Capítulo 19: A tempestade se acalma
Ninguém no salão esperava que Xing’er se atirasse contra a coluna e cometesse suicídio. A princípio, Han Yan era apenas uma espectadora, mas agora a raiva genuína fervia dentro dela. O sangue se espalhava pelo chão, e os lábios da Tia Mei começaram a tremer, enquanto Tia Zhou parecia não aceitar a situação, como se ainda tivesse algo a dizer.
Zhuang Qin deu alguns passos em direção à mãe, mas de repente cambaleou e caiu. O caos recomeçou, e Mama Chen exclamou:
— Mestre, não deixe que o sangue assuste as senhoritas!
Zhuang Shiyang então se lembrou das duas filhas presentes no salão e acenou para que os criados as levassem de volta para dentro.
Antes de sair, Han Yan lançou um olhar para a Tia Wan, notando sua expressão de dor e aparência desgrenhada. Não conseguiu evitar sentir compaixão.
Mama Chen acompanhou Han Yan de volta ao pátio, ordenando à cozinha que preparasse uma tigela de calda de gengibre para acalmar seus nervos. Em seguida, conduziu Han Yan para dentro e fechou bem portas e janelas.
A mente de Han Yan estava a mil, sentindo que havia muitos aspectos ilógicos nos acontecimentos daquele dia. A Tia Zhou claramente sabia do plano da Tia Mei; Zhuang Yushan estava fingindo ter sido envenenada, e o médico provavelmente também estava envolvido. O que ela não havia previsto era que a Tia Mei tinha um plano reserva — de algum modo conseguira o grampo de cabelo da Tia Wan para incriminá-la, fazendo com que Xing’er perdesse a vida para proteger sua senhora.
Ao pensar em Xing’er, as memórias dos destinos trágicos de Ji Lan e Shu Hong nas mãos de Zhuang Yushan voltaram à tona, e Han Yan instintivamente cerrou os punhos, seu corpo inteiro começando a tremer.
Shu Hong percebeu que Han Yan estava em silêncio e parecia atordoada, ficando preocupada. Agora, ao vê-la naquele estado de medo, apressou-se até ela e segurou suas mãos, perguntando:
— Senhorita, está se sentindo mal?
O olhar preocupado de Shu Hong a trouxe de volta à realidade, e Han Yan sentiu-se como se tivesse retornado de outro mundo.
Mama Chen foi verificar a cozinha e, depois dos acontecimentos anteriores, ficou ainda mais determinada a garantir que a comida da jovem senhorita nunca viesse de terceiros. Ji Lan acabara de acender o aquecedor quando percebeu a expressão de Han Yan e se aproximou rapidamente para confortá-la.
— Você deve ter se assustado com o que aconteceu. Não se preocupe, estamos todas aqui com você.
Cercada pelas duas, Han Yan começou a se acalmar. Em seguida, disse:
— Mais tarde, vocês duas vão descobrir como estão lidando com a situação lá fora.
Ji Lan assentiu.
— Deixe isso comigo.
Reclinando-se com um longo suspiro, Han Yan murmurou:
— Que pena sobre Xing’er. Ela tinha tanto espírito.
Ji Lan e Shu Hong trocaram olhares e disseram em uníssono:
— Senhorita, não se preocupe. Cada um tem seu destino. Talvez Xing’er tenha sido levada pelo Rei do Inferno para poder renascer numa vida melhor, numa família rica da próxima vez.
Han Yan apenas sorriu com amargura diante dessas palavras. Próxima vida? Ela mesma era alguém renascida e compreendia o quão preciosa era a vida. Não se deveria depositar esperanças na próxima vida. Carregando o desejo de recuperar o que perdera em sua existência anterior, estava determinada a compensar tudo o que deveria ter tido.
Sua expressão suavizou, e ela sussurrou:
— Se fosse eu naquele salão hoje...
— Senhorita, não diga isso! — exclamou Shu Hong, alarmada, uma ponta rara de pânico surgindo em seu rosto normalmente sereno. — Não deixaremos que algo assim aconteça. Por favor, não se preocupe.
Han Yan balançou a cabeça.
— Se fosse eu naquele salão hoje, vocês devem acreditar que tenho a capacidade de me proteger. Jamais devem imitar Xing’er. Embora sua lealdade em proteger sua senhora fosse admirável, trocar a vida por isso só me deixa inquieta nesta existência.
