Capítulo 82


 Capítulo 82

Jiang Baoguo não entendia nada de internet e tinha pouco em comum com Lu Yicheng para conversar. Felizmente, Lu Yicheng era bom de papo, e no curto tempo que levou para Jiang Lan e Xie Yunzhen subirem as escadas, ele já havia combinado com Jiang Baoguo de jogar xadrez, tomar chá e cozinhar juntos.

Ainda levaria um tempo para caminhar do dormitório até o portão da escola. Lu Yicheng puxava a mala rosa de Jiang Lan atrás de si, seguindo em silêncio enquanto a família de três caminhava à frente. Ele fazia questão de manter uma distância respeitosa dela.

Jiang Lan diminuiu o passo.

— Ei, bonitão, sozinho?

Lu Yicheng lançou um olhar para as costas cada vez mais distantes de Xie Yunzhen e Jiang Baoguo, depois pigarreou e abaixou a voz:

— Não começa.

Quem está começando? pensou Jiang Lan. Se eu não tivesse ficado com pena de ver ele andando sozinho lá atrás, nem teria falado nada.

— Tá bom então, tô indo.

Lu Yicheng rapidamente segurou o braço dela.

— Espera, espera, eu tava brincando. Não leva a sério — você não pode ir embora.

A verdade é que Lu Yicheng não queria que ela fosse embora de jeito nenhum. Mas Jiang Lan estava voltando pra casa — ela não tinha ido durante as férias de verão, e ele não podia pedir que ficasse só por causa dele. No fim das contas, ele era apenas um namorado substituível. Assim que ela chegasse em casa, provavelmente o esqueceria completamente.

Jogar, maratonar dramas, conversar com Yu Wanqiu, bater papo com Xu Xiang…

Jiang Lan puxou a manga dele.

— Não fica triste. Logo você também vai entrar de férias.

Será que Lu Yicheng estava triste por ainda não estar de férias? Não, era porque… deixa pra lá.

Lu Yicheng disse:

— Já te lembrei de tudo. Me manda mensagem quando chegar em casa, me liga à noite e lembra de sentir saudade de mim.

Jiang Lan assentiu.

— Já decorei tudo. Que falador.

Quando chegaram ao portão da escola, Xie Yunzhen e Jiang Baoguo já estavam a mais de dez metros à frente.

Lu Yicheng colocou a mala no porta-malas e deu um tapinha na cabeça de Jiang Lan. Voltando-se para Xie Yunzhen e Jiang Baoguo, disse:

— Professor Xie, Tio Jiang, dirijam com cuidado. Boa viagem.

Xie Yunzhen assentiu.

— Mm, pode voltar agora. Venha nos visitar quando estiver livre.

Venha nos visitar quando estiver livre… Ele estava livre agora.

Lu Yicheng teve uma vontade imensa de entrar no carro junto com Jiang Lan. Provas não eram problema — ele tinha confiança de que se sairia bem. Quase não ia à empresa, e agora que Jiang Lan não estava estudando para exames, ela também não tinha mais nada para revisar.

Lu Yicheng olhou para Jiang Lan.

— Hm, Professor Xie… Na verdade, estou livre hoje.

Jiang Lan o encarou.

— …?

Jiang Baoguo engasgou com uma rajada de vento gelado. Xie Yunzhen fez uma pausa e olhou para a filha. O convite dela não tinha sido apenas por educação.

Nos últimos seis meses, Jiang Lan tinha passado várias vezes na casa da família Lu, comendo e dormindo lá. Embora não fosse porque Lu Yicheng era seu namorado, Xie Yunzhen ainda se sentia um pouco culpada.

A família Lu tinha de tudo — ela nem sabia como retribuir.

Durante o feriado nacional, Lu Yicheng levara presentes — caranguejos peludos, bolos da lua, chá — e depois disso ainda aparecera algumas vezes, nunca de mãos vazias.

Xie Yunzhen disse:

— Se está livre, venha almoçar conosco. Ah, precisa levar alguns livros? Não deixe que isso atrapalhe os estudos.

Lu Yicheng sabia que Xie Yunzhen, sendo professora, levava os estudos muito a sério. Se ela estava dizendo para ele levar livros… significava que estava convidando-o para passar a noite? Ele lutou para conter o sorriso.

— Então vou pegar alguns livros. Jiang Lan, vem comigo.

Ele tinha medo de que partissem sem ele.

