CAPÍTULO 19


 — Mesmo que seja a minha partida?

Chu Jin Yao abaixou a cabeça e respondeu suavemente, após um momento:

— Sim.

O quarto ficou terrivelmente silencioso. Chu Jin Yao encarava a luz da vela, sem ousar olhar para o rosto de Qin Yi. Por fim, piscou os olhos, forçando as lágrimas de volta enquanto esboçava um sorriso forçado.

— Vamos procurar outro jade e tentar transferir você para ele. É melhor do que ficar preso até morrer num lugar! Além disso, mesmo que você tenha que me deixar assim... que mal há nisso? Afinal, você é um espírito de jade formidável. Estaria tudo bem se viesse me visitar de vez em quando no futuro.

Qin Yi permaneceu em silêncio por um longo tempo, até dizer lentamente:

— Já mandei que procurassem esse tipo de jade.

Chu Jin Yao ficou surpresa. As lágrimas em seus olhos brilharam sob a luz.

— Ah?

— Quando o encontrarem, ordenarei que o comprem, não importa o preço.

Chu Jin Yao entendeu. Sentiu um aperto no peito ao perguntar:

— Quando isso acontecer... você irá com eles, não é?

Qin Yi se achava cruel por dizer aquilo, mas ainda assim respondeu:

— Sim.

Chu Jin Yao ficou atordoada. Há pouco tempo, ainda fazia planos para o futuro de ambos, mas agora ele lhe dizia que partiria em breve. Sua mente ficou vazia. Desde que voltara para casa, ele sempre estivera ao seu lado. Ela se acostumara a recorrer a ele sempre que tinha dúvidas, a contar tudo. E agora, logo estaria sozinha outra vez, enfrentando aquela residência bela, profunda e fria por conta própria.

Chu Jin Yao se sentia desolada, e Qin Yi também não disse nada. O silêncio entre os dois durou muito. Aquela fora a conversa mais amarga desde que se conheceram.

Seria mentira dizer que ela não estava magoada. Mas como ele partiria em breve, o tempo juntos se encurtava. Em tal situação, como desperdiçar tempo em um mal-entendido? No fim, foi ela quem falou primeiro:

— É uma coisa boa você poder partir e voltar ao lugar ao qual realmente pertence. Já que mandou procurarem o jade, logo deve haver notícias. Não sei quanto tempo ainda teremos, mas um dia é um dia, então devemos viver bem esses dias. Antes, tratei você com certa grosseria... não leve em consideração, por favor. Quando você for embora, erguerei um altar e rezarei para que alcance a imortalidade o quanto antes.

As palavras dela apertaram o coração de Qin Yi, mas, ao ouvir o final, ele despertou bruscamente.

— Você não pode fazer isso — disse, com um toque de impotência na voz. Nos últimos dias, sua maior preocupação não era não conseguir retornar ao corpo nem que algo estivesse errado com ele. Era o fato de Chu Jin Yao ter dito que ergueria um altar e rezaria diariamente. — Agradeço a sua sinceridade, mas quanto ao altar... não o faça. Basta que você viva bem. Isso já é o suficiente.

— Tá bom — respondeu ela baixinho. — Eu vou viver bem. E você também.

Depois de tocarem nesse assunto, a atmosfera ficou solene. Vendo o olhar perdido e entristecido de Chu Jin Yao, Qin Yi não suportou mais.

— Já está tarde. Pare de escrever e vá dormir.

Ela balançou a cabeça.

— Não. Já estou na metade da página e preciso terminar.

Ao notar o pulso trêmulo dela, seu coração se encheu de compaixão, e ele se materializou.

— Você está segurando o pincel do jeito errado. É assim que se faz.

Enquanto falava, posicionou a mão sobre a dela e a guiou sobre o papel.

Com a ajuda dele, tudo se tornou muito mais fácil. Qin Yi ainda estava em forma espiritual, e sua mão repousava sobre a de Chu Jin Yao. Era ligeiramente fria e semitransparente. Ela inclinou levemente a cabeça e conseguiu enxergar os próprios dedos através da mão dele.

De repente, Qin Yi apertou de leve os dedos dela e a olhou friamente.

— Está se distraindo?

Chu Jin Yao desviou o olhar obedientemente e concentrou-se na escrita. Depois de um tempo, não resistiu e perguntou:

— Qi Ze, todos os espíritos são tão bonitos e inteligentes depois que viram espírito?

