Capítulo 28: Lisonjas e Bajulações
Assim como o homem dissera, não demorou muito depois que Han Yan partiu para que ela encontrasse um belo jardim do palácio. Do lado de fora, duas criadas varriam o chão e, após conversar com elas, uma das moças a guiou até o Jardim das Ameixeiras.
Ji Lan e Shu Hong já estavam ansiosas e correram para encontrá-la assim que a viram de longe.
— Jovem senhorita, você voltou! A culpa é toda minha por não tê-la acompanhado. Este palácio profundo não é lugar para se andar sozinha. Aconteceu alguma coisa com você?
Han Yan sorriu e balançou a cabeça.
— Estou bem.
Deng Chan também se levantou, segurando sua mão com preocupação.
— O que aconteceu? Há pouco sua irmã veio dizendo para você esperá-la do lado de fora da sala de limpeza, e de repente você sumiu. A senhorita Li até mandou alguém procurá-la.
Han Yan arqueou uma sobrancelha.
— Senhorita Li? Qual senhorita Li?
Deng Chan respondeu:
— Aquela sentada ao lado da sua irmã, a filha do Chanceler da Direita.
Só então Han Yan direcionou o olhar para aquele lado. As jovens damas ao redor não prestaram muita atenção quando ela voltou, mas agora, ao observar melhor, percebeu que o rosto de Zhuang Yushan havia empalidecido. Quando seus olhos se encontraram, Zhuang não conseguiu sustentá-los, claramente tomada pela culpa.
Han Yan entendeu na hora e avistou a jovem ricamente vestida ao lado dela, que a encarava com raiva e ressentimento no olhar.
Que estranho. Ela nem conhecia essa senhorita Li. Se estava defendendo Zhuang Yushan, não havia motivo para tanto ódio. Será que esqueci de algo?
Pensando com cuidado, Han Yan tinha certeza de que não havia tido qualquer conflito com essa senhorita Li. Justo quando refletia sobre isso, a tal moça falou:
— Como foi que a senhorita Zhuang se perdeu? Este palácio não é como o mundo lá fora; perambular sem rumo pode causar problemas. Você encontrou alguma dificuldade?
Com essa pergunta, muitos dos olhares se voltaram para Han Yan. Até mesmo a imperatriz, que conversava com uma dama nobre, sutilmente voltou sua atenção para ela. O movimento de servir o chá parou por um instante, como se estivesse atenta à situação.
Han Yan franziu as sobrancelhas. Aquilo dava a entender que ela não conhecia as regras e estava vagando pelo palácio, insinuando que talvez tivesse se metido em encrenca. A imperatriz notara sua presença, e se ela fosse suspeita de ter ido a algum lugar sigiloso, deixaria uma má impressão entre certos membros da corte. Precisava encontrar uma forma de se desvincular daquilo.
Diante dos olhares curiosos ao redor, Han Yan suspirou e fingiu-se de ofendida, dizendo:
— É verdade! A irmã Yushan trouxe apenas uma criada consigo, e essa criada a acompanhou até a sala de limpeza. Eu fiquei do lado de fora, sozinha, esperando por muito tempo e sem vê-la sair. Estava entediada demais! Então, por acaso, vi um pardal-dourado voar por ali e, movida pela curiosidade, corri atrás dele. Não esperava... não esperava me perder. — Han Yan sorriu timidamente. — Felizmente, logo encontrei uma criada que me trouxe até aqui.
Acrescentou, com um toque de admiração inocente:
— Existem tantas coisas raras neste palácio! Só havia visto pardais-dourados em livros, mas hoje pude ver um com meus próprios olhos. A imperatriz e Sua Majestade realmente têm a bênção dos céus; até essa ave auspiciosa veio nos visitar. Nossa grande nação floresce como a primavera e o outono!
Com seus dois coques redondos e o rostinho levemente corado e arredondado, ela parecia uma pequena deusa esculpida em jade, encantadora e adorável. Sua voz era clara e animada, vibrando com entusiasmo.
