Capítulo 19 – O Salão do Buda
No oitavo mês do segundo ano de Qiyuan, Wu Junru entrou em trabalho de parto no meio da noite. Após um dia e uma noite inteiros de dor, ela finalmente deu à luz um menino.
Toda a residência celebrou. Xiao Ying finalmente tinha seu segundo filho — um verdadeiro “herdeiro legítimo” em todos os sentidos.
Enquanto a Senhora Xiao e os demais estavam ocupados organizando a celebração do terceiro dia e do primeiro mês do recém-nascido, Xiao Jingduo ajoelhava-se sozinho no salão principal do pátio Qingze, copiando escrituras budistas em luto pela morte da mãe.
Aquele era o momento mais sombrio de sua vida. Sua mãe, em quem ele confiava desde a infância, havia falecido, enquanto seu pai biológico comemorava do lado de fora o nascimento de seu segundo filho. Sua madrasta era autoritária, e os criados da mansão do marquês o tratavam com desprezo.
Ele estava sozinho, tateando no escuro, sem saber para onde o caminho à frente o levaria.
Qiuju entrou, fechando a porta suavemente atrás de si.
— Jovem mestre, o senhor está acordado há um dia inteiro. Por favor, descanse um pouco — disse ela, colocando roupas novas ao lado de Xiao Jingduo. — O jovem mestre acaba de nascer, e a marquesa mandou fazer roupas novas para toda a casa. Estas são as roupas de luto que acabaram de ser entregues. Jovem mestre, experimente-as, por favor.
Xiao Jingduo lançou-lhes um olhar rápido, mas logo virou a cabeça e voltou a copiar as escrituras.
Qiuju suspirou, tentando convencê-lo:
— Jovem mestre, eu sei que está sofrendo com a partida da senhora. Mas o senhor fez tudo o que pôde. A senhora não queria continuar aqui sofrendo. Partir foi, de certo modo, uma libertação. Se ela ainda estivesse aqui, com certeza não gostaria de vê-lo assim.
Xiao Jingduo finalmente pôs a pena de lado e ergueu o olhar, suspirando profundamente:
— Eu sei. Só... não sei mais o que fazer.
— Jovem mestre, a marquesa mandou uma mensagem. Disse que o novo jovem mestre é muito frágil e não pode ser incomodado com barulhos ou perturbações. Ela quer que o senhor vá para o Salão do Buda observar o luto e copiar as escrituras da senhora. Ela teme que, se continuar fora...
— Não importa. Onde quer que eu esteja, é tudo a mesma coisa.
Ao ver o rosto frio de Xiao Jingduo, quase sem expressão, Qiuju sentiu uma tristeza indescritível. Tentando animá-lo, fingiu entusiasmo ao abrir as roupas novas e mostrá-las a ele:
— Jovem mestre, veja, essas novas roupas de luto não lhe caem perfeitamente? Amanhã, quando o senhor as vestir para velar pela senhora, com certeza ela ficará muito feliz ao vê-lo!
— Está bem, pode deixá-las aí.
Qiuju murchou na hora:
— Jovem mestre, não fique assim. Pelo menos sorria um pouco. O senhor não era assim quando chegou aqui.
— Ah, é? — Xiao Jingduo finalmente demonstrou certo interesse, virando-se para olhar Qiuju. — O que você quer dizer com isso?
— Eu lembro que, quando o senhor chegou à mansão do marquês, era cheio de energia, os olhos brilhando como fogo. Mas agora, não fala, não sorri. É como se tivesse se envolvido em uma casca grossa, com espinhos por fora.
— É mesmo? Eu não percebi — Xiao Jingduo sorriu de leve. — Mas as pessoas sempre mudam. Quando cheguei aqui, era destemido por ignorância. Agora, depois de passar por tanta coisa... como poderia ser o mesmo?
Xiao Jingduo não quis dizer mais nada. Estendeu a mão para pegar as roupas, como se fosse sair para se trocar. No entanto, ao tocá-las, franziu o cenho brevemente.
— O que foi, jovem mestre?
— Nada. — Xiao Jingduo olhou para o conjunto de roupas, um sentimento estranho crescendo em seu coração. — O tecido está esquisito... parece meio pegajoso.
— É mesmo? — Qiuju também pegou as roupas e examinou com atenção. — Agora que mencionou, jovem mestre, realmente parece. Não faz mal, vou lavá-las de novo hoje, e amanhã estarão prontas para o senhor vestir.
Xiao Jingduo olhou para Qiuju, sentindo-se culpado:
— Estou incomodando você de novo. Você é tão eficiente... não deveria estar desperdiçando seu talento aqui no pátio Qingze.
— Como pode dizer isso, jovem mestre?! — Qiuju se levantou, fingindo estar brava. — Se continuar falando assim, vou ficar realmente zangada!
Xiao Jingduo era grato a Qiuju, mas não era alguém de muitas palavras. Então não disse mais nada, apenas guardou aquele gesto em seu coração. No dia seguinte, usando as roupas lavadas e secas, dirigiu-se ao Salão do Buda no canto sudeste para copiar escrituras.
A estátua de Buda repousava sobre o altar, com fios de fumaça de incenso ao redor, dando-lhe uma expressão ainda mais enigmática — observando o mundo dos mortais com uma mistura de tristeza e compaixão.
Xiao Jingduo fez uma reverência diante da estátua, depois foi até o lado leste do salão. Ajoelhou-se sobre uma almofada de junco para copiar escrituras budistas em honra à sua mãe, desejando que ela tivesse uma vida alegre em sua próxima encarnação.
Um leve perfume emanava do incensário. À medida que permanecia ali, no silêncio do salão, a sensação estranha em seu coração só aumentava. Ele pousou a pena e caminhou até o altar.
O incensário tinha a forma de um leão dourado, com olhos ferozes e dentes à mostra. Fios de fumaça saíam pela boca da criatura.
A cena exalava riqueza e tranquilidade, mas o rosto de Xiao Jingduo se contorceu num sorriso frio.
