Cap 1 – A Sogra Má Renascida
— Yu Fen! Yu Fen! Tem uma ligação pra você no escritório da brigada!
A voz estridente de Gui Xiang ecoou.
O chamado familiar fez Yang Yufen despertar assustada. Ela não tinha morrido?
Yang Yufen levou a mão até a parte de trás da cabeça — a dor ardente ainda parecia real, mas não havia ferimento algum. E ela não deveria estar no hospital?
— Yu Fen! Yu Fen! O que você tá fazendo? Seu filho ligou pro escritório da brigada pedindo pra você atender!
A voz de Gui Xiang soou de novo, ainda mais alta.
Uma pontada aguda atravessou o peito de Yang Yufen. Ela realmente tinha renascido — voltado dois anos no tempo, para o momento em que seu filho ligou para anunciar o casamento.
Sua nora, Qin Nian, ainda estava viva. Seu neto ainda não tinha morrido. E o seu inútil filho, Shen Xianjun, que mais tarde abandonaria a família e sumiria do mapa, ainda estava ali.
Só de pensar, ela se arrependeu de ter dado apenas um tapa no filho antes de morrer. Deveria ter batido naquela destruidora de lares também — em vez disso, foi empurrada por ela, caiu nas escadas e morreu.
Foi logo após essa ligação que Shen Xianjun declarou que havia se casado no exército. Qin Nian estava ocupada com o trabalho, então não haveria cerimônia, e ele disse para Yang Yufen não ir. Depois disso, a mesada mensal que mandava pra casa parou, e ela nunca mais teve notícias dele.
Na época, culpou Qin Nian, ressentindo-se da nora por manter seu filho distante. "Se nem deixaram a mãe dele ir ao casamento ou visitar, por que eu deveria me forçar a fazer parte da vida deles?"
Então, quando Qin Nian ligou de repente dois anos depois pedindo ajuda para cuidar da criança, Yang Yufen se recusou, teimosa.
Era o fim da colheita de outono. Após três dias de trabalho exaustivo, ela finalmente cedeu — afinal, a criança era inocente.
Mas, quando conseguiu comprar uma passagem de trem e chegou à capital, já era tarde demais. Chegou apenas para ouvir a notícia devastadora. Pelas enfermeiras, pelos colegas e superiores de Qin Nian, finalmente soube de toda a verdade.
De coração partido, concluiu os trâmites para reivindicar os corpos. E então, no hospital, viu o filho desaparecido — acompanhando uma amante grávida para um exame pré-natal. Cega de raiva, foi até ele e deu um tapa na cara.
— Yu Fen? Yu Fen? Disseram que vão ligar de novo em quinze minutos. Se você não for agora, vai perder a ligação.
Gui Xiang franziu a testa, preocupada com a expressão confusa e perturbada da amiga.
— Certo, tô indo.
Yang Yufen arrancou o avental e o entregou a Gui Xiang, depois correu em direção ao escritório da brigada.
— Por que demorou tanto? O telefone já tocou uma vez. Disseram que ligam de novo em dez minutos.
O líder da brigada falou assim que ela chegou.
— Me atrasei.
Yang Yufen sentou-se sem cerimônia ao lado do telefone para esperar. Logo, ele tocou. Ela agarrou o receptor.
— Alô?
Bastou uma palavra para Shen Xianjun reconhecer a voz da mãe.
— Mãe, eu me casei. O nome dela é Qin Nian. Ela tá ocupada com o trabalho, então não vamos fazer cerimônia. Não precisa vir. O dote seguiu o padrão local — 500 yuans e um relógio. Juntei o dinheiro e peguei emprestado com alguns camaradas, então não vou mais mandar mesada pra casa.
Na vida passada, Yang Yufen havia ficado descontente com isso. O casamento do filho deveria ser uma ocasião alegre, e ainda assim, ela nem pôde ver.
Depois de alguns comentários de desagrado, Shen Xianjun alegou estar sem tempo e desligou.
Desta vez, ela não cometeria o mesmo erro.
— Chame seu comissário político ao telefone. Preciso falar com ele.
Yang Yufen o interrompeu antes que ele pudesse continuar.
— Mãe, pra que o comissário? Seja lá o que for, pode falar comigo diretamente.
Shen Xianjun franziu o cenho. Será que sua mãe era tão contra o casamento a ponto de querer reclamar com o comissário?
— Apenas chame ele. Se não chamar, eu mesma ligo pro exército!
Seu tom não admitia discussão.
— Mãe, não cria problema. A Nian é uma pessoa ótima. Foi o alto comando que arranjou isso.
— Eu não disse que sua esposa não é boa. Para de distorcer minhas palavras. Se não for buscar ele, vou desligar e ligar direto pro exército.
Ela já estava se movendo para fazer exatamente isso, quando a voz de Shen Xianjun surgiu do outro lado da linha, apressada.
— Mãe, espera. Eu vou.
Melhor explicar tudo pro comissário do que deixar a mãe escalar a situação.
— Se apresse. Não saio daqui até isso estar resolvido.
Yang Yufen desligou antes que ele pudesse responder.
