Capítulo 26 ao 30


 Capítulo 26: Entregando o Remédio

Quando Pei Zhao começou a fazer a triagem dos participantes da venda beneficente, Song Yujiao imediatamente entregou a lista. As seis folhas estavam organizadas com perfeição, encadernadas com esmero, e a caligrafia elegante listava os nomes de todos e os itens que haviam prometido doar, na ordem correta. Estava impecável — uma verdadeira ajuda para Pei Zhao.

Dizia-se que a senhorita Song da família Song tinha uma mente afiada e perspicaz, e de fato era verdade.

Infelizmente, durante a investigação, Pei Zhao não encontrou nenhum indivíduo suspeito. Isso se devia ao fato de que Fang Wenshuo era uma pessoa discreta e pouco sociável, sem vínculos com comerciantes ricos ou acadêmicos renomados, e nunca havia tido conflitos com colegas na corte. Não havia motivo para que alguém o tivesse como alvo. Era difícil determinar quem era o mestre do invasor, e todas as pistas haviam sido cortadas. Por ordem de Chu Xiang, o Ministério da Justiça arquivou o caso.

Felizmente, havia boas notícias vindas de Youzhou. Os artesãos do departamento de construção conjunta enviados por Pei Zhao investigaram a situação da represa do rio Leste e descobriram que a causa do acidente foi a mineração ilegal de carvão por parte dos nobres locais, o que provocou a fratura da camada de solo e se estendeu até a base da represa, resultando no desastre.

Com isso, metade da culpa de Fang Wenshuo foi retirada. Quanto à origem dos lingotes de ouro, ainda permanecia obscura. Pei Zhao usou documentos de vistoria e testemunhos de vizinhos como prova de que Fang Wenshuo não havia feito reformas nas paredes após comprar a casa, e que os lingotes não tinham relação com ele. Essa conclusão foi aceita por Chu Xiang, que imediatamente ordenou sua libertação. No entanto, ele foi rebaixado ao cargo de oficial do Departamento de Recursos Hídricos, por falta de vigilância e má condução da situação.

A tempestade havia passado.

O desastre em Youzhou estava gradualmente sob controle, e Fang Wenshuo havia sido libertado da prisão. No entanto, alguém ainda estava profundamente incomodado.

— Mestre, agora entendo o ditado “os tolos têm sorte”. Fang Wenshuo sempre foi um lobo solitário, mas quando se meteu em encrenca, tanta gente falou por ele e o salvou do desastre. Eu realmente não tenho mais o que dizer.

Dentro de um bosque de bambu tranquilo, havia uma clareira onde dois homens jogavam xadrez em uma mesa de pedra ao ar livre. A diferença de idade entre eles era de cerca de vinte anos, e o mais jovem demonstrava grande respeito pelo mais velho. Mesmo em meio à disputa no tabuleiro, não havia hostilidade — apenas a serenidade de um riacho que fluía a poucos metros dali.

— Os tempos mudaram. Depois que o antigo imperador usurpou o trono, ele reformou vigorosamente o ambiente da corte, suprimiu a aristocracia e promoveu os plebeus. Já se passaram mais de vinte anos, e agora, quanto mais nobre e reservado for alguém, mais será favorecido pelos velhos ministros. Fang Wenshuo se dedica exclusivamente à engenharia hídrica, sem envolvimento com facções, poder ou dinheiro. Ele é exatamente o tipo de pessoa que se destaca. Como não iriam protegê-lo?

— Tenho que vê-lo subir degrau por degrau até pisar na minha cabeça?

O tom de Li Rui era calmo, com a serenidade de um homem de meia-idade, mas também carregava uma malícia oculta. A emoção influenciou o jogo, e um movimento descuidado fez com que uma grande peça preta fosse capturada pelo adversário, quebrando instantaneamente o equilíbrio da partida.

— Você é impulsivo demais — disse o outro, recolhendo a peça preta cercada e comentando com significado — O incidente da represa do rio Leste já colocou um obstáculo na carreira dele. Mesmo que não tenha sido culpa dele, o exame do Ministério de Pessoal deste ano usará isso como mancha oculta para barrar sua promoção. Mas você insistiu em intervir agora, tentando colocar sobre ele um rótulo de corrupção e suborno — e de forma tão desajeitada. Como as pessoas não suspeitariam de armação?

Li Rui esfregou a peça de jade entre os dedos, sem dizer nada, o rosto demonstrando arrependimento.

— Os subordinados que armaram a cilada não limparam os rastros como deviam. Ainda por cima, deixaram Ye Yanxiu capturar o culpado em flagrante. Por sorte, o homem já estava morto, e o legista não encontrou nada. Pei Zhao teve que desistir. Caso contrário, você teria se metido em um grande problema desta vez.

Diante de uma repreensão tão severa, Li Rui permaneceu indiferente e disse:

— Apenas um garoto... não há com o que se preocupar.

Ao ouvir isso, o outro homem levantou a cabeça de repente e o encarou, perguntando lentamente:

— Sua Majestade também é um garoto. Você tem medo dele?

Li Rui franziu a testa:

— Mestre, como pode comparar os dois?

— E por que não? — o homem jogou a peça de xadrez de volta na caixa preta fosca e resmungou — Você realmente acha que Pei Zhao conseguiu inocentar Fang Wenshuo com meia dúzia de provas indiretas? Não se esqueça: a primeira coisa que o imperador fez ao subir ao trono foi investigar oficiais corruptos. Até ministros de segunda categoria foram punidos sem hesitação. Como ele deixaria um mero vice-ministro de quarto escalão escapar?

— Então quer dizer que... Sua Majestade quis proteger Fang Wenshuo pessoalmente?

O homem não respondeu, mas a resposta era evidente. Li Rui ficou atônito por um momento antes de finalmente compreender.

Pei Zhao sempre seguiu a vontade de Chu Xiang em seu trabalho. Nos últimos anos, vinha combatendo vigorosamente a corrupção e se esforçou para provar a inocência de Fang Wenshuo. Aquelas provas serviam apenas para calar os críticos. Desde que Chu Xiang acreditasse em Fang Wenshuo, ele acabaria sendo libertado.

— Isso é um absurdo! Como um governante pode agir com base em preferências pessoais?

— Você está há vinte anos na corte e ainda não entendeu — o homem suspirou profundamente e o encarou com um olhar penetrante — Isso não é favoritismo. É a genialidade de saber julgar pessoas e casos. O jovem imperador tem um pensamento maduro. Talvez nem o antigo imperador se compare a ele. É melhor você apertar a pele de lobo, ou, se ele descobrir suas intenções, você, Ministro das Obras, estará acabado. Não diga que não avisei.

Li Rui sentiu o peito apertar e, em seguida, ficou furioso:

— Então quer que eu fique parado, vendo Fang Wenshuo subir até tomar meu lugar?

— Agora que foi rebaixado, ele não representa ameaça por enquanto.

— Isso é só temporário! — a voz de Li Rui se elevou, e ele hesitou antes de perguntar, relutante — Mestre, tem alguma estratégia?

O homem lentamente girou a tampa da xícara de chá, sempre calmo, e então fez uma pergunta aparentemente fora de contexto:

— Você sabe da situação de Xu Changzhi?

— Como não saber? — os olhos de Li Rui brilharam com um traço de desprezo ao mencionar o colega de seita — O filho dele é ousado demais. Sempre foi arrogante, mas desta vez chegou ao ponto de provocar o Príncipe Ning. Deve estar cansado de viver.

— Desta vez, ele está em perigo real. E não é por ter ofendido o Príncipe Ning, mas o Imperador.

Ao ouvir isso, Li Rui ficou chocado:

— O quê? O Imperador também estava no barco naquele dia? Então a pessoa que ele ofendeu foi...

O bosque de bambu ficou subitamente silencioso.

Ele entendeu tudo. Xu Guangyao havia tropeçado em um segredo imperial. Não era de se admirar que Xu Changzhi estivesse desesperado, tentando fazer alianças por todos os lados, como se tivesse fogo no traseiro. Até o mestre vinha evitando-o. E agora, ao trazer esse assunto à tona, não era para perguntar por cortesia — era para alertá-lo.

Aquilo era uma oportunidade de agarrar uma fraqueza de Sua Majestade. Com isso, talvez pudesse manter seu cargo — ou até sua vida.

Li Rui compreendeu na hora e se curvou:

— Agradeço pela orientação, mestre. Investigarei imediatamente a identidade daquela mulher.

Pelo visto, a pessoa por trás desse ato ousado tem mesmo recursos — conseguiu fazer Sua Majestade, que sempre foi rígido consigo mesmo, cometer um erro tão grave...

No Palácio Xuanqing, onde Yue Lingxi se recuperava, ela de repente sentiu uma leve coceira na orelha. Coçou suavemente e parou ao ouvir vozes esparsas vindas do salão externo. Prestou atenção e reconheceu uma voz feminina um tanto familiar:

— Saudações a Sua Majestade.

Chu Xiang ergueu ligeiramente os olhos e se surpreendeu ao vê-la:

— Tian’er? Por que está aqui em vez de descansar em casa?

— Ficar em casa é um tédio. Estão sempre me vigiando, não me deixam tocar em nada. Estou cansada de ficar à toa — Ye Sitian brincava com os dedos, com um ar de impotência, mas havia um brilho astuto em seus olhos de fênix — Pensando nos rumores que andam circulando na capital, vim ao palácio investigar.

Chu Xiang arqueou uma sobrancelha:

— Que rumores?

— Dizem que Vossa Majestade escondeu uma beleza na câmara dourada. Vim ver com meus próprios olhos...

Ela alongou propositalmente o tom e levantou os cílios para espiar discretamente adiante. Esse pequeno gesto não passou despercebido por Chu Xiang, que não pôde deixar de rir:

— O quê, vai voltar e contar tudo para que toda a família Ye saiba?

— As palavras de Vossa Majestade são cruéis demais — Ye Sitian cobriu o peito com a mão, o rostinho franzido como se estivesse profundamente magoada — Tian’er sempre esteve do seu lado. Como poderia prejudicá-lo? Só fiquei curiosa para saber como é essa moça... que tipo de pessoa ela é, para fazer Vossa Majestade protegê-la e estimá-la assim...

Chu Xiang tinha bom humor e não pôde deixar de brincar:

— O palco da sua casa desabou e agora você veio cantar no meu quarto?