Então era por isso que Wu Junru de repente quis que eu copiasse escrituras no Salão do Buda. Agora ele percebia: ela havia adulterado o incenso. Infelizmente para ela, calculou mal. Desde pequeno, Xiao Jingduo estudava fitoterapia e era familiarizado com ingredientes medicinais comuns. Dentro daquele incensário de leão dourado, haviam sido claramente misturadas ervas alucinógenas. O salão tinha pouca ventilação e, após inalar aquele aroma por um tempo, qualquer um desmaiaria em menos de uma hora. Como o incenso era constantemente queimado no local, e o aroma do "incenso budista" disfarçava tudo, ninguém comum perceberia que algo fora do comum estava ali. Depois que o plano fosse executado, bastava apagar as cinzas no incensário, e o perfume das oferendas cobriria todos os vestígios. Era um plano perfeito.
Xiao Jingduo riu com desprezo. Colocou a mão na tampa do incensário, prestes a abri-lo para ver qual era exatamente a armadilha de Wu Junru.
— Senhora, o jovem mestre parece saber um pouco sobre medicina. Será que é mesmo seguro colocarmos droga no incenso?
— Duvido que ele perceba o cheiro — respondeu Wu Junru, reclinada sobre uma almofada macia, sorrindo enquanto brincava com seu filho recém-nascido. Suas palavras, no entanto, eram geladas. — Eu nunca ajo sem um propósito. Quando ajo, é para matar ou, no mínimo, aleijar. Sei que ele tem certo conhecimento de medicina, por isso preparei duas camadas de precaução. A primeira é o incenso, para deixá-lo inconsciente sem perceber. Se, por acaso, ele desconfiar de algo, ainda tenho um plano reserva esperando por ele.
— Ah, e qual é esse plano? — A ama Wei ajudou Wu Junru a se sentar, perguntando com curiosidade.
— Esse é meu trunfo final. Por mais esperto que seja, ele não tem como vencer — Wu Junru sorriu, cheia de autoconfiança. Afinal, ela vinha dos tempos modernos e conhecia muitas coisas ainda desconhecidas nesta era. Com a vantagem de uma viajante do tempo, se ela realmente quisesse lidar com alguém, era brincadeira de criança. — Assim que ele levantar a tampa do incensário, não terá mais escapatória. Ama Wei, me diga: se você notasse algo estranho no incenso, não levantaria a tampa para investigar?
Wu Junru riu triunfante:
— Esse é meu verdadeiro golpe mortal. Ele acha que desvendou meu plano, mas está enganado. Antecipei cada um dos seus passos. Neste momento, ele está realmente caindo na minha armadilha.
Ama Wei, cheia de admiração ao ouvir isso, exclamou:
— Madame, a senhora é brilhante!
— Quem mandou ele ir correndo contar tudo para a princesa e me fazer perder tanto prestígio? — Wu Junru acariciou languidamente as unhas, o esmalte vermelho vivo refletindo uma luz fria. — Se ousar se opor a mim, farei com que morra em silêncio. Essa é a consequência de me ofender.
— Madame tem toda a razão — disse Ama Wei, permanecendo próxima e servindo-a com atenção. Wu Junru se virou para ela e disse:
— Ama, você me viu crescer desde pequena e me ajudou tanto ao longo dos anos. Entre todos os criados, só confio em você. Deve estar quase na hora. Vá até o Salão de Buda e verifique por mim. Lembre-se, seja extremamente cuidadosa e não deixe ninguém perceber seus movimentos.
— Esta velha criada entende — respondeu Ama Wei com habilidade. Ela já navegava pelos pátios internos há muitos anos e era ainda mais experiente nesses assuntos obscuros do que a própria Wu Junru.
…
No Salão de Buda, Xiao Jingduo já havia colocado a mão sobre a tampa, mas de repente parou.
— Tem algo errado. Por que há um cheiro de queimado misturado ao incenso? Será que colocaram pouco incenso ou o fogo está forte demais? — murmurou para si. Ele olhou para a barriga arredondada do leão dourado, cada vez mais intrigado.
Logicamente, um cheiro de queimado só apareceria se o incensário fosse pequeno demais ou se houvesse pouco incenso para alimentar o fogo. Mas com uma barriga tão grande como a desse leão dourado, deveria haver cinzas de sobra. Como poderia haver cheiro de queimado?
Havia apenas uma explicação: colocaram pouca cinza de incenso no queimador. Isso era curioso. Por que não encheriam um incensário tão grande?
Xiao Jingduo inclinou a cabeça, observando o queimador de bronze com interesse. Empurrou-o levemente e, de fato, sentiu que estava vazio por dentro.
— Então era isso… queriam me atrair para levantar a tampa. — Xiao Jingduo olhou para o incensário que quase o matou e sorriu de leve. — Agora fiquei curioso para saber o que tem lá dentro.
Enquanto isso, Ama Wei se aproximava com cautela do Salão de Buda, evitando ser vista por qualquer um.
A mansão do Marquês de Dingyong tinha um pátio especial dedicado à adoração budista. Naquele momento, uma criada vigiava a entrada do pátio, mas cochilava.
Ama Wei parou em frente à criada e tossiu alto.
A jovem acordou de repente. Ao ver Ama Wei, levantou-se às pressas e começou a se desculpar repetidamente:
— Por favor, perdoe-me, ama. Esta serva foi descuidada e acabou adormecendo. Por favor, me poupe…
Ama Wei era a braço-direito de Wu Junru e ainda tinha o status de ama de leite, o que lhe conferia uma posição muito elevada dentro da casa. Os criados sempre eram cuidadosos e mantinham um sorriso respeitoso ao encontrá-la. Agora que a jovem havia sido flagrada cochilando, ficou apavorada, com o estômago revirando de medo.
Ama Wei franziu o cenho e a repreendeu com severidade:
— Como pode estar de serviço e adormecer em plena luz do dia?
— Foi culpa desta serva! Por favor, perdoe-me, ama!
— Tudo bem, mas não repita isso — disse Ama Wei com um gesto magnânimo. — A madame a chamou. Por que ainda não foi?
