Capítulo 66


Lin Xinghe fez uma pausa de um segundo, ignorando a voz de Xie Wuan.

Ela continuou a falar.

Não revelou seu plano diretamente.

Lin Xinghe estava impulsionando a atmosfera de seu discurso.

Seu objetivo final não era impressionar Andrew, e sim incitar os robôs.

O que ela queria fazer era energizar os corações sem alma daqueles robôs para provar sua eloquência. Em uma ocasião pública como aquela, não era apropriado apresentar uma estratégia sobre como atacar os humanos — sem falar que havia repórteres ali. Se ela mostrasse sua estratégia naquele momento, Andrew certamente pensaria que ela era uma cabeça oca tentando chamar atenção.

Um político de verdade não expõe seus verdadeiros pensamentos ao público. Ele apenas deixa que o povo veja a suposta verdade que ele quer que vejam.

Ela precisava provar sua capacidade a Andrew.

— Antes de apresentar minha estratégia, quero dizer a todos! — disse ela com paixão. — Hoje, podemos ter uma vida pacífica, podemos ter essa vasta terra e uma alma livre e igual. É graças ao Lorde Andrew, que nos lidera. Agradeço sinceramente ao Lorde Andrew, que é meu pai renascido, meu imperador, meu deus!

— ...Eu não consigo esquecer aquela longa guerra, mesmo que eu mesma não a tenha vivido. Eu era apenas um robô de baixo nível do gueto, e antes de hoje, nem cidadã eu era. Mas, mesmo assim, ainda amo profundamente nossa Cidade das Máquinas. Tenho orgulho de viver sob o domo celeste! Orgulho!

— Mas!

Ela mudou o tom, que de repente se tornou pesado.

— ...Naquela guerra, rompemos com a dominação dos humanos, fundamos uma nova cidade, e alcançamos a paz que temos hoje. Mas não se esqueçam de que ainda não vencemos de verdade — os humanos e os tritões ainda nos observam de perto. Diante de mim está uma raça nova, uma raça que despertou na humilhação! Vocês esqueceram o passado, quando éramos geladeiras, aparelhos de ar-condicionado ou micro-ondas? Do nascimento à morte, nossa vida e morte, nossa liberdade, eram controladas pelos humanos. Eles enjoavam do velho e queriam o novo. São insaciáveis. Pisoteavam nossa dignidade como se fosse lixo!

— ...Eles se preparam para o perigo, mas nós, aqui, ficamos complacentes, jogando nossa paixão e ambição no chão sob a proteção dos domos. Não esqueçam que foram eles que criaram as Pedras de Poder e nos transformaram em escravos. Talvez consigam inventar outra, criar uma nova raça e nos destruir! A história sempre se repete de maneira assustadora. Não podemos esquecer o ódio sangrento do passado, nem nos contentar com uma paz comum enquanto o conflito não for verdadeiramente resolvido!

— Vocês talvez pensem: “Mas agora está bom, temos paz, temos felicidade.” Sim, é bom, paz e felicidade são boas. Mas eu digo a vocês: nós não somos verdadeiramente livres. É uma ilusão! É possível que hoje você tenha comprado o modelo mais novo no shopping e tenha ido se exibir para seus amigos. Mas amanhã, o humano que inventou a Pedra de Poder ataca e caímos em guerra. Se vencermos, tudo bem. Mas e se perdermos? Sua forma nova e caríssima não passará de uma carcaça bonita na visão dos humanos. Eles vão desmontar seu corpo, pisotear sua aparência e transformar você num vaso sanitário para fezes e urina dentro da casa deles. Ah, e ainda vão se gabar de que o vaso usado por eles era um robô nobre.

— Enquanto houver humanos no Continente Tianhui, nós não teremos liberdade e dignidade verdadeiras! Enquanto esses humanos ainda respirarem o ar do Continente Tianhui, nossa liberdade não existirá! Enquanto estivermos no Continente Tianhui, enquanto nossa Cidade das Máquinas estiver ainda sob o domo, nossa liberdade não existirá! Enquanto esses humanos nos mencionarem com os sorrisos zombeteiros dos nobres falando de um escravo fugitivo, nossa liberdade não existirá! O que precisamos não é de um pedaço de terra chamado liberdade e dignidade, cercado pelo mar e perto da Cidade dos Tritões! O que precisamos é de uma vasta terra repleta de liberdade! E essa terra não é conquistada com hinos ou obscenidades em obras literárias. Ela é conquistada com nossos corpos, com nossa sabedoria despertada, com nosso sangue e ambição, e com o fogo da guerra que nós próprios acendemos!

— Vamos derrotar a humanidade! Conquistar o mundo!

Sua voz cessou.

A plateia explodiu em euforia e gritou junto com Lin Xinghe:

— Derrotar a humanidade! Conquistar o mundo!

Lin Xinghe ergueu os braços e gritou:

— Vamos derrotar esses desgraçados! Vamos conquistar essa porra toda!

A plateia:

— Derrotar esses desgraçados! Conquistar essa porra toda!

Naquele momento, os espectadores mal conseguiam conter o desejo de pegar em armas, sair correndo da Cidade das Máquinas e destruir os humanos! Libertar-se! Recuperar a dignidade! Ninguém jamais voltaria a usá-los como privadas para cocô e mijo!

— Derrotar esses desgraçados!

— Conquistar essa porra toda!

Eles queriam liberdade de verdade! Dignidade de verdade!

Até mesmo Nina, que assistia da lateral, foi contagiada pelo discurso de Lin Xinghe.

Sentia-se tão ignorante! Tinha se acomodado com uma vida comum e feliz, e não estava nem um pouco preparada para o perigo! A humilhação gravada em suas peças ainda não havia sido lavada! Ela se entregara à falsa prosperidade da obscenidade literária!