Ye Sitian olhou para ele com uma expressão doce e magoada:

— Como Vossa Majestade pode dizer isso de mim? Tian’er realmente se preocupa com você.

Chu Xiang a ignorou e ordenou diretamente para fora:

— Mandem chamar Gu Jingyi ao palácio e deixem que ele leve sua esposa de volta para educá-la direito, para que ela não me cause problemas o dia inteiro.

Assim que ouviu que o marido seria chamado, ela não aguentou e bateu o pé, resmungando suavemente:

— Irmão Xiang é muito mesquinho! Só vim visitar Lingxi porque soube que ela se feriu. Por que precisa protegê-la com tanto zelo? Não vou comê-la! Nem somos estranhas. Nos encontramos na Torre Tian Que há um mês. Ela estava tomando chá com a Senhora Ru, e Chang’an as viu, então subimos e conversamos um pouco.

Ela falou como quem despeja feijões de um tubo de bambu, mas Chu Xiang captou imediatamente o ponto-chave.

— Quem é essa Senhora Ru? Ou seria Duan Muzheng?

— Sim — Ye Sitian piscou os olhos grandes e acrescentou — Ela é prima distante de Lingxi, você não sabia?

Chu Xiang ficou ligeiramente surpreso e então se lembrou daquele detalhe — ela havia dito antes que viera à capital para procurar a irmã, e depois entrou no palácio com ele. Ele não se lembrava de ter perguntado se ela a havia encontrado. Acontece que a irmã estava bem diante dela: a esposa do Príncipe Herdeiro, Senhora Ru.

Não era de se admirar que ela tenha ficado tão nervosa com os ferimentos de Duan Muzheng no barco naquele dia.

Chu Xiang organizava os pensamentos enquanto olhava para o interior do palácio, quando viu um lampejo de luz deslizar pela fresta da porta — uma figura furtiva e desajeitada que o fez rir e suspirar ao mesmo tempo.

Essa Tian’er... está prestes a ser mãe e ainda adora fazer travessuras!

A pessoa que conseguiu entrar discretamente no salão interno não tinha a menor consciência disso e cumprimentou com familiaridade:

— Lingxi, nos encontramos de novo.

Yue Lingxi se levantou e a saudou:

— Saudações, Senhora Gu.

— Não seja tão formal. Vim a pedido de alguém para lhe trazer um remédio. Este é o melhor da farmácia da família Ye, muito eficaz para feridas externas — Ye Sitian colocou um pequeno frasco de porcelana sobre a mesa de chá e lançou um olhar ao hematoma no pescoço dela. Franziu a testa e disse — Aquele sujeito foi cruel demais. Merecia morrer.

Pedido de alguém?

Yue Lingxi entendeu imediatamente quem a havia enviado. Piscando os cílios como penas, disse suavemente:

— Agradeço ao Lorde Ye. Naquele dia no palácio, eu só disse a verdade. Ele não precisava se incomodar tanto.

Ao ouvir isso, Ye Sitian cobriu a boca com um risinho:

— Você é mesmo direta.

Yue Lingxi abaixou os olhos e permaneceu em silêncio.

Vendo que ela não tinha intenção de continuar o assunto, Ye Sitian mudou de tema com naturalidade:

— Tem ficado aqui para se recuperar?

Ela assentiu levemente:

— Sua Majestade disse que esse assunto não deve ser divulgado, para evitar problemas. Pediu que eu me curasse antes de voltar ao Palácio Yilan. Afinal, há muitas pessoas no palácio que gostam de fofocar. Seria problemático se vissem esses hematomas.

— É verdade — Ye Sitian concordou com a cabeça. Em seguida, mudou de assunto novamente e perguntou — Sua Majestade sempre foi apegado a esta cama Han Yu. Deve estar tendo dificuldades para dormir esses dias.

Yue Lingxi ficou surpresa por um instante e então se virou rapidamente para perguntar:

— Não há cama Han Yu no salão lateral?

Shu Ning, que estava ao lado, negou com a cabeça, mas suspirou em silêncio. Estava claro que a Senhora Gu tentava sondar se Xiuyi tinha um relacionamento incomum com o imperador. Xiuyi respondeu inocentemente, mas talvez fosse melhor assim. O relacionamento entre ela e o imperador era limpo, e sua reputação não deveria ser manchada por especulações infundadas.

Depois de obter a resposta, Ye Sitian sentiu-se aliviada e decidiu se retirar. Era hora de parar enquanto tudo corria bem.

— Descanse bem. Não vou incomodar mais.

Yue Lingxi ainda pensava em como devolver a cama a Chu Xiang. Ao ouvir as palavras dela, recolheu os pensamentos e se levantou com cortesia para se despedir:

— Senhora Gu, tenha uma boa viagem.

Nota:

Neste capítulo o Príncipe Ning é chamado de Príncipe Herdeiro, apesar de não ser nomeado o herdeiro ele é o próximo na linha de sucessão pois o Imperador não tem filhos, sendo assim ele pode ser chamado assim pelo Imperador.