A jovem não esperava escapar de uma punição com tanta facilidade. Radiante, respondeu rapidamente e se apressou para sair. Após alguns passos, hesitou e apontou para o Salão de Buda:
— Ama, e o Salão de Buda?
— Eu vigio por você. Vá cuidar dos seus assuntos.
— Obrigada, ama! — A criada se afastou alegremente.
Ama Wei esticou o pescoço, observando a jovem desaparecer à distância, e então soltou uma risadinha fria. A essa altura, tudo já deve estar resolvido no Salão de Buda, pensou.
Ela andou pelo pátio por um tempo, até que de repente ouviu um estrondo alto vindo do interior, como se algo tivesse tombado. O coração de Ama Wei deu um pulo, e ela imediatamente empurrou a porta e entrou.
Após o estrondo inicial, o pátio voltou ao silêncio, com apenas o cheiro de sândalo pairando no ar vindo do Salão de Buda. Ama Wei levantou discretamente uma das janelas, espiando por uma fresta com seus olhos triangulares. Como não viu Xiao Jingduo por um bom tempo, sorriu e escancarou portas e janelas. Esperou do lado de fora por alguns instantes e, ao confirmar que não havia nada de estranho, entrou na sala.
O Salão de Buda era profundo, sem luz exterior penetrando, o que o tornava ainda mais sombrio e misterioso. Ama Wei logo avistou uma figura próxima à estátua do Buda. Embora estivesse coberta por uma cortina, as roupas de luto brancas de Xiao Jingduo se destacavam. Agora, aquela sombra branca jazia imóvel no chão. Ao lado, um incensário havia tombado, com cinzas espalhadas por todo o chão. Até a tampa estava caída, revelando a origem do barulho anterior.
Ama Wei caminhou rapidamente até a estátua. Puxou a cortina com força e soltou um grito inesperado.
No chão, havia apenas as roupas de luto novas, recheadas com trapos e objetos diversos. Nenhum sinal de pessoa alguma.
Ama Wei ficou atônita com a reviravolta. Agachou-se depressa para examinar as roupas, procurando entender para onde Xiao Jingduo havia ido. Mas, ao começar a revirar os tecidos, ouviu o som de metal tilintando, seguido de um zumbido quase inaudível.
Ela se virou, incrédula, e viu Xiao Jingduo de pé atrás dela, vestindo apenas suas roupas de baixo e segurando uma corda fina nas mãos.
— Como você… — Ama Wei estava aterrorizada, mas antes que pudesse terminar a frase, sentiu uma leve picada no dorso da mão. Ao olhar, viu várias abelhas voando ao redor das roupas de luto. Por estar tão próxima, foi picada por uma delas.
— Então era isso…
Ela ouviu Xiao Jingduo murmurando. Quis se levantar e repreendê-lo pela ousadia, mas assim que tentou se mover, sentiu uma tontura. Seu corpo oscilou e sua figura robusta tombou para o lado, desabando no chão.
Deitada de costas, Ama Wei apontou trêmula para Xiao Jingduo:
— Você, você…
Xiao Jingduo arqueou as sobrancelhas, como se surpreso:
— Está agindo tão rápido. Wu Junru realmente não mediu esforços para me matar.
— O que você fez? Por que isso está… acontecendo…
— Isso não importa — respondeu Xiao Jingduo, mantendo distância e sorrindo para ela. — Você só precisa entender que vai morrer em breve.
A respiração de Ama Wei se acelerou. Ela o encarou com ódio, cuspindo uma ameaça raivosa:
— Só estamos nós dois aqui. Se me matar, não escapará impune. Salve-me, ou então… mesmo morta, você não terá um fim melhor.
— Salvar você?
Capítulo 20 – O Assassino
Nanny Wei, ofegante, ainda tentava ameaçar Xiao Jingduo com ferocidade:
— Só estamos nós dois aqui. Se você me matar, não vai escapar da culpa. Me salve, ou então, se eu morrer, você também não terá um bom destino.
— Te salvar? — Xiao Jingduo não conseguiu conter uma risada. Em vez disso, perguntou: — Então quer dizer que Wu Junru tem o antídoto?
Embora parecesse uma pergunta, o tom de Xiao Jingduo era de plena certeza. Ele balançou a cabeça e suspirou:
— Wu Junru realmente não pode ser subestimada. Eu nem sabia que existiam abelhas com veneno tão potente, e ela ainda conseguiu extrair um antídoto.
— A Senhora é esperta e sagaz, naturalmente extraordinária… — Nanny Wei já sentia tontura, mas mesmo assim usou seu último fôlego para defender Wu Junru. Contudo, por mais brilhante que fosse o plano da madame, dessa vez ela havia sido superada por um simples garoto. Nanny Wei não conseguia engolir essa derrota. Perguntou com relutância:
— Você… como descobriu? A Senhora disse claramente que, mesmo que eu entrasse, não haveria perigo…
— De fato, o problema estava naquele conjunto de roupas que ela mandou...
Depois que Xiao Jingduo percebeu que Wu Junru havia usado ervas para atraí-lo a abrir o incensário, ele ficou em alerta e decidiu virar o jogo contra ela. Tirou as roupas novas que Wu Junru havia enviado, arrumou-as para parecerem uma pessoa atrás das cortinas e então posicionou o incensário de qilin dourado com o problema ao lado das roupas. Amarrou uma fina corda na tampa do incensário, escondendo-a pela estrutura de madeira, enquanto segurava a outra ponta à distância. Por fim, empurrou outro incensário, fazendo barulho proposital para atrair os espiões de Wu Junru ao local.
Como esperado, pouco depois, Nanny Wei apareceu. Quando ela puxou as cortinas, assustou-se com o boneco de pano e ignorou completamente o incensário de qilin dourado ao lado. Xiao Jingduo aproveitou a oportunidade, puxou a corda com força, levantando a tampa do incensário e libertando o que Wu Junru havia escondido ali.
Ao ver o que saiu voando do incensário, Xiao Jingduo entendeu tudo. Wu Junru havia escondido abelhas venenosas lá dentro, e seu veneno era tão potente que, em poucas palavras trocadas, Nanny Wei já mal conseguia se manter em pé.
