Capítulo 11 – O Que Você Quer Fazer? (2)
Depois de voltar com os remédios, as servas se recolheram para dormir. A residência ficou silenciosa, já que a maioria das pessoas foi para a cama. Ye Mu aproveitou esse momento para sair às escondidas.
Com medo de ser assassinada por algum especialista, Ye Li havia transferido todos os guardas da residência para o seu próprio alojamento. Por isso, Ye Mu conseguia fazer o que quisesse com facilidade.
Seu destino era o lugar onde estavam Mo Linyuan e Ye Xiaolang. Ela franziu a testa ao entrar na cabana dos escravos, que era escura, úmida e exalava um cheiro de mofo — sinal de que já estava tomada por bolor. Se alguém vive em um lugar assim, mesmo que não esteja doente, certamente vai ficar doente mais cedo ou mais tarde.
Mas seu pequeno quintal já estava lotado. Claramente, sua primeira missão no dia seguinte seria arranjar um jeito de deixá-los nas dependências laterais.
— Quem é?!
Por causa de viver constantemente na defensiva, Mo Linyuan acordou instantaneamente assim que Ye Mu entrou. Ao ouvir o som, Ye Xiaolang ao lado dele também despertou do sono.
— O que foi? O que está acontecendo?!
Sentados, ainda meio desorientados e sonolentos, ficaram completamente surpresos ao ver Ye Mu parada na porta.
— Shh! — Ye Mu colocou o dedo nos lábios com firmeza, sinalizando para que ficassem em silêncio, e entrou na cabana na ponta dos pés.
Enquanto caminhava, seu pijama de seda luxuoso brilhava sob a única lamparina do quarto.
Reluzente e cheio de brilho, Ye Mu nem ligava que a barra da saia arrastava no chão sujo. Por ser baixa, quase entrou na cama engatinhando.
— J-Jovenzinha... — Ye Xiaolang ficou sem palavras. Logo depois, viu Ye Mu jogar em sua direção um pacote enrolado em papel.
— Não está tendo comida suficiente, né? Come isso!
Assim que Ye Xiaolang conseguiu pegar o pacote, um cheiro delicioso e tentador de frango escapou dele. De repente, não conseguiu evitar a vontade de babar.
— Jovenzinha! — Ele olhou para Ye Mu com gratidão.
— Come!
— Sim! — Ye Xiaolang não precisava ser mandado duas vezes. Apenas lançou um rápido olhar para Mo Linyuan e sentou-se no sofá velho para devorar as coxas de frango.
Mo Linyuan não olhou para ele; seus olhos estavam fixos em Ye Mu, desconfiados e cheios de perguntas.
— O que você quer fazer?
Ye Mu suspirou com aquele tom de voz. Realmente, que mão fechada, viu! Mesmo até aqui, depois de ter salvo ele, ele ainda não se mostrava menos desconfiado.
Ela sacudiu o remédio na mão e disse com significado:
— Também te enfaixaram, não foi? Mas a ferida no seu ombro vai piorar se você não cuidar direito.
Ele endireitou o corpo, e agora com mais cautela do que nunca, perguntou novamente, pronunciando cada palavra com cuidado:
— E depois disso, o que você quer fazer?
Desde o dia em que ela veio salvá-lo, essa jovem mandona ficou muito diferente — ora quer matá-lo, ora quer deixá-lo vivo. No fim, mudou totalmente de ideia sobre matá-lo.
Mas essas mudanças contraditórias nela — ele percebeu tudo. Por isso sua mente estava confusa, dividida entre a esperança e a suspeita sóbria se ela estava tentando mudar ou se tinha um motivo oculto. Mas quem ele estava enganando? Só poderia ser a segunda opção.
Afinal, Ye Mu entregar pessoalmente remédio e comida para eles no meio da noite, por mais majestosas que fossem suas razões, não era algo que ela costumasse fazer. Muito menos algo que pudesse ser chamado de bondade.
Pensando nessas ideias pesadas e pessimistas, ele lentamente soltou as palavras que atormentavam seu coração:
— Ou talvez... você queira me matar, mas sem fazer isso pessoalmente?
