Lin Xinghe era extremamente grata a Jiuge por aquele cabeção de cachorro gigante.
A cabeça tinha três metros de altura — mesmo que fosse oca, ainda era bem pesada. Mas, como estavam no fundo do mar, a gravidade não tinha tanto efeito.
Para facilitar a visão de Lin Xinghe, Jiuge cavou dois furinhos na frente do capacete canino.
O cabelo de Jiuge era indestrutível.
Mas, claro, ainda estavam submersos. Por conta dos buracos, o interior do cabeção estava totalmente cheio de água do mar. Felizmente, Lin Xinghe havia tomado a poção de Mona, que lhe concedia brânquias invisíveis. Ela podia respirar livremente e até filtrava a água ao redor.
Então, tanto fazia estar mergulhada em vinho ou em água salgada — o efeito era o mesmo.
Ergueu novamente a taça de vinho, admirando a estranha culinária dos ogros abissais.
Quando entrou no salão principal, ficou um pouco confusa ao ver a mesa posta com comida e bebida.
Sendo humana, não conseguia imaginar como seria comer e beber no fundo do mar. Será que a comida e o vinho não ficavam todos encharcados?
Mas ao se sentar, logo entendeu: os pratos, as taças e as jarras eram feitos especialmente para isso — o conteúdo dentro deles desafiava completamente as leis da física.
Talvez fosse algo do cenário da prova, ou algum truque do golden finger de Lilith. De qualquer forma, ela podia viver como se estivesse em terra firme, mesmo estando no fundo do mar.
Lin Xinghe não pretendia comer. Continuou apenas despejando vinho na boca do cabeção, vez ou outra jogando uns petiscos lá dentro também.
Depois de um tempo, sentia a cabeça pesada como um tonel de vinho.
Às vezes, amendoins flutuavam diante de seus olhos, levados pela corrente. Ela soprava levemente para afastá-los. Quando um amendoim se aproximava da "boca" do capacete, Lin Xinghe precisava sacudir a cabeça para impedir que ele saísse flutuando.
Afinal, era um amendoim, não vinho.
Seria estranho ver amendoins boiando saindo da própria boca.
Vinho, por outro lado, não importava.
A água ao redor diluía o álcool imediatamente. Além disso, dentro do cabeção já havia três metros de água salgada misturada com vinho. Quando o líquido saía, o teor alcoólico já estava bem leve.
Anthony III, observando o modo como o Rei do Mar Barbaros "comia", começou a se perguntar onde ficavam as bocas dos bárbaros do mar. Para ele, os Barbarossanos eram criaturas completamente alienígenas, com cabeças que ocupavam dois terços do corpo. Era impossível identificar onde ficava a boca.
Já meio bêbado, Anthony III começou a fantasiar com o futuro. Se casasse com a bela e poderosa princesa dos Barbarossanos, como seria beijá-la? A cabeça dela era tão grande… talvez precisasse mandar fazer um travesseiro especial. As roupas seriam fáceis de adaptar. Pela estrutura do corpo do Rei do Mar, as pernas pareciam normais — humanas, até. Lembrava das reclamações da mãe e da avó quando haviam se transformado: demorava para fazer roupas que servissem, e as roupas nunca ficavam bonitas o suficiente.
Claro, Anthony III também achava que o Rei do Mar parecia humano. Mas, segundo sua mãe, o ancestral dos Barbarossanos era o deus egípcio Anúbis — com cabeça de cachorro e corpo humano. Depois de milhares de anos vivendo nas profundezas, era normal que tivessem evoluído daquele jeito.
Assim, Anthony III elaborou toda uma teoria que o deixava tranquilo.
Nem por um segundo cogitou que o Rei do Mar fosse uma farsa. Afinal, nenhum humano poderia andar livremente no fundo do mar, muito menos encarar um governante do abismo tão cara a cara. E certamente nenhum humano conseguiria beber daquele jeito.
