Capítulo 13 – O Homem Mais Rico da Capital
A estação estava cada vez mais fria, e o sol do inverno já não trazia calor. Por outro lado, o aroma quente da comida feita pelos vendedores ambulantes que carregavam suas mercadorias até o Portão Leste logo pela manhã trazia uma sensação confortável às pessoas.
Na capital, havia um ditado antigo: “Leste é pobre, oeste é rico, sul é nobre, norte é caótico.” Ou seja, o leste era morada dos mais pobres, o norte era desordenado, o sul abrigava os nobres e o oeste era terra dos ricos.
Diziam que essa frase fora dita por um taoísta viajante ainda na época do antigo imperador.
Na verdade, não era tão exagerado assim. Acontece que o nordeste ficava próximo às áreas periféricas da cidade, voltado para grandes extensões de terras vazias e montanhas — naturalmente, não havia habitação humana por lá.
A Ponte Sul era o local favorito dos nobres da capital. Havia muitas atrações por ali, e os tipos de entretenimento eram variados.
Todos os jovens mestres adoravam se divertir por lá. Mesmo os mais comedidos apreciavam o ambiente refinado do local. Encontrar uma casa de chá elegante para beber e ouvir música era um excelente passatempo.
Foi então que ele viu uma loja ao pé da Ponte Sul — espaçosa e iluminada, simples e rústica, mas carregando uma aura de riqueza e nobreza. Na placa acima da porta, um único caractere dourado: Penhor. Tratava-se de uma casa de penhores.
O velho gerente estava ocupado dentro da loja. No segundo andar havia uma varanda requintada, o que fazia o lugar parecer mais um restaurante.
Do alto do segundo andar, podia-se observar não apenas a multidão agitada abaixo, mas também olhar para o leste e ver a água límpida fluindo sob a Ponte Sul — ágil e pura como um belo jade.
— Este lugar é realmente encantador. Acho que é o melhor ponto para apreciar toda a beleza da paisagem — disse o homem de vermelho, tomando um gole de vinho. Seus olhos encantadores brilhavam intensamente; se estivessem num rosto feminino, ele seria a mulher mais bela do mundo.
A cortina de gaze pendurada era a mais nova tendência da capital — balançando suavemente, sua cor lembrava o céu lavado pela água clara. Do lado de fora da cortina de contas, duas belas mulheres tocavam suavemente o alaúde. A melodia, como pérolas caindo sobre um prato de jade, era fascinante.
Do outro lado, estava sentado um homem cuja aparência exalava riqueza. Usava uma túnica dourada clara, com botões costurados com fio de prata, e uma coroa de pérolas sobre a cabeça — parecia ansioso para escrever a palavra rico na própria testa.
Com um par de hashis de jade, pegou um pedaço de comida e levou à boca, dizendo:
— Nunca vi um parasita como você. Aqui não recebo desocupados. Que grande mérito é esse seu de vir comer de graça todos os dias? O jovem mestre da família Helian vem ao meu Prédio da Fortuna só pra se fartar. Se eu contar isso aos outros, não tem medo de virar motivo de piada?
Helian Yu sorriu ao ouvir:
— E tem do que ter medo? Você, Jiang Yulou, é o homem mais rico do mundo. É só uma refeição, por que ser tão mesquinho? Além disso, não sou o único que come de graça.
Apontou com o queixo para o outro lado e disse:
— Por que não reclama com ele?
— Ele pagou. Você, não — respondeu Jiang Yulou, lançando-lhe um olhar dos pés à cabeça. — Por que não sobe no palco do meu Prédio da Fortuna e canta alguma coisa? Com essa sua beleza, em três dias, incontáveis jovens estariam jogando suas faixas vermelhas aos seus pés.
— Você! — Helian Yu detestava que o comparassem a uma mulher, mas o outro era tão sem vergonha que ele não sabia como lidar com aquilo.
Irritado, desviou o olhar:
— Yunxi, você está encarando lá pra baixo desde agora há pouco. O que foi? Se interessou por alguma moça?
O homem era Fu Yunxi. No momento, estava sentado na sacada, os olhos negros fixos numa carruagem muito comum lá embaixo.