Capítulo 12 – Maltratando Você Para Seu Próprio Bem (1)
Ye Mu estava desvendando a atadura enrolada de qualquer jeito no ferimento dele quando ouviu aquilo. Baixou a cabeça e murmurou melancolicamente:
— Seu espírito já foi conquistado pela tirania, é?
— O quê? — Mo Linyuan não conseguiu ouvir direito.
Ye Mu vestiu uma expressão feroz, tentando afastar o comentário anterior, e respondeu com rancor:
— Esta Jovenzinha pode decidir a qualquer momento se quer que você viva ou não — você é só um escravozinho enrolado no meu dedinho. Como ousa falar tanta bobagem?!
Essa resposta absurda fez Mo Linyuan engasgar na hora. Ele ainda não tinha falado quando Ye Xiaolang já estava ao lado dele trazendo água.
Ye Mu elogiou a rapidez dele e então deixou que ajudasse para que pudessem cuidar juntos do ferimento de Mo Linyuan. A principal razão era que ela estava pequena demais para fazer aquelas tarefas delicadas. Com seus braços e pernas curtos, nem conseguiria carregar uma bacia de água. Se conseguisse, não precisaria chamar ajuda.
Depois de gastar muita energia, finalmente conseguiram limpar bem o ferimento no corpo de Mo Linyuan. Ye Mu mais uma vez lamentou como o garoto era magro. Que pena não ser mais rechonchudo...
Olhando para o ombro recém-enfaixado de Mo Linyuan e para a água tingida de vermelho, o rosto de Ye Xiaolang ficou sombrio. Com voz baixa, disse solenemente:
— Aquele Oficial Liu não pode ser chamado de humano! Porque Aji se recusou a ceder, ele fez todo tipo de coisa bárbara: socos, chutes e, por fim, feriu ele com uma faca. Se não fosse pelos reflexos rápidos do Aji, a faca não teria perfurado o ombro, mas o pescoço... Não teria terminado bem se ele cedesse fácil. Aquele Oficial Liu — eu o vi matar três pessoas hoje à tarde como se fossem animais para abate...
Os olhos dele escureceram ao lembrar da tragédia dos outros escravos pequenos que morreram antes da vez de Mo Linyuan.
Ye Mu ouviu em silêncio e também sentiu raiva, rangendo os dentes sem perceber. Quem atormenta os fracos e encontra prazer sádico nisso não passa de um bando de canalhas!
Sem que ela percebesse, sua expressão indignada e descontrolada caiu nos olhos de Mo Linyuan, aprofundando ainda mais sua já confusa mente.
Só então Ye Xiaolang também se lembrou que foi a Jovenzinha quem enviou Mo Linyuan de propósito para o Oficial Liu, para ‘receber punição’, como ela disse. Será que a Jovenzinha vai ficar brava por ser desrespeitada? Ele tampou a boca com medo e olhou para ela timidamente.
— Tá bom! — Ye Mu percebeu logo o que os dois estavam pensando — Eu não vou mais fazer isso no futuro.
Os dois garotos a olharam com sinceridade. Em troca, ela não pôde evitar de estufar o peito e dizer resoluta:
— Eu, Ye Mu, jamais permitirei que qualquer pessoa sob meu comando sofra qualquer dano.
Se soubessem — os soldados que passaram pelo seu treinamento tinham a menor taxa de mortalidade. E eram homens crescidos! Nem se fala de duas crianças!
Mo Linyuan ficou em silêncio, pensativo. Já Ye Xiaolang estava claramente radiante de alegria.
— Eu vou fazer o meu melhor para proteger a Jovenzinha também!
— Bom! — Ye Mu assentiu, dando um tapinha no ombro dele como uma mulher adulta.
Sob a luz fraca da lamparina, três crianças estavam ocupadas no sofá: duas vestidas com linho simples e uma com seda cara. À primeira vista, a cena pareceria um grupo incompatível. Mas, na verdade, eram harmoniosos.
Ye Xiaolang estava cheio de pensamentos. Talvez fosse por causa da expressão tão atenta da Jovenzinha, que parecia ter medo de machucar o outro, nem que fosse um pouquinho.
Será que é assim que uma pessoa, como os outros escravos diziam, que mata sem piscar os olhos desde jovem, deveria agir?
