Capítulo 71 – O Herói Salva a Bela
Pelo visto, Zhong Ruanxing estava vigilante o suficiente — ou talvez Cheng Dong realmente não tivesse planos de enganá-la dessa vez. O jantar transcorreu tranquilamente, sem nenhuma armadilha verbal que precisasse ser evitada.
Parecia que Cheng Dong só queria aproveitar a oportunidade para apresentar seu herdeiro a Song JinXing. Afinal, comparado ao herdeiro dos Song, que já estava no comando, seu próprio filho, recém-chegado do exterior, realmente não era nada impressionante.
Felizmente, uma vez finalizado o plano, não haveria mais oportunidade de encontrar Cheng Yaowen. Zhong Ruanxing realmente não queria ter muito contato com esse sujeito.
Quando o jantar já estava quase no fim, Zhong Ruanxing se levantou para ir ao banheiro — e aproveitou o caminho para acertar a conta.
Esse restaurante sofisticado era sempre a primeira escolha para jantares de negócios. Song JinXing também era cliente VIP, com consumo elevado. Para pagar, bastava pedir que o garçom trouxesse a conta.
Ao sair do banheiro, viu uma jovem chorando com uma das mãos sobre a boca no corredor luxuosamente decorado, enquanto o pulso da outra era agarrado por um homem esguio como um bambu, que rosnava:
— Que escândalo é esse? Volta comigo agora!
Esse restaurante de alto padrão era frequentado por clientes com status e prestígio. Sem saber quem era quem, ninguém ousava se meter nos assuntos dos outros.
E se, ao interferir, acabasse ofendendo um futuro parceiro de negócios ou alguém essencial para aprovar algum projeto?
Realmente não valia a pena. No máximo, dava para alertar um garçom ao retornar ao salão e deixar que o restaurante cuidasse da situação.
Por isso, mesmo com a garota chorando e lutando, o homem-bambu continuava a arrastá-la pelo corredor.
Quando Zhong Ruanxing saiu, acabou dando de cara com o gerente que vinha apressado. Antes que pudesse abrir a boca com um sorriso, o homem-bambu já o enfrentava com xingamentos:
— Cai fora! Isso é assunto de família. Não se mete!
O gerente recuou dois passos, sem graça.
Zhong Ruanxing jogou o papel com que secava as mãos no lixo e caminhou até eles.
— Senhorita, quer que eu chame a polícia?
— Que diabos tá se metendo? — o homem-bambu se virou irritado. Ao ver que se tratava de um jovem alto e bonito, seu tom já não foi tão agressivo, mas ainda assim arrogante. — Isso aqui é entre eu e minha namorada. Não é da sua conta!
Ele virou-se de novo e gritou com a garota:
— Anda logo! Vem comigo!
A garota balançou a cabeça freneticamente, agarrando-se ao olhar de Zhong Ruanxing como se fosse sua tábua de salvação.
— Eu não vou com ele! Já terminamos há tempos! Chama a polícia, por favor!
— Sua vagabun...
Ao ouvir isso, o homem-bambu ergueu a mão, prestes a esbofeteá-la. Mas sua mão foi detida no ar por uma força de ferro.
Zhong Ruanxing segurou o braço dele e o torceu com firmeza. O homem gritou de dor e soltou a garota reflexivamente. Zhong Ruanxing empurrou-o, e o sujeito, fraco como um galho seco, caiu sentado ao lado da lixeira, fora do banheiro.
O gerente, que não tinha notado Zhong Ruanxing de início, o reconheceu ao se aproximar e suou frio.
— Senhor Song! Senhor Song, calma! Não vale a pena! Vamos chamar a polícia agora! A gente resolve isso direitinho!
Antes, ele estava com medo de ofender o homem-bambu. Agora que era Song JinXing, que se danasse o outro.
O homem-bambu já não ousava correr atrás da garota. Deitou no chão, fingindo de morto. Zhong Ruanxing não se deu ao trabalho de ligar. Lançou um olhar indiferente ao gerente suado e saiu andando.
Ao passar pelo corredor do banheiro e se preparar para descer as escadas, uma figura saltou de lado:
— Senhor Song!
Zhong Ruanxing se assustou. Ao levantar os olhos, era Bai Yinyue.
Ela sorria com os olhos brilhantes, como uma lua crescente:
— Aquilo foi incrível, senhor Song.
Zhong Ruanxing não esperava encontrá-la ali.
— Você...
Bai Yinyue pareceu perceber que havia sido um pouco abrupta e rapidamente voltou a ser a dama educada e refinada que conhecera no avião. Sorriu:
— Eu estava jantando com amigos aqui e ouvi alguém sendo agredido. Ia ver o que estava acontecendo, mas o senhor foi mais rápido. Um verdadeiro herói salvando a donzela.
Zhong Ruanxing não soube o que responder.
Ela certamente não podia dizer garotas ajudam garotas.
Mesmo que estivesse em seu próprio corpo, jamais deixaria de intervir numa situação dessas — quanto mais agora, usando o corpo de Song JinXing.
Mas aos olhos de Bai Yinyue, sua gentileza e cavalheirismo eram simplesmente encantadores.
Bai Yinyue sorriu com elegância:
— Mal nos despedimos no avião e nos encontramos de novo por acaso hoje. Parece que há mesmo afinidade entre mim e o senhor Song. Será que o senhor aceitaria jantar comigo esta noite?
