Capítulo 1 – O ciclo infinito (1)


 A luz deslumbrante do sol atravessava as frestas da cortina; já era manhã fazia tempo.

Lin Xun olhou para o relógio: nove horas da manhã.

Depois de passar a noite inteira programando, era hora de dormir.
Ele fechou o compilador e, no mesmo instante, uma notícia apareceu no canto superior direito da tela do computador.

Lin Xun raramente lia notícias, mas aquela era diferente: uma das palavras-chave chamou sua atenção.
A manchete dizia: “O Grupo Galáxia investe 30 milhões de yuans na empresa Lions.”

Ao clicar, o conteúdo correspondia ao título. Depois de receber o investimento de 30 milhões, o fundador da Lions se reuniu com o CEO da Galáxia para discutir planos de desenvolvimento futuro e vislumbrar a grande revolução prestes a acontecer no mundo, baseada no motor de redes neurais artificiais.

Lin Xun fechou a notícia com uma expressão vazia.

A Lions era uma equipe que vinha prosperando nos últimos anos, usando redes neurais como chamariz, chegando a causar sensação numa exposição criativa. Lin Xun conhecia o fundador da Lions e já havia lidado com ele nos tempos de escola. Quando se formou, esse homem até o convidou para se juntar à empresa, mas Lin Xun não gostava da Lions e recusou.

Na verdade, o que prendera sua atenção não fora a Lions, mas a palavra “Galáxia”.

O CEO da Galáxia — o mito do mundo da programação — era o seu ídolo, e também o ídolo da maioria dos programadores.

Seu deus pessoal havia começado do zero, primeiro atuando com Internet das Coisas, depois mergulhando em inteligência artificial. Por anos, esteve sempre à frente do tempo. A Galáxia transformou-se num império tecnológico que se enraizou em todos os campos. Como já diziam: “Se não fosse pela Galáxia, a era das cidades inteligentes teria sido adiada em pelo menos duas décadas.”

— Em resumo, a notícia significava que uma pessoa de quem Lin Xun não gostava não apenas tivera a chance de conversar cordialmente com seu ídolo, como também recebera dele 30 milhões de yuans.

Lin Xun pensou que, se fosse ele a receber essa quantia, certamente faria muito mais do que a Lions.

Após um momento de inveja, começou a sentir dor de cabeça; as veias latejavam em suas têmporas — consequência de uma noite inteira de programação. Mas, quando estava prestes a sair da escrivaninha e ir dormir, o toque do celular soou: um número estranho.

Ele já havia recebido ligações demais ultimamente.

O senhorio cobrando o aluguel, notificações de contas de água e luz em atraso… tudo o irritava. Afinal, se tivesse dinheiro, compraria ao menos uma dúzia de energéticos para não estar tão exausto.

Lin Xun atendeu:
— Alô.

Uma voz feminina, doce, respondeu do outro lado:
— Olá, é o senhor Lin Xun?

— Sim.

— Senhor Lin, aqui é da Paper-cut Network Technology Co., Ltd. Sobre o seu modelo “Luo Shen”, após duas rodadas de discussões, concluímos que não se enquadra na estratégia de desenvolvimento da empresa. Ao mesmo tempo, também não…

Lin Xun recostou-se na cadeira e esfregou as sobrancelhas, percebendo que sua voz estava um pouco rouca:
— Tudo bem, desculpe o incômodo.

Assim que desligou, alguém abriu a porta do quarto. Uma cabeça redonda se enfiou pela fresta e perguntou:
— E aí? Qual empresa era? Temos alguma esperança?

Esse era Wang Anquan, amigo e parceiro de Lin Xun. Vestia uma camisa verde xadrez e tinha o corpo rechonchudo. Com seu visual típico de programador e os olhos pequenos, transmitia uma impressão ligeiramente escorregadia.

Lin Xun largou o celular de lado:
— Não. A Paper-cut também nos recusou.

Wang Anquan suspirou e se jogou na cama.

Enquanto ambos permaneciam em silêncio, uma voz furiosa ecoou da sala:
Filho da mãe!

Lin Xun perguntou:
— O que houve com o Jiagou?

Wang Anquan respondeu:
— Escrever o plano de negócios está deixando ele maluco.

No momento seguinte, ouviram o barulho de uma cadeira sendo chutada na sala. Logo depois, Zhao Jiagou entrou no quarto de Lin Xun, conectando um pen drive ao computador:
— Terminei!