Mas quem estava com a cabeça cheia de turbilhões era Mo Linyuan. Era como se o coração dele ficasse cada vez mais chocado a cada instante! A Ye Mu que ele conhecia jamais cuidaria do seu ferimento com tanta paciência e cuidado. Nem mesmo o simples ato de cuidar dele seria possível! O que ela estaria tramando?
Ignorando os pensamentos do garoto, Ye Mu tirou uma garrafinha das mangas e disse para Ye Xiaolang, de um lado:
— Vá ficar de sentinela na porta.
Ye Xiaolang acatou depressa e foi para fora fazer a vigília. Depois que ela sentiu que o caminho estava livre, Ye Mu abriu a garrafinha e um forte cheiro parecido com vinho escapou. Ela mergulhou o lenço, encharcando-o na bebida.
Assim que Mo Linyuan viu aquilo, ela apressadamente levou a mão livre para tapar sua boca! Em seguida, pressionou o lenço molhado contra o ferimento no ombro dele. O corpo dele estremeceu imediatamente com a dor ardente.
Capítulo 13 – Maltratando Você Para Seu Próprio Bem (2)
— Mfmf! — veio o grito abafado de Mo Linyuan. Seus olhos se arregalaram em choque instantaneamente, as veias verdes no pescoço saltando. Ye Mu deu um pequeno sorriso, com um olhar um pouco culpado.
— O ferimento inflama fácil se não for desinfetado. Você vai ter que aguentar por agora!
Com a boca tampada por suas pequenas mãos, Mo Linyuan só podia encará-la com os olhos vermelhos.
Nessa posição tão próxima, os dois garotos ficaram muito próximos. Ele podia ver claramente suas sobrancelhas franzindo por uma fração mínima de tempo quando ela o via sofrer. Sentia o calor vindo da palma diminuta dela e o cheiro de leite vindo da sua respiração.
Isso lhe oferecia um certo conforto, mesmo que pequeno, e seus músculos relaxaram um pouco, a tensão diminuindo. No entanto, ele já estava encharcado de suor frio.
Depois que Ye Mu desinfetou seu ombro, aplicou rapidamente remédio no ferimento.
Mo Linyuan percebeu que o jeito que ela enrolava a atadura era meio estranho. Primeiro, ela envolvia o pano no torso antes de o prender nos ombros, aplicando só um pouco de pomada.
Nesse momento, Mo Linyuan já não tinha mais forças nem para se sentar. Já estava deitado na cama, sua respiração ficando mais calma e estável. E conseguia sentir o cheiro do incenso caro vindo da roupa de dormir dela, algo absurdamente deslocado naquele quartinho sujo e degradado. Sua mente estava turva, como se tivesse sido preenchida por uma massa entorpecedora.
Será que estava sonhando? Mas esse sonho era ainda mais ridículo: Ye Mu salvando ele, dando remédio, e, por fim, olhando para ele com olhos preocupados? Ou ele tinha enlouquecido, ou ela era a louca!
Seus olhos cansados varreram o quarto até encontrarem Ye Mu, que estava deitada naquela cama suja, encolhida numa bolinha. Seu rostinho que antes era altivo agora estava sério, como se enfrentasse um grande dilema.
A cabeça de Ye Mu estava cheia da conversa anterior, da noite de hoje. Quando estava concentrada passando o remédio, de repente ouviu Mo Linyuan falar:
— Hoje, porque eu te enfureci, você me mandou para o pavilhão…
Pego de surpresa pela fala direta, Ye Mu sentiu-se em uma situação bem complicada! Atordoada, respondeu secamente:
— Eu... fiz isso para te assustar.
Mo Linyuan, ouvindo a resposta, imediatamente deu um sorriso de deboche.
— Dez dias atrás, você me sequestrou e trouxe para esta residência... Para me fazer obedecer, você me chicoteou e depois me trancou com Xiaolang. Você me deixou correr dentro de uma jaula usando um protetor no peito para poder me usar como alvo de tiro com arco.
Ele falou cada palavra como se estivesse se advertindo. Para não esquecer o quão cruel Ye Mu era, e para que seu coração não se enchesse de sentimentos contraditórios por causa das recentes ações dela.
E a cada palavra que Ye Mu ouvia, ela abaixava a cabeça, amaldiçoando o céu. No fim, queria estrangular Deus.
