Capítulo 11: Comprar Livros
O verão no norte é quente e seco, com quase nenhuma umidade no ar. É insuportável permanecer por muito tempo em um lugar sem sombra — a boca seca, o corpo arde, e tudo se torna difícil de suportar. No entanto, Yue Lingxi parecia imune ao calor. Enfrentava o sol escaldante e caminhava pelas ruas e becos até chegar à livraria no sul da cidade. Seu cabelo estava apenas levemente úmido, em nítido contraste com os estudiosos suados que cruzavam seu caminho. Era como se ela tivesse atravessado uma estação inteira ao cruzar a fronteira.
O dono da livraria era um velho de bigodes grisalhos, sentado em uma cadeira de balanço num canto, lendo um livro. Ao ouvir o tilintar do sino na porta, soube que um cliente havia chegado, mas não levantou os olhos. Apenas saudou casualmente:
— Primeiro andar é ciência, segundo andar é humanidades. Escolha o que precisar.
Falou rápido e com um pouco de dialeto, mas Yue Lingxi entendeu o essencial e seguiu direto para o segundo andar pelo corredor.
A loja não era grande — havia apenas espaço para uma pessoa entre as estantes — e a escada de madeira no canto da parede era estreita e íngreme. Não apenas era difícil de subir, como também rangia como se fosse quebrar a qualquer momento. Yue Lingxi subiu agarrada ao corrimão até o segundo andar, mas ao chegar lá, não encontrou onde pisar: não havia estantes, apenas o chão coberto por livros escuros. Alguns estavam espalhados, outros organizados, e alguns abertos pela metade. Várias plaquinhas de madeira estavam tortamente colocadas entre eles, servindo como uma tentativa de classificação.
Como encontrar o que procurava?
Yue Lingxi ficou parada por um momento, depois ergueu a barra da saia e caminhou até o canto oposto com passos leves, movendo-se para a esquerda e para a direita como um coelho. Ao atravessar o emaranhado de livros no chão, abriu aleatoriamente um volume virado de cabeça para baixo — e os dois caracteres brilhantes na página de rosto saltaram aos seus olhos.
Ir direto ao mais grosso foi a escolha certa!
Ela olhou ao redor e encontrou os outros dois volumes também. Então os carregou escada abaixo.
— Tio, quanto ficam esses três dicionários juntos?
Assim que ouviu o sotaque meio estranho da língua de Chu, o velho levantou a cabeça. Primeiro, semicerrando os olhos, olhou para os livros nos braços dela. Depois, a examinou por um instante. Então alisou a barba e sorriu:
— Garotinha, você é forte, hein? Conseguiu carregar esse peso todo sozinha. Estude direitinho quando voltar, viu? Tá bom, vou te dar um desconto. Fica por 120 wén!
Yue Lingxi tirou o dinheiro dos bolsos, colocou sobre a mesa e já estava prestes a sair, quando o velho a chamou apressadamente:
— Ei, menina, espera aí. Deixa eu te dar isso aqui para levar e dar uma olhada!
Ao dizer isso, um livrinho fino voou sobre os outros livros. Como estava de cabeça para baixo, Yue Lingxi não viu o que era exatamente. Agradeceu educadamente e saiu.
No caminho de volta, seguiu pela mesma rota. O sol agora estava coberto por nuvens, e um véu tênue sombreava o caminho de pedra deserto. As pessoas que antes se escondiam em casa saíram correndo, indo às lojas da rua comprar sorvete.
Yue Lingxi carregava os livros pesados e já estava um pouco sem fôlego. Só queria voltar logo e libertar as mãos. Quando finalmente chegou à porta da estalagem, planejou descansar um pouco antes de subir as escadas. No entanto, assim que colocou os livros no chão, um grupo de pessoas surgiu no fim da rua. Ao olhar com mais atenção, ela de repente ficou paralisada.
— Ficou sabendo? Esse aí é o oficial corrupto que foi julgado pelo Lorde Pei do Ministério da Justiça há pouco tempo. Os funcionários e comerciantes que o seguiam fazem parte da rede de corrupção dele!
— Sério? Parece que vai ser exilado para os confins do país. Depois de roubar tanto dinheiro suado do povo, essa punição ainda é leve demais!
Enquanto os dois estudiosos conversavam, o grupo de pessoas já havia se aproximado. Viram mais de vinte carcereiros corpulentos cercando o prisioneiro, segurando correntes de ferro em uma mão e chicotes na outra, marchando pela multidão em direção à estação de correio. Sempre que o prisioneiro diminuía o passo, ouvia-se o estalo alto de um chicote, seguido por gritos de dor e sangue escorrendo pelo caminho. Os espectadores ficaram em pânico com a cena, esquecendo-se até de jogar fora as folhas de vegetais e os ovos que carregavam nas cestas.
Yue Lingxi despertou do barulho e recuou apressadamente para o lado, mas acabou tropeçando em um dos livros aos seus pés, batendo o cotovelo no chão e rasgando um grande buraco na manga. Estava muito envergonhada, mas não teve tempo de verificar o ferimento. Em dois ou três passos, pegou suas coisas e correu para dentro da estalagem.
Subiu correndo até o segundo andar e só parou diante da porta do quarto, quando percebeu o quanto havia perdido a compostura.
Não deveria ser assim. Já se passaram tantos anos...
Ela controlou a respiração e só então sentiu a dor no cotovelo. Segurando os livros, não conseguia ver o ferimento, mas estimava que tivesse sido apenas um arranhão. Não deu muita importância e empurrou a porta.