Na última vez que Zhong Ruanxing foi a Xangai, ela perguntara a Song JinXing o que ele pensava sobre esse arranjo de casamento, e ele havia deixado claro que não tinha interesse.
Por isso, agora ela só pôde dizer:
— Me desculpe, ainda tenho que voltar para a empresa e resolver algumas pendências.
Um lampejo de decepção surgiu nos olhos de Bai Yinyue, mas ela ainda manteve o sorriso:
— Tudo bem. Podemos marcar para outra hora, quando o senhor Song estiver livre. Eu vou indo então. Até a próxima, senhor Song.
Ela acenou e partiu com leveza.
Zhong Ruanxing achava mesmo que essa pretendente arranjada de Song JinXing era bastante persistente.
Não queria ser dura demais para não ferir o orgulho da garota. Mas depois de duas recusas para encontrá-la, a maioria das pessoas já teria entendido o recado. No entanto, Bai Yinyue ainda insistia em marcar outra ocasião. Definitivamente, não era alguém que desistia fácil.
De fato, no dia seguinte, assim que terminou uma reunião, Zhong Ruanxing recebeu uma ligação do avô de Song.
Ele já começou aos berros assim que atendeu:
— Seu fedelho! Mandei você jantar com a moça da família Bai há meses! Vai quando, afinal?!
Zhong Ruanxing lançou mão da resposta-padrão para parentes que pressionam casamento:
— Vovô, eu não quero me casar agora, só quero administrar bem a empresa. E a senhorita Bai e eu não somos compatíveis.
O avô de Song bufou com desdém:
— Não é você quem decide se são compatíveis ou não com uma frase! É só um jantar, não é seu casamento! Perder esse tempinho não vai arruinar sua empresa! E mesmo que não goste dela, vá lá e diga isso cara a cara. Que tipo de homem foge assim?
Zhong Ruanxing: …
Vovô era bem moderno, no fim das contas.
Ela cedeu:
— Tá bom. Vou marcar com ela.
Ao mencionar isso para Song JinXing naquela noite, ele pensou por um momento e acabou concordando com o avô:
— Encontrá-la uma vez e deixar as coisas claras é o melhor mesmo.
Deitada na cama com o celular, Zhong Ruanxing comentou com sarcasmo:
— Eu queria saber quem foi que atraiu esse monte de pretendentes, e agora sou eu que tenho que resolver tudo.
Song JinXing ficou em silêncio por um tempo.
— Não foi você quem atraiu?
Zhong Ruanxing: — ?
Foi…?
Embora Zhong Ruanxing teoricamente estivesse participando de um encontro às cegas, ela sequer tinha o contato da outra pessoa.
Sem opção, Zhong Ruanxing precisou ligar novamente para o Vovô Song para conseguir o número de Bai Yinyue. Quando a chamada foi atendida, a voz do outro lado soou bastante animada:
— Alô?
Zhong Ruanxing falou:
— Senhorita Bai, aqui é o Song JinXing.
— Senhor Song. — A voz dela se elevou, empolgada. — Que bom que você ligou.
Zhong Ruanxing olhou para o relógio; já estava quase na hora de sair do trabalho.
— Senhorita Bai, posso convidá-la para jantar hoje à noite?
Bai Yinyue riu suavemente:
— Claro.
— Você escolhe o lugar — disse Zhong Ruanxing.
— Tudo bem, então até mais tarde, senhor Song.
— Até mais tarde.
Logo depois de desligar, Zhong Ruanxing recebeu um pedido de amizade no WeChat vindo de Bai Yinyue. Ao aceitar, ela lhe enviou o endereço de um restaurante.
Esse foi o primeiro encontro às cegas da vida de Zhong Ruanxing!
Ainda que fosse com outra garota... Desde que trocaram de corpos, sua vida tinha se tornado cada vez mais fantástica. Mas esse tipo de experiência mágica não era algo que qualquer um podia ter. Deveria aproveitar enquanto durasse.
Zhong Ruanxing ficou ocupada com o trabalho até quase dar a hora de sair. As tarefas que realizava no dia a dia não eram diferentes das de um verdadeiro CEO. Desde que Song JinXing descobriu seu talento(?) para negócios, passou a treiná-la de forma deliberada, deixando com ela tarefas relativamente menos importantes.
Zhong Ruanxing morria de medo de, por um descuido, acabar falindo o Grupo Song. Trabalhava diariamente sob intensa pressão e apreensão.
Podia-se dizer que a alta pressão forçava o crescimento. E seu progresso tinha sido surpreendente. Mesmo que a jogassem agora em uma pequena empresa, provavelmente aprenderia a gerenciá-la em pouco tempo.
Ela combinou com Bai Yinyue às 19h. Preocupada com possíveis engarrafamentos, saiu com uma hora de antecedência. Mas o local do encontro ficava no centro da cidade, não muito longe da sede do Grupo Song. Zhong Ruanxing chegou ao restaurante meia hora antes.
Um restaurante-jardim isolado no meio da agitação urbana. Assim que entrou, deu de cara com bambus verdes e folhagens por toda parte. Sentada à sombra dos bambus, uma mulher em um qipao branco-lunar tocava guzheng. Os recepcionistas vestiam trajes bordados da dinastia Tang, cada gesto e palavra transmitindo elegância e dignidade.
Como era de se esperar da capital — há de tudo por aqui. Onde há demanda, há oferta. A demanda vinha de pessoas como Bai Yinyue e outras jovens ricas da segunda geração em busca de entretenimento.