Xiao Jingduo também deduziu o restante do plano. Wu Junru, sob o pretexto de parabenizá-lo, mandou-lhe um novo traje de luto, depois o levou até um salão de oração isolado e vazio. As roupas haviam sido embebidas em uma água com mel especial. Quando Xiao Jingduo abrisse o incensário de qilin dourado, as abelhas venenosas sairiam e, guiadas pelo cheiro do mel, atacariam apenas ele. Quem estivesse longe o suficiente não correria risco. O veneno dessas abelhas era extremamente forte; ao ser picado, a pessoa logo ficava tonta e fraca. Com Nanny Wei vigiando por perto, Xiao Jingduo não conseguiria sair para pedir ajuda. Para garantir o sucesso, Wu Junru ainda usou ervas alucinógenas como distração. Se Xiao Jingduo as descobrisse, abriria o incensário por conta própria e, a essa distância, não haveria como escapar. Se ele não percebesse, melhor ainda.
Depois que Xiao Jingduo estivesse atordoado pelas ervas, Nanny Wei só precisaria entrar e ativar o mecanismo do incensário. Ele morreria pelas abelhas especiais, sem nenhum ferimento ou gota de sangue. Quem saberia como Xiao Jingduo morreu? Quem suspeitaria de Wu Junru?
O plano de Wu Junru era perfeitamente encadeado, mas, ironicamente, o ponto mais genial se tornou sua maior falha. Para preservar as abelhas venenosas, ela havia limpado todas as cinzas do incensário e mantido o fogo bem baixo, com medo de sufocar as preciosas criaturas. Inesperadamente, isso gerou um aroma estranho no incenso — o que Xiao Jingduo notou.
Assim, Xiao Jingduo virou o jogo e eliminou a babá mais capaz de Wu Junru como um "presente de volta" para sua madrasta.
Nanny Wei sentia o mundo girar e o ar sumir. Agora, ela já não ousava bancar a orgulhosa. Abandonando a dignidade, fez uma expressão suplicante:
— Jovem Mestre… por favor… me salve…
— Te salvar? — Xiao Jingduo riu sem humor. Seu olhar escureceu. — Quando você oprimia minha mãe, por que não teve misericórdia? Sabia que a saúde dela era frágil, e mesmo assim usava palavras cruéis para provocá-la. Não foi de propósito, para matá-la? Você ousou ser cruel, e agora quer gentileza dos outros?
— Está pensando em dizer que Wu Junru preparou um antídoto e que, se a chamarmos agora, você ainda pode ser salva? — Os olhos de Xiao Jingduo encararam Nanny Wei com intensidade, enquanto um sorriso frio se desenhava nos lábios. — Mas eu não quero te salvar.
Naquele instante, Nanny Wei sentiu como se estivesse encarando um espírito maligno. Estava apavorada. Fitava Xiao Jingduo com ódio, como se quisesse perfurá-lo com o olhar.
Aos poucos, sua respiração ficou mais irregular. O ódio em seus olhos desapareceu, dando lugar ao pavor e ao desespero de quem está à beira da morte. Mas, por mais que ela implorasse, Xiao Jingduo não demonstrava compaixão — apenas observava, frio e impassível.
Só então Nanny Wei percebeu que a pessoa diante dela era um demônio. Por fora, tinha o rosto de um imortal, mas por dentro, o coração era igual ao de uma entidade infernal. Ele estava determinado a deixá-la morrer.
Com a morte se aproximando, o ódio em seu coração cresceu ainda mais. Em seus últimos segundos, Nanny Wei usou o pouco de força que restava para lançar uma maldição:
— Não pense que vai se livrar… só estamos nós dois aqui. Mesmo que eu morra… você não escapará da suspeita. Espere para ser jogado na prisão! A Senhora e a família Wu não vão te poupar, você… você…
Mas Nanny Wei não terminou a frase. Seus dedos relaxaram de repente, caindo no chão como um objeto inerte. Ao observar seu nariz, percebeu-se que ela já havia parado de respirar.
Nanny Wei foi deliberadamente deixada para morrer por Xiao Jingduo. No momento de sua morte, ainda carregava terror e ódio. Seus olhos permaneciam abertos, incapazes de se fechar, mesmo depois que a vida se foi.
No entanto, em seus últimos pensamentos, ela se consolou acreditando que, mesmo morta, Xiao Jingduo não escaparia da suspeita. Wu Junru não o deixaria em paz.
Xiao Jingduo esperou um pouco mais. Depois de confirmar que Nanny Wei realmente havia morrido, sorriu e disse:
— Você tem razão. Com a sua morte, terei dificuldades para escapar da suspeita. Mas eliminar a babá mais competente de Wu Junru vale o preço.
— No entanto, eu preciso continuar vivo para vingar minha mãe. Quero alcançar a posição mais alta e devolver tudo o que Xiao Ying me fez, um por um. Como eu poderia cair tão cedo e passar o resto da vida na prisão por assassinato?
— Nunca acreditei em destino. Mesmo sendo a única pessoa presente na cena, e daí? Ainda assim, posso criar um álibi para mim.
Xiao Jingduo murmurou enquanto saía do salão. Ao cruzar o limiar, parou e olhou para trás, em direção à imponente estátua do Buda.
O Buda permanecia sentado, elevado, lançando um olhar compassivo sobre o mundo mortal.
Quem poderia imaginar que, ali, um assassinato silencioso e mortal acabara de acontecer?
…
Wu Junru já esperava há muito tempo em seu quarto, mas Nanny Wei não retornava. Apesar da confiança inicial, começou a sentir-se inquieta. Será que algo deu errado no salão de oração?
Assim que esse pensamento surgiu, Wu Junru o descartou. Seu plano era infalível, perfeitamente interligado — não podia ter falhado. Nanny Wei devia ter sido apenas atrasada por algum motivo.
A criada da porta, que havia sido enviada a Wu Junru por Nanny Wei, perguntou, confusa:
— Senhora, está tudo bem?
Wu Junru esfregou a testa, exausta:
— Nada, não se preocupe.