O quarto estava escurecido pelas cortinas fechadas. Chu Xiang parecia estar dormindo profundamente na cama, com os olhos fechados. Yue Lingxi entrou em silêncio e colocou os livros sobre a mesa. Ao girar o braço, notou que a manga estava rasgada. Franziu a testa e caminhou com cautela até o armário.
Precisava trocar de roupa rapidamente — seria embaraçoso se alguém a visse daquele jeito.
Com isso em mente, abriu a porta do armário, mas antes que pudesse pegar sua bolsa, uma voz masculina e profunda soou atrás dela:
— Voltou?
Yue Lingxi se assustou de repente, e o ombro bateu contra a porta do armário, fazendo um barulho alto.
— O que aconteceu?
Chu Xiang levantou a cortina e se sentou, com um leve traço de sonolência nos olhos ágeis. No entanto, estremeceu ao ver as manchas de sangue na manga de Yue Lingxi. Sem ter onde se esconder, ela só pôde assistir enquanto a figura imponente se aproximava — como uma montanha que a envolvia. Ele estendeu a mão grande e segurou seu pulso com facilidade.
— O que houve?
— ...Eu caí na escada.
Chu Xiang abaixou o olhar e a observou por um tempo. De repente, soltou sua mão e foi direto até a porta.
— Vá sentar ali.
Yue Lingxi se moveu em silêncio até a mesa, observando enquanto ele abria a porta e chamava o guarda pessoal. Ela não sabia o que ele disse, mas logo o guarda voltou com uma caixa de medicamentos. Chu Xiang a trouxe para dentro, abriu-a, pegou os remédios e as ataduras, e então estendeu a mão para ela. Hesitante, ela colocou a mão na dele — mas com um rasgo seco, sua manga foi reduzida a tiras, revelando o braço nu como uma flor de lótus.
— Na verdade, ainda dava para costurar...
Aquela roupa havia sido comprada a um preço alto, e mesmo depois de cair na água, não se rasgara. Ele disse que ia rasgar — e rasgou mesmo. Isso realmente a magoou.
Chu Xiang abaixou a cabeça para aplicar o remédio. Só pelo tom de voz, ela já sabia o que ele estava pensando. Ele a repreendeu sem piedade:
— As roupas que você comprou em Yi Ocidental não são os estilos que as mulheres de Chu costumam usar. Felizmente, há muitos estrangeiros por aqui, então usar algo diferente não chama tanta atenção. Mas espere até chegarmos à capital — quero ver se alguém não vai zombar de você.
— Ah... — ela respondeu suavemente, depois ergueu os olhos límpidos e perguntou: — Então por que não me avisou antes?
Chu Xiang engasgou e ficou em silêncio por um tempo.
Yue Lingxi parecia alheia à mudança sutil no ar e continuou falando com naturalidade:
— Mas sendo alguém nobre como você, deve ter visto muitas mulheres. Eu confio no seu gosto.
Chu Xiang interrompeu todos os movimentos e a encarou sem piscar, com um leve tremor na têmpora.
— Aos seus olhos, os príncipes do Reino de Chu são homens que entram no palácio pela porta dos fundos e tratam mulheres como se fossem descartáveis?
— Mas não é só você o Príncipe de Chu?
Chu Xiang engasgou de novo.
Por que ele sempre acabava se enrolando com ela?
Ele já havia refletido sobre isso, mas bastava cruzar com aquele olhar suave e um tanto confuso dela para que não conseguisse explicar o que sentia. Era como se uma parte de si desmoronasse, e toda sua calma habitual desaparecesse junto. No entanto, não conseguia se irritar — pelo contrário, sentia uma vontade inexplicável de rir.
Sim, ela falava com o mesmo tom, não importava o que dissesse. Naquela manhã, na entrada lotada da estalagem, ela lhe perguntou diretamente por que não podiam dividir o quarto. Ele não soube o que deu nela e também não teve coragem de explicar que, no Estado de Chu, ao contrário de Yi Ocidental, onde as pessoas vivem em grupos, homens e mulheres solteiros devem manter distância.
Era a primeira vez em sua vida que interagia com alguém daquela forma.
Yue Lingxi percebeu que ele estava em silêncio há muito tempo, então cortou um pedaço de gaze e colou no interior do cotovelo. Quando estava prestes a pegar a atadura, ele já havia segurado sua mão e a enfaixado com firmeza em três voltas, finalizando com um nó. Ela testou o movimento — estava perfeito, nem apertado nem frouxo. Logo depois, a voz grave e magnética dele soou em seus ouvidos:
— Vá trocar de roupa lá dentro.
Yue Lingxi obedeceu e foi se trocar.
Havia dois conjuntos de roupas na bagagem. A saia azul-celeste com padrão de fumaça e água fora presente de Lu Mingrui, enquanto a saia branca como lírio do orvalho havia sido comprada em Bocheng a pedido de Chu Xiang. Yue Lingxi não hesitou e escolheu a branca para vestir à luz tênue do quarto interno.
Ele geralmente fazia boas escolhas.
Ao sair vestida, encontrou Chu Xiang folheando o livrinho que o dono da livraria lhe dera, com uma expressão de confusão no rosto. Ao se aproximar, ela reconheceu o livreto.
— Você comprou esse livro? — perguntou ele.
— Livro? — Os olhos de Yue Lingxi brilharam com confusão, mas ela balançou a cabeça. — Foi um presente.