Zhong Ruanxing havia se sentado havia menos de cinco minutos quando Bai Yinyue foi conduzida por um recepcionista.
Ao vê-la sentada ali, o sorriso de Bai Yinyue se aprofundou:
— Eu cheguei bem cedo também, mas não esperava que o senhor Song chegasse ainda antes de mim.
Ainda bem que saí com antecedência, pensou Zhong Ruanxing, seria tão indelicado deixar uma dama esperando.
Ela já tinha esquecido completamente que ela mesma também era uma dama.
Bai Yinyue era cliente assídua do local. Quando o garçom lhe entregou o tablet para fazer os pedidos, ela apoiou o queixo na mão e sorriu:
— Senhor Song, por que não faz o pedido você? Se for eu, acabarei escolhendo os mesmos pratos de sempre. Hoje quero experimentar abrir uma "caixa surpresa".
Zhong Ruanxing pegou o cardápio e perguntou em voz baixa:
— Alguma restrição alimentar?
— Nada com coentro — respondeu Bai Yinyue.
Zhong Ruanxing entendeu. Escolheu alguns pratos que pareciam apetitosos nas fotos. Depois que o pedido foi feito, o garçom se retirou. O elegante cercado de bambu ficou em silêncio, restando apenas a melodia suave da guzheng.
Bai Yinyue lhe serviu uma xícara de chá:
— Senhor Song, experimente o chá daqui. Eu gosto muito.
Zhong Ruanxing agradeceu. Segurou a xícara com uma mão e tomou um gole, enquanto pensava em como explicar as coisas a Bai Yinyue sem ferir seu orgulho. Para ser honesta, Bai Yinyue era realmente uma garota excepcional. Origem familiar, personalidade, aparência — era a melhor que Zhong Ruanxing já havia conhecido.
Comparada à Song Jiawei, também uma herdeira criada com esmero, Bai Yinyue a superava em todos os aspectos.
Se fosse o verdadeiro Song JinXing diante de um encontro às cegas tão perfeito, provavelmente não recusaria.
Mas quem sabe o que o verdadeiro senhor Song está pensando?
Enquanto Zhong Ruanxing se perdia nesses pensamentos, Bai Yinyue de repente falou:
— O senhor Song está pensando em como me rejeitar sem me magoar, certo?
Zhong Ruanxing se assustou. Levantou os olhos e encontrou o olhar sorridente de Bai Yinyue.
Ela riu:
— Acertei, não acertei? O senhor Song é mesmo a pessoa mais gentil e cavalheiresca que já conheci. Pensando tanto tempo em como me recusar... Mas é justamente por isso que eu não quero desistir de você.
Zhong Ruanxing nem sabia como reagir a uma investida tão direta.
Ela tinha várias formas de recusar homens, mas realmente não tinha experiência nenhuma em recusar mulheres!
Após dois segundos de reflexão, Zhong Ruanxing disse em voz baixa:
— Me desculpe, mas no momento não penso em relacionamentos ou casamento. A senhorita Bai é tão excelente, com certeza encontrará alguém ainda melhor.
Bai Yinyue piscou:
— Mas, entre todas as pessoas que conheci, você é a melhor.
Por que eu não nasci homem?!
Zhong Ruanxing rejeitou com firmeza:
— Aparências não representam a realidade. Gosto de estar sozinho em minha vida pessoal. Não preciso de um parceiro. O mundo é grande, a senhorita Bai deveria ampliar seus horizontes. Não desperdice tempo e energia comigo.
— Oh... — Bai Yinyue suspirou. — Vamos comer primeiro, então.
Zhong Ruanxing: ............
O garçom começou a servir os pratos rapidamente. Quando os pratos começaram a ser colocados na mesa um a um, Bai Yinyue soltou um “huh?” curioso. Após todos os pratos serem servidos, ela olhou para Zhong Ruanxing com um significado mais profundo no olhar.
Zhong Ruanxing, confusa, perguntou:
— Não agradou ao paladar?
— Não é isso — respondeu Bai Yinyue com um suspiro longo. — Senhor Song, nós realmente somos almas gêmeas.
Zhong Ruanxing: “?”
Não fala em código!
Bai Yinyue continuou:
— Até nossos gostos são idênticos. Esses são exatamente os pratos que sempre peço quando venho aqui. Senhor Song, não é o destino?
Não é possível, que coincidência...?
Mas Zhong Ruanxing realmente havia pedido com base em seus próprios gostos. Acontece que os gostos de Bai Yinyue eram iguais aos dela. Era mesmo um tipo de destino... um destino um tanto cruel.
Mais uma vez amaldiçoando por não ter nascido homem, Zhong Ruanxing disse com seriedade:
— Fico feliz que tenha gostado.
A atmosfera e a comida do restaurante eram excelentes. Enquanto comia, Zhong Ruanxing pensava que deveria trazer Song JinXing aqui para experimentar também, quando ele voltasse.
Bai Yinyue tinha uma etiqueta impecável à mesa. Observá-la comer era um deleite visual. Mulher bonita e comida gostosa — até mesmo Zhong Ruanxing acabou comendo mais do que o normal, sem perceber.
Apenas quando Bai Yinyue secou os lábios com elegância usando um guardanapo foi que Zhong Ruanxing também pousou os hashis devagar.
Bai Yinyue tomou um gole de chá para enxaguar a boca. Seu sorriso era caloroso e gentil:
— Se eu pudesse ter o senhor Song como companhia para todas as refeições, aguardaria cada uma com grande expectativa.
