Capítulo 16 a 18

Capítulo 16: Tramas e Intrigas

Depois do jantar, Han Yan estava escrevendo em seu quarto. Era raro que a Concubina Zhou e sua filha estivessem tão quietas; embora certamente estivessem tramando algo, ela não queria que ninguém perturbasse aquele momento de paz.

Inesperadamente, mal havia terminado de escrever uma linha, uma criada veio anunciar que a tia Mei havia chegado.

Han Yan arqueou a sobrancelha. Ela nem sequer havia ido procurá-la, e agora a mulher aparecia por conta própria — isso era conveniente.

Ela pousou o pincel e o papel, dizendo calorosamente:

— A tia Mei está aqui? Depressa, deixe-a entrar.

Assim que a beldade, elegantemente vestida e cheia de charme, entrou no quarto de Han Yan, franziu a testa ao ver a simplicidade da decoração. Apesar de Han Yan ser a filha legítima da família Zhuang, seu quarto era quase tão simples quanto o da filha ilegítima, Zhuang Qin.

Han Yan ficou à porta, com a cabeça baixa, apertando nervosamente a barra da roupa:

— O que fez a senhora pensar em mim, tia?

Tia Mei examinou Han Yan com atenção, notando o rostinho jovem e inocente, e o leve tom de bajulação e cautela em sua expressão. Instantaneamente, sentiu seu valor se elevar. As mágoas que havia acumulado por causa da Senhora Zhou e sua filha nos últimos dias começaram a se dissipar, e ela passou a achar Han Yan cada vez mais agradável aos olhos. Estendeu a mão e deu leves tapinhas na dela, dizendo com gentileza:

— Olhe o que está dizendo! É claro que pensei em você, Quarta Senhorita. Você acabou de se recuperar de uma doença séria, e fiquei preocupada, com medo de que ainda não estivesse bem. Trouxe um pouco de comida para você.

Um arrepio percorreu Han Yan. Quando sua mãe ainda estava viva, tia Mei jamais a havia tratado com tanta gentileza; sempre a desprezara, considerando-a inferior por ser a Quarta Senhorita. Agora, essa súbita demonstração de afeto fazia Han Yan se sentir como se tivesse engolido uma mosca — havia algo muito desagradável preso em sua garganta.

Ao ver o silêncio de Han Yan, tia Mei achou que a menina era tímida e passou a desprezá-la ainda mais. Pensou que seria fácil manipulá-la e decidiu investir na construção de um bom relacionamento.

Han Yan forçou um sorriso doce:

— Agradeço a preocupação, tia Mei. Nestes dias em que estive doente, as outras tias foram muito atenciosas comigo, e fiquei bastante comovida.

Suas palavras sinceras surpreenderam tia Mei, que perguntou com ansiedade:

— As outras tias? Quem mais veio visitá-la?

Jiao Meng, ao lado, puxou discretamente a manga dela, fazendo tia Mei perceber que havia se exaltado. Ela rapidamente pigarreou para disfarçar.

Han Yan pareceu não notar o deslize e respondeu com docilidade:

— A tia Wan mandou a Terceira Irmã me visitar uma vez, e a tia Zhou e a irmã Yushan vêm com frequência, trazendo vários presentes.

Ao ouvir isso, tia Mei apertou o lenço perfumado na mão com força, sentindo um profundo ressentimento. Aquela mulher desprezível era mesmo rápida em suas ações!

Han Yan prosseguiu:

— Justamente ontem, a tia Zhou visitou o Quinto Irmão, trazendo muitas coisas, inclusive um pássaro.

Tia Mei sentiu um leve desconforto ao ouvir sobre o pássaro, embora não conseguisse entender bem o motivo da estranheza. No entanto, compreendia bem o peso dos presentes requintados. Apesar de ser uma cortesã concedida pelo imperador, havia aprendido os costumes da corte sob a tutela das matronas do palácio e conhecia bem as táticas usadas pelas mulheres para disputar favores. A ideia de usar presentes para conquistar alguém não lhe era estranha.

Após refletir um pouco, sorriu e perguntou a Han Yan:

— Você gosta da mãe Zhou e da filha dela?

Han Yan encolheu o pescoço, hesitante:

— A tia Zhou e a irmã Yushan são gentis comigo, e reconheço isso. Mesmo não sendo minha mãe...