Capítulo 27: Grande Cerimônia
Quando o longo verão finalmente chegou ao fim, teve início a competição anual de arco e flecha montado.
O local da competição era o Grande Acampamento de Jingji. O campo de treinamento, normalmente usado para exercícios militares, havia sido cercado, formando uma enorme arena oval. Soldados com armaduras variadas galopavam ao redor como se estivessem fazendo os últimos treinos. Do lado de fora da arena, as pessoas ainda chegavam uma após a outra. Funcionários civis e militares de toda a corte, assim como parentes imperiais e nobres, não queriam perder esse grandioso evento.
À medida que o sol subia, a luz se tornava cada vez mais intensa. As arquibancadas estavam abertas em todos os lados, exceto por uma lateral coberta por um telhado arqueado. Quem ousasse espiar para fora era cegado pelo halo dourado da luz. Às funcionárias do palácio usavam tudo o que podiam para bloquear o brilho — leques, lenços, toalhas frescas — criando um cenário único de tons rosados e esverdeados esvoaçantes.
Ao fundo, erguia-se uma torre de observação, com beirais altos e dragões sinuosos. As camadas de telhas vidradas refletiam luzes coloridas, chamando a atenção. Uma fileira de cortinas de bambu pendia no terraço inferior, ondulando como água verde ao vento, com sombras de pessoas passando pelas frestas — indistintas, mas ninguém ousava encarar.
Aquele era o assento de Chu Xiang.
Graças ao design engenhoso da torre, o sol escaldante do lado de fora era bloqueado, e o interior permanecia fresco. Uma criada abanava com um leque de seda leve, enquanto a brisa fria soprava de uma tigela de gelo suspensa, refrescando até o coração. Sentado no trono carmesim com padrão de morcegos, Chu Xiang apoiava as pernas sobre a longa mesa e mudava silenciosamente de posição.
Yue Lingxi pensou que ele ainda estivesse com calor e, em silêncio, pegou o pequeno leque, abanando o ar para cima e para baixo. Inesperadamente, ele virou o rosto de lado e a puxou para junto de si.
— ...Vossa Majestade?
— Sente-se. O exercício militar está prestes a começar.
Depois disso, Chu Xiang ergueu a cabeça e olhou diretamente para frente, sem voltar a encará-la. Também soltou sua mão, que ficou com uma camada de suor brilhante. Ela olhou para baixo por um momento e não pôde deixar de se perguntar.
Ele nunca teve problemas com calor antes... o que houve hoje?
Chu Xiang percebeu pelo canto do olho que ela estava parada há muito tempo, e sabia, sem precisar olhar, que ela estava pensando demais. Subitamente, sentiu-se um pouco fora de controle.
De que adianta se vestir assim e abanar o leque com tanta força? Isso vai apagar o fogo no coração dele?
A roupa de Yue Lingxi parecia mesmo ter sido escolhida por Shu Ning, aquela pequena atrevida. A marca em seu peito havia desaparecido, e o ferimento de dias atrás já estava curado — exatamente como Shu Ning esperava. Tudo o que era tendência na capital, ela comprava para Yue Lingxi, gastando sem pudor a prata dada por Chu Xiang. Já havia enchido um armário com blusas e saias, e hoje escolheu o vestido mais glamoroso em tom rosa-macieira, combinado com dois brincos simples de jade branco. Ela estava simplesmente deslumbrante, e até os guardas imperiais ficaram encantados.
Ela era inocente e inconsciente, balançando aquela silhueta curvilínea diante dele — até aí, perdoável. Mas há pouco, ela se inclinou sobre ele para pegar o leque, e aqueles dois montinhos firmes pairaram bem acima de sua cabeça. Ele não os tocou, mas sua consciência não pôde evitar: afundou e ferveu ao mesmo tempo. Já não tinha mais intenção de assistir ao exercício. Se alguém quisesse saber o que era “céu e inferno”, ele havia experimentado os dois hoje.
Enquanto era atormentado, ela falou suavemente:
— Se Vossa Majestade estiver mesmo com calor, posso buscar algumas frutas geladas. Mas como ainda está com tosse, só poderá provar um pouco, não comer demais.
Chu Xiang arqueou levemente as sobrancelhas:
— Agora você está se intrometendo demais.
Vários guardas das sombras e criadas atrás deles ficaram secretamente alarmados, achando que Yue Lingxi havia ultrapassado os limites e seria punida. Mas, para surpresa de todos, ela respondeu com seriedade:
— Aconselhar com moderação é meu dever.
— Você decorou cada cláusula do Manual da Oficial Feminina — os lábios finos de Chu Xiang se curvaram levemente, e ele riu inesperadamente — Faça como quiser. Está muito ensolarado lá fora, leve um guarda-sol.
— Hmm — respondeu ela suavemente, então se virou e desceu as escadas.
A maior parte daquela área era ocupada por campos de treinamento e arsenais. O local onde se serviam lanches e bebidas geladas ficava ao sul do acampamento principal. No entanto, como Yue Lingxi havia instruído que não servissem nada com gelo, seria necessário lembrá-los novamente.
Assim que saiu do edifício, uma onda de calor varreu seu corpo. Ela diminuiu o passo, ergueu o guarda-sol de magnólia e caminhou pela estrada de pedra azulada. Os arredores estavam muito vazios, quase sem sinalizações. Ela reconheceu o caminho com base na sensação que teve ao vir. O trajeto inteiro estava silencioso. Quem diria que, ao virar uma esquina, daria de cara com um grande grupo de soldados. Usavam penachos vermelhos na cabeça, seguravam lanças prateadas nas mãos, e o líder carregava uma bandeira verde. Estavam ocupados conduzindo seus cavalos até o portão de bronze, obviamente se preparando para entrar no campo.
Ela parou, sem saber como havia ido parar atrás do campo de treinamento. Os soldados, todos homens robustos, ficaram surpresos ao ver uma mulher delicada surgir de repente. Quando a situação começava a ficar constrangedora, uma voz infantil e agradável soou atrás dela.
— Irmã?
As duas palavras foram ditas suavemente, como se com alguma incerteza. Mas quando Yue Lingxi se virou, toda hesitação desapareceu num instante. Ele correu e a abraçou pela cintura, o rosto cheio de entusiasmo.
— Irmã, é mesmo você! Achei que tivesse confundido com outra pessoa!
Yue Lingxi se abaixou e perguntou surpresa:
— Chang’an, o que está fazendo aqui?
— Meu irmão mais velho me trouxe para assistir à competição, mas estava tão chato... então escapei escondido para brincar com o irmão Yanxiu — disse Gu Chang’an, com o rosto animado. De repente, inclinou a cabeça e gritou por trás dela — Irmão Yanxiu!
Yue Lingxi se virou e viu uma figura alta não muito distante, vestida com traje de montaria azul, com uma espada de três pés na cintura, imponente e majestosa. O sol escaldante caía de cima, e gotas de suor escorriam pelas linhas musculosas e bronzeadas, cada uma brilhando intensamente, revelando uma força masculina tentadora ao toque.
Ela ficou paralisada, esquecendo-se até de fazer uma reverência.
Ye Yanxiu saiu do acampamento e levantou levemente a mão. Alguém imediatamente fechou o portão atrás dele, bloqueando olhares curiosos. Em seguida, caminhou até os dois e perguntou com um leve sorriso:
— Por que vieram até aqui?
Gu Chang’an respondeu apressado:
— Encontrei a irmã Ye na porta, não é uma coincidência?
— É mesmo uma coincidência — Ye Yanxiu bagunçou os cabelos dele, depois desviou o olhar e parou no pescoço alvo de Yue Lingxi antes de perguntar — Você se recuperou bem, mas a garganta ainda dói?
Yue Lingxi balançou a cabeça:
— Não dói mais. Agradeço por se preocupar, meu lorde.
Gu Chang’an os olhou com desconfiança e interrompeu:
— Irmã, vocês dois não são irmãos? Eu não sou estranho, não precisa ser tão formal na minha frente.
Ela havia esquecido de novo.
Enquanto Ye Yanxiu arqueava a sobrancelha, com a expressão clara de “pode falar logo”, Yue Lingxi suspirou suavemente e disse com voz gentil:
— Foi minha culpa. Vou seguir o que você disser.
— Assim é que é — Gu Chang’an, pequeno no tamanho mas grande na atitude, assentiu e resmungou — Minha irmã realmente não sabe cuidar das pessoas.
Depois disso, estendeu a mão para Yue Lingxi. Seus cinco dedinhos gordinhos eram adoráveis, e ela não resistiu a apertá-los duas vezes antes de perguntar, confusa:
— O que está fazendo?
— Posso pegar um lenço emprestado?
Yue Lingxi ficou um pouco surpresa, mas desamarrou o lenço de seda da cintura e o entregou a ele. O gesto ousado ganhou aprovação nos olhos do menino. Então ele se virou de repente e ofereceu o lenço branco bordado com flores de ameixeira a Ye Yanxiu.
— Aqui, limpe o suor!