Zhong Ruanxing sentiu que havia cumprido sua missão e resolveu encerrar o encontro:
— Senhorita Bai, vim hoje a pedido dos meus familiares. Foi um prazer jantar com você, mas espero que compreenda meu posicionamento e possa repassar isso aos seus pais. Vamos encerrar esse assunto por aqui. Desejo sinceramente que encontre alguém ainda melhor.
Bai Yinyue piscou e levantou levemente o rosto.
Zhong Ruanxing temeu que ela começasse a chorar no segundo seguinte.
Ah... será que exagerei?
Mas então ouviu Bai Yinyue dizer:
— Entendi a intenção do senhor Song. Nesse caso... podemos começar como amigos?
Não como irmãs! Quão persistente você pode ser?!
Zhong Ruanxing desligou com um “Tenho outras coisas pra fazer, vou indo primeiro” e fugiu.
Aquela irmã parecia tão magnânima e gentil — como podia ser tão teimosa quando se tratava de conseguir o que queria? Será que o charme do Song JinXing era realmente tão grande assim? Ao chegar em casa, Zhong Ruanxing ficou encarando seu próprio reflexo no espelho por um bom tempo.
Tinha que admitir: era realmente muito grande.
Antes de dormir, Song JinXing ligou perguntando como tinha sido o encontro daquela noite. Zhong Ruanxing repetiu as palavras de Bai Yinyue e suspirou:
— Eu não consigo recusar, de verdade, não consigo. Não tenho coração pra ser dura com uma beleza dessas, não consigo dizer nada cruel.
Song JinXing deu uma risadinha e disse em voz baixa:
— Então não se preocupe com ela por enquanto, eu resolvo isso quando voltar.
Ele tocou em outro assunto:
— O aniversário da Zhong You é daqui a alguns dias, e não vai ter ninguém em casa. Leve ela pra comemorar, tudo bem? Vou ligar pro seu pai antes pra avisar.
Zhong Ruanxing ficou um pouco surpresa por ele lembrar do aniversário da Zhong You, mas logo pensou: é o Song JinXing, afinal de contas, nada surpreendente mesmo.
No ano anterior, Zhong Ruanxing estava fora filmando no dia do aniversário de Zhong You e não conseguiu voltar a tempo. O pai de Zhong tirou um dia de folga pra acompanhá-la, mas como também precisava cuidar da mãe da Zhong, não convidou os amiguinhos da filha nem a levou a um parque de diversões.
Zhong You ficou chateada em segredo por um bom tempo, mas era muito sensata e sabia que a mãe era mais importante. Não fez birra em casa, apenas ficava insistindo com Zhong Ruanxing para levá-la ao parque de diversões no aniversário seguinte.
Se não fossem esse ano, provavelmente a pequena Zhong You voltaria a chorar escondida no travesseiro à noite.
Zhong Ruanxing já tinha a intenção de buscar a irmã no dia do aniversário, então o fato de Song JinXing ter mencionado isso antes foi ótimo. No dia seguinte, ele ligou para o pai de Zhong para avisá-lo. O pai sempre confiou na filha mais velha e apoiava silenciosamente suas decisões, só hesitou um pouco e perguntou:
— Não vai incomodar ele?
Song JinXing respondeu:
— Não, ele gosta muito da Zhong You.
E então o pai de Zhong concordou.
Naquela noite, ao chegar em casa, Song JinXing ligou para Zhong You de novo e disse:
— O irmão que você conheceu em casa da última vez vai te levar ao parque de diversões amanhã.
— Oba! — A pequena Zhong You ficou eufórica e imediatamente largou a irmã no telefone. — Então quero usar meu vestido de princesa mais bonito! Tia, corre e me ajuda a achar aquele vestido rosa!
Song JinXing: ............
No dia seguinte, coincidentemente um fim de semana, Zhong Ruanxing avisou a Fu Ling que, se não fosse nada urgente, não a procurasse. Pensou um pouco e decidiu ligar para Song Shuling.
— Irmão! — Sempre que recebia ligação da Zhong Ruanxing, a voz de Song Shuling se enchia de alegria.
— Tá livre amanhã? — perguntou Zhong Ruanxing.
— Tô, sim!
— Amanhã é aniversário da irmãzinha de um amigo. Ele não está na capital agora, e eu prometi levar a menina ao parque de diversões pra comemorar. Quer ir com a gente?
Song Shuling mal hesitou:
— Claro, eu vou com vocês. Quantos anos ela vai fazer? Vou comprar um presente pra ela.
Zhong Ruanxing riu:
— Vai fazer cinco. Não precisa comprar nada muito caro, só algo que criança goste mesmo.
Era realmente uma menininha. Embora já tivessem ido muitas vezes a parques de diversões antes, pensar em ir com o “irmão” no dia seguinte deixou Song Shuling animada e cheia de expectativa.
— Entendi, irmão.
Na manhã seguinte, Zhong Ruanxing passou primeiro para buscar Song Shuling, e então dirigiu até a casa dos Zhong.
Afinal, agora ela parecia um homem adulto. Mesmo que o pai de Zhong confiasse muito na filha mais velha, entregar a caçula a um homem estranho com certeza o deixaria desconfortável. Mas com a presença de Song Shuling, boa parte dessa preocupação se dissiparia.
Na hora marcada, quando Zhong Ruanxing encostou o carro do lado de fora do condomínio, o pai de Zhong já esperava na calçada segurando a mão da filha.
