Capítulo 103 e 104


 A jornada havia sido árdua, e o corpo de Yuchi Li estava, de fato, exausto. Esse acordo tinha sido fácil até demais, mas ela não se deu ao trabalho de pensar demais — no fim das contas, o resultado era positivo.

Com esse assunto importante finalmente resolvido, era como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. Ela caminhava leve, de mãos dadas com Liu Luoyi, cantarolando baixinho o caminho todo até sua residência.

— Xiao Liu’er, que tipo de roupa de casamento você gosta? — ela perguntou.

— Hm… quanto mais esplêndida, melhor. Não podemos deixar que ninguém olhe para você com desdém. Em algum momento, vou sair e encontrar o melhor artesão para fazer um conjunto de enfeites de cabelo para você — Yuchi Li continuou, falando sozinha. Sentia-se satisfeita só de imaginar a cena do casamento em sua mente.

Liu Luoyi permaneceu em silêncio o tempo todo, ficando cada vez mais feliz conforme ouvia. Não conseguiu evitar apoiar a cabeça no ombro de Yuchi Li, sorrindo de puro contentamento.

Ela finalmente iria se casar com sua amada.

Era como um sonho. Ela até se beliscou discretamente, só soltando quando doeu.

As duas chegaram à residência e viram Xin Ran esperando na entrada. Assim que as viu, ela se aproximou com uma expressão de descontentamento.

— O que houve? — Yuchi Li olhou para a porta fechada, confusa, depois para o semblante franzido de Xin Ran.

— Xiao An não me deixou entrar, disse que queriam te fazer uma surpresa, Princesa — ela resmungou.

— Uma surpresa? — Yuchi Li coçou a cabeça. Na verdade, não queria nenhuma surpresa; preferia apenas dormir um pouco.

Mas, como eram elas tentando recepcioná-la com uma refeição, não seria apropriado desprezar a boa vontade delas, então só lhe restou esperar do lado de fora. Aproximadamente o tempo de queimar um incenso[1] se passou até a porta se abrir e Yuchi Die sair, completamente molhada.

Seu corpo estava úmido, o tecido vermelho da roupa colado à pele, realçando suas curvas.

Yuchi Die enxugou o rosto, jogou o cabelo molhado para trás e caminhou direto até Liu Luoyi, colocando o braço em seus ombros — fazendo Liu Luoyi congelar no lugar.

Yuchi Li rapidamente estendeu o braço para bloqueá-la:

— Irmã, o que você está aprontando agora?

— Estou exausta e com essa aparência por sua causa. Estou levando a Xiao Liu’er para escolher algumas roupas — respondeu Yuchi Die, olhando com desgosto para suas próprias roupas ensopadas.

Dito isso, agarrou Liu Luoyi e a arrastou para longe. Yuchi Li não conseguiu impedi-las e ficou olhando as costas das duas se afastarem, completamente perplexa.

Depois de mais um tempo de incenso, Yuchi Li já estava caindo de sono. Deu um enorme bocejo e se jogou sobre Xin Ran, lamentando:

— Como ainda não terminaram? Estou com tanto sono…

Xin Ran se inclinou um pouco para que Yuchi Li pudesse se apoiar com mais conforto. Disse, desconfortável:

— Princesa, por que não vou bater e apressá-las um pouco?

Ela assentiu energicamente, mas, nesse exato momento, a porta se abriu novamente. An Ge espiou para fora. Lançou um olhar furtivo a Yuchi Li e saiu com passos igualmente discretos.

Estava completamente ensopada, parecendo um trapo.

Yuchi Li olhou para ela, desamparada, sentindo que todo mundo ao seu redor estava se comportando de forma estranha naquele dia.

— Já terminaram? — Yuchi Li foi quem falou primeiro.

An Ge assentiu. Sua expressão era um tanto estranha, como se estivesse nervosa, constrangida e, ao mesmo tempo, solidária — só de ver isso, um arrepio subiu pela espinha de Yuchi Li.