Ji Lan disse ansiosamente:
— Pff, pff, pff! Senhorita, você não vai correr perigo. Estaremos com você. A senhora já disse antes que estaremos ao seu lado quando você se casar!
Han Yan deu uma risada e lançou-lhe um olhar de soslaio.
— Que descarada! Uma garota que nem saiu de casa ainda falando de casamento com tanta naturalidade, sem medo de ser motivo de riso!
Ao ver Han Yan sorrir, Shu Hong finalmente relaxou. Não sabia explicar, mas a expressão anterior da jovem a deixara inquieta, como se houvesse uma distância imensa entre elas.
Enquanto isso, Mama Chen já havia obtido algumas notícias antes mesmo de Han Yan. Zhuang Shiyang, seguindo as palavras de Xing’er, colocou toda a culpa nos servos. Tia Zhou, por negligência no comando de seus subordinados, levou Zhuang Qin voluntariamente ao salão budista da família para recitar preces por quarenta e nove dias.
Mais tarde, foi revelado que o cozinheiro era alguém trazido para a casa pela Concubina Mei. Zhuang Shiyang culpou Mei por não saber escolher suas companhias e a colocou em prisão domiciliar. Apenas Tia Zhou e sua filha foram bem tratadas, por causa da doença, recebendo um fluxo contínuo de tônicos e medicamentos preciosos enviados ao Pátio Rongtong. Han Yan, no entanto, foi completamente ignorada nesse processo — mas isso era outra questão e não seria mencionada por ora.
Mama Chen falou com o rosto tomado pela indignação:
— Quem não sabe que ela está apenas fingindo estar doente? E ainda sai por cima no final! Que coisa mais sem vergonha — afinal, a senhorita é a filha legítima da família!
Ao ouvir isso, Han Yan apenas sorriu e perguntou:
— E Xing’er?
Xing’er não era uma serva de nascimento; seus pais tinham uma alfaiataria numa vila próxima. Concubina Zhou ordenou que um criado jogasse o corpo de Xing’er numa vala comum. Han Yan mandou buscar um caixão para enterrá-la, mas não colocou lápide. Também enviou um saco de prata para os pais dela, dizendo que era de Xing’er.
Mama Chen olhou para sua jovem senhorita e disse:
— Senhorita, você é bondosa demais. Ela era apenas uma criada; se o mestre descobrir...
— Mamãe — respondeu Han Yan com seriedade —, não faço isso por ela, e sim pela Tia Wan.
E isso era algo que ela devia à Concubina Wan.
Se ela não tivesse atiçado a Concubina Mei, esta não teria pensado em envenená-la; Tia Zhou não teria caído na armadilha, e Xing’er não teria tido um fim tão trágico. Han Yan sentia uma tristeza pesada no coração. Nesta vida, pelas pessoas que quero proteger, acabei causando involuntariamente a morte de uma vida inocente?
Mama Chen suspirou e refletiu por um momento:
— A Concubina Wan também é uma pessoa muito infeliz, tudo por causa da Tia Zhou. — Ficou irritada ao continuar: — Ela é apenas uma concubina, mas finge estar doente e se recusa a ver nossa senhorita. Que atitude fria e desprezível!
Han Yan respondeu com desdém:
— Não se preocupe. Se ela realmente quiser manter essa frieza... temo que logo venha rastejar atrás de mim.
Mama Chen ficou surpresa, olhando para Han Yan com confusão, mas a jovem já havia voltado a ler seu livro.
Naquele momento, Concubina Wan estava reclusa no salão budista, e Concubina Mei estava sob prisão domiciliar. Em três dias, no banquete do palácio, apenas Tia Zhou teria permissão para comparecer.
Embora a morte de Xing’er tenha sido um acidente, no fim, acabou servindo aos interesses da Tia Zhou. A Concubina Mei já não podia mais disputar favores. Uma pessoa ambiciosa como Tia Zhou não deixaria escapar a oportunidade de brilhar no banquete.
Quanto a Han Yan, a filha legítima da família Zhuang, tinha visto mais do mundo do que Zhuang Yushan. Tia Zhou certamente viria puxar conversa para obter informações sobre o palácio, esperando descobrir algo sobre os círculos sociais, os assuntos em voga e como se portar de forma apropriada.
Mas como poderiam saber... que eu com certeza vou colaborar?
Nesta vida, Tia Zhou não apenas não brilharia... como talvez acabasse se tornando motivo de escárnio.
