Capítulo 11 – Pedido de Desculpas
Ao ouvir isso, Yang Yufen caiu na risada.
— Sempre me arrependi de não ter tido uma filha. Criei um filho que nem parece meu. Por sorte, ele me arranjou uma nora tão gentil, inteligente e generosa. Tenho que tratá-la como se fosse minha própria filha pra compensar esse arrependimento.
Depois de dizer isso, Yang Yufen caminhou alegremente até o quintal da frente. Qin Nian a esperava no portão do pátio. Qin Nian, que estava olhando as uvas, caminhou até ela ao vê-la.
— Bom dia, tia Wang. Mãe, atrapalhei a conversa com a tia Wang?
— Não, não atrapalhou. Vamos pra casa. Lá também tem uvas. Essas aqui ainda estão verdes. Quando terminarmos as de casa, peço mais pra sua tia Wang.
Yang Yufen respondeu com naturalidade.
— Isso, isso! Se quiserem, é só pedir pra sua mãe vir colher. Eu não dou conta de comer tudo sozinha.
Tia Wang respondeu com um sorriso radiante.
Ela realmente não dava conta de comer todas aquelas uvas, e seus filhos e netos não estavam por perto. Não precisava do trocado que conseguiria vendendo. Também não se dava bem com aquelas pessoas folgadas e não queria dividir com elas. Tinham até os que queriam trocar coisas pelas uvas, mas poucos ofereciam algo decente.
Mas ela realmente gostava de Yang Yufen. Ela não se aproveitava dos outros, era proativa, e se davam muito bem. Então, claro que estava disposta a dividir.
— Vou levar minha nora pra casa. Você deve descansar cedo. Dá tchau pra tia Wang, Niannian.
Como todos os mais velhos, ao apresentar os mais novos para alguém, sempre lembram que é pra se despedirem, como se temessem que os jovens não fossem reconhecer as pessoas.
— Tia Wang, estou indo pra casa com a mamãe.
Qin Nian também foi muito educada.
Quando a sogra e a nora chegaram em casa e entraram, Qin Nian finalmente falou:
— Mãe, por que matou a galinha poedeira? Era melhor deixá-la pra botar ovos.
Depois de dizer isso, Qin Nian percebeu que talvez não devesse ter falado daquele jeito.
— Criamos galinhas pra comer. Essa aí não botava muito mesmo, mesmo depois de tanto tempo. Quando os pintinhos crescerem, vamos matar todos.
Yang Yufen respondeu com indiferença.
Percebendo que a sogra não queria tocar no assunto da tarde anterior, Qin Nian pensou um pouco e resolveu também não trazer o assunto à tona.
— Mãe, a senhora comprou tantas coisas pra casa, deve estar com pouco dinheiro. Ainda bem que recebi meu salário hoje. Aqui, pegue. Pode comprar o que estiver faltando pra família. Eu quase não tenho onde gastar dinheiro, passo o dia todo no laboratório.
Qin Nian tirou seu salário de 126 yuans e alguns cupons, colocando tudo nas mãos de Yang Yufen.
— Não preciso de tudo isso. Vou pegar só vinte yuans. Vou aceitar os cupons. O resto você guarda pra você.
Yang Yufen também não recusou.
— Mãe, a senhora não precisa gastar seu próprio dinheiro comigo. Eu e o Xianjun temos salário, e nossos gastos do dia a dia são baixos.
Depois de pensar um pouco, Qin Nian tirou mais três notas e colocou na mão de Yang Yufen, totalizando cinquenta yuans.
Vendo isso, Yang Yufen não recusou.
— Daqui a alguns dias, quando estiver menos ocupada, vou buscar a mesada do Xianjun pra senhora e entregar. Bom, mãe, descanse cedo. Eu também vou dormir cedo.
Qin Nian não sabia mais o que dizer. Sempre detestou incomodar os outros e estava acostumada a se virar sozinha.
— Tá bom.
Yang Yufen respondeu.
Qin Nian suspirou aliviada. Felizmente, a sogra não estava brava.
Qin Nian dormiu extremamente bem naquela noite. Talvez fosse porque tinha tirado um cochilo na tarde anterior. Acordou bem cedo na manhã seguinte.
Mas, mesmo assim, Yang Yufen já havia acordado antes dela.
Havia dois bowls de macarrão com sopa de galinha, um com cebolinha e outro sem.
Qin Nian comeu em silêncio. Então era isso — sua sogra não comia cebolinha.
Havia uma coxa de frango no fundo da tigela. Um frango só tem duas pernas.
Qin Nian a pegou, pronta para entregar à sogra.
Yang Yufen pegou o bowl e começou a tomar a sopa.
— Tô satisfeita. Prometi pra tia Wang ontem à noite, então tenho que ir cedo.
Yang Yufen fingiu não ver o gesto de Qin Nian e saiu com o bowl vazio. Não havia ovos cozidos naquele dia. Afinal, ainda não tinham terminado aquele frango grande.
Qin Nian olhou as costas da sogra. De alguma forma, os cantos de sua boca se curvaram levemente, e então ela comeu a coxa de frango.
Como o problema havia sido resolvido no dia anterior, Qin Nian voltou ao trabalho. O diretor Hu assentiu com a cabeça, e todos ficaram ocupados.