Suas palavras foram inteligentes; ao dizer que Zhuang Yushan levou apenas uma criada, e essa criada entrou com ela, isso destacava que Han Yan fora deixada sozinha ao frio. Qualquer um com discernimento perceberia o que realmente havia acontecido. Em um instante, os olhares das jovens ao redor de Zhuang Yushan se tornaram mais críticos, agora carregando certo desdém.
Contudo, a imperatriz ficou visivelmente satisfeita com a repetida menção de Han Yan à “bênção divina”. Um sorriso alegre desabrochou em seu rosto enquanto acenava para ela:
— Boa menina, venha até este palácio.
A esperta Han Yan se aproximou, e a imperatriz gentilmente acariciou sua cabeça, com a voz um pouco apressada ao perguntar:
— Você viu mesmo o pardal-dourado?
Han Yan, sentindo-se tímida e encantada ao mesmo tempo, respondeu:
— Vi sim! Foi a primeira vez que vi um, por isso fiquei tão animada que acabei me perdendo. — Olhou cautelosamente para a imperatriz e completou: — As penas do pardal são douradas e brilhantes, meio parecidas com a borda do seu vestido, Vossa Majestade.
Assim que terminou de falar, uma voz aguda interrompeu:
— Que ousadia! Como pode comparar Sua Majestade a uma besta?
Han Yan ergueu os olhos e viu a senhorita Li ali parada, com o rosto carregado de raiva.
A imperatriz abanou a mão, levemente descontente:
— Jia Qi, como pode uma jovem dama ser tão imprudente? Deixe a senhorita Zhuang terminar o que está dizendo.
Han Yan fez um leve biquinho, com o rostinho sério, e declarou:
— O pardal-dourado não é uma besta! Minha mãe sempre disse que ele é a encarnação de um espírito guardião. Onde há um pardal-dourado, há bênçãos e filhos prósperos. Eu apenas achei que Vossa Majestade também é uma pessoa abençoada. Ao longo dos anos, tem auxiliado o imperador, e por isso nosso império prospera. Além disso, aquela cor nobre das penas se assemelha muito à de Vossa Majestade. Nesse sentido, Vossa Majestade é como o pardal-dourado do mundo mortal — só que, enquanto o pardal protege as pequenas famílias, Vossa Majestade protege as grandes!
Como mulher, era natural que a imperatriz gostasse de elogios, e as damas presentes sempre tentavam bajulá-la de várias maneiras, mas nenhuma com a esperteza de Han Yan. Suas palavras exaltavam a posição nobre da imperatriz, sua graça natural e até sua fortuna para o império. Sendo a principal figura entre os seis palácios, a imperatriz já ouvira muitas lisonjas ao longo dos anos, mas nunca alguém as dissera de forma tão agradável. O elogio grandioso de Han Yan a fez sorrir abertamente. Ao olhar para o rostinho inocente da menina, não pôde deixar de sentir mais afeto:
— Que criança... o que está dizendo? A estabilidade do país vem das bênçãos do imperador; os oficiais e soldados são os verdadeiros guardiões da nação. Eu sou apenas uma mulher; como poderia ter tais habilidades?
Inclinando levemente a cabeça, Han Yan ouviu de repente uma risada calorosa atrás de si:
— Zitong, não precisa ser tão modesta. Eu acredito no que essa menina disse. Você realmente é minha estrela da sorte!
Han Yan ergueu o olhar e viu o imperador se aproximando com alguns parentes, claramente tendo ouvido suas palavras anteriores.
A imperatriz ficou surpresa, um brilho de espanto surgiu em seus olhos, e rapidamente se curvou:
— Sua serva presta reverência a Vossa Majestade.
As damas ao redor também se ajoelharam apressadamente para prestar homenagens, mas o imperador parecia muito satisfeito:
— Não precisam de tanta formalidade. — Em seguida, virou-se para a imperatriz e disse: — Zitong, ouvi as palavras da moça Zhuang. Parece que este ano nosso império prospera tanto que até uma ave auspiciosa veio nos visitar.