Ye Yanxiu riu baixinho:
— Que história é essa de usar as coisas dos outros para bancar o generoso?
Ao ouvir isso, Gu Chang’an teve a ousadia de pedir permissão a Yue Lingxi:
— Irmã, posso?
Naquele dia na Mansão Song, Ye Yanxiu havia emprestado um lenço a ela. Agora era a hora perfeita para devolvê-lo, já que estava sujo. Yue Lingxi nunca gostou de dever nada a ninguém, então, quando Gu Chang’an perguntou, ela concordou sem pensar muito.
— Pode.
Assim que ela falou, Gu Chang’an ergueu as sobrancelhas e olhou para Ye Yanxiu com expectativa. Ye Yanxiu não teve escolha a não ser considerar os sentimentos de Yue Lingxi, então pegou o lenço.
— Nesse caso, vou usá-lo para enxugar o suor depois que vencer.
— Ótimo, ótimo! — Gu Chang’an bateu palmas, animado com a competição que se aproximava — Irmão Yanxiu, força! Minha irmã e eu vamos torcer por você do lado de fora da arena!
— Você, trate de voltar para a arquibancada e sentar quieto — disse ele, endireitando-se. Depois, voltou-se para Yue Lingxi — Lingxi, o Grande Acampamento de Jingji está meio caótico, e tenho medo de que ele se perca. Pode levá-lo até onde está Gu Jingyi?
— Está bem — respondeu ela com calma, abaixando-se para segurar a mão de Gu Chang’an e se preparar para partir. Antes de sair, voltou-se e disse:
— Desejo-lhe grande sucesso.
Desta vez, ela não o chamou de “Lorde Ye”.
Ye Yanxiu sorriu levemente, como um rio de primavera sob a lua de outono, exibindo sua elegância. No entanto, não disse palavras educadas. Apenas os acompanhou até o fim do caminho de pedra e disse:
— Não se esqueçam de torcer por mim.
Gu Chang’an pulava animado, ansioso pela competição que se aproximava, enquanto Yue Lingxi apenas fez um gesto gentil de cortesia antes de puxá-lo para longe.
Depois de visitar o Pavilhão Sul e devolver o pequeno encrenqueiro às arquibancadas, ela deu a volta e retornou à Torre de Observação. Já era tarde. Yue Lingxi acabara de chegar ao andar térreo quando viu Xue Fengchun conversando com alguns Guardas das Sombras. Estava prestes a se aproximar para ver do que se tratava, quando Xue Fengchun notou seu retorno e imediatamente abanou o espanador, caminhando em sua direção.
— Minha querida Xiuyi, finalmente voltou. Aconteceu alguma coisa no caminho?
Yue Lingxi balançou a cabeça.
Xue Fengchun suspirou aliviado e fez uma reverência para guiá-la para dentro do edifício.
— Suba rápido, Sua Majestade ainda está esperando.
Yue Lingxi respondeu com um som leve e foi direto para o terceiro andar. Assim que ficou diante de Chu Xiang, o olhar dele se voltou para ela. As sobrancelhas e os olhos estavam tão claros e brilhantes como sempre, mas pareciam misturados com algo que ela não conseguia decifrar. Ouviu-o perguntar em voz baixa:
— Por que demorou tanto?
— Encontrei Chang’an.
Enquanto falava, lançou um olhar involuntário para o campo de treinamento e viu que a competição já havia começado. Os gritos da plateia eram ensurdecedores, e os espectadores nas arquibancadas ferviam de entusiasmo, com os olhos fixos nas duas equipes em campo. O time de roupas verdes era liderado por Liu Yin e composto pelos Guardas Imperiais, enquanto o time de roupas azuis era liderado por Ye Yanxiu e formado pelo Exército da Armadura Negra. Em meio ao som estrondoso dos tambores de guerra, os dois lados lutavam ferozmente com espadas e lanças, deixando para trás uma trilha de fumaça amarela e estandartes esvoaçantes. Apenas o som das armas se chocando ecoava nos ouvidos, deixando todos especialmente tensos.
Com ambas as equipes mudando de formação com frequência, moviam-se como serpentes ágeis pelas bordas do campo e mergulhavam como gansos no acampamento inimigo. A arte de comandar um exército, que só podia ser vislumbrada no campo de batalha, agora era demonstrada por apenas quarenta homens diante de oficiais, estudiosos e aristocratas, deixando uma impressão igualmente deslumbrante e arrebatadora.
À medida que os dois líderes de equipe se enfrentavam, a plateia vibrava a cada confronto, pois a regra do exercício era capturar o oponente para vencer. Yue Lingxi observava a figura pura, vendo-o enfrentar corajosamente dez adversários ao mesmo tempo. De repente, lembrou-se do que ele havia dito mais cedo. Virou-se e puxou uma bandeira azul do balde dourado em forma de dragão ao lado, balançando-a levemente na mão.
— O que está fazendo?
A voz baixa de Chu Xiang veio por trás. Ela se virou com graça e disse algumas palavras suaves:
— Torcendo por Lorde Ye.
Ao ouvir isso, Xue Fengchun começou a suar frio. Hesitou por um momento, depois se inclinou e sussurrou:
— Vossa Majestade, a bandeira deve ser erguida por Vossa Majestade pessoalmente após a vitória de um dos lados, simbolizando a glória suprema. O que Xiuyi fez vai contra o protocolo...
— Deixe-a — Chu Xiang estreitou ligeiramente os olhos claros, mas não demonstrou intenção de impedi-la.
Logo, o público nas arquibancadas também percebeu a anomalia na torre de observação e começou a comentar. De repente, houve uma comoção no campo: a cavalaria do time azul cercou Liu Yin rapidamente por trás, fazendo com que os dois guardas imperiais que o protegiam caíssem de seus cavalos. Liu Yin virou rapidamente a cabeça do cavalo e rompeu o cerco, mas foi atacado de lado por uma onda de ar frio. Ele se esquivou inclinando a cabeça para trás, mas a lança não o deixou escapar, avançando implacável como um dragão prateado indo ao mar. Ele perdeu a vantagem, e seus subordinados também foram cercados por soldados misteriosos com armaduras, mostrando sinais de derrota em pouco tempo.
Quando o ponto decisivo chegou, Chu Xiang varreu as mangas e se levantou. Caminhou até o lado de Yue Lingxi e parou junto ao parapeito, dizendo:
— Parece que Yanxiu vai vencer.
Assim que as palavras caíram, Ye Yanxiu respondeu agarrando a lança prateada de Liu Yin. Com um movimento forte do braço, a ponta da lança mirou diretamente no pescoço de Liu Yin, a apenas três polegadas de distância. Em seguida, puxou as rédeas do cavalo e permaneceu firme no centro da arena.
Após prenderem a respiração em expectativa, o público ficou em silêncio por alguns segundos antes de explodir em uma calorosa salva de palmas, que ecoou pelos céus e durou muito tempo.
Era, de fato, uma vitória.
Alguns que não entenderam a situação pensaram que Chu Xiang já havia percebido o desfecho e, por isso, mandou que a bandeira azul fosse erguida antes da hora. Inesperadamente, aquele que supostamente tinha “visão antecipada” não se importou nem um pouco. Apenas lançou um olhar despreocupado para a beleza ao seu lado e disse:
— Eu não sabia que você e Yanxiu eram tão próximos assim.
Antes que Yue Lingxi pudesse responder, os aplausos lá embaixo já haviam abafado qualquer som. Inúmeras funcionárias do palácio que vieram assistir à batalha foram conquistadas pelo heroísmo e charme de Ye Yanxiu, e jogaram seus lenços em êxtase. A cena se transformou em ondas de flores coloridas dançando no céu.
Ye Yanxiu não deu atenção a isso. Enrolou sua lança prateada ao lado do corpo, cavalgou até Liu Yin e o cumprimentou com um aperto de mãos. Liu Yin aceitou a derrota com elegância e sorriu. Em seguida, ambos saudaram o público juntos. Quando chegou a vez do Exército Xuanjia, alinharam-se em fila ao longo da borda das arquibancadas. Ye Yanxiu desmontou do cavalo com elegância e cravou a lança prateada na areia com um movimento para trás, arrancando gritos da multidão.
As funcionárias da primeira fila ficaram coradas, e algumas, mais ousadas, encararam seus músculos definidos. Durante a luta, suas roupas haviam sido rasgadas, expondo o corpo para todos.
Como o talento real mais cobiçado da capital, ele realmente fazia jus à reputação — por dentro e por fora.
No entanto, as funcionárias ainda não estavam satisfeitas quando ele liderou o Exército Xuanjia para a retirada. O suor escorria pelo caminho, deixando marcas úmidas. Ele tirou casualmente um lenço para enxugar o suor e entrou no pátio interno. Os mais atentos notaram que era um modelo feminino, e seus corações se partiram na hora.
Lá em cima, Chu Xiang também não deixou de notar essa cena e lentamente virou a cabeça para olhar para a cintura de Yue Lingxi.
Vazia.
As pupilas de Chu Xiang se contraíram de repente. Algumas faíscas pareciam saltar, como se fosse possível ouvir o som de algo se partindo.
Então era assim que ela estava torcendo por Ye Yanxiu!