Jiang Lan tossiu.

— Mãe, ele está super ocupado com a escola. Por que você… por que está fazendo isso?

Lu Yicheng respondeu:

— Não tô ocupado. Já revisei tudo — faltam só duas provas. Estudar um pouco mais é suficiente. Jiang Lan, vamos!

Lu Yicheng encheu uma mochila inteira. Jiang Lan perguntou o que ele estava levando que ocupava tanto espaço, mas ele se recusou a dizer.

— É segredo. Não pergunta — não vou contar.

De repente, ele a abraçou.

— Você acha que o Professor Xie e o Tio Jiang me aceitaram? Tô com vontade de comprar uns fogos pra comemorar — bombinhas duplas, rojões, os mais barulhentos que tiver…

— Pena que agora são proibidos. Talvez a gente possa ir à Rua Oeste outro dia pra ver os fogos.

Lu Yicheng tinha imaginado que só conseguiria ficar na casa dela durante o Ano-Novo.

— Não tô me iludindo, né? Eles não vão me mandar embora à tarde?

Fogos podiam esperar. Jiang Lan não queria ficar muito perto de Lu Yicheng — burrice era contagiosa.

Xie Yunzhen planejava ir ao mercado mais tarde comprar carne e legumes. Hoje era fim de semana, e ela não tinha aulas pela manhã, embora precisasse voltar à escola à tarde.

O último ano tinha sido lotado de aulas extras, mas os alunos estavam motivados. Ela provavelmente teria cerca de dez dias de férias de inverno.

Jiang Baoguo dirigia enquanto Lu Yicheng e Jiang Lan estavam no banco de trás. Lu Yicheng sentava-se ereto como uma criança no jardim de infância ouvindo o professor, com as costas retas como uma régua.

Ele até escutava atentamente a conversa de Jiang Baoguo e Xie Yunzhen na frente, acenando de vez em quando — mesmo que ninguém estivesse falando com ele.

Jiang Lan virou o rosto para a janela, com medo de que Lu Yicheng dissesse algo como: “Jiang Lan, por que você não está prestando atenção no que o Tio e a Tia estão dizendo?”

Idiota.

Quando chegaram em casa, Lu Yicheng prontamente carregou a mala mais pesada escada acima, sem nem trocar de sapatos.

— O que precisamos comprar? Jiang Lan e eu podemos ir.

— Vai sozinho. Eu não quero.

Ela finalmente estava em casa — quem ia querer sair nesse frio congelante? Se ele queria se exibir, que fosse sozinho.

Jiang Lan não tinha a menor intenção de ir.

Mas Lu Yicheng, surpreendentemente, concordou:

— Posso ir sozinho também.

Xie Yunzhen disse:

— Lanlan, vai com o Xiao Lu. Vê o que ele gosta de comer e compra mais disso. Pega também um frango assado e carne cozida. Vai logo.

Jiang Lan não se mexeu. Xie Yunzhen insistiu:

— Anda logo!

Assim que saíram, Jiang Lan deu um tapa em Lu Yicheng.

— Você é insuportável! Fica longe de mim! Por que me arrastou pra fora nesse frio?

Lu Yicheng apenas continuou sorrindo.

— Eu queria sair com você. Hoje posso escolher um prato que eu gosto — o que você quer? Eu deixo você escolher um da Professora Xie.

— Como se eu ligasse! — retrucou Jiang Lan.

Lu Yicheng pegou a mão dela.

— Tô te dando esse privilégio raro e você ainda tá brava? Tá bom, te deixo tomar um sorvete hoje.

Depois de outubro, Lu Yicheng tinha proibido que ela comesse sorvete. Quando ela comprava um, dava duas mordidas e ele comia o resto.

No dia em que Yu Wanqiu voltou, ele não ousou impedir — mas na escola? De jeito nenhum.

Comer sorvete em pleno inverno? Absurdo.

— Eu tenho meu próprio dinheiro. Se quiser sorvete, compro sozinha! — disse Jiang Lan.

— Claro, claro, você tem dinheiro — respondeu Lu Yicheng, enfiando a mão dela dentro do bolso do seu casaco. — Então deixa eu adivinhar o que mais você quer… batata-doce assada? Frutas cristalizadas?

Jiang Lan teve vontade de bater nele de novo. Será que todos os caras achavam que comprar comida resolvia tudo quando a namorada estava brava?