A imperatriz sorriu levemente:
— Tudo graças ao governo sábio de Vossa Majestade.
O imperador a olhou com satisfação:
— Você também tem mérito nisso!
Fazia muito tempo que o imperador não falava com tamanha gentileza com ela. A imperatriz sentiu um calor de felicidade tomar conta de si, seu rosto corou, e quando olhou para Han Yan, que sorria ao seu lado, seu olhar se tornou ainda mais amável.
Capítulo 29: Os Talentos da Capital
Encontrar o imperador durante o evento de apreciação das ameixeiras causou um pequeno alvoroço. Ele permaneceu por um momento antes de partir, e o jardim das ameixeiras logo voltou à sua animação anterior.
Han Yan sentou-se ao lado da imperatriz, conversando obedientemente com ela. Após o incidente, o modo como as damas ao redor olhavam para Han Yan mudou; algumas até demonstravam vontade de se aproximar e bajulá-la.
Do início ao fim, Han Yan manteve um sorriso no rosto, e suas respostas às palavras da imperatriz eram extremamente agradáveis. Com seu comportamento adorável, conquistou genuína afeição da imperatriz.
Por outro lado, a expressão de Zhuang Yushan tornara-se extremamente desagradável. Ela não esperava que seu plano não só fracassasse em colocar Han Yan em seu devido lugar, como ainda lhe desse uma oportunidade de brilhar. O imperador elogiara Han Yan várias vezes antes de partir, e agora a imperatriz até a deixara sentar-se ao seu lado, o que despertou um lampejo de ciúme nos olhos de Zhuang Yushan.
Enquanto isso, tia Zhou entretinha-se conversando com as outras damas. Embora secretamente ressentisse da boa sorte de Han Yan, era mais importante preparar o caminho para Zhuang Yushan. Oportunidades de entrar no palácio eram raras e deviam ser aproveitadas.
Embora Han Yan conversasse e risse, não deixou de observar a senhorita Li. Li Jia Qi não parava de encará-la, e Han Yan sentia nitidamente sua hostilidade, ficando ainda mais intrigada.
Não há hostilidade sem motivo... Por que Li Jia Qi está me mirando?
Se a animosidade de Li Jia Qi era evidente, outro olhar penetrante aumentava ainda mais a pressão sobre Han Yan.
Ao pegar um pedaço de doce, Han Yan escondeu seus pensamentos e lançou um olhar sutil para a Imperatriz Viúva, que estava ao lado da senhora Li.
O que aquele olhar representava era um mistério para Han Yan. No entanto, desde o momento em que conhecera a Imperatriz Viúva, sua atitude fora bastante intrigante. A pulseira de jade em seu lenço de seda parecia ficar cada vez mais quente.
Por mais que pensasse, Han Yan não conseguia entender, então decidiu deixar o assunto de lado e concentrar-se em apreciar as flores de ameixeira. As ameixeiras brancas daquele jardim eram belas, mas empalideciam diante do esplendor do bosque de ameixeiras vermelhas. Considerando que o palácio possuía paisagens tão estonteantes, era curioso que a imperatriz escolhesse apreciar aquelas flores em específico — a menos que aquele lugar não fosse acessível a pessoas comuns, ou estivesse ligado a algum segredo.
Han Yan não tinha interesse em segredos ao seu redor; de modo geral, quanto mais segredos se conhece, mais cedo se encontra a morte. Em vez disso, lembrou-se do homem bonito de antes, e a imagem de si mesma escondida sob seu manto surgiu em sua mente, fazendo-a corar.
Se ele se movia tão livremente pelo palácio, deve ocupar um cargo de alto escalão... Espero não encontrá-lo novamente; não quero levar outra mordida de frio.
O tempo dedicado à apreciação das ameixeiras passou rapidamente, e logo o céu escureceu. A imperatriz se levantou e sorriu para todas as presentes:
— Está ficando tarde. O banquete do palácio provavelmente já está pronto. Vamos nos encaminhar.