Capítulo 28: Estrela e Lua
No início da segunda metade, não havia mais ninguém na torre de observação além de alguns poucos, o que deixava o ambiente bastante tranquilo. A equipe feminina de equitação e tiro com arco, que acabara de entrar em campo, ficou desanimada ao ver aquela cena. Alguém imediatamente estalou as rédeas e começou a reclamar com indignação:
— O imperador é muito parcial. Embora nós, funcionárias do palácio, não possamos brandir espadas e lanças como os homens, ainda há entre nós quem seja habilidosa no arco e flecha. A dança com arco é maravilhosa, mas ele foi embora sem assistir. Cem dias de treino jogados fora.
Sua voz não era nem alta nem baixa, mas todos ao redor puderam ouvir claramente. Começaram a murmurar e comentar. Alguém aproveitou o momento para lançar um olhar à figura graciosa à frente da equipe de arqueiras e mudou propositalmente de assunto:
— Irmã Song, você foi responsável pelos ensaios dessa apresentação. Por que ainda está tão calma nessa altura?
O tom soava como uma provocação.
Song Yujiao era a filha preciosa de um nobre e ocupava um cargo prestigiado na Academia Imperial. Embora sua patente não fosse tão alta quanto a de algumas outras funcionárias, ela possuía muitas outras vantagens que as superavam. Como líder da equipe, sua posição incomodava algumas, que esperavam provocá-la. Se conseguissem fazê-la perder a compostura, talvez o pai dela se sentisse ofendido e reclamasse com o imperador — e elas poderiam se beneficiar disso.
Sem a chance de receber a aprovação do imperador e entrar no palácio, era impossível transformar-se em uma fênix no galho de uma árvore. Mas sempre era possível arrancar algum proveito.
Song Yujiao entendia muito bem o que aquelas mulheres estavam tentando fazer. Seus lábios se apertaram levemente antes de responder com palavras que não eram nem duras nem brandas:
— Se não quiserem, podem ficar aqui e não participar depois.
A provocadora engasgou, sentindo a raiva subir, mas não ousou perder a compostura por causa da posição de Song Yujiao. As outras ao redor rapidamente intervieram para aliviar o clima.
— As irmãs têm uma atitude tão boa. Estou tão nervosa que minhas palmas estão suando. Com tanta gente lá fora, tenho medo de passar vergonha. Espero que as irmãs cuidem de mim.
Song Yujiao sempre se irritava com o uso constante do termo “irmãs” e não respondeu muito.
Pouco depois, ouviu-se o som da corrente de ferro girando acima. O portão de madeira se abriu lentamente, revelando um campo de areia plano e amplo. Lideradas por Song Yujiao, as funcionárias do palácio galoparam para fora ao ritmo animado dos tambores. Empunhavam arcos de cristal e pareciam tão graciosas quanto a lua. Num piscar de olhos, vinte e cinco flechas voaram ao mesmo tempo, arrastando longas fitas de sete cores que cortaram o céu e formaram um arco-íris deslumbrante, brilhando ao sol com uma beleza estonteante.
As arquibancadas explodiram em aplausos.
Uma abertura tão impressionante era mérito das dezenas de funcionárias que praticaram incansavelmente noite após noite, desenvolvendo uma sintonia perfeita. No entanto, quase todos os jovens presentes voltaram seus olhos para a mesma pessoa — a beleza incomparável vestida com roupas lilases de montaria e um rosto como uma flor de lótus. Ao vê-la curvar o arco e disparar flechas com gotas de suor delicadas, ela transformava um movimento bruto em uma beleza única, deixando o público encantado.
Sem muitos adornos, apenas uma mulher e um cavalo vagando pelo campo já eram suficientes para ofuscar todas as outras.
No entanto, Chu Xiang e Yue Lingxi já haviam retornado ao palácio de carruagem e perderam essa cena.
Ainda faltava um pouco para o almoço. Chu Xiang terminou um banho rápido e foi direto ao estúdio para corrigir documentos. Yue Lingxi moía tinta ao seu lado, sentindo que havia algo estranho, mas não conseguia identificar o quê. Lançou-lhe um olhar discreto e percebeu que sua caligrafia estava mais pesada do que o normal, e suas palavras, mais ríspidas. Viu com os próprios olhos quando ele escreveu pessoalmente a palavra “descarado” em um memorial apresentado por certo censor.
O coração do monarca estava descontente — muito descontente.
Ela tinha grande discernimento e não se apressou em puxar os bigodes do tigre. Em vez disso, perguntou com cautela:
— Vossa Majestade não está tentando selecionar alguns jovens generais com esta oportunidade? Por que não assistir ao restante da competição?
Chu Xiang respondeu friamente:
— O que estou pensando, você não saberia.
— O povo de Yi Ocidental é uma grande preocupação para Vossa Majestade. O conflito recente foi principalmente para testar sua força militar, e mais cedo ou mais tarde haverá outro ataque. Nesse caso, todos os preparativos devem ser feitos. Atualmente, há poucos generais disponíveis para a corte, e não podemos depender apenas do Príncipe Ning para sustentar toda a linha de frente. Por isso, ouso supor que Vossa Majestade pretende selecionar alguém desta vez.
— Por que não tenta adivinhar o que estou pensando agora?
Chu Xiang parou de escrever, largou o pincel, recostou-se na cadeira e a encarou com uma expressão carregada de significado. Havia um traço de indiferença nos cantos dos olhos e das sobrancelhas, mas emoções ocultas fervilhavam por trás, como se pudessem afogá-la a qualquer momento.
O coração de Yue Lingxi se apertou inexplicavelmente. Sem conseguir encontrar uma resposta, só pôde dizer com honestidade:
— Vossa Majestade está descontente.
— Por que estou descontente?
O tom frio de Chu Xiang suavizou um pouco, mas ele não desistiu da pergunta.
Yue Lingxi mordeu o lábio e pensou por um momento. De repente, teve uma ideia:
— Está com fome? Vou mandar trazer algo para comer.
Assim que terminou de falar, virou-se e caminhou em direção à saída do salão. Mas antes que desse mais um passo, Chu Xiang a puxou de volta. Ele encarou seu rosto inocente, e chamas de fogo subiram em seu peito, queimando seu coração, fígado e pulmões.
— Yue Lingxi, você realmente não tem coração.
Ela ficou confusa por um momento, depois apontou para o lado esquerdo do peito e disse:
— Vossa Majestade, eu tenho um.
— Ah, tem sim — Chu Xiang riu com sarcasmo e apontou com um dedo longo para o coração dela, dizendo repetidamente — Então me diga quanto ele gosta de Ye Yanxiu, a ponto de lhe dar até um lenço como prova de afeto!
— Prova de afeto? — Yue Lingxi ficou um pouco confusa. Ao vê-lo irritado novamente, respondeu rapidamente — Vossa Majestade, foi só para ele enxugar o suor.
— E por que nunca me deu um para enxugar o suor? — ele exigiu, inclinando-se para frente com sua figura esguia, lançando uma sombra sobre ela.
— Eu dei sim — Yue Lingxi puxou a manga dele por baixo — Todas as manhãs coloco um lenço no bolso de Vossa Majestade, mas nunca o vi usar.
O rosto de Chu Xiang ficou ligeiramente rígido. Depois de tatear por um momento, ele realmente puxou um lenço do bolso. A base de seda era azul-escura, com um par de estrelas e luas bordadas em linha prateada. Os pontos eram irregulares, e os fios mal arrematados, simples e sem enfeites. Seria extremamente difícil encontrar uma bordadeira no palácio com tal “habilidade”. Obviamente, era obra dela mesma.
Embora seu coração tenha se acalmado um pouco, o tom ainda não suavizou.
— Eu sou o imperador. Por que bordou estrelas e lua no meu lenço, em vez da magnífica ameixeira enfrentando neve e geada que deu a Ye Yanxiu?
— Há um poema — Yue Lingxi o corrigiu com a testa franzida — “Que eu seja como as estrelas, e que Vossa Majestade seja como a lua, brilhando juntos todas as noites.”
Chu Xiang estremeceu de repente, e seus olhos brilharam intensamente.
Ela sabia o que estava dizendo?
A mão de ferro que segurava o braço dela apertou e afrouxou, até que finalmente envolveu sua cintura esguia e a puxou para mais perto. Chu Xiang fitou os olhos claros e transparentes dela e perguntou com voz rouca:
— Xi Xi, o que esse poema significa? Você entende?
Yue Lingxi assentiu sem hesitar.
— Vossa Majestade é como a lua brilhante no céu, iluminando as montanhas e rios das nove províncias, guiando e protegendo o povo. Eu venho de origem humilde e não posso contribuir muito. Só espero poder me banhar em um décimo de milésimo do brilho de Vossa Majestade, para proteger o Reino de Chu e proteger Vossa Majestade.
Então era assim que ela entendia...
O coração de Chu Xiang estava tumultuado, difícil de acalmar. Às vezes impotente, às vezes comovido, ele não conseguia dizer uma palavra diante daquele rosto honesto e direto — só podia permitir que aquelas emoções sutis se dissipassem lentamente em seu peito, se assentando e fermentando em algo difícil de abandonar.
Ela sempre falava com grande retidão, sem segundas intenções, e era ainda mais consciente do que ele, que nascera para carregar o peso de tudo isso. Embora não tivesse obtido a resposta que queria, a mensagem dela sempre foi clara: acompanhá-lo e apoiá-lo, compartilhar juntos a prosperidade do país. Por algum motivo, isso o confortava profundamente.
Sabores diversos se misturavam aos poucos, até se transformarem em algo chamado culpa.
Foi ele quem lidou pessoalmente com o caso dela e de sua família — e, sem querer, causou-lhes dano. Enquanto ele tramava estratégias na capital, a milhares de quilômetros de distância, punindo o mal e defendendo o país, estabilizando a política, falhou em protegê-la naquele aspecto.
O destino não pode ser mudado, e o tempo não pode ser revertido. A partir de agora, ele a protegeria por toda a vida.
Chu Xiang não resistiu e a envolveu nos braços, acariciando suavemente suas costas enquanto perguntava em voz baixa:
— O que fará quando tiver que deixar o palácio aos vinte e oito anos como oficial?
Yue Lingxi pensou por um momento e respondeu:
— Se Vossa Majestade ainda precisar de mim, ficarei. Se Vossa Majestade encontrar alguém melhor, poderei partir em paz.
Ela realmente não tinha outras intenções.
Ainda era cedo, e Chu Xiang não queria conduzi-la por aquele caminho, então a apertou contra si e sussurrou:
— Eu só quero você.
Ela ergueu o rosto, com um leve rubor rosado nas bochechas, como se estivesse sendo aquecida pelo sopro quente que ele exalava — ou talvez pela alegria interior — mas sua expressão permaneceu serena como sempre. Após um instante, quatro palavras suaves escaparam de seus lábios:
— Lingxi é afortunada.
Aquelas poucas palavras haviam feito o dia dele.
Regando o campo de flores dia e noite, finalmente um pequeno broto rosado surgia — nem todo o esforço havia sido em vão.
Justo quando Chu Xiang se sentia feliz, lembrou-se do problema anterior e não pôde deixar de semicerrar os olhos e ameaçar:
— Se não gosta de Ye Yanxiu, vá buscar o lenço de volta. Seria vergonhoso se alguém descobrisse.
— Eu gosto do Lorde Ye — corrigiu Yue Lingxi, explicando em voz baixa — Além disso, o Lorde Ye me emprestou um lenço da última vez. Eu deveria devolvê-lo.
Chu Xiang engasgou, e seu rosto voltou a escurecer:
— Só pode dar um entre ele e eu. Escolha.
Yue Lingxi pensou com cuidado e disse:
— Enviar para o Lorde Ye.
Então tudo o que ela disse antes foi em vão!
Chu Xiang jamais imaginou que haveria cacos de vidro misturados ao mel. Ficou tão furioso que mal conseguia falar:
— Muito bem, vá e entregue. Não vou impedir.
Depois de falar, sentou-se de volta no trono do dragão, sem sequer querer o lenço bordado à mão que ela havia feito para ele, jogando-o torto sobre a mesa imperial sem nem olhar, como se realmente não se importasse. Yue Lingxi ficou confusa, sem saber o que havia feito para irritá-lo novamente, então abaixou a cabeça e murmurou:
— Vossa Majestade quer que eu fique devendo um favor a ele para sempre?
Ele resmungou:
— Então acha certo me dever?
— Vossa Majestade não é um estranho.
Ao ouvir essas palavras, a expressão sombria de Chu Xiang suavizou ligeiramente, e a sobrancelha se ergueu enquanto ele a puxava para junto de si e perguntava:
— Então o que sou para você?
— Vossa Majestade é o único em meu coração, insubstituível — Yue Lingxi o encarou com firmeza, os olhos brilhando como água límpida refletindo o céu — Mesmo que eu tenha que dar minha vida, farei isso por Vossa Majestade — que dirá um pedaço de pano.
Os olhos de Chu Xiang escureceram de repente, e ele disse, palavra por palavra:
— Eu não quero sua vida. Eu quero você.