Sua voz foi sumindo aos poucos.

Tia Mei arqueou as sobrancelhas, aliviada. Sua maior preocupação era que a família Zhou estivesse tentando conquistar Han Yan, ganhando assim vantagem diante do líder do clã. No entanto, a atitude da menina mostrava que ela temia mais tia Zhou do que a respeitava. Afinal, crianças costumam temer madrastas. Embora ela e a Quarta Senhorita não fossem próximas, haviam vivido sob o mesmo teto por muitos anos, o que significava que não eram completas estranhas. Por isso, adotou uma expressão mais séria e disse:

— Mas a tia Zhou tem más intenções; com certeza há segundas intenções por trás dos presentes que ela lhe deu.

Han Yan se sobressaltou e levantou a cabeça:

— Por que diz isso, tia Mei? A tia Zhou e os outros têm boas intenções, não os julgue mal.

Tia Mei lançou-lhe um olhar severo e apontou para a testa da menina, falando num tom familiar:

— Você é boa demais. Eles estão tentando desviar o jovem mestre do caminho! Se não fosse esperta, acharia mesmo que estão sendo gentis, mas as intenções deles não são nada boas.

Han Yan olhou para tia Mei em pânico, parecendo aflita:

— O que devo fazer? O Quinto Irmão precisa se sair bem nos exames!

— Não se preocupe. Comigo por perto, eles não vão virar este mundo de cabeça pra baixo — tranquilizou tia Mei.

Os lábios de Han Yan se curvaram levemente, como se finalmente sentisse um pouco de alívio.

Han Yan apertou a mão da tia Mei, expressando sua gratidão:

— Obrigada, tia Mei. Mas... — hesitou novamente — ouvi dizer que, para o próximo banquete no palácio, pai decidiu levar a tia Zhou junto.

— O quê? — tia Mei não conseguiu mais manter a compostura. Levantou-se imediatamente e, depois de pensar um pouco, perguntou a Han Yan:

— Quem te contou isso?

Han Yan balançou a cabeça.

— Foi minha criada que ouviu os servos conversando no pátio. Tia Mei, o pai não gostava mesmo da senhora? Por que ele levaria a tia Zhou?

Ao ouvir isso, tia Mei sentiu uma pontada aguda de angústia. No banquete do palácio, os ministros deviam levar suas esposas legítimas, e com a falecida senhora Wang, levar alguém significava praticamente reconhecer oficialmente essa pessoa como esposa principal. Agora que soube que Zhuang Shiyang pretendia levar Zhou, como não ficar ansiosa?

— Quarta Senhorita, já está tarde; não vou atrasar mais seu descanso. Vou me retirar agora — disse tia Mei, sem conseguir esconder a urgência.

Han Yan sorriu inocentemente:

— Então deixa a Shu Hong te acompanhar. A tia Zhou é difícil, mas se o pai gosta dela, não tenho escolha a não ser aceitar. Porém — riu — eu gosto mais da senhora, tia Mei; a senhora é mais bonita!

O elogio de uma criança é sempre sincero, e tia Mei não pôde deixar de sorrir. Mas logo seu coração se apertou. Afinal, Han Yan tinha só doze anos, e se queria conquistá-la, precisava ajudá-la a entender a realidade: que talvez a tia Zhou fosse mesmo a esposa oficial da casa.

Enquanto Shu Hong deixava o Pátio Qingqiu, Jiao Meng observava atentamente a expressão do mestre. Com o senhor planejando levar Zhou ao banquete, estava claro que Zhou estava ganhando a vantagem.

— Vadia! — tia Mei cuspiu entre os dentes cerrados.

Jiao Meng se inclinou e sussurrou:

— Senhora, não podemos deixar que o Pátio Gongtong entre no palácio. Se aquela mãe e filha ficarem muito arrogantes, vão parar de respeitar a senhora.

— Como vou deixar que ela faça o que quiser? — tia Mei bufou friamente, com um lampejo de malícia nos olhos. — Você me ajuda a mandar uma mensagem para a família Lin Zhong.

Jiao Meng entendeu perfeitamente e sumiu rapidamente na noite escura como breu.

