A vida de Su Yu antes dos vinte anos podia ser resumida em uma única palavra: sucesso.
Sua família vivia em perfeita harmonia, sendo invejada por todos. Sua mãe era uma das atrizes mais renomadas do meio artístico, e seu pai era o "Monte Tai" do mundo das artes. Essa linhagem fez com que Su Yu fosse o centro das atenções desde o momento em que nasceu.
E ele nunca decepcionou as expectativas dos pais nem do público. Aos três anos entrou na escola, aos sete já resolvia tarefas do ensino fundamental II, aos treze recebeu um diploma de mestrado, aos dezesseis abriu seu próprio estúdio, aos dezoito registrou sua própria empresa, e aos vinte essa empresa já figurava entre as quinhentas maiores do mundo.
No momento, Su Yu estava sentado no último andar de seu escritório de sessenta e seis andares, observando a cidade através do vidro transparente. Mas por um instante, sentiu que sua vida era indescritivelmente entediante.
— Se você está entediado, vincule-se a mim. Saiba que sou um sistema ultra-inegável, o único exemplar do meu tipo, o sistema [Espalhando QI para o Protagonista]! — Uma esfera cintilante de luz azul-índigo flutuou até Su Yu. — Posso te levar para conhecer os costumes de vários mundos diferentes, provar todos os tipos de comida, viver uma vida completamente diferente. E o mais importante: tudo isso é de graça, yo! Não me diga que isso não faz seu coração bater mais rápido?
Su Yu lançou um olhar àquela esfera estranha e soltou:
— Sim.
— Hospedeiro, você é a única pessoa no mundo inteiro que atende aos requisitos...
Diante da expressão indiferente de Su Yu, a bolinha só pôde recorrer a outro método: implorar.
— Por favor, estou implorando! Vincule-se a mim, ying ying ying...
A esfera se balançava diante dele, cheia de queixas, mas Su Yu não demonstrava nem um pingo de compaixão.
Se não estivesse tão entediado, provavelmente teria atirado a esfera pela janela só para apreciar seus gritos miseráveis e seu desespero.
— Já que você é um "sistema ultra-inegável", não pode simplesmente me forçar a esse vínculo? — Su Yu a observou impassível. Apesar do sorriso nos lábios, a esfera não pôde evitar um calafrio repentino.
Ela estremeceu visivelmente, sem responder de imediato:
— O [Espalhando QI para o Protagonista] é um sistema super amigável com os humanos. Como eu poderia não pedir permissão ao hospedeiro? Isso seria... simplesmente imoral¹.
Su Yu estava com tanta preguiça que nem quis formular uma frase inteira, apenas lançou um olhar frio para a esfera. Seus olhos de pêssego, frios e sem brilho, não deveriam ser letais... mas assim que a esfera os viu, começou a tremer ainda mais. Desesperada, ela acabou confessando:
— E-eu não posso me vincular com você se você não aceitar.
— Conte mais — disse Su Yu, desviando o olhar e voltando sua atenção a um documento que segurava.
— Meu nome é [Espalhando QI para o Protagonista]. Para impedir que o mundo entre em colapso por causa da falta de lógica e QI dos protagonistas masculinos, estou procurando um hospedeiro apropriado. Seu QI e QE são extremamente altos, então você é o único humano adequado para essa tarefa. Por isso estou aqui. — A esfera não ousava mais mentir e rapidamente explicou a situação. — Se o hospedeiro que se vincular a mim me acompanhar para espalhar QI aos protagonistas vazios e eles recuperarem o bom senso, a crise que ameaça o mundo será evitada e a estabilidade será restaurada.
No entanto, depois de ouvir tudo aquilo, Su Yu nem sequer levantou a cabeça.
A esfera pensou por um momento e percebeu que não era isso que Su Yu queria ouvir. Começou a pular em volta e continuou:
— Claro, claro! Todo seu esforço será recompensado! Quando você espalhar QI aos protagonistas, poderá acumular pontos de QI! Eles podem ser trocados na Loja de QI por diversos tipos de itens, qualquer coisa que você imaginar!
Mesmo assim, Su Yu não reagiu. A esfera azul ficava cada vez mais ansiosa.