Zhao Jiagou era um garoto norueguês de cabelos castanhos e olhos azuis, com um pouco de ascendência asiática, cujo nome verdadeiro era Louis. Tinha um talento linguístico impressionante e era extremamente fluente em chinês.

Os três haviam formado um grupo antes mesmo de se graduarem, e já se passavam três anos desde então. Dentro da equipe, Lin Xun escrevia os algoritmos e o código principal; Wang Anquan cuidava da segurança de rede e dados, como seu nome já sugeria; e Louis ficava responsável pela arquitetura do sistema.

No entanto, quando Louis aprendeu chinês, descobriu por acaso a correlação curiosamente significativa entre o nome de Wang Anquan e sua área de atuação. Achando aquilo uma genialidade na hora de nomear, decidiu chamar-se Zhao Jiagou.

* Anquan (安全) significa “segurança”. Jiagou (架构) significa “arquitetura”.

Wang Anquan olhou para o plano de forma apática e murmurou:
— É inútil até enviar. Não conseguimos nem pagar o aluguel. Já que ninguém quer o Luo Shen, melhor a gente se dissolver.

Zhao Jiagou retrucou:
— Dissolver? Eu já estava querendo sair faz tempo. A Eagle tentou me recrutar por um ano inteiro.

Os dois olharam juntos para Lin Xun.

Wang Anquan suspirou e disse:
— …Já se foram três anos.

Três anos.

Eles haviam começado a trabalhar no Luo Shen antes mesmo de se formarem. Agora, finalmente tinham concluído a estrutura básica, mas nenhuma empresa ou investidor se interessava.

Hoje, três anos depois, era enfim o momento de se desfazerem.

Lin Xun, porém, não estava desanimado. Prestes a dizer algo, de repente sentiu uma vertigem seguida de uma forte dor de cabeça. Sua visão embaçou; as figuras de Wang Anquan e Zhao Jiagou se tornaram borrões, e então… dois grupos de coisas azuis começaram a subir do topo de suas cabeças.

Seriam alucinações causadas por noites em claro?

Nesse instante, o celular tocou de novo.

Aquele toque soava todos os dias, sempre trazendo más notícias. Só de ouvir, Lin Xun já se sentiu sufocado.

Zhao Jiagou lançou um olhar para o aparelho sobre a escrivaninha:
— Quem é?

Wang Anquan se levantou para entregar o telefone a Lin Xun, mas de repente ficou paralisado, virando-se para ele:
— I-Irmão…?

Lin Xun pensou que fosse o senhorio cobrando aluguel. Enquanto lembrava o limite de seu cartão de crédito, viu Wang Anquan virar a tela em sua direção.

Uma palavra piscava no visor.

Ele a reconheceu vagamente: Galáxia.

Galáxia???

A mente de Lin Xun ficou em branco por um instante. Ele pegou o celular.

— Alô, o senhor Lin Xun? — ainda era uma voz feminina e doce.

— Sim, sou eu. Olá.

— Senhor Lin, aqui é Ruan Zhi, assistente do CEO da Galáxia. Gostaria de saber se o senhor tem um tempo livre nos próximos dias.

Lin Xun ativou o viva-voz, para que Zhao Jiagou e Wang Anquan também pudessem ouvir.

Eles se entreolharam, incrédulos.

Wang Anquan abriu a boca devagar.

O coração de Lin Xun disparou, mas ele respondeu:
— Qualquer hora.

— Ótimo. — disse Ruan Zhi. — Senhor Lin, estamos muito interessados no seu modelo Luo Shen. Se for conveniente, poderia vir à sede da Galáxia ainda esta tarde? Gostaríamos de entrevistá-lo.

— C-certo… claro. — respondeu Lin Xun.

A gerente do outro lado sorriu:
— Então não o incomodarei mais. Espero que tenhamos um bom encontro.

A ligação foi encerrada.

Lin Xun abaixou o celular lentamente.

Zhao Jiagou se colocou diante dele e disse:
— Chefe Lin, eu me desculpo pelas palavras idiotas de agora há pouco.