— Não quero nada. Vamos logo — tá congelando.

Da próxima vez que Lu Yicheng bancasse o certinho na frente dos pais dela, ela o espancaria sem pensar duas vezes.

— Hehe, vamos então — disse ele.

Hehe?

Caso perdido.

No mercado, Lu Yicheng escolhia os ingredientes enquanto Jiang Lan pagava. Ele era o convidado — ela não podia deixá-lo gastar. Lembrando-se das palavras de Xie Yunzhen, ela queria comprar coisas que ele gostasse… mas o que ele realmente gostava? Ele parecia comer de tudo — comida de refeitório, lanches de rua, as sobras dela.

Jiang Lan realmente não fazia ideia do que era o prato preferido dele.

Ela cutucou a cabeça dele.

— Ei, o que você gosta de comer?

— …Você nem sabe o que eu gosto — respondeu Lu Yicheng.

— Eu esqueci! Com certeza eu sabia antes. Vai, fala logo.

Lu Yicheng suspirou baixinho.

— Não tem graça se eu tiver que dizer.

Suspirou de novo.

Jiang Lan soltou o ar junto com ele.

—Tá bom, não vou mais brigar com você. Sério, minha mãe me mandou comprar os mantimentos, e se eu não levar nada de volta, ela vai me dar uma bronca. Só me diz o que você quer comer.

Lu Yicheng pensou por um momento. Na verdade, ele não tinha nenhuma comida favorita. Sempre que saíam, ele pedia o que Jiang Lan gostava. Ela era exigente, ele não. Ela adorava peixe e carne, então, com o tempo, ele também passou a gostar.

—Vamos pegar um peixe. Podemos fazer peixe fervido. Pronto, escolhi. E você, o que quer?

Jiang Lan não era nada exigente. Se fosse a mãe dela cozinhando, ela nem se importava se acabasse sem comer.

O mercado tinha vegetais frescos e baratos. O peixeiro limpou e eviscerou o peixe para eles. Jiang Lan também comprou um frango inteiro e meio quilo de asinhas.

De verduras, pegou vagens, pepinos e abobrinhas. No caminho de volta, desviaram por algumas ruas para comprar frango assado e carne cozida.

Jiang Lan cutucou Lu Yicheng.

—Quer mais alguma coisa?

—Batata-doce assada e espeto de fruta caramelizada.

Jiang Lan não conseguiu conter o riso.

—Tá bom, tá bom. Mas se você não comer, tá morto.

No fim, eles também compraram batata-doce assada, castanhas torradas com açúcar e frutas caramelizadas. Quando chegaram em casa, Xie Yunzhen pegou as compras das mãos deles.

—Lao Jiang, você cuida da cozinha hoje.

Jiang Baoguo foi lavar as mãos. Não podia deixar que Lu Yicheng cozinhava toda vez. As habilidades culinárias de Xie Yunzhen eram apenas medianas, então era melhor que ele assumisse.

Era nesses momentos que a hierarquia familiar ficava clara — quem tinha mais autoridade em casa era quem cozinhava.

—Eu vou ajudar o Tio — disse Lu Yicheng.

Dessa vez, Xie Yunzhen não o impediu. Um pouco de ajuda era bom.

—Lanlan, vai cortar as frutas.

Como Xie Yunzhen teria aula à tarde, mas Jiang Baoguo estava de folga, ele acabou trazendo o licor.

Lu Yicheng bebeu várias taças no almoço, e seu rosto ficou vermelho. Depois, sentou-se imóvel ao lado de Jiang Lan.

Jiang Baoguo achou que ele tinha pouca resistência ao álcool. Mas, pensando bem, beber menos era até mais saudável. Lu Yicheng não fumava, não aguentava muito álcool e não tinha vícios.

—Lanlan, leva ele pro quarto do norte pra descansar — disse Jiang Baoguo. Os dois haviam terminado uma garrafa, e Jiang Baoguo havia conseguido deixar Lu Yicheng completamente bêbado.

Jiang Lan deu um tapinha no ombro de Lu Yicheng, e ele a seguiu obedientemente.

Se eu fosse uma sequestradora, já teria vendido os rins dele há muito tempo!

A casa tinha aquecimento, mantendo a temperatura a 26 °C. Debaixo do casaco, Lu Yicheng usava um suéter de caxemira bege simples.

Assim, tão quieto, ele parecia até bem comportado — e bonito também.