Naquele momento, o Rei do Mar Barbaros suspirou e disse:
— Invejo a liberdade de Vossa Excelência. Desde criança, meus gestos e palavras sempre foram vigiados. Meu pai, minha mãe e até a rainha vivem dizendo o que posso e o que não posso fazer. Somos empurrados para o fim da fila pelos humanos, e mesmo assim… nos dizem para lembrar a bondade dos nossos antepassados mil anos atrás, e abençoar os humanos como eles fizeram.
De repente, o Rei do Mar atirou a taça longe e bradou:
— Por quê? Que tenho eu a ver com meus ancestrais? Eles me atacaram! Por que não posso revidar? E ainda dizem que sou rebelde!
Essas palavras atingiram em cheio o coração de Anthony III.
Ele se revoltou também:
— Isso! Por que eu deveria me casar com uma noiva humana?
Lin Xinghe levantou outra taça e gritou:
— Um brinde a isso! Vamos rebelar juntos!
Com toda a pompa, encheu mais uma taça de vinho.
Naquele momento, Anthony III sentiu que havia encontrado uma alma gêmea e escancarou seu coração.
— Os Barbarossanos sonham? — perguntou ele.
Antes que Lin Xinghe respondesse, ele emendou:
— Nós ogros abissais temos sonhos. E ultimamente, tenho tido o mesmo sonho repetidamente…
— Que sonho?
— Sonho com uma mulher humana presa nos aposentos da minha avó. Ela é diferente de todas as humanas que conheci. Estranha, mas charmosa. Trouxe-a para o fundo do mar e quis me casar com ela, transformar ela numa de nós… mas ela se recusou.
O semblante de Anthony III escureceu, como da vez em que estava na área proibida.
Logo ficou irado, descontrolado.
— Ela não quis! E ainda se aliou a forasteiros para destruir nossa tribo! Roubaram nossas riquezas!
Lin Xinghe ficou paralisada.
…Meu Deus, cara. Era só um sonho!
Anthony III se levantou impaciente e começou a andar de um lado para o outro.
— Eu não posso me casar com uma mulher humana! — rosnava, nervoso. — Eu não posso repetir o erro do meu pai e do meu avô, colocando uma humana como matriarca do nosso povo! Eu vou matá-la! Vou matar todos os humanos! Ninguém vai roubar a riqueza dos ogros abissais!
Suas palavras começaram a sair atropeladas e confusas, e Lin Xinghe mal conseguia entender o que ele estava dizendo. Só percebeu que a expressão dele estava cada vez mais distorcida e violenta. Parecia que Anthony III acreditava mesmo que seu sonho tinha virado realidade — e agora, parecia mais um lunático.
Lin Xinghe se lembrou da Donzela da Neve.
Ela também tinha problemas mentais — provavelmente era bipolar.
Será que todos os chefões dessas salas de exame tinham questões psiquiátricas?
Mas, pensando bem, Lin Xinghe achou que ainda podia contornar a situação. Se Anthony III fosse um gato, ela seria aquela pessoa que faz carinho na barriga dele até ele ronronar de barriga pra cima.
Os dois beberam a noite toda, conversaram felizes sobre vinho e selaram uma irmandade.
No fim, Lin Xinghe segurou a mão de Anthony III com firmeza e disse, audaz:
— Você deve ser meu irmão perdido de outra vida! No futuro, esta irmã mais velha vai te levar pra comer comida apimentada!
Anthony III: — Irmão mais velho!