Capítulo 20: Banquete Noturno no Palácio
Na manhã de três dias depois, ao romper da aurora, Han Yan foi despertada de sua cama aquecida por Mamãe Chen.
Como ainda estava escuro lá fora, Han Yan se encolheu ainda mais sob seus cobertores confortáveis e resmungou:
— Me deixa dormir só mais um pouco... Ainda é muito cedo para as saudações matinais...
Mamãe Chen insistiu:
— Minha menina, você já esqueceu que hoje é o banquete no palácio? Você precisa se arrumar direitinho!
Ao ouvir “banquete no palácio”, Han Yan despertou um pouco mais. No entanto, depois de esfregar os olhos, voltou a se esconder sob os cobertores, murmurando:
— Não tem nada pra preparar.
Mamãe Chen não cedeu:
— Não diga isso! O banquete no palácio é muito importante. Todas as damas nobres da capital estarão lá. Você precisa causar uma boa impressão!
De fato, conexões na corte eram algo que Han Yan não possuía. Ao perceber isso, soube que não podia se descuidar. Ainda que relutante, finalmente se levantou da cama.
Ji Lan e Shu Hong já haviam preparado o aquecedor e estavam à sua espera. Quando ela chegou, ajudaram-na a lavar o rosto e entregaram-lhe um aquecedor de mãos. Han Yan se sentou diante do espelho de vestir e começou a cochilar novamente, enquanto Ji Lan estava em dúvida atrás dela.
— Qual penteado a Senhorita deseja?
Han Yan respondeu:
— O de sempre.
Ji Lan ficou ansiosa:
— Isso não dá! Você não pode ser descuidada no banquete do palácio. Que tal um coque das Fadas Voadoras?
Han Yan riu:
— Não vou cantar nem dançar; pra quê algo tão elaborado? Esse banquete é pra comemorar a vitória no noroeste. Se eu chamar muita atenção, só vou atrair antipatia.
— Mas Senhorita — insistiu Ji Lan —, a Tia Zhou e as outras estão se preparando desde ontem. Ouvi dizer que foram até a Torre Ruyi encomendar roupas refinadas. A senhorita vai mesmo deixar que ofusquem você?
Han Yan sorriu:
— Quanto mais elas se enfeitam, mais devemos manter a simplicidade e a elegância. Elas só querem provar seu status na família Zhuang, mostrar que as concubinas e filhas ilegítimas são mais ricas que a filha legítima. Quem for esperto logo percebe o jogo.
Ji Lan ficou surpresa e então abriu um sorriso:
— Senhorita, você é muito esperta! Eu fui boba mesmo.
De repente, Shu Hong comentou:
— Esse banquete é bem comum para damas nobres; só quem nunca viu o mundo é que faz tanto estardalhaço. Que mesquinhez!
Han Yan se surpreendeu com Shu Hong, que sempre foi reservada. Depois de um instante de surpresa, caiu na risada:
— Está ficando ousada! Ela ainda é a dona da casa. Se os outros ouvirem, você vai ter problemas!
Shu Hong abaixou a cabeça para mexer nas brasas do aquecedor e disse:
— Minha única dona é você, Senhorita.
Han Yan sorriu e decidiu não comentar.
No fim, Han Yan pediu que Ji Lan fizesse dois coques redondos com o cabelo. Ela ainda era bastante jovem e havia se desenvolvido mais tarde do que outras garotas, então o penteado a deixava parecendo ainda mais uma bonequinha delicada — inocente e encantadora, o que, surpreendentemente, lhe caía muito bem. Han Yan sabia que o palácio não era um lugar fácil de se lidar; esse estilo faria com que a vissem como uma garota ainda infantil, desviando a atenção indesejada e evitando muitos problemas. Além disso, se a Tia Zhou ousasse criar dificuldades durante o banquete, essa aparência ajudaria a conquistar a confiança de quem estivesse por perto.
Embora seguisse as instruções, Ji Lan ainda não estava satisfeita. Criativamente, trançou pequenas mechas ao redor dos coques, tornando o penteado ainda mais delicado e refinado. Han Yan não gostava de adornos pesados, mas sabia que precisava seguir o decoro no banquete, então deixou Ji Lan escolher um par de presilhas de borboletas turquesa, que foram fixadas dos dois lados dos coques, realçando seu tom de pele.
Com o cabelo pronto, o próximo desafio era a roupa. Han Yan queria evitar chamar atenção, mas sem faltar com a etiqueta. No fim, escolheu um casaco curto cor de mel, uma capa de pele de rato na cor de rosa-queimado e uma saia de seda combinando com o casaco — cores vivas e alegres, sem serem chamativas demais. Um colar delicado de contas completava o visual, deixando-a bastante encantadora.
