Capítulo 17 – No Inverno, Vista Roupas Grossas


 As estações e o clima não afetavam cultivadores de alto nível, mas para demônios comuns de baixo nível de cultivo, o inverno era uma estação difícil. A região da Cordilheira Duanping tinha as quatro estações bem definidas. O fim do outono ainda não havia passado completamente, mas todo o Duanping já estava congelando de frio.

Certa manhã, Lu Yaoyao foi levada pelo Belo Papai até o lago, como de costume, quando viu a neve branca flutuando no ar. Ela percebeu que a estação havia mudado. O brocado Ruyi que ela usava não só não sujava, como também a mantinha aquecida e confortável. Além disso, a comida espiritual de alta qualidade que Lu Yaoyao comia todo dia fazia com que ela não sentisse frio, mesmo exposta ao vento gelado do inverno.

Porém, o pequeno cérebro de Lu Yaoyao instintivamente achava que ela deveria vestir roupas grossas, e não aquela faixa fina na barriga que deixava muita pele exposta. Lu Yaoyao abraçou o pescoço do Belo Papai e balbuciou “ah, ah” algumas vezes. Antes que conseguisse expressar seu pedido, porém, sua atenção foi tomada pela figura do Belo Pai de costas.

Yao Jiuxiao estava parado à beira do lago, olhando para o horizonte. Flocos de neve caíam do céu, pousando sobre sua túnica branca antes de derreterem e desaparecerem. Ele permanecia imóvel, sem se mexer. O vento gelado soprava na barra de suas roupas. Sua figura inteira parecia uma pintura a tinta, bela e efêmera.

Lu Yaoyao ficou tão encantada que seus olhos ficaram totalmente fixos na bela figura do pai. Depois de um longo tempo, inclinou a cabeça e balbuciou confusa:

— “Ué?” O que aconteceu com o Pai? Por que ele está parado assim na neve?

Como Lu Qingyu poderia saber? Ele bufou com desprezo, pensando que Yao Jiuxiao estava tramando alguma coisa de novo, então não disse nada para a criança.

Lu Yaoyao apontou seu dedinho rechonchudo para o Pai e bateu no braço do Belo Papai com a outra mão, fazendo sinal para que ele a levasse até o Pai.

Lu Qingyu quis fingir que não entendeu, mas não conseguiu resistir à persistência da filha e, a contragosto, foi até lá.

Lu Yaoyao o apressava:

— Belo Papai, anda logo!

O rosto de Lu Qingyu escureceu ainda mais.

Quando a distância entre eles ficou em torno de dois metros, Yao Jiuxiao, que já havia notado a aproximação, virou o corpo.

Lu Yaoyao pulava com o tronco, esticando as mãos para o Belo Pai, que parecia tão frio quanto a neve branca do inverno. Ela balbuciava animadamente com sua língua de bebê:

— Pai, o que aconteceu com você?

Lu Qingyu não conseguiu evitar sentir um aperto no coração e deu um tapinha no bumbum da criança que se mexia.

— Criança ingrata. Por que nunca a vi tão preocupada comigo?

Em vez de caminhar em direção a Yao Jiuxiao, ele mudou de direção e se afastou um pouco, fazendo Lu Yaoyao gritar protestando.

Quando o olhar de Yao Jiuxiao pousou na filha, a atmosfera fria ao seu redor se dissipou um pouco, revelando um calorzinho. Ele se aproximou da criança e a pegou no colo.

Lu Yaoyao sentou-se ereta nos braços de Yao Jiuxiao, colando suas mãozinhas rechonchudas nas bochechas do Pai. Balbuciava com preocupação, esfregando o rosto dele com a pequena testa.

— Pai, não fique triste.

Talvez porque o Pai estivesse há um tempo fora, mas seu rosto estava muito frio. Só depois de ela esfregar por um bom tempo é que ele ficou um pouco mais aquecido.

Yao Jiuxiao percebeu que a criança devia ter entendido errado. Ele apenas estava pensando em algo, não estava triste. Porém, sentindo as mãozinhas macias e quentinhas e o rostinho pequeno pressionado contra si... Yao Jiuxiao escolheu ficar em silêncio.

Lu Qingyu ficou extremamente incomodado. Aproximou-se, tirou a criança dos braços de Yao Jiuxiao e voltou para a casa.

Lu Yaoyao aninhou-se nos braços de Lu Qingyu. Levantou a cabeça e olhou para ele, confusa:

— Por que o Papai ficou bravo de novo?

Lu Qingyu levou a criança para dentro, colocou-a no sofá e depois ficou parado em frente a ela, olhando para baixo, do alto.

Lu Yaoyao ficou deitada de costas e retribuiu o olhar sem piscar.