De bom humor, Qin Nian estava extremamente eficiente naquele dia. Calculou os dados rapidamente e até encontrou e corrigiu dois erros.
Ao meio-dia, Yang Yufen retirou a sopa de galinha reaquecida e o frango, colocou o arroz cozido bem apertadinho e, por fim, pôs um pouco de legumes refogados por cima. Então pegou a marmita e foi até o instituto de pesquisa.
Ela foi ao instituto naquele dia especialmente pra ver se Yi Mengling pediria desculpas — e, de quebra, levar o almoço pra sua nora.
Yang Yufen não podia entrar, mas com a autorização que Qin Nian havia conseguido para ela anteriormente, a marmita foi entregue após a inspeção.
— Pesquisadora Qin, sua sogra mandou essa marmita. Ela disse que a senhora pode devolver a vasilha hoje à noite depois de comer.
Como estava extremamente eficiente naquele dia, Qin Nian nem ousava se distrair. Estavam todos tão ocupados que haviam esquecido do almoço.
Agora, os estômagos começaram a roncar.
O diretor Hu também levou a mão à barriga.
— Vamos almoçar primeiro.
— Professora, eu fico de olho aqui.
Qin Nian se ofereceu espontaneamente. Já que a sogra havia enviado comida, ela não iria ao refeitório.
— Eu também fico. Me tragam uma porção.
— Eu também, eu também!
Havia oito pessoas no laboratório. Duas foram ao refeitório buscar comida.
Todos estavam tão produtivos que nem queriam parar.
— Coma primeiro.
O diretor Hu fez um gesto para Qin Nian.
Qin Nian assentiu e foi para um canto comer.
Assim que abriu a marmita, o cheiro rico da sopa de galinha se espalhou. O som de estômagos roncando no laboratório ficou ainda mais alto.
Quando Qin Nian abriu toda a comida, os outros viraram os rostos, tentando se distrair.
— Talvez todos possam comer um pouco. Minha sogra mandou bastante. Quando a comida do refeitório chegar, vocês podem dividir comigo. Assim, todo mundo come alguma coisa.
Qin Nian ofereceu.
— Professor, o senhor também pode pegar um pouco.
Enquanto falava, Qin Nian já havia separado espontaneamente uma porção da sopa de galinha, um pouco de carne e um pedaço de arroz.
— Então não vou recusar.
O diretor Hu pegou a porção. De fato, havia bastante.
Os outros colegas também não recusaram.
Todos trouxeram seus próprios copos de água, já que a marmita tinha sido usada.
— Niannian, sua sogra é tão generosa. Esse arroz tá tão prensado que parece até que pisaram em cima.
Uma das duas únicas colegas mulheres do laboratório comentou.
Os outros assentiram. Aquela sopa de galinha devia ter pelo menos meio frango, e era tão rica que tinha até uma camada de gordura dourada flutuando por cima. Impressionante.
O relacionamento entre essa nora e a sogra era tão bom que nem mesmo entre mães e filhas de sangue se via algo tão próximo.
Só havia um pouco de legumes demais.
Olhando o arroz na marmita, Qin Nian de repente entendeu por que se sentia tão cheia quando comia com a sogra. Ela devia sempre prensar o arroz para que coubesse mais.
Embora uma grande parte da comida tivesse sido compartilhada, Qin Nian ainda ficou satisfeita. Nem precisou que os colegas dividissem com ela, mas todos ainda a convidaram com entusiasmo para provar um pouco de tudo.
Assim que terminou de comer, o alto-falante do instituto de pesquisa soou.
A voz de Yi Mengling saiu de lá.
— Leiam com atenção e acertem de primeira. É melhor do que ler três vezes. Quando vim pra cá, ouvi do pessoal da segurança que a sogra da camarada Qin tá esperando bem no portão principal. Se não quiserem sofrer de novo, é melhor irem direto ao ponto.
Yi Aiguo, marido de Zhao Lian, havia levado Yi Mengling até a sala de transmissão. Havia uma carta de desculpas e uma carta de autocrítica. A carta de desculpas foi exigida por Yang Yufen, e a de autocrítica, pelo instituto. Ambas tinham que ser lidas.
Capitulo 12 — Ir ao hospital para um check-up
Originalmente, Yi Mengling já achava que se desculpar publicamente era humilhante o suficiente, mas nunca imaginou que também teria que escrever uma autocrítica e lê-la em voz alta para todos. Ela nem conseguia pensar em como seus colegas do instituto de pesquisa a veriam depois disso.
Quando o anúncio pelo alto-falante terminou, Yang Yufen foi embora, satisfeita.
Tendo experimentado a comida do refeitório do instituto, Yang Yufen sabia que era possível mandar marmitas para dentro. Por isso, começou a preparar e entregar almoços todos os dias.
— Mamãe, não precisa se incomodar tanto. A comida do refeitório é decente — disse Qin Nian, sem querer que a sogra se esforçasse demais.
Yang Yufen apenas assentiu, observando como o rosto da nora estava mais corado do que antes, e continuou com sua rotina de entrega de refeições.
Não importava quão boa fosse a comida do refeitório — não tinha adiantado nada para engordar Qin Nian. A comida caseira de Yang Yufen era muito melhor — embora as duas galinhas estivessem botando menos ovos ultimamente. Felizmente, ela ainda tinha cupons de carne para garantir alguma proteína.