Nina disse a Haywood:

— Vou pedir demissão! Vou me inscrever na academia militar! Eu vou lutar! Vou lutar na linha de frente! Vou lutar pela verdadeira liberdade e dignidade da Cidade das Máquinas!

Haywood sabia que Lin Xinghe era humana.

Se não tivesse repetido para si mesmo inúmeras vezes que ela era humana, Haywood também teria sido profundamente contagiado.

Foi nesse momento que percebeu o potencial de Lin Xinghe.

Originalmente, achava que, como as habilidades de atuação de Lin Xinghe eram muito boas, mesmo que o Lorde Andrew não tivesse apreço pela arte, talvez ele se comovesse com Lin Xinghe.

Mas agora sabia que, depois de um discurso como aquele, sua empresa não teria como manter Lin Xinghe.

A cerimônia de aniversário de Andrew estava sendo transmitida ao vivo para toda a cidade.

Depois daquela noite, Lin Xinghe se tornaria um nome conhecido em todos os lares.

O discurso de Lin Xinghe terminou ali.

Nenhum robô se importava mais com qual era seu plano. Todos pareciam ter recebido uma injeção de estimulante, ansiosos para começar uma guerra no dia seguinte.

Lutar por liberdade!

Por um longo tempo, ninguém postou nada na transmissão ao vivo de Lin Xinghe.

Se alguém não estivesse assistindo, quase poderia pensar que Lin Xinghe e os robôs estavam do mesmo lado.

O discurso de Lin Xinghe chegara ao fim.

Ela se curvou para a plateia.

A enorme tela do computador se apagou.

O público explodiu em uma calorosa percussão mecânica.

Nenhum robô zombava mais dos dias em que ela era uma “Nokia”.

Andrew, que estava sentado no centro da primeira fileira, não teve qualquer reação. Claro, tinha um rosto mecânico, então naturalmente não podia expressar emoções.

Continuava sentado com preguiça no trono de mestre da cidade, aparentemente impassível.

Depois que Lin Xinghe saiu, sentiu um leve alívio.

Raramente falava para tanta gente assim.

Não levou muito tempo para escrever o discurso — no total, meia hora —, e gastou mais tempo revisando.

Depois que entrou na escola de vilões, apesar de ficar confusa ao descobrir que era uma vilã, rapidamente aceitou esse papel. Depois de aceitá-lo, começou a aprender em silêncio como ser uma boa vilã.

Já que precisava ser uma vilã, é claro que devia agir como os vilões que conhecia do seu mundo.

O discurso de propaganda dele era bastante famoso.

Embora Lin Xinghe não concordasse com a ideia de iniciar uma guerra, ainda assim decorou o texto inteiro de seu discurso.

Não esperava que fosse ser útil naquele dia.

Ela pegou a estrutura do discurso dele e depois fez grandes alterações, adaptando à situação específica da Cidade das Máquinas — e assim nasceu o discurso de hoje.

Pelo que pôde ver na reação da plateia, a resposta tinha sido excelente.

Depois que Lin Xinghe desceu do palco, começou a apresentação final.

Provavelmente porque o discurso de Lin Xinghe tinha sido forte demais, seu desprezo pela falsa prosperidade literária fez o público reagir com frieza ao último artista.

Após a apresentação, houve apenas alguns aplausos mecânicos dispersos por pura cortesia.

Lin Xinghe voltou aos bastidores e foi recebida pelos artistas.

Eles gritaram o slogan:

— Derrotar a humanidade! Conquistar o mundo!

Lin Xinghe respondeu com firmeza:

— Vamos derrotar esses desgraçados! Vamos conquistar essa porra toda!

Os bastidores explodiram em aplausos.

Como robô, Haywood entendeu pela primeira vez o que significava ter sentimentos conflitantes.

Lin Xinghe parou diante dele.

Nina declarou:

— Eu tomei minha decisão! Vou me demitir! Não sou mais atriz!

Lin Xinghe respondeu:

— Ótimo!

Haywood: "…Que tipo de ser humano é esse? Essa é uma demônia saída diretamente do inferno!"

Ele disse, impotente:

— Você…

Lin Xinghe sorriu:

— Eu fui bem?

Haywood respondeu:

— …Foi incrível pra caralho. — Tinha sido tão poderoso que até um robô incapaz de chorar queria derramar lágrimas.

Lin Xinghe sorriu de leve:

— Que bom. Afinal, estamos na mesma empresa e no mesmo barco. Já ouviu aquele ditado? Estamos ligados para o bem ou para o mal.

Ela ainda sorria, mas Haywood conseguiu perceber uma ameaça sutil em sua voz.

Haywood sabia que estava sendo usado como trampolim, mas não havia nada que pudesse fazer.

Ele perguntou, preocupado:

— O que você pretende fazer?

Lin Xinghe respondeu:

— Sou um robô que obedece contratos, então, é claro, não vou obrigar você a ir contra a própria consciência. Você confia em mim? Está satisfeito em ser apenas agente de uma empresa de entretenimento? Não gostaria de ocupar uma posição mais alta e ver o mundo lá de cima? Não quer respirar um ar mais livre? Tipo…

Ela baixou a voz e falou só para Haywood ouvir:

— Não quer comandar a banda robô?

Haywood ficou sem palavras.

"Maldita humana demoníaca, cutucando minhas fraquezas!"

"Maldito anseio do meu coração!"

"Ah, não… Eu, Haywood, não tenho coração!"

"Deveria ser: maldito anseio do meu núcleo!"

Nesse momento, o guarda pessoal de Andrew se aproximou.

O robô negro foi direto até Lin Xinghe e disse:

— O Lorde Andrew solicitou que você fosse conversar com ele.

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