Dentro da casa, Han Yan descascava uma laranja calmamente, arrancou uma fatia e a colocou na boca; o gosto levemente amargo a fez cerrar os olhos involuntariamente.

Depois de conter-se por um tempo, Chen Mama finalmente disse:

— Senhorita, a senhora contou para a tia Mei que quer que ela entre no palácio? — franziu o cenho novamente — Mas tia Mei não é fácil de lidar. A senhora quer expulsar um lobo só para atrair um tigre? Como é que isso vai funcionar?

Han Yan bocejou:

— Tia Mei quer me conquistar; por enquanto, ela não vai me fazer mal. Quem está cheia de intenções é a tia Zhou; ela não pode entrar no palácio dessa vez. Pode apostar que tia Mei não vai deixar a tia Zhou entrar; ela vai dar um jeito de atrapalhar. Se a tia Zhou não puder ir, pai não vai deixar aquela Hu Ji (uma espécie de cortesã) baixa como a tia Mei entrar no palácio e manchar seu status; no máximo, vai deixar a tia Wan acompanhá-la.

Chen Mama quis dizer mais, mas Han Yan já estava comendo a laranja, murmurando:

— A gente só precisa assistir ao show.


No entanto, no dia seguinte, algo inesperado aconteceu que bagunçou completamente a situação.