Han Yan olhou para a imperatriz; seu convite soava caloroso e natural, como se fosse apenas a esposa de um funcionário qualquer, e ainda assim, sua postura graciosa e nobre condizia perfeitamente com a posição de imperatriz dos seis palácios.
Com a cabeça levemente inclinada em contemplação, Han Yan pensou que, se conseguisse aprender a mesma compostura da imperatriz, talvez isso lhe fosse útil no futuro.
Em seguida, caminhou junto às outras damas em direção ao salão do banquete.
O banquete estava montado diante do salão principal, onde havia sido escavado um longo lago. Em ambos os lados do lago, pequenas lanternas de cerâmica vidrada, moldadas como tartarugas douradas, foram dispostas. Quando acesas, suas luzes se refletiam lindamente na água.
O céu estava escuro, sem estrelas nem lua, e uma espessa camada de neve cobria o chão por milhas. Grandes lanternas vermelhas penduradas nos beirais lançavam uma luz alegre e carmesim, iluminando a paisagem nevada. As criadas do palácio ao redor vestiam pequenos casacos idênticos e carregavam bandejas de prata, recepcionando as damas com respeito.
O salão principal estava dividido em seções para convidados masculinos e femininos, mas, por se tratar de uma celebração real, não havia biombos os separando. As jovens presentes exibiam expressões de expectativa, os olhos brilhando de animação, embora mantivessem a cabeça baixa por cortesia, sem ousar olhar ao redor livremente.
Deng Chan cutucou o braço de Han Yan:
— Ouvi dizer que o general Cheng retorna hoje. Finalmente vamos poder ver o poder desse valente general!
Han Yan a olhou e sorriu:
— Ele tem dois olhos e uma boca como qualquer outro. Qual é a graça disso? O que há para ver?
Deng Chan discordou:
— Mas ele é o general que expulsou os Tártaros do Noroeste! Meu pai disse que, desde a fundação da dinastia, ninguém os havia expulsado de forma tão completa; ele foi o primeiro a conseguir isso com apenas vinte e um anos!
Han Yan lançou um olhar pensativo para Deng Chan e notou sua empolgação ao mencionar o general Cheng. Brincou:
— Você parece saber bastante sobre ele... Será que está interessada?
Deng Chan congelou, o rosto ficando vermelho de vergonha e raiva. Empurrou Han Yan:
— Para de falar besteira! Quem te ensinou a ser tão atrevida? Que tipo de conversa é essa!
Han Yan riu e pediu clemência. Após alguns momentos de brincadeira, Deng Chan continuou:
— Falando nesse banquete do palácio, teremos a chance de conhecer muitas figuras importantes. O general Cheng é uma delas, mas há outras.
— Outras? — Han Yan perguntou com desinteresse aparente.
Zhuang Shiyang mal tinha contato com ela, e raramente falava sobre assuntos da corte ou da vida cotidiana. No entanto, Deng Chan, sendo a queridinha do ministro Deng, frequentemente era informada sobre diversos assuntos importantes. Ao ouvir a pergunta de Han Yan, respondeu com entusiasmo:
— As figuras jovens de destaque na capital incluem o príncipe Xuanqing, o herdeiro do príncipe Wei, o jovem mestre da família Helian, o general Cheng e o homem mais rico de todos, Jiang Yulou.
Ao ouvir o nome Wei Ru Feng, Han Yan hesitou e logo esboçou um sorriso amargo. Aos olhos do mundo, Wei Ru Feng era de fato um talento raro, mas aquele jovem prodígio já lhe oferecera uma taça de vinho envenenado em sua vida passada.
Deng Chan, alheia à expressão de Han Yan, continuou:
— Jiang Yulou não veremos hoje, já que é um comerciante e não pode entrar no palácio. Mas os outros com certeza encontraremos.
O coração de Han Yan afundou. Isso significava que ela veria Wei Ru Feng no banquete. A ideia a deixava inquieta.