— Depois da senhorita, Segunda Princesa — disse An Ge, virando-se de lado e fazendo um gesto convidativo.

Yuchi Li olhou em volta, imaginando que Liu Luoyi ainda estivesse ocupada com Yuchi Die, sem poder vir por enquanto. Então, decidiu entrar para esperá-la. As três caminharam até a porta, com Yuchi Li à frente e An Ge atrás. Quando Xin Ran estava prestes a entrar, An Ge fechou a porta com agilidade.

A porta de madeira bateu com um estrondo, quase atingindo o nariz de Xin Ran. Ela pulou para trás para desviar e, quando se deu conta, a porta já estava trancada.

— Princesa? Xiao An! Abram a porta! — Xin Ran gritou com toda a força.

Sem resposta.

Yuchi Li deu alguns passos para frente, atordoada, antes de virar a cabeça, por fim, e olhar para trás. Ergueu uma sobrancelha e perguntou a An Ge:

— E a Xin Ran? Ela estava aqui agora há pouco.

— Disse que estava ocupada e foi resolver isso — respondeu An Ge, mentindo descaradamente. — Por favor, entre, Segunda Princesa. Sua subordinada irá buscar a Princesa mais velha.

Yuchi Li assentiu, desconfiada. Continuava com a sensação de que algo estava errado, mas não investigou mais a fundo. Passou pelo biombo e entrou sozinha.

Foi então que percebeu o que havia de estranho. Todo o ambiente estava impregnado de uma fragrância especial — ao mesmo tempo aromática e refrescante. Além disso, não havia nenhuma criada presente, o que era incomum.

Sua residência era enorme, com muitos cômodos. O quarto onde ficava sua cama estava trancado com uma fechadura de bronze simples. Ela a sacudiu, sem sucesso, e continuou pelo corredor.

Estava curiosa para ver o que, afinal, Yuchi Die estava aprontando.

Contudo, todas as portas acessíveis estavam trancadas. Ela seguiu adiante até, finalmente, conseguir abrir uma. Nunca tinha entrado naquele cômodo antes. Presumiu que fosse um antigo quarto de reserva.

Assim que abriu a porta, nuvens de vapor a forçaram a recuar alguns passos. O ar exalava uma fragrância intensa. Pega de surpresa, Yuchi Li inalou uma boa quantidade, o que fez sua cabeça girar. Correu a cobrir o nariz e a boca, interrompendo a respiração com o auxílio de sua técnica marcial.

O vapor tomava todo o espaço. Embora o cômodo fosse grande, a visão estava completamente obscurecida por uma névoa densa.

Yuchi Li hesitou por um momento antes de continuar. O chão escorregava sob os pés, então ela simplesmente tirou as botas e seguiu descalça.

No centro do quarto havia uma piscina rebaixada, de onde saía a maior parte do vapor. A superfície da água estava salpicada de pétalas de flores — perfumadas, coloridas e etéreas.

Yuchi Li finalmente entendeu o que Yuchi Die estava tentando fazer. Suspirou e quase riu de raiva. Algo assim só poderia ter vindo da cabeça dela.

Um clique soou na porta atrás dela. Yuchi Li nem precisou olhar para saber que havia sido trancada.

Parece que fui feita de boba mesmo, pensou, balançando a cabeça.

Havia algo mais visível através da neblina. Yuchi Li enxugou as pálpebras úmidas e entrou com cautela. Além da piscina, havia outra seção com um grande divã de beleza[2].

Sobre ele estava deitada uma mulher.

Ela vestia branco — embora dizer isso fosse um pouco impreciso, já que sua roupa, originalmente fina como a asa de uma cigarra, agora estava encharcada e grudada ao corpo, tornando sua silhueta claramente visível.

Especialmente o par de pernas longas e esguias, dispostas em um arco suave sobre o divã vermelho — uma visão capaz de mexer com qualquer um.

Yuchi Li sentiu uma onda de calor subir pelo nariz. Virou-se imediatamente, cobrindo o rosto com a mão. Felizmente, nenhum sangue escorreu naquele momento para completar a vergonha.