Wang Anquan o acompanhou logo em seguida:
— Xun, também quero lhe pedir as mais sinceras desculpas pelo que eu disse. Você, eu e ele: Algoritmo Lin, Segurança Wang e Arquitetura Zhao. Nós três jamais iremos nos separar, nem quando o céu envelhecer ou o mar secar…

— Chega. — Lin Xun interrompeu a confissão dramática de Wang Anquan, sem conseguir conter um sorriso. O cansaço da noite em claro desapareceu de repente, e seus olhos voltaram a brilhar. Mas a ilusão ainda permanecia: dois quadrados azuis flutuavam sobre a cabeça de seus parceiros. Lin Xun achou aquilo estranho, mas, diante do que acabara de acontecer, resolveu relevar. Talvez fosse apenas a excitação do momento, e logo desapareceria.

Afinal, essa era a melhor notícia de toda a sua vida.

A Galáxia!
30 milhões de yuans!
Seu deus supremo!

Wang Anquan caiu na cama, embriagado de euforia, e abraçou o travesseiro. Obviamente, também já tinha lido a notícia, e murmurava como se tivesse perdido o juízo:
— Trinta milhões, trinta milhões… Jiagou, como a gente dividiu as nossas ações? Você escreveu de qualquer jeito?

Zhao Jiagou abraçou outro travesseiro, deitando-se de frente para Wang Anquan, e também murmurou como se tivesse enlouquecido:
— Escrevi de qualquer jeito. Divisão igual.

Wang Anquan mergulhou na fantasia.

Zhao Jiagou bateu com força no estrado da cama:
— Dez minutos atrás, eu ainda estava tentado pelo salário anual de 600 mil da Eagle…

Wang Anquan acariciou o travesseiro:
— Eu também estava secretamente feliz com os 700 mil da Lions.

O chinês de Zhao Jiagou ficava ainda mais fluente quando ele estava irritado:
— Por que você tinha cem mil a mais do que eu?

Wang Anquan:
— Porque Python é a melhor linguagem do mundo.

— E o Java?

Eles não chegaram a um consenso, então começaram a trocar travesseiros e rolaram para uma luta desajeitada.

Mas Lin Xun era diferente deles.

Ele começou a se preparar para o encontro com a Galáxia. Embora não soubesse com quem iria se encontrar — talvez apenas um gerente de produto qualquer —, precisava estar pronto.

A tarde chegou depressa.

Ao descer do carro, Lin Xun olhou para o reflexo no vidro e conferiu mais uma vez se estava bem arrumado.

Camisa branca, sem erro. O terno cinza-claro com listras, de corte casual, deixava o visual leve e elegante.
Hmm… bem apresentável.

Zhao Jiagou abaixou o vidro e assobiou:
— Você é o cara mais bonito!

Lin Xun sorriu e disse:
— Estou indo.

Wang Anquan gritou do carro:
— Trinta milhões!

Sob a luz do sol da tarde, a fachada envidraçada do prédio da Galáxia brilhava intensamente.

Lin Xun achava que teria de perguntar a alguém onde deveria ir, mas não esperava que, assim que entrou pela portaria da sede, uma pessoa trajada como secretária se aproximasse dele:
— O senhor é Lin Xun?

Ele a seguiu até o elevador privativo e observou quando ela apertou o botão do último andar. Foi então que percebeu que aquela reunião talvez não fosse tão simples quanto imaginara.

Lin Xun piscou forte.

A secretária também tinha, acima da cabeça, um quadrado translúcido azul — o mesmo que ele havia visto em Wang Anquan e Zhao Jiagou.

Ding.

O elevador parou e se abriu. Diante da porta, a assistente do CEO, Ruan Zhi, esperava-o com um sorriso — e com o mesmo quadrado azul sobre a cabeça.

Lin Xun sentiu com clareza que havia algo muito estranho acontecendo, mas não havia tempo para investigar.

Ele conhecia bem Ruan Zhi. Já a tinha visto diversas vezes acompanhando o CEO da Galáxia em entrevistas.

Assistente do CEO.
Ela própria veio buscá-lo.

Então… com quem iria se encontrar?

Lin Xun só conseguia pensar em uma única possibilidade.
Iria conhecer o seu deus supremo.
Caso contrário, quem mais poderia mandar Ruan Zhi recebê-lo pessoalmente?

Naquele instante, o estranho quadrado azul deixou de importar. Em seu coração, só havia espaço para uma coisa: o seu ídolo.

Ele já não invejava os trinta milhões — porque naquele dia, ele também teria os seus.

Ruan Zhi abriu a porta de madeira do escritório. O ambiente, levemente espaçoso, era organizado e impecável.

A luz do sol atravessava as janelas do chão ao teto, refletindo nos móveis prateados e brancos, enquanto as paredes brilhavam com a pureza das montanhas de neve.