Chu Xiang ficou surpreso por um instante, depois riu, sem saber se com ironia ou indulgência. Puxou-a para sentar ao seu lado e abriu a primeira página do livro para que ela visse. Para sua surpresa, era uma pintura colorida que se estendia por três páginas. Nela, um homem e uma mulher estavam vestidos com esmero, abraçados em uma postura extremamente íntima. Seus olhos transbordavam de afeto.
Ela entendeu de imediato: era um livro de histórias românticas entre homens e mulheres.
Chu Xiang virou a capa e apontou para os quatro caracteres nela, perguntando:
— Eu te ensinei isso antes. Como se lê?
Yue Lingxi pegou o livro e leu de cima para baixo:
— O Imperador... Amoroso?
Assim que terminou, sua língua travou e os dedos começaram a formigar. Quase deixou o livro cair — quem ousava inventar histórias sobre o imperador?
— Eles... Como ousam ser tão desrespeitosos com o imperador?
Chu Xiang riu e disse:
— O céu é alto e o imperador está longe. Do que teriam medo? Eles apenas se aproveitam dos rumores das ruas floridas e vielas da capital para inventar histórias e ganhar dinheiro. Hoje, te deram um presente generoso.
— Se eu soubesse que era isso, não teria aceitado.
Yue Lingxi franziu a testa e empurrou o livro para o canto mais distante da mesa, visivelmente incomodada. Chu Xiang viu isso e simplesmente o varreu com a manga para dentro do cesto de bambu, depois virou-se e disse:
— Você tem um temperamento forte.
— Ele viu claramente que eu estava comprando um dicionário porque não conheço todos os caracteres, e mesmo assim me deu algo que nem pode ser vendido abertamente. Mas estamos indo para a capital. Se eu acidentalmente levar isso comigo e alguém vir, não vai dar problema?
Parece que ela estava com medo de se meter em encrenca.
Chu Xiang sentiu um calor discreto no peito e pensou que deveria apenas puxá-la e empurrá-la para a cama, dizendo:
— Você passou metade do dia andando por aí e ainda machucou a mão. Vá tirar um cochilo.
Yue Lingxi já estava com ele há um mês e sabia que ele não gostava de ser interrompido quando falava com gestos. Além disso, estava realmente cansada, então puxou o cobertor e se enfiou na cama obedientemente. O travesseiro exalava um leve perfume de agulhas de pinheiro e flores de osmanthus — fresco e agradável. Sem perceber, fechou os olhos e adormeceu.
Chu Xiang soube que ela havia dormido ao ouvir sua respiração tranquila. O sorriso em seu rosto desapareceu de repente. Virou-se e saiu do quarto, onde Liu Yin já o aguardava há algum tempo.
— O que aconteceu lá embaixo agora há pouco?
— Mestre, perguntei aos arredores. Parece que a senhorita Yue encontrou guardas escoltando um prisioneiro no caminho de volta e acabou tropeçando e caindo. Mas nada além disso aconteceu.
— O pânico nos olhos de alguém nunca engana — disse Chu Xiang, com os olhos brilhando friamente, claramente insatisfeito com a resposta.
Liu Yin abaixou a cabeça e arriscou:
— Talvez ela tenha se assustado com o carcereiro chicoteando o prisioneiro.
O abuso de prisioneiros já é, por si só, um abuso de poder e deveria ser punido com rigor. No entanto, naquele momento, os pensamentos de Chu Xiang pararam em um ponto específico. Quando a lembrança lhe veio à mente, seu rosto escureceu de repente.
Quando estava no acampamento militar, viu por acaso as cicatrizes nas pernas dela. Pela textura e pelo ângulo, eram claramente marcas de chicote.
Será que... também haviam sido causadas por um carcereiro?
Capítulo 13: Encontro ao Anoitecer
Na verdade, Yue Lingxi não estava confiante de que conseguiria encontrar Duan Muzheng.
Dois anos atrás, Duan Muzheng havia deixado sua casa e apenas lhe dissera que iria à capital do Reino de Chu para resolver um assunto, e que talvez demorasse a voltar. Yue Lingxi sentiu vagamente que havia algo errado, mas não tinha como investigar. Só quando Duan Muzheng perdeu completamente o contato é que ela começou a fazer perguntas em segredo por vários dias — e então decidiu deixar Yi Ocidental para procurá-la. No entanto, pouco antes de partir, foi subitamente atacada por indivíduos desconhecidos. Usando suas habilidades, conseguiu escapar e iniciou sua jornada de fuga.
As terras de Yi Ocidental não são muito extensas. Uma cavalgada rápida da capital até a fronteira leva apenas meia quinzena. No entanto, para evitar perseguidores e emboscadas, Yue Lingxi levou o dobro do tempo até chegar a Mengcheng — e chegou exausta. Ainda assim, sua mente não parava de fervilhar.
Voltar ao Reino de Chu era algo que ela desejava há dez anos.
Durante anos, alimentou esse pensamento. Às vezes, ficava acordada à noite, sentada sozinha à janela, olhando para a lua brilhante pendurada sobre o cume da Montanha Yanran. Lembrava-se de Mulan, a general que tanto admirava, que havia retornado à corte por aquele mesmo caminho. A ideia de voltar para casa crescia em sua mente como ervas daninhas e trepadeiras. Mas, ao pensar em Duan Muzheng — que dependia dela para sobreviver —, tudo desaparecia como fumaça.