— Hospedeiro, tem alguma coisa que você deseja em específico?
Depois de um tempo — e quando a esfera já estava à beira de um colapso nervoso — Su Yu finalmente levantou os olhos e respondeu lentamente:
— Tenho apenas dois requisitos. Primeiro, minha segurança deve ser garantida. Segundo, devo poder retornar ao mundo real a qualquer momento.
— Claro, claro! Essas condições não são problema nenhum...
A esfera rolou alegremente por alguns minutos antes de voltar até Su Yu:
— Hospedeiro, aceita se vincular a mim?
— Aceito — respondeu Su Yu, observando os movimentos estranhos da esfera.
Sentindo-se vitoriosa, a esfera cintilante pousou cuidadosamente sobre o ombro de Su Yu:
— Então... então vamos nos vincular agora!
— Tudo bem — Su Yu assentiu, mas não esperava que, no exato momento em que concordou com a vinculação, fosse transportado sem nenhum aviso!
Ao olhar ao redor, percebeu que estava em um quarto estranho, que praticamente exalava juventude. Pela primeira vez, o sempre calmo Su Yu vacilou um pouco.
— ...Onde estou?
— Este é o primeiro mundo que vamos conquistar. Para economizar tempo, trouxe você direto para cá! — A esfera voava alegremente ao seu redor, animada ao contar a história daquele mundo. — Esta é a linha narrativa original. Tudo que temos que fazer agora é... quebrá-la!
Su Yu lançou um olhar desconfiado à esfera. Sentou-se na cama e começou a ler o enredo. Conforme o tempo passava, sua expressão se tornava cada vez mais estranha.
Os protagonistas desse mundo — masculino e feminino — possuíam centenas de milhões em patrimônio e eram donos de uma grande empresa. Um era um jovem gentil e trabalhador de colarinho branco, e o outro, o típico CEO dominador. Mas de alguma forma, a história estava completamente bagunçada.
A protagonista feminina era uma funcionária comum na empresa do protagonista masculino. Quando os dois se conheceram, ela já namorava havia três anos. Por conta da relação estável que tinha com o namorado, ela nem ao menos registrou o protagonista masculino como alguém digno de atenção.
No entanto, o protagonista masculino se apaixonou à primeira vista. E mesmo após descobrir que ela tinha namorado, ainda assim a considerava a protagonista. Ela era gentil e atenciosa de diversas formas, mas nunca demonstrava seus verdadeiros sentimentos.
A primeira metade da história mostrava principalmente a dedicação silenciosa entre homem e mulher — era uma devoção altruísta entre a protagonista e seu namorado.
Porém, por volta do meio da história, o enredo tomava um rumo brusco. Quando o namorado e o protagonista masculino se encontraram pela primeira vez — com a protagonista presente —, bastou um olhar para que o namorado percebesse os sentimentos do outro por sua namorada.
Contudo, em vez de encarar a situação com seriedade, o namorado aproveitou a oportunidade para usar a própria namorada a fim de obter vantagens do protagonista masculino. A protagonista também era bastante carente de cérebro. Por amar demais o namorado, ela obedecia suas ordens sem refletir sobre as consequências.
Como um homem empoleirado sobre centenas de milhões, como esse idiota apaixonado poderia resistir quando a protagonista lhe pedia algo?
Roupas de marca, cosméticos, bolsas, carros de luxo, luxuosos XXX... o protagonista distribuía tudo sem nem franzir a testa.
No entanto, todas essas coisas boas não caíram nas mãos da protagonista. Tirando algumas poucas peças de roupa, todo o resto foi entregue ao namorado, que então passou a usar os presentes para sustentar outra relação.
A lógica por trás disso era bem simples. Qual seria a utilidade de sapatos femininos e cosméticos para um homem? Naturalmente, ele repassava tudo para sua amante.
Alguns meses depois, a protagonista finalmente descobriu a verdade. Apesar de ser uma completa idiota com QI abaixo de zero, dessa vez ela tomou a decisão certa e terminou de vez com o namorado. Em seguida, correu surpreendentemente para reclamar, em lágrimas, com o protagonista masculino.