Capítulo 29: Festival do Meio Outono (Parte 1)
Osmanthus flutua sobre o jade, a lua preenche as ruas. Dez voltas de sombras geladas giram ao redor dos plátanos do pátio, enquanto uma dama se senta sozinha sob eles.
— (poema)
Hoje, por algum motivo, Yue Lingxi estava especialmente ociosa. Desde o entardecer, permanecia sentada sob a árvore com os joelhos abraçados, perdida em pensamentos. Ninguém viera procurá-la — talvez porque fosse o Festival do Meio Outono, e aqueles que não podiam voltar para casa haviam se reunido em outros lugares para se divertir.
Nos anos anteriores, ela e Duan Muzheng sempre celebravam esse festival juntas. Primeiro, porque suas famílias já não estavam por perto e tinham medo de relembrar tristezas passadas. Segundo, porque também viviam com dificuldades financeiras e não podiam comprar bolos de lua nem vinho de osmanthus. Assim, enquanto famílias por toda parte aproveitavam a noite festiva, as duas se sentavam à porta, encostadas uma na outra, conversando. Falavam sobre quantas moedas de cobre haviam ganhado naquele dia, e sobre as coisas engraçadas que tinham acontecido. Quando se cansavam de conversar, voltavam para o quarto e dormiam. Fingiam não sentir o cheiro de carne e vinho vindo dos vizinhos, nem ouvir os cantos apaixonados sob a luz da lua.
Parece que, enquanto as memórias não forem desenterradas, elas permanecem perfeitas e intactas.
Este ano, no entanto, era um pouco diferente — Duan Muzheng havia se casado e encontrado o homem que amava. Ele a acompanharia para admirar a lua à meia-noite, brindariam e recitariam poesia juntos. O calor familiar que faltava seria preenchido sob outra perspectiva, e quando tivessem filhos no ano seguinte, seriam ainda mais felizes. A reunião deixava de ser algo inalcançável.
Ela, que permanecia sozinha no vasto palácio, já não conseguia resistir à invasão das lembranças.
Não se lembrava de coisas muito antigas, apenas do Festival do Meio Outono quando tinha dez anos. Sua mãe havia emprestado alguns moldes da tia vizinha — moldes com desenhos de camélias e lingotes. Eram esculpidos com delicadeza e ainda estavam mornos, sinal de que haviam sido usados há pouco. Sua mãe os lavava um por um e pincelava uma fina camada de óleo no fundo antes de pressionar a massa e assá-los no forno. Não demorava para que o aroma tomasse conta da casa. Ela e a irmã tentavam adivinhar o recheio enquanto lambiam os lábios em segredo. A mãe ficava ao lado, ouvindo a tagarelice das filhas e sorrindo em silêncio.
Hoje, ela já havia esquecido o sabor dos bolos de lua — e mal conseguia lembrar o rosto da mãe.
Yue Lingxi sentiu uma dor surda no peito e encolheu ainda mais o corpo. Foi então que passos apressados soaram no fim do corredor, aproximando-se rapidamente até chegarem ao seu lado.
— Estava te procurando há um tempo. Então era aqui que estava sentada. O tempo já está esfriando. Por que não colocou uma capa ao sair?
Shu Ning tagarelava enquanto puxava Yue Lingxi de volta à realidade. Ela olhou para a postura da criada e perguntou suavemente:
— Aconteceu algo com Sua Majestade?
— Pelo contrário — Shu Ning balançou o dedo indicador e sorriu de leve — Sua Majestade não está no palácio esta noite, então vamos fazer um pequeno banquete só para nós. O que deseja comer?
Normalmente, Yue Lingxi fazia todas as refeições com Chu Xiang no palácio, mas hoje era uma exceção. Por isso, Shu Ning viera perguntar. No entanto, ela se surpreendeu levemente e perguntou:
— Sua Majestade vai sair do palácio?
— Sim. Todos os anos, durante o Festival do Meio Outono, Sua Majestade vai à residência da família Ye. Isso já virou uma tradição não escrita. Embora a Imperatriz Viúva e o antigo imperador não estejam aqui este ano, o plano não mudou. Quando passei pelo Palácio Xuanqing esta manhã, vi o Lorde Liu Yin designando os guardas da comitiva.
Então era isso.
Yue Lingxi murmurou com um tom distraído, claramente com os pensamentos em outro lugar. Mesmo quando Shu Ning listou os nomes dos pratos, ela não prestou atenção e concordou com todos. Tinha medo de que houvesse ingredientes como escorpiões ou crocodilos, mas aceitaria mesmo assim. Nesse estado, não percebeu quando Shu Ning saiu — nem quando a sombra atrás dela se aproximou.
— O que está fazendo escondida aqui? Não me lembro de ter concedido folga para o Festival do Meio Outono.
A voz familiar e magnética trouxe Yue Lingxi de volta à realidade num instante. Os olhos enevoados se clarearam lentamente ao se voltarem para o rosto belo e próximo o suficiente para tocar.
— Vossa Majestade... por que está aqui? Não foi à Residência Ye?
Chu Xiang a ajudou a se levantar e estendeu a mão direita para o lado. Xue Fengchun imediatamente apresentou uma capa fina de seda na cor de fumaça e nuvens. Chu Xiang a sacudiu e envolveu-a por trás, amarrando o laço enquanto dizia:
— Vamos agora.
Havia um leve perfume de tinta nos dedos dele, que agora se espalhava ao redor do pescoço dela, tornando-se cada vez mais presente. Ela abaixou a cabeça e olhou para os nós bem definidos de suas mãos, depois perguntou, com um atraso quase infantil:
— Vossa Majestade... quer me levar com você?
Chu Xiang lançou-lhe um olhar e a lembrou com leveza:
— Não se esqueça, seu sobrenome agora é Ye.
Yue Lingxi se deu conta de repente.
Sim, ela era a filha ilegítima da família Ye — Ye Lingxi. Neste momento, é claro que deveria acompanhá-lo de volta à Residência Ye, caso contrário, levantaria suspeitas. Ela sempre esquecia sua identidade, fosse diante de Ye Yanxiu ou dele. Talvez, no fundo, ainda sentisse que não era digna de carregar esse sobrenome.
Chu Xiang não se importava com o que ela pensava. Apenas terminou de amarrar a fita e se virou para puxá-la consigo, coaxando-a como uma criança:
— Não diga que não avisei. Os bolinhos de carne fresca feitos pelo velho cozinheiro da família Ye são uma iguaria única na capital. Nem os chefs imperiais do palácio se comparam. Se não for hoje, vai se arrepender por um ano inteiro.
— Eu não disse que não iria — respondeu Yue Lingxi suavemente, seguindo atrás — Estou muito feliz por passar o festival com Vossa Majestade.
Chu Xiang lançou-lhe um olhar, e seu rosto belo se iluminou com um sorriso radiante.
Ultimamente, aquela boquinha estava ficando cada vez mais doce. Não era em vão todo o tempo que ele vinha investindo nela.
Na hora do Galo (entre 17h e 19h), os dois saíram do palácio em uma carruagem puxada por dois cavalos. A rua de dez milhas estava vazia, com apenas as lanternas noturnas sob os beirais lançando grandes halos de luz. Os cavalos galopavam velozes, rompendo por um instante a luz e as sombras quentes, que logo retornavam ao normal com o som dos cascos se afastando.
A Residência Ye ficava ao norte da cidade, não muito longe do palácio. No entanto, chegaram tarde, e todos já estavam presentes quando entraram, sendo imediatamente repreendidos por Ye Sitian.
— Este ano, Tia e Tio não estão na cidade, então o Irmão Xiang resolveu ignorar as regras. Vieram tão tarde de propósito, só para nos deixar esperando de estômago vazio, não foi?
— Ninguém nesta casa ousaria deixar você com fome — Chu Xiang respondeu, impotente diante da expressão teimosa dela — Está bem, está bem, devo me punir com três copos primeiro?
— Ainda é pouco — Ye Sitian se inclinou e agarrou o braço dele, os olhos grandes brilhando de expectativa — Trouxe o bolo de osmanthus com mel feito pelo chef imperial?
— Como eu esqueceria o que você pediu? — Chu Xiang lançou-lhe um olhar de lado, com expressão indulgente.
— Eu sabia que o Irmão Xiang é o melhor! — Ye Sitian sorriu docemente e entrelaçou o braço no dele, caminhando para o interior da residência.
Atrás deles, Yue Lingxi permaneceu imóvel por um bom tempo.
Esse ainda era o Chu Xiang que ela conhecia? Sem os títulos e a dignidade imperial, ele já não era o imperador inalcançável. Era apenas como um irmão mais velho de uma família comum — paciente, disposto a ceder às travessuras da irmãzinha. Os criados ao redor também não demonstravam surpresa, como se já estivessem acostumados. Somente ela estava ali, chocada e sem saber o que fazer.
No meio do caminho, Chu Xiang percebeu que ela não o seguia. Parou e a chamou:
— Xi Xi.
Essas duas palavras simples ditas por ele — “Xi Xi” — foram tão gentis, exatamente como o tom que usava com Ye Sitian, sua verdadeira prima.
Yue Lingxi olhou adiante com um olhar confuso. Ele estava parado no corredor, de perfil, vestindo roupas simples e sapatos discretos, com uma expressão clara e relaxada. Mesmo tendo deixado de lado toda a sua aura imperial, ainda assim brilhava intensamente. Naquele momento, ele a esperava com humildade e graça. Ela apressou o passo para alcançá-los, com medo de parecer desrespeitosa.