Agora era diferente. Ela havia voltado. E, uma vez que encontrasse Duan Muzheng, tentaria convencê-la a ficar. A partir de agora, estariam a milhares de milhas de Yi Ocidental e não precisariam mais viver aprisionadas por aquela pessoa. No entanto, no momento, ela sabia muito pouco — apenas os meios pelos quais costumavam se comunicar — e nem sabia se ainda eram válidos. Por isso, estava incerta e só podia agir às cegas.
Dez dias atrás, ela foi até um templo abandonado nos arredores da cidade e deixou uma marca que apenas Duan Muzheng poderia reconhecer. Contando os dias, já deveria ter recebido uma resposta. Por isso, vestiu um manto escuro e saiu pela porta sul da cidade.
O verão é seco e propenso a incêndios, então, após o anoitecer, as casas com telhados de telha e cercas de gancho devem fechar suas portas e apagar as luzes. Fogos de artifício são proibidos, e há toque de recolher em todos os distritos e mercados. Por isso, os portões da cidade se fecham cedo — Yue Lingxi nunca ousava demorar. Mas hoje era diferente. Ela ainda não havia saído, mesmo com a última hora se aproximando.
Ninguém havia aparecido.
Com o vento noturno soprando, a luz da vela tremulava, e a palha seca no chão começava a dançar. Yue Lingxi estava atrás de uma coluna de pedra, encarando em silêncio a marca empoeirada ao lado da mesa de incenso, sentindo o coração afundar.
Se Duan Muzheng tivesse vindo, a marca não estaria daquele jeito.
Justo quando se sentia perdida, o ambiente escureceu de repente. Ela ergueu os olhos em direção à porta e viu uma sombra esguia sob a luz prateada da lua. À medida que se aproximava, a figura se tornava mais nítida — mas antes que pudesse distinguir os traços, a pessoa já havia entrado no templo. No entanto, permaneceu cautelosamente junto à porta, examinando os arredores sem dar mais um passo.
Yue Lingxi, escondida na escuridão, a observou por um momento. De repente, seus olhos se iluminaram — aquela silhueta familiar, aqueles movimentos habituais... poderia ser outra senão Duan Muzheng?
Seu coração se encheu de alegria e ela imediatamente saiu de trás da coluna. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, foi empurrada contra a pedra pela espada da recém-chegada. No instante em que seus olhos se encontraram, a espada desapareceu.
— ...Xi Xi?
— Sou eu, irmã — respondeu Yue Lingxi com voz calma, embora seu coração acabasse de despencar. A ansiedade e a preocupação que duraram meses desapareceram como a maré que recua.
Duan Muzheng ficou chocada. Sob a luz fraca, examinou a irmã dos pés à cabeça várias vezes, confirmando que a pessoa viva diante dela era realmente sua irmã — aquela que estivera ao seu lado por dez anos. Abraçou-a com força e perguntou, com a voz trêmula:
— Como você chegou até aqui? Encontrou algum perigo no caminho desde Yi Ocidental?
— Irmã, estou bem — Yue Lingxi desviou do assunto e segurou suavemente a mão dela. — Na verdade, é você... ficar tanto tempo sem dar notícias me deixou muito preocupada.
Ao ouvir isso, a expressão de Duan Muzheng ficou ligeiramente tensa. Após uma longa pausa, ela murmurou com um tom amargo:
— A culpa é minha.
Yue Lingxi percebeu com clareza que havia algo oculto por trás daquelas palavras, mas não perguntou diretamente. Em vez disso, confortou-a com doçura:
— Irmã, você não precisa se culpar. O importante é que esteja viva e bem.
Com uma frase simples, como uma corrente quente, ela atravessou o coração de Duan Muzheng. As emoções reprimidas subiram de repente, e ela quase chorou. Respirando fundo, recompôs-se e perguntou:
— Xi Xi, como você me encontrou?
— Antes de vir, fui até a Torre da Luz da Lua e roubei seu registro de missões.
Assim que ouviu isso, Duan Muzheng empalideceu e sua voz se elevou involuntariamente:
— Você ficou louca? Como ousa invadir a Torre da Luz da Lua sozinha! Você sabe que está cheia de armadilhas? Um passo em falso e você poderia ter morrido sem deixar vestígios!
— Não, eu observei em segredo por vários dias e já conhecia o método para desativar os mecanismos — respondeu Yue Lingxi, com calma. Em seguida, perguntou, confusa: — Irmã, por que o último registro dizia que os três responsáveis por te contatar e entregar mensagens estavam mortos? Aconteceu alguma coisa?
Duan Muzheng hesitou por muito tempo, olhando para aqueles olhos límpidos e brilhantes. Por fim, cerrou os dentes e confessou:
— Xi Xi, fui eu quem os matou.
A expressão de Yue Lingxi mudou. Ela agarrou o braço da irmã e exigiu:
— Por quê? Eles tentaram te machucar?
— Não era a mim que queriam matar — Duan Muzheng balançou a cabeça. Seu rosto, belo e pálido sob a luz da lua, parecia ainda mais frágil. — Eles queriam matar o Príncipe Ning.
Ao ouvir essas duas palavras, Yue Lingxi sentiu um choque súbito e apertou ainda mais a mão da irmã.
— Você quer dizer... a missão que recebeu desta vez era assassinar o Príncipe Ning?
Duan Muzheng assentiu em silêncio.
A revelação caiu como uma pedra enorme em um lago, deixando ondas e mais ondas no coração de Yue Lingxi, difíceis de acalmar.