—Vai dormir! — disse Jiang Lan.

—Eu vou... não briga comigo... Mas você não vai me jogar pra fora enquanto eu estiver dormindo, né? — murmurou ele.

Quem conseguiria carregar um homem de mais de cinquenta quilos?!

—Para de enrolar. Vai pra cama. — Jiang Lan pegou o cobertor que Xie Yunzhen havia separado. — Tá fazendo isso de propósito? Bebendo tanto assim... tá realmente bêbado ou só fingindo...?

Lu Yicheng passou os braços pela cintura dela.

—Não tô bêbado. Pode ficar? Só senta do meu lado e me vê dormir...

Antes que ela respondesse, ele a soltou e caiu na cama.

—Deixa pra lá. A gente tem que manter distância. Pode ir. Eu fico bem.

O rosto ainda corado, ele a encarou por um instante antes de fechar os olhos rapidamente.

—Por que você ainda tá aqui?

Sim. Definitivamente bêbado.

Jiang Lan fechou as cortinas, trancou a porta e foi reclamar com Xie Yunzhen.

—Mãe, o que é isso? Primeiro você faz ele ficar pro almoço, agora pra tirar uma soneca também?

Xie Yunzhen lançou-lhe um olhar.

—Você não entende nem o básico de etiqueta. É um milagre a Yu Wanqiu gostar de você. Se fosse eu, não aguentava. Quantas vezes você já ficou na casa da família Lu? Quanta despesa causou pra eles? Quando você saiu, o Xiao Lu até veio aqui cozinhar pra mim e pro seu pai. Já viu ele aparecer de mãos vazias alguma vez?

Tudo era questão de reciprocidade. Se eles fossem se casar, essas coisas seriam naturais. Mas como ainda não eram, não podiam só receber sem dar nada em troca.

Ainda mais porque a família Lu era bem de vida. Xie Yunzhen se sentia desconfortável em sempre aceitar tanto.

Uma refeição não era nada demais. Se Jiang Lan e Lu Yicheng realmente pensavam em casamento, a observação era necessária — mas não havia motivo pra dificultar as coisas de propósito.

—Eu sei, eu sei. Eu também compro coisas pra professora Yu, e nem sempre deixo o Lu Yicheng pagar quando saímos... — disse Jiang Lan.

Agora, Jiang Lan tinha muito dinheiro. O pagamento do programa e das campanhas promocionais já havia caído — mais de dois milhões no total.

Ela nunca tinha sonhado em ter tanto.

Naquela época, pensava que, com dois milhões, não teria mais nada a desejar. Que se mudaria pra uma cidade pequena, viajaria todos os dias, tocaria violino e viveria feliz.

Mas agora que tinha, não sabia o que fazer com isso.

Ainda comia o combo simples de carne e legumes do refeitório, ainda amava panquecas de café da manhã e ainda não resistia às ruas cheias de lanches.

Assim como Lu Yicheng — a família dele tinha dinheiro, mas ele nunca desperdiçava.

Xie Yunzhen era professora; Jiang Baoguo, funcionário público. Ambos viviam de salários fixos.

Em meia vida, nunca tinham visto tanto dinheiro.

E nem sabiam como gastar.

No fim, Jiang Lan pediu conselho a Yu Wanqiu. Ela recomendou alguns produtos financeiros, e Jiang Lan investiu tudo, satisfeita em ver os números crescerem.

Yu Wanqiu disse que esse dinheiro poderia comprar um pequeno apartamento depois da formatura — o tamanho não importava, até um estúdio servia. Se algum dia se casasse, teria um lugar seguro. Nunca confie demais em homens.

Mas Yu Wanqiu também disse que Lu Yicheng podia saber da compra. Eles estavam namorando, afinal — ele acabaria descobrindo. Talvez até ajudasse a escolher o lugar.

"Converse direito com sua família. Isso não é trocado", acrescentara Yu Wanqiu.

Jiang Lan achou que fazia todo o sentido.

Xie Yunzhen concordava. Se Jiang Lan se casasse um dia, eles não teriam muito pra oferecer. Era bom que ela pudesse ganhar seu próprio dinheiro — embora boa parte disso fosse graças à influência de Yu Wanqiu.

—Não faça birra no namoro. E para de ficar sempre provocando o Xiao Lu — disse Xie Yunzhen, sem querer insistir demais. — Trabalhe duro. Não ache que só porque alguém gosta de você, já tá tudo garantido.