Capítulo 17: Desenvolvimentos Inesperados
Logo cedo pela manhã, Han Yan foi prestar respeitos a Zhuang Shiyang. Agora que havia se recuperado da doença, não podia se dar ao luxo de faltar e dar margem para os outros falarem dela. Além disso, precisava manter as aparências de uma filha obediente.
Quando Han Yan chegou ao salão de refeições da casa principal, viu Zhuang Hanming sentado de um lado, enquanto Zhuang Shiyang estava aconchegado ao lado de Zhuang Yushan, que era acompanhada pela elegantemente vestida Concubina Zhou. Zhuang Qin, tia Wan e tia Mei estavam sentadas do outro lado da mesa. Han Yan não conseguiu conter um leve riso interior; a disposição dos assentos era claramente intencional, uma forma indireta de mostrar o status de cada um na casa, não era?
Contudo, não disse nada e saudou Zhuang Shiyang com educação:
— Saúdo respeitosamente o pai.
Tia Zhou imediatamente soltou uma risadinha leve:
— Quarta Senhorita, venha logo se sentar. O mestre já está esperando por você faz um bom tempo.
As palavras pareciam tanto criticar Han Yan por ter feito o pai esperar, quanto insinuar que ela estava sendo arrogante por não se desculpar pelo atraso.
Han Yan olhou para tia Zhou com uma expressão confusa e perguntou:
— O pai chegou tão cedo? Que estranho; eu levantei na hora certa. Ji Lan, sua boba, nem me avisou se o horário estava errado; merece ser punida!
Ji Lan entendeu na hora e respondeu prontamente:
— Senhorita, o horário está correto.
Han Yan suspirou aliviada e sorriu:
— O senhor me assustou, pai! Não sabia que acordava tão cedo; sinto-me envergonhada.
Suas palavras inocentes e animadas, refletindo uma natureza infantil, soaram de maneira bem diferente para os outros presentes. Naquela manhã, tia Zhou havia insistido para que o mestre convocasse todos da casa para prestar respeitos, começando até meia hora mais cedo do que o habitual. No entanto, Han Yan fora propositalmente deixada de fora, provavelmente para fazê-la parecer preguiçosa e sem piedade filial. Inesperadamente, com apenas algumas palavras leves, Han Yan desviou completamente a culpa.
Ela não estava errada; chegara no horário certo. Tia Mei e as outras lançaram olhares fulminantes para tia Zhou, achando verdadeiramente irritante aquela pose de esposa principal que ela insistia em manter.
Zhuang Hanming tinha ficado preocupado ao não ver Han Yan, e sua raiva aumentou ao ouvir as palavras de tia Zhou. Só quando Han Yan desarmou a situação que ele finalmente relaxou.
A expressão de tia Zhou mudou; ao ver a crescente impaciência de Zhuang Shiyang, forçou um sorriso e disse:
— Já que todos prestaram seus respeitos, vamos comer.
Uma vez sentados à mesa, cada um guardava seus próprios pensamentos.
Sobre a mesa, havia um prato de docinhos que chamaram a atenção de todos. Os doces tinham formato de coelhinhos, com uma massa branca como neve que deixava transparecer um leve tom esverdeado, e dois olhinhos cor de rubi feitos de ameixas em conserva — eram bastante encantadores à vista. Ao notar o interesse geral, tia Mei comentou:
— São criações novas do chef. O recheio é de osmanthus; vi esses docinhos na cozinha ontem e provei um. Estavam deliciosos.
As pessoas da mesa vinham do norte e, em geral, não gostavam de doces, exceto tia Zhou e sua filha, que eram do sul. Assim, o prato com os coelhinhos foi colocado à frente de Zhuang Yushan.
Han Yan lançou um olhar para tia Mei e notou um leve sorriso de canto em seu rosto, o que a deixou alarmada. No entanto, considerando o ambiente público, afastou os pensamentos de que pudesse haver algo errado.
Zhuang Yushan, por sua vez, estava encantada:
— Esse coelhinho é tão fofo! — inclinou a cabeça e pegou um para colocar na tigela de Zhuang Shiyang. — Pai, coma.
Zhuang Shiyang, naturalmente, apreciou o gesto, seu rosto se iluminando com um sorriso enquanto dizia:
— O pai não gosta de doces; Yushan é quem devia experimentar.
Han Yan baixou a cabeça com repulsa. Dos quatro filhos presentes, parecia que Zhuang Shiyang só reconhecia Zhuang Yushan como filha. Enquanto se perdia nesses pensamentos, um coelhinho branco como a neve foi colocado em sua tigela. Ao levantar os olhos, viu tia Zhou sorrindo para ela com uma gentileza incomum.