Por que não havia nascido com uma identidade melhor? Será que tudo isso era planejado para que fosse impossível conseguir o mapa da fronteira da cidade? Já que o relacionamento deles estava tão ruim, nem pensar em pedir para ele ajudá-la a encontrar o mapa no futuro! Ela estava perdida! Por que, de todas as pessoas, tinha que transmigrar como a vilã cruel que abusou do protagonista?!
Será que ao menos podia relaxar e olhar o lado bom da coisa? Nem pensar! Tinha que melhorar a impressão que ele tinha dela e consertar a relação, senão...
Mas como fazer isso? Ye Mu lambeu os lábios, quebrando a cabeça atrás de uma solução. Vamos lá, pense criativamente!
— Na verdade! Eu te sequestei e trouxe para cá por um motivo! É porque... porque vi que tinham pessoas atrás de você! Não há dúvida que a casa do general é um lugar seguro, então te trouxe para cá!
Quando Mo Linyuan ouviu isso, seus olhos preguiçosos e caídos se abriram de repente, olhando-a com desconfiança.
Ye Mu não percebeu seu olhar penetrante. Como se uma chave tivesse sido girada em seu cérebro, seus olhos brilharam. Ela sabia o que dizer!
— E então — eu te deixei lutar com Xiaolang porque queria que você se exercitasse! E lutar de verdade é a maneira mais rápida e eficiente de fortalecer seus músculos! Exatamente!
Mo Linyuan não pôde evitar soltar um escárnio. Ele não acreditava em nenhuma dessas desculpas. Embora sentisse o corpo mais forte em pouco tempo, duvidava que esse fosse o objetivo inicial dela. Não, não podia ser.
— E quanto a te manter numa jaula para ser alvo dos meus treinos... foi para treinar seus reflexos! Sim, isso! Nunca ouviu dizer? Só na frente da morte o potencial humano cresce ao infinito! Eu fiz tudo isso para seu bem. Olhe nos meus olhos sinceros e diga que estou mentindo!
Ye Mu olhou para ele intensamente. Sim! Ela era uma boa samaritana que só tinha sido descuidada nas ações.
Mo Linyuan não pôde evitar rir seco. Perguntou sua última pergunta com voz rouca:
— E quanto a me bater com o chicote todos os dias?
Capítulo 14 – Eu Sou Realmente uma Boa Pessoa (1)
Ele queria ver que tipo de desculpa ela inventaria dessa vez.
Enquanto isso, tudo o que a outra parte queria naquele momento era que ela se prostrasse diante dele! Fazer uma pergunta tão complicada — será que ainda havia alguma chance de se tornarem amigos? Ela não estava pedindo demais, nem que virassem melhores amigos — bastava que ele não pensasse em matá-la no futuro, e isso já estaria ótimo!
— Isso é… porque…
O rosto de Ye Mu, pensativa, podia ser visto na luz suave da pequena chama. Ela mordia os lábios cheia de preocupação.
De repente, exclamou:
— Eu te bati para melhorar a resistência do seu corpo! A defesa! Você não sabe? Se você levar muitos golpes, seu corpo fica mais resistente — pode ser que agora você não veja sentido nas coisas que fiz, mas num momento crítico no futuro, isso pode — e vai — salvar sua vida!
Ela falou com orgulho, balançando a cabeça surpresa com sua própria esperteza. Suas palavras eram infalíveis, ele não poderia encontrar um erro nelas! E, convenhamos, enganar uma criança de nove anos não era tão difícil assim, não deveria ser problema…
Mo Linyuan queria abrir a boca para zombar daquela bobagem saindo da boca dela, mas ao ver seus olhos esperançosos olhando para ele, engoliu as palavras irônicas que estava prestes a dizer.
— …Sério? — ele acabou dando um pequeno sorriso. Naquele tom sarcástico, um traço de absurdo apareceu em seu rosto pálido e fino.
— Claro! — Ye Mu bateu no peito e respondeu orgulhosa. — Você vai descobrir que tipo de garota eu sou quando passar o dia todo comigo! Eu realmente sou uma boa pessoa!
Depois da sua pequena ladainha, continuou a passar o remédio com mais vigor e cuidado do que antes, tentando validar suas palavras e sua bondade através das ações.
Seu rosto estava alegre, os lábios inconscientemente se curvaram num pequeno sorriso. Como se estivesse feliz por conseguir consertar as coisas que havia feito no passado.