—Você é próxima da Yu Wanqiu — olha pra ela. Ela continua melhorando. Até eu leio todos os dias — elogiou Xie Yunzhen. — Aprende com ela.

—Eu sei, eu sei — disse Jiang Lan. E, de fato, achava que a mãe estava certa. A professora Yu era incrível — ela também se esforçaria pra ser como ela.

Enquanto conversavam, o celular de Jiang Lan tocou.

—É a vovó.

Ela atendeu:

—Vovó! Eu tô de férias... Você tá aqui?! Eu já tô descendo pra te buscar!

Ao desligar, sorriu pra Xie Yunzhen.

—Mãe, a vovó tá aqui. E o meu primo também.

Jiang Lan vestiu o casaco grosso.

—Vou lá embaixo encontrar com ela.

A avó Jiang tinha vindo porque sentia falta da neta. Pediu ao neto que a trouxesse pra passar alguns dias e cozinhar umas comidas boas pra Jiang Lan.

Xie Yunzhen sorriu.

—Vai lá. Eu já tô indo pro trabalho.

De repente, mãe e filha se entreolharam. Jiang Lan hesitou.

—Hm... e o Lu Yicheng? Devo acordar ele primeiro?

Xie Yunzhen pensou por um momento antes de responder:

—Ele bebeu bastante, deixa ele dormir mais um pouco. As aulas dele costumam ser cansativas, e não é como se ele fosse um estranho. Seu pai também ainda não levantou — vamos buscar sua avó primeiro.

Lu Yicheng acordou uma vez no meio do sono. Os cobertores na casa de Jiang Lan eram quentinhos, e a cama era mais firme que a da própria casa. Ele gostava de colchões mais duros, e aquele era perfeito.

...

Olhou o celular — passava um pouco das duas. Se enfiou de novo no travesseiro e voltou a dormir.

Quando acordou novamente, já eram quase quatro. Lu Yicheng esfregou o rosto e mandou uma mensagem pra Jiang Lan.

Depois de esperar dois minutos sem resposta, levantou e saiu sozinho.

—Tio Jiang, Professora Xie, Jiang... — Lan.

Xie Yunzhen não estava — havia ido dar aula. Jiang Baoguo também não; talvez ainda estivesse dormindo ou tivesse saído. Havia três pessoas na sala de estar.

Ainda meio grogue, Lu Yicheng piscou algumas vezes, mas o número continuava o mesmo.

Um deles era um rapaz — alto e bastante bonito — sentado no sofá de um lugar só. Depois havia uma senhora idosa, com o cabelo curto, na altura das orelhas, preso com presilhas pretas, usando um colete acolchoado. Parecia animada e bem arrumada. Estava sentada ao lado de Jiang Lan.

Por fim, o olhar de Lu Yicheng pousou em Jiang Lan. Ele abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada.

Jiang Lan levantou os olhos para ele.

— Você acordou. Este é meu primo, e esta é minha avó.

A avó Jiang era uma velhinha de coração bondoso. Quando chegou, Xie Yunzhen havia comentado que Jiang Lan costumava comer na casa da família Lu, então naquele dia convidaram Lu Yicheng para ficar para o jantar. Ele tinha bebido um pouco no almoço, e tanto Jiang Baoguo quanto Lu Yicheng foram tirar uma soneca.

Lu Yicheng acordara um pouco antes — Jiang Baoguo ainda dormia.

Jiang Feng acenou para Lu Yicheng.

— Ei, eu sou o primo da Jiang Lan. Que bom que acordou — toma um pouco de água.

A avó Jiang entrou na conversa:

— Venha se sentar. Você é bem alto, rapaz.

Lu Yicheng sentou-se na beirada do sofá.

— Tenho um metro e oitenta e cinco. Acho que minha altura é aceitável.

A avó Jiang sorriu.

— De onde você é? O que seus pais fazem? Qual é o seu trabalho? Tem irmãos?

Jiang Lan interveio:

— Vó, ele acabou de acordar. Por que está interrogando ele assim? Posso te contar tudo isso depois.

Lu Yicheng balançou a cabeça.

— Não, não, tudo bem. Sou da Cidade B. Meu pai trabalha na área de tecnologia e minha mãe é atriz. Estudo ciência da computação — ainda estou na faculdade, mas fiz um estágio de três meses durante o verão. Sou filho único.

