Capítulo 141


 O Palácio da Grande Lua estava intensamente iluminado, e Wang De olhava para fora de tempos em tempos, com gotas de suor escorrendo pela testa.

Por que a Imperatriz ainda não voltou?

A angústia em seu coração aumentava, quando ouviu passos apressados do lado de fora. Ele se virou depressa para receber quem chegava.

— Wang De — Ban Hua entrou apressadamente no salão — Como está Sua Majestade?

Pelo caminho apressado, seu coque estava um pouco desalinhado, e ela ainda estava ofegante ao falar. Wang De correu atrás dela:

— O médico imperial ainda está tratando Sua Majestade no palácio interno. Os dois ferimentos causados pelo assassino não são fatais, então não há risco de morte.

Ao atravessar o salão externo, Ban Hua avistou Rong Xia deitado na cama no salão interno. Sentindo um aperto no coração, ela levantou a saia e correu até a beira da cama, estendendo a mão para tocar o rosto de Rong Xia. Depois de confirmar que ele respirava normalmente e estava com a temperatura estável, olhou para o médico imperial com expressão severa:

— O ferimento é grave?

— Vossa Majestade, por favor, não se preocupe. A lâmina de gelo usada pelo assassino não foi envenenada. Assim que Sua Majestade acordar, bastará repousar para se recuperar — responderam honestamente os médicos, sem ousar esconder nada.

— Wang De, me diga o que aconteceu — Ban Hua fitava o rosto pálido de Rong Xia, seu semblante cada vez mais sombrio — O assassino foi capturado?

— Vossa Majestade, o assassino cometeu suicídio. Era a criada chamada Yuzhu, que servia ao seu lado.

— Yuzhu... — a voz de Ban Hua ficou um pouco rouca — Continue.

Wang De narrou os acontecimentos com cautela, e Ban Hua soltou uma risada sarcástica:

— Ela disse que fui a mandante?

O salão interno mergulhou em silêncio.

— Sim.

— Sua Majestade está vivo. Eu sou a Imperatriz. Se Sua Majestade morresse... o que seria deste palácio? — o sorriso de Ban Hua ficou ainda mais frio — Por que eu mataria Sua Majestade?

Pelo modo como viviam juntos, se ela realmente quisesse matar Rong Xia, teria tido muitas oportunidades. Por que permitiria que uma mera criada cometesse o ato, ainda por cima sem nem mesmo envenenar a lâmina? Embora não gostasse de usar a cabeça, isso não significava que fosse estúpida.

— Vossa Majestade — Du Jiu entrou apressado, com o rosto carregado — Mais de vinte ministros do lado de fora do palácio estão se queixando, dizendo que Vossa Majestade tentou assassinar o Imperador, tomou controle do harém e quer "cantar o galo ao amanhecer"!

Menos de meia hora desde o incidente, e todos os envolvidos foram detidos dentro do palácio... como essa notícia vazou tão rápido?

— Mais de vinte ministros? Que venham todos os oficiais civis e militares — Ban Hua zombou — Se querem barulho, que seja bem feito.

— Senhora! — Du Jiu a olhou incrédulo — O que está pretendendo?

— Olho para esses homens diante de mim e só vejo jogos de intrigas — disse Ban Hua, com escárnio — Já que dizem que controlo o harém, então vou mostrar a eles o que é de fato controlar o harém.

— Yijia!

— Às ordens.

— Transmitam a ordem do palácio: convoquem a Divisão de Cavalaria, a Divisão de Infantaria e o Acampamento da Flecha Divina para ficarem de prontidão nos arredores do palácio — Ban Hua olhou para o homem deitado na cama — Já que Sua Majestade não eliminou esses ministros desobedientes, então eu mesma farei isso.

— Vossa Majestade, não faça isso! — vendo o estado dela, Du Jiu tentou detê-la — Se agir assim, o que dirão as pessoas do mundo?

— Não me importa o que digam, contanto que meu homem não acredite que sou um "galo ao amanhecer" — Ban Hua baixou o rosto — Ruyi, troque minhas roupas e prepare minha maquiagem.

O médico imperial ao lado tremia de medo. A rainha era capaz de comandar todas as tropas na capital. Não é à toa que os ministros da corte a temem tanto.


No Salão de Qinzheng, mais de vinte ministros estavam reunidos. Seus rostos mostravam indignação, e suas posturas retas proclamavam retidão e sacrifício.