Shen Xianjun ouviu o tom de linha cortada, suspirou e colocou o receptor de volta no gancho. Depois de fazer uma continência ao operador, foi atrás do Comissário Político Zhao.
O líder da brigada havia escutado tudo. Vendo a expressão sombria de Yang Yufen, tentou apaziguar.
— Dona Shen, o casamento de Xianjun é uma coisa boa. E foi algo arranjado pelo comando — escolheram o melhor pra ele. Por que ficar zangada com o menino? Todo mundo sabe o quanto a senhora se sacrificou pra criar ele sozinha. Ele é um filho dedicado, e tão competente. Quem não inveja a senhora?
Naquela brigada havia apenas um soldado. Se ele subisse de posto, poderia levantar o nome da vila toda. O melhor era manter a paz.
— O senhor mesmo disse: fui eu quem criou ele sozinha, no meio de dificuldades. Qual o problema de uma mãe querer dizer umas verdades? Não tô aqui pra causar problema. Só quero garantir meu futuro. Tô ficando velha. Não consigo mais trabalhar como antes.
Suas palavras deixaram o líder da brigada sem resposta.
Entre as mulheres da vila com idade próxima à de Yang Yufen, se alguma dissesse que já não podia mais trabalhar, as pessoas talvez até acreditassem. Mas quem era Yang Yufen? A Dama de Ferro! Famosa em toda a comuna pela força, que superava até a da maioria dos homens.
Ainda assim, Yang Yufen, viúva, havia criado sozinha o filho Shen Xianjun, cuidado dos sogros idosos até o fim e ainda deu à luz um filho para o marido doente.
Na infância, Shen Xianjun não era robusto como agora — vivia doente. Yang Yufen trabalhava dia e noite, se esforçando como homem, ganhando pontos de trabalho integrais e ainda ajudava os outros. Tudo de bom que conseguia levava pra casa para alimentar Shen Xianjun, e foi assim que ele cresceu forte.
Quando Yang Yufen dizia que ia esperar, ela queria dizer de verdade. Shen Xianjun conhecia bem o temperamento da mãe. Depois de explicar a situação ao comissário político, voltou com uma ligação em menos de meia hora.
— Tia Yang, aqui é o Comissário Político Zhao, superior do camarada Shen Xianjun — falou ele, pegando o telefone de Shen Xianjun com um tom gentil.
— Comissário Zhao, preciso que o senhor sirva de testemunha hoje. Já que Shen Xianjun se casou, meu dever com ele termina aqui. Agora é a vez dele me sustentar na velhice. Tô ficando velha e já não aguento mais trabalhar como antes.
— Claro, claro — respondeu o comissário, lançando um olhar para Shen Xianjun, ainda mantendo o tom amável.
— Minha exigência é que ele me envie um terço da mesada mensal. O restante vai pra esposa dele — entregue diretamente nas mãos da minha nora, Qin Nian. O dever de um homem é servir no campo de batalha, conquistar glórias e defender a pátria. Podem ficar tranquilos, senhores, se houver missão, mandem ele sem hesitar.
Yang Yufen não hesitou em "vender" o próprio filho — antes ele servisse à pátria do que se perder por causa de alguma sirigaita.
— Tia Yang, sua consciência é verdadeiramente admirável. Em nome da nação e do exército, eu agradeço. Camarada Shen Xianjun, concorda com esses termos?
O Comissário Zhao achou Yang Yufen completamente diferente do que Shen Xianjun havia descrito. Aquela era mesmo a Dama de Ferro da comuna — como não seria firme? Sua consciência ideológica era irrepreensível. Claramente, Shen Xianjun tinha se preocupado à toa.
Cap 2 Arrumando as Coisas e Indo para a Casa da Nora
O Comissário Político Zhao olhou para Shen Xianjun com um olhar de reprovação.
— Eu concordo, mãe, é só uma coisa pequena...
Shen Xianjun achava que a mãe estava chateada porque ele falou que não mandaria mais a mesada para casa e queria se explicar, mas Yang Yufen não lhe deu chance.
— Comissário, o senhor ouviu. Com seu testemunho, confio nas nossas tropas. Não vou tomar mais do seu tempo.
Dito isso, Yang Yufen desligou o telefone, sem querer escutar as desculpas do filho.
Ela cronometrava tudo com cuidado e tirou uma nota de um yuan — as ligações eram caras, absurdamente caras.
Shen Xianjun coçou o nariz. Claramente, a mãe estava brava por causa do casamento. Ela nunca tinha interferido na mesada dele antes.
— Um homem de verdade cumpre sua palavra. Já que prometeu para a tia Yang, tem que cumprir. De agora em diante, a camarada Qin Nian vai receber sua mesada por você.
— Sim, senhor!
Shen Xianjun deu continência imediatamente, um costume militar.
Ele já tinha planejado passar a mesada para a esposa depois do casamento — só seria o intermediário. Agora, nem isso seria mais necessário. A mãe já tinha resolvido tudo.
— Capitão, pode pedir para seu sobrinho comprar uma passagem de trem para mim, para Pequim, daqui a sete dias?
Yang Yufen não queria atrasar. Na última vez, ela tinha se apressado, mas dessa vez deu uma semana para se preparar. O grão em casa já estava seco e o resto podia ser resolvido. Ela levaria tudo para Pequim. A nora devia estar grávida logo depois do casamento, o timing dela era perfeito.
