Capítulo 101


 O trem de alta velocidade já tinha começado a se mover, o som das rodas rangendo nos trilhos vibrando do lado de fora.

A plataforma da estação foi recuando pela janela e, em pouco tempo, o trem disparou para fora da estação.

O comissário veio conferir as passagens, e Lu Yicheng, agarrando as estrelinhas de papel, não teve escolha senão sentar novamente.

Seu coração batia descontrolado. Ele queria ligar para Jiang Lan, mas no último instante afastou a mão.

Ele ainda não tinha terminado de ler todas as estrelinhas.

Eram 52.

Lu Yicheng ao mesmo tempo esperava que Jiang Lan lembrasse e temia que lembrasse. Quando eles tinham começado a namorar, ele não tinha sido nada bom — na maior parte do tempo, era Jiang Lan quem conduzia o relacionamento. Se ela se lembrasse agora, será que iria se arrepender?

Naquela noite na rua de comidas, ele tinha contado tantas mentiras — mas, na verdade, tinha sido tudo ele.

Ele era o ciumento, o que não deixava Jiang Lan conversar com outros caras.

Quando exatamente Jiang Lan lembrara? Por que não tinha contado a ele?

Será que tinha sido depois de visitarem o templo no Monte Fengtuo, depois de verem a Árvore do Casamento?

Talvez ela não tivesse dito nada depois porque viu que ele estava doente, com febre.

Lu Yicheng encarou os três bilhetes por um longo tempo antes de abrir a quarta estrelinha.

Você gosta de macarrão, você gosta de coisas doces.

No começo, você nem aguentava comida apimentada — até pratos levemente picantes faziam seus olhos encherem de lágrimas.

Naquele primeiro recesso de inverno, quando você me levou até em casa, quase fomos pegos pela minha mãe.

Os olhos de Lu Yicheng ficaram cada vez mais vermelhos. Se Jiang Lan não tivesse esquecido, essas pequenas memórias não o atingiriam tão forte.

Mas ela tinha esquecido.

Lu Yicheng morria de medo que ela nunca se lembrasse.

Agora que finalmente lembrara, seu coração doía ainda mais.

Por que ela não tinha contado antes? Será que lembrara das brigas e ficara com raiva? Será que não gostava mais dele?

Será que Jiang Lan não queria mais ficar com ele agora?

Perdido nesses pensamentos, Lu Yicheng achou os lanches na mochila completamente sem gosto.

Ao lado dele, sentava um homem careca e tatuado, que vinha lançando olhares para ele.

— Ei, rapaz — disse o sujeito —, não existe obstáculo que você não consiga superar.

Lu Yicheng piscou. — ...O quê?

O homem deu um tapinha em seu ombro. — Escuta, a vida anda pra frente. Problema com a namorada, né?

Era óbvio — caso contrário, por que mais ele ficaria se remexendo, quase correndo para a porta?

Lu Yicheng balançou a cabeça devagar. — Não, ela não tá brava comigo... Olha, ela até preparou tudo isso pra mim — lanches, coisas pra fazer. Eu só...

Ele só se sentia péssimo.

Ele queria ligar para Jiang Lan, mas não tinha coragem.

Três anos juntos — declarações, felicidade, brigas.

Por causa da última mordida de sorvete, por perder partidas demais seguidas, por chegar atrasado.

No último verão, Jiang Lan o havia excluído. Ele não teve coragem de procurá-la ou perguntar por quê.

O que ele deveria fazer agora?

O que Jiang Lan queria dizer ao contar tudo só depois que ele já tinha embarcado no trem?

O homem careca estava tão confuso quanto ele. — Não parece nada demais. Ela te preparou comida — ainda gosta de você, né?

É. Agora, tudo que Lu Yicheng queria era ir atrás de Jiang Lan.

Ele comprou uma passagem de volta, planejando descer na próxima parada e voltar direto. Levaria mais de uma hora para chegar à Cidade X.

Depois de ficar algum tempo olhando pela janela, ele ligou para Jiang Lan — só voz.

Sem vídeo. Ele não queria que ela o visse daquele jeito.

A Cidade X era uma capital antiga, que já fora o coração de uma dinastia na história.

Depois de sair da estação, as duas alugaram um carro elétrico, e Jiang Lan dirigiu até o hotel reservado.

Yu Wanqiu se jogou no banco com um gemido. — Tô exausta só de ficar sentada.