O cocheiro havia parado em frente à casa de penhores. Depois de um tempo, duas moças vestidas como criadas desceram da carruagem. A menina de blusa azul ficou à frente, abriu a cortina e ajudou a pessoa de dentro a descer.
Era uma garotinha, de uns doze ou treze anos, vestindo um casaco fino de algodão com seda preta e, por cima, apenas um colete de cetim azul-escuro — tudo muito simples. Usava dois coques redondos no cabelo, e de cima não se via seu rosto. Nas mãos, segurava uma caixa de madeira que ia quase até a altura de seu peito.
Helian Yu já havia se aproximado também e ficou pasmo ao vê-la. Surpreso, até esqueceu seu mau humor anterior e perguntou a Jiang Yulou:
— A sua loja não aceita apenas tesouros?
Jiang Yulou balançou a cabeça:
— Contanto que tragam dinheiro, não há motivo para recusar. Se é um tesouro ou não, isso é secundário.
— Que estranho — murmurou Helian Yu consigo mesmo. — Com roupas tão esfarrapadas, ela tem coragem de entrar na sua loja. Espero que tenha errado o caminho...
— Acha que o meu Prédio da Fortuna é um lugar que qualquer um pode errar? — retrucou Jiang Yulou. — Os verdadeiramente ricos não se mostram. Quanto mais preciosos os tesouros de uma pessoa, mais ela precisa escondê-los.
Helian Yu bufou, mas ao notar que Fu Yunxi, ao seu lado, raramente demonstrava interesse por algo e agora exibia tal expressão, também olhou para baixo.
A garota de roupas simples era Han Yan, e as criadas que a acompanhavam eram Ji Lan e Shu Hong.
Hoje, ela viera empenhorar um item. No entanto, aquele objeto talvez não pudesse ser aceito em casas de penhores comuns.
Somente o Prédio da Fortuna, o maior da capital, poderia aceitá-lo. Mas ainda assim, era apenas uma possibilidade.
O gerente era um senhor de barba grisalha. Ao ver Han Yan e as outras duas se aproximarem, não as tratou com desdém. Ao contrário, conduziu-as até o salão principal com cordialidade e lhes serviu chá. Disse gentilmente:
— Senhorita, deseja empenhorar algo?
Um traço de admiração passou pelo olhar de Han Yan. Quem faz negócios na capital não observa palavras e expressões com atenção?
Todos aqui são muito espertos. Hoje, ela havia se vestido de maneira propositalmente simples. Se estivesse em outra loja, por parecer jovem e não aparentar vir de uma família rica, provavelmente já teria sido desprezada e ridicularizada.
No entanto, o gerente não apenas não demonstrou nenhuma intenção hostil, como também foi extremamente cortês. Não é à toa que conseguiu tornar esta loja a melhor da capital.
— Por favor, gerente, tenho aqui um pequeno item. Poderia avaliar seu valor? — pediu, indicando para que Ji Lan abrisse a grande caixa de madeira.
Havia uma espessa cortina de tecido separando o salão principal da antecâmara da casa de penhores, com alguém de guarda para impedir a entrada de intrusos. Assim, Han Yan não se preocupou. Ji Lan se aproximou, ergueu a tampa da caixa para o lado, revelando o conteúdo ali dentro.
— Isso... — o gerente ficou espantado.
Han Yan inclinou a cabeça e sorriu:
— Gerente, poderia me dar uma estimativa?
— O que quer dizer com isso, senhorita? — o rosto do velho gerente imediatamente se fechou. — Está zombando de mim?
— Gerente, não reconhece este item? — retrucou Han Yan, sem alterar o tom.
O gerente ficou atônito ao ouvir isso. Para ser honesto, ele realmente não reconhecia o objeto à sua frente — parecia algo extremamente comum. Desde que começou a trabalhar no Prédio da Fortuna, via tesouros diariamente. Seus olhos eram experientes e apurados.
A garotinha à sua frente vestia-se de maneira simples e tinha aparência comum, mas a forma cuidadosa como segurava a caixa fizera com que ele não subestimasse o conteúdo. No entanto, ao vê-lo aberto, não esperava que fosse aquilo.