Zhong You usava hoje uma saia rosa fofinha, com um par de asinhas nas costas e uma coroa brilhante de princesa na cabeça. Estava... hum.
Zhong Ruanxing nunca tinha visto aquela sainha antes — devia ter sido comprada por Song JinXing.
Ela estacionou o carro na rua, respirou fundo para se recompor e desceu para cumprimentar:
— Olá, tio Zhong. Sou amigo da Ruanxing, meu nome é Song JinXing. Esta é minha irmã, Song Shuling.
Song Shuling também cumprimentou educadamente:
— Olá, tio Zhong.
O pai de Zhong encarou, em choque, o carro de luxo parado à sua frente.
Ele era chef em um hotel cinco estrelas e já tinha visto muitos carros de gente rica. Reconheceu aquele modelo — seu jovem aprendiz na cozinha sempre falava animado no ouvido dele o nome daquele carro caríssimo. Era um Maybach, ou algo assim.
Como é que a Ruanxing... conhecia amigos tão ricos assim?
Mas o jovem à sua frente parecia gentil demais. Mesmo que o instinto dissesse para manter distância de um homem como aquele, ao olhar para o sorriso brilhante dele, não sentiu nem um pingo de desconfiança. Aquele sentimento inexplicável de confiança e familiaridade deixou o pai de Zhong sem palavras por um instante.
Mas a pequena Zhong You soltou a mão do pai e correu para abraçar a perna de Zhong Ruanxing:
— Irmão!
Zhong Ruanxing sorriu, se abaixou e a pegou no colo, resistindo ao impulso de encher as bochechas gordinhas dela de beijos:
— Tio Zhong, não se preocupe. Vou trazer a Zhong You de volta em segurança hoje à noite.
O pai de Zhong assentiu tenso e, com algum esforço, disse baixinho:
— Obrigado por isso.
— Não foi nada... Tio Zhong, é melhor voltar agora, senão vai se atrasar pro trabalho.
O pai de Zhong a encarou por um momento, depois assentiu lentamente e se virou para ir embora.
Zhong You era fofa e tinha uma língua doce — igualzinha à pequena Zhong Ruanxing. Todos que a conheciam gostavam dela. Dois “irmã Lingling!” bastaram para conquistar Song Shuling por completo. Já dentro do carro, Song Shuling entregou a caixinha de presente que havia trazido.
— Zhong You, esse é o seu presente de aniversário.
— Uau! Obrigada, irmã Lingling! — Zhong You rasgou o embrulho com entusiasmo. Ao ver que era um conjunto completo de bonecas Barbie, ficou visivelmente encantada.
Quando ficava feliz, a pequena Zhong You se empolgava com facilidade. Era ainda mais arteira do que a pequena Zhong Ruanxing e era considerada a "chefe" do seu jardim de infância. Começou imediatamente a trocar as roupinhas das Barbies ali mesmo, empolgada como um macaquinho.
Zhong Ruanxing, enquanto dirigia, repreendeu:
— Zhong You! Senta direito! Já te falei que não pode brincar no carro, é perigoso!
A menina fez bico e obedeceu, voltando a se sentar direitinho — e parando de brincar com as bonecas.
Song Shuling olhou, surpresa, da Zhong Ruanxing no banco do motorista para o assento do carona.
O tom usado para repreender soava exatamente como o de um irmão mais velho falando com a irmã caçula, sem a menor delicadeza. E mesmo assim, Zhong You realmente obedecia. Se fosse só a irmã de um amigo, ele não devia ser mais paciente e tolerante...?
Essa sensação estranha ficou ecoando no coração de Song Shuling até que o carro entrou no estacionamento do parque de diversões e sua atenção foi desviada pela montanha-russa que passava voando lá em cima no céu.
Zhong You começou a se agitar de novo:
— Uaaaau! Também quero ir naquela!
Zhong Ruanxing rejeitou sem piedade:
— Não. Você só tem cinco anos. Aquela é só pra crianças com oito ou mais.
A pequena Zhong You imediatamente começou a chorar alto:
— Toda vez, toda vez, toda vez é proibido! Por que eu tô crescendo tão devagar assim?!
Song Shuling ria sem parar enquanto Zhong Ruanxing estacionava o carro. Ela pegou Zhong You no colo, já acostumada a mimá-la com entusiasmo:
— Não vamos na montanha-russa, mas podemos ir no carrossel! Estão vendendo algodão-doce ali na frente, quer um?
O rostinho de Zhong You mudou na hora:
— Quero!
Song Shuling, toda feliz, a levou pela mão para comprar o algodão-doce.
Como era fim de semana, o parque de diversões estava lotado. Aquele era o maior e mais bem estruturado parque da região de Jingshi, além de ser um ponto turístico famoso para ensaios fotográficos de casamento. Além das atrações recreativas, a paisagem também era muito bonita. Como a Disneylândia, havia muitos personagens-mascote super populares.
Sempre que vinha, Zhong You fazia questão de interagir e tirar fotos com seus personagens preferidos — e hoje não foi diferente. Assim que entraram, ela já começou a gritar que queria encontrar o gato rosa.
Zhong Ruanxing já tinha prática com crianças. Nos anos anteriores, levava Zhong You para brincar sozinha e sabia como mantê-la comportada. Agora com Song Shuling junto, ficou ainda mais fácil.