O trabalho de laboratório de Qin Nian teve um grande avanço, transformando o que ela achava que seriam duas semanas intensas em quase dois meses de esforço contínuo, do outono até bem dentro do inverno.
Mas os resultados valeram a pena. Toda a equipe do laboratório estava em êxtase.
— Vocês fizeram um trabalho excepcional. Descansem por três dias e depois voltem imediatamente — vamos começar a próxima fase de experimentos — declarou o diretor Hu.
A equipe animada quase levantou o diretor nos braços, mas se conteve, com medo de que o corpo frágil do idoso não aguentasse tanto entusiasmo.
— Eu vou dormir por três dias seguidos!
— Eu também!
— Preciso comprar roupas de inverno — Nian, quer vir comigo? — disse Xiao Ranran, aproximando-se de Qin Nian.
Qin Nian hesitou e depois balançou a cabeça.
— Estou planejando sair com minha sogra. Ela tem cuidado de mim desde que chegou, e ainda nem a levei para passear.
Além disso, seu marido recém-casado estava em missão havia dois meses, sem dar notícia alguma. Ela andava tão ocupada com o trabalho que não teve tempo de pensar muito nisso, mas podia imaginar o quanto a sogra devia estar ansiosa.
Enquanto isso, a supostamente ansiosa Yang Yufen estava alimentando pintinhos na estufa.
— Seus pintinhos estão ótimos! Olha como estão gordinhos — dá gosto de ver — comentou a Tia Liu, que tinha passado para uma visita.
Os pintinhos, que antes não passavam do tamanho de um punho infantil, agora já pesavam quase um quilo cada. As gaiolas foram trocadas várias vezes, e o esterco acumulado não só fertilizava o solo como também ajudava a manter o calor da estufa.
Dos trinta pintinhos, apenas cinco morreram — uma taxa de sobrevivência impressionante.
Yang Yufen também tinha ajudado a Tia Liu a montar uma estufa pequena, embora a maior parte da horta dela fosse dedicada a batatas, deixando só um cantinho para os vegetais.
— Suas verduras estão bem mais bonitas que as minhas.
— É graças ao bom adubo e às orientações da Irmã Wang — respondeu Yang Yufen com humildade.
Ela vinha recolhendo restos de verduras murchas do mercado, picava tudo e misturava com farelo e casca de arroz para alimentar as galinhas. Embora fosse cansativo ir ao mercado todo dia, Yang Yufen não se importava — quem chegava cedo, pegava os melhores restos.
Do lado de fora da estufa, ela também tinha plantado uma nova variedade de batatas fornecida pela Irmã Wang, que dizia ter sido desenvolvida por seu filho. As duas estavam testando a produtividade juntas.
— Mamãe, cheguei!
Yang Yufen, que estava prestes a preparar um macarrão simples, quebrou dois ovos na água fervente sem hesitar ao ouvir a voz de Qin Nian.
— Estou na cozinha.
Qin Nian estacionou a bicicleta e entrou correndo, tremendo por causa do frio do trajeto.
— Voltou cedo hoje. Fique de olho na panela — vou colher umas verduras.
Antes que Qin Nian pudesse responder, Yang Yufen já estava saindo, vestindo apenas um casaco fino apesar do frio.
Olhando para a figura da sogra se afastando, Qin Nian pensou: "Preciso comprar roupas de inverno pra ela — esse frio aqui não é brincadeira."
Quando terminou o pensamento, Yang Yufen já tinha voltado com um punhado de verduras. Lavou tudo rapidamente, jogou dentro do macarrão quase pronto e finalizou com um fio de óleo de gergelim.
— Mamãe, não consigo comer dois ovos — fique com um.
— Eu cozinhei três. Coma.
Yang Yufen não quis saber de protestos. Pescou o ovo da própria tigela e começou a comer.
Qin Nian obedeceu. O macarrão fumegante era perfeito para aquecer o estômago.
No meio da refeição, ela percebeu, surpresa, que já tinha comido os dois ovos e o macarrão inteiro — até o caldo. Seu apetite tinha crescido bastante. Na verdade, tinha dobrado.
Mas seu estômago estava confortavelmente cheio, sem desconforto.
— Use água morna pra lavar a louça.
Yang Yufen não brigava com Qin Nian pelas tarefas, mas lembrava com gentileza.
Qin Nian notou que havia mais uma garrafa térmica na casa, o que facilitava o uso de água quente.
— Mamãe, vou ter três dias de folga. Quero te levar pra passear amanhã — você já está aqui há tanto tempo, e ainda nem te mostrei a cidade.
— Tá bom.
Qin Nian tinha se preparado para alguma resistência, mas Yang Yufen concordou sem pensar duas vezes.
— Mas preciso alimentar as galinhas de manhã. Podemos sair às nove?
Yang Yufen tinha um plano em mente — a folga de Qin Nian era o momento ideal.
— Claro. Eu te ajudo de manhã.
— Não precisa. Vá lavar o rosto, coloque os pés de molho e descanse cedo. Já estou acostumada a fazer as coisas sozinha — não gosto de gente me atrapalhando.
Yang Yufen arrumou a cozinha com agilidade.
