove anos. Nessa idade, o humor oscilava com frequência. Apertou os hashis com força, os nós dos dedos ficando brancos.
Queria muito agarrar Ye Mu pelos ombros e sacudi-la com raiva. Queria saber por que ela estava fazendo tudo isso por ele! Por que de repente estava sendo tão gentil? Qual era a sua intenção?!
Ye Mu era tão confusa... a ponto de ele nem saber mais que atitude tomar diante dela.
...
O tempo passou depressa, e um mês se foi num piscar de olhos. Durante esse tempo, o ferimento de Mo Linyuan finalmente cicatrizou.
Capítulo 18 – Por Que Você Não Me Segura Sempre? (1)
Certa tarde, todos os criados da residência foram chamados pela governanta-chefe para uma reunião. Assim, no pátio, restaram apenas Ye Mu e os dois meninos.
Como Ye Xiaolang e Mo Linyuan ainda eram escravos, não tinham permissão para comparecer a esse tipo de convocação. Sem mais ninguém por perto naquela tarde, Ye Mu resolveu dar meio-dia de folga a eles!
Ye Xiaolang ficou eufórico! Ele tinha crescido nas florestas, livre e selvagem. Mas o destino foi cruel: acabou sendo capturado e trazido para esse lugar, onde precisava tomar cuidado com cada passo, cada palavra. Tão reprimido que sentia como se fosse sufocar!
— Senhorita! O que vamos brincar? — perguntou animado.
Mo Linyuan apenas lançou um olhar para o outro garoto e voltou a ler, como se não precisasse de folga alguma. Preferia estudar e se disciplinar! Cultivar-se a cada instante para se tornar mais forte!
No entanto, Ye Mu ficou num dilema. O que poderia ser divertido nessa era antiga, onde não dá nem pra jogar no computador?
Ela olhou para o céu claro acima e decidiu:
— O dia está bonito. Vamos empinar pipa!
— Vamos! Vamos! — Ye Xiaolang assentiu, cheio de entusiasmo.
Ye Mu se virou e remexeu em seu armário até encontrar uma pipa. Trouxe uma pipa de pavão bem grande, um brinquedo que a antiga Ye Mu havia colecionado, mas nunca usado. Hoje, finalmente, ela veria o céu!
Como a pipa era grande demais para o corpo pequeno de Ye Mu, boa parte da cauda arrastava no chão enquanto ela tentava correr para levantá-la. Foi uma tentativa em vão. Sem alternativa, Ye Mu voltou o olhar para Mo Linyuan, que ainda estava em seu canto.
— Céus! Você ainda está lendo!?
Ye Mu ficou espantada. Será que Mo Linyuan não tinha um pingo de infantilidade? Ele tinha três vezes mais tarefas escolares que Ye Xiaolang, e agora que ela tinha dado uma folga para se divertirem, ele seguia impassível!
Mo Linyuan colocou o livro de lado e respondeu, com um leve suspiro:
— Ainda preciso decorar uma dissertação política. O mestre vai me examinar amanhã.
Nos últimos tempos, Mo Linyuan havia ficado um pouco mais falante do que antes. Afinal, por mais que tentasse resistir, os seres humanos têm sentimentos e corações volúveis. As ações de Ye Mu tinham tocado algo nele, deixando seu interior confuso e agitado.
Ao ouvir isso, Ye Mu se aproximou e arrancou o livro de suas mãos, jogando-o para longe!
— Chega! Segure a linha — Xiaolang vai correr com a pipa, e eu vou ajudar por trás. E ponto final!
O que mais Mo Linyuan podia fazer diante dessa pirralha mandona? Só lhe restava aceitar o carretel de linha com um semblante resignado.
No entanto, ele se lembrava que só havia brincado com uma pipa uma única vez, então não era muito habilidoso com isso. Do outro lado, Ye Mu já gritava para começarem a soltar a pipa! Imediatamente, Xiaolang correu na frente com Ye Mu logo atrás, segurando a longa cauda da pipa.