Hm?

— Digo, além de bonito, você conhece caligrafia, poesia, e nem mesmo essas intrigas do pátio interno te confundem. São todos assim? De repente, me deu vontade de virar espírito.

Qin Yi riu antes de responder com simplicidade:

— Você está pensando demais. Nem todos são assim. Só eu. Então concentre-se na caligrafia.

Chu Jin Yao ficou em silêncio por um bom tempo, mas não conseguiu conter-se:

— Você é mesmo convencido.

— Estou apenas dizendo a verdade.

Ela revirou os olhos em silêncio. Qin Yi sentiu a desaprovação dela e perguntou calmamente:

— Por quê? Acha que estou errado?

De novo aquele tom. A voz era neutra, como se fosse uma pergunta simples, mas no fim, o tom subia ligeiramente. Somado à frieza e calma de sempre, havia ali uma ameaça implícita. Chu Jin Yao bufou por dentro, mas respondeu com docilidade na superfície:

— Não. Você está certo.

Qin Yi não se deu ao trabalho de responder. Ajudou-a a terminar a meia página restante de caracteres e a mandou dormir.


Depois que Chu Jin Yao fechou as cortinas da cama com dossel, deitou-se, mas demorou muito a pegar no sono. Tinha medo que Qin Yi ouvisse os sons de suas voltas, então permaneceu imóvel. Sempre que fechava os olhos, via um jovem de postura altiva e feições elegantes em pé diante da escrivaninha, à luz do sol. Ao ouvir um som, ele virava ligeiramente, revelando um olhar arrogante e distante. Em qualquer outro, aquela expressão pareceria detestável, mas em Qin Yi... parecia natural. Como se fosse inevitável que estivesse acima de todos, mais orgulhoso que qualquer um.

Era a primeira vez que Chu Jin Yao via o rosto dele com detalhes. Sempre achara que sua voz era bonita, mas agora percebia que seu rosto era uma verdadeira obra-prima dos céus. O amor do céu por alguém não seria mais do que isso.

— Qi Ze? — sussurrou ela.

Qin Yi não respondeu. Chu Jin Yao suspirou baixinho.

— Deve estar dormindo... É, faz sentido pelo horário.

Ela continuou a sussurrar sozinha:

— No futuro, quando estivermos separados, você precisa viver bem. Assim, quando eu pensar em você, ficarei tranquila.

E continuou a divagar:

— A Irmã Mais Velha logo vai se casar... e provavelmente eu também. Ninguém sabe como será minha vida daqui pra frente. Antes, pensei que, com você ao meu lado, não teria medo, mesmo que a família do meu futuro marido me tratasse mal. Mas, pensando bem, fui muito ingênua. Como você poderia ficar sempre comigo? O ser humano não pode ser ganancioso demais. Já sou grata ao céu por ter me deixado contar com você neste período de adaptação na residência do Marquês. Afinal... estou completamente sozinha.

As palavras foram saindo naturalmente, e ela nem sabia mais o que dizia. Simplesmente deitou-se, deixando os pensamentos fluírem. Num momento, via-se noiva de um estranho. Noutro, cumprindo os costumes diante da sogra. Em outro ainda, via Qin Yi em pé diante da escrivaninha, folheando indiferentemente os livros de caligrafia. Aos poucos, adormeceu.

Quando a respiração de Chu Jin Yao se tornou tranquila e profunda, uma figura surgiu vagarosamente do pingente de jade. Era tênue, quase se confundindo com o luar. Qin Yi ficou olhando para a cama por um tempo antes de dizer baixinho:

— Você também vai viver bem.

Qin Yi já havia enviado uma carta secreta aos seus subordinados assim que começou a se materializar. Desde então, os homens do Palácio Oriental estavam procurando por um jade semelhante ao que estava no pescoço de Chu Jin Yao. Quando o encontrassem, ele arranjaria para que seus subordinados entrassem secretamente na residência do Marquês Chang Xin. Então, transferir-se-ia para o novo jade e voltaria com eles para a Grande Tong.

Com esta despedida, ele era o Príncipe Herdeiro enviado para a fronteira, e ela era a jovem dama mimada e privilegiada de uma linhagem de Marqueses. Estariam separados pelos papéis de monarca e oficial, e pelas diferenças entre homem e mulher. Temia-se que seria difícil se reencontrarem.

