Capítulo 53


Pouco tempo depois, o fiscal apareceu.

Era o mesmo fiscal das duas provas anteriores.

Ele leu as regras da sala de prova com a mesma expressão apática de sempre e, com um aceno de mão, abriu a fenda espaço-temporal, apressando os estudantes para que entrassem logo.

Xie Wuan foi o primeiro a entrar.

Depois que ele entrou, os outros candidatos pareceram relutar em atravessar a fenda ao mesmo tempo que ele.

Vendo isso, Lin Xinghe não hesitou e foi a segunda a entrar. Uma luz intensa e familiar passou diante de seus olhos, forçando-a a fechá-los por reflexo. Quando recuperou a visão, viu-se em um beco escuro. O lugar exalava um forte cheiro de metal enferrujado.

Antes que pudesse observar melhor os arredores, ouviu um grito agudo, seguido por passos pesados e o som de metal arrastando no chão.

Lin Xinghe olhou para os lados e rapidamente tomou uma decisão.

A um metro de distância, havia uma geladeira duplex abandonada encostada num canto. A pintura da alça já havia descascado, a superfície metálica estava tomada por ferrugem, e havia um líquido pegajoso e fétido escorrendo pela porta.

Mas naquela hora, Lin Xinghe não podia se dar ao luxo de se importar. Os passos pesados se aproximavam. Ela abriu a geladeira, retirou rapidamente a divisória interna, curvou-se e se enfiou lá dentro.

Felizmente, era pequena e conseguiu se acomodar sem dificuldades.

Assim que fechou a porta da geladeira, uma fenda espaço-temporal se abriu em algum ponto próximo.

Outro estudante caiu ali.

Os passos pesados se aproximaram ainda mais.

— Outro humano estúpido!

— É um espião enviado pela Cidade Santa.

— Matem-no. O corpo ainda vale algumas moedas Lu. A gente divide em cinco partes. Preciso trocar a tinta da minha mulher em casa. A cor da moda agora é rosa. Nem sei como conseguem achar isso bonito, mas tá na febre entre as mulheres. Essa tinta é cara pra caramba, parece porcaria, mas só uma demão custa dez moedas Lu. Com isso eu encho três tanques de óleo! Moda é um saco.

— Olha quem tá reclamando... No fim, é você mesmo que entra na fila pra comprar a tinta.

— O que você...

— Não venham! Eu... hã? Cadê minha magia? Eu...

Dentro da geladeira, Lin Xinghe ouviu o som de uma espada perfurando algo. Logo depois, uma nova conversa começou:

— A Cidade Santa vai mandar mais gente. Hoje a gente manda todos pro saco.

— Vamos carregar o corpo e trocar por moedas Lu. Já tenho um aqui no estômago. Não aguento mais. Carregar cadáver humano no mercado... tô morrendo de medo de ser assaltado...

— Humanos são tão nojentos...

— Aguenta, são moedas Lu. Depois você se lava.

— Vamos logo...

Lin Xinghe ouviu os passos se afastando, então empurrou a porta da geladeira com cuidado. Ao olhar, viu uma poça de sangue no chão. Ao mesmo tempo, o alerta da prova surgiu em seu bracelete:

Destrua a Pedra de Poder.

A transmissão ao vivo de Lin Xinghe voltou a agitar-se.

Todos começaram a comentar.

【O SL não era sortudo feito um peixe koi? Quase morreu logo no início.】

【Acho que o SL tá sendo alvo, hein.】

【Não é a primeira vez. Já me acostumei. A escola provavelmente quer ferrar o SL. Como é mesmo aquele ditado? "A árvore alta atrai o vento". SL é bom demais, mas não alcança o nível do Xie Wuan, então tá fadado a morrer cedo.】

【Bah, não roga praga no SL. Ele tem sorte e inteligência do lado dele. E mais: isso é só o começo. Quem garante que cair aqui é azar? No primeiro exame ele caiu sozinho numa montanha nevada e todo mundo achou que era o fim. Mas foi o único a sair de helicóptero, tranquilo da silva.】

【A líder é muito esperta. Se não tivesse se escondido na geladeira a tempo, podia ter acabado igual ao candidato que foi morto.】

【Esse campo de prova tá sangrento demais. Já morreram 10 pessoas.】

【A professora tem dois primeiros lugares na sala dela. E o Xie Wuan tá aqui, então talvez ela nem consiga o primeiro dessa vez.】

【Talvez? Com certeza não vai conseguir. Tá por fora. O Xie Wuan já disse que quer transformar a Lin Xinghe em estatueta. Chefe é chefe. Ele já começou a explorar o enredo, enquanto a Lin ainda tá escondida numa geladeira. A diferença entre eles é enorme.】

【...Não dá pra comparar assim. O Xie Wuan caiu na Cidade das Sereias e tá lá assando sereias. A líder caiu num lugar péssimo. Se ela tivesse caído na Cidade das Sereias, já estaria explorando o enredo agora.】

【Heh, fãs da Lin Xinghe têm dois pesos e duas medidas. Agora não é questão de sorte, né?】

【Chega de briga. Só quero ver a líder ganhar. Quem não gosta dela, vai ver outra live. Não aparece aqui só pra chamar atenção.】

Lin Xinghe viu o aviso da prova, mas não pensou muito a respeito. Ela acabara de entrar e ainda tinha pouquíssima informação — era como começar com uma folha em branco. No momento, havia outra coisa que lhe chamava mais atenção.

Apesar de estar escondida, ela escutou cada palavra da conversa que acontecia do lado de fora.

Conseguiu perceber claramente o pânico na voz do colega.

O que aconteceu com a magia dele?