Ye Xiaolang corria muito rápido; Ye Mu havia sido uma soldado especial em sua vida anterior, mas agora seu corpo era o de uma garotinha. Além disso, Mo Linyuan permanecia parado como um tronco lá atrás, sem se mover. Por isso, mesmo correndo bastante, a pipa não subia.
Ao ver a expressão de desapontamento surgir no rosto de Ye Mu enquanto olhava para o brinquedo, Mo Linyuan finalmente baixou a guarda e correu junto com eles. Justo nesse momento, uma rajada de vento primaveril soprou forte, e a pipa começou a subir lentamente para o céu!
— Vai voar! Senhorita, vou soltar agora!
Com isso, Ye Xiaolang soltou a pipa de suas mãos. Assim que o fez, correu para pegar o carretel das mãos de Mo Linyuan. Enquanto isso, Ye Mu também soltava a cauda da pipa, mas não viu onde pisava... e tropeçou.
— Cuidado!
Mo Linyuan, por puro reflexo, lançou o carretel para o apressado Xiaolang e correu em direção a Ye Mu, segurando-a nos braços quase num piscar de olhos.
Mas Ye Mu apenas lhe lançou um olhar rápido — seus olhos estavam fixos no céu, observando o enorme pavão colorido subir lentamente. Sua boca se abriu sozinha, maravilhada, e ela sentiu uma onda de satisfação inundar seu coração!
— Você viu?! Está voando!!!
Ye Mu sacudiu os ombros de Mo Linyuan, empolgada. Seu corpo ainda estava meio envolto no abraço dele, mas isso não a impediu de pular de alegria, num entusiasmo incontrolável.
Talvez o sol estivesse bom demais; talvez o vento fosse intenso demais. Mas, ao olhar para o rostinho delicadamente empoado de Ye Mu, emoldurado por seus olhos grandes e brilhantes, o coração de Mo Linyuan não pôde deixar de estremecer diante daquela adorável cena... Ele finalmente admitiu para si mesmo que suas dúvidas estavam aos poucos desaparecendo.
Afinal, uma garotinha tão encantadora assim... fazia com que as pessoas, sem perceber, quisessem aceitá-la.
Capítulo 19 – Por Que Você Não Me Segura Sempre? (2)
Essa constatação fez Mo Linyuan suspirar baixinho. Ele a segurava com uma expressão complexa, inclinando-se para bater delicadamente o pó inexistente de sua saia enquanto murmurava:
— Você sabia que quase caiu?
Por fim, Ye Mu tirou os olhos da pipa e olhou para ele. Perguntou com curiosidade:
— Mas você me segurou, não foi? Não caí, então está tudo bem!
Mo Linyuan abaixou os olhos e respondeu em voz baixa:
— Mas eu não vou te segurar todas as vezes. Você precisa tomar cuidado sozinha.
Ao ouvir isso, Ye Mu o encarou com firmeza. Colocando as mãos na cintura, respondeu com convicção:
— Por que você não vai me segurar todas as vezes?
Ela perguntou de forma tão natural, como se dissesse que ele deveria ser bom com ela, mesmo que ela não tivesse sido tão boa com ele no passado. Era uma pergunta infantil — ainda mais vinda de uma bolinha como ela.
Mas, surpreendentemente, isso não gerou nenhum ressentimento nele. Pelo contrário, naquele momento, ele achou Ye Mu extremamente fofa. Quase irresistível. Quis, por impulso, segurá-la nos braços e apertar suas bochechas rechonchudas.
“Por que você não vai me segurar todas as vezes?”
Mo Linyuan ficou sem resposta, perdido em pensamentos. Nesse instante, a voz de Xiaolang rompeu o silêncio:
— Senhorita! Venha empinar a pipa!
— Tô indo! — Ye Mu respondeu imediatamente ao chamado e se soltou de Mo Linyuan, que ainda procurava as palavras certas para responder, e correu em direção a Ye Xiaolang.
Mo Linyuan não pôde evitar um leve incômodo. Observou Xiaolang se aproximar de Ye Mu, puxando o carretel da pipa para ela, e, pela primeira vez, sentiu que o garoto era uma presença... ligeiramente irritante.