Com fome? Quer ir provar o bao mo (sopa de pão)? Jiang Lan tinha pesquisado — embora a Cidade X não tivesse muitos pontos turísticos, era cheia de comida boa.

Elas poderiam comer até não aguentar mais.

Yu Wanqiu estava com fome. Diferente de Lu Yicheng, Lu Shuangchen realmente preparava lanches para as viagens.

Alguns hábitos eram difíceis de largar com a idade, e Yu Wanqiu não se dava ao trabalho de corrigi-los.

Relacionamentos diferentes, dinâmicas diferentes — ela já estava acostumada.

— Claro — disse Yu Wanqiu. Ela já tinha filmado ali antes — a comida era ótima, o sotaque local marcante, as pessoas calorosas.

Jiang Lan dirigia enquanto Yu Wanqiu cochilava. Quando checou o celular de novo, viu várias chamadas perdidas — todas de Lu Yicheng.

Preocupada que fosse algo urgente, ela retornou imediatamente.

A voz de Lu Yicheng estava frenética. — Mãe, onde tá a Jiang Lan? Por que ninguém atende?

— Por que você tá procurando ela? Ela tá dirigindo. Você acha que a gente cola o celular no pescoço esperando sua ligação?

Lu Yicheng hesitou. Yu Wanqiu acrescentou: — Você tá com uma voz estranha. Ainda doente?

Ele não ia admitir que quase chorara de pânico. — Tô, ainda não melhorei totalmente.

— Por que tantas ligações? Esqueceu alguma coisa? — Yu Wanqiu estava exasperada — elas tinham saído havia menos de meia hora.

Lu Yicheng tinha esquecido sim — o próprio coração, deixado para trás.

Ele não podia explicar isso para Yu Wanqiu, muito menos perguntar a Jiang Lan, na frente dela, quando exatamente ela lembrara. — Sim, esqueci uma coisa. Vou descer na próxima parada e voltar. Me espera.

Yu Wanqiu tinha deixado no viva-voz. Jiang Lan apertou o volante, olhos fixos na estrada. — Lu Yicheng, seja lá o que você esqueceu, eu trago de volta. Não venha.

Lu Yicheng: — É importante.

Jiang Lan não cedeu. — Eu trago. A gente não vai esperar. Se você vier, eu vou ficar brava.

Lu Yicheng apertou os lábios, mas insistiu:

— É realmente importante.

Jiang Lan:

— Eu tô falando sério.

Lu Yicheng finalmente cedeu.

— ...Tá bom. Eu não vou. Não fica brava.

Jiang Lan não usava essa ameaça desde que perdera a memória. Agora que lembrava, saiu naturalmente. Lu Yicheng detestava quando ela ficava brava.

Pelo menos ela estar falando com ele significava que estava tudo bem. Mas se ela lembrava, não deveria sentir saudade?

Por que não parecia nada disso?

Jiang Lan suavizou um pouco.

— A gente conversa quando eu voltar. Fica quieto aí. Me manda mensagem quando chegar em casa.

Lu Yicheng disse, baixinho:

— Eu ainda não terminei de ler o que você me deu. Jiang Lan… volta logo.

Volta logo — a única pista de amor que ele ousava dizer na frente de Yu Wanqiu.

Yu Wanqiu estava confusa.

— O que você esqueceu? Tudo isso por besteira.

Lu Yicheng estava além de frustrado.

— Meu carregador de celular.

Podia muito bem ter deixado a cabeça para trás.

Yu Wanqiu revirou os olhos.

— Compra outro. Vou desligar. A Jiang Lan tá dirigindo, e eu tô exausta.

Dito isso, ela encerrou a chamada.

Jiang Lan sorriu de leve, embora ela mesma não soubesse como encarar Lu Yicheng.

Ela lembrara de tudo na noite depois de subir o Monte Fengtuo.

Os sonhos vieram em fragmentos, bagunçados, caóticos. Ela acordou e viu Lu Yicheng queimando de febre e, em pânico, correu com ele para o hospital.

Então, atordoada, lembrou-se de outra vez — quando ela estivera doente, e Xu Xiang ligara para Lu Yicheng do seu celular. Ele tinha corrido do dormitório, roupas amarrotadas, e a levado ao hospital.

Depois disso, as memórias irromperam como uma represa se abrindo.

Olhando para Lu Yicheng com os olhos fechados, Jiang Lan sentiu uma estranha familiaridade — diferente de quando o viu na rua de lanches.