Qin Nian só pôde assentir com a cabeça.
Exausta pelo estresse acumulado, ela dormiu profundamente e só acordou quando já eram 8h30 da manhã. Levantou correndo e se vestiu às pressas.
— Mamãe.
Sentia-se um pouco envergonhada.
— Devia ter dormido mais. Mas já que acordou, vamos tomar café.
Qin Nian assentiu e sentou-se para comer antes mesmo de lavar o rosto.
Ela tinha planejado levar a sogra de bicicleta, mas Yang Yufen já tinha emprestado uma carroça de três rodas com cobertura de lona.
— Sobe aí atrás. Temos que ir rápido — logo eles saem do trabalho.
Yang Yufen manteve-se firme no banco da frente, insistindo para que Qin Nian subisse.
Qin Nian entrou na carroça, protegida do vento cortante pela lona. Quando começaram a se mover, ela percebeu: "Era eu quem ia levar a mamãe pra passear, mas é ela quem está me levando. E pra onde exatamente?"
O destino de Yang Yufen era claro: o Hospital Popular Número Três.
— Mamãe, tá se sentindo mal?
— Não. Viemos por sua causa. Não pergunte — só me siga.
Depois de conviver com ela por meses, Yang Yufen já conhecia bem o temperamento de Qin Nian. Fora do trabalho, a moça era indecisa e facilmente conduzida por alguém mais firme.
E assim foi: Qin Nian a seguiu em silêncio, só entendendo a situação quando o médico lhe entregou um papel para exame de sangue.
Enquanto esperava o resultado, ela lançou um olhar para a sogra e depois abaixou a cabeça, pousando a mão no próprio abdômen.
Seus ciclos menstruais sempre foram irregulares.
"Será que a mamãe vai se decepcionar? Será que vai fazer as malas e voltar pro vilarejo?"
Capítulo 13: Shen Xianjun Desaparecido
Yang Yufen perguntou ao médico, mas os resultados não sairiam tão cedo. No entanto, o hospital tinha um médico de medicina tradicional chinesa, então ela puxou a distraída Qin Nian para consultá-lo.
O médico idoso aferiu o pulso de Qin Nian, pedindo que ela trocasse de pulso algumas vezes.
— Você provavelmente está grávida. Sua saúde está boa — apenas continue se cuidando como tem feito. Alimente-se bem e não se esforce demais.
Sem prescrever nenhum remédio, o velho médico disse isso e logo chamou o próximo paciente.
Yang Yufen conduziu Qin Nian para fora.
Qin Nian mal podia acreditar que estava realmente grávida.
— Vamos. Aproveitar o tempo pra passar no quartel e pegar a pensão — disse Yang Yufen.
Qin Nian assentiu. Dessa vez, sentada no sidecar da motocicleta de três rodas, ela sorriu de repente. A sensação não era ruim, afinal.
Mas, passado um tempo, Qin Nian começou a pensar em seu trabalho. Agora que estava grávida, será que sua sogra pediria que ela fizesse uma pausa? A primeira fase do projeto tinha corrido tão bem, e a segunda estava prestes a começar — ela não queria abrir mão disso.
No Quartel
— Comandante, e agora? Como vamos dar a notícia à família do Shen Xianjun? Ele é filho único, só tem a mãe. Se ela souber e acontecer alguma coisa com ela, como vamos encarar a família do nosso camarada?
— Comissário Político Zhao, qual a sua sugestão?
Chamado pelo superior, o Comissário Político Zhao franziu profundamente a testa.
— Shen Xianjun é casado. Devemos informar à esposa dele. É uma boa camarada.
As palavras deixaram a sala em silêncio. Por fim, o comandante bateu na mesa em sinal de aprovação.
— Relatório! Comissário Político, a mãe e a esposa de Shen Xianjun estão no quartel. Elas já sabem.
O grupo, que acabara de decidir o plano, congelou. Como a mãe de Shen Xianjun soubera? E justo nesse momento — isso era péssimo!
Todos no escritório se levantaram imediatamente.
— Onde elas estão?
O comandante da companhia, o comandante do batalhão, o comandante do regimento e o Comissário Político Zhao se apressaram até a sala onde Yang Yufen e Qin Nian aguardavam.
Qin Nian não esperava por isso — Shen Xianjun estava desaparecido. Ele sumira durante uma missão, por isso não havia dado notícias.
Ela estava aguentando bem, afinal ainda não passara muito tempo com Shen Xianjun. Mas e sua sogra? Como ela devia estar sofrendo.
Qin Nian olhou para Yang Yufen com preocupação.
Yang Yufen estava, de fato, triste. Com o filho desaparecido, o que aconteceria com a pensão? Não podia ser considerada como luto, já que ele ainda estava vivo — ela sabia disso, mas não podia dizer nada.
Sem a pensão, sua nora teria que sustentar tanto a criança quanto a ela. Seria demais.
O grupo de oficiais chegou antes que Yang Yufen pudesse pensar mais a respeito.
— Camarada Yang Yufen, Camarada Qin Nian, pedimos sinceras desculpas.
Começaram com uma profunda reverência.