Olhou novamente para a caixa e confirmou que não se tratava de um tesouro. Imediatamente, sua expressão ficou um pouco desagradada:
— Mesmo que eu reconheça o que é, não vale o esforço! Se a senhorita não tem mais nada, recomendo que procure outra loja para penhorar.
Antes que Han Yan pudesse responder, Shu Hong já se adiantou:
— Velho gerente, se deixar nossa senhorita sair assim, temo que seu patrão o repreenda quando souber.
A casa de penhores e o restaurante do Prédio da Fortuna não pertenciam ao senhor idoso à sua frente, mas sim ao homem mais rico do mundo — Jiang Yulou. Este era extremamente habilidoso nos negócios. Com apenas vinte anos, já havia construído um império comercial e aberto uma loja tão imponente na capital.
O velho gerente encarou a garota diante de si. Ela era pequena, mas um sorriso confiante iluminava seu rosto ainda com traços infantis. Olhava para ele com tranquilidade, como se tivesse plena certeza de que o objeto era um verdadeiro tesouro.
Imediatamente, ele ficou em dúvida. Mas então, ouviu Han Yan dizer:
— Não se preocupe, velho gerente. Seu patrão virá, e com certeza não o repreenderá.
O gerente a observou por um momento e, por fim, tomou sua decisão. Virou-se para um criado ao seu lado e ordenou:
— Vá chamar o jovem mestre. Diga que esta senhorita tem um grande negócio a tratar.
Capítulo 14 — Tesouros são Venenosos
Enquanto Jiang Yulou degustava um vinho de uva trazido das Regiões Ocidentais, avaliado em cem taéis de prata, viu um criado de camisa cinza parado do lado de fora da cortina de contas. O homem anunciou:
— Jovem mestre, uma garota desceu e quer empenhorar um tesouro. O gerente Fang não conseguiu identificar sua origem. Por favor, desça e dê uma olhada.
Jiang Yulou ficou surpreso ao ouvir isso. Conhecia bem o olhar apurado do Velho Fang. Se até ele não conseguiu reconhecer o objeto supostamente valioso, isso é realmente interessante.
Helian Yu riu:
— Seria a garotinha que acabou de entrar? Haha, talvez ela esteja só brincando com vocês. Pode nem haver tesouro nenhum.
Fu Yunxi, que segurava a taça de vinho, fez uma pausa, balançou a cabeça e disse:
— Talvez não.
Jiang Yulou alisou a túnica, levantando-se com preguiça:
— Hmph, já faz tempo que não surge nada novo na capital. Vou descer e ver que tipo de “tesouro” é esse. Continuem bebendo, não me esperem. — Levantou a cortina de contas e seguiu o criado escada abaixo.
Helian Yu bufou:
— É capaz de voltar pra casa decepcionado.
Fu Yunxi apenas observava, pensativo, a carruagem parada lá embaixo, sem expressar nenhuma emoção.
Jiang Yulou acompanhou o criado até o salão da loja e, ao entrar no salão central, viu uma garotinha sentada na cadeira ao centro.
O gerente Fang, ao vê-lo, suspirou aliviado e disse:
— Senhor.
Ele ergueu a mão:
— É essa a garota que quer empenhorar um tesouro?
Han Yan sustentou seu olhar e respondeu em alto e bom som:
— Senhor, está exagerando. Não é um tesouro, é apenas uma coisa nova.
Jiang Yulou ficou um pouco surpreso com a resposta. Ao notar os bolinhos e o chá simples sobre a mesa, sua curiosidade aumentou. Momentos antes, havia visto que era apenas uma garotinha que mal sabia jogar xadrez, então não dera muita importância. Mas agora percebia que ela tinha coragem.
Quem da capital entra no Prédio da Fortuna sem cautela? Aquela garota estava calma e firme, como se estivesse em casa — ainda pensava em comer e beber! Será que é mesmo um bezerro recém-nascido que não teme o tigre?
Enquanto Jiang Yulou a observava, Han Yan fazia o possível para manter a calma. Em um lugar como o Prédio da Fortuna, até nobres da capital ficavam desconfortáveis. Mas ela não podia demonstrar medo. Porque no futuro virá aqui com frequência, e hoje é sua primeira batalha — não pode perder o ímpeto.