Para Ye Mu, suas ações não eram nada demais, nem chamavam tanto a atenção assim. Mas, para os outros na residência do general, era um verdadeiro choque! A senhorita Ye, antes cruel e sedenta por sangue, havia mudado completamente de comportamento. Agora, não gostava mais de matar... preferia brincar de tirana! Que notícia maravilhosa!
—
Independentemente do que pensariam se soubessem que ela estava criando o futuro imperador, toda vez que Ye Mu fechava a porta para iniciar seu treinamento com ele, fazia questão de se concentrar na formação adequada de um governante.
Nem precisava dizer: Mo Linyuan deveria ter um desenvolvimento completo — ética, inteligência e físico. Isso mesmo! Afinal, alguém destinado a ser imperador por muitos anos não podia crescer e virar um tirano sob sua tutela.
Quanto a Ye Xiaolang, ela achava mais adequado treiná-lo em artes marciais. Afinal, num mundo caótico como este, não importava o quanto se falasse bem... nenhuma palavra valia mais que um bom punho.
Mas aí vinha a pergunta de um milhão de moedas: como iriam praticar artes marciais?
Ela até dominava boas técnicas, caso voltasse a treinar seu corpo. No entanto, neste mundo, esse tipo de arte não era o mais eficaz — ainda mais diante da diferença absurda entre artes externas e as internas. E, para piorar, os corpos das pessoas deste lugar pareciam estruturalmente diferentes dos do seu mundo.
As pessoas daqui nasciam com uma disposição natural para cultivar energia interna.
Bastava cultivar o Qi e abrir os meridianos para se praticar artes internas. Mas... muitas das técnicas antigas já haviam sido perdidas.
Será que o protagonista ainda não encontrou o manual secreto de artes marciais?
Com esse pensamento em mente, Ye Mu resolveu chamar Mo Linyuan em segredo, durante a noite.
— Senhorita? — Mo Linyuan não fazia ideia do que seria tão urgente a ponto de ela chamá-lo tão tarde. Mas havia algo que ele sabia: ela jamais faria mal a ele.
— Shhh! — Ye Mu mandou que ele baixasse a voz. — Só me segue!
Então os dois começaram a se esgueirar pela residência, caminhando sorrateiramente em direção ao canto mais remoto da propriedade do general.
Mo Linyuan seguia atrás de Ye Mu e podia ver claramente quando ela se encolhia e caminhava rente às paredes. Ela sabe que esta é a própria casa dela, né? Mas ali estava ela, andando como um ratinho furtivo, tentando desaparecer.
Mais uma vez, a adorável imagem de Ye Mu lhe arrancou um sorriso.
Quando Ye Mu se virou para olhar para trás, viu o sorriso de Mo Linyuan. À luz do luar, emoldurado pelas pedras do jardim rochoso, ele estava parado, vestido com linho cinza, o rosto delicado e bonito iluminado por um traço de diversão.
Ele parecia mais um espírito etéreo do que o imperador brilhante e severo descrito no livro.
Capítulo 20 – Desmascarando uma Impostora (1)
Ye Mu ficou um instante deslumbrada com aquele raro sorriso. Mas logo se recompôs e falou com seriedade:
— Tá rindo do quê? Vem comigo, vou te levar num lugar legal!
Mo Linyuan apressou o passo para alcançá-la. Pouco depois, Ye Mu o levou até um pátio abandonado e em ruínas.
Durante sua estadia neste mundo, ela não ficou à toa — já havia descoberto o caminho até esse lugar e só estava esperando a oportunidade certa para agir.
Estava claramente descrito no livro que, enquanto o protagonista ainda era um escravo, ele havia entrado por acaso num pátio bem isolado da residência dos Ye.
Esse pátio originalmente pertencia aos antepassados do clã Ye.
Mas, certa vez, alguns filhos das concubinas se rebelaram para disputar a chefia da família, unindo forças para incendiar o pai e a esposa principal até a morte.