Enquanto Ye Mu não prestava atenção nele, Mo Linyuan a observava profundamente, seu olhar ficando cada vez mais intenso.
Na verdade, hoje ele viu três escravos sendo torturados até a morte por aquele animal, o Oficial Liu.
Ele odiava Ye Mu — odiava tanto que sua cabeça estava cheia de pensamentos assassinos; queria despedaçar seu corpo da maneira mais grotesca possível.
Mas quando chegou sua vez e foi capturado, incapaz de se soltar mesmo resistindo fortemente, sentiu o desespero o dominar. Naquele momento, deixou de lado todo pensamento, todo ódio e jurou para si mesmo —
Quem quer que viesse salvá-lo naquele dia, ele seria eternamente grato a essa pessoa!
Mas o que ele não esperava era que essa pessoa fosse justamente ela, a que entrou correndo para salvá-lo.
Mo Linyuan fechou os olhos novamente... Agora que o temperamento dela mudou tanto, ele agiria como se estivesse no teatro — observando por enquanto as coisas que ela queria fazer.
Depois que Ye Mu terminou de cuidar do ferimento com o remédio, percebeu que Mo Linyuan havia adormecido. Na tênue luz do lampião, seu rosto fino parecia mais relaxado, com uma expressão inocente.
Ao ver que ele dormia, suas sobrancelhas se franziram instintivamente.
Ela não esperava que desta vez, na frente de alguém que ele considerava inimigo, ele pudesse se entregar ao sono com tanta facilidade. Talvez o cansaço o tivesse vencido, e seu corpo não pudesse resistir, mesmo com todas as coisas que a verdadeira Ye Mu fazia para impedir que ele dormisse no passado. Ele devia estar realmente exausto agora.
Ela sorriu aliviada ao ver aquela imagem tranquila e sentiu que a criança finalmente começava a se aquecer para ela.
Quando chegar o momento em que ele conseguir o mapa e encontrar o tesouro que ele guarda, aquele mapa já não servirá para ele. E enquanto ele permanecer gentil com ela, se quiser, talvez ele o entregue — certo? O primeiro passo é construir um bom relacionamento com ele! Pensou Ye Mu, secretamente.
Lá fora, Ye Xiaolang se distraía contando estrelas, as mãos apoiadas nas bochechas e os olhos cheios de expectativa pelo futuro.
Ele havia sido criado por lobos antes de ser capturado como escravo, então confiava mais nas suas intuições aguçadas. Antes de conhecer Ye Mu, ouvira muito sobre sua má fama. Contudo, se não fosse por ela hoje, ele não estaria em melhor situação do que os escravos mortos antes dele.
Por isso, decidiu segui-la; acreditava firmemente que sua escolha não seria errada.
Depois de tudo feito, já era tarde da noite quando Ye Mu finalmente conseguiu voltar para sua cama.
O dia agitado e cheio de caos finalmente terminou. Mesmo assim, ela sentia como se estivesse sonhando acordada, onde tudo parecia estranhamente real.
Olhou para suas mãos gordinhas e sentiu uma mistura de emoções. Por fim, fechou os punhos, tomada por uma decisão.
No futuro, ela vai se concentrar em criá-lo! Impressioná-lo até conquistar sua aprovação. E então, finalmente conseguir o mapa da fronteira da cidade para voltar para casa! É simples assim! A partir de amanhã, deve fazer o plano de cultivo perfeito para ele.
Pensando nisso, ela foi caindo no sono lentamente.
Capítulo 15 – Eu Sou Realmente uma Boa Pessoa (2)
Alguns dias depois...
— Jovem senhorita, você não nos treinou para sermos seus capangas pessoais? Por que temos que aprender a escrever? — Ye Xiaolang perguntou desanimado. Era uma criança que odiava ler.
Faziam alguns dias que ele estava sob as asas de Ye Mu e, surpreendentemente, Ye Xiaolang tinha descoberto que por trás da suposta “ferocidade” do temperamento de Ye Mu, ela era até acessível. Por isso, sua coragem para relaxar na frente dela crescia dia após dia.