Enquanto as ligações podiam ser feitas na delegacia, telegramas precisavam ser enviados dos correios. Ela enviaria o telegrama para a nora no dia da partida.
Yang Yufen entregou as chaves para a amiga próxima, Miao Guixiang, e partiu carregando um balanço de ombro e uma cesta de bambu.
Pequim
— Tenho uma missão urgente. Vamos fazer o banquete do casamento quando eu voltar. Minha mãe tem um gênio forte — ela ligou e exigiu um terço da minha mesada. Não leve a mal. É compreensível que ela esteja chateada porque casamos tão de repente, sem avisar.
Shen Xianjun estava satisfeito com a nova esposa. Ela era gentil, culta e bem-educada. Se não fosse a indicação de um oficial de alta patente, talvez ele nunca tivesse se casado com alguém assim.
Mas ele também não era qualquer um. Em seis anos de serviço, já tinha conquistado várias honrarias militares. Se não fosse pelo tempo curto no exército, já teria passado de comandante de pelotão.
Toda a família de Qin Nian havia se sacrificado pelo país. Mesmo sem parentes vivos, sua origem a tornava perfeita para alguém como ele, que não tinha raízes profundas.
— Entendi. Eu também tenho meu salário. Tome cuidado na missão. Vou ficar no instituto de pesquisa por enquanto e me mudar para lá quando você voltar.
Qin Nian respondeu com voz suave. O marido tinha sido criado sozinho pela mãe. Se ela queria a mesada do filho, Qin Nian, como nora recém-casada, não tinha motivos para reclamar. Ainda assim, os repetidos avisos do marido sobre o temperamento forte da mãe a deixavam preocupada com o relacionamento futuro.
Além disso, o trabalho dela não permitia que vivesse só para o marido e a casa como outras mulheres. E se a sogra não aprovasse...
Qin Nian sacudiu esses pensamentos, arrumou as coisas de Shen Xianjun e o acompanhou até a porta, antes de voltar para seu pequeno pátio no instituto.
Sim, apesar de solteira antes, sua posição tinha lhe dado um pátio particular. Ela não gostava dos prédios novos — muito apertados.
Depois de enviar o telegrama, Yang Yufen entrou no trem apertada entre os passageiros.
Qin Nian, que passou pouco mais de dez dias de recém-casada antes do marido partir para a missão, voltou à rotina solitária, afogada no trabalho. Quando recebeu o telegrama, ficou chocada.
A sogra estava vindo para Pequim — e já estava no trem! Mas Shen Xianjun estava fora em missão, sem previsão de volta. O telegrama foi entregue diretamente no instituto dela e, pelos cálculos, a sogra chegaria naquele dia!
— Diretor, preciso pedir licença.
Qin Nian levou o telegrama para seu mentor, o diretor Hu do instituto de pesquisa.
— Você está doente?
O diretor Hu tinha sido colega de classe da mãe de Qin Nian.
— Não, a mãe do meu marido está vindo para Pequim. Ela mandou um telegrama — o trem chega hoje. Preciso buscá-la. O Xianjun está em missão.
— Entendi. Vou te conceder dois dias de licença, mas nada além disso.
O diretor falou com firmeza.
— Entendi. Vou arrumar tudo o mais rápido possível.
Qin Nian sabia que estavam em fase crítica da pesquisa, mas também não podia ignorar a sogra. Respirou fundo e pedalou até a estação.
Yang Yufen desceu do trem e logo avistou Qin Nian na multidão.
O coração de Qin Nian acelerou. Ela nunca tinha conhecido a sogra, e o marido nem tinha uma foto dela. Pior, a sogra era analfabeta. Só ao chegar à estação percebeu que não tinha como identificá-la direito, o que a deixou nervosa.
Yang Yufen caminhou firme em sua direção. Qin Nian sentiu algo — quando seus olhos se cruzaram, soube que aquela mulher alta só podia ser a sogra. A postura imponente era igual à do marido.
Yang Yufen media mais de 1,7 metro, ex-integrante da milícia feminina. Agora de meia-idade, mas ainda robusta de tanto trabalho no campo, olhou para a pequena e delicada nora e já começou a pensar em como engordá-la.
— Sou sua sogra, Yang Yufen. Você deve ser a Nian Nian.
Qin Nian assentiu rápido e se lembrou de cumprimentar direito.
— Mãe.
— Hm. Me mostre o caminho.
Yang Yufen assentiu, ajeitou o peso na vara de ombro e fez sinal para Qin Nian guiá-la — mesmo tendo estado ali antes.
— Hum, mãe, deixa eu ajudar você?
Qin Nian estendeu a mão, mas Yang Yufen desviou. Qin Nian mordeu o lábio sem querer.
— Você não pode carregar isso. Só me mostre o caminho.
Acostumada ao trabalho pesado, Yang Yufen não achava a carga pesada, mas sabia que a nora frágil e estudiosa não aguentaria.
— Ah, tá.
Qin Nian puxou a mão e saiu na frente. O silêncio ficou estranho, então ela puxou sua bicicleta, percebendo que não dava para carregar a sogra e as coisas ao mesmo tempo.