— A senhora confiou seu filho a nós, Camarada Yang Yufen, e falhamos em protegê-lo. Shen Xianjun era um soldado exemplar. Essa missão era crítica, e jamais esperávamos esse desfecho. Estamos profundamente arrependidos.
Enquanto falavam, os oficiais se curvaram mais uma vez.
— Não, não — isso é uma honra pra ele. Eu o enviei pro exército já sabendo que esse dia podia chegar. Desaparecido não quer dizer morto. Enquanto não houver confirmação, ele está vivo. Só me preocupo com minha nora. Se ela não estivesse grávida, o exército poderia ajudar a providenciar o divórcio, e os dois poderiam seguir em frente.
As palavras de Yang Yufen caíram sobre os oficiais como um peso. Aquilo... só piorava as coisas.
Trocaram olhares, e o Comissário Político Zhao deu um passo à frente.
— Tia Yang, sua compreensão é admirável, e a Camarada Qin Nian é uma verdadeira revolucionária. Não mediremos esforços para encontrar Shen Xianjun — nunca abandonamos nossos camaradas.
— Fique tranquila: enquanto ele estiver desaparecido, a pensão continuará. A senhora e Qin Nian precisam cuidar da saúde. Isso é o mais importante.
Yang Yufen pensava que a pensão cessaria assim que o filho fosse dado como desaparecido. Não esperava que continuasse. Mas, se ele permanecesse sumido por dois anos, com certeza isso não duraria para sempre. Teria que arranjar trabalho.
— Muito obrigada, muito obrigada. Agradecemos ao exército e ao apoio do nosso país. Minha nora está grávida — ela não pode passar por estresse. Vou levá-la de volta e ficar com ela até o bebê nascer e entrar na escola.
Os oficiais se sentiram ainda mais envergonhados com a confiança do povo, mas aquele arranjo parecia o melhor. Se surgissem dificuldades, poderiam ajudar com mais facilidade. Também informariam a liderança do instituto de pesquisa para cuidar de Qin Nian.
— Vamos providenciar um veículo militar para levar vocês duas de volta ao instituto.
— Não precisa, viemos de triciclo. Podemos nos virar.
Ainda assim, os oficiais designaram alguém para escoltá-las e relatar depois.
— Não é à toa que Shen Xianjun teve tanto mérito. Com uma mãe assim, como não seria um excelente soldado? Que mulher! Ouvi dizer que ela até serviu na milícia — uma verdadeira dama de ferro do povoado.
Os oficiais suspiraram em admiração.
No caminho de volta, Qin Nian não ousava dizer uma palavra. Tinham saído para comprar roupas pra Yang Yufen, mas acabaram recebendo uma notícia devastadora. Ela não sabia como consolar a sogra.
De volta em casa, antes que Qin Nian pudesse dizer qualquer coisa, Yang Yufen a abraçou, batendo suavemente em suas costas, como se acariciasse penas.
— Não se preocupe, Nian. Mesmo que Xianjun tenha partido, eu cuidarei de você. Foque na gravidez. Se quiser trabalhar, trabalhe — só fique feliz. Isso é o melhor pra você e pro bebê.
As lágrimas escorreram dos olhos de Qin Nian.
— Mamãe, eu sei. A senhora também não se preocupe. Eu tenho meu salário. Enquanto eu trabalhar no instituto, podemos continuar nesta casa o quanto quisermos. A senhora vai morar aqui comigo de agora em diante.
As duas mulheres consolaram-se mutuamente.
Quando o Diretor Hu e a Professora Wen souberam da notícia, ficaram profundamente abalados.
Foram eles que arranjaram o casamento, e agora, mal tinha começado, o marido desaparecera. O exército nem sequer conseguia encontrá-lo — as chances de sobrevivência eram mínimas. O que fazer?
Pior ainda, Qin Nian acabara de descobrir que estava grávida. O marido fora criado por uma mãe viúva — era filho único. Ela jamais permitiria que Qin Nian se divorciasse ou abandonasse a criança.
Qin Nian agora estava ligada à família Shen para sempre.
Tendo vivido tempos turbulentos, o Diretor Hu e a Professora Wen temiam o pior. E se Yang Yufen culpasse Qin Nian pela morte do filho? Por mais gentil que parecesse agora, as pessoas mudavam.
O Diretor Hu nem descansou. Ele e a esposa correram para a casa de Qin Nian.
Na porta, hesitaram, ouvindo em silêncio qualquer som. O silêncio só os deixava mais apreensivos.
Será que algo já havia acontecido?
— Nian! Nian! — chamou a Professora Wen, duas vezes.
Ao ouvir as vozes, foi Yang Yufen quem respondeu primeiro, pedindo a Qin Nian que ficasse dentro de casa enquanto ela ia abrir a porta.
Capítulo 14: Plano
—Chegamos.
Qin Nian reconheceu de imediato a voz da Professora Wen e rapidamente enxugou as lágrimas com a mão.
Sentia-se bastante envergonhada por ter chorado nos braços da sogra. Era ela quem deveria consolar, mas acabou sendo consolada.
—Tia, eu sou a esposa do professor da Qin Nian, e este é o próprio professor dela.
A Professora Wen falou gentilmente, enquanto seus olhos discretamente observavam a expressão de Yang Yufen.
—Entrem, entrem logo.
Yang Yufen abriu bem a porta.