— Pelo bem do povo do mundo, este velho não teme a morte. Peço apenas justiça diante do crime!

— A rainha demoníaca tem ambições nefastas! Enviou alguém para assassinar Sua Majestade e controla o harém! O que será de nós? — um jovem oficial, aparentando vinte e poucos anos, se adiantou — Vamos permitir que essa demônia traga desgraça ao país e ao povo?!

— Meus senhores, o que está acontecendo? — um oficial de túnica púrpura entrou, olhando os ministros com aparente indiferença — Já é tarde da noite. Por que vossas senhorias estão reunidas aqui no Salão de Qinzheng?

— Liu Banshan! — o jovem oficial apontou para ele — Você e a rainha demoníaca tramaram contra Sua Majestade! Como ousa aparecer aqui?

— A lealdade deste oficial a Sua Majestade é testemunhada pelos céus. Não aceito as acusações infundadas de Vossa Senhoria — Liu Banshan sorriu com desdém. Entre esses homens, quantos são apenas tolos manipulados por quem realmente comanda dos bastidores? Pensam que são justos, quando na verdade alguns só querem estender sua influência até o harém, incapazes de suportar o profundo afeto entre o Imperador e a Imperatriz.

Se a rainha fosse uma mulher comum, ou se Sua Majestade tivesse a menor suspeita dela, esses truques teriam funcionado.

Esses homens compreendiam bem o coração do Imperador.

Mas Ban Hua não era uma mulher comum. E a confiança que o Imperador tinha nela ultrapassava a compreensão de qualquer um. Quando era apenas uma duquesa, já ousava chicotear o Tanhualang no meio da rua. Agora que é rainha... não ousaria mesmo pôr as mãos nesses ministros de intenções impuras?

Esses idiotas estavam tão pouco tempo no harém, e já esqueceram como era o temperamento da Imperatriz antes?

Realmente querem morrer.

Liu Banshan nem se deu ao trabalho de discutir. Apenas declarou:

— Sua Majestade ordenou que a Imperatriz assumisse o comando do palácio da frente e do harém. Se continuarem com essa desordem, não me restará opção a não ser acusá-los de traição.

— O Senhor Liu fala com muita propriedade. Agora que a Rainha Demoníaca controla o harém, o edito do Imperador sai apenas da sua boca — respondeu um dos ministros, com sarcasmo — A menos que vejamos Sua Majestade ordenar pessoalmente, jamais cederemos.

Liu Banshan riu friamente, sacudiu as mangas e foi se encostar de lado:

— Façam como quiserem.

O cortesão que se preparava para discursar cheio de paixão não esperava que Liu Banshan reagisse daquele jeito. O que ele quer dizer com ficar ali parado?

Depois de um tempo, vários outros oficiais chegaram ao Salão de Qinzheng, incluindo funcionários civis e oficiais militares. Os ministros que queriam condenar a "imperatriz demoníaca" ficaram eufóricos com a chegada dos demais, e começaram a alardear a conspiração da imperatriz, comoveram muitos com suas palavras inflamadas.

O estranho era que nenhum dos persuadidos a se rebelar contra Rong Xia havia, de fato, confrontado Rong Xia antes. Nenhum dos oficiais que realmente enfrentaram Rong Xia sequer abriu a boca. Um deles chegou a chamar a imperatriz de “demônio” com todas as letras.

Por sorte, foi rapidamente contido pelos colegas ao redor, senão o salão teria se tornado ainda mais caótico.

— A Imperatriz está aqui!

— A imperatriz demoníaca tem a audácia de aparecer — exclamou um dos ministros com fúria, olhando para a entrada do salão. — Que essa demônia entregue logo o trono a Sua Majestade!

Todos os ministros se viraram para trás... e viram a rainha entrando vestida com uma túnica imperial adornada com a fênix e uma coroa de nove fênix sobre a cabeça. Mais assustador ainda: uma fileira densa de soldados marchava atrás dela. Os soldados cercaram o Salão de Qinzheng com tanta precisão que nem mesmo um gato ou cachorro poderia escapar.