Por dentro, ela amaldiçoava Yuchi Die por inventar ideias tão maliciosas e agir sem pensar duas vezes. Assim que eu sair daqui, nem venha com essa de “irmã mais velha”, porque eu vou bater nela mesmo.

Yuchi Li apressou-se em tirar o manto externo e recuou desajeitadamente, pretendendo cobrir Liu Luoyi com ele de alguma forma.

Mas não conseguiu, porque Liu Luoyi agarrou o manto e o jogou de lado.

Surpresa, Yuchi Li virou-se para ver os olhos úmidos de Liu Luoyi se abrindo. Seu olhar estava um pouco perdido, e ela encarava Yuchi Li sem se mover.

Yuchi Li engoliu em seco. Coçou a cabeça, constrangida, sem saber para onde olhar. Só conseguiu fixar os olhos no topo da cabeça de Liu Luoyi. Seus cabelos negros estavam espalhados, fluindo como um riacho escuro sobre o divã de beleza.

Droga, como até o cabelo dela podia ser tão bonito? Yuchi Li se alarmou e desviou rapidamente o olhar, fixando os olhos no incensário ornamentado à esquerda. A fumaça branca subia em espirais suaves, espalhando o aroma intenso pelo aposento.

Yuchi Li pegou um punhado de água da piscina e jogou no incensário. Só então sentiu o calor em seu corpo arrefecer um pouco.

— Xiao Liu’er, por que você não se levanta? — Yuchi Li estendeu a mão para puxar Liu Luoyi, mas teve sua mão afastada por ela.

Yuchi Li então notou que Liu Luoyi estava mais corada que o normal. Aproximou-se. O cheiro de álcool emanava dela, mas felizmente não havia bebido tanto — não ao ponto de perder o juízo como da última vez.

— A Princesa mais velha disse que, como você ainda não me pediu em casamento formalmente, eu não posso me casar com você — Liu Luoyi falou de repente. Sua voz era suave e arrastada, com um toque de languidez embriagada.

— Então vamos sair daqui, e eu te peço em casamento — Yuchi Li sorriu, impotente.

Liu Luoyi balançou a cabeça. Virou o corpo, recostando-se de novo. Seus olhos pareciam os de um pequeno animal selvagem: puros e cristalinos.

Com isso, Yuchi Li definitivamente não sabia mais onde olhar. Sentiu seu sangue ferver outra vez, as veias prestes a explodir.

— Então… — Yuchi Li murmurou, tateando o próprio corpo. Não encontrou nada com que pudesse cobrir a visão, mas ainda tinha as faixas dos braços. Eram originalmente para proteger de cortes e arranhões, mas serviriam.

Ela retirou as faixas e, apreensiva, colocou-as ao lado de Liu Luoyi, depois fugiu para longe antes de dizer:

— Isso deve servir, por enquanto… depois eu procuro algo melhor.

— Certo, então eu aceito me casar com você, A’Li — Liu Luoyi sorriu, colocando as faixas. Elas não eram exatamente do seu tamanho, mas ela as vestia radiante.

— Por que você tá aceitando? Eu nem pedi ainda! — Ao ouvir a resposta, Yuchi Li não sabia se ria ou chorava. Disse, como quem tenta convencer uma criança:

— Tá bom, eu te pedi, e você aceitou. Agora vamos sair daqui, pode ser?

Liu Luoyi balançou a cabeça lentamente. Apoiada com uma mão no divã de beleza, tentou se levantar, mas por estar embriagada, começou a tombar para trás.

Yuchi Li correu para segurá-la. Com uma mão agarrou o ombro dela e com a outra segurou a perna que já havia escorregado do divã, endireitando-a. A sensação era lisa, como segurar uma raiz de lótus recém-descascada.

Liu Luoyi sentou-se e virou lentamente para Yuchi Li. Foi nesse momento que Yuchi Li percebeu quão imprópria era a posição delas, e imediatamente soltou sua mão, recuando alguns passos.