Foi um incêndio terrível, incontrolável. Naquele dia, dezenas de pessoas morreram nesse pátio. Por isso, o local foi lacrado — ninguém mais ousava colocar os pés ali.
Foi nesse lugar que o protagonista encontrou um tesouro.
Se lembrando da trama, Ye Mu recordou que o protagonista, após ficar vários dias sem comer por causa da Ye Mu original, havia perseguido uma cobra faminta dentro do pátio.
E foi assim que ele encontrou um livro encapado com pele de carneiro. O livro não detalhava muito como ele o conseguiu, mas a cobra... sim, a cobra deveria levar até ele. Agora, onde estaria essa cobra?
— ...O que você tá procurando? — Mo Linyuan não conseguiu evitar perguntar ao ver Ye Mu distraída.
Durante todo esse tempo, ele vinha observando atentamente os atos de Ye Mu. A suspeita inicial de que ela tinha segundas intenções foi, aos poucos, se transformando em dúvida sobre a identidade da atual Ye Mu.
A personalidade de uma pessoa não muda de forma tão drástica. Mesmo que ela se esforçasse para fingir, ele já havia notado várias falhas — sua conclusão final era: essa não era mais a mesma garotinha cruel de antes.
Ainda assim, pensou, essa nova versão era melhor. E muito mais interessante. Acima de tudo, ele aceitava essa nova pessoa.
E ela era muito mais simples do que ele havia imaginado.
Sem saber o que se passava na cabeça dele, Ye Mu lançou-lhe um olhar e baixou a voz:
— Me ajuda a procurar uma cobra também!
Mo Linyuan teve vontade de rir de novo. Cobras são répteis de sangue frio, geralmente assustados com humanos. Como ela pretendia encontrar uma cobra andando por aí, fazendo todo esse barulho?
Mas, mesmo assim, ele foi obediente e a ajudou. Um tempo depois, enquanto procuravam, Mo Linyuan comentou de repente:
— Senhorita, você nunca tomou leite antes.
Ye Mu, que estava remexendo na grama, não entendeu por que ele tinha dito algo tão aleatório. Ela sempre tomava leite pela manhã. É essencial pro crescimento, né? Meu Deus! Quer dizer então que a dona original não tomava leite?
Não era de se estranhar que ela tivesse altura de quatro ou cinco anos, quando já devia ter seis!
Vendo que ela ficou paralisada por um motivo totalmente diferente, Mo Linyuan continuou:
— Você não gostava de plantas, nem de coisas coloridas. Detestava branco, gostava de vermelho — da cor do sangue. E, ah, era canhota.
Ele disse tudo isso num tom calmo, quase como quem fala sobre o clima. Mas foi o suficiente para Ye Mu finalmente entender a mensagem oculta. Ao recordar suas ações do último mês, ela olhou para baixo, encarando a saia de seu vestido florido azul-claro, e de repente sentiu um calafrio subir pela espinha.
As coisas que ele dizia... será que ele descobriu que ela era uma impostora?
Ye Mu virou o olhar para ele. No momento, estavam separados por alguns metros no pátio. A postura tranquila e os olhos indecifráveis de Mo Linyuan deixaram Ye Mu em pânico.
— V-Você tá falando dos meus antigos... gostos antigos, né? Eu ainda sou jovem, é natural que meus hábitos mudem!
Ye Mu tentou responder da forma mais controlada possível.
Mas Mo Linyuan apenas ergueu levemente as sobrancelhas antes de começar a se aproximar, passo a passo.
— Eu sei que hábitos mudam. Mas seu pai, Ye Li, é um homem desconfiado e cruel.
Os passos dele faziam o mato estalar a cada pisada.
— Ultimamente, ele não tem aparecido muito. Além disso, as pessoas ao seu redor não se atrevem a questionar seus novos hábitos. Então, talvez você ache que tá tudo bem. Mas… — Ele parou, a apenas um braço de distância dela.
Enunciando devagar, fitando-a de forma penetrante, ele disse:
— Se Ye Li suspeitar que você não é a mesma Ye Mu de antes… isso será perigoso.
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