Ela lembrava de tudo que acontecera antes de conhecer Yu Wanqiu.

Naquela época, Lu Yicheng estava fazendo estágio, e Jiang Lan também procurava um. Eles só se viam à noite e nos fins de semana.

Jiang Lan estava ansiosa. Estudar e viver na Cidade B era caro, com preços muito mais altos que em outros lugares.

Lu Yicheng sempre falava que tudo ficaria melhor depois, mas Jiang Lan sentia uma pressão enorme.

Por um lado, ela ainda era praticamente uma criança — longe de estar pronta para casar. Por outro, gostava muito de Lu Yicheng. Se não casasse com ele, casaria com quem?

A formatura se aproximava, e Lu Yicheng comentara sobre levá-la para conhecer seus pais quando tivesse tempo.

Quando estavam juntos, Jiang Lan falava bastante sobre Xie Yunzhen e Jiang Baoguo, mas Lu Yicheng raramente mencionava os próprios pais.

Jiang Lan não ousava perguntar, com medo de ferir o orgulho dele.

Durante todo o relacionamento, ela sempre presumiu que a família de Lu Yicheng fosse pobre.

Na época, era moda universitários usarem tênis e roupas com logos chamativos, custando centenas ou até milhares. Os garotos, especialmente, eram obcecados por tênis. Mas os de Lu Yicheng nunca tinham nada disso.

Não era como se ela nunca tivesse desconfiado que ele pudesse vir de uma família rica — pelo fato de ele nunca comer em ruas de comida ou barraquinhas, pelo primeiro presente caro que ele lhe deu, ou por ser tão generoso quando saíam. Mas suas roupas também eram simples — só camisetas e calças casuais. As roupas que Jiang Lan comprava eram as que ele mais usava.

Ele era generoso quando saíam, claro, mas nunca desperdiçava comida. Comia até o fim o que ela não conseguia terminar.

Ele ficava perfeitamente satisfeito com a comida do refeitório. E no ensino médio, antes de eles ficarem juntos, às vezes Jiang Lan levava lanches para ele.

Ele era tão pitiful — nunca tinha experimentado nenhum daqueles lanches.

Jiang Lan não ousava contar para sua família sobre o relacionamento, com medo de Xie Yunzhen não aprovar. Xie Yunzhen queria que ela namorasse alguém confiável e bem-visto. No terceiro ano da faculdade, Xie Yunzhen até tentou apresentá-la ao filho de uma colega de trabalho.

Não cutucar os pontos fracos ou cicatrizes dos outros era o princípio de Jiang Lan — especialmente com o namorado.

Mesmo que ele fosse pobre, já estavam juntos há tanto tempo. Lu Yicheng tinha notas excelentes, ganhava bolsas e com certeza conseguiria um bom emprego no futuro.

Eles só teriam que economizar. Jiang Lan preferia comer miojo ou pães simples no fim do mês.

Então, se Lu Yicheng não tocava no assunto, ela não perguntava. No estágio de verão após o terceiro ano, Jiang Lan queria ganhar o máximo possível.

Se algum dia se casassem, seus pais queriam que ela ficasse na Cidade B — mas os preços dos imóveis ali eram absurdos. Mesmo com os dois trabalhando, levariam décadas para pagar uma hipoteca.

Jiang Lan estava profundamente angustiada.

Ela nunca realmente se preocupara com nada crescendo — essa era a primeira vez.

Suas experiências passadas não serviam para nada agora.

Jiang Lan tinha um segredo que nunca contou a ninguém: ela era uma transmigradora. Em sua vida anterior, adorava ler romances, mas morreu salvando alguém. Quando abriu os olhos de novo, era um bebê recém-nascido.

Sua mãe era professora, seu pai servidor público. Como ambos eram instruídos, Jiang Lan sempre esteve entre os melhores da classe. Xie Yunzhen e Jiang Baoguo a mimaram, e graças às memórias da vida passada, ela praticava violino no tempo livre.

Por já ter tocado vários instrumentos antes, seus professores a adoravam. Ela até podia usar o violoncelo e o piano do centro de reforço — sem pagar nada.

Ela nunca desperdiçou essas habilidades.

No primeiro ano do fundamental, ela já era a primeira da turma.

Mesmo depois, no ensino fundamental e no médio, Jiang Lan se manteve no topo.

Bonita, inteligente, talentosa — os professores a amavam. Aquela época foi o auge de sua vida.