A Torre da Luz da Lua era uma organização de assassinos criada por Tuoba Jie, o conselheiro de Yi Ocidental. Especializava-se em coleta de informações e assassinatos. Duan Muying, mãe de Duan Muzheng, fora uma das principais integrantes da organização e faleceu cinco anos atrás. Trabalhar nesse meio significava lidar com sangue e cadáveres — nada glamoroso. Antes de morrer, Duan Muying fez de tudo para proteger as duas filhas, esperando mantê-las longe da escuridão e dos perigos do mundo. No entanto, pouco depois de sua morte, ambas foram levadas à força para a Torre da Luz da Lua por Tuoba Jie.
Yue Lingxi não sabia lutar, o que a tornava “inútil” aos olhos deles. Por isso, foi rapidamente enviada para fora, encarregada de tarefas menores, como registrar entradas. Mas Duan Muzheng era diferente. Era frequentemente enviada para espionar os movimentos militares do Reino de Chu na fronteira. Yue Lingxi pensava que a missão dela na capital também fosse de coleta de informações — jamais imaginou que fosse assassinar o Príncipe Ning, alguém que lhe havia mostrado tanta bondade. De qualquer forma, Yue Lingxi precisava impedi-la!
Talvez por estar tomada de preocupação, nem percebeu a mudança no tom da irmã. Simplesmente disparou:
— Irmã, foi o Príncipe Ning quem me salvou na fronteira e me escoltou até a capital. Você não pode matá-lo!
Ao ouvir isso, a expressão de Duan Muzheng tornou-se estranha de repente.
— Xi Xi, o que você está dizendo? Você viajou com o Príncipe Ning até aqui?
Yue Lingxi sentiu que havia algo errado, mas apenas assentiu.
— Isso é impossível! O Príncipe Ning ainda está organizando as tropas na fronteira e não retornará à corte antes do próximo mês. A pessoa com quem você viajou definitivamente não era ele!
Duan Muzheng negou com firmeza, com uma convicção que deixava tudo ainda mais confuso.
— Mas ele liderou o exército de Chu no ataque a Mengcheng e discutiu estratégias com os outros generais como comandante-chefe. Eu vi tudo com meus próprios olhos. Como isso poderia ser falso?
Duan Muzheng ergueu os longos cílios, e seu olhar profundo penetrou diretamente nos olhos da irmã, refletindo a luz da lua oscilante e dissipando a confusão na escuridão.
— Eu não sei — disse ela —, mas posso afirmar com certeza que aquela pessoa não é o Príncipe Ning. Porque, se ele estivesse no palácio da capital, eu não poderia ter saído para te ver esta noite.
Yue Lingxi ficou atônita por alguns segundos e, de repente, reagiu com força. O que ela queria dizer era...
Sua reação era exatamente o que Duan Muzheng esperava. A imagem daquele homem de aparência heroica surgiu em sua mente, e sua voz suavizou:
— Xi Xi, eu me casei com o Príncipe Ning.
Então, quem melhor do que ela para saber se o Príncipe Ning está ou não na capital?
Esse fato chocou Yue Lingxi de tal forma que ela não conseguiu reagir por um bom tempo. No entanto, o que era ainda mais inimaginável para ela era outra coisa — se ele não era o Príncipe Ning, então... quem era?
Enquanto isso, a pessoa em quem ela pensava estava em uma reunião noturna no estúdio imperial.
— Todos os arquivos estão aqui?
— Respondendo à Vossa Majestade: o caso do Príncipe Lu está contido em seis volumes e trinta e dois livros no Ministério da Justiça, e todos estão aqui.
Sob a luz de quatro luminárias de chão com ramos dourados entrelaçados, cada palavra dos dois montes e meio de rolos sobre a mesa imperial podia ser lida com clareza. Um dos volumes havia sido retirado e estava preso sob um peso de papel em forma de dragão de jade preto e branco. A capa azul-marinho exibia três grandes caracteres em estilo regular: Lista de Criminosos Condenados.
Todas as pessoas envolvidas no caso e os métodos de punição estavam registrados ali, incluindo o clã Yue, liderado por Yue Qunchuan, que havia ajudado na rebelião do Príncipe Lu. O principal culpado fora decapitado como exemplo, enquanto os cúmplices foram exilados para o Arquipélago dos Nove Portões, e os parentes apenas expulsos da capital. Centenas de nomes preenchiam algumas páginas esparsas — mas nenhum deles correspondia a Yue Lingxi.
Ela era uma cúmplice sem fundamento.
Chu Xiang estava sentado no trono do dragão, vestindo uma túnica tradicional azul-celeste com padrões florais esplêndidos. Apesar do brilho da roupa, a cor não conseguia esconder a expressão solene em seu rosto. Pei Zhao permanecia abaixo do trono, ouvindo o som dos dedos de Chu Xiang batendo na mesa — o único som que rompia o silêncio da sala. De repente, Pei Zhao teve a sensação de que uma paz há muito tempo escondida estava prestes a ser despedaçada.
— Majestade, já faz muito tempo desde que o caso do Príncipe Lu foi encerrado, e os que mereciam punição foram punidos. Posso perguntar por que Vossa Majestade pediu que os arquivos fossem recuperados em segredo para revisão?
— Os que mereciam punição foram punidos, mas os que não deveriam ter sido... também foram.
— ...Perdoe minha ignorância, Majestade, mas o que quer dizer com isso?
Chu Xiang ergueu a cabeça, e seu olhar claro e gélido varreu o ambiente, fazendo com que uma onda de suor quente surgisse em Pei Zhao — mesmo sabendo que o olhar não era dirigido a ele. De tutor a conselheiro político, ele estivera ao lado de Chu Xiang por mais de dez anos e raramente o vira tão furioso com algo. Havia algo de muito errado nesse caso.