A avó Jiang murmurou:

— Filho único, é…

Lu Yicheng engoliu em seco.

— Mas meu tio tem um filho, o Lu Xingran. Nós somos muito próximos — como verdadeiros irmãos. Também tenho primos, e nos damos muito bem.

Jiang Lan se lembrou de que, no passado, Lu Yicheng não falava de Lu Xingran com tanto carinho assim.

A avó Jiang não havia mencionado Lu Yicheng em casa, mas agora que o conhecera, queria perguntar direito.

Só que Lu Yicheng não fazia ideia do que tinha dito durante aquelas horas.

Quando Xie Yunzhen voltou, insistiu para que ele ficasse para o jantar. Depois, ainda sugeriu que ele dividisse o quarto com Jiang Feng, enquanto Jiang Lan ficaria com a avó.

Lu Yicheng ficou morrendo de vergonha. Quis se enfiar num buraco. Depois do jantar, inventou uma desculpa e foi embora.

Não havia chance alguma de passar a noite na casa de Jiang Lan.

— Acho que preciso me mudar pra outro planeta — suspirou Lu Yicheng, vendo o ar frio se condensar diante dele. — Por que você não me acordou, amor?

Jiang Lan deu de ombros.

— Eu queria, mas sua querida Professora Xie disse que você andava trabalhando demais e precisava descansar. Além disso, meu pai só acordou quase às cinco.

Lu Yicheng desabou.

— Seu pai é seu pai. Eu sou só o seu namorado — não é a mesma coisa.

Jiang Lan achou que sua avó na verdade gostara de Lu Yicheng. Os mais velhos geralmente simpatizavam com rapazes altos, de aparência limpa e que iam bem nos estudos.

A princípio, a avó Jiang questionou por que ele ainda estava dormindo, mas Xie Yunzhen explicou que ele tinha bebido vinho no almoço e andava muito cansado. Depois disso, a avó Jiang não quis que o incomodassem.

Lu Yicheng puxou Jiang Lan para um abraço. Sentia como se toda a boa impressão que havia construído com o Tio Jiang e a Professora Xie tivesse sido destruída em um único dia.

— Sou tão inútil. Não consigo fazer nada direito. Amor, você sabe o que isso parece? Como se eu tivesse trabalhado duro por meses, só pra perder todo o progresso de uma vez. Sua avó deve achar que sou um preguiçoso. Você precisa explicar pra ela.

Jiang Lan não aguentou e caiu na risada.

— Hahaha.

...

Lu Yicheng estava especialmente adorável naquele dia.

Ainda remoía o assunto.

— Eu até trouxe pijama.

Jiang Lan provocou:

— Quer voltar lá, então?

— Hoje, não. Perdi toda a minha dignidade. Me dá mais um abraço — estou gravemente traumatizado. — Suspirou e, em seguida, acrescentou rápido (com um instinto de sobrevivência notável): — Não que eu esteja dizendo que a vovó veio em má hora! Depois vou comprar algo pra ela.

— É minha avó, não nossa. E que história é essa de comprar presente? Você tá pensando demais.

Lu Yicheng fez bico.

— Você tá sendo tão fria… Não me ama mais?

Jiang Lan deu um tapinha na cabeça dele.

— Você é impossível. Vai continuar vindo aqui no futuro?

— Claro! Acha que um pequeno contratempo vai me impedir? Eu volto, sim. — Assim que a avó Jiang esquecesse o incidente, ele tentaria de novo.

Jiang Lan dirigia o carro vermelho de Xie Yunzhen — ela tinha carteira.

— Vamos. Eu te levo pra casa.

Lu Yicheng tinha uma prova no dia 19 — a penúltima. Queria visitar a avó Jiang de novo, mas Jiang Lan acabou sendo levada por Yu Wanqiu.

No dia 20 de dezembro seria a cerimônia do Prêmio Urso Dourado. Yu Wanqiu havia recebido dois convites e, depois de pensar um pouco, decidiu levar Jiang Lan junto.

A cerimônia aconteceria em Xiamen. Todos os atores e equipes indicados compareceriam, e antes haveria o desfile no tapete vermelho. E quando o assunto era tapete vermelho, Yu Wanqiu não aceitava perder pra ninguém.

A única coisa era que ela tinha cortado o cabelo bem curto. Não parecia tão impactante quanto o cabelo comprido. Xia Jing havia trazido vários vestidos longos. Mesmo com o frio de dezembro em Xiamen, a maioria das atrizes ainda usava vestidos de gala no tapete vermelho.