— Oh… — respondeu a criada, sem jeito. Por algum motivo, embora a senhora diante dela tivesse fama de bondosa, a jovem se sentia desconfortável ao seu lado. Timidamente, perguntou:
— Senhora, Nanny Wei disse que a senhora me chamou. A senhora tem alguma ordem? Caso contrário, devo voltar para vigiar a porta do salão de oração. O Jovem Mestre ainda está lá dentro.
Wu Junru finalmente não aguentou mais. Levantou-se de repente e gritou:
— Chega! Sigam-me.
Wu Junru liderou um grande grupo de criadas em direção ao salão de oração. Quando a senhora da casa se movia, os servos não ousavam vacilar, e algumas criadas espertas já haviam corrido à frente para preparar tudo. Algumas criadas conversavam e riam ao empurrar a porta, mas ficaram subitamente chocadas com a cena à frente, seus gritos cortando o ar.
— Madame, aconteceu algo terrível, Nanny Wei está...
Ao ouvir os gritos, o coração de Wu Junru afundou. Ignorando a imagem de bondade e elegância, ela empurrou as criadas para o lado e avançou.
Quando Wu Junru viu a pessoa caída no chão, nem ela conseguiu conter o grito:
— Nanny!
— Madame! — As criadas correram para amparar Wu Junru, ajudando-a desajeitadamente para fora. Wu Junru ainda estava em choque, mas ao se recompor, ficou com uma raiva incomum:
— Só Xiao Jingduo estava no salão de oração. Onde ele está agora? Minha babá morreu em circunstâncias suspeitas e ele não aparece. Ele deve ter feito alguma coisa!
As criadas se entreolharam, sentindo um arrepio:
— Madame, como o jovem mestre poderia fazer tal coisa?
— Silêncio, todas vocês! — Wu Junru gritou com raiva. Nanny Wei foi a primeira pessoa que conheceu após a transmigração e havia sido um grande apoio durante todo o último ano. Wu Junru a considerava família, e agora ela morrera tragicamente no salão de oração. Os olhos de Wu Junru ficaram vermelhos de ódio enquanto rangia os dentes:
— Xiao Jingduo, como ousa! Alguém, vá chamar o marquês e a velha madame. Quero que todos vejam que tipo de pessoa é o filho mais velho do marquês de Dingyong.
Ao saber que alguém morrera na mansão, a velha madame ficou tão chocada que deixou o bule cair. Logo depois, chegou ao salão de oração acompanhada da nora, da neta e de inúmeras criadas. Assim que entrou, perguntou ansiosa:
— O que aconteceu? Como alguém morreu tão de repente?
Os olhos de Wu Junru estavam vermelhos, claramente de tanto chorar. Ela se curvou diante da velha madame e disse, com os olhos marejados:
— Sogra, hoje o jovem mestre estava copiando escrituras no salão de oração. Eu estava preocupada com a diligência dele no luto, então mandei Nanny Wei verificar. Mas, inesperadamente, Nanny Wei...
Wu Junru engasgou por um momento antes de continuar:
— Nanny Wei foi cruelmente assassinada por Xiao Jingduo!
— O quê! — Gritos explodiram entre as mulheres. A velha madame bateu repetidamente no peito, perguntando com medo:
— Como Duo’er pôde fazer uma coisa dessas? Isso não é um mal-entendido?
— Que mal-entendido haveria! — Wu Junru retrucou com amargura. — Sogra, você sabe que só Xiao Jingduo estava no salão. Eu dei ordens para que ninguém o incomodasse enquanto ele fazia o luto pela mãe, e o marquês também sabe disso. Nanny Wei entrou no salão e perdeu a vida. Só havia Xiao Jingduo lá, quem mais poderia ser? E agora ele sumiu. Deve ter fugido, culpado pelo assassinato!
A velha madame sabia que as palavras de Wu Junru faziam sentido, mas não conseguia acreditar que o neto fosse capaz de tal coisa. Murmurou fraquejando:
— Duo’er tem só dez anos. Como poderia, sozinho, dominar alguém tão grande quanto Nanny Wei?
— Sogra, já esqueceu? Xiao Jingduo entende de medicina! Envenenar alguém sem deixar vestígios é fácil para ele. — Wu Junru levantou a voz, dirigindo-se a todos no pátio: — O assassino é Xiao Jingduo. Sogra, não se pode desprezar uma vida humana só para proteger seu neto!
As pessoas dos ramos segundo e terceiro da família estavam presentes, e Xiao Su, que acabara de chegar à mansão, estava no pátio com a filha. Ao ouvir as palavras de Wu Junru, as mulheres começaram a tagarelar incessantemente, criando um alvoroço. Elas temiam a morte, mas tinham uma curiosidade natural por fofocas. Conversavam entre si e, sem perceber, começaram a acreditar nas palavras de Wu Junru.
Afinal, só Xiao Jingduo e Nanny Wei estavam no salão de oração. Nanny Wei estava morta, então quem mais poderia ser, senão Xiao Jingduo?
A velha madame ficou tonta, e a criada ao lado a amparou rapidamente. Apoiada na mão da criada, a velha madame exclamou com raiva:
— Aquela criança desprezível!
Enquanto as pessoas no pátio continuavam cochichando e discutindo, uma voz clara soou do lado de fora do portão do pátio, com um tom confuso:
— Vovó, quem você chamou de desprezível?
Todos se viraram e viram Xiao Jingduo parado na entrada do salão de oração, segurando uma garrafa de porcelana nas mãos e com um leve sorriso nos olhos.
Wu Junru ficou pasma por um instante, depois explodiu em fúria:
— Seu assassino, como ousa aparecer aqui!
Wu Junru se voltou para a velha madame, fazendo uma reverência profunda. Olhou para ela com olhos sinceros e resolutos:
— Sogra, imploro que trate isso com justiça. Entregue Xiao Jingduo às autoridades e deixe que ele pague por seu crime com seu próprio sangue!