— As moças sempre gostam de docinhos bonitos; Quarta Senhorita, por que não prova um?
Han Yan já estava sem apetite; após alguns goles de mingau de frango, não conseguia comer mais nada. Ver aquele doce enorme sendo colocado em sua tigela — e ainda por cima tocado por tia Zhou — fez seu estômago revirar ainda mais. Que vontade de enfiar essa tigela inteira na cara dela.
Ela lançou um olhar para Zhuang Qin, que comia em silêncio, sem que ninguém lhe oferecesse nada, e não pôde deixar de suspirar. Zhuang Hanming piscou para ela, e Han Yan finalmente sorriu.
Mas antes que pudesse erguer por completo os cantos dos lábios, um grito agudo rompeu o momento. Com um baque surdo, Zhuang Yushan caiu do banquinho, chorando:
— Ai! Está doendo! Minha barriga... dói muito!
Han Yan ficou atônita, e Zhuang Shiyang imediatamente a pegou nos braços, exclamando:
— Yushan, o que aconteceu? Por que essa dor de barriga repentina?
Tia Zhou correu para o lado de Zhuang Yushan, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Mestre, chame um médico, rápido! — Voltando-se para a filha, choramingou: — Minha pobre Yushan, você estava bem até agora! Como pode, de repente, sentir dor? Será que comeu algo estragado?
Zhuang Shiyang paralisou com aquelas palavras, seu olhar escureceu ao percorrer a mesa de jantar até se fixar no prato de docinhos em forma de coelho branco.
Han Yan não esperava por um incidente assim. Instintivamente, olhou para tia Mei, que estava de boca aberta em choque, refletindo o mesmo espanto. No entanto, recuperou-se rapidamente, embora o lenço fortemente apertado entre os dedos denunciasse sua inquietação.
Aquela expressão revelava claramente que ela estava perdida. Se fosse realmente culpa da tia Mei, por que teria essa reação? O coração de Han Yan se encheu de desconfiança, e ela se virou bruscamente para observar tia Zhou e a filha. O rostinho de Zhuang Yushan estava pálido, os olhos cerrados com força, e ela puxava discretamente a roupa da mãe. Tia Zhou ainda chorava — mas Han Yan notou um sorriso no canto de seus lábios.
Han Yan estremeceu até o âmago. Tia Mei caiu na armadilha de tia Zhou. Achara que tia Mei fosse astuta, mas na verdade era inferior à outra. Estava claro que tia Zhou já havia percebido os planos da rival e se adiantado; agora, tia Mei provavelmente enfrentaria sérios problemas.
— Mandem chamar o cozinheiro que fez os doces! — Zhuang Shiyang estava furioso, tentando consolar a soluçante Zhuang Yushan em seus braços, enquanto lançava olhares desconfiados para todos ao redor.
Han Yan percebeu o desapontamento no rosto de Zhuang Hanming, e seu coração se apertou. Depois de tanto sofrimento na vida passada, já não esperava mais nada deste pai. Mas Ming Ge’er tinha apenas onze anos; para ele, o pai ainda era tudo — alguém que admirava e respeitava, mas que o tratava com indiferença. Confusão, tristeza, decepção... será que ele suportaria tudo isso?
Ainda atordoado, o cozinheiro já havia sido trazido ao salão, amarrado de pés e mãos por dois homens corpulentos. Ao ver Zhuang Shiyang, gritou com voz alta:
— Meu senhor, sou inocente! Eu não envenenei nada! Não sei de nada!
Zhuang Shiyang apenas o fulminou com o olhar e ordenou ao criado:
— Levem-no para fora e batam até ele confessar!
O cozinheiro, um homem de meia-idade e corpo robusto, empalideceu ao ouvir isso, curvando-se imediatamente para pedir clemência. No entanto, ao se inclinar, algo dourado caiu do interior de sua roupa. Li Mama, que estava ao lado de tia Zhou, rapidamente pegou o objeto e examinou:
— É um grampo de cabelo dourado, usado por mulheres. — Após dizer isso, correu até tia Zhou: — Senhora, esse grampo não parece ser algo que uma criada comum conseguiria comprar...
Han Yan entendeu na hora — o esquema de hoje já estava todo armado. Tia Mei está mesmo encrencada desta vez.
Virando-se, notou tia Wan encarando fixamente o grampo de ouro nas mãos de Li Mama, com o rosto branco como papel.