Os três tiraram fotos enquanto esperavam na fila, e foram em todos os brinquedos que Zhong You queria. Até nos que ela não podia ir, Zhong Ruanxing perguntava se Song Shuling queria tentar. Se ela dissesse que sim, os três enfrentavam a fila juntos, e quando chegava a vez de Song Shuling, os outros dois ficavam embaixo tirando fotos.
Song Shuling nunca tinha se divertido tanto em um parque de diversões antes. Pela primeira vez, entendeu o quanto aquilo podia ser divertido.
Ela foi duas vezes seguidas na montanha-russa radical e ainda queria mais. Ao sair, ainda animada, perguntou a Zhong Ruanxing:
— Irmão, quer tentar também? Eu fico de olho na Youyou.
Zhong Ruanxing até queria. Mas não combinava com sua imagem de CEO sair por aí andando de montanha-russa. Só de pensar nisso já parecia *fora de personagem*! Só pôde recusar educadamente com um leve aceno de cabeça.
Depois dos brinquedos, eles passearam pelo parque procurando os mascotes para tirar fotos. Embora os personagens dali não fossem tão famosos quanto os da Disney, ainda assim eram muito fofos. A própria Zhong Ruanxing já tinha comprado lembrancinhas, enchendo uma janela inteira em casa.
Song Shuling nunca tinha tirado fotos com esses personagens em visitas anteriores. Mas hoje, acompanhando Zhong You, finalmente entendeu a graça dos mascotes.
Os três eram visualmente encantadores. Na fila, chamavam bastante atenção dos outros visitantes. Quando chegou a vez deles, o mascote fez um gesto exagerado de surpresa ao cobrir a boca. Apontou para Zhong Ruanxing, depois para si mesmo, e em seguida escondeu o rosto timidamente.
Isso fez todos ao redor caírem na risada.
Song Shuling também riu:
— Irmão, quer tirar uma foto também?
Zhong You puxou a mão dele, fazendo manha:
— Irmão, irmão, vamos tirar uma juntos com a irmã Shuling!
Zhong Ruanxing assentiu, sem ter como negar, e entregou o celular para um visitante simpático atrás deles para tirar a foto. Zhong You ficou na frente do mascote, enquanto Song Shuling e ela ficaram de cada lado, registrando a primeira foto em grupo do dia.
Eles continuaram brincando até o meio-dia, quando Zhong Ruanxing finalmente conseguiu respirar e levou Zhong You ao seu KFC favorito para almoçar.
Zhong You balançava as pernas na cadeira:
— Eu quero um combo infantil!
Zhong Ruanxing foi fazer o pedido. Song Shuling, já cansada, recostou-se na cadeira para descansar. Zhong You então cutucou o braço dela e cochichou:
— Irmã Shuling, vou te contar um segredo.
Song Shuling virou o rosto:
— Que segredo?
Zhong You curvou o dedinho de forma misteriosa. Song Shuling segurou o riso e aproximou o ouvido. Zhong You sussurrou com voz levemente infantil:
— O segredo é que minha irmã não é minha irmã. Meu irmão é minha irmã.
*O que isso quer dizer?* Song Shuling não sabia se ria ou se chorava. Não entendeu nada daquele balbucio de criança e apenas acariciou a cabecinha de Zhong You:
— Tá bom, tá bom, entendi.
Zhong Ruanxing voltou com as bandejas de comida:
— Youyou, o que está cochichando aí de novo?
Zhong You imediatamente fechou os lábios com firmeza, balançando o rosto com seriedade:
— Nada!
Ela olhou de novo para Song Shuling e piscou desesperadamente. Song Shuling se segurou para não rir e imitou o balançar de cabeça sério dela:
— Nada!
Zhong You assentiu com força, com uma expressão do tipo *Viu? Não menti pra você*.
Aquilo fez o coração de Zhong Ruanxing derreter.
*Ai, as duas irmãzinhas dele eram tão fofas!*
Depois do almoço, eles continuaram passeando à tarde. Song Shuling tinha enlouquecido de vez e queria tirar foto com cada mascote que encontravam. Enquanto esperavam nas filas, Zhong Ruanxing olhava o Moments do WeChat, completamente tomado por fotos dela com os personagens.
Felizmente, a onda de calor tinha passado, e embora estivesse ensolarado à tarde, o clima não era insuportável.
Quando finalmente tiraram foto com o último mascote, os três se sentaram num banco dentro do parque. Zhong Ruanxing comprou um sorvete para cada um, mas resistiu à vontade de pegar um para si — afinal, precisava manter sua imagem de CEO.
Por sorte, Zhong You teve um momento de consciência e estendeu o sorvete para ele:
— Irmão, dá uma mordida. Só uma!
Zhong Ruanxing finalmente provou o sorvete.
Doce e refrescante.
Sentada ao lado dele, com o rosto corado, Song Shuling olhava para os mascotes não muito longe, posando para fotos com turistas. De repente, disse:
— Irmão, eu quero trabalhar aqui.
Zhong Ruanxing limpava a boca suja de sorvete da Zhong You. Ao ouvir aquilo, virou-se surpreso para ela:
— Aqui?
Os olhos de Song Shuling brilhavam, refletindo as nuvens douradas do pôr do sol:
— Uhum! Da última vez, você me disse pra pensar bem no que eu queria, em encontrar algo de que eu gostasse. Fiquei pensando nesse tempo... *do que eu realmente gosto?*
— Desde pequena até agora, parece que nunca gostei muito de nada. Minha avó e a Quarta Tia sempre foram boas comigo, nunca me faltou nada. E talvez por vir tão fácil, eu nunca valorizei. Às vezes, sinto que a vida é tão vazia, como se eu enxergasse através dela. Não tenho nenhum sonho pra correr atrás, nem desejo que queira realizar.