— O Xianjun está em missão. Eu vim de bicicleta.
As palavras saíram meio rígidas.
— Hm. Me leve para o instituto. Depois, recolha a mesada dele e me entregue. Me mostre o ponto de ônibus — vou esperar por você quando descermos.
O tom de Yang Yufen não era exatamente acolhedor, mas também não hostil. Qin Nian soltou um suspiro silencioso de alívio.
Depois de colocar a sogra no ônibus, Qin Nian pedalou forte até o ponto seguinte, onde Yang Yufen já a esperava.
Felizmente, o ônibus seguia direto para a área residencial do instituto. Empurrando a bicicleta, Qin Nian levou Yang Yufen para seu pátio sem demora.
Cap 3 — Estabelecendo-se
— Este lugar é bem agradável. Podemos até plantar alguns vegetais aqui e continuar criando as galinhas. Só que não tem quartos suficientes. No futuro, vou dormir no salão principal, e você pode continuar dormindo no quarto interno. — Yang Yufen já começou a fazer as arrumações. Qin Nian não ousou discordar.
— Hum, mãe, a senhora deve estar cansada da viagem. Vou até a cantina buscar algo para comer. Aqui estão as chaves da casa. — disse Qin Nian.
— Não precisa. Não estou cansada. Você descanse. Se tiver algo para fazer, pode ir. Ainda falta um tempo para o jantar, eu cuido disso. — Yang Yufen largou o cabo da cangalha e tirou as três galinhas da cesta de bambu nas costas. Deu água e folhas verdes para elas, pegou uma cesta de ovos e saiu.
Qin Nian ficou observando até ela sumir. Depois de pensar um pouco, decidiu segui-la.
Yang Yufen bateu na porta dos vizinhos. Uma mulher da mesma faixa etária apareceu.
— Olá, irmã. Sou Yang Yufen, mãe da Qin Nian. Meu filho foi em uma missão, e vim visitar minha nora. Não costumo dormir perto dos outros, e em casa não tem camas suficientes. Gostaria de pedir emprestado alguns bancos por uns dias. Esses ovos são das minhas galinhas. — explicou.
— Ah, vocês são da família da Pesquisadora Qin? São só alguns bancos? Já vou buscar para você, tenho alguns extras em casa. — respondeu a vizinha.
As famílias do instituto de pesquisa geralmente eram de boa índole. Quando Yang Yufen bateu nas portas das duas casas vizinhas para pedir emprestado, todas prontamente lhe emprestaram.
Qin Nian raramente interagia com os outros no dia a dia; costumava só acenar e cumprimentar. Ver sua sogra já pegando emprestado coisas dos vizinhos e trocando conversa com tanta naturalidade foi bem diferente do que o marido tinha contado.
— Mãe, e se eu dormir nesses bancos? — Qin Nian perguntou, olhando enquanto Yang Yufen rapidamente preparava a cama improvisada feita com os bancos. A sogra era bem mais alta que ela, e os bancos um pouco curtos. Como dormiria confortavelmente? Mesmo esticando os pés, eles ficariam pendurados no chão.
— Vai ter que se virar por uns dias. Amanhã vou comprar algumas tábuas e faço uma cama de verdade. Depois só penduro uma cortina. Você gosta de comida apimentada? — Yang Yufen mudou de assunto de repente.
— Não gosto. — respondeu Qin Nian, quase sem pensar. Viu Yang Yufen se virar e entrar na cozinha.
— Vamos comer algo simples hoje. — disse a sogra, acendendo o fogo, limpando a panela, colocando óleo e quebrando dois ovos.
Qin Nian olhou para a tigela cheia de macarrão com ovos. Embora fosse macarrão seco, os ovos tinham um cheiro delicioso. Fritaram na banha, e a sogra havia trocado verduras e cebolinha com a vizinha para colocar na massa.
Qin Nian tentou se alimentar, mas o apetite sempre fora fraco, e ainda sobrou um pouco na tigela.
— Você come tão pouco? — Yang Yufen olhou para o macarrão que restava. Não era à toa que ela era tão magra. Franziu a testa.
— Mãe, não me mexo muito nos dias normais, então como pouco. Depois eu termino. — Qin Nian se sentiu envergonhada. Era a primeira visita da sogra, e ela não tinha preparado nada. Além de a sogra dormir nos bancos, ainda cozinhara para ela e deixara tanta comida.
— Termina esse ovo. O macarrão não fica bom se ficar esperando muito. Depois, se estiver com fome, cozinha mais. — Yang Yufen disse isso, despejou o macarrão da tigela de Qin Nian na dela, pegou o ovo intacto da própria tigela e colocou na dela, baixou a cabeça e começou a comer.
Qin Nian olhou para o ovo na tigela. Só tinham quebrado dois ovos, e a sogra já tinha comido um.
— Come rápido. Já está tarde, vá dormir cedo. Amanhã tem trabalho, né? Lembre-se de arranjar um tempo para pegar a mesada do seu marido. — disse Yang Yufen, que comeu em poucos bocados. Quem era do campo sempre estava ocupado, por isso comia depressa.