Capítulo 18: O Bode Expiatório
O médico chegou logo, e tia Zhou rapidamente deitou Zhuang Yushan sobre um sofá macio no quarto. Ele verificou seu pulso, e Zhuang Shiyang perguntou às pressas:
— Como está Yu’er?
O médico era um homem de meia-idade, e Han Yan percebeu que seus olhos eram afiados. Ele uniu as mãos respeitosamente diante de Zhuang Shiyang e disse:
— Meu senhor, não se assuste. A jovem senhorita foi envenenada. É um veneno que provoca dores abdominais intensas, mas felizmente ela ingeriu uma quantidade pequena. Vou prescrever um remédio — depois de alguns dias de repouso, ela deverá se recuperar.
Zhuang Shiyang ordenou que preparassem a medicação imediatamente e pediu que o médico examinasse o prato de docinhos em forma de coelho branco sobre a mesa. Por viver em uma casa de alto escalão, o médico estava habituado com esse tipo de situação. Após hesitar um momento, partiu um dos docinhos, levou-o ao nariz e franziu a testa ao dizer:
— Este doce parece conter uma quantidade significativa de veneno.
Zhuang Shiyang compreendeu, pagou o médico e o dispensou. Han Yan percebeu que, ao sair, o médico trocou um olhar significativo com tia Zhou.
Após a saída do médico, Zhuang Shiyang voltou ao salão e arrastou até si o cozinheiro, que acabara de receber vinte chicotadas. Com voz calma, disse:
— Agora me diga: quem mandou você envenenar os doces?
Embora fosse um servo, o cozinheiro era bem alimentado e tratado. Jamais havia sofrido algo assim. Após as vinte chicotadas, mal conseguia se manter consciente, com sangue escorrendo pela boca enquanto implorava:
— Meu senhor, sou inocente! Eu não envenenei nada!
Mas tia Zhou deu um passo à frente rapidamente, com ar angustiado:
— Não envenenou? Então por que o médico disse que há problema nos doces? Sem falar nesse grampo de ouro que você tem… Será que alguém o subornou? Como um servo como você conseguiria algo tão caro?
Os olhos de Zhuang Shiyang se estreitaram ao encarar o cozinheiro.
— Diga: quem lhe deu aquele grampo?
O cozinheiro protestou em prantos:
— Meu senhor, eu juro que não sei! Foi uma criada chamada Xing’er, do lado da concubina Wan. Ela disse que era uma recompensa pelo meu bom trabalho!
Li Mama estreitou os olhos.
— Aquele grampo vale dezenas de taéis de prata. Para um simples servo, essa recompensa é exagerada demais. Não tente jogar essa sujeira em cima da concubina Wan!
Han Yan assistia a tudo de lado, observando atentamente. Viu Zhuang Qin morder o lábio com força, enquanto o rosto de tia Wan estava pálido, prestes a desmaiar.
Zhuang Shiyang voltou-se para tia Wan e perguntou friamente:
— Esse grampo é seu?
— Sim, meu senhor, é meu, de fato — respondeu tia Wan com dificuldade.
Enquanto isso, tia Zhou começou a desconfiar de algo. Já havia subornado pessoas no Jardim Furong e estava ciente do plano que pretendiam executar. Sua intenção era aproveitar a situação para dar a volta por cima. Mas como esse grampo virou coisa da tia Wan?
Um leve nervosismo cresceu em seu coração, mas tia Zhou pensou que, por tia Wan ser fraca e de bom coração, seria fácil lidar com ela depois. Por ora, seu alvo era derrubar tia Mei. Assim, adiantou-se:
— Meu senhor, acredito que irmã Wan tem um bom coração e trata Yu’er com carinho. Isso tudo deve ser um mal-entendido. Não devemos permitir que usem isso contra nós.
Han Yan estreitou os olhos. Seu olhar recaiu sobre tia Mei, que claramente havia relaxado, como se soubesse de tudo desde o começo.
— Como seu grampo foi parar com um servo? — Zhuang Shiyang rugiu para a mulher de rosto inexpressivo, mal conseguindo conter a raiva.
— Eu… perdi meu grampo há alguns dias — disse tia Wan, com lágrimas nos olhos e expressão aparentemente sincera.
— Tragam Xing’er! — ordenou Zhuang Shiyang aos criados, com o rosto fechado.
Xing’er, a criada pessoal de tia Wan, foi trazida à frente tremendo de medo. Nesse instante, o cozinheiro — que até então insistia em sua inocência — de repente gritou:
— Foi ela! Naquele dia, disse que sua senhora cuidava bem dos servos e me recompensou com aquele grampo. Fiquei tão feliz ao vê-lo que… que quis saber quanto valia e saí da cozinha. Só ela estava lá! Foi ela quem envenenou os doces!
Um lampejo de deboche brilhou nos olhos de Han Yan. Até há pouco, o cozinheiro mal conseguia falar — agora, de repente, muda a história? Está claro que só quer empurrar a culpa para outra pessoa!
Zhuang Shiyang ficou furioso:
— O que você disse é verdade?
O cozinheiro cuspiu sangue e respondeu:
— Jamais ousaria enganar o meu senhor.
Com um estrondo, Zhuang Shiyang arremessou a xícara de chá ao chão, partindo-a, e lançou um olhar cortante para tia Wan:
— Neste ponto, ainda tem algo a dizer?
Um lampejo de desespero cruzou os olhos de tia Wan. Ela olhou, incrédula, para o cozinheiro caído no chão, depois para Zhuang Shiyang. Por fim, fechou os olhos abruptamente.
Nesse momento, com um baque seco, Zhuang Qin ajoelhou-se no chão e exclamou:
— Pai, não pode ser minha mãe! Se ela realmente quisesse envenenar alguém, por que deixaria um grampo de ouro ali, chamando atenção? Além disso, ela nunca disputa nada com ninguém… Pai!
Seu rostinho estava banhado em lágrimas — mas, se alguém olhasse com atenção, veria um ódio profundo em seu olhar.
Han Yan suspirou em silêncio. Tia Wan havia sido usada como bode expiatório; tia Zhou queria derrubar tia Mei, mas tia Mei havia deixado uma rota de fuga, transferindo a culpa para tia Wan. No fim, a pessoa mais inocente foi quem sofreu as consequências.
Zhuang Shiyang sabia que Zhuang Qin tinha razão; conhecia bem o caráter das pessoas em sua casa. Embora tia Wan não fosse favorecida, sempre fora obediente ao longo dos anos e jamais cometera erros. Ele não conseguia acreditar que ela seria capaz de envenenar a própria filha dele. No entanto, as palavras de Zhuang Qin já começavam a desafiar sua autoridade como chefe da família — o que o desagradava profundamente.
— Chega de defendê-la! Ela é apenas uma concubina de baixo escalão, está se achando demais!
Zhuang Qin estremeceu com aquelas palavras, apertando os lábios com força enquanto permanecia ajoelhada, com uma expressão que deixava claro que ela não tinha medo de perder.
Han Yan sentiu um aperto no peito, um sentimento de empatia amarga. Zhuang Hanming já havia saído sob o pretexto de ir à Academia Nacional, e Han Yan não queria que ele presenciasse esse espetáculo deplorável.
Enquanto isso, Zhuang Shiyang, em questão de segundos, havia reavaliado tudo e percebido que havia algo errado naquele dia — claramente era obra de terceiros. Os irmãos Han eram jovens demais, e tia Wan era dócil por natureza; a única capaz de provocar confusão era tia Mei. Embora estivesse furioso, ele não tinha coragem de confrontar tia Mei, pois ela era sua favorita há anos. Além disso, precisava dela para manter o equilíbrio de poder na casa e impedir que a concubina Zhou dominasse tudo.
De repente, algo inesperado aconteceu: a criada Xing’er, que até então permanecia ajoelhada e calada, gritou de súbito:
— Mestre, isso não tem nada a ver com a tia Wan! Fui eu que não suportei ver a concubina Zhou sendo a única favorecida. Fui atrás do veneno por conta própria para prejudicá-la, e aquele grampo foi roubado por mim, só para despistar o cozinheiro!
Tia Zhou ficou estupefata.
— Você está mentindo!
Sua reação foi desesperada, e todos a olharam com expressões cheias de significado. Ela entrou em pânico e ficou ainda mais irritada com a criada que se metia em assuntos que não eram seus. Deu um tapa em Xing’er, derrubando-a ao chão:
— Sua víbora! Como ousa cometer um ato tão traiçoeiro! Tragam os bastões! Vinte pancadas e que seja vendida para um bordel!
Han Yan sentiu um baque no coração. Xing’er era, de fato, leal, mas ser vendida a um bordel significava a destruição total de sua vida. Tia Zhou era cruel demais! A raiva começou a ferver em seu peito.
Tia Wan abriu a boca para intervir, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma pequena figura no salão avançou de repente em direção a uma coluna de bronze, chocando-se contra ela. Moveu-se tão rápido que ninguém teve tempo de reagir — quando tentaram segurá-la, tudo o que restava era um corpo caído numa poça de sangue.
— Xing’er! — gritou tia Wan, tropeçando entre os presentes para correr até ela. Xing’er fora sua criada pessoal, e as duas eram próximas como irmãs. Mais tarde, Xing’er foi entregue ao Mestre e passou a servi-lo, mas nunca houve ressentimento ou inveja entre elas. Xing’er lutara ao seu lado todos esses anos sem conhecer um único dia de felicidade — e agora, sua querida irmã Xing’er havia sido empurrada à morte por essas pessoas!
— Senhora… — Xing’er abriu os olhos, o sangue escorria por seu rosto, tornando sua aparência aterradora, mas ela ainda assim esboçou um leve sorriso. — Nesta casa, a senhora foi a única que tratou Xing’er com bondade. Não tenho como retribuir… a não ser com a minha vida. — Sua voz foi enfraquecendo aos poucos. — Peço apenas uma coisa… cuide da minha mãe…
Tia Wan segurou sua mão com força, chorando sem conseguir se conter.
— Eu prometo…
Xing’er enfim sorriu com alívio, olhando para tia Wan e dizendo com suavidade:
— Wan’er… vamos ser irmãs de novo na próxima vida. Mas, por favor, não nasça de novo numa família rica…
Ela a chamara pelo nome que usava quando servia a velha senhora. Através das lágrimas, tia Wan pareceu ver as flores da primavera da juventude, quando ambas eram apenas garotas inocentes, rindo juntas, acreditando que teriam uma vida radiante. Mal sabiam que o destino havia traçado outro caminho: uma encontraria um fim trágico, e a outra permaneceria presa em uma mansão devoradora, sem jamais ver a luz do dia.
A pessoa em seus braços deu o último suspiro. Tia Wan deitou o corpo de Xing’er suavemente no chão e voltou-se para os presentes, revelando um sorriso carregado de dor.

 



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