— Você já conhece o general Cheng, e quanto ao jovem mestre da família Helian, dizem que ele é excepcionalmente bonito — mais bonito que muitas mulheres. Mas sua reputação não é das melhores.
Enquanto ouvia Deng Chan, Han Yan se lembrou da figura marcante do jovem vestido de vermelho. Aquele rosto encantador e sedutor realmente merecia o título de “beleza incomparável”, e ela não conseguiu conter um riso.
Ao vê-la rir, Deng Chan achou que ela estava interessada no assunto e ficou ainda mais animada:
— E também tem o herdeiro do príncipe Wei, Wei Ru Feng. Ele é gentil, com aparência e caráter excepcionais, um verdadeiro cavalheiro.
Cavalheiro? Han Yan puxou o canto da boca, sem saber como reagir ao elogio de Deng Chan.
— Mas o mais popular de todos é o príncipe Xuanqing! — disse Deng Chan, com admiração. — Ele foi para o campo de batalha aos quatorze anos e dizem que é mestre do general Cheng. Só de imaginar... Se o general Cheng já é tão impressionante, o príncipe Xuanqing deve ser ainda mais formidável. Meu pai disse que o príncipe Xuanqing detém grande poder na corte; até o imperador precisa respeitá-lo. Embora talvez não seja tão bonito quanto He Lian Yu, seu carisma supera isso. Todas as moças da capital que o viram se apaixonaram por ele, mas, infelizmente... — aqui, Deng Chan baixou a voz — ouvi dizer que ele gosta de homens .
Han Yan ficou surpresa e então caiu na risada.
Deng Chan parou e perguntou:
— Por que está rindo?
Han Yan balançou a cabeça:
— Estava só pensando... Se ele é mesmo tudo isso que você diz, é uma pena que tenha esse... “defeito” aos olhos das outras.
Deng Chan fez um biquinho:
— Não é?
Han Yan ficou pensativa. Já havia conhecido as figuras mais proeminentes da capital — Wei Ru Feng, He Lian Yu e Jiang Yulou — mas agora estava curiosa quanto aos outros dois.
Foi então que ouviram a voz aguda de um eunuco na entrada:
— O imperador chegou...
Instintivamente, Han Yan virou a cabeça e avistou imediatamente o imperador, vestindo um deslumbrante manto amarelo com dragões, cercado por vários ministros, entrando no salão.
Capítulo 30: Então era ele
Assim que o Imperador entrou, todos os presentes se curvaram em sinal de respeito. O Imperador fez um gesto para que se levantassem e então tomou seu assento ao lado dos ministros, do outro lado do salão.
Havia duas longas e luxuosas mesas de banquete, com homens e mulheres sentados separadamente, divididos por um delicado biombo translúcido de peônias em vidro. O Imperador e a Imperatriz estavam lado a lado em altas cadeiras de dragão, seguidos pelos oficiais da primeira à quinta patente e suas famílias, conforme a ordem hierárquica.
Assim que os homens se acomodaram, o lado das mulheres caiu em silêncio. A atmosfera animada que preenchia o salão esvaneceu. As damas nobres instintivamente baixaram o tom de voz, passando a exibir deliberadamente um comportamento elegante em seus gestos. As jovens, coradas, mantinham os olhos baixos, mas de vez em quando lançavam olhares furtivos para a mesa dos homens.
Com a separação entre os sexos, era raro que as jovens tivessem a oportunidade de ver tantos homens reunidos. As que já estavam em idade apropriada, compreendendo as intenções de suas mães, observavam silenciosamente os possíveis maridos entre eles.
Han Yan sentia-se entediada, até que avistou Ming Ge’er do outro lado da mesa, que logo lhe piscou um olho. Instantaneamente, seu coração se aliviou e ela retribuiu o gesto com um sorriso radiante.
Porém, no instante em que seu sorriso surgiu, ele encontrou um olhar peculiar. Seguindo aquela direção, Han Yan levou um susto — era ele?