Jiang Yulou arqueou as sobrancelhas e caminhou até a caixa de madeira. Com um sinal, dois criados retiraram o conteúdo.
As palmas de Han Yan estavam úmidas de suor pegajoso. Observava com atenção a expressão de Jiang Yulou. Esse homem, dito o mais rico da capital, era muito mais jovem do que eu imaginava... e tinha uma aparência bastante inteligente.
Sua postura era distinta, o rosto bonito. Mas Han Yan franziu o cenho ao ver suas roupas — parecia até que ele fazia questão de mostrar que era rico.
Tantas joias, tecidos finos e adornos luxuosos... era até um desperdício para aquele rosto puro e belo. Enquanto lamentava secretamente, o homem levantou os olhos e cruzou o olhar com o seu. Han Yan se assustou, corou e desviou o rosto imediatamente.
Jiang Yulou ficou intrigado. A garota o olhara com um certo pesar — por quê? Ao ver Han Yan desviar o olhar, envergonhada, ele sorriu e disse:
— Senhorita, este tesouro parece ter uma certa origem... mas não sei se estou certo.
Han Yan o encarou. Viu seus lábios se moverem lentamente para formar duas palavras:
— Hao Peng.
O objeto retirado da caixa, excetuando o pano preto que o cobria, era uma enorme gaiola dourada. Dentro dela, repousava um passarinho do tamanho da palma de uma mão, deitado e revirando os olhos.
A ave era comum, indistinguível de um pardal. A única diferença era que era toda preta, com um tufo de penas brancas na longa cauda — mas não parecia uma espécie rara.
Han Yan sorriu por dentro. De fato, é um conhecedor. Então assentiu:
— Exato.
Peng era venenoso. Quando aparecia, todas as demais aves se afastavam. Ao encontrar uma mulher selvagem, bicava para acasalar. Os nativos amarravam um homem robusto, colocavam nele um vestido vermelho e um grampo com flores nos cabelos. O Peng ficava ali parado, com o sêmen escorrendo. Escolhia a mulher, seduzia-a... e se fortalecia.
O Hao Peng enjaulado era uma ave originária de Mianmar. Essa ave era lasciva e venenosa. Quando via uma mulher bonita, ejaculava sobre ela. O líquido que excretava era chamado de Ling de Mianmar, um precioso afrodisíaco medicinal. O cheiro por si só já era capaz de provocar reações nas pessoas. Se ingerido, então, era praticamente um elixir milagroso.
Mais do que dizer que o pássaro Hao Peng era valioso, era mais correto afirmar que o verdadeiro tesouro era o Ling de Mianmar que ele produzia. Se Han Yan não tivesse passado os dias em casa lendo livros após o incidente com os bandidos em sua vida passada, e acidentalmente tivesse encontrado o antigo tomo que registrava a existência dessa ave, jamais imaginaria que aquele pequeno pássaro tinha uma origem tão incomum.
Mas embora fosse um tesouro, jamais poderia ser tocado.
Jiang Yulou primeiro se surpreendeu e depois ficou maravilhado. Parecia que aquela garota sabia exatamente o que era o animal chamado Hao Peng. E diante de um homem como ele, ela ainda era tão direta e franca. Seu semblante assumiu uma expressão estranha.
— Já que o senhor Jiang conhece o valor do Hao Peng, poderia fazer uma avaliação?
Jiang Yulou acariciou o leque dobrável que tinha nas mãos, os olhos brilhando:
— Embora esse Hao Peng seja algo raro, não é fácil de vender aqui na Capital. A propósito, senhorita, é um penhor vivo ou morto?
Han Yan se irritou ao ouvir isso. É claro que é um penhor morto! Um dia ainda teria que resgatá-lo com prata? Imediatamente respondeu de forma ríspida:
— Penhor morto.
Jiang Yulou percebeu que ela ficou brava e achou ainda mais interessante:
— E quanto acha que vale?
— Mil taéis de ouro. — Depois de dizer isso, Han Yan fitou o homem à sua frente sem piscar, tentando captar qualquer sinal em sua expressão. Inesperadamente, Jiang Yulou apenas acenou com a mão e disse:
— Velho Fang, vá buscar a nota promissória.