— Você disse pra eu pensar com calma, mas quanto mais eu pensava, mais medo eu sentia. Porque eu não conseguia pensar em nada — nada que eu gostasse, nada que eu quisesse fazer, nada que eu achasse que poderia fazer. Até hoje. Senti que esse lugar é tão bom, tão feliz e gratificante. Seja quem veste as fantasias ou quem tira foto com eles, todo mundo tá feliz. Irmão, eu também quero ser um mascote. Posso brincar sem me conter dentro da fantasia, levar alegria pros outros e pra mim — é isso que eu gosto.
Ela disse tudo isso de uma vez, como se tivesse medo de ser interrompida. E, ao terminar, olhou para o irmão, nervosa e cheia de expectativa, esperando a resposta.
Zhong Ruanxing ficou em silêncio por um momento antes de responder com seriedade:
— Esse trabalho é bem cansativo. As fantasias são fofas, mas pesadas e quentes. Ficar de pé o dia todo pode causar insolação, ou até se machucar se algum turista esbarrar. Não é tão divertido quanto parece.
— Não tenho medo de esforço — respondeu ela suavemente, sem dizer mais nada.
A brisa da noite balançava as copas das árvores, fazendo cair algumas folhas verdes. As pontas já começavam a amarelar, com traços antecipados de outono.
Por fim, Zhong Ruanxing estendeu a mão e afagou a cabeça dela, que estava meio baixa, sorrindo ao dizer:
— Tá certo, então. Vai fazer o que você gosta. O seu irmão acredita em você.
Song Shuling levantou a cabeça de repente, com os olhos brilhando de surpresa e alegria.
Zhong Ruanxing a encarava com doçura e encorajamento. Os olhos de Song Shuling logo se encheram de lágrimas, mas seu sorriso era mais vivo do que nunca.
Ela era apenas uma garota comum, não era um gênio como o irmão. Mas era sortuda por poder escolher um trabalho de que gostasse, sem se preocupar com as contas. E, o mais importante, por ter um irmão como aquele.
Zhong Ruanxing não precisava se preocupar com Song Shuling. Havia avisos de recrutamento afixados na central de atendimento do parque. Ela limpou bem as mãozinhas de Zhong You, segurou sua mão e se levantou:
— Vamos nos inscrever agora.
Os olhos de Song Shuling se arregalaram de surpresa:
— Agora?
Zhong Ruanxing assentiu:
— O processo de seleção aqui é bem rápido, porque muita gente gosta de trabalhar nesse lugar. Quando passamos pela central mais cedo, vi três pessoas preenchendo formulários. Devem estar se inscrevendo também. Se não formos agora, pode ser que todas as vagas estejam preenchidas até amanhã.
Song Shuling levantou-se na hora:
— Vamos!
Ela foi apressada na frente, mas hesitou e parou ao chegar à entrada da central de atendimento.
Nunca tinha se candidatado a um emprego antes. Não sabia o que dizer numa entrevista, nem como se apresentar. Nervosa e esperançosa, lançou um olhar em busca de apoio para Zhong Ruanxing.
Ele retribuiu com um olhar encorajador:
— Só diga o que pensa. Não tenha medo, vá em frente.
Song Shuling mordeu o lábio. Com o olhar do irmão lhe dando força, finalmente reuniu coragem e entrou na central.
Zhong Ruanxing não a acompanhou.
Podia encorajá-la, mas não podia se tornar uma muleta para ela.
A primeira metade da vida de Shuling tinha sido miserável demais. Agora que queria mudar, a primeira coisa que precisava fazer era construir uma personalidade independente e ganhar autoconfiança.
E ela acreditava que Shuling conseguiria.
Zhong You observava Song Shuling conversando com os funcionários lá dentro, pensativa, até que perguntou:
— Irmã, quando eu voltar pra brincar aqui, posso furar a fila e tirar foto direto com a irmã Shuling, né?
Zhong Ruanxing deu um peteleco na testa dela:
— Pensando em privilégios especiais tão novinha assim? Quem te ensinou isso?
Zhong You olhou para ela com reprovação, cobrindo a testa.
Zhong Ruanxing então percebeu:
— Como é que você me chamou?
Zhong You bufou, virou o rosto e a ignorou.
Zhong Ruanxing ficou incrédula. Abaixou-se e abraçou a garotinha fofa, beliscando suas bochechas rechonchudas:
— Pergunto de novo, como é que você me chamou?
Zhong You bateu na mão dela, brava:
— Irmã má! Tá beliscando meu rosto de novo!
Zhong Ruanxing ficou paralisada, sem reação por um momento, olhando para a irmãzinha em seus braços.
Depois de encará-la por um tempo, Zhong You estendeu a mãozinha gordinha e tocou o rosto dela:
— Irmã, o que foi? A You You te machucou?
Ela logo agarrou a mão de Zhong Ruanxing e assoprou duas vezes:
— Fuu, fuu. Não dói, irmã.
De repente, os olhos de Zhong Ruanxing começaram a arder. Ela acariciou distraidamente a cabeça da menina:
— Como você reconheceu sua irmã?
Zhong You a olhou como se ela tivesse feito uma pergunta muito boba:
— Porque você é minha irmã!