He Lian Yu estivera extremamente relutante em comparecer àquele banquete tedioso, mas acabou cedendo após ser repreendido pelos pais e ao saber que Fu Yunxi e Cheng Lei também estariam presentes.
Contudo, desde que se sentara, inúmeros olhares vindos do lado das damas estavam constantemente voltados para ele, grudando-se como cola. Ele já estava acostumado com esse tipo de olhar — não passavam de admiração e reverência. Aquelas jovens, normalmente gentis e recatadas, agora o encaravam com a intensidade de lobas famintas diante de um pedaço de carne suculenta, o que o deixava tanto incomodado quanto enojado.
Virou o rosto, evitando os olhares, e acabou vendo uma jovem sorrindo para ele — o que o fez congelar por um instante.
Apesar de o sorriso da garota ser encantador, ele sentiu apenas irritação, achando que ela era mais uma das que o adoravam pela aparência. Não conseguiu conter um olhar de desprezo que lançou de volta para ela.
Han Yan ainda estava perdida em pensamentos, observando o deslumbrante jovem de vermelho, se perguntando se He Lian Yu a havia reconhecido. Foi então que o viu olhando para ela, com os olhos claramente carregados de desdém.
A princípio, Han Yan ficou confusa, depois, incrédula. Ao perceber que outras jovens ao seu redor também lançavam olhares sutis em direção a He Lian Yu, ela refletiu por um momento e começou a entender. Parece que ele me confundiu com uma dessas garotas que o admiram. Mas eu estava sorrindo para o Ming Ge’er — que narcisismo absurdo!
De fato, He Lian Yu era extraordinariamente bonito — tão belo que parecia de outro mundo. Como homem, exalava um charme natural, quase como um espírito encantador ou um ser celestial, capaz de seduzir qualquer moça comum com um simples sorriso. Isso era inegável; He Lian Yu com certeza tinha vasta experiência com mulheres, nunca tendo tropeçado em assuntos do coração, o que explicava tamanha arrogância.
Mas ele não sabia que Han Yan, tendo aprendido com as lições de sua vida passada, havia compreendido uma verdade fundamental: as aparências enganam. Alguém bonito por fora podia ser terrivelmente podre por dentro. E alguém de aparência desagradável talvez não fosse tão horrível quanto aparentava. Wei Ru Feng, por exemplo, parecia gentil e refinado, um verdadeiro cavalheiro — e ainda assim foi capaz de ver sua nova esposa morrer sem sequer esboçar emoção. O que as aparências poderiam representar neste mundo, afinal?
Por isso, nesta vida, Han Yan mantinha uma cautela tripla diante das coisas belas. Assim, a aparência estonteante de He Lian Yu, que num primeiro momento a cativou, logo se tornou desinteressante a seus olhos.
Pensando nisso, Han Yan lançou-lhe um olhar calmo, abaixou a cabeça e assumiu uma postura dócil.
No entanto, He Lian Yu a observava diretamente. Quando a jovem encontrou seu olhar, ficou levemente surpresa antes de baixar a cabeça novamente. Mas o último olhar que ela lhe dirigiu parecia carregar um leve traço de zombaria.
Devo estar imaginando coisas, pensou He Lian Yu. Ao ver que Han Yan não levantava mais a cabeça, sentiu-se aliviado e passou a conversar com seus irmãos.
A atmosfera do banquete no palácio não era das mais calorosas, devido à postura reservada do imperador e da imperatriz. Embora os oficiais tentassem se mostrar animados, seus gestos ainda transpareciam formalidade. O imperador e a imperatriz mantinham expressões neutras, quase sem esboçar alegria.
Han Yan achou estranho o banquete não ter clima festivo — era realmente esquisito.
Ainda imersa nessas reflexões, ouviu de repente a voz de um jovem eunuco ressoar alto:
— Príncipe Xuanqing, General Cheng chegaram…
O sorriso do imperador surgiu imediatamente:
— Que entrem!
Dois homens altos e imponentes adentraram o salão, trazendo consigo um frio que lembrava a queda da neve. Aproximaram-se do salão principal e se