Lin Xinghe suspeitava que não dava para usar magia naquele lugar. Pelo que o candidato disse, ele era claramente um mago do departamento de fantasia, mas foi abatido por uma criatura desconhecida segundos depois de chegar.

Se ele pudesse usar ao menos um pouco de magia, não teria morrido daquele jeito.

Ela tentou acessar seu espaço pessoal com a consciência, mas deu de cara com uma barreira. Normalmente, podia entrar nesse espaço sem dificuldade, mas agora sentia como se houvesse uma porta bloqueando o caminho. Por mais que tentasse, sua consciência não conseguia atravessá-la.

Chamou por Xiao Xue Ji algumas vezes, mas não obteve resposta.

Tentou abrir o anel de armazenamento que Jiuge lhe dera, mas também não conseguiu.

Lin Xinghe sentiu um frio na espinha.

Ali, parecia impossível usar qualquer tipo de magia ou técnica imortal — talvez nem habilidades sobrenaturais funcionassem. Todos os candidatos provavelmente estavam reduzidos à condição de humanos comuns.

...E, pelo que ouvira dos dois seres mecânicos, os inimigos não eram exatamente "criaturas normais".

De repente, ela ouviu uma voz rouca e fria:

— Cai fora.

Lin Xinghe se sobressaltou. Não sabia de onde vinha a voz.

A voz repetiu:

— Sai já daqui!

— Eu mando você cair fora!

— Humana inútil, você não merece estar aqui.

— Vá o mais longe possível, você profanou meu corpo.

— Ainda tá aí?

Lin Xinghe sentiu um leve tremor, enquanto a voz rugia:

— SAI!

O tremor durou pouco, e logo tudo voltou ao silêncio — exceto pela voz resmungando:

— Vocês humanos são tão nojentos... Eu devia ter chutado você pra fora e deixado morrer junto com seus amiguinhos, como recompensa pros cidadãos lixo.

Foi então que Lin Xinghe percebeu: quem estava falando era a geladeira duplex onde ela se escondera.

Ela saiu de dentro da geladeira.

A geladeira resmungou novamente:

— Coloca de volta a divisória do chefe!

Lin Xinghe confirmou. A voz vinha mesmo da geladeira. Antes, não tivera tempo de observar com atenção, mas agora notou que ela era diferente de uma geladeira comum. Na base, havia duas pernas mecânicas curvadas, como suportes enferrujados. Nos lados, braços robóticos finos como algas, todos gastos e pendendo sem força.

— Tá olhando o quê?

A máquina se moveu, como se quisesse acertar Lin Xinghe, mas logo girou no lugar, como se tivesse ficado sem energia, e desabou. Só restava a voz insistindo:

— Coloca a divisória do chefe de volta!

— Tá bom — disse Lin Xinghe. — Eu coloco a divisória de volta, mas com uma condição: você tem que responder minha pergunta.

— Vai embora, não quero responder nada — respondeu a geladeira.

— Beleza.

Lin Xinghe enfiou a mão dentro da geladeira, pegou a divisória e disse:

— Vou te mostrar uma apresentação especial: partindo a divisória na mão...

Ela fingiu que ia golpear com a mão em forma de faca. No instante seguinte, a geladeira gritou:

— Você ousa?!

— Sim, você tem razão. Eu não ouso. Quebra na mão dói — respondeu Lin Xinghe, revirando os olhos. Pegou uma chave inglesa quebrada do chão. — Então vou usar isso aqui pra partir sua divisória.

Ela ergueu a ferramenta e desferiu um golpe forte contra a divisória.

O material era resistente e não rachou, mas ficou com vários arranhões.

Na segunda martelada, a geladeira respondeu com frieza:

— O que você quer saber?

Lin Xinghe guardou a chave inglesa e sorriu:

— Onde estamos?

— Na Cidade das Máquinas.

— O que eram aquelas duas coisas de agora há pouco?

— Cidadãos da Cidade das Máquinas.

— Eles são todos geladeiras como você?

— EU NÃO SOU UMA GELADEIRA! Meu nome é Precoster!

— …Tá bom. O que eles são, então?

— Quem. Não o quê. São cidadãos da Cidade das Máquinas com vida!

— Ah... então você não é um cidadão da Cidade das Máquinas, né?

A geladeira ficou em silêncio por um momento.

— Isso não é da sua conta.

— Você sabe o que é a Pedra de Poder?

— Existe humano que não saiba o que é a Pedra de Poder? A Cidade Santa vive de olho na nossa cidade, só pra tentar roubar a Pedra!

— O que é a Cidade Santa?

— Onde vocês humanos vivem! Vai perguntar isso pra mim por quê?

— Além da Cidade Santa e da Cidade das Máquinas, tem mais alguma cidade?

— A Cidade das Sereias, né? Você é humana, vive no Continente Tianhui?

Lin Xinghe já tinha entendido o básico.

Aparentemente, esse mundo se chamava Continente Tianhui, e era dividido em três principais facções de raças diferentes: máquinas, sereias e humanos.

Pelo que ouvira dos dois seres mecânicos e da própria geladeira que dizia ser comum, parecia que a tensão entre humanos e máquinas tinha chegado a um ponto crítico — as máquinas matavam humanos invasores em troca de recompensas.

A saída do beco estava a cerca de 100 metros.

A luz do sol não conseguia entrar ali. De onde estava, Lin Xinghe conseguia ver vagamente máquinas indo e vindo. Além das geladeiras com braços e pernas mecânicos, havia também diversos eletrodomésticos e robôs humanoides inteiramente feitos de metal.

A luz do sol refletia neles, emitindo o brilho frio característico do aço.

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