Xia Jing sugeriu:

— Que tal extensões de cabelo? Depois você corta de novo.

Jiang Lan discordou:

— Professora Yu, quem disse que cabelo curto não combina com vestido? O cabelo curto destaca o pescoço e os ombros. Você é bem clara, e suas clavículas são lindas. Além disso, está frio — não precisa usar vestido. O tapete vermelho é ao ar livre. Um terno com saia por baixo pode ficar incrível.

Yu Wanqiu analisou os vestidos — um modelo sereia preto, um vestido de gala vermelho-vinho e outro champanhe, todos de última coleção.

As palavras de Jiang Lan a inspiraram.

— Um vestido preto de princesa — decidiu Yu Wanqiu. — Com um blazer preto ou branco por cima. E salto preto. Dá pra achar isso agora?

Xia Jing garantiu que sim. Se não conseguisse algo tão simples, nem merecia ser gerente.

Duas horas depois, Xia Jing voltou com o conjunto — uma blusa preta com renda, saia de tule, blazer branco e outro preto.

Os saltos tinham oito centímetros. O visual era predominantemente escuro, mas o sapato e a saia estavam enfeitados com pequenas pérolas e lantejoulas. Sob as luzes, tudo brilhava.

A maquiagem era discreta — com um visual tão marcante, não havia necessidade de exagerar.

Além disso, Yu Wanqiu não precisava de maquiagem para ter presença.

Brincos de pérola completavam o visual. Seu cabelo já crescera um pouco, com algumas mechas brancas na frente, conferindo-lhe um ar de elegância fria.

Yu Wanqiu mandou Jiang Lan parar de encará-la, mas ela não conseguia evitar — o visual estava deslumbrante.

— Professora Yu, e se colocássemos uma flor rosa aqui no bolso? Ia ficar lindo.

A estilista concordou — o conjunto misturava estilos: o blazer formal e sóbrio contrastava com a saia volumosa e delicada. O look todo preto ganhava vida com os brincos coloridos e a flor, e sob as luzes, o vestido cintilava.

Yu Wanqiu se observou no espelho. Os brilhos realmente caíam bem nela.

Jiang Lan levou as mãos ao rosto.

— Dá vontade de gritar — Professora Yu, você tá simplesmente deslumbrante.

Xia Jing assentiu, concordando.

— Mesmo que não ganhe, esse visual vai roubar todos os olhares.

Jiang Lan teve uma ideia engraçada.

— Você podia usar meia térmica por baixo da saia e colar adesivos térmicos. Professora Yu, pode até colocar uns em cima também — assim, enquanto todo mundo congela no tapete vermelho, você vai estar quentinha!

Yu Wanqiu já estava satisfeita com o visual.

— Agora vamos cuidar do seu, Jiang Lan.

Embora Jiang Lan não fosse desfilar no tapete vermelho, ainda seria vista na plateia, e as câmeras certamente a captariam.

Não dava pra aparecer toda encasacada com um casaco de pena.

— Vamos escolher um vestido branco pra ela — sugeriu Yu Wanqiu.

A internet estava em polvorosa com o Prêmio Urso Dourado.

Mídias e influenciadores especulavam sobre quem levaria os prêmios de Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Filme.

Em seus mais de vinte anos de carreira, Yu Wanqiu já havia ganhado duas vezes o prêmio de Melhor Atriz.

Se vencesse novamente, se tornaria a única atriz da China a conquistar três troféus de Melhor Atriz do Urso Dourado.

O prêmio era bienal, e alguns filmes recebiam várias indicações — O Mar Profundo estava entre eles, concorrendo a Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Filme, Melhor Direção e mais.

Outras obras indicadas incluíam Lua de Outono, Retorno ao Lar, Sob o Halo, A Contadora de Histórias e De Passagem.

Além das categorias principais de atuação, os papéis coadjuvantes também estavam em disputa, mas o prêmio de Melhor Atriz continuava sendo o mais aguardado.

Seja Yu Wanqiu, Deng Chen, Li Xiaofeng ou outras, todas haviam entregue atuações excepcionais.

Deng Chen já havia sido indicada duas vezes antes, mas perdera em ambas as ocasiões. Li Xiaofeng passou oito anos em papéis secundários antes de conseguir Retorno ao Lar. Wang Yue continuou gravando Sob o Halo mesmo com uma fratura óssea. E a atuação de Ming Yao em A Contadora de Histórias havia emocionado muitos às lágrimas.