— Sua Majestade está em recuperação. Que traidores estão causando tumulto aqui? — Ban Hua subiu os degraus de jade até o trono do dragão e parou diante dele. Ela inclinou levemente a cabeça, olhando com desdém para os ministros abaixo. — Estou no harém, cuidando do Imperador gravemente ferido, e vejo alguns senhores de intenções duvidosas clamando que fui eu quem tentou matá-lo. Pelo visto, os senhores conhecem muito bem o que acontece no harém. Por que não se levantam e me mostram, senhores de ouvidos e olhos tão afiados, as provas que têm? Assim também posso conhecer o verdadeiro rosto de tantos "detetives" ilustres.

Silêncio. Ninguém ousou dizer uma só palavra.

— Ora, e agora? Já não querem mais causar confusão? — Ban Hua zombou, apontando para um dos ministros. — Você aí, lembro que é um funcionário da Yushitai, não é?

Ao ser apontado, o censor sentiu o coração despencar. Ainda assim, se levantou com rigidez e respondeu:

— Esta oficial pertence à Yushitai. Se Vossa Majestade tiver alguma instrução, aceitarei com humildade.

— Instrução? — ela riu com frieza — Você não é digno de instrução nenhuma minha.

Em seguida, virou-se e apontou para outro homem:

— Você, Siqing do Zongzheng, parente distante da família Rong. Só conseguiu esse cargo por causa da afeição de Sua Majestade. E agora está aí, pulando com os outros como um macaco. Está punido.

— Majestade! — Zongzheng Siqing, já idoso e parente da família Rong, uniu as mãos e disse: — Vossa Majestade não precisa se irritar tanto. Eu estava apenas preocupado com Sua Majestade, mas como não pude entrar no palácio, acabei tomando uma atitude impensada. Vossa Majestade não precisa reagir com tamanha cólera. Fique no harém em paz. Quando Sua Majestade acordar, tudo ficará esclarecido.

— Besteira! — um rugido explodiu entre os ministros.

Ban Huai irrompeu da multidão e deu um soco direto em Zongzheng Siqing.

— Você, velho decrépito, um parente distante, realmente pensa que é próximo do imperador para sair apontando o dedo na cara da rainha?

Zongzheng Siqing, embora suas palavras fossem desagradáveis, jamais esperava que alguém ousasse agredi-lo. Afinal, era um idoso, tio de Rong Xia, com alta posição. Quem ousaria desrespeitá-lo?

Mas sempre há exceções. E Ban Huai não tinha escrúpulos.

Desde que começou a ouvir os ministros chamando sua filha de imperatriz demoníaca, Ban Huai já estava enfurecido. E agora, aquele velho ainda tinha a audácia de se apoiar em seu título de “parente real” para menosprezar sua filha? Como poderia tolerar isso?!

Velho nojento! Que grande coisa é envelhecer e viver pendurado em glórias passadas?!

O imperador estava ferido e incapaz de governar. E mesmo assim queriam manter a imperatriz trancada no harém sob acusação de tentativa de assassinato? Essas pessoas realmente sonham alto. Pensam que ele não vê o que estão tramando?

— Senhor de Jingting, o que está fazendo? Eu sou tio de Sua Majestade!

— E eu sou o sogro de Sua Majestade! — Ban Huai rebateu com desprezo, jogando o velho tagarela para o lado. Em seguida, apontou para os ministros que chamaram sua filha de demônio: — Quando minha filha quase morreu num atentado, todos vocês ficaram calados. E agora querem colocá-la como culpada? Eu digo que os verdadeiros assassinos são vocês!

— Papai! — o filho de Zongzheng Siqing gritou entre lágrimas — Sua Majestade, venha ver! A imperatriz demoníaca quer forçar os parentes reais à morte!

Ban Hua observou aquele teatrinho com frieza. Desceu os degraus de jade e deu um chute no rosto do homem que chorava. Tendo servido em campo de batalha, seus chutes não eram nada fracos — o sujeito rolou como uma abóbora, feito boneco.

Os ministros civis ficaram boquiabertos. Essa... é a imperatriz?

— Um homem feio desses, chorando e berrando, me dá nojo — o olhar de Ban Hua ficou gélido. — Guardas, levem todos esses encrenqueiros para a prisão. Serão interrogados quando Sua Majestade acordar.

Ban Hua suspeitava que esses ministros estavam longe de ser inocentes.

— Sua Majestade! Sua Majestade, abra os olhos e veja! A imperatriz demoníaca tem pensamentos perversos! Ela deve morrer! — um ministro mais velho se levantou de repente e correu até a coluna do trono do dragão, batendo a cabeça com força.