Ela mal precisava estudar para deixar todos para trás.

Xie Yunzhen era ocupada com o trabalho, então Jiang Lan passava os dias brincando — até o ensino médio.

Então, as vantagens das memórias de sua vida anterior se tornaram totalmente inúteis.

As matérias do ensino médio eram de outro nível comparadas ao ensino fundamental. Tirando chinês e inglês, Jiang Lan penava cada vez mais em todas as disciplinas.

Ela sempre fora brincalhona, mas agora, mesmo colocando toda a energia nos estudos, não era suficiente.

Quando Xie Yunzhen percebeu suas notas caindo, ficou mais rígida e até perguntou se Jiang Lan estava namorando escondido.

Jiang Lan quis xingar — namorar? Ela mal conseguia entender os deveres de casa!

Xie Yunzhen não sabia mais o que fazer. No fim, a professora de violino de Jiang Lan sugeriu que ela mudasse para a área de artes.

Ela foi para um curso intensivo no primeiro ano e só voltou no segundo.

Quando voltou, suas notas estavam ainda piores. Xie Yunzhen arranjou um tutor conhecido para ajudar.

Nas férias de inverno, naquela aula particular, Jiang Lan conheceu Lu Yicheng.

Quando o colega chamou seu nome, ela achou o som estranhamente familiar.

Ela não conseguiu identificar de imediato. O garoto alto, magro como um bambu, até lançou um olhar na sua direção — frio, provavelmente achando que ela estava tentando flertar.

A amiga de Jiang Lan disse que ele era o galã da escola, o aluno mais bem colocado do ano.

Jiang Lan ficou chocada. Essa escola tinha um galã? E ele era o primeiro lugar? Ela jamais chegaria tão longe.

Ela zombou mentalmente e parou de pensar por que o nome dele soava familiar. O que importava se ele era o galã?

Xie Yunzhen a controlava de perto. Todos os professores eram informantes de sua mãe.

Jiang Lan mal tinha conversado com meninos, mas diante de Xie Yunzhen, ela sempre ficava tensa. Reação natural de uma aluna preguiçosa diante de uma professora.

Naquele inverno, Jiang Lan focou no reforço com a Professora Zheng. Ela via Lu Yicheng todos os dias, mas só conseguia pensar—

A diferença entre as pessoas era maior que a diferença entre pessoas e porcos.

Depois das férias, o reforço continuou. Embora muitas escolas proibissem aulas extras, no caso dela não contava.

A Professora Zheng era próxima de Xie Yunzhen, então Jiang Lan simplesmente ficava após a aula para fazer provas práticas em seu escritório.

Lu Yicheng sempre estava lá. Jiang Lan pensou — se até um gênio como ele precisa de reforço, talvez eu não seja tão ruim.

Acontece que ele estava se preparando para a Olimpíada de Matemática.

Ela mal entendia matemática do ensino médio, enquanto ele já avançava em tópicos complexos.

Ele talvez já estivesse estudando conteúdo de faculdade, enquanto ela empacava em hipérboles.

Uma noite, a Professora Zheng saiu para supervisionar a sala de estudos. Jiang Lan terminou todos os problemas que conseguia na prova, mas ficou travada no resto.

Enquanto isso, Lu Yicheng, a uma carteira de distância, já estava lendo um romance.

A professora não voltaria tão cedo. Jiang Lan não queria perder tempo.

— Ei, Lu Yicheng… você pode me ajudar com esses?

Ele ergueu os olhos. Quando ela pensou que ele recusaria, ele perguntou:

— Quais?

— Todos, menos… esses aqui. Eu não entendo nenhum dos outros.

Lu Yicheng ficou genuinamente chocado.

Jiang Lan hesitou.

— Você… também não sabe?

Claro que ele sabia — podia resolver num piscar de olhos. Só não acreditava que ela estivesse travada em problemas tão básicos.

Felizmente, suas explicações faziam sentido para ela.

Depois de guiá-la por cada questão, Jiang Lan finalmente entendeu.

Lu Yicheng disse:

— Procure exercícios parecidos para praticar, ou isso não adiantou nada.

Ele pegou o caderno de matemática dela e marcou algumas questões com uma caneta vermelha.

Suas mãos eram elegantes enquanto dobrava a ponta da página.

Jiang Lan agradeceu baixinho, sentindo-se meio envergonhada. Ela e Lu Yicheng nem eram tão próximos, mas ele dedicara tempo explicando as questões e até destacara os pontos importantes para seus estudos.