É tão simples assim? Han Yan ficou atônita. Imaginava que, ao pedir um valor tão alto, certamente haveria uma disputa com Jiang Yulou. Não esperava que ele aceitasse com tanta facilidade. Ora, mais de dez taéis de prata são suficientes para alimentar uma família comum por um ano... esse pássaro lascivo valeria mesmo tudo isso?
Será que eu saí no prejuízo?! Pensando nisso, ela disse apressadamente:
— Esse é só o preço do pássaro. A gaiola custa duzentos taéis de ouro.
Jiang Yulou sorriu e respondeu:
— Vá buscar.
Ao ver que ele ria tão satisfeito, Han Yan ficou ainda mais convencida de que tinha feito um mau negócio. Mas então pensou: O outro lado é o homem mais rico da Capital. Se eu fizesse ele perder dinheiro, isso sim seria estranho.
Tudo bem perder dinheiro hoje. No futuro, ainda farei muitos negócios aqui. Após se acalmar, ela disse:
— Preciso de cem taéis de prata em espécie. Peço esse favor ao Mestre Jiang.
Depois de tudo resolvido, Han Yan guardou as notas no bolso e pediu a Ji Lan e Shu Hong que ficassem com a prata. Inclinou-se diante de Jiang Yulou e disse:
— Por favor, não conte a ninguém sobre o que aconteceu hoje. Com licença, vou me retirar.
Jiang Yulou a deteve:
— Com licença... onde conseguiu esse Hao Peng?
Uma moça ainda solteira não deveria ter algo assim.
Han Yan não se virou e respondeu:
— Alguém me deu. — Mas um sorriso sarcástico surgiu no canto de sua boca. Sim, Zhou foi quem lhe deu aquilo.
Jiang Yulou arqueou as sobrancelhas e sussurrou para um dos homens ao seu lado:
— Vá. Siga a carruagem e descubra quem é essa garota.
Ela realmente ousou fazer esse tipo de negócio comigo. Seus olhos pousaram novamente sobre a gaiola em cima da mesa, e ele voltou a rir. Preciso levar isso para mostrar ao Yun Xi e aos outros.
Capítulo 15: Intenções Maliciosas
Ao retornar para casa, Ama Chen apressou-se em avisá-la:
— Jovem Senhorita, o Jovem Mestre está esperando por você no pátio.
Han Yan arqueou uma sobrancelha.
— Ele foi rápido em aparecer! — Um sorriso surgiu em seus lábios, suavizando sua expressão.
No pátio do Pátio Qingqiu, um menino vestindo uma túnica azul estava sentado junto a uma mesa de pedra. Ao ouvir os passos, virou a cabeça e sorriu para ela, dizendo:
— Jiejie! (Irmã mais velha)
Han Yan retribuiu o sorriso e disse:
— O que faz sentado no pátio? Não tem medo do vento? Mamãe acendeu o fogareiro dentro de casa. Venha para dentro. Ji Lan, prepare um bule de chá Agulha de Prata de Tianshan da remessa de ontem para o Jovem Mestre.
(Agulha de Prata de Tianshan refere-se a um chá verde fino, conhecido por suas folhas delicadas e alta qualidade, originário das montanhas Tianshan, na China.)
Zhuang Hanming sorriu e se levantou, aproximando-se com um elogio:
— Jie ainda se preocupa comigo.
De volta ao quarto interior, Han Yan pediu a Shu Hong que entregasse a Zhuang Hanming um pequeno aquecedor de ferro. Quando ele pegou o chá quente e tomou um gole, a cor voltou ao seu rosto. Em seguida, ela perguntou:
— A tia Zhou veio procurá-lo ontem?
Ao ouvir o nome de Zhou, a expressão de Zhuang Hanming mudou imediatamente. Ele bufou e disse:
— Ela tem más intenções. Só de vê-las já fico enjoado.
— Você teve algum conflito com elas? — Han Yan perguntou com preocupação. Afinal, seu irmão mais novo ainda era jovem e não estava familiarizado com as sujeiras do convívio doméstico. Com seu temperamento impulsivo, temia que não conseguisse evitar um confronto direto com a família Zhou. Se boatos começassem a circular, poderiam fazer parecer que ele era cruel com a nova concubina — o que também desagradaria Zhuang Shiyang.