A etiqueta é ainda mais importante fora do palácio do que dentro dele.
Ye Sitian era esperta. Ao perceber o desconforto de Yue Lingxi, sorriu e a tranquilizou:
— Ling Xi, aqui não há distinção entre soberano e súdito. Essa é uma regra da família Ye. Agora que carrega o sobrenome Ye, é uma de nós e não precisa se conter.
— Sim, Senhora Gu.
Yue Lingxi abaixou a cabeça e pareceu muito obediente, mas as muralhas em seu coração não cederam nem um pouco. Ela ainda guardava sua última linha de defesa. Chu Xiang compreendia seus pensamentos, mas não os expôs, permitindo que Yue Lingxi o acompanhasse até o salão.
Depois de algumas visitas à família Ye, eles acabariam curando esse comportamento submisso habitual dela. Ele não tinha pressa.
Ambos seguiam com pensamentos diferentes, mas seus passos estavam em perfeita sincronia. Em pouco tempo, chegaram a um salão espaçoso e iluminado. Observando com atenção, havia uma mesa de sândalo entalhada no centro, cercada por cerca de dez cadeiras. As bordas estavam polidas com brilho, e o aroma de madeira de ágar ainda pairava no ar, indicando que era uma peça antiga.
Criadas vestidas com uniformes verdes, como um fluxo de água, se retiraram pelos dois lados, e os pratos foram servidos no momento exato. A mesa estava repleta de iguarias requintadas, exalando um aroma tentador. Cada lugar tinha tigelas de lótus cor-de-rosa, hashis e copos, todos dispostos com perfeição e limpos a ponto de refletirem a luz.
Tudo estava pronto, esperando apenas que tomassem seus assentos.
Com o assento principal vazio, Ye Yanxiu sentou-se ao lado, e Pei Zhao e Gu Jingyi também já haviam chegado. Eram todos rostos familiares que ela já havia visto antes.
Ye Yanxiu falou primeiro:
— Primo, Ling Xi, finalmente chegaram. Tian’er estava ansiosa para vê-los.
— Ela está pensando naquela caixa de bolos de osmanthus, não é? — brincou Chu Xiang ao se sentar, entregando casualmente sua taça de vinho para o lado. Alguém imediatamente se aproximou para enchê-la. — Cheguei tarde e ela me culpa, mas nem me deixa entrar sem pagar a penalidade.
Depois de falar, inclinou a cabeça e bebeu três taças seguidas. Ao colocar o copo sobre a mesa, ergueu as sobrancelhas e olhou para Ye Sitian. Ela cobriu a boca e riu, sem explicar nada, mas com um ar de orgulho, como se realmente quisesse ver Chu Xiang beber.
Ao ver isso, Ye Yanxiu bateu levemente na testa dela e a repreendeu com suavidade:
— Você...
O tom parecia inacabado, mas não havia qualquer censura real. Não havia como. Nesta geração da família Ye, ela era a única menina. Permitir que ela fosse mimada era algo que todos aceitavam. Além disso, agora estava grávida. Quem ousaria ser severo com ela?
Gu Jingyi já estava acostumado com as travessuras da esposa mimada, observando-a com calma enquanto mantinha os olhos atentos para que ela não esbarrasse na quina da mesa.
Observando essa cena da entrada, Yue Lingxi não pôde deixar de sentir inveja daquela relação tão próxima.
A bela pessoa que é a lua nem sequer percebe. Quando Chu Xiang chamou Yue Lingxi para se aproximar, Ye Sitian acenou para ela e o interceptou no meio do caminho, dizendo:
— Lingxi, venha sentar comigo. Não vá se apertar com esses homens aí.
Ao ouvir isso, Chu Xiang imediatamente lançou-lhe um olhar fulminante — que tipo de travessura essa menina estava aprontando agora?
Como era de se esperar, ao ouvir as palavras de Ye Sitian, Yue Lingxi começou a especular por conta própria. Já lera em livros que os aristocratas de Chu eram muito rigorosos com suas regras, e talvez essa fosse uma delas. Como poderia ela, uma recém-chegada, quebrar as normas da casa? Com isso em mente, sentou-se ao lado de Ye Sitian sem hesitar — para a fúria silenciosa de Chu Xiang.
Normalmente no palácio, ela não era tão obediente assim!
Ye Sitian, satisfeita com o sucesso de seu plano, lançou um olhar triunfante para Chu Xiang antes de se inclinar e sussurrar no ouvido de Yue Lingxi:
— Lingxi, sirva-se do que quiser. Não precisa ter cerimônia. Os mais velhos não estão aqui hoje, então ninguém vai nos vigiar.
— Está bem, entendi — Yue Lingxi assentiu obedientemente e perguntou em voz baixa, seguindo o tom dela — Os mais velhos costumam jantar com vocês? Isso também é uma regra da família Ye?
Ye Sitian riu e acenou com a mão para explicar:
— Não, a família Ye não tem tantas regras assim. Este ano é uma exceção. Tia e Tio foram para Xigong evitar o calor do verão, meu pai foi com minha mãe visitar meu avô materno em Yingguo, e meu tio mais novo e a esposa dele acharam que nós, da geração mais nova, ficaríamos muito presos se eles viessem, então decidiram não participar do jantar.
— Entendo.
Yue Lingxi foi associando mentalmente as pessoas que ela mencionava, uma a uma, o que lhe tomou algum tempo. Então viu Ye Sitian erguer a taça de vinho e dizer em voz alta:
— Numa noite de lua cheia e flores belas, conversar e comer sozinha é um desperdício da paisagem. Que tal brindarmos com um bom vinho?
Pei Zhao riu:
— Nós? Quer dizer todos, menos você?
— Ah, vamos lá, vocês têm que cuidar da grávida — Ye Sitian trocou o chá sem corar nem se abalar, depois entregou a taça a Gu Jingyi e disse aos demais — Meu marido pode beber com vocês, certo?
Vários sorriram e balançaram a cabeça, mas todos atenderam ao pedido dela, erguendo as taças e brindando juntos. Yue Lingxi não queria ser a única a se excluir, então fechou os olhos, inclinou a cabeça para trás e bebeu uma taça de licor amarelo.
Era doce e parecia vinho de arroz com sabor de pêssego.
Yue Lingxi, que nunca havia bebido antes, achou aquilo muito interessante e não resistiu a pedir à criada mais uma taça. Tomou um pequeno gole e segurou o líquido na boca. O sabor perfumado e adocicado derretia na língua, com um leve toque alcoólico — parecia suco, impossível de resistir. Sentia-se envergonhada de beber com frequência na frente de todos, então fingia estar comendo com seriedade, dava algumas mordidas e, discretamente, virava o rosto para beber mais um pouco. Achava que estava disfarçando perfeitamente, mas não sabia que Chu Xiang já havia percebido suas pequenas manobras.
Se ninguém a controlasse, ela causaria confusão.
Ele semicerrava os olhos, prestes a mandar a criada tirar o vinho dela, mas inesperadamente, Ye Sitian se inclinou e disse algo que desviou completamente sua atenção.
— Lingxi, sabia que esse vinho foi feito pela minha sogra?
— Sério? — Yue Lingxi não demonstrou timidez alguma e elogiou com sinceridade — Senhora Gu, sua sogra é muito talentosa. Achei que essas damas nobres não faziam esse tipo de coisa.
Com um sorriso doce e encantador, Ye Sitian explicou com cuidado:
— Eu também não sabia fazer antes, mas temos um costume aqui. Enterramos alguns jarros de vinho amarelo sob a árvore de pêssego no quintal antes da filha nascer. Quando ela se casa, abrimos e bebemos. Minha sogra dá muito valor a essa criança, então decidiu fazer o vinho ela mesma. Disse que traria mais sorte. Depois, sobrou um pouco da massa e o pessegueiro deu frutos, então fizemos esse vinho de arroz para beber no Festival do Meio Outono.
Ao terminar, ela tocou a barriga com um rosto cheio da alegria de ser mãe. Yue Lingxi acompanhou o gesto e, por algum motivo, ficou interessada naquela pequena curva.
Alguns meses atrás, ela ainda brincava com Gu Chang’an na Torre Tianque, e agora já carregava um bebê no ventre — era realmente algo incrível.
Ye Sitian percebeu que ela estava curiosa. Pegou a mão de Lingxi e a colocou sobre sua barriga, para que sentissem juntas o poder da vida. Um traço de pânico passou pelos olhos de Yue Lingxi, e ela instintivamente prendeu a respiração. Ao ver isso, Ye Sitian sorriu e a tranquilizou:
— Está tudo bem. Ela só tem quatro meses, ainda não é tão sensível. Não precisa ter medo.
— Ela... é mesmo muito pequena — murmurou Yue Lingxi.
— Sim — Ye Sitian apertou os lábios e, com naturalidade, fez uma sugestão — Já que você a tocou hoje e agora é uma espécie de mais velha para ela, que tal brindarmos para celebrar?
Yue Lingxi assentiu várias vezes:
— Claro, desejo que ela cresça saudável e seja tão adorável quanto a neve de jade.
Depois de falar, tomou proativamente o restante da bebida em sua taça. O olhar doce de Ye Sitian brilhou levemente, e ela ergueu a mão de jade para pegar o chá à sua direita. Sorriu com inocência e disse:
— Então, deixe-me agradecer à titia em nome dela.
Conversaram por um tempo e se deram tão bem que começaram a brindar com frequência uma à outra. Do outro lado da mesa, Chu Xiang observava tudo com crescente irritação.
Aquela pestinha... ela quer embebedar a Xi Xi!