BANG!

Sangue espirrou por todo lado, e o corpo do homem tombou lentamente.

Um soldado se aproximou, agachou-se e verificou:

— Sua Majestade, ainda está vivo.

— Levem-no devagar, chamem o médico imperial — Ban Hua zombou — Isso aqui não é um romance barato. Só de bater a cabeça, ninguém morre tão fácil assim.

— Quem mais quer se matar? — ela riu com sarcasmo — Não vou impedir. Batam-se à vontade.

Se não fossem parentes de Rong Xia, com o temperamento de Ban Hua, todos já teriam sido arrastados e levados para levar umas boas dezenas de varadas.

— Batam, batam logo! — exclamou um certo marquês fanfarrão, erguendo a túnica e sentando-se de pernas cruzadas — Se não baterem, não são ministros leais. Estamos aqui só observando.

— Isso mesmo, quanto mais se baterem, mais demonstram sua lealdade! — gritou um general, rindo — Fiquem tranquilos, com tanta gente olhando, quando vocês estiverem mortos ou aleijados, contaremos a Sua Majestade o quão leais foram.

Com essa interrupção repentina e cômica, os ministros que estavam armando confusão não sabiam mais como reagir.

Insultar? Levarão uma surra.

Bater a cabeça? A rainha permitiu. Mas há tantos outros observando, e ninguém os detém...

Como pode essa imperatriz demoníaca ter enfeitiçado tanta gente assim?

— Ei, por que vocês não se jogam logo? — reclamou o jovem marquês que estava sentado de pernas cruzadas no chão, com visível desdém. — Não parecem ministros leais coisa nenhuma. Estão é querendo se aproveitar do ferimento de Sua Majestade pra intimidar a rainha, uma mulher frágil.

— Vocês ainda se dizem homens?

Que mulher frágil no mundo chuta alguém pelos ares daquele jeito?

Diante desses jovens arrogantes e desbocados, os ministros que estavam fazendo tumulto sentiram-se como letrados enfrentando soldados ignorantes — uma frustração sem fim. Desesperados, só lhes restou clamar pelo nome de Rong Xia, chorando e lamentando-se como vítimas a cada frase.

— Sua Majestade chegou!

Essa frase caiu sobre o salão como uma sentença mágica — toda a algazarra cessou instantaneamente. Até os rapazes sentados no chão se levantaram apressadamente, arrumando as roupas com postura respeitosa.

Ban Hua olhou surpresa para fora do salão. Rong Xia havia sofrido dois ferimentos. Quando ela saíra do Palácio da Grande Lua, ele ainda estava em coma. Como ele poderia estar aqui?

Sem pensar, deu alguns passos rápidos em direção à entrada e o viu sentado em uma carruagem de apoio. Seu rosto estava branco como papel, e até os lábios estavam pálidos, com um leve toque rosado.

Em três passos, Ban Hua já estava ao seu lado. Seu rosto mostrava irritação contida:

— Você enlouqueceu? Está gravemente ferido, o que está fazendo aqui?

— Boa menina, eu estou bem — Rong Xia pediu ao eunuco que abaixasse a carruagem e, com suavidade, segurou a mão de Ban Hua. — Fiz você passar por um grande constrangimento.

— Constrangimento? Por causa de meia dúzia de idiotas? — Ban Hua estava bem próxima dele, e o cheiro de sangue em seu corpo a incomodava. Em teoria, depois do tratamento, não deveria haver cheiro de sangue. Mas se ele veio apressado do Palácio da Grande Lua, deve ter forçado os ferimentos, e o sangue voltou a escorrer.

Ao pensar nisso, o rosto de Ban Hua escureceu. Será que até ele pensou que eu me aproveitaria dessa oportunidade pra tomar o poder do palácio? Foi por isso que correu até aqui, mesmo tão ferido?

Rong Xia não soltou a mão dela, mas como estava sentado e ela de pé, não viu a expressão no rosto dela.

— Du Jiu — chamou ele, com a voz fraca. Tinha acabado de despertar e, ao ouvir que os ministros estavam armando confusão, pensou logo na franqueza de Huahua. Temendo que ela sofresse nas mãos daqueles velhos astutos, veio o mais rápido que pôde.