Sua mente estava um caos completo, diferente de qualquer coisa que já tivesse sentido. Era como se fosse uma pessoa completamente distinta, sem controle sobre corpo ou pensamentos.

Liu Luoyi se levantou e avançou cambaleando. Era como se só enxergasse Yuchi Li à sua frente. Yuchi Li não conseguiu recuar, então recebeu o abraço obedientemente.

O corpo dela era macio, ainda mais do que o habitual, em seus braços. Yuchi Li começou a se arrepender de ter tirado o manto externo, pois, se o estivesse usando, a sensação teria sido mais atenuada.

Se soubesse disso antes, teria colocado uma armadura. Com certeza ajudaria na situação.

— Não se mexe — Yuchi Li disse com a voz rouca.

Liu Luoyi passou os braços por baixo dos de Yuchi Li, acariciando suas costas. Levantou o rosto, como se quisesse beijá-la, mas Yuchi Li, instintivamente, começou a recuar.

Não era sua intenção agir com tanta hesitação, mas seu corpo estava fora de controle.

E então pisou no vazio. Ah não, pensou, mas já era tarde. As duas caíram na piscina, a água espirrando por todos os lados. A piscina já estava quase transbordando, e todo aquele volume se espalhou pelo chão, criando uma grande bagunça encharcada.

O vapor logo as envolveu. Yuchi Li engoliu alguns goles d’água antes de conseguir se firmar e emergir.

Apresou-se em puxar Liu Luoyi para cima, mas, por causa das pétalas na água, sua visão estava limitada. Tudo que pôde fazer foi agir no instinto e agarrar as partes que conseguisse — o que resultou em tocar, mais de uma vez, em lugares que não devia.

Quando Liu Luoyi finalmente se levantou, as bochechas de Yuchi Li ardiam de vergonha.

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Notas de rodapé

↑1 Cerca de 5 a 30 minutos.

↑2 Měirén tà (美人榻), um tipo de mobília usado por mulheres, semelhante a um divã de beleza. (A imagem está no final do capítulo.)


— Está tudo bem? — Yuchi Li apressadamente enxugou a água do rosto.
Liu Luoyi tossiu algumas vezes, então abriu os olhos, ficando um pouco mais sóbria.
Por um momento, ela pareceu confusa quanto à situação em que se encontrava agora.
A água da piscina era bem profunda. Mesmo de pé, as duas estavam com a água quase chegando ao peito. Para Yuchi Li, tudo bem. Já Liu Luoyi tinha apenas os ombros expostos, e seus ombros, já naturalmente pálidos, pareciam feitos de jade branco sob a água, em contraste com as pétalas rosadas ou alvas flutuando. Tão delicada quanto uma obra-prima.
Ela estendeu a mão para fora da água, e o bracelete de prata pendia de seu pulso, fundindo-se com o brilho ao redor como se fosse um só com ela.
Liu Luoyi afastou os cabelos molhados que caíam sobre seus olhos, jogando-os para trás. Foi um gesto involuntário, mas carregava uma leve sugestão de sedução. Comparada à frieza habitual, parecia até outra pessoa — e Yuchi Li não pôde evitar morder o lábio inferior com força.
Ela só conseguiu conter aquele impulso quando sentiu o gosto de sangue na boca.
— Xiao Liu’er, vamos sair daqui — disse, tentando ajudar Liu Luoyi a se levantar.
No entanto, Liu Luoyi a surpreendeu agarrando seu braço. Então, escorregou como uma enguia molhada por entre as mãos de Yuchi Li, enroscando-se nela.
Na água fumegante, tudo parecia ainda mais nebuloso. Yuchi Li não conseguiu deixar de olhar para baixo. Os olhos de Liu Luoyi ainda estavam um pouco turvos de embriaguez, mas havia mais neles: uma timidez translúcida. Seu rosto estava corado, como se tivesse sido tingido pelas flores em plena floração do lago, tornando-se encantadoramente provocante.
Ela se apoiou em Yuchi Li, como um botão de flor molhado pela chuva, prestes a desabrochar. Yuchi Li tentou vesti-la com suas roupas que já estavam frouxas da água, mas o movimento apressado tornou tudo ainda mais embaraçoso.
— A’Li... — murmurou Liu Luoyi. Estava claramente um pouco embriagada. Sua voz arrastava um tom longo e suave. Ela franziu os lábios avermelhados, com um olhar queixoso. — Você está fugindo de mim...
— Eu não estou — respondeu Yuchi Li em voz baixa, desviando o olhar.
Era a primeira vez que passava por uma situação assim. Seu coração estava em tumulto e suas mãos hesitavam até em tocar a pele de Liu Luoyi.
— Então por que não me abraça? — Liu Luoyi questionou, agarrando teimosamente a manga de Yuchi Li e puxando-a levemente, como se tivesse sofrido uma grande injustiça.
— A’Li... — havia um choro contido em sua voz.
Como Yuchi Li poderia resistir a um pedido tão suplicante? Apertou as mãos, angustiada, e então a envolveu num abraço apertado, sentindo aquele corpo quente junto ao seu. Sua bochecha encostou na testa de Liu Luoyi, e ela percebeu que a temperatura da outra estava elevada — anormal.
Com delicadeza, afastou os cabelos molhados e bagunçados do rosto de Liu Luoyi, murmurando:
— Xiao Liu’er, a gente vai se casar em breve...
— O que a minha irmã fez com você? — Yuchi Li perguntou em seguida.
— A princesa me deu uma taça de vinho... depois me trouxe até aqui e disse... disse pra eu te esperar — Liu Luoyi tentou se explicar, embora sua voz estivesse arrastada. Sentia-se tonta e muito desconfortável.
— Ela é tão irresponsável... Por que você foi escutar o que ela disse? — Yuchi Li a repreendeu suavemente.
Liu Luoyi ficou em silêncio por um momento, até perceber que, de fato, não fazia muito sentido:
— Ela disse que, se fosse te dar uma surpresa assim... você ficaria feliz...
Yuchi Li sentiu algo apertar de novo em seu peito. Estava trêmula, com o coração doendo, e seus olhos começaram a embaçar. Uma pessoa tão esperta como Liu Luoyi sempre ficava boba quando se tratava de mim...
Uma garota assim... eu realmente não sei o que fazer com ela...
— A’Li, eu tô me sentindo meio mal... — Liu Luoyi murmurou, apertando ainda mais o corpo contra o de Yuchi Li, como se tivesse finalmente encontrado algum tipo de antídoto.
Yuchi Li olhou para o incensário que havia apagado e balançou a cabeça. Por fim, inclinou-se e aproximou os lábios do ouvido de Liu Luoyi, dizendo suavemente:
— Você sabe o que vai acontecer?
Ao ouvir aquelas palavras, uma onda de timidez tomou conta do coração de Liu Luoyi. Ela assentiu, mas logo em seguida balançou a cabeça, parecendo completamente inocente e sem saber direito o que fazer.
Yuchi Li mordeu o lábio e, de repente, enfiou a mão na água, passou o braço por trás dos joelhos de Liu Luoyi e a ergueu no colo. Ao ser tirada repentinamente da água quente, Liu Luoyi sentiu um sopro de ar frio e se encolheu nos braços de Yuchi Li.
A jovem estava encharcada, com as roupas já um tanto translúcidas. Temendo que Liu Luoyi pegasse um resfriado, Yuchi Li ativou sua leveza corporal e flutuou até o chão, respingando água por onde passava e encharcando o piso mais uma vez.
As pétalas agitadas na piscina voltaram a se reunir, espalhando um perfume doce e luxuoso.
Yuchi Li caminhava descalça pelo chão gelado. O frio sob seus pés, no entanto, não era capaz de apagar o fogo que ardia em seu coração. O corpo que carregava em seus braços era frágil como seda, macio e escorregadio, e possuía uma atração quase fatal.
A cada passo, esse desejo se intensificava, deixando-a tonta.
A porta ainda estava trancada, mas Yuchi Li não hesitou. Levantou a perna e deu um chute. Ouviu-se apenas um estrondo — poeira por toda parte — e a porta caiu no chão junto com a moldura. A névoa de vapor misturou-se à poeira, tornando tudo ainda mais turvo.
Ela caminhou decididamente até o quarto, deixando para trás uma trilha de pegadas molhadas, e um ruído súbito se fez ouvir no fim do corredor. Yuchi Li ergueu a mão, pegou uma conta decorativa pendurada na parede e a lançou em direção ao som. A conta descreveu um arco invisível no ar e acertou alguém diretamente.
Houve apenas um baque surdo, e então o som cessou.
A porta do quarto já estava destrancada. Yuchi Li entrou a passos largos, fechou a porta com firmeza e, com muito cuidado, deitou Liu Luoyi sobre a cama limpa e plana.
Liu Luoyi de repente sentiu um frio à sua frente, e a vergonha imediatamente tingiu todo o seu corpo de vermelho. Apavorada, esticou a mão para puxar o cobertor, mas Yuchi Li segurou seu pulso — ela não conseguiu se mover.
Ela piscou, encarando Yuchi Li com os olhos arregalados, o coração disparado de uma hora para outra.
Yuchi Li já havia tirado a túnica externa, restando apenas a camisa branca por baixo. Molhada como estava, delineava perfeitamente as curvas de seu corpo. Agora ela se inclinava sobre Liu Luoyi, com gotas d’água escorrendo pelos cabelos úmidos, descendo pela curva perfeita da mandíbula, e pingando do queixo até sua clavícula.
Gota após gota, acompanhando as batidas do coração — como o som ritmado de um tambor.
Liu Luoyi podia sentir o calor que emanava do corpo de Yuchi Li, tão intenso quanto o seu. Então, a mão de Yuchi Li tocou sua bochecha.
Liu Luoyi estremeceu por completo, quase soltando um grito, mas Yuchi Li tapou sua boca.
Yuchi Li curvou levemente os lábios num sorriso suave. Inclinou-se ainda mais e sussurrou em seu ouvido:
— Ainda não é hora de chamar, Xiao Liu’er.
Liu Luoyi ficou corada de novo, completamente. Apertou as palmas das mãos com força, e seus olhos se fixaram em Yuchi Li, cheios de timidez diante do desconhecido... e com uma pitada de expectativa impaciente. Ela se moveu, sem conseguir evitar — e foi novamente contida por Yuchi Li, que segurou sua cintura.
— Você provocou isso. — disse Yuchi Li, beijando suavemente o lóbulo da orelha de Liu Luoyi, e depois usando o queixo para afastar os fios azulados que cobriam seus olhos.
O toque em sua bochecha já havia deixado Liu Luoyi desconfortável — quase a ponto de desmaiar.
— Não chore. — disse Yuchi Li com um sorriso. Inclinou-se para beijar seus lábios de novo, como se fossem um tesouro frágil, repetidas vezes, com exigências irracionais.
— Por que... — murmurou Liu Luoyi timidamente. Seus olhos já estavam vermelhos, e seu corpo parecia tão mole quanto a água derramada no chão há pouco, incapaz de sustentar-se por si mesma, entregue completamente ao outro.
— Se você chorar, não vou conseguir fazer nada. — disse Yuchi Li. Então, de repente, estendeu a mão para apoiar a nuca de Liu Luoyi, e as palavras que ela não conseguiu terminar foram seladas por seus lábios, desfeitas em um sussurro quebradiço.
Aquele beijo era diferente dos anteriores — Liu Luoyi pensou, atordoada. Sem conseguir se conter, escapou do controle de Yuchi Li e se jogou em seus braços, como se buscasse proteção... ou rendição.
Para sua surpresa, Yuchi Li a afastou de novo, pressionando-a contra a cama da mesma forma que antes. Liu Luoyi se sentiu magoada outra vez — Yuchi Li nunca havia sido tão ríspida assim.
Mesmo usando uma força muito leve, ela a havia empurrado. Ela me empurrou, pensou Liu Luoyi. Com um suspiro contido, tentou se afastar do beijo de Yuchi Li, mas não conseguiu. Pelo contrário, foi beijada com ainda mais intensidade.
Quando o beijo finalmente terminou, Yuchi Li a envolveu com um braço novamente. Liu Luoyi só conseguia ver os cabelos negros espalhados sobre ela e as pétalas que ainda estavam grudadas neles.
— A’Li, o que você está fazendo... — perguntou Liu Luoyi em voz baixa.
— Ainda está se sentindo mal? — Yuchi Li não respondeu diretamente, apenas devolveu a pergunta de forma despreocupada.
— Sim. — Liu Luoyi assentiu obedientemente.
De repente, o mundo virou de cabeça para baixo mais uma vez, e Liu Luoyi se viu deitada novamente na cama. Instintivamente, agarrou-se com força a Yuchi Li, chegando até a morder seu braço. Yuchi Li sentiu dor, mas não disse nada.
Liu Luoyi não chorava mais, sequer tinha capacidade para pensar. Tudo o que conseguia era se apegar a Yuchi Li como se fosse sua última esperança. Podia sentir o calor intenso emanando de Yuchi Li — ou talvez fosse dela mesma.
A gaze pendurada no dossel da cama era sustentada apenas por uma fita fina de seda, que de repente se rompeu. O tecido claro, leve como nuvem, caiu lentamente, cobrindo completamente o leito.
Liu Luoyi abriu os olhos, mas sua mente estava um caos. Ainda assim, teve tempo de se perguntar por que a seda teria se rompido? Dói...
Sua visão estava turva, como se ainda houvesse vapor de água do banho anterior em seus olhos, impedindo-a de enxergar claramente. As cortinas leves balançavam com o vento, e por um instante, ela sentiu como se estivesse num reino celestial.
Ela finalmente compreendeu o que Yuchi Li queria dizer antes… e, sem conseguir conter-se, começou a chorar. No meio da confusão, parecia que apenas Yuchi Li era o único porto onde poderia se ancorar.
Agarrou-se a ela desesperadamente, enterrou o rosto banhado em lágrimas em seus cabelos, inalando o perfume suave de seu corpo.
— A’Li... — disse ela entre soluços. Em seguida, sussurrou entre o pescoço de Yuchi Li, como uma criança que havia se machucado:
— A’Li... está doendo...
Então, ouviu a voz cheia e suave de Yuchi Li, que parecia embalá-la com carinho, repetindo sempre a mesma coisa:
— Eu amo você.
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A noite passou, a luz da manhã atravessou a seda, e o tecido fino amaciou a luz dura, espalhando-a suavemente sobre os dois que dormiam.
Liu Luoyi mexeu-se lentamente e abriu os olhos. Por um instante, não se lembrou do que havia acontecido, mas sentiu uma leve dor na cabeça.
Mas quando tentou se levantar, tudo voltou à sua mente de repente, seus olhos se arregalaram, e uma sensação dolorosa a atingiu; seu braço fraquejou, e ela caiu novamente ao lado de Yuchi Li.
Ela mal ousava pensar na noite passada, e nunca teria coragem de acreditar que estaria daquele jeito e chorando de prazer tão intensamente.
Corada, enfiou-se de volta sob o edredom e não quis mais sair, então ficou ali, pensando descontroladamente.
Vendo-se assim, tão insuportável, será que Yuchi Li...
Ela não conseguiu evitar tocar discretamente suas roupas, pois não queria mais mostrar o rosto. Em seu coração, culpava desesperadamente Yuchi Li por não saber como ajeitar suas vestes, e ao mesmo tempo sentia-se envergonhada.
Com isso, como poderia encarar Yuchi Li ao acordar?
A cama se moveu, e Yuchi Li também despertou.
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O autor tem algo a dizer: Hoje também é um dia doce (aconselhamento) sete mil.


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