Enquanto Ji Lan cuidava da própria aparência, o tempo passou despercebido por Han Yan. Por fim, ouviu a voz animada de Shu Hong:
— Senhorita, está pronto.
Han Yan abriu os olhos e olhou para o espelho.
A garota refletida ali tinha a pele branca como a neve, com cabelos negros e macios presos em dois coques. Abaixo da franja alinhada, seus olhos amendoados brilhavam. O nariz, ligeiramente avermelhado pelo frio, aumentava seu encanto. Seus lábios estavam rosados, e os dentes, alvos — ela parecia frágil e adorável.
Nesse momento, Mamãe Chen empurrou a porta e entrou. Ao ver a aparência de Han Yan, seus olhos brilharam de surpresa, e logo se abriu num sorriso radiante:
— Nossa Senhorita está uma beleza! Mesmo simples, seus traços são tão delicados que só ficam mais encantadores quanto mais se olha.
Seu tom era cheio de alegria incontida, sem críticas à simplicidade do traje de Han Yan.
— Isso é que é entender o momento — Han Yan fez um bico de insatisfação. — Não está muito diferente de quando eu era menor.
Mamãe Chen riu:
— Senhorita está insatisfeita com seu crescimento lento. Mas não se preocupe, Mamãe garante que no futuro nossa Quarta Senhorita será tão bela quanto a Madame, e ainda mais deslumbrante que a Senhorita Yu Shan — centenas de vezes mais!
Embora fosse só uma palavra de consolo, Han Yan sentiu um calor agradável no coração. Lembrando-se da Tia Zhou e sua filha, disse:
— Vamos ver como estão a Tia Zhou e as outras; devem estar em polvorosa agora.
Ji Lan riu e pegou uma capa de pele de esquilo cinza, envolvendo Han Yan:
— Hmm.
Ao chegar no Pátio Rong Tong, antes mesmo de entrar, Han Yan ouviu as vozes de Tia Zhou e Zhuang Yu Shan:
— Isso não serve, está muito pobre. Traga aquele grampo de cabelo com rubi vermelho e pérolas.
A criadinha do lado de fora ia anunciar sua chegada, mas Han Yan fez um gesto com a mão, pedindo silêncio. Acompanhada por Ji Lan e Shu Hong, entrou com um sorriso e saudou docemente:
— Tia Zhou!
Zhou estava pessoalmente ajudando Zhuang Yu Shan a se arrumar quando ouviu a voz de Han Yan e se virou surpresa. Ao ver Han Yan arrumada, parecia ainda mais radiante que o habitual. Zhuang Yu Shan a avistou através do espelho; seu rosto bonito demonstrou um leve traço de inveja, mas ao ver as roupas simples de Han Yan, um toque de satisfação voltou ao seu semblante.
Zhou sorriu:
— Quarta Senhorita, hoje chegou bem cedo.
Han Yan não respondeu. Apenas sorriu e encarou Tia Zhou. Ela usava um casaco de brocado com fios dourados, enfeitado com pérolas e esmalte colorido. Apesar de bela, Han Yan ficou ofuscada com tanto brilho. Um leve sarcasmo surgiu em seu sorriso; parecia que Tia Zhou se achava a protagonista, coberta de ouro e joias, preparando o palco para um espetáculo interessante mais tarde.
Ela sorriu com doçura e inocência:
— Tia Zhou, seu traje está realmente deslumbrante, mas... não seria extravagante demais para um banquete no palácio?
Tia Zhou estava extremamente satisfeita com sua vestimenta. Ao ouvir o comentário de Han Yan, sentiu uma pontada de desagrado e, ao ver as roupas simples da menina, suspeitou que fosse inveja. Tomada por um espírito competitivo, respondeu com suavidade:
— Afinal, é um banquete real noturno; se vestirmos com simplicidade demais, envergonhamos a família Zhuang.
Quanta arrogância, Han Yan zombou por dentro. Uma concubina de baixa categoria como Zhou pode mesmo representar a dignidade da família Zhuang? Que piada. Ela realmente se acha o centro das atenções.
Ji Lan estava prestes a dizer algo, mas Han Yan puxou levemente sua manga e respondeu com um sorriso:
— Tia, você fica bem com qualquer coisa.