— Tá. — Qin Nian voltou à realidade, comeu o ovo e logo foi lavar as tigelas.
Como a sogra cozinhara a refeição, não seria justo nem lavar as tigelas.
Enquanto Qin Nian lavava, Yang Yufen tinha fervido água no fogão a carvão enquanto preparava o macarrão — água na temperatura certa para a limpeza.
No quarto, Qin Nian pensou um pouco e tirou do baú seu salário e vários vales.
Com a sogra em casa, não dava para mandá-la embora. Pelo jeito, não sairia tão cedo. Provavelmente esperaria o marido voltar.
Mas o marido fora criado só pela mãe, não podia voltar para a vila para morar com ela. Ou seja, era questão de tempo até ter que receber a sogra para sustento.
Qin Nian tirou cinquenta yuans. Shen Xianjun, como líder de pelotão, recebia só cinquenta e dois yuans de mesada por mês.
Quando casaram, ele deu quinhentos yuans e um relógio como presente de noivado, e o dinheiro ficou com Qin Nian.
Ela não ousava dar muito nem pouco demais, afinal, estavam começando a se entender. Cinquenta yuans mais os vales dava para uma família comum passar de três a cinco meses.
— Mãe, Xianjun está em missão. Talvez eu não tenha tempo de pegar a mesada dele amanhã. Pode ficar com isso por enquanto. — Qin Nian disse.
Yang Yufen olhou, pegou o dinheiro, contou vinte yuans e devolveu os trinta restantes.
— Isso basta. Vai descansar, que eu também estou com sono. — Depois disso, largou o dinheiro e deitou para dormir de verdade. Qin Nian apagou a luz e voltou para seu quarto.
Com o dinheiro na mão, Yang Yufen era uma mulher capaz. Se não fosse, não teria criado o filho sozinha e o colocado no exército. Embora nunca tenha pedido a mesada a Shen Xianjun, ele não era do tipo que não mandava dinheiro para casa.
Ao longo dos anos, especialmente depois do sistema de responsabilidade familiar, Yang Yufen juntou mais de mil e seiscentos yuans, que seriam o dote para o casamento do filho.
Só que ele se casara escondido, sem pedir o dinheiro, então o dinheiro continuava com ela.
Na manhã seguinte, quando Qin Nian acordou, sentiu um aroma delicioso.
— Levanta. Come essa tigela de mingau com ovo antes de ir trabalhar. — disse Yang Yufen.
— Tá, mãe. Vou levar o almoço da cantina ao meio-dia. A senhora não precisa cozinhar. — Qin Nian reclamou por ter acordado tarde. Pensara demais na noite anterior e só conseguiu dormir tarde.
— Tá bom. — dessa vez Yang Yufen não disse que não precisava. Comeu as panquecas mergulhadas no molho com o mingau. Quando terminou, Qin Nian já tinha saído para o instituto.
Yang Yufen bateu na porta da família Liu, que tinha lhe emprestado um banco no dia anterior.
— Irmã Liu, já arrumaram tudo? — perguntou.
— Já, já. — A tia Liu saiu carregando uma cesta de verduras. As duas tinham combinado de ir ao mercado juntas naquele dia.
— Venha provar minha comida. Hoje vou precisar que você me mostre o caminho, irmã Liu. — disse Yang Yufen.
— Ah, eu também vou ao mercado. Passa no caminho. Esse molho daqui está com um cheiro ótimo. Você fez? — a tia Liu pegou a panqueca sorrindo.
— Sim, o segredo do molho de soja é de família há gerações. Faço dois potes grandes por ano. Vou te dar um pouco depois. Pena que não dá para levar muito. Quando fizer mais, te convido para vir. — respondeu.
Enquanto isso, Qin Nian foi para o escritório do tutor.
— Não tinha aprovado sua folga? Por que está aqui hoje? — perguntou o tutor.
— Minha sogra está bem, por isso voltei. Estamos numa fase crucial, não quero perder. — respondeu Qin Nian.
— Tem certeza que não há problema com sua sogra? — insistiu.
— Sim. — Qin Nian assentiu, séria.
Capítulo 4 — A Colega Provocadora
— Certo, a verificação dos dados precisa ser absolutamente precisa. Se você tiver certeza de que não há nenhum problema, começaremos os preparativos hoje.
O diretor Hu falou com a máxima seriedade.
Qin Nian assentiu. Eles ainda não tinham acesso a máquinas eletrônicas de cálculo em grande escala, então a maior parte dos dados experimentais precisava ser verificada manualmente.
Enquanto isso, Yang Yufen, armada com um bom número de cupons de racionamento, saiu para fazer compras, abastecendo-se com itens de uso diário. Até conseguiu um bom pedaço de carne com a ajuda da tia Liu.
— Chegamos cedo — essa barriga de porco premium é difícil de conseguir.
Tia Liu estava radiante com a colheita do dia e levou Yang Yufen a mais alguns lugares em seguida.
— Os invernos aqui são frios de verdade. Esse é o depósito de carvão. Com base na posição da sua nora, vocês têm direito a vinte e cinco quilos de carvão por mês. No verão o consumo é menor, então dá pra guardar pro inverno ou trocar por gás. Mas gás exige botijão especial, e isso também precisa de cupom.