Zhuang Hanming balançou a cabeça.
— Fiz como a Quarta Irmã mandou. Fui apenas muito frio com elas. Assim que entregaram as coisas, foram embora.
Han Yan não conseguiu conter um sorriso irônico.
— Mandar presentes... ela realmente sabe jogar.
Na noite anterior, Ji Lan havia voltado com notícias, contando que a senhora Zhou e sua filha haviam encontrado Ming Ge’er sob o pretexto de uma visita de cortesia após entrarem na residência, trazendo vários presentes — muitos deles raridades preciosas.
Ela não acreditava que a família Zhou fosse tão benevolente assim; havia claramente um objetivo por trás. Naquela noite, Zhuang Hanming pedira que uma das criadas lhe trouxesse algo — e foi assim que apareceu o pássaro na gaiola.
A tia Zhou dissera a Zhuang Hanying que aquele pássaro era extremamente interessante e gostava de mulheres bonitas. Se visse uma, ele a atacaria como forma de demonstrar intimidade. Na Capital, para os jovens mestres das famílias ricas, brincar com um pássaro exótico não era nada incomum. Zhuang Hanming ainda era muito jovem, e naturalmente ficaria curioso com uma novidade assim. No entanto, naquele momento, ele já nutria uma forte antipatia pela tia Zhou e sua filha, então não se interessou pelo pássaro e simplesmente o entregou a Han Yan, sabendo que mulheres costumam gostar de animais.
Ele não esperava que Han Yan ficasse tão chocada ao vê-lo. Ela reconheceu de imediato que o animal se parecia muito com o Hao Peng descrito nos textos antigos. Ao ouvir Hanming repetir as palavras de Zhou, teve ainda mais certeza: era um pássaro lascivo.
Zhou é realmente cruel em seus métodos! Se fosse um jovem comum, ao ver um pássaro tão inusitado, com certeza tentaria testá-lo com alguma mulher bonita. E nesse momento, o Hao Peng se empolgaria ao ver a beleza, liberando o cheiro do Ling de Mianmar, aquele tipo de afrodisíaco. Só de inalar, já se perde a razão, e a vontade de se deitar com a mulher aparece. Com o tempo, o jovem se tornaria um libertino arruinado pela luxúria. E Ming Ge’er só tinha onze anos! Zhou claramente estava tentando explorá-lo!
Pouquíssimas pessoas na Capital reconheciam um Hao Peng, e até mesmo hoje, o experiente Mestre Fang não soube identificá-lo. Naquela casa, ninguém mais saberia o que era aquilo. O golpe da tia Zhou era sutil e certeiro; se algo acontecesse com Ming Ge’er no futuro, ninguém suspeitaria do pássaro! Na vida passada, Ming Ge’er acabou preso por causa de uma cortesã — será que foi por isso? Ao pensar nisso, o olhar de Han Yan ficou gélido. Parece que a tia Zhou havia planejado tudo desde o começo!
Vendo a expressão sombria de Han Yan, Zhuang Hanming percebeu que algo estava errado e perguntou:
— Tem algo de errado com aquele pássaro?
Han Yan não queria revelar algo tão sujo para ele, então respondeu:
— Aquele pássaro é venenoso. É melhor não se aproximar.
— O quê? — O rosto de Zhuang Hanming se tingiu de raiva. — Como ousam tentar me prejudicar dentro da própria casa?! Jie, precisamos contar ao Pai! — E já se levantava, decidido a sair.
Han Yan o puxou de volta, aflita:
— O que você está fazendo? Se contar ao Pai agora, só vai deixar aquelas duas ainda mais desconfiadas. Vão continuar mandando coisas para o seu quarto. É melhor ficar em silêncio por enquanto, dar um tempo para que se acalmem.
Zhuang Hanming a olhou e perguntou:
— Jie, o pássaro está no seu quarto agora... o que vai fazer com ele?
Han Yan riu e disse:
— Não se preocupe. Hoje fui até a casa de penhores e empenhei o pássaro e a gaiola de uma vez só. Se quiserem continuar mandando presentes, que mandem! A gente troca tudo por prata e gasta como bem entender!