Ela já tinha deixado a deixa. Se a Tia Zhou se envergonhasse mais tarde, melhor ainda. Se Zhuang Shi Yang resolvesse repreender alguém depois, não seria ela a culpada.
— Quarta Senhorita, o que achou da minha roupa? — veio uma voz doce e encantadora. Han Yan levantou os olhos, e suas pupilas se contraíram subitamente.
Capítulo 21: Um Aviso Sutil
Na memória de Han Yan, ela não tinha nenhuma impressão marcante da beleza de Zhuang Yu Shan. O momento mais vívido era da noite do casamento, quando Zhuang Yu Shan, vestida como noiva, usurpou seu lugar e pessoalmente lhe deu uma taça de veneno.
Aquela era sua pior lembrança — um pesadelo impossível de esquecer por toda a vida.
Pensando bem, sempre que Zhuang Yu Shan aparecia diante dela, estava vestida de forma simples e recatada. Apesar das feições marcantes, essas roupas não destacavam sua beleza, e Han Yan nunca havia prestado muita atenção.
Agora, ao olhar para a garota à sua frente, vestida com roupas esplêndidas, os olhos de Han Yan se tornaram mais profundos, repletos de emoções conflitantes, até se aquietarem como uma nascente límpida.
— Irmã Yu Shan, você está realmente linda — disse suavemente, escondendo um leve ressentimento entre as sobrancelhas.
Zhuang Yu Shan sorriu discretamente:
— A Quarta Senhorita me elogia demais.
Apesar do tom modesto, um brilho de orgulho ainda escapava.
Diferente de Tia Zhou, que usava roupas ostensivas, ou de Han Yan, que apostava na delicadeza infantil, Zhuang Yu Shan — um ano mais velha que Han Yan — já havia se desenvolvido com graça. Cintura fina e pernas longas, pele clara e luminosa, usava um vestido longo de chiffon rosa que chegava aos tornozelos, adornado com bordados vermelhos de flor de begônia. Os cabelos estavam presos num coque fluido em forma de nuvem, enfeitados com um grampo de borla de cornalina, e brincos de pérola cintilavam levemente em suas pequenas orelhas, destacando ainda mais sua pele translúcida.
Seu rosto parecia um prato de prata, os olhos lembravam damascos úmidos; suas roupas esvoaçavam como penas, floresciam como a primavera, tinham o encanto do outono e a leveza de uma fada. Mais encantadora que uma dançarina, mais graciosa que uma imortal — uma beleza em formação, ainda jovem, mas já cheia de elegância em cada gesto.
Até mesmo Han Yan não pôde deixar de admirá-la em silêncio.
Talvez sua admiração tivesse agradado Zhuang Yu Shan, pois ela se mostrou ainda mais afável que o normal:
— Vejo que a Quarta Senhorita também se vestiu com bastante elegância hoje.
Han Yan inclinou a cabeça:
— Não posso me comparar com você, Irmã Yu Shan.
Isso deixou Zhuang Yu Shan ainda mais satisfeita, e Zhou olhou para a filha com um orgulho crescente.
Embora o banquete no palácio fosse à noite, as damas nobres precisavam entrar no palácio mais cedo, pois a Imperatriz as acompanharia para apreciar as flores de ameixeira à tarde — um toque de refinamento ao evento.
Após os preparativos, Han Yan e as outras estavam prontas para partir.
Zhou retirou de uma caixa um manto verde reluzente. Han Yan ficou surpresa, sentindo um estranho déjà-vu. Tia Zhou notou seu olhar e sorriu:
— Este se chama “Ouro de Pavão”. Foi tecido com penas de pavão vindas do exterior. O Mestre me deu de presente, mas como estou ficando mais velha e não gosto de cores tão chamativas, deixei que Yu Er o usasse.
Dizendo isso, colocou o manto sobre os ombros de Zhuang Yu Shan.
Han Yan semicerrava os olhos, tentando lembrar de algo que acontecera muitos anos atrás.
Quando ela tinha oito anos, Zhuang Shi Yang recebeu de um colega uma missão, e entre os presentes trazidos por mercadores marítimos estava exatamente esse “Ouro de Pavão”. O manto era muito quente e belíssimo, e sua mãe havia manifestado o desejo de guardá-lo. No entanto, num piscar de olhos, Zhuang Shi Yang o deu de presente a outro oficial, numa tentativa de bajulação. Na época, sua mãe ficou decepcionada, embora compreendesse o valor da peça.