—Vieram em boa hora. Ajudem a animar aquela menina, a Qin Nian. Eu vou preparar algo para ela comer.
Yang Yufen os levou até a frente do cômodo principal, ergueu a cortina de palha que cortava o vento e deixou os dois entrarem. Em seguida, virou-se e foi para a cozinha.
—Professor, professora... por que vieram?
Qin Nian começou a servir água quente para eles.
—O exército nos ligou. Viemos ver como você está. Sua sogra mora nesse cômodo principal?
O Professor Wen logo percebeu a parte separada pela cortina no cômodo.
—Sim.
Qin Nian assentiu.
—Vamos para o seu quarto.
O Professor Wen fez um gesto para que sua esposa ficasse do lado de fora e conduziu Qin Nian.
Os dois se sentaram na beira da cama, e ele fechou a porta com cuidado.
—Niannian, foi a professora quem te prejudicou nessa história. Se tiver qualquer coisa na cabeça, diga pra mim. Eu vou dar um jeito.
A Professora Wen foi direto ao ponto.
—Não, não foi culpa da professora. Eu já conversei com minha sogra. Ela vai ficar comigo e me ajudar a cuidar da criança.
—E o seu trabalho? Você sabe que não é fácil criar um filho sozinha. Se... se o Shen Xianjun não voltar, será que sua sogra não vai acabar te culpando com o tempo?
A Professora Wen falou com sinceridade.
—Minha sogra disse que não vai me impedir de trabalhar. Além disso, eu sou responsável pela parte de dados. Consigo dar conta.
—E quanto à sua sogra?
A Professora Wen achava que Qin Nian era ingênua demais.
—Minha sogra é muito boa, professora. Pode ficar tranquila. Eu não sou ambiciosa. E como já estou casada, e é um casamento militar, nunca pensei em me casar de novo. Assim está bom. Meu salário dá pra sustentar a criança e minha sogra.
Do lado de fora, a Diretora Hu, que escutava a conversa havia um tempo, se levantou e foi até a cozinha.
—Professora Qin Nian, a cozinha tá uma bagunça. Já vai ficar pronto.
Yang Yufen estava preparando uma gemada com açúcar mascavo. Embora a tigela estivesse limpa, ela a lavou novamente antes de usar.
—Sogra da Qin Nian...
—Eu sei o que você vai dizer, Diretora Hu. Não vou impedir a Qin Nian de trabalhar. Seja meu filho ou ela, os dois estão contribuindo com o país. Meu papel é ser apoio pra eles. Pode ficar tranquila. A Qin Nian é uma boa menina. Eu sei disso muito bem.
Yang Yufen interrompeu o que a Diretora Hu ia dizer.
A Diretora Hu era uma mulher experiente. Ao encarar o olhar firme de Yang Yufen, acreditou em suas palavras.
Se as coisas fossem mesmo como Yang Yufen dizia, então, na verdade, era algo bom. Além disso, enquanto Qin Nian estivesse no instituto de pesquisa, eles poderiam cuidar dela. Pensando assim, a tristeza se dissolveu, e uma pontinha de culpa pela sogra da menina surgiu em seu peito.
—Por favor, leve essa gemada pra elas, Diretora Hu. Eu ainda tenho que ir ao quintal alimentar as galinhas.
Yang Yufen colocou três tigelas de gemada sobre uma tábua que usava como bandeja e realmente foi para o quintal se ocupar.
Dentro do quarto, as duas mulheres que conversavam pararam instintivamente quando ouviram o som da porta se abrindo. Viram a Diretora Hu entrar com a gemada nas mãos.
—Tomem. A sogra da Qin Nian foi alimentar as galinhas. Na verdade, a Qin Nian tá aqui bem debaixo do nosso nariz. É só cuidarmos bem dela.
Ao ver a gemada, a Professora Wen finalmente relaxou.
—É verdade. Beba enquanto tá quente. O que o médico disse sobre sua saúde?
A Professora Wen pegou uma tigela e entregou para Qin Nian, perguntando.
—O médico disse que estou com boa saúde, sem problemas. Fiz exame de sangue, mas minha sogra ainda estava preocupada, então me levou pra ver um médico tradicional chinês. Ele sentiu meu pulso.
—Que bom.
—Quer que eu te dê mais alguns dias de folga?
A Diretora Hu pensou um pouco.
Qin Nian rapidamente balançou a cabeça.
—Não precisa. Me manter ocupada é bom. Como estou com saúde, talvez eu consiga terminar toda a parte de dados antes do bebê nascer.
—Não se esforce demais.
A Professora Wen completou, e Qin Nian assentiu.
—Viemos às pressas desta vez e não trouxemos nada pra sua sogra. Você também não está em condição de sair por aí andando. Amanhã eu venho te ver de novo.
Quando a Diretora Hu e sua esposa foram embora apressadas, Yang Yufen insistiu em mandar uma cesta de legumes com elas.
No caminho...
—Acho que a sogra da Qin Nian é uma boa pessoa.
Disse a Diretora Hu.
—É... vamos observar mais um pouco.
A Professora Wen olhou para a cesta de legumes em sua mão.
Naquele momento, Qin Nian demonstrou firmeza pela primeira vez.