Lu Qingyu apontou para ela, dizendo com raiva:

— “Será que você ainda me vê?”

— “???” Lu Yaoyao ficou ainda mais confusa. Levantou os pés e começou a roer a mão, olhando para o Papai com inocência.

— O que o Papai está dizendo?

O rosto de Lu Qingyu estava cheio de insatisfação.

— “Quem está falando com você é este Venerável. Presta atenção. Abaixe os pés... não roa a mão!”

Lu Yaoyao: “...”

Lu Yaoyao virou-se e sentou-se, piscando algumas vezes. Seus cílios longos batiam suavemente como asas de borboleta. Ela percebeu que o Pai estava entrando pela porta e olhou com cuidado. Vendo que a expressão do Pai havia voltado ao normal, ficou aliviada e voltou sua atenção para cuidar do Papai mal-humorado.

— “Ahhh!” Lu Yaoyao bateu no sofá e fez sinal para o Belo Papai vir até ela.

Lu Qingyu resmungou com frieza. Aproximou-se, sentou-se de pernas cruzadas no sofá, esperando a criança o acalmar.

Lu Yaoyao esperou o Belo Papai se acomodar e então engatinhou até ele, agarrando suas calças.

— “Ah, ah, ah! Papai, agora é inverno. Bebê precisa de roupas grossas!”

Ela não iria bajulá-lo. Papai era arrogante por causa de seus mimos, então não devia seguir sua vontade agora.

Lu Yaoyao balbuciava alto e com força, tentando passar sua mensagem com vários gestos. Usou suas mãozinhas rechonchudas para tocar o rosto de Lu Qingyu. Embora não sentisse frio de verdade, achava que devia sentir, vestindo uma faixa fina que nem cobria as mãos e os pés.

Seu pedido era complicado demais para ser explicado. A boca de Lu Yaoyao já estava quase seca, mas Papai ainda não tinha entendido. Por fim, ela empurrou o Belo Papai no sofá, tirou seu robe com as mãozinhas e se enrolou nele, como uma crisálida.

Lu Yaoyao piscou os olhos grandes, esperando.

— “Ah! Ah!” Bebê quer roupas assim!

Atacado pela filha, Lu Qingyu ficou todo desarrumado. O robe foi tirado, revelando a roupa branca do meio. Essa peça também estava em mau estado, amassada e cheia de rugas. Se alguém desavisado visse aquela cena, poderia imaginar coisa ruim.

Lu Qingyu encarou Lu Yaoyao, que piscava os olhos grandes e sorria fofamente para ele. No fim, ele não ficou bravo:

— “Yao Jiuxiao, sua filha quer vestir as mesmas roupas que eu.”

Lu Yaoyao virou-se imediatamente e olhou para o Belo Pai com olhos esperançosos. O corpinho dela ainda estava enrolado como uma pequena crisálida de bicho-da-seda.

Yao Jiuxiao: “...”

Ele usou um encantamento para transformar o brocado Ruyi numa versão miniatura completa da roupa de Lu Qingyu, exceto pelos sapatos. Nos pés pequenos da criança ainda não havia sapatos.

Lu Yaoyao sentiu a transformação e rapidamente saiu do robe de Lu Qingyu. Seus olhos se arregalaram ao olhar para a roupa em seu corpo, curiosa.

Minha roupa pode se transformar. Que incrível!

Como o Pai fez isso?

A roupa ainda era vermelha, mas não era mais no estilo faixa de barriga. No geral, a nova roupa era bem parecida com a do Papai, com algumas pequenas diferenças. Em vez de branca, ela tinha a roupa do meio vermelha, da mesma cor que o robe e a calça, fazendo-a parecer a garotinha rechonchuda das pinturas de Ano Novo.

Lu Yaoyao ficou muito feliz. Agora estava vestida direito e não sentia mais “frio”.

Depois de se vestir com a roupa parecida com a do Pai, Lu Qingyu viu que a criança parecia mais com ele. Ficou muito satisfeito e até disse:

— “Vamos preparar mais roupas para a Zhu’er depois.”

Yao Jiuxiao não respondeu. De repente, a expressão dele mudou um pouco, e ele virou a cabeça para a porta.

Lu Qingyu também percebeu o movimento lá fora, mas não se importou. O que acontecesse fora não era problema dele. Por isso, ao ver Yao Jiuxiao virar-se e sair, ele deu um sorriso de desprezo.

— Como esperado da raça humana hipócrita.

Mas, depois de um tempo, Lu Qingyu, que brincava casualmente com a criança, sentiu outro movimento lá fora e parou subitamente. Seus olhos brilharam, então pegou a filha no colo e saiu tranquilamente pela porta.


Postar um comentário

0 Comentários