Capítulo 21 Evidências
— Sogra, imploro que trate deste caso com justiça e entregue Xiao Jingduo às autoridades. Que ele pague por seus crimes com seu próprio sangue! — a voz resoluta de Wu Junru ecoou no salão budista, surpreendendo todos os presentes.
A segunda tia de Xiao e os demais ficaram chocados com as palavras de Wu Junru. Cobriram a boca e o nariz com as mãos, trocando olhares surpresos, mas também excitados, com os que estavam ao redor. Até as criadas no pátio ficaram alarmadas, discretamente apontando e cochichando sobre Xiao Jingduo.
— Nunca pensei que o primogênito fosse uma pessoa assim...
— E daí? Ele só envenenou uma serva. Com o marquês por perto, como as autoridades poderiam puni-lo?
As pessoas no pátio sussurravam entre si, suas conversas privadas não cessavam. Xiao Jingduo estava no meio daqueles olhares, mas permanecia muito calmo. Inclinou ligeiramente a cabeça e perguntou, com grande confusão:
— Madame, do que está falando? Por que não consigo entender?
— Heh — Wu Junru riu friamente. — Você matou Nanny Wei e agora faz que não sabe de nada? O corpo dela está logo ali ao lado. Quer que eu mostre para você?
— Nanny Wei? — Xiao Jingduo franziu a testa, muito confuso. — Eu não sabia que Nanny Wei tinha vindo ao salão budista.
— O quê? Você não sabia que Nanny Wei veio ao salão budista? — a velha madame também ficou perplexa com as palavras de Xiao Jingduo. — O que está acontecendo aqui?
— Não sei — Xiao Jingduo balançou a cabeça, com uma expressão o mais inocente possível. — Eu estava no salão budista copiando sutras pela morte da minha mãe. De repente, senti-me comovido, lembrando da bondade da avó para comigo. Por dez anos, ela dedicou coração e alma para me ensinar. Isso não é amor, como o de um pai ou mãe? Emocionado, quis visitar a avó no Salão da Longevidade. Como o dia estava muito quente, voltei ao Pátio Qingze para buscar gelo, querendo preparar pessoalmente uma bebida gelada para a avó, como um pequeno gesto de piedade filial. Mas, ao chegar no Salão da Longevidade, soube que a avó tinha ido ao salão budista. Segui-a e, ao entrar, ouvi a avó mencionar algo sobre uma ‘criatura pecaminosa’, e a marquesa falar de um ‘assassino’.
Xiao Jingduo sorriu e continuou:
— Vovó, realmente não entendo do que a marquesa está falando. Poderia me esclarecer?
— Então está dizendo que saiu cedo do salão budista e não viu Nanny Wei? — a velha madame finalmente clareou as ideias e perguntou, meio surpresa, meio duvidosa.
— Sim.
— Finja, continue fingindo! — Wu Junru, abandonando sua habitual imagem gentil, gritou com aspereza para Xiao Jingduo. — Você diz que saiu cedo do templo, mas tem alguma prova disso? Você claramente a envenenou e agora fica aqui tentando se justificar. É risível. Talvez engane minha sogra, mas não a mim!
— Sim, Duo’er, tem alguma testemunha? — a velha madame entrou na conversa.
— Qiuju pode testemunhar por mim. Se não me acreditarem, vovó, pode chamá-la e perguntar quando voltei ao Pátio Qingze.
— Qiuju é sua criada. Como as palavras dela podem valer? — Wu Junru zombou. — Você disse que saiu cedo do salão budista, então por que a criada da porta não viu você sair?
Ao ouvir a velha madame mencioná-la de repente, a criada da porta tremia e respondeu nervosamente:
— Eu... realmente não vi o jovem mestre sair...
— Ah, isso é fascinante — a segunda tia de Xiao, no meio da multidão, riu alto.
Até o olhar da velha madame tornou-se desconfiado ao analisar Xiao Jingduo dos pés à cabeça. Xiao Jingduo calmamente perguntou à criada da porta:
— Quando eu saí, você estava cochilando, então naturalmente não saberia.
O rosto da criada ficou vermelho de vergonha.
— Eu... Foi minha negligência. Por favor, me perdoem, senhores.
Nesse momento, outros servos também vieram depor:
— Quando passamos pelo salão budista, realmente vimos a criadinha cochilando.
Depois de confirmar com Xuelan e outros, a velha madame cuspiu com raiva na direção da criada da porta:
— Que garota preguiçosa, sempre dormindo no serviço. Faz sentido que Duo’er pudesse sair enquanto ela dormia.
A velha madame tendia a acreditar no neto, mas Wu Junru não se convencia tão fácil. Riu friamente e falou com sarcasmo:
— O jovem mestre é realmente esperto como o gelo e a neve, aproveitando a falha da criada da porta. Mas onde está a lógica de testemunhar por si mesmo? Suas palavras não são confiáveis. Se realmente tivesse a consciência limpa, por que não apresenta outras provas?
— Por que a marquesa está tão certa de que eu sou o assassino? — Xiao Jingduo perguntou incisivamente. — Nanny Wei morreu no salão budista. Há alguma evidência na cena que prove que fui eu? Se não, quero saber por que a marquesa me acusa tão veementemente diante de todos. Qual exatamente é sua intenção?
— Exatamente — a velha madame também percebeu — Junru, por que você está tão insistente em culpar Duo’er?
— Eu... — Wu Junru ficou sem palavras. Sabia que só poderia ser Xiao Jingduo — o mecanismo no salão budista fora feito para ele. Agora Nanny Wei estava morta, enquanto Xiao Jingduo estava ileso. Quem mais poderia ser senão ele? Mas Wu Junru não conseguia explicar os motivos. Só podia insistir:
— Só havia Xiao Jingduo e Nanny Wei no salão budista. Quem mais poderia ser?
Enquanto Wu Junru e Xiao Jingduo se enfrentavam, a velha madame ficou no meio, completamente confusa. Quando a discussão no salão budista parecia não chegar a uma conclusão, um anúncio alto veio de fora:
— O marquês chegou.
Xiao Jingduo desviou o olhar desafiador de Wu Junru, curvou levemente a cabeça e se afastou. Todos no pátio também se levantaram para receber Xiao Ying.