Portanto, mesmo que Chu Jin Yao estivesse muito abalada naquele dia e Qin Yi mal conseguisse suportar, certas coisas precisavam ser esclarecidas. Ele teria que partir mais cedo ou mais tarde e não deveria alimentar expectativas irreais nela. Quando retornasse à Grande Tong, enviaria pessoas em segredo para cuidar de Chu Jin Yao e, se no futuro viesse a encontrar o marido dela na corte, desde que as circunstâncias permitissem, também o manteria sob sua vigilância.

Em seus dezessete anos, Qin Yi testemunhara repetidas vezes a hipocrisia da corte e a escuridão da oficialidade. Perdera a mãe aos cinco anos, e sua tia materna mais jovem passara a viver com seu pai, ocupando com ostentação tudo o que pertencia à sua mãe. Ele só tinha cinco anos quando tudo aconteceu, e viu tudo com os próprios olhos. Cresceu sozinho no palácio frio, cercado por concubinas imperiais de intenções dúbias e servos que o bajulavam propositalmente. Por muito tempo, pensou que aquele era o funcionamento normal do mundo, que a natureza humana era essencialmente má, sem exceções. No entanto, por uma coincidência do destino, conheceu Chu Jin Yao.

Ela, originalmente uma jovem nobre, fora tratada com dureza por camponeses. Filha legítima, sofria discriminação dentro da própria família. Fora traída pelo destino, mas sempre secava as lágrimas após chorar e dizia que ainda havia pessoas na família que estavam ao seu lado, e que, se tratasse os outros com sinceridade, mais cedo ou mais tarde todos a aceitariam.

Qin Yi achava aquilo incompreensível. Como podia existir alguém tão ingênua? Já havia sido tratada daquele jeito, e ainda assim conseguia sorrir? No início, pensou que havia algo errado no cérebro daquela moça, mas, conforme convivia com ela, sempre que via seu sorriso, não conseguia evitar curvar discretamente os lábios, e sua mente gradualmente se aquietava.

Qin Yi olhou mais uma vez para Chu Jin Yao, mas ainda assim saiu com passos firmes. Ela gostava de Brocado Yun, queria cuidar da irmã mais velha e desejava que seus entes queridos vivessem bem. Todos esses desejos seriam realizados.


No dia seguinte, Chu Jin Yao passou o dia inteiro aprendendo etiqueta com Hua Momo. Quando voltou ao seu pátio, estava tão exausta que suas costas doíam a ponto de nem conseguir ficar em pé.

Naquele dia, era Jie Geng quem a acompanhava. Quando se aproximaram da porta do pátio, ouviram um grito estridente vindo de dentro. Jie Geng, caminhando atrás de Chu Jin Yao, resmungou com desagrado:

— Quem está fazendo esse escarcéu no pátio? Não viram que a jovem senhorita chegou? Onde já se viu tamanha falta de respeito?

No entanto, Chu Jin Yao sentiu que havia algo errado. Aquela voz não lhe era familiar.

Assim que entrou no pátio, viu uma velha ama parada bem no centro. Os cabelos estavam bem penteados e presos com uma rede de metal, e ela usava roupas azul-escuro. De braços cruzados na cintura, gritava com as criadas uma por uma.

Chu Jin Yao franziu o cenho, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, Jie Geng — sempre de língua afiada — já havia avançado:

— Quem é você? Como ousa bancar a mandona no pátio da nossa Jovem Senhorita?

Ao ver Chu Jin Yao, aquela velha ama não se aproximou como os outros servos para cumprimentá-la. Apenas ergueu o queixo com altivez, curvou levemente os joelhos e falou com a postura rígida:

— Esta velha serva saúda a Quinta Jovem Senhorita. Fui enviada por TaiTai. TaiTai ordenou que eu administrasse o pátio da Quinta Jovem Senhorita e, de passagem, educasse essas jovens criadas.

Chu Jin Yao franziu o cenho, surpresa e desconcertada. Foi a Madame Zhao quem a enviou? Aquela velha ama tinha uma postura tão autoritária... se um tipo desses fosse enviado para comandar seu pátio, que paz haveria ali? Chu Jin Yao suspirou interiormente. Muito provavelmente, isso foi ideia da Chu Jin Miao.


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