Como esperado, quando Pei Zhao chegou a essa conclusão, Chu Xiang esclareceu sua dúvida:
— Pei Zhao, se Eu não tivesse visto com meus próprios olhos, não acreditaria que ainda havia membros ilegítimos da família Yue condenados ao exílio. O yamen local ainda possui documentos oficiais emitidos pela corte, com papel branco, caracteres pretos e o selo imperial. Não sei o quão autênticos são. Até Eu quase duvidei se lembrava corretamente do caso.
Pei Zhao estremeceu com o tom gélido e não pôde conter sua surpresa:
— Como isso é possível? Na época, a punição antiga já havia sido abolida, e a família Yue foi tratada com leniência. Até os parentes foram apenas realocados para Langzhou. Como poderia haver menção de parentes colaterais sendo implicados e exilados para a fronteira?
— Quando a família Yue se dividiu, anos atrás, o irmão mais novo de Yue Qunchuan foi para Jiangzhou. Após o incidente, foi preso pelos oficiais locais e levado para fora da fronteira, sob a alegação de punição coletiva — disse Chu Xiang, com os lábios cerrados e o rosto frio. — Vá investigar para Nós quem ousou falsificar um decreto imperial. E envie alguém a Langzhou para verificar se os parentes da família Yue ainda estão lá.
— Sim, cuidarei disso imediatamente.
Pei Zhao entendeu o recado na hora. Saiu do estúdio com expressão grave, pensando consigo mesmo que esperava que os membros da família Yue estivessem a salvo. Caso contrário, essa história não seria nada simples.
Nota: Em Chinês, o Imperador tem pronomes próprios para se referir a si mesmo, agora que Chu Xiang ocupa a posição de Imperador ele usa esses pronomes, por isso as palavras em maiusculo. Decidi deixar assim como uma curiosidade e para saber se ele está falando como Imperador ou não.
Capítulo 14: Encontro Inesperado Num piscar de olhos, os duzentos mil soldados estacionados no Desfiladeiro Yanmen estavam prestes a desmontar acampamento e retornar à capital. Quando receberam essa notícia, Yue Lingxi e Duan Muzheng estavam sentadas no restaurante Tianque, tomando chá. O vento no andar superior era forte, fazendo com que a gaze leve balançasse de um lado para o outro, dissipando o abafamento do salão elegante. Uma chaleira de chá claro repousava sobre a mesa, soltando uma fumaça tênue. Na atmosfera enevoada, a paisagem movimentada da capital podia ser vista por completo. Parecia que os dias nunca haviam sido tão tranquilos. Duan Muzheng ergueu as mangas azul-lago e serviu chá para Yue Lingxi. Disse suavemente: — O chá Longjing daqui sempre foi bom. Você deveria experimentar. Yue Lingxi tomou um pequeno gole obedientemente e achou o sabor ainda mais suave do que o chá que costumava beber em Yi Ocidental. Pensou por um momento antes de perguntar, curiosa: — As folhas são finas e a cor do chá é intensa, mas não turva. Suponho que venha de alguma casa de chá de Jiangnan, não é? Duan Muzheng sabia que a irmã havia lido muitos livros e, embora talvez não tivesse provado todos os chás, bastava observar para acertar oito ou nove em cada dez. Por isso, riu e a repreendeu com leveza: — Nada escapa aos seus olhos afiados. A família Ye começou como comerciantes de chá, e Jiangnan é o reduto deles. Até o chá oferecido como tributo todos os anos vem de lá. Então o restaurante Tianque também pertencia à família Ye. Embora Yue Lingxi soubesse que os Ye eram a principal família da capital, não conhecia seus antecedentes. Apenas comentou em voz baixa: — Parece que os negócios da família Ye são realmente vastos. — Claro que são — disse Duan Muzheng, estendendo a mão pela janela e apontando casualmente para uma dúzia de lojas à vista, como se estivesse apontando tropas em formação. — Veja, qualquer placa com o emblema do cervo pertence à família Ye. Emblema do cervo? Yue Lingxi observou por um momento com os olhos semicerrados, até que seu olhar se fixou. Abaixou a cabeça, desamarrou o cordão e o pingente de sua cintura, e o examinou de perto. Entre os padrões intrincados do pingente de jade, havia um canto esculpido com um cervo vívido — até mesmo a postura de levantar a cabeça e erguer as patas estava perfeitamente retratada. Não era de se admirar que a casa que alugara na Mansão Yaxing da família Ye fosse tão barata. Perguntou rapidamente, com ansiedade: — Irmã, quem é o responsável pelos negócios da família Ye? Duan Muzheng pensou por um momento e respondeu: — Você quer dizer o chefe do clã? Deve tê-lo visto no acampamento militar. É Ye Yanxiu, que foi à guerra com o Príncipe Ning e ocupa os cargos de Ministro da Guerra e Supervisor Militar. Mas não era ele. Yue Lingxi reconhecia Ye Yanxiu — e a outra pessoa era claramente outra. Ela descartou essa possibilidade em silêncio, refletiu por um instante e então levantou outra questão: — A família Ye tem mais alguém com autoridade para mobilizar os três exércitos? Ao ouvir isso, Duan Muzheng não conseguiu conter o riso e cobriu a boca: — Sua boba, sempre diz essas coisas absurdas. Neste mundo, quem além do imperador e do comandante-em-chefe ousaria fazer algo assim? Yue Lingxi congelou de repente. Sim — a resposta estava bem diante dela, e ela