—Mãe, fique com esse dinheiro. A partir de agora, vou separar uma parte do meu salário todo mês pra pagar as despesas da casa. Tenho medo de que a pensão militar não dure muito.
Qin Nian já havia se preparado para o pior em seu coração. Se seu marido realmente tivesse sofrido um acidente, ela definitivamente não tocaria na pensão, e assumiria sozinha a responsabilidade de cuidar da sogra.
—Tá bem, não pense tanto nisso. Aquele garoto sempre foi danado desde pequeno. Mesmo doente, era cheio de energia. Nada vai acontecer com ele.
Yang Yufen respondeu mais uma vez e pegou o dinheiro.
No dia seguinte, a Professora Wen veio sozinha. Trouxe uma lata de leite maltado, uma de leite em pó e até uma galinha poedeira.
—Isso tudo é muito caro...
Yang Yufen olhou para a sacola de mantimentos, que ainda incluía enlatados.
—A Qin Nian está grávida e pode sentir vontade de comer besteiras. Essas coisas são nutritivas. Esse leite maltado é bom pra gente da nossa idade, e o leite em pó é pra ajudar na gestação dela.
Ao ouvir isso, Yang Yufen não recusou mais. Sua nora realmente precisava cuidar bem do corpo. Pensou que, quando suas galinhas crescessem, mataria duas para o Festival da Primavera e as mandaria de presente para a Professora Wen.
Yang Yufen fez esse plano em silêncio e aceitou os presentes.
A Professora Wen ainda tinha trabalho e foi embora sem nem almoçar.
Com mais uma galinha poedeira, agora haveria ovos suficientes para a nora comer. No inverno, mesmo em galinheiro coberto, as galinhas botavam menos.
Yang Yufen saiu para devolver o triciclo. A tia Wang lhe ofereceu batatas-doces cozidas no vapor e a convidou para comer junto.
—Não se preocupe demais. Filhos e netos têm seu próprio destino. Meu filho também sumiu antes, mas depois achamos ele, e agora tá bem.
Aparentemente, a tia Wang também já sabia do ocorrido.
—Eu estou bem. Mais do que com meu filho, me preocupo que a Qin Nian não aguente fisicamente.
Yang Yufen falava com sinceridade. Pegou uma batata-doce e começou a comer. De repente, seus olhos brilharam.
—Essa batata-doce tá tão doce... Aposto que assada fica melhor que cozida.
—É doce, mas tem bastante água. Meu filho plantou vários acres disso. Não dá pra comer demais. Estão todas guardadas na adega, e eu nem sei o que fazer com elas.
—Me dá! Digo... me vende. O paradeiro do meu filho é incerto. Não posso deixar tudo nas costas da Qin Nian. Ainda sou jovem, tenho força pra trabalhar. Ficar em casa sem fazer nada só me deixa parada. Esses pequenos trabalhos eu termino num piscar de olhos.
Yang Yufen estava animada. Uma pena que o Comissário Político Zhao não estivesse ali para ouvir. Quando pediu a pensão, tinha dito que já era velha demais pra trabalhar.
Capítulo 15 — Vendendo Batata-Doce Assada
— Você quer montar uma barraca pra vender batata-doce assada?
— Isso mesmo. Tá um gelo lá fora, e o povo adora alguma coisa quente. Quando esquentar, a Nian já vai estar mais avançada na gravidez. Vou cuidar dela até se recuperar do parto e, depois, volto a vender.
Yang Yufen assentiu com a cabeça.
— Tá certo, vou falar com meu filho. Ele entrega duzentos catties pra você começar. Se não der, mando trazer mais.
— E me empresta o triciclo também. Te pago aluguel todo mês.
— Que nada. Quando o tempo esquentar, não vou conseguir dar conta do trabalho pesado no quintal sozinha. Você me ajuda e fica tudo certo.
— Fechado!
As duas acertaram tudo sem o menor constrangimento.
Qin Nian foi trabalhar ainda um pouco preocupada com a sogra. Arrependeu-se de não ter tirado mais um dia de folga — nem as roupas de inverno tinha comprado pra ela.
Yang Yufen pegou um tambor de gasolina grande no setor de segurança e ela mesma adaptou como assador de batata-doce. Montou tudo no triciclo, depois de tirar a capota.
Nos primeiros dias, Qin Nian se preocupou, mas ao ver a sogra animada e cheia de energia, mergulhou de volta nos experimentos.
Após três dias de trabalho, o assador ficou pronto. Yang Yufen comprou bastante carvão — bem melhor que briquete de carvão pra esse tipo de coisa.
Com o assador e cem catties de batata-doce carregados no triciclo, Yang Yufen saiu do conjunto residencial do instituto e foi para um ponto perto da fábrica têxtil, um pouco mais afastado.
Pra controlar o tempo, usava o relógio de pulso antigo que Qin Nian lhe dera. Calculando tudo, acendeu o fogo e colocou as batatas pra assar.
Quando o sino da fábrica tocou e os portões se abriram, sinalizando o fim do expediente, Yang Yufen ergueu a voz:
— Batata-doce assada! Quentinha, docinha, cheirosa!
Abriu uma das caramelizadas, liberando um aroma açucarado e intenso.
A maioria dos operários da fábrica têxtil era mulher, e naquele horário todo mundo estava com fome — mais sensível ainda ao cheiro de comida.