Agora, vendo esse manto valioso nos ombros de Zhuang Yu Shan, Han Yan sentiu-se confusa. Se Zhuang Shi Yang o deu para Tia Zhou, isso mostrava o quanto ela era favorecida agora. Um leve vazio se abriu dentro dela.
Zhuang Yu Shan notou a expressão estranha de Han Yan e, satisfeita, se gabou discretamente:
— Mamãe, pra que dizer isso? É só um pedaço de Ouro de Pavão. O pai já disse que, se Yu Er quiser, ele dá qualquer coisa.
Han Yan suspirou com inveja:
— O pai é tão bom com você, Irmã Yu Shan!
Tia Zhou fingiu modéstia:
— O Mestre também é muito bom com a Quarta Senhorita.
Ela olhou para o manto de esquilo cinza que cobria Han Yan — o subentendido era claro.
Han Yan, com as mãos para trás, balançou a cabeça com um sorriso:
— Claro! Afinal, sou a filha legítima do pai!
Ela enfatizou a palavra “legítima”, e, como esperado, viu as expressões de Tia Zhou e sua filha se alterarem. O status era um ponto sensível para ambas, e Han Yan queria justamente cutucar essa ferida, ver quem aguentava mais.
Tia Zhou forçou um sorriso:
— Vamos logo para o palácio.
A carruagem da família Zhuang já esperava do lado de fora. Havia apenas uma disponível, mas Han Yan fez um gesto e ordenou ao criado ao lado:
— Vá buscar outra carruagem.
Tia Zhou, prestes a subir na carruagem, parou surpresa:
— Por que a Quarta Senhorita quer outra carruagem?
Ela logo mandou o criado interromper a busca.
Han Yan fingiu inocência:
— Quero andar de carruagem!
— Não é suficiente dividir conosco? — perguntou Zhuang Yu Shan.
Han Yan fez bico:
— Três pessoas numa só carruagem é apertado demais, não estou acostumada.
Tia Zhou franziu o cenho:
— Quarta Senhorita, isso não é razoável.
Han Yan a encarou:
— Quando era só eu e minha mãe indo a banquetes, não havia problema. Mas agora com uma tia e a Irmã Yu Shan junto, realmente não suporto.
Era por haver três pessoas, ou por serem justamente aquela mãe e filha? As palavras de Han Yan vinham carregadas de significados. Os criados ao redor abaixaram a cabeça, mas estavam atentos — já percebiam que a jovem legítima da casa e a nova tia não se davam bem.
Tia Zhou quase explodiu de raiva ali mesmo.
Vendo o clima esfriar, Han Yan disse num tom delicado:
— Como filha legítima, devo poder requisitar uma carruagem sem precisar me submeter ao humor de ninguém, não acha? Imagine se isso se espalha por aí. Meu nome já está na lista do convite. Se algo der errado no banquete e o imperador se irritar, quem vai se responsabilizar?!
Seu tom se endureceu, e os criados sentiram um calafrio percorrer a espinha, apressando-se para providenciar outra carruagem. Tia Zhou tremia de raiva, mas Han Yan sorriu levemente e disse com doçura:
— Tia, é melhor a senhora ir na carruagem com a Irmã Yu Shan. Está ventando e ela está usando roupas leves. Se adoecer, vai ficar de cama por dias... E sem seus cuidados, quem sabe quanto tempo levaria para melhorar?
Zhuang Yu Shan se enrijeceu, e Tia Zhou lançou um olhar furioso para Han Yan, cerrando os dentes ao puxar a filha para dentro da carruagem.
Após se acomodarem, Zhuang Yu Shan notou a expressão zangada da mãe e comentou:
— Mãe, ainda bem que ela não quis vir conosco. Eu também não queria ver a cara daquela vadiazinha!
— Cale a boca! — rosnou Tia Zhou, fazendo Zhuang Yu Shan se encolher num canto da carruagem, sem ousar dizer mais nada.
Logo, trouxeram outra carruagem. Han Yan subiu alegremente e gritou com voz clara:
— Ji Lan, Shu Hong, depressa!
Sua voz soou com nitidez em toda a residência Zhuang, e os criados trocaram olhares surpresos. A Quarta Senhorita preferia viajar com duas criadas do que com a tia e a irmã?
Han Yan havia feito questão de falar alto. Ao ver que sua intenção surtira efeito, assentiu satisfeita.
Tamanha humilhação! Os olhos de Tia Zhou já começavam a se avermelhar de tanta raiva.
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