Capítulo 30: Festival do Meio Outono (Parte 2)
Após o jantar, o grupo seguiu para um espaço aberto onde soltariam lanternas do céu.
Embora fosse uma tradição antiga da capital, a brincadeira era mais apreciada por Ye Sitian, que gostava de fazer isso em casa — os homens só a acompanhavam. Depois de pedir ajuda a Ye Yanxiu, os outros se acomodaram nos pavilhões dos dois lados, desfrutando da luz ilimitada da lua e saboreando chá fresco após a chuva — uma tranquilidade encantadora.
Yue Lingxi sentava-se obedientemente atrás de Chu Xiang, segurando uma xícara de chá e observando. Ficava fascinada com as lanternas de papel, que ora traziam inscrições, ora eram erguidas pelo vento. Não dizia uma palavra há muito tempo. Chu Xiang virou o rosto e viu a luz laranja se refletindo nos olhos dela, derretendo aos poucos num brilho de primavera sob a brisa noturna — uma imagem tocante.
Ele não resistiu:
— Quer se juntar à diversão?
Yue Lingxi hesitou por um momento antes de acenar com sinceridade.
Aproveitando a penumbra no pavilhão octogonal, Chu Xiang a envolveu sem cerimônia nos braços e inalou levemente. Apesar do perfume de álcool em sua respiração, ainda era doce e envolvente. Sorrindo, perguntou:
— Ainda me reconhece?
— Vossa Majestade, não bebi tanto assim — ela respondeu com um biquinho quase imperceptível.
— Então vá lá — Chu Xiang riu e ajustou a gola dela com cuidado. — Mas cuidado para não se queimar.
Ela levantou-se obedientemente e juntou-se aos outros no espaço aberto.
Ao vê-la aparecer de repente, Ye Sitian lançou um sorriso significativo em direção a Chu Xiang. Depois, entregou-lhe uma lanterna e um pincel com casualidade:
— Escreva seus desejos primeiro. Depois peço ao Irmão Xiu para soltá-la para você.
Yue Lingxi nunca havia brincado com isso antes e só agora percebia que deveria escrever seus votos. Por um momento, não soube o que escrever e ficou encarando o carpete estampado com uma carpa no abajur. Por fim, pegou o pincel e escreveu uma sequência torta e instável de pequenos caracteres. Justo nesse instante, Ye Yanxiu passou e não conseguiu conter o riso ao espiar:
— O que está acontecendo com vocês dois? Um escreve letras do tamanho de uma tigela, o outro do tamanho de um mosquito. Estão tentando deixar a lanterna feia de propósito?
Ye Sitian reclamou com doçura:
— A culpa é sua, ocupa espaço demais. Mais da metade dos meus votos são pra você. Veja: ascensão na carreira, riqueza, casamento, filhos…
— Vá com calma! — Ye Yanxiu respondeu com um sorriso desajeitado. Sem saber como conter ela, virou-se para Yue Lingxi:
— Está pronta? Vou segurar e você acende.
Yue Lingxi assentiu sem expressão, entregando-lhe a lanterna. Viu-o desdobrar os quatro cantos da armação — e com a ajuda do vento, a lanterna se encheu instantaneamente. Ele ergueu o braço, revelando o pedaço de resina na base. Yue Lingxi aproveitou o momento para se aproximar e, com o incenso na mão, ficou na ponta dos pés para alcançar o fio.
Vista de trás, a cena parecia íntima demais.
A mão de Chu Xiang, que segurava a xícara, ficou rígida. Felizmente, antes que tomasse qualquer atitude, Yue Lingxi retornou a seu lado e ficou parada, observando em silêncio a carpa vermelha agitando a cauda e subindo aos céus. Seu rosto exibia pura satisfação.
— Lingxi, há muitos estilos diferentes. Escolha o que quiser e solte.
Ye Sitian trouxe mais lanternas e empilhou todas diante dela. A animação da amiga fez Yue Lingxi suar levemente. Rapidamente, ela recolheu as lanternas e as posicionou no chão. Ao se levantar, porém, todo o cenário diante de seus olhos começou a girar. Cambaleando, caiu descontroladamente.
— Lingxi?
Ye Yanxiu a segurou rapidamente enquanto os demais correram do pavilhão ao perceberem que algo estava errado. Ela balançou a cabeça e, assim que a visão voltou ao normal, murmurou:
— Estou bem.
Chu Xiang franziu levemente os lábios e a fitou por um momento antes de perguntar de repente:
— Xi Xi, quem sou eu?
Desta vez, ela não respondeu de imediato. Inclinou a cabeça e o olhou por um longo tempo, quase caindo nos braços de Ye Yanxiu. Chu Xiang a empurrou de volta com paciência, e seu rosto belo foi iluminado pela luz trêmula da lanterna. Ela finalmente o observou com atenção e sussurrou duas palavras:
— Xiang Xiang.
Ainda diz que não está bêbada!
Ye Sitian não conteve o riso no momento errado, e o rosto de Chu Xiang escureceu enquanto a lançava um olhar:
— Está bem satisfeita consigo mesma, hein?
Ela imediatamente virou-se com uma expressão de falsa inocência e se agarrou ao braço de Ye Yanxiu:
— Irmão Yanxiu, ele está sendo mau comigo...
Ye Yanxiu provavelmente entendeu o que ela havia aprontado, mas não teve tempo de repreendê-la. Pensou que Yue Lingxi devia estar sentindo os efeitos do vinho de arroz e ordenou:
— Preparem o quarto de hóspedes e tragam uma capa.
Disse isso e pegou Yue Lingxi nos braços, indo em direção ao quintal, mas inesperadamente Chu Xiang interveio:
— Não há necessidade. Vamos voltar ao palácio.
Ye Yanxiu fez uma breve pausa e respondeu:
— Está bem, vou acompanhá-los.
Nesse momento, um criado trouxe uma capa fina de seda. Ye Yanxiu a colocou sobre Yue Lingxi para evitar que pegasse frio após beber. Com expressão séria, Chu Xiang saiu da mansão sem dizer nada.
Enquanto as silhuetas dos três desapareciam aos poucos, Ye Sitian se aconchegou nos braços de Gu Jingyi e murmurou com ar pensativo:
— Jingyi, o que eu faço? Parece que meu coração está explodindo com dois peixes...
Gu Jingyi simplesmente a envolveu com uma capa, sem dizer uma palavra.
Do lado de fora dos portões da Residência Ye, as rodas da carruagem já começavam a girar lentamente, e os dois partiram de volta para o palácio.
A essa altura, Yue Lingxi já não estava muito consciente, mas ainda conseguia sentir o frio vindo de seu lado. Abriu os olhos, confusa, e encontrou Chu Xiang sentado ao seu lado. Seu rosto elegante estava oculto pelas sombras, impossível de decifrar. Sentindo-se estranhamente inquieta, ela se arrastou com as mãos e os pés, e se aninhou nos braços dele.
Nunca havia sido tão proativa.
Após o período de distanciamento, a atmosfera voltou ao normal. Chu Xiang segurou a mão dela e a ajeitou em uma posição mais confortável, deixando-a repousar sobre seu peito. Não pretendia falar — parecia querer que ela dormisse assim mesmo. Ela se esfregou contra o pescoço dele como um gatinho e perguntou, com um sotaque estranho:
— Vossa Majestade, estamos voltando?
Falou até em dialeto de Yi... claramente estava bêbada.
— Hm. Estamos voltando — murmurou Chu Xiang — Se quiser dormir, pode dormir. Estou aqui.
Ao ouvir isso, Yue Lingxi enterrou o rosto e adormeceu.
A carruagem balançou suavemente enquanto cruzava o pátio interno até chegar ao portão do palácio. Ao parar, Liu Yin tentou receber Yue Lingxi dos braços de Chu Xiang, mas foi dispensado com um gesto. Só pôde segui-los com o olhar enquanto Chu Xiang levava Yue Lingxi pessoalmente para o quarto. Depois, retornou à antessala e sentou-se. A criada do Palácio Yilan lhe trouxe uma xícara de chá. Nem salgado nem fraco — ele o saboreou devagar.
Já era bastante tarde... Por que Sua Majestade ainda não retornara ao Palácio Xuanqing?
Ele queria perguntar, mas não teve coragem. Assim, permaneceu em silêncio do lado de fora, apenas aguçando os ouvidos para perceber qualquer movimento dentro do aposento. Depois de um tempo, Shu Ning apareceu e informou que tudo havia sido arrumado corretamente. Chu Xiang então deixou a xícara e entrou. Assim que a porta do quarto se fechou, todos os sons desapareceram.
Era o auge da noite, sob a lua e o orvalho.
Na mesa, uma lâmpada d’água fraca brilhava, refletindo ondas cintilantes pelo quarto. As cortinas azul-translúcidas balançavam suavemente nas extremidades, como ondas calmas. Yue Lingxi dormia na cama, vestida com um robe de seda branco-leitoso, encolhida como um bebê, com um leve rubor rosado no rosto delicado — extremamente encantadora.
Chu Xiang sentou-se na beira da cama e acariciou a bochecha dela com dois dedos. Ela havia acordado pouco antes, ao trocar de roupa, e, ao vê-lo, voltou a se aconchegar em seus braços.
Ele a envolveu com carinho.
Diferente de outras vezes, ela exalava um aroma doce por todo o corpo por causa do vinho, e sua pele estava macia e suave em seu abraço, o que tornava tudo extremamente confortável. Chu Xiang se deitou no divã e não queria mais se levantar, nem pensava em resistir àquela tentação. Apenas tirou os sapatos com um empurrão e esticou as pernas também.
Yue Lingxi percebeu que o corpo dele estava se aproximando cada vez mais e, surpreendentemente, não se sentia incomodada. Murmurou em seu peito:
— Vossa Majestade me trata com tanta intimidade... como trata a Senhora Gu.
Chu Xiang parou por um momento, e uma voz grave ecoou sobre a cabeça dela:
— Você tem inveja dela?
Aquela cabecinha se moveu duas vezes sobre o peito dele em sinal de concordância.
Chu Xiang ficou um pouco surpreso — não esperava que ela, sempre tão contida e indiferente, também fosse capaz de sentir inveja. Ao lembrar do olhar que ela lançou a ele e Ye Sitian na porta da Residência Ye naquela noite, percebeu que esse tipo de sentimento talvez já tivesse aparecido antes… apenas camuflado sob sua habitual reserva.
Dizem que os embriagados falam a verdade — e de fato falam.
Chu Xiang passou a mão pelas costas finas dela e disse com firmeza:
— Tudo o que dei a ela, também darei a você.
Yue Lingxi pareceu se acalmar. Virou levemente o corpo, tentando se deitar mais para o lado. Mas, assim que se moveu, soltou um soluço pequeno e inesperado. Demorou alguns segundos para reagir, então cobriu a boca com lentidão, levantando a cabeça para olhar discretamente para Chu Xiang.
Ele viu cada um dos movimentos com clareza — e, de repente, uma onda inexplicável agitou seu peito.
O que ele estava sentindo ali não era só ternura — era encantamento genuíno por um lado dela que nunca havia se revelado com tanta naturalidade.
Ele nunca a tinha visto tão fofa antes. 
Chu Xiang de repente se virou e a pressionou contra si. Ele queria beijar seus lábios, mas tinha medo de assustá-la, então mudou de posição e beijou sua testa levemente, como se fossem penas caindo. Ela se encolheu um pouco e então levantou a mão para tocá-lo. 
— Majestade, você tem cócegas...
As pontas dos dedos macios dela deslizaram do queixo dele até o pescoço e se demoraram na barba por fazer por um tempo. Ela o tocou com tanta força que ele não pôde deixar de se sentir excitado e sua respiração ficou mais pesada. Ele não pôde deixar de se abaixar para morder o lóbulo da orelha dela, e de repente ela soltou um gemido suave, sem aviso prévio, completamente sem reservas, que chegou aos seus ouvidos, causando um grande impacto.
Chu Xiang se apoiou nela sem se mexer, com a voz baixa e contida:
—  Xi Xi, você gosta assim?
Yue Lingxi olhou para ele com olhos embriagados, e levou um bom tempo para entender o que ele queria dizer. Ela emitiu um único som e, impacientemente, se contorceu algumas vezes. Inesperadamente, tocou acidentalmente em uma área sensível, e ele imediatamente mudou de expressão.
—  Não se mexa, Xi Xi.
O corpo de Chu Xiang reagiu, e seus olhos ardiam enquanto a olhava, como se estivesse à beira de algo. Ela inclinou a cabeça e ficou em silêncio por um momento, como se sentisse algo, e então disse algo chocante. 
— Majestade, você me quer?
Chu Xiang imediatamente enlouqueceu: 
— Quem lhe ensinou esta frase?
— Foi Xiang Xiang quem disse.
Yue Lingxi riu e acenou com os dedos, dizendo seriamente: 
— Foi durante o treino militar naquele dia. Xiang Xiang estava muito bravo e me disse com uma cara severa...
Agora mesmo, ele pensou que ela estava sóbria, mas parece uma ilusão. 
Chu Xiang sentiu-se fraco por um momento, permitindo que ela se tornasse mais enérgica em seu abraço. Ele liberou uma das mãos para afastar os cabelos desgrenhados, revelando um rosto tão brilhante quanto a lua prateada. Seus movimentos eram gentis e cheios de afeto. 
— Mais tarde, minha irmã veio ao palácio me ver, e eu perguntei a ela o que aquilo significava.
 Yue Lingxi subitamente baixou a voz e disse misteriosamente: 
— Ela ficou com raiva, corou como um camarão e até disse que queria me levar embora... 
— Ela lhe disse a resposta?—  Chu Xiang perguntou com a voz rouca.
 Yue Lingxi disse com uma voz firme: 
— Sim, significa fazer coisas íntimas!
Ao ouvir isso, Chu Xiang fechou os olhos e sentiu vontade de desmaiar, incapaz de se levantar.
Ele sabia que ela era inexperiente nos costumes do mundo e não tinha noção de amor e desejo entre homens e mulheres, razão pela qual ousou seduzi-la de forma tão ousada e imprudente, esperando que essa forma íntima de interação se tornasse gradualmente um hábito e que ela não se sentisse desconfortável. 
Agora que esse fino véu foi rompido, ela subitamente compreende que a interação normal entre homens e mulheres não deveria ser assim. Será que ela se afastaria instantaneamente a vários quilômetros de distância e manteria uma distância segura dele a partir de agora? 
Por um momento, o palácio ficou quieto e silencioso. Chu Xiang deitou-se sobre o corpo de Yue Lingxi, sentindo o luar frio brilhar em seu peito e fazê-lo estremecer. De repente, uma pequena mão cobriu suas costas e as acariciou suavemente, transmitindo uma sensação de conforto. 
— Majestade, eu concordo.
Chu Xiang estremeceu violentamente e sentou-se rapidamente, olhando para ela. 
— Xi Xi, o que você disse?
Yue Lingxi disse suavemente: 
— Majestade, meu coração é leal a você, e meu corpo também deve ser. O que você quiser, eu lhe darei.
Suas palavras carregavam um toque de embriaguez, murmuradas como se estivessem em um sonho, mas seus olhos brilhavam intensamente como a lua brilhante. 
Ele não queria decifrar a lógica por trás das palavras dela naquele momento, apenas sentindo uma onda de emoções que fez seu coração tremer. Incapaz de se conter, ele se inclinou para beijar os cantos rosados ​​dos olhos e as sobrancelhas dela.
Yue Lingxi aceitou calmamente seu profundo afeto, mas quando seu coração começou a ferver com pensamentos insuportáveis, ela sussurrou em seu ouvido: 
— Majestade, nesta vida, sou leal apenas a você.
— Eu sei.
Chu Xiang enterrou a cabeça e a beijou, abrindo delicadamente seus lábios e dentes, sugando o néctar infinito. Sua língua estava ligeiramente fria, mas envolvida pelo hálito escaldante, ela instantaneamente ficou quente e sem fôlego. Em vez de se sentir desconfortável, ela instintivamente o acomodou, permitindo que ele a penetrasse mais profundamente e se fundisse a ela. 
No entanto, mesmo com o corpo rígido como aço, Chu Xiang apenas a segurou nos braços e lhe deu um beijo — não foi além disso.
Embora Yue Lingxi ainda fosse inocente aos costumes do mundo, ela sabia que aquilo não era exatamente comum. Abriu os olhos turvos com esforço e conseguiu sussurrar algumas palavras:
— Vossa Majestade... não me deseja?
Sua voz era entrecortada, misturada com murmúrios inconscientes — confusa, doce, quase infantil. Ao ouvir aquilo, o coração dele disparou, beirando o descontrole. Por fim, respirou fundo, segurou o rosto delicado dela com firmeza e a encarou com intensidade, como se quisesse cravar cada palavra na alma dela.
— Xi Xi, quero que me olhe com clareza... e veja com sobriedade o quanto eu te desejo.

Postar um comentário

0 Comentários