Alguns argumentavam que Deng Chen merecia vencer — duas indicações e duas derrotas era realmente azar demais. Outros torciam por Li Xiaofeng, por todos os anos de trabalho sem reconhecimento. Havia também quem acreditasse que Ming Yao deveria ganhar — com apenas 21 anos, esse era seu filme de estreia, e, se vencesse, se tornaria a mais jovem vencedora de Melhor Atriz na história do Urso Dourado.

Quanto a Yu Wanqiu, que já havia vencido duas vezes, alguns achavam que o prêmio deveria ir para uma novata. Aos 46 anos, ela era uma veterana, e a própria indicação já era um reconhecimento suficiente.

Desde quando idade ou tempo de carreira importam? Caso contrário, Deng Chen não teria perdido duas vezes.

KKK, desde quando o júri liga pra quantos anos você tem ou quantos prêmios já ganhou? Ser novata não te torna automaticamente melhor.

Se esses fatores contassem, o Urso Dourado perderia toda a credibilidade. O prêmio deve ser decidido puramente por mérito — nada de jogadas de bastidores.

Yu Wanqiu já teve várias indicações — por que não poderia vencer de novo?

Quem vencer é por talento. Não venham dizer que é só por serem jovens ou veteranas demais.

Os fãs de Yu Wanqiu vinham mantendo um perfil discreto ultimamente, enquanto os “Lanzhou Noodles” — os fãs que shippavam o casal — viviam sua devoção silenciosa. As fotos do aeroporto da última vez já haviam sido dissecadas em cada detalhe, e o Bilibili estava tomado por vídeos de fãs.

A rainha guerreira e sua amada.

A veterana da faculdade e sua caloura.

A treinadora e sua aprendiz.

Os fãs do Bilibili estavam vivendo por aquilo.

Ainda assim, já fazia um tempo desde que as duas haviam aparecido juntas em público, então ver Yu Wanqiu hoje era um presente.

Às 18h20 do dia 20 de dezembro, teve início a cerimônia do tapete vermelho do Urso Dourado, transmitida ao vivo. O tapete, com quase duzentos metros de comprimento, incluía uma área de autógrafos e entrevistas com a imprensa.

Os primeiros a desfilar foram os integrantes de Lua de Outono, entre eles um indivíduo particularmente extravagante.

Espera… aquele é o Lu Xingran??

É sim. Ele foi indicado a Melhor Trilha Sonora Original — o cara tem talento.

A disputa não estava acirrada apenas entre as atrizes — os homens também estavam dando tudo de si. Apesar das temperaturas congelantes do lado de fora, os atores avançavam com confiança, os narizes vermelhos de frio, mas a postura impecável.

A equipe de A Contadora de Histórias apareceu na metade. Ming Yao parecia etérea em um vestido rosa de conto de fadas, o cabelo em cachos suaves, adornado por uma tiara.

Sua postura era impecável enquanto interagia com o apresentador, dava autógrafos e seguia graciosamente adiante — tudo isso exibindo os ombros e os braços em pleno clima abaixo de zero.

O último grupo foi o de O Mar Profundo. À frente vinham Chu Lingnan e Xie Zheng.

Apesar de haver atrizes na equipe, os dois homens decidiram caminhar juntos.

Xie Zheng, indicado a Melhor Ator Coadjuvante, tremia de frio.

— Deveria ter vestido uma calça térmica — murmurou.

Chu Lingnan resmungou:

— Tá frio pra caramba. Vamos terminar logo e entrar. Yu Wanqiu foi esperta dessa vez.

Após assinarem rapidamente, os dois se apressaram para sair dali. Xie Zheng manteve a compostura no tapete, mas assim que pisou fora dele, encolheu os ombros, tremendo.

Logo atrás vinha Yu Wanqiu.

Ela não parecia sentir frio algum. Ajustando levemente a saia, deu o primeiro passo sobre o tapete.

Os duzentos metros estavam ladeados por repórteres e câmeras piscando sem parar.

No instante em que Yu Wanqiu pisou no tapete vermelho, houve uma breve pausa — nenhum flash.

Eram 19h10, e o céu já estava escuro.

Então, num piscar de olhos, todo o cenário se iluminou com os flashes das câmeras.


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