Seus grandes olhos negros brilharam, e ela murmurou baixinho:
— A mamãe porquinha percebeu que a porquinha rosa não comia mais milho esses dias e passou a gostar de frango assado. Observou a porquinha rosa por muito tempo e descobriu que ela não era uma porquinha, era uma raposinha! A raposa tinha virado o bebê da mamãe porquinha, e a porquinha rosa era o bebê da mamãe raposa. Elas choravam por milho todo dia.
Zhong Ruanxing lembrou que aquilo vinha de um livro de contos infantis que ela mesma comprara para Zhong You no ano anterior.
Naquela época, enquanto contava a história com a cabeça apoiada na cabeceira da cama, Zhong You perguntou:
— Por que a mamãe porquinha não reconheceu o próprio bebê porquinho?
Na hora, Zhong Ruanxing achou complicado demais explicar troca de corpos para uma criança e respondeu sem pensar:
— Porque a mamãe porquinha era burra, uma porquinha boba.
Agora, Zhong You piscava seus olhinhos marejados, esperando elogio:
— Irmã, eu sou mais esperta que a mamãe porquinha, né? Eu não sou uma porquinha boba.
O coração de Zhong Ruanxing derreteu por completo. Ela a abraçou com força e beijou seu rostinho:
— É sim, a You You é a criança mais esperta do mundo. Mas esse é um segredo só nosso, da irmã de casa e eu, tá bom? Não pode contar pra mais ninguém.
A criança não entendia o que era troca de corpos, nem como aquilo era absurdo. Na cabecinha dela, tudo parecia só mais uma aventura mágica de conto de fadas, como o da porquinha e da raposa. Nada de mais.
Ela estendeu solenemente o dedinho:
— A You You promete, irmã!
Zhong Ruanxing sorriu e selou a promessa com o mindinho dela.
Depois de uma pausa, perguntou de novo:
— A You You gosta da irmã de casa agora?
— Gosto sim! — Zhong You assentiu com força — A irmã de casa comprou muito sorvete pra mim e também gosta muito dos meus novos amiguinhos.
Ela lançou um olhar de desprezo para Zhong Ruanxing:
— Diferente de você, que morre de medo dos meus amigos novos.
Zhong Ruanxing: "......"
Amigos novos? Seriam os insetos variados que ela tinha pegado e deixado espalhados pela casa?
Definitivamente, ela precisava ter uma conversa séria com Song Jinhang! Por que mimar tanto uma criança assim? Tem horas que uma palmada é mais do que necessária!
Mais de dez minutos depois, Song Shuling saiu de lá com o rosto radiante. Ao ver Zhong Ruanxing, falou animada:
— Irmão, consegui o emprego! Posso começar o treinamento amanhã e, se passar, começo de verdade!
Zhong Ruanxing sorriu e assentiu:
— Muito bem. Esse é seu primeiro trabalho, se esforce bastante.
Song Shuling assentiu com firmeza.
Ao sair do parque, Zhong Ruanxing as levou a um restaurante que havia reservado com antecedência. Inicialmente seria apenas para comemorar o aniversário de Zhong You, mas agora também podiam celebrar o primeiro emprego de Song Shuling.
Depois de cortar o bolo e abrir os presentes, brincaram até o céu escurecer completamente. Zhong You já bocejava nos braços de Zhong Ruanxing. Só então ela ligou para o pai Zhong e levou Zhong You de volta para casa.
Quando chegaram na entrada do condomínio, pai Zhong já esperava por elas.
O homem de meia-idade estava de pé, silencioso, à beira da calçada. Zhong Ruanxing se lembrou de quantas vezes, no passado, saía tarde do trabalho e via o pai esperando por ela assim, na beira da estrada.
Ela estacionou o carro e carregou Zhong You para fora. Num tom que só as duas podiam ouvir, disse:
— Quando a irmã não estiver por perto, a You You vai ser a super-heroína da casa. Cuida bem do papai e da mamãe, tá?
Zhong You se agarrou ao pescoço dela, com esforço:
— Uhum! A You You é muito forte! Vai proteger o papai e a mamãe!
Pai Zhong pegou os presentes com uma mão e carregou Zhong You com a outra. Disse em voz baixa:
— Obrigado por cuidar delas hoje.
Zhong Ruanxing engoliu a pontada no coração:
— Não foi nada, tio Zhong. Tchau, You You.
De volta ao carro, Zhong Ruanxing viu Song Shuling ainda olhando para o pai Zhong se afastando com Zhong You no colo. Um olhar tão triste nos olhos.
Ela tinha perdido os pais ainda menor do que Zhong You, não foi?
Será que ainda lembrava como era ser abraçada pelos pais?
Zhong Ruanxing chamou seu nome:
— Shuling.
Song Shuling saiu do transe, baixou o olhar e entrou no carro. No silêncio da estrada à noite, Zhong Ruanxing a ouviu perguntar baixinho:
— Irmão... como eram meus pais?
Os dedos de Zhong Ruanxing se apertaram no volante.
A voz de Shuling tremia:
— Eu não lembro de nada. Nem do rosto deles. Só lembro se ficar olhando muito as fotos.
Zhong Ruanxing ligou a seta e encostou o carro.
Desceu, abriu a porta de trás e se sentou ao lado de Shuling, abraçando com ternura a garota que chorava em silêncio.
Naquela noite calma, mesmo presa àquele corpo físico, Zhong Ruanxing conseguia sentir profundamente a dor dela.
E só pôde dizer, em voz baixa e firme:
— Só lembre de uma coisa: eles te amaram muito. Amaram muito a nós dois.
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