Os olhos de Zhuang Hanming se arregalaram, incrédulos:
— Jie, você realmente saiu da mansão escondida?
— Psiu. — Han Yan lançou-lhe um olhar cortante. — Quer que todo mundo na mansão ouça você gritar?
Após uma pausa, acrescentou:
— Ninguém sabe disso, então não precisa se preocupar.
Ela então puxou um bilhete bancário do bolso e o entregou a ele:
— Esse é o dinheiro que consegui ao empenhar. Fique com ele.
Zhuang Hanming balançou a cabeça e empurrou o bilhete de volta para as mãos dela.
— Não preciso de dinheiro agora. Você deve ficar com ele, Jie. Ah, e tem mais uma coisa — lembrou-se de repente —, a tia Zhou também me mandou várias roupas e bibelôs. As roupas parecem requintadas e valiosas, e os enfeites são raros também. Que tal levar isso para penhorar também?
Roupas? Bibelôs?
Han Yan semicerrrou os olhos, um sorriso frio surgindo no canto dos lábios.
Roupas elegantes e enfeites luxuosos tinham a intenção de fazer Ming Ge’er se acomodar no conforto, tornando-o um jovem senhor frívolo que só saberia se entregar aos prazeres. Se Zhuang Shiyang visse isso, pensaria que o filho era extravagante e inútil. Zhou estava jogando um jogo esperto!
— Vá separando tudo com calma. Vou levar os enfeites para penhorar, mas não vamos desperdiçar a "boa vontade" da tia Zhou.
— Jie. — Zhuang Hanming segurou a mão dela, o olhar sério. — Normalmente fico na Academia Imperial e não vou até o pátio dos fundos. Além disso, sou homem, então a tia Zhou ainda tem algumas reservas comigo. Você, por outro lado, precisa tomar mais cuidado.
Havia verdadeira preocupação em suas palavras, e Han Yan sentiu-se tocada. Ao olhar para o garoto à sua frente, percebeu que Ming Ge’er já tinha quase sua altura. O rostinho delicado começava a mostrar traços de firmeza, perdendo parte da infância. Desde que a mãe deles havia falecido, parecia que Ming Ge’er crescera da noite para o dia. Seu coração se enterneceu ainda mais.
Ama Chen observava os dois irmãos e não pôde deixar de se emocionar. Afinal, eram irmãos de sangue, e o afeto entre eles era sincero. Aquela mansão era cheia de armadilhas e pessoas mal-intencionadas; era realmente comovente ver crianças tão talentosas lidando com isso. Felizmente, a Jovem Senhorita era perspicaz. Sua astúcia e inteligência eram admiráveis, permitindo que ela navegasse pela casa sem ser facilmente enganada.
Do outro lado, Zhuang Shiyang e a tia Zhou haviam acabado de passar por um momento intenso. Zhou, com o corpo nu e macio pressionado contra o homem, falou com uma voz encantadora:
— Senhor, daqui a alguns dias haverá um banquete noturno no palácio, e todos os oficiais levarão suas mulheres...
Zhuang Shiyang, ainda com a expressão satisfeita após o prazer, sorriu com cumplicidade diante das palavras:
— Claro que levarei você, minha pequena feiticeira. Você é meu tesouro. Quem mais eu levaria?
— Eu sou apenas uma concubina — disse Zhou, os olhos brilhando com lágrimas contidas, exalando charme. — Yu’er é apenas filha de concubina. Estando ao seu lado, Senhor, temo que viremos alvo de fofocas daqueles com más intenções.
— Você é minha mulher, e Yu’er é minha filha. Quem ousaria dizer o contrário? Além disso, quem disse que você é apenas uma concubina? Eu já disse que vou tratá-la como uma senhora. Mais cedo ou mais tarde, você será uma senhora!
Diante de tal promessa, a Senhora Zhou ficou radiante, enterrando o rosto no peito nu do homem:
— O que meu senhor diz, é o que será.
Sentindo o corpo macio se mover novamente, Zhuang Shiyang a pressionou de novo, enchendo a tenda com sons ambíguos.
Do lado de fora, a criada que varria perto da cama apertou o cabo da vassoura com mais força e saiu rapidamente do pátio após um momento.
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