simplesmente a ignorara. Era o clássico caso de não enxergar a floresta por causa das árvores. Que general comum teria a coragem de permanecer impassível diante do perigo, e a firmeza de espírito para tomar decisões rápidas e agir com determinação? Ele era o único filho do antigo imperador Yin e da imperatriz viúva Ye — não era de se estranhar que carregasse um símbolo da família Ye consigo. Ele até se dera ao trabalho de amarrá-lo em sua cintura quando ela desceu da carruagem... Tudo fazia sentido agora. — Xi Xi, você está bem? Duan Muzheng observava o rosto da irmã, ora pálido, ora esverdeado, e, preocupada, sacudiu levemente seu braço. Yue Lingxi despertou de seus pensamentos e forçou um sorriso: — Não é nada, só me distraí um pouco. Embora suas palavras fossem simples, sua mente ainda estava um caos. Como imperador, ele certamente já sabia qual crime sua família havia cometido. Esse é o tipo de coisa que todos os imperadores ao longo da história mais temem — preferem eliminar todos os envolvidos antes que se tornem ameaça. No entanto, ele foi surpreendentemente tolerante. Não apenas não a enviou de volta a Yi Ocidental, como também a escoltou até a capital e se tornou cúmplice em esconder sua identidade. Ela realmente não conseguia entender o que ele pretendia. As dúvidas permaneciam, e um sentimento de distância já havia se instalado em seu coração. O príncipe era o príncipe. Mas o imperador... era um imperador inalcançável. Se possível, aquele pingente de jade precisava ser devolvido a ele. Depois de tanto tormento, o mistério finalmente havia sido resolvido. No entanto, Yue Lingxi não ousava contar a verdade a Duan Muzheng, temendo que ela se assustasse e a levasse embora da capital imediatamente. Se isso acontecesse, não haveria mais chance de reencontro com Chu Jun. Desde que ela foi capaz de matar alguém da Torre da Luz da Lua por causa de Chu Jun, era evidente o quanto ele significava para ela. Por isso, não podia deixá-la em uma situação difícil. Com essa decisão tomada, a expressão de Yue Lingxi gradualmente voltou ao normal. De tempos em tempos, abaixava a cabeça para tomar um gole de chá ou olhava para a paisagem lá embaixo. Parecia calma e relaxada, como se não tivesse descoberto a verdade momentos antes — e o jade em sua mão não lhe causasse dor alguma. Foi então que várias carruagens se aproximaram lentamente do lado leste da rua de dez milhas. As rodas eram cravejadas de ferro e pregos de cobre, e o topo era coberto com brocado colorido. À frente, dois cavalos brancos corriam lado a lado. Passavam diante dos olhos das pessoas com um ímpeto grandioso e imponente, deixando claro que não pertenciam a uma família qualquer. Duan Muzheng já estava na capital há mais de um ano e conhecia bem as grandes e pequenas famílias. Agora, bastou um olhar para o emblema na carruagem para que se virasse para Yue Lingxi e dissesse: — Essa é a família Gu. Todos são generais valentes e têm grande influência na corte. Podem ser considerados uma das famílias mais poderosas da capital. — O que estão indo fazer? Com a brisa levantando as cortinas, Yue Lingxi vislumbrou algumas figuras graciosas ao longe. Perguntou-se por que tantas mulheres haviam saído da cidade, mas Duan Muzheng explicou com um sorriso: — Talvez estejam indo ao Templo Huguo fazer oferendas a Buda. — Oferendas? — Sim. Há meio ano, o neto querido da Senhora Gu foi sequestrado por um malfeitor. Ela procurou por meses sem notícias e achou que não havia mais esperança. Mas no mês passado, chegou uma notícia da fronteira dizendo que ele havia sido encontrado em Mengcheng. E agora há pouco, ele foi devolvido em segurança. A Senhora Gu disse que foi uma bênção dos céus e quer ir ao templo agradecer. Yue Lingxi ouvia distraidamente, mas quanto mais escutava, mais familiar lhe parecia a história. Virou-se para olhar a comitiva — e, inesperadamente, uma cabecinha surgiu por entre as cortinas, espiando por um tempo antes de olhar diretamente para o andar de cima. Seus olhares se encontraram! Era familiar demais. Logo depois, a carruagem parou bruscamente, e um garotinho saltou do compartimento como um macaquinho. Agitou os braços gordinhos e gritou para o andar de cima: — Irmã—! Yue Lingxi ouviu aquele tom tão familiar e permaneceu em silêncio por um momento. Aquilo era mesmo... destino... Gu Chang’an ficou ansioso ao ver que ela o ignorava. Correu até ela, seguido por um grupo de criadas e servos que gritavam e faziam barulho, chamando a atenção de todos na rua. — Xi Xi, você o conhece? — perguntou Duan Muzheng, surpresa. Finalmente, Duan Muzheng percebeu que a confusão havia sido causada por Yue Lingxi. Ficou atônita, e antes que Yue Lingxi pudesse explicar qualquer coisa, Gu Chang’an já havia corrido até a porta, os olhos brilhando como se tivesse encontrado um tesouro. — Irmã, nos encontramos de novo! Ele se lançou para frente por hábito, mas de repente alguém o agarrou pela gola por trás. Por mais que se debatesse, não conseguiu dar um passo. Virou a cabeça, irritado, para ver quem era — e deu de cara com o rosto delicado e encantador de uma bela