Ye Mu riu com desdém e disse pomposamente para todos ouvirem:
— Tolo! Como os assassinos pessoais desta jovem senhorita podem ser analfabetos, como cães abanando o rabo, que nem conseguem ler caracteres simples?! É uma vergonha até pensar em levá-los comigo! Se querem ser treinados, mas acham que estudar não adianta — nem pensem por um segundo que eu não vou chicoteá-los!
Assim que a criada ao lado dela ouviu que a jovem senhorita, que estava tranquila há alguns dias, ia voltar a chicotear alguém, sua expressão se distorceu e ela olhou para Ye Xiaolang em silêncio, quase pedindo socorro.
Mas Ye Xiaolang sabia que as palavras de Ye Mu eram só latidos sem mordida. Com um sorriso pequeno, respondeu:
— Bem, já que a jovem senhorita ordenou, Ye Xiaolang certamente vai estudar com afinco!
Ye Mu acenou satisfeita e então olhou para Mo Linyuan.
Mo Linyuan na verdade sabia ler e escrever, mas tinha fugido do Palácio Imperial do País Mo aos seis anos, o que significava que ele não teve uma educação sistemática por muito tempo, deixando lacunas que precisavam ser preenchidas.
Na era atual, aprender a ler e escrever só era um luxo para famílias abastadas, então ele não entendia por que Ye Mu insistia nesse tratamento caro.
Quando viu Ye Mu olhar para ele e para Ye Xiaolang, ele assentiu:
— Eu também vou estudar com afinco.
Afinal, para ele, como escravo, ter o privilégio de educação já era um milagre. Ele não iria abrir mão dessa chance.
Vendo os dois cooperando bem, Ye Mu fez um sinal para seus ajudantes saírem e chamou os professores particulares que havia contratado.
Eram dois homens, um mais velho e outro jovem. Ela disse para o professor de barba:
— Você, comece ensinando o Três Caracteres Clássicos — apontando para Ye Xiaolang.
Nota do tradutor: Três Caracteres Clássicos é um manual de leitura do século XIII com ensinamentos confucionistas em versos de três caracteres.
Depois, disse para o outro professor:
— Você, comece ensinando ele a Política Nacional.
Ye Xiaolang ficou incrédulo ao ouvir isso. Seu ego infantil ficou irritado e ciumento. Quando viu que o outro tinha algo que ele não tinha, cobiçou aquilo. Perguntou impaciente:
— Jovem senhorita, por que eu tenho que aprender diferente dele?
Ye Mu lhe deu um tapinha no ombro e disse sinceramente:
— Como você pode ver, ele é tão magro que talvez no futuro siga a carreira de estudioso. Como poderia ser comparado a você, que pode ser um excelente estudioso e guerreiro?
Com esse discurso empolgante, Ye Xiaolang lançou um olhar para o corpo de Mo Linyuan e assentiu vigorosamente! Então a jovem senhorita o valoriza mais, afinal?
Ele disse imediatamente:
— Não se preocupe, jovem senhorita, eu vou protegê-lo no futuro!
— É. Muito bem!
Mo Linyuan escutava de um lado.
A criança dentro dele, quase desaparecida, também reapareceu. Um estudioso treinado em artes marciais? Será que ela tem certeza que não é só um simplório com membros fortes?
Em resumo, até as feridas de Mo Linyuan cicatrizarem, Ye Mu deu aulas de texto para os dois.
Quando as feridas de Mo Linyuan quase estavam curadas e ele já podia se mover sem prejudicar, Ye Mu começou a treiná-los conforme seu regime.
A primeira parte do treino marcial era dominar a postura do cavalo.
Nota do tradutor: A postura do cavalo é mostrada na imagem abaixo.
Para não demonstrar preocupação demais, Ye Mu foi dormir em seu quarto e ordenou que uma serva cuidasse dos meninos. Quem diria que, pouco tempo depois, ouviria a voz irritada de Ye Xiaolang ecoar lá fora?
— O que vocês estão fazendo? Ele ainda não está bem!
A serva que os vigiava zombou:
— A jovem senhorita disse que uma hora é uma hora, e ainda não passou. Por que está fingindo que vai morrer? Levante-se logo!
Ao ouvir a confusão, Ye Mu correu para fora e viu o rosto pálido de Mo Linyuan sendo erguido do chão por Ye Xiaolang. Em seu braço havia um ferimento sangrando, fresco, causado por um chicote com farpas.
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