— Este ministro está aqui — respondeu Du Jiu, lançando um olhar cheio de pena aos ministros. Alguns deles são ramos distantes da família Rong. Sua Majestade já havia lhes dado cargos inúteis por consideração ao mestre... mas agora chamam a imperatriz de demônio e até desejam sua morte. Como Sua Majestade poderia tolerar isso?

— Levem todos esses que desrespeitaram a rainha para a prisão — disse Rong Xia, com a voz ainda mais baixa. Apertou com mais força a mão de Ban Hua, tentando manter-se lúcido. — Aqueles que a amaldiçoaram devem ser considerados como desrespeitando a família imperial: cinquenta varadas primeiro... e depois, prisão.

Cinquenta varadas e ainda sobreviver?

Os ministros ficaram estarrecidos. Ao verem o estado de Sua Majestade, entenderam: esses homens aproveitaram a fragilidade do imperador pra manchar a reputação da imperatriz. Esperavam que, com isso, ele se afastasse dela, permitindo que outros oficiais ambiciosos o convencessem a aceitar novas concubinas e envolvessem a corte e o harém.

Os mais sensatos compreenderam na hora e respiraram fundo. Muitos serão arrastados junto nesse caso de assassinato.

— Meu ferimento não é grave, mas precisarei de alguns dias de repouso — continuou Rong Xia, encarando Zhou Bing’an e os demais. — Se houverem assuntos importantes no tribunal que os senhores não possam decidir sozinhos, perguntem à Imperatriz. A autoridade dela é igual à minha.

— Ouviremos as ordens.

— Huahua — Rong Xia entrelaçou o dedo com o dela — volte comigo ao palácio.

Ban Hua segurou a mão dele, ainda atônita, e só recobrou os sentidos quando passaram pelo portão do Salão Qinzheng.

Ele estava gravemente ferido, e mesmo assim veio aqui correndo só pra apoiá-la?

Ele sabia que ela não se dava bem com os membros da família Yuan da família Rong, então apareceu pessoalmente?

A partir de hoje, ninguém mais na corte ousará duvidar dos sentimentos dele por ela. Pelo contrário, por causa do que aconteceu, ela agora terá voz no tribunal.

Rong Xia... por que você abaixa toda a sua guarda com ela, quando está calculando cada passo para conquistar este império?

Quando chegaram aos limites do Palácio da Grande Lua, Rong Xia sorriu para Ban Hua, pálido:

— Hua Hua... estou um pouco sonolento. Quero dormir um pouco.

— Rong Xia?!

Ban Hua o viu fechar os olhos lentamente e, de repente, uma lembrança lhe atingiu: no dia em que sua avó faleceu, ela também sorriu e falou com ela assim, mas... nunca mais abriu os olhos.

— Rong Xia?! — o rosto dela empalideceu de súbito, respirando com dificuldade, apertando o peito — Médico imperial, rápido! Tragam o médico imperial!

Rong Xia foi carregado até a cama imperial. Os médicos disseram que ele não corria risco de vida, mas o ferimento havia se reaberto, e ele havia perdido muito sangue.

Ban Hua se abaixou para pegar a túnica caída no chão. Ao tocá-la, seus dedos foram tomados por sangue frio. Ela ficou parada, encarando o homem inconsciente na cama, até sentir uma dor súbita no peito. Demorou um pouco para se recuperar.

— Sua Majestade... — Du Jiu olhou para Ban Hua e, ao ver sua expressão, murmurou em transe: — Sua Majestade ficará bem... por favor, cuide de si mesma.

— Eu sei — Ban Hua baixou as pálpebras. — Estou muito bem.

Mas ela não sabia que seu rosto estava coberto de lágrimas naquele momento, e que sua pele estava tão pálida que era impossível acreditar que ela estava bem.

Du Jiu, porém, não se atreveu a dizer mais nada. Tinha medo de que, se insistisse, a imperatriz desabasse de vez. Como servo fiel de Rong Xia, raramente vira a imperatriz chorar — e muito menos daquele jeito.

Ele não sabia que palavras usar para descrever o estado dela, mas podia sentir com clareza que o afeto da imperatriz por Sua Majestade era, sem dúvidas, profundo.

— Descobriram com quem Yuzhu teve contato? — Ban Hua caminhou até a beira da cama e sentou-se, segurando com delicadeza a mão de Rong Xia.

Vendo que Du Jiu permaneceu em silêncio, ela se virou para encará-lo:

— Por que está calado?