Lin Xun entrou, e inexplicavelmente sentiu a temperatura baixar um pouco. O silêncio era absoluto; apenas os seus passos ecoavam de forma ritmada.

No fim do escritório, atrás da mesa, um homem estava sentado, com os olhos fixos em um documento.

Vestia uma camisa branca muito simples. Sua postura era ereta, a figura fria e imponente.

O fundador e CEO do império tecnológico Galáxia — e ele ainda era muito jovem.

Embora Lin Xun já tivesse visto muitas entrevistas e reportagens sobre ele, quando seu deus supremo realmente apareceu diante de seus olhos, ainda assim ficou chocado.

Ao mesmo tempo, sua visão pareceu voltar ao normal — sobre ele não havia nenhum quadrado azul.

Lin Xun sentiu-se aliviado, mas seus olhos logo foram atraídos pelos dedos do seu ídolo.

Dedos longos, folheando arquivos. A pele fria e alva, deixando entrever levemente veias azuladas, como os contornos de uma montanha nevada. As juntas eram belas. Se aqueles dedos repousassem sobre teclas de piano em vez de papéis, todos prenderiam a respiração, aguardando o som da própria natureza.

E de fato, aquelas mãos haviam criado incontáveis linhas de código, belos e impressionantes, como se tocassem uma sinfonia.
Na adolescência, Lin Xun e Wang Anquan passavam os dias inteiros lendo os códigos do deus supremo no GitHub. No fim, chegaram à mesma conclusão: a mão direita daquele homem fora beijada por Von Neumann, e a esquerda, segurada por Turing.

Na época da faculdade, Lin Xun pensava que sua programação finalmente poderia ser notada… Mas, nesse ponto, o deus já estava criando sua própria linguagem, Glax.

Com o tempo, Lin Xun acabou direcionando suas pesquisas mais para algoritmos do que para programação. Talvez porque tivesse compreendido que, na programação, sempre haveria uma figura lendária, brilhando de forma inatingível.

Lin Xun se aproximou.

O deus ergueu a cabeça.

De repente, todo o ruído do mundo pareceu se dissipar, como se uma nevasca silenciosa caísse ao redor.

Ele tinha longos cabelos negros e usava óculos de aro fino dourado. Com o movimento, a corrente dourada dos óculos balançou no ar, refletindo um ponto de luz sob o sol.

Atrás das lentes, um par de olhos gélidos encarava Lin Xun.

Era um homem bonito. Seus traços, mais definidos que os de pessoas comuns, insinuavam certa herança mestiça, embora sem deixar pistas concretas. Os olhos claros, sem qualquer emoção, tornavam-no ainda mais distante, quase irreal.

— Prazer em conhecê-lo, senhor Lin. — Sua voz combinava com a aparência: fria, intocada pelo mundo.

— Olá… Dong Jun. — respondeu Lin Xun de propósito.

Essa era uma preferência amplamente conhecida: em qualquer ocasião, formal ou informal, todos o chamavam diretamente pelo nome, Dong Jun.

O nome parecia remeter a antigas lendas orientais*, e carregava mistério quando pronunciado.
* Dong (东) significa “Leste”; Jun (君), termo usado para monarcas ou imortais.

Dong Jun ergueu levemente os lábios num sorriso contido:
— Por favor, sente-se.

Lin Xun se acomodou e soltou o ar devagar. Estava, de fato, um pouco nervoso.

Os dedos de Dong Jun pressionaram o documento, virando-o antes de empurrá-lo na direção de Lin Xun:
— Convidei o senhor hoje porque há algo que quero discutir.

Lin Xun o encarou. Tentava ao máximo manter a expressão neutra, mas seu coração estava em puro alvoroço.

Ele já imaginava as manchetes do dia seguinte:
“Galáxia injeta 30 milhões de yuans na equipe Luo Shen!”

Trinta milhões.

Em sua mente, já estava nas alturas, segurando um cheque e voando a dez mil metros do chão.
Ele poderia comprar um servidor, expandir o banco de dados, sair do velho prédio residencial e mudar-se para um estúdio. O Luo Shen seria lançado, inaugurando uma nova tendência na era tecnológica…

Trinta milhões!

Mas, como se percebesse sua distração, Dong Jun fez uma breve pausa e prosseguiu, em tom leve:
— Pretendo investir duzentos mil yuans, em meu nome pessoal, para adquirir uma parte das ações do Luo Shen.

Lin Xun:
— …?


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