Yang Yufen assentiu. A vida ali não era como na roça, onde sempre havia lenha à disposição. Ainda assim, se perguntou se aquela quantidade de carvão seria suficiente. Precisaria perguntar ao filho depois se ele tinha algum cupom de carvão extra.
Em seguida, pararam no depósito de madeira. Tábuas não exigiam cupons, e até havia camas de madeira maciça prontas à venda. Mas Yang Yufen era econômica, então comprou apenas algumas tábuas, vigas e sobras de madeira, além de quatro banquinhos. Pediu para entregarem tudo no conjunto residencial do instituto de pesquisa.
Depois, foram até a cooperativa de abastecimento e marketing. Yang Yufen trocou seus cupons de açúcar por açúcar mascavo e balas White Rabbit, além de comprar uma lata de leite maltado em pó.
— Esse leite maltado e essas balas White Rabbit são disputadíssimos! Irmã Yang, você deu sorte demais. Eu já vim aqui tantas vezes e nunca consegui pegar nenhum, mas hoje, com você junto, conseguimos tudo! E ainda esse tecido com defeito... só por isso já valeu a viagem. Da próxima vez, faço questão de te chamar de novo.
Tia Liu estava exultante. Apesar de terem gasto bastante, conseguiram itens que normalmente eram difíceis de encontrar.
Saíram às sete da manhã e voltaram ao conjunto residencial às dez. O pequeno pátio de Qin Nian era bem vazio, então Yang Yufen pegou emprestado um martelo, uma pá e um serrote com a tia Liu ou por meio de conhecidos.
Com marteladas e serradas, em menos de uma hora ela montou uma cama e um baú de madeira. Ainda usou os restos para fazer um galinheiro e um banquinho baixo.
— Irmã, você é uma faz-tudo de mão cheia! Quem diria que sabia fazer tanta coisa?
Tia Liu, sentada ali perto descascando legumes, observava Yang Yufen trabalhar.
Se fosse um homem fazendo isso, tia Liu não teria ficado tão impressionada.
— Não é nada demais. Meu avô e meu pai eram carpinteiros. Cresci vendo os dois trabalharem e sempre ajudava, então fui aprendendo naturalmente.
Yang Yufen pensava que depois precisaria aplicar óleo de tungue no baú para aumentar sua durabilidade.
Depois de refazer a cama, martelou dois pregos longos na parede, amarrou uma corda e pendurou o tecido com defeito que tinha comprado, cortando e costurando para fazer uma cortina.
Tia Liu precisou ir correndo preparar o almoço — seus dois netos chegariam logo.
Assim que terminou, Yang Yufen varreu todo o pátio, guardando as aparas e lascas de madeira para usar como lenha.
Qin Nian ainda não tinha voltado, então Yang Yufen limpou um pedaço de terra no pátio, planejando plantar alguns vegetais.
De repente, sentiu uma cólica no estômago. Fechou o portão e viu uma fila de pessoas esperando pela latrina coletiva. Suspirou — isso era muito inconveniente. Lá na roça, cada casa tinha seu próprio banheiro.
No dia a dia até dava pra aguentar, mas para uma mulher grávida, ter que esperar fila assim seria um sofrimento.
No refeitório do instituto de pesquisa:
— Qin Nian, ouvi dizer que sua sogra chegou? Ela não está te dando trabalho, está?
A colega Yi Mengling se aproximou sorrateiramente.
— Sim, ela chegou. Preciso voltar, então não posso conversar agora.
Qin Nian pediu dois pratos com carne, dois com legumes, quatro liang de comida básica e dois pãezinhos cozidos no vapor, embalando tudo numa marmita antes de sair apressada com a sacola.
Sua sogra tinha um bom apetite. Qin Nian mesma só precisava de cerca de um liang de alimento básico, então o restante era para Yang Yufen.
Yi Mengling observou Qin Nian praticamente fugir, cerrando os lábios com desagrado. As duas eram pesquisadoras, mas Qin Nian, que havia entrado um ano depois no instituto, recebia orientação direta do diretor e era designada para projetos importantes, enquanto ela ficava pulando entre a equipe dois e três.
Qin Nian, alheia a esses pensamentos, pedalava de volta para casa às pressas. Estava tão atarefada que quase se esqueceu de que a sogra havia chegado. Pegou emprestada uma marmita, correu até o refeitório e pedalou como se a bicicleta tivesse rodas de vento e fogo.
Já era agosto ou setembro, mas o clima ainda não estava fresco. Qin Nian chegou em casa encharcada de suor.
— Pra que tanta pressa? Eu mesma poderia ter feito algo pra comer.
Yang Yufen lhe entregou um copo de água. Qin Nian, ainda afobada, aceitou e tomou um gole sem nem olhar.
Era doce — com açúcar mascavo. Não era enjoativo, na medida certa.
Ter a sogra por perto... não era tão difícil quanto imaginava.
O pátio estava transformado — terra recém-revolvida, uma galinha ciscando no canto, e uma parte da sala principal agora separada com um tecido azul-escuro e grosso.
Quando se casou com o marido, ela não sentiu muita coisa. Apenas havia chegado à idade certa, e como o orientador garantiu o caráter dele, ela aceitou.