No dia seguinte, Jiang Lan trouxe um monte de lanches para Lu Yicheng.

Nenhum daqueles lanches era algo que Lu Yicheng já tivesse provado.

Foi também por isso que Jiang Lan achou que sua família não tinha boas condições.

Lu Yicheng continuou dando reforço para Jiang Lan.

Mesmo depois de a Olimpíada acabar, ele continuou indo à sala da Professora Zheng — mas agora, seu foco era apenas ajudar Jiang Lan.

Ela ainda lembrava da parte do sonho ambientada na província de Yunnan. Depois das sessões de estudo, Xie Yunzhen trazia comida para ela — espetinhos de cordeiro.

Xie Yunzhen era rígida com ela. De algum jeito, ouvira rumores de que Jiang Lan estava ficando próxima do monitor da classe e a repreendeu por isso.

Depois disso, Jiang Lan começou a evitar totalmente o monitor.

Ela não queria que Lu Yicheng acabasse da mesma forma.

Todas as noites, depois da autoestudo, ela saía primeiro, e alguns passos depois, Lu Yicheng vinha atrás. Mas naquela única vez em que ela trouxe comida para ele, ele não saiu por um bom tempo.

Jiang Lan imaginou que, naquela altura, Lu Yicheng já devia gostar dela — talvez até antes disso.

Quando o vestibular acabou, as restrições sobre Jiang Lan desapareceram, e ela mergulhou totalmente na diversão.

Depois de enviar suas inscrições, enquanto esperava o resultado, ela simplesmente esqueceu Lu Yicheng.

Eles já tinham se adicionado como amigos, mas nenhum dos dois puxava conversa.

Na escola, suas interações giravam apenas em torno de estudos. Fora dali, o que ela poderia dizer?

De vez em quando, ela pensava em Lu Yicheng, mas logo espantava o pensamento.

Ele era o melhor aluno da escola — e até da Cidade B — na área de ciências. Com certeza estava indo muito bem.

Só no dia 5 de julho Jiang Lan viu Lu Yicheng de novo.

Ela caminhou até ele e o cumprimentou, mas sua expressão estava incomumente séria. Jiang Lan acenou.

— Lu Yicheng, eu passei na Universidade de Qinghua.

Lu Yicheng não disse nada. Apenas a encarou, sem piscar.

Jiang Lan engoliu em seco.

— Obrigada por me ensinar. Eu não teria conseguido sem você.

Ela falava sério. Sem ele, não estaria onde estava.

Ainda assim, Lu Yicheng continuou calado. Jiang Lan ficou inquieta.

— Hã… sua garganta tá bem? Você tá resfriado? Por que não tá falando?

— Parabéns.

Depois daquela única palavra, Lu Yicheng virou e saiu andando. Jiang Lan ficou parada, completamente confusa.

Ela tinha sido tão grata pelas aulas dele que quase toda sua mesada acabara indo para o estômago de Lu Yicheng.

Eles eram praticamente amigos próximos — então por que ele tinha ido embora depois de uma palavra?

Jiang Lan ficou ali por muito tempo, quebrando a cabeça por uma resposta.

Então, Lu Yicheng voltou.

Ele parou bem na frente dela. Era uma cabeça e meia mais alto, e no calor do verão, gotas de suor brilhavam em seu nariz.

Lu Yicheng perguntou:

— Jiang Lan, por que você ainda tá aqui? Por que não foi embora?

Jiang Lan estava perdida em pensamentos, tentando entender por que ele tinha ido embora e por que tinha voltado.

O que ele estava fazendo? Por que estava agindo tão estranho?

Ela já suspeitara uma vez que ele pudesse gostar dela, mas ele nunca dera qualquer sinal.

Suas conversas nunca saíam do tema provas e tarefas. Quem age assim com alguém de quem gosta?

Mas se ele não gostava dela, por que tinha dado aulas para ela? E por que tinha ido embora depois de uma única palavra?

Jiang Lan respondeu com outra pergunta:

— Lu Yicheng, você conhece a minha mãe ou algo assim?

Era a única explicação que fazia sentido para ela.

Talvez Xie Yunzhen tivesse ajudado Lu Yicheng em alguma época difícil, e agora ele estava pagando esse favor através dela.

Lu Yicheng franziu a testa.

— Que tipo de absurdo é esse?

Jiang Lan fechou a boca na hora. Lu Yicheng repetiu:

— Por que você não foi embora depois que eu saí?