— Marquês.
— Ah, meu filho, você finalmente voltou — a velha madame caminhou rapidamente até ele, segurando firmemente sua mão. — Entre depressa. Sua mente é mais aguçada que a minha. Venha ouvir para ver qual deles faz sentido.
Xiao Ying já sabia de tudo que acontecera em casa enquanto vinha para cá. Com o rosto severo, entrou no pátio e perguntou em voz grave:
— O que exatamente está acontecendo?
A velha madame tinha razão; Xiao Ying realmente era muito mais perspicaz que ela. Sob seu olhar autoritário, todos no pátio controlaram seus pensamentos, baixaram a cabeça obedientemente e não ousaram especular.
Wu Junru, sabendo da importância da primeira impressão, falou rápido. Contou tudo que acabara de acontecer para Xiao Ying, esforçando-se para incliná-lo a acreditar que Xiao Jingduo era realmente o assassino.
Xiao Jingduo não discutiu com Wu Junru, deixando-a fazer a acusação primeiro. Baixou a cabeça, olhando para a garrafa de porcelana em suas mãos, e sorriu de um jeito indescritível.
Depois que Wu Junru terminou, o olhar frio e autoritário de Xiao Ying se voltou para Xiao Jingduo. Perguntou severamente:
— Apenas sua palavra não basta. Tem mais alguma testemunha?
— Depois que voltei ao Pátio Qingze, só vi Qiuju. Mas tenho certeza de que o marquês e a marquesa dirão que, como Qiuju é minha criada, suas palavras não têm valor. — Xiao Jingduo mexeu suavemente no gelo dentro da garrafa de porcelana e levantou o recipiente casualmente. — Como disse antes, voltei ao Pátio Qingze para pegar uma bebida gelada para a vovó. Não usei o gelo que me deram antes para refrescar, mas o escondi no espelho de gelo. Hoje tirei um bloco inteiro do espelho e esperei derreter o suficiente antes de levar a bebida gelada para a vovó. Para que um bloco inteiro derreta assim, demora pelo menos meia hora. Marquesa, que tal calcular: do momento que Nanny Wei saiu até quando descobriram sua morte, deu tempo suficiente para meia hora?
Wu Junru ficou sem palavras por um momento. Ela enviara Nanny Wei para verificar Xiao Jingduo no salão budista, depois esperou cerca de quinze minutos (mais ou menos meia hora, nos termos modernos). Quando Nanny Wei não voltou, Wu Junru sentiu que algo estava errado e levou suas criadas para o salão budista procurá-la. Ao chegarem, encontraram Nanny Wei morta. Do momento em que Nanny Wei saiu até o corpo ser encontrado, passou-se cerca de meia hora. Enquanto isso, Xiao Jingduo gastara uma hora só para derreter o gelo. Se o que ele disse fosse verdade, ele realmente não teria tido tempo para cometer o crime.
Xiao Ying não expressou opinião, apenas ordenou que alguém trouxesse a garrafa de porcelana da mão de Xiao Jingduo. Examinou cuidadosamente a porcelana branca delicada, que estava fria ao toque. Pequenos fragmentos de gelo ainda flutuavam dentro. Até a velha madame se aproximou para ver. Após exame cuidadoso, disse confiante:
— Já vi o gelo distribuído na mansão. Para derreter assim, demora no mínimo uma hora.
— Então parece que não foi o jovem mestre afinal... — os servos ficaram boquiabertos com essa reviravolta. Constrangidos pela presença de Xiao Ying, não ousavam falar alto, apenas sussurrando para os companheiros.
— Impossível... — Wu Junru não esperava tal desfecho. Sem geladeiras naquela época, não havia como congelar água rapidamente. A água gelada na mão de Xiao Jingduo só poderia ter vindo do gelo derretido naturalmente. Wu Junru percebeu que caíra na armadilha de Xiao Jingduo novamente. Todo seu esforço servira só para fornecer uma álibi a ele?
Wu Junru zombou da possibilidade. Tinha certeza de que a morte de Nanny Wei fora obra de Xiao Jingduo, mas como explicar o gelo na mão dele? De repente, uma ideia lhe veio à mente. Apressou-se a dizer:
— Eu sei! Ele usou fogo para derreter o gelo, acelerando o processo!
Xiao Jingduo riu suavemente:
— Parece que a marquesa está decidida a me ver como culpado. A lenha do Pátio Qingze é racionada. Desde a morte da minha mãe, não fazemos remédios lá há muito tempo, e a cozinha pequena está abandonada há eras. Pode ir ao Pátio Qingze conferir por si mesma — não há lenha alguma.
Lenha? Wu Junru quebrou a cabeça e encontrou outra possibilidade:
— Ele deve ter combinado com uma criada. Qiuju o ajudou a derreter o gelo no Pátio Qingze enquanto ele vinha ao salão budista envenenar Nanny Wei!
Xiao Jingduo zombou, desdenhando de responder. Até a velha madame mostrou descrença:
— Junru, o que há com você hoje...
Wu Junru ainda parecia incrédula, aparentemente incapaz de entender como Xiao Jingduo havia conseguido aquilo. A frieza da garrafa de porcelana branca ainda permanecia nas mãos dele. Se alguém cheirasse atentamente, poderia detectar o aroma de salitre em suas mãos.
De fato, leva mais de meia hora para um bloco de gelo derreter, mas se o gelo for feito rapidamente, não requer tanto tempo assim.
Xiao Jingduo já tinha lido num livro de medicina que, ao colocar salitre na água, ele se dissolve, absorvendo uma grande quantidade de calor e congelando a água em instantes. Ao retornar ao Pátio Qingze, evitando a multidão, ele imediatamente pegou um barril de água, encheu com água e adicionou salitre. A temperatura no barril caiu rapidamente. Xiao Jingduo então colocou a garrafa de porcelana branca dentro do barril, obtendo facilmente uma bebida com gelo flutuante. Essa ida e volta lhe poupou muito tempo e permitiu usar o gelo como prova a seu favor.