Mas a chegada da sogra despertava sentimentos desconhecidos.
Enquanto comiam juntas, Yang Yufen percebeu que Qin Nian evitava carne gorda — não era à toa que era tão magra.
— Mãe, minha pesquisa está entrando numa fase crítica. A partir de amanhã, vou estar muito ocupada e talvez não consiga voltar pra almoçar. Vai durar mais ou menos meia semana. Aqui — vou te entregar o caderninho de pensão do Xianjun. Você pode sacar os fundos no distrito militar quando precisar. Tem um ônibus do conjunto residencial até lá, e já te dei o passe mensal.
Qin Nian respirou fundo antes de falar.
Yang Yufen franziu o cenho. Meia semana sem almoçar em casa? Não era à toa que a moça estava tão magra.
— Se não quiser cozinhar, pode comer no refeitório do instituto. Vou te dar cupons de refeição e providenciar um passe hoje à noite pra você poder comer direto lá.
Qin Nian não queria abrir mão dessa rodada de cálculos de dados.
— Não precisa. Eu cozinho em casa. Só cuide bem de você. Vai voltar pra casa à noite?
— Ah, sim, volto sim.
Qin Nian estava preparada para receber resistência, mas, para sua surpresa, a sogra concordou.
— Ótimo. Foque no seu trabalho, mas não se esqueça de comer.
Yang Yufen pegou a marmita para lavar, mas Qin Nian rapidamente a tomou das mãos.
— Mãe, eu levo de volta pro instituto pra lavar e devolver pra dona.
Yang Yufen apenas assentiu. Assim que Qin Nian saiu novamente com pressa, ela foi procurar a tia Liu.
— Irmã Liu, não foi você que disse que seu banquinho estava bambo? Deixa que eu conserto pra você.
— Irmã Yang, entra! Você tá tão ocupada — é só um banquinho, ainda dá pra sentar nele. Não precisa ter pressa!
Tia Liu agora estava mais tranquila. Sua rotina diária se resumia a comprar mantimentos e fazer tarefas leves. Seus dois netos, de sete e cinco anos, só precisavam de almoço — à noite, voltavam com os pais.
Capítulo 5 – Satisfeita, Próxima Vez Tem Mais
— Vai ser rapidinho. Já comi e estava só descansando. Mas, como não tinha com quem conversar, vim te procurar, irmã Liu — disse Yang Yufen, seguindo Aunt Liu para dentro da casa.
Aunt Liu havia se casado e tido filhos cedo, enquanto Yang Yufen se casara tarde — sua altura e porte físico afastavam muitos pretendentes. Ainda assim, as duas tinham a mesma idade, nascidas com menos de um mês de diferença.
— Que ótimo. Também fico sozinha na maior parte do tempo. Nosso pequeno pátio não é tão animado quanto os prédios lá do outro lado. Meu marido, meu filho e minha nora estão sempre no exército ou no instituto de pesquisa, saem cedo e voltam tarde. Às vezes, quando estão muito ocupados, passo dias sem vê-los. Pelo menos os dois netinhos trazem um pouco de alegria quando vêm.
Ao ouvir isso, os olhos de Yang Yufen pousaram em um banquinho no cômodo, e ela logo notou o problema.
— É esse aqui, né? Só precisa calçar com uma cunha de madeira. É fácil de resolver. Eles trabalham tanto assim no instituto? Nem conseguem voltar pra casa por dias? A Niannian também disse que está atolada e não vai conseguir vir almoçar.
Ela pegou o banquinho, tirou uma cunha de madeira do bolso e começou a moldá-la com a faca.
— É o ano inteiro assim. A orientadora da pequena Qin é a diretora do instituto, então ela vive ainda mais ocupada.
Aunt Liu percebeu que talvez tivesse falado demais e ia tentar mudar de assunto, mas Yang Yufen se adiantou:
— Deve ser muito desgastante, não é à toa que ela tá tão magrinha. Devia ter trazido aquele galo em vez de vender. Pelo menos hoje consegui comprar um pouco de carne.
Com algumas marteladas firmes, ela encaixou a cunha, depois aparou o excesso e lixou com a lâmina para garantir que não restassem farpas.
— Pronto.
— Você tem um coração tão bom, irmã Yang. A camarada Qin tem muita sorte de ter uma sogra como você.
Aunt Liu fez uma pausa, depois soltou uma risada.
— Quem tem sorte é meu filho por ter casado com a Niannian. Bonita, inteligente... Que tipo de homem vai pra uma missão logo depois de casar? Já está há anos no exército sem nem voltar pra casa. Parece até que doamos ele pras forças armadas.
Yang Yufen entregou o banquinho consertado para Aunt Liu.
— Dá uma olhada, irmã Liu.
— Uau, foi rapidinho! Que habilidade!
Aunt Liu balançou o banquinho — estava firme como novo.
— Preciso voltar e terminar o que comecei. Já preparei a terra, agora é hora de plantar as sementes.
— Você não para mesmo, hein? Mas se plantar agora, vai perder a colheita. Eu tenho umas mudas aqui — espera um pouco. Vou te levar até a irmã Wang. Ela adora jardinagem e tem mais mudas do que precisa. Ainda dá tempo de plantar pro outono.