O que importa pra você se eu fui embora ou não?

Jiang Lan disse:

— Porque eu quis. Eu ia sair mesmo. Ouvi dizer que você também passou pra Qinghua — parabéns.

Originalmente, ela queria dizer Você passou pra Qinghua e eu também. Vamos estudar na mesma faculdade.

Mas, como Lu Yicheng tinha soltado um “parabéns”, ela apenas devolveu o favor e considerou tudo quitado.

Quando Jiang Lan se virou para sair, Lu Yicheng segurou seu pulso.

Ela olhou para ele.

— O que foi agora? Mais alguma coisa?

— Eu aceito o parabéns. Mas você não quer saber por que eu voltei? — O olhar de Lu Yicheng não vacilava, e seu aperto era firme, mas não doía.

Jiang Lan deu meio passo para trás.

— Por quê?

Lu Yicheng disse:

— Jiang Lan, por que você acha que eu te dei aulas? Por que você acha que eu queria que você entrasse na mesma faculdade que eu? É porque eu gosto de você.

— Eu gosto de você. Quero que seja minha namorada. Se você disser não, vamos agir como estranhos daqui para frente. Jiang Lan, eu não tenho o hábito de dar aula para a namorada de outro cara. — O tom dele era gelado, nada parecido com uma confissão.

Jiang Lan ficou sem palavras. Lu Yicheng acrescentou:

— Pense bem.

Não era nada do que ela tinha imaginado. Ela não esperava que Lu Yicheng fosse se declarar — muito menos desse jeito.

Parecia que quem estava se declarando era ela. Isso contava como confissão?

Era tudo casual demais.

Jiang Lan abriu a boca, decidindo combinar com a frieza dele.

— Já pensei. Eu vou ser sua namorada.

Lu Yicheng não perguntou por que ela tinha aceitado. Em vez disso, apertou mais o pulso dela, e andar de mãos dadas acabou sendo a única coisa que fizeram no primeiro dia como um casal.

A pegada de Lu Yicheng era firme. Jiang Lan nunca tinha namorado antes e não fazia ideia do que esperar.

Ela só pensou: Então é assim que vai ser? Sem palavras doces, nem flores? Só… andar assim?

Será que era a primeira vez dele também? A dela era. E ele era realmente muito bonito.

Andar de mãos dadas com alguém tão bonito assim não era tão ruim.

Mas… quando foi que ele começou a gostar dela?

Por que ele não parecia feliz?

Por que não dizia nada?

Era assim que ele planejava se comportar como namorado? Que tédio.

Jiang Lan começou a se arrepender um pouco.

Eles caminharam em silêncio, dedos entrelaçados. Lu Yicheng perguntou sobre a matrícula dela e então ficou sem assunto.

Na escola, o único tópico entre eles eram provas e tarefas. Agora que os exames tinham acabado, eles não tinham nada em comum.

Lu Yicheng não jogava, não ouvia música. Jiang Lan não fazia ideia do que conversar com ele.

Ela sentiu um aperto no peito. Namorar não deveria ser diferente disso?

A conversa travada não parecia um relacionamento de verdade.

Assim, ela ganhou um namorado. Talvez tivesse agido por impulso, mas comparado a virarem estranhos, ela preferia ser a namorada de Lu Yicheng.

Ela não queria perdê-lo como amigo.

E ela até gostava um pouco dele — ele era bonito, inteligente. Ter um namorado assim não era um mau negócio.

Se qualquer outra pessoa tivesse dito aquelas palavras para ela, Jiang Lan provavelmente teria respondido: Então vamos ser estranhos.

Mas Lu Yicheng realmente não fazia ideia de como namorar.

Jiang Lan estava percebendo isso agora.

Não havia romance nenhum. Esse não era o tipo de namorado que ela queria.

Três anos depois de começarem a namorar, Lu Yicheng lentamente deixou de ser o cara quieto, sério e incapaz de fazer a namorada feliz, tornando-se alguém completamente diferente.

Tão diferente que, quando Jiang Lan esbarrou em uma postagem online especulando que Lu Yicheng poderia ser filho de Yu Wanqiu, ela ficou arrasada.

Naquela noite, tudo fez sentido — o motivo de o nome dele ter soado familiar desde o começo.

Era de um romance que ela tinha lido há muito tempo. Lu Yicheng era o protagonista masculino.

Mas ela não era a protagonista feminina.


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