No entanto, Wu Junru não precisava saber como Xiao Jingduo criara seu álibi. Ela só precisava saber que ele não a deixaria escapar tão facilmente.
— A marquesa fez de tudo para me eliminar — falou Xiao Jingduo lentamente, parecendo profundamente magoado pelo desastre infundado de hoje. — Eu pensava que a marquesa sempre manteria sua postura graciosa, mas afinal você também pode torcer as palavras e falar maldosamente, só para matar alguém de quem não gosta.
— Cala a boca! — A morte de Nanny Wei já havia abalado profundamente Wu Junru, e agora Xiao Jingduo jogava mais lenha na fogueira. Wu Junru o odiava até o fundo da alma e não se importava mais em preservar sua imagem. Explodiu em um ataque:
— Eu sei que foi você. Pode enganar os outros, mas não a mim. Vou fazer você pagar por isso. Espere só, já estou denunciando isso às autoridades. Que elas investiguem e descubram toda a verdade!
Denunciar às autoridades? O coração de Xiao Jingduo disparou. Os oficiais do Templo Da Li eram experientes e calejados. Se viessem, poderiam notar algo errado. Isso não podia acontecer.
— Junru! — A velha madame não esperava esse lado da Wu Junru, que sempre mostrara uma imagem gentil. Com rosto sério, repreendeu firmemente: — É só uma serva. Como pode pensar em expor isso publicamente?
Wu Junru zombou:
— A vida de uma serva não é vida? Se ele ousou fazer isso, por que temer uma investigação oficial? Os legistas e os guardas são experientes e perspicazes. Quero ver se seus truques enganam os profissionais!
— Bobagem! — Xiao Ying também franziu a testa. Já era ruim que tivesse havido uma morte na mansão do nobre marquês, mas denunciá-la às autoridades? E a reputação? Xiao Ying achava que Wu Junru era uma esposa virtuosa que se tornaria uma boa mãe, mas hoje percebeu que a tal gentileza e virtude só existiam porque ela nunca tinha sido afetada pessoalmente.
Wu Junru, no entanto, estava determinada a denunciar. Se não podia desvendar os truques de Xiao Jingduo, deixaria que os oficiais cuidassem disso. Queria fazer Xiao Jingduo pagar, mesmo que para isso tivesse que destruir a imagem que cultivara por tanto tempo. Dado o histórico familiar de Wu Junru, os moradores da mansão do marquês não poderiam realmente fazer nada contra ela, apesar do comportamento.
Wu Junru estava firme, ignorando todas as tentativas de convencê-la ou ameaçá-la. Prestes a sair, viu Xiao Jingduo se abaixar, como se pegasse algo no chão.
As pupilas de Wu Junru se contraíram. Reconheceu imediatamente o que Xiao Jingduo manipulava — era a abelha venenosa que ela tanto se esforçara para conseguir. Aprendera sobre esse tipo de abelha durante uma excursão nos tempos modernos. O guia dizia que essas abelhas eram extremamente venenosas, uma única poderia matar um adulto. Porém, a menos que entrassem em contato com seu mel especial, não picavam facilmente.
As abelhas venenosas não picam com facilidade porque isso encurtaria suas próprias vidas. O que Xiao Jingduo tinha na ponta do dedo era o cadáver da abelha.
Wu Junru ficou extremamente alarmada. Xiao Jingduo sabia disso? Como isso seria possível? Será que Xiao Jingduo também era um viajante do tempo? Os pensamentos de Wu Junru estavam em caos, e sua firme resolução começou a vacilar.
Xiao Jingduo ficou no canto. Apesar de cercado por muitas criadas e servos, seu olhar parecia atravessar a multidão, capturando diretamente todo o ser de Wu Junru. Sob aquele olhar, Wu Junru sentiu um calafrio pelo corpo inteiro, incapaz de se mover.
E ainda assim, Xiao Jingduo sorria. Sem tentar esconder, dizia a Wu Junru que havia descoberto seus truques, que de fato matara Nanny Wei, mas e daí? Se Wu Junru ousasse denunciar às autoridades, ele revelaria todas as suas ações.
Wu Junru sentiu como se todo o sangue no corpo tivesse congelado. Enquanto isso, a velha madame ainda aconselhava:
— Junru, eu sei que você era próxima de Nanny Wei, mas escândalos familiares não devem ser expostos. Deixe que o primogênito investigue isso. Não podemos, de jeito nenhum, levar isso às autoridades! Nossa família não pode arcar com tamanha perda de prestígio.
Wu Junru assentiu rigidamente, concordando:
— Tudo bem, vou ouvir você, sogra.
A velha madame ficou radiante:
— Isso é bom, isso é bom. Junru, digo, você não pode acusar pessoas assim cegamente no futuro. Mesmo que Duo’er não seja seu filho biológico, não pode tratá-lo dessa maneira!
Wu Junru fechou os olhos cansada, sem querer ouvir mais nada.
Uma represa de mil léguas destruída num instante.
O incidente já estava feio o bastante. Xiao Ying, com rosto sombrio, dispensou as mulheres e os servos, impondo sigilo absoluto sobre os acontecimentos do dia antes de sair. A segunda tia de Xiao e os outros, vendo que o culpado não era da família, naturalmente não quiseram ficar num lugar de morte e azar. A multidão se dispersou em massa. Wu Junru ficou no meio do fluxo de pessoas, atordoada e confusa, sem saber onde estava.
As criadas da família Wu se apressaram para apoiar os braços de Wu Junru. O rosto dela estava pálido. Quando recobrou os sentidos, viu Xiao Jingduo também saindo com a multidão.
Ao chegar à porta, ele de repente se virou para o lado e sorriu para Wu Junru.
Aquele sorriso era puro e limpo e, combinado com seus traços excepcionais, parecia um anjo ocidental.
Mas Wu Junru estava tão assustada que deu um passo para trás e desabou.
❛ ━━━━━━・❪ ❁ ❫ ・━━━━━━ ❜
Nota da autora:
Cena pequena:
Parabéns por coletar três fragmentos, você desbloqueou um belo retrato da personagem “Xiao Jingduo, o Maquiavélico”!
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