— Quanto custa a batata assada?
— Trinta fens a grande, vinte a pequena. Ou cinquenta fens por duas grandes, cinquenta por três pequenas. As minhas são especiais — prova uma. Você não vai achar mais doce que essa.
As batatas-doce assadas brilhavam em tom dourado, a casca se soltando e revelando uma camada melada por dentro.
Trinta fens parecia caro, e as pequenas, meio mirradas.
— Se duas quiserem dividir, faço duas grandes por cinquenta fens. Ou, se forem três, cinquenta por três pequenas.
Yang Yufen tinha cortado jornais velhos em folhas do tamanho da palma da mão pra embrulhar — não sujava e era fácil de segurar.
— Que delícia!
As duas garotas que provaram primeiro se encantaram.
— Vamos levar duas.
Vinte e cinco fens cada — valia a pena.
Cada uma ficou com uma, e notaram que Yang Yufen havia escolhido umas um pouco maiores — dava pra encher a barriga.
A notícia se espalhou rápido. Mais gente, atraída pelo cheiro, logo comprou tudo que estava pronto e até as que ainda estavam assando.
— A próxima leva vai demorar um pouquinho — vinte minutos pras pequenas, meia hora pras grandes. Dá pra vocês irem comer e voltarem antes do turno.
Yang Yufen avisou, e quem ficou sem suspirou, decidido a voltar mais tarde.
Ela não tinha se arriscado a assar demais no começo, mas o movimento superou as expectativas.
Cem catties de batata-doce podia parecer muito, mas elas eram bem úmidas e pesadas.
Quando os operários voltaram pro turno da tarde, tudo já tinha sido vendido.
— Tia Yang, você volta no turno da noite? Estão tão boas... quero levar umas pro meu namorado.
— Hoje não. Amanhã — trago mais.
Muitos não conseguiram comprar, mas a fama da batata-doce assada maravilhosa já corria pela fábrica.
Cheia de energia, Yang Yufen pedalou de volta pro conjunto residencial, passou direto de casa e foi à casa da Tia Wang.
— Irmã Wang, aqui — guardei duas pra você.
Ela estacionou o triciclo e tirou duas batatas-doce ainda fumegantes do assador.
— Assada é mesmo melhor que cozida.
Tia Wang não fez cerimônia.
— Vim buscar o resto das batatas. Seu filho tá por aí? Venderam bem e eu trouxe o dinheiro. Se ele não puder entregar, eu mesma vou buscar.
— Já vendeu tudo?
Tia Wang ficou pasma.
Yang Yufen assentiu.
— Claro que ele tá. Ele vive preocupado sem saber o que fazer com aquelas batatas — todo mundo agora planta variedade de alto rendimento, mas as dele ficaram muito aguadas. Nem a cooperativa quis pegar.
Tia Wang clicou a língua, achando que o filho era pior que ela na roça.
— Perfeito então. Vou vender o inverno inteiro e até a primavera — será que ele consegue fornecer só pra mim?
Yang Yufen já tinha feito as contas — sozinha, dava conta de vender tudo das poucas acres de batata.
— Consegue, sim.
Ninguém mais queria mesmo, e o filho da Tia Wang nem tinha tempo de buscar comprador. Melhor vender tudo pra amiga de confiança.
Naquela mesma noite, mil catties de batata-doce foram entregues na casa de Yang Yufen.
— Tia, trago o próximo lote em três dias, tudo bem?
O filho da Tia Wang veio pessoalmente. Sempre teve a sensação de que a mãe não confiava muito nele, então, quando ela pediu ajuda — e ainda fazendo um favor — ele fez questão de entregar ele mesmo e vê-la.
— Tá bom, tá bom. Obrigada pelo esforço.
Quando Qin Nian voltou e viu aquele monte de batata-doce em casa, ficou boquiaberta.
— Mãe, por que comprou tanta coisa?
— Montei um assador e fui vender lá perto da fábrica têxtil. Vendeu bem, mas talvez eu não consiga voltar a tempo de trazer seu almoço. Não se preocupa — deixo o jantar pronto na panela pra você.
— Mãe, isso dá muito trabalho. E se a senhora pegar um resfriado?
Qin Nian não conseguiu deixar de se preocupar.
— Frio nada! Tô com o casaco do exército, e fico do lado do assador — mais quente que em casa.
Yang Yufen foi firme, e Qin Nian acabou cedendo.
— Então pelo menos vende aqui perto do instituto, em vez de ir até a fábrica têxtil.
Se não podia impedir, ao menos queria facilitar.
— Vocês, pesquisadores, mal têm tempo pra comer — quem ia sair pra comprar batata-doce? A fábrica tem mais mulheres, e elas saem no horário certinho.
Yang Yufen tinha razão, e Qin Nian não insistiu.
No dia seguinte, no entanto, ela deu à sogra um par de luvas de pele de carneiro.
— Mãe, não vou impedir a senhora de vender, mas tem que usar isso.
— Que luva bonita — devia guardar pra você.
Yang Yufen examinou as luvas novas. Achava que umas de lã já bastavam.
— Não preciso disso no laboratório.
Qin Nian insistiu, e Yang Yufen acabou usando — mas, pra não sujar, colocou as de lã por cima.
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