— Ah, não quero incomodar. Deixa eu pegar uns ovos — ainda bem que trouxe aquelas três galinhas.
Disse Yang Yufen já indo buscar os ovos e uma cesta, antes de partir com Aunt Liu rumo à casa da irmã Wang, que ficava logo ali.
— Irmã Wang, tem muda sobrando aí?
Antes mesmo de entrar, Yang Yufen ficou impressionada com a vegetação exuberante que cobria a cerca. Ao passar pelo portão, se deparou com cachos de uvas roxas e maduras pendendo das parreiras.
— Tenho sim! Estou lá nos fundos — entra aqui.
Seguindo pelo caminho, as parreiras cobriam o caramanchão até o alpendre. Um lado do quintal era tomado por pés de bucha vegetal, o outro por cabaças, ambos subindo pelas paredes. Os canteiros estavam cheios de berinjelas e vagens, tudo plantado em fileiras organizadas.
— Que quintal mais bem planejado. Vou ter que copiar isso no meu.
Notando uma casinha de banheiro bem construída num canto, Yang Yufen fez uma nota mental para perguntar como construir uma igual depois.
Passando pela lateral oeste da casa, o quintal dos fundos revelou ainda mais cultivos, protegidos por armações de bambu.
— Chegou na hora certa. Estava justamente ralhando as mudas. Se não transplantar logo, elas vão atrapalhar o crescimento umas das outras. E quem é essa?
— Essa é a irmã Yang, sogra da camarada Qin. O filho dela tá em missão, então ela veio passar um tempo por aqui.
— Prazer, irmã Wang. Queria trocar por algumas mudas. Nunca vi tanta variedade! Seu jardim tá maravilhoso — até melhor do que o que a gente planta lá no campo.
Yang Yufen fez um sinal de aprovação com o polegar, o elogio vindo do coração.
— Também sou do interior — é só amor pela terra mesmo. Espera aí que vou separar as melhores pra você.
Dois ovos depois, a cesta de Yang Yufen estava transbordando de mudas. As duas conversaram como velhas conhecidas, os ovos quase caindo da cesta entre um gesto e outro, até que a irmã Wang finalmente os aceitou.
De despedida, ainda colheu dois cachos de uvas para elas.
Yang Yufen, casualmente, pediu uma muda da parreira e entregou à irmã Wang um pote de pasta de feijão fermentada feita por ela mesma.
— Essa visita só foi possível graças a você, irmã Liu. Se não fosse por isso, nunca teria conhecido a irmã Wang. Que pessoa generosa! Nunca tinha pensado em usar o quintal assim — é muito melhor que ficar entulhado num daqueles apartamentos apertados.
— Com certeza! Coloca uma cerquinha de bambu, planta umas hortaliças de inverno, e pronto, tá feita pro resto da estação.
Depois de lavar as uvas e deixá-las secando, Yang Yufen plantou todas as mudas antes de começar o jantar: arroz de grãos mistos com barriga de porco, berinjela e vagem.
Quando Qin Nian voltou, encontrou o quintal transformado mais uma vez.
— Voltou. Vai lavar as mãos que a janta tá pronta.
Yang Yufen surgiu, já puxando água.
— Mãe.
Qin Nian estacionou a bicicleta, lavou as mãos e foi ajudar — mas a comida já estava servida.
— Come.
Yang Yufen colocou diante da nora um prato de arroz bem compactado, sem margem pra discussão.
Qin Nian se sentou e pegou os hashis.
Ela não era exigente, apenas evitava carne muito gordurosa. A barriga de porco de hoje estava crocante, a gordura toda absorvida pela berinjela e pelas vagens.
Ao olhar para a tigela — a de sempre, não aquela maior do dia anterior — Qin Nian se perguntou por que estava tão cheia. "Deve ser a comida da sogra."
Sem pensar muito, estendeu a mão para recolher os pratos.
Silenciosamente, Yang Yufen foi ferver água. Ela tinha compactado bem aquele arroz — uma tigela era suficiente, contanto que estivesse cheia de verdade. "Da próxima vez, mesma tática."
— Tem uva na cesta, já tá lavada. Pra mim tá azeda demais — pode comer.
Na manhã seguinte, Qin Nian acordou e não encontrou mingau. Em vez disso, havia um ovo e uma tigela de leite maltado.
— Mãe, você devia guardar o leite maltado pra você. Eu ainda sou jovem.
— Come o que foi servido. Já fiz o meu.
Yang Yufen acenou com a mão, já do lado de fora alimentando as galinhas.
Três galinhas não eram suficientes. Se dava pra plantar no quintal, também dava pra criar mais aves — engordá-las até o inverno e preparar um banquete de Ano-Novo.
Observando a sogra cada vez mais ativa, Qin Nian tomou o leite maltado, guardou o ovo no bolso e correu para o instituto.
— Irmã Yang, por que tantos pintinhos assim?
Aunt Liu observava enquanto Yang Yufen escolhia trinta.
— Nem todos devem sobreviver. É melhor ter sobrando do que faltando — e são baratinhos mesmo.
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