— Sua Majestade... foi a Princesa Anle — respondeu Du Jiu. — A criada Yuzhu tinha um envolvimento com um mancebo mantido pela Princesa Anle. Os subordinados suspeitam que a princesa deve ter usado esse homem para chantageá-la... por isso ela concordou.

— Anle? Uma princesa que perdeu o poder... como poderia fazer uma mensagem chegar ao palácio? — O tom de Ban Hua era tão calmo que até assustou Du Jiu. — Foi algum dos ramos colaterais da família Rong? Não aguentaram ver Sua Majestade me favorecendo como imperatriz, então resolveram cooperar com Anle. Ela queria a vida de Rong Xia, e eles queriam que o crime de assassinato recaísse sobre mim. Por isso mudaram a mensagem enviada por Anle à Yuzhu.

— Algo como... ferir Sua Majestade, mas não matá-lo. Depois, me acusar de tentativa de assassinato. — Ban Hua riu com desdém. — Uma encenação bem elaborada.

— Sua Majestade... tudo isso são apenas suposições. Talvez... — Du Jiu se engasgou — talvez a verdade não seja essa...

— Eu trouxe tudo isso para ele. — Ban Hua acariciou levemente os lábios pálidos de Rong Xia. Se fosse em outras circunstâncias, ele já teria se aproveitado disso para puxá-la para perto. Mas hoje... só podia deitar ali, imóvel.

— O que isso tem a ver com Vossa Majestade? — Du Jiu ajoelhou-se sobre um dos joelhos. — Isso não tem nada a ver com a senhora.

— Se ele quisesse um nome de imperador benevolente e virtuoso, bastaria poupar a vida do príncipe deposto e da antiga imperatriz viúva, mantendo-os presos. — Ban Hua sorriu amargamente. — Quanto às princesas e concubinas, se viveriam ou não, tanto faz. Se não fosse por mim, por que ele trataria a família Jiang com tanta gentileza?

— Sua Majestade, não é sua culpa. — Du Jiu tentou argumentar. — O imperador foi tolerante com os filhos da antiga imperatriz viúva por conta da afeição da família materna dela, que cuidou dele.

— Não importa qual laço existia entre eles. Deixe que eu seja a vilã hoje. — Ban Hua tocou o próprio rosto, percebendo só então que ele estava coberto de lágrimas frias. — Junto com o príncipe, que a família Jiang vá guardar o mausoléu imperial.

— E... a Princesa Anle?

— Por ter conspirado com o harém e tentado assassinar o imperador, mas sendo poupada da morte por sua ligação com o príncipe, perderá o título de princesa e será enviada a um templo ascético como freira. Sem ordem oficial do palácio, jamais poderá sair de lá — disse Ban Hua, a voz fria como o inverno. — Preparem o decreto agora. Sem demora.

— Sim. — Du Jiu recebeu a ordem e retirou-se.

Depois que ele partiu, Ban Hua voltou o olhar para Rong Xia deitado. Passou-se um longo tempo até que ela suspirasse:

— Qual de nós dois é mais tolo?

O homem na cama não respondeu. Somente o leve subir e descer de seu peito lhe dava resposta.

— Majestade — disse Wang De, entrando com uma bandeja —, o remédio está pronto.

Ao pegar a tigela, prestes a alimentar Rong Xia, Ban Hua se lembrou de que ele sempre provava os remédios antes dela, e a enganava dizendo que não eram amargos. Depois, quando ela tomava, ele a recompensava com petiscos, como se ela fosse uma criança.

Ela abaixou a cabeça e tomou um gole da mistura amarga. Era mais áspera e insuportável do que qualquer remédio que já tivesse tomado.

Erguendo o travesseiro de Rong Xia, Ban Hua colocou um pouco do remédio na boca e passou para ele, de gole em gole. Quando terminou de dar a tigela inteira, sua língua estava tão amarga que parecia dormente. Enxaguou a boca com chá, limpou os cantos dos lábios e disse:

— Wang De, faça uma nova limpeza no harém. Inclua também as pessoas ao meu redor.

Wang De respondeu em voz baixa:

— Sim.

— Pode se retirar.

Wang De fez uma reverência e saiu. Ao chegar à entrada do salão, levantou a cabeça sem querer, e viu a imperatriz cobrindo com cuidado Sua Majestade com o cobertor.

Ele saiu do salão e olhou para a lua crescente no céu.

Talvez amanhã o dia seja de sol.


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