【Ainda bem que a SL não nasceu na antiguidade. Se tivesse encontrado um tirano, com certeza teria virado a ministra mais poderosa do império! O tirano acabaria domado por ela.】
【Vocês esqueceram que a SL é mulher? Na antiguidade, ela seria uma concubina demônio!】
【Bah! Concubina é pouco! Com o nível vilanesco dela, seria no mínimo uma traidora influente que comanda a corte nas sombras!】
【Eu tô mais preocupado com o Anthony III. Ele tem algum transtorno mental? Parece mania…】
【Eu acho que é esquizofrenia.】
【Mas sério, todos os chefões que a SL encontra são meio surtados! A Donzela da Neve também era. Talvez o Anthony tenha transtorno de personalidade dupla? Uma parte quer casar com humanos, a outra quer matar todos?】
【Eu não acho que seja doença mental. Chefe de fantasia ocidental é sempre supersticioso. Tipo aquele rei da profecia que queria matar o bebê que destruiria o reino, lembram? A criança escapou e mesmo assim acabou com o rei, exatamente como previu a profecia.】
【Essas histórias são bem comuns em fantasia, mesmo.】
【Na cultura oriental também tem. O governante sonha e acha que é uma mensagem dos deuses.】
【Então talvez o chefe dos ogros abissais não esteja louco. Esse tipo de configuração é super comum em histórias fantásticas.】
Lin Xinghe finalmente conseguiu beber mais que Anthony III.
Pediu para os ogros abissais cuidarem do chefe. Ao sair do salão principal, vários olhares reverentes a acompanhavam.
Quando voltou para o alojamento de hóspedes, Jiuge já havia acordado.
Ele ajudou Lin Xinghe a tirar o cabeção de cachorro e sentiu cheiro de álcool.
— Você andou bebendo?
— Eu? Não. Quem bebeu foi a sua cabeça — respondeu Lin Xinghe.
Jiuge: …
Depois de um momento, Jiuge suspirou:
— Ah, deixa pra lá… esse cabelo mesmo não dá pra reaproveitar…
Ficou resmungando baixinho.
Lin Xinghe, morrendo de sono, disse:
— Vou dormir um pouco. Se acontecer algo, me chama.
Anthony III provavelmente nunca tinha ficado bêbado antes. Depois de competir com o cabeção de três metros da Lin Xinghe, devia estar completamente apagado. Então ela tinha um tempo de descanso.
Mas, no fim das contas, dormir no fundo do mar não era nada confortável.
Ela cochilou levemente por umas três horas e logo se levantou.
Jiuge ficou surpreso.
— Já acordou? Não vai dormir mais?
Lin Xinghe se levantou e disse:
— Já dormi o suficiente. Tive uma ideia. Jiuge, posso pegar sua vassoura mágica emprestada? Vou sair um pouco. Enquanto isso, finge que sou eu e fica deitado na cama.
Jiuge nem perguntou o motivo e prontamente emprestou sua vassoura mágica profissional.
Lin Xinghe foi silenciosamente até a área proibida, pegou a caixa de ferro sem graça e saiu do palácio dos ogros abissais com Xiao Xue Ji.
Ela montou na vassoura mágica de Jiuge, voltou até o cruzeiro e encontrou Ling Xiran.
Fez com que a outra metade da esfera dentro da caixa de ferro se acendesse.
Ling Xiran a observava com curiosidade.
Nesse momento, Lin Xinghe disse:
— Tenta sair do navio.
Ling Xiran já havia tentado antes. Assim como os outros fantasmas do cruzeiro, estava presa ali para sempre.
Mas sua mestra disse que agora podia tentar de novo.
E, desta vez, Ling Xiran conseguiu deixar o navio.
Ela ficou boquiaberta.
Lin Xinghe manteve a expressão calma e sussurrou algo no ouvido dela.
Ling Xiran engoliu seco e assentiu freneticamente, como um pintinho bicando milho.
Lin Xinghe voltou ao fundo do mar. Colocou a caixa de ferro de volta no lugar original e retornou ao alojamento. Estava colocando o cabeção de cachorro de novo quando alguém bateu na porta — era Wendy.
Ele trazia uma lata do tamanho de duas palmas.
Entregou a Lin Xinghe com entusiasmo.
— Nosso chefe concordou. Este é o tesouro da tribo dos ogros abissais — a Rosa de Gelo Alpina.
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