Estando apaixonado pela mulher, como o protagonista poderia resistir a tamanha beleza coberta de lágrimas? Imediatamente, ele revelou seus sentimentos e prometeu tratá-la bem.
Se, naquele momento, o casal tivesse decidido viver feliz para sempre, o protagonista masculino certamente não teria permitido que sua amada fosse tão humilhada. Mas como uma trama dessas poderia terminar de forma tão simples?
A protagonista, tocada pelo comportamento gentil do CEO, começou a considerar seriamente a ideia de ficar com ele. Mas não havia se passado nem uma semana quando ela descobriu que estava grávida de dois meses!
Naquela altura, o casal estava apenas começando a cultivar sentimentos, então não era difícil imaginar quem era o pai da criança.
Após descobrir isso, a protagonista decidiu esconder a verdade do protagonista. Depois de alguma hesitação, resolveu confrontar diretamente o ex-namorado. Ela queria que ele mudasse por causa da criança.
Na prática, o ex-namorado, com seu temperamento horrível, não mudou absolutamente nada, ao contrário do que a protagonista esperava. Em vez disso, ele a “empurrou acidentalmente” escada abaixo, aparentemente tentando tirar a vida tanto da mulher quanto do bebê em seu ventre.
Quando a vida da protagonista estava em risco, o protagonista masculino — que observava tudo escondido — apareceu a tempo e a levou ao hospital. A primeira coisa que a protagonista perguntou ao despertar foi sobre o estado da criança, sem qualquer intenção de explicar seu comportamento anterior.
Mesmo assim, o protagonista estava loucamente apaixonado por ela. Ao perceber que a mulher não confiava nele o suficiente para contar a verdade, sentiu-se angustiado. No entanto, passou a tratá-la com ainda mais gentileza e consideração.
E quanto à questão de assumir a criança como se fosse sua, ele aceitou sem hesitar.
E foi assim que a história terminou. O casal protagonista viveu feliz para sempre com seus “pequenos pãezinhos”, e todos aqueles que fizeram a heroína sofrer acabaram com finais miseráveis.¹
— Esse homem chamado Chu Cheng Yan… ele é um idiota? — Su Yu ergueu os olhos devagar depois de ler a história. Era impossível esconder a expressão de desgosto. Jamais em toda sua vida vira alguém tão burro.
A esfera girou no ar:
— Sim, por isso ele precisa da sua ajuda para preencher a cabeça oca.
Su Yu ficou sem palavras, então mudou de assunto:
— E eu… qual papel estou interpretando?
A trama mencionava muitos personagens, mas Su Yu não encontrava nenhum que parecesse adequado para substituir. Pelo ambiente do quarto, deduziu que devia ser mais novo do que sua idade original de 20 anos — provavelmente ainda um estudante.
A esfera de luz puxou uma parte específica da história, aquela em que a protagonista ia reclamar com o CEO após descobrir a verdadeira face do namorado:
— Está aqui. O primo distante mais novo que está temporariamente morando na casa do protagonista masculino… esse é o seu papel agora.
"…." Tornar-se alguém ainda pior do que um figurante sem nome — esse nível de irrelevância era praticamente um insulto ao que Su Yu representava.
A esfera não parecia sentir a menor vergonha e girou mais uma vez antes de explicar:
— Como este é o primeiro mundo que você está entrando, fiquei com medo de que não se adaptasse bem à história. Então escolhi especificamente esse personagem. Ele não interfere no enredo de forma alguma, mas tem um motivo razoável para estar próximo do protagonista.
Diante de Su Yu, esse monstro com QI e QE dobrados em comparação com um ser humano comum… isso ainda era considerado um problema?
Su Yu ignorou a esfera e abaixou a cabeça para olhar sua missão. Mas acabou se surpreendendo ao ver o conteúdo: Cumprimente o protagonista masculino 100 vezes. Cada cumprimento restaurará 1% do QI do protagonista.
》❈《
¹ Nota: “imoral” aqui é usado no sentido de algo que vai contra princípios éticos — ou, neste caso, regras básicas de consentimento entre sistema e humano.
0 Comentários