mulher. Imediatamente, ficou em silêncio. — Cunhada... Ye Sitian cantarolou docemente e o colocou de lado com leveza: — De novo sem se comportar, não é? Querendo pular da carruagem e assustando sua avó... cuidado ou quem vai sofrer é o seu traseiro! — Eu errei — Gu Chang’an fez uma careta, apontando para Yue Lingxi. — Cunhada, é que eu fiquei desesperado quando vi minha irmã salvadora! Ye Sitian ficou um pouco surpresa: — Você quer dizer... a moça que te salvou em Mengcheng? Gu Chang’an assentiu com entusiasmo. Crianças têm boa memória, então não fazia sentido ele confundir alguém. Por isso, Ye Sitian soltou a mão do menino e passou a observar Yue Lingxi, que estava sentada ao lado da mesa de flores de sândalo. Quando seu olhar parou em certo ponto, ela sorriu levemente. — Chang’an já havia comentado que a moça deixou o Desfiladeiro Yanmen cedo e ninguém sabia para onde tinha ido. Foi uma pena ele não poder retribuir o favor. Quem diria que nos encontraríamos justamente no meu restaurante. Realmente é o destino. E ainda por cima com a presença da senhora Ru, fica muito mais fácil conversar. Poderia me apresentar, por favor? Ela era sutil em suas ações e falava com precisão, tornando difícil recusar. Felizmente, Duan Muzheng já tivera contato com ela antes e sabia que era uma pessoa direta, então concordou prontamente. No entanto, ocultaram os nomes verdadeiros para evitar problemas. — Senhora Gu, esta é minha prima distante, chama-se Lingxi. — Então é a senhorita Ling — Ye Sitian assentiu e se virou para cumprimentar Yue Lingxi. — Sou cunhada de Chang’an. Talvez você não me conheça, mas deve ter conhecido meu primo Ye Yanxiu, não é? Ele mencionou em uma carta que a senhorita é gentil, educada e atenciosa. Vendo-a hoje, só posso confirmar isso. Então Ye e Gu eram parentes por afinidade — não era de se admirar que a família Ye cuidasse tanto de Gu Chang’an. Yue Lingxi estava concentrada em entender a relação entre eles e não reagiu muito aos elogios. Apenas respondeu com simplicidade: — Lorde Ye é muito generoso. Lingxi não merece tanto. Ao ouvir isso, os olhos de Ye Sitian brilharam com doçura — rápido demais para que alguém notasse —, mas seu tom tornou-se ainda mais afável: — Senhorita Ling, por favor, não seja modesta. De qualquer forma, a família Gu guardará esse favor no coração. Se precisar de algo enquanto estiver na capital, é só dizer. A família Gu jamais recusará um pedido justo. — Agradeço a gentileza, senhora Gu. Lingxi recebe com gratidão. Vendo que ela era reservada, Ye Sitian não insistiu e disse com franqueza: — Deixe pra lá, não vamos falar mais disso. Teremos muitas oportunidades de nos encontrar no futuro. A senhorita Ling não se recusaria a ser minha amiga, certo? — De forma alguma. — Que bom — Ye Sitian sorriu docemente, segurando a mão de Gu Chang’an e se despedindo das duas. — Não vou atrapalhar o reencontro da senhora Ru com a senhorita Ling hoje. Combinamos outro dia. Yue Lingxi se levantou e fez uma reverência: — Senhora Gu, vá com calma. As duas foram diretas, mas infelizmente Gu Chang’an não conseguiu trocar mais do que algumas palavras com Yue Lingxi antes de se despedir. Nem teve tempo de perguntar onde ela morava, e seu coração estava tão inquieto quanto um formigueiro. No entanto, não ousava contrariar a cunhada, então só pôde gritar três vezes enquanto se afastava: — Irmã, vamos correr a cavalo nos arredores quando o tempo esfriar! Estarei esperando por você no restaurante Tianque, não se atrase! Assim que terminou de falar, sua figura rechonchuda desapareceu escada abaixo. Quando seus passos se perderam ao longe, Yue Lingxi olhou da sacada e viu o adulto e a criança subirem de volta à carruagem, que então começou a se mover lentamente. No entanto, ela não percebeu que o marido de Ye Sitian, Gu Jingyi, também estava na carruagem. Ao ver a figura graciosa da esposa retornar ao seu campo de visão, ele a envolveu nos braços por hábito e estava prestes a perguntar sobre o que acontecera lá em cima. Mas ao ver a expressão misteriosa dela, não pôde deixar de rir: — Que cara é essa? — Jing Ge, sabe o que vi naquela moça? — A voz de Ye Sitian fez uma pausa, e então ela sussurrou: — O símbolo da nossa família Ye. Gu Jingyi ficou um pouco surpreso e perguntou: — Como ela conseguiu aquilo? Foi o Yanxiu quem deu? — Acho que não — Ye Sitian balançou a cabeça, com um leve brilho calculista nos olhos. — Testei ela de propósito, mas ela não reagiu ao nome do irmão Xiu. Parece que nem o conhece. — Hm... Ye Sitian olhou para o rosto confuso de Gu Jingyi e de repente riu: — Você é mesmo bobo. O que há pra pensar? No acampamento militar, só há dois membros da família Ye. Se não foi o irmão Xiu... quem mais poderia ser? Gu Jingyi ficou sem palavras por um momento antes de murmurar: — Você está dizendo... que o pingente foi dado por Sua Majestade? Ye Sitian sorriu docemente, mas não respondeu. Seus olhos giravam, como se estivesse tramando algo. Hmm... devo ir primeiro ao palácio procurar o irmão Xiang e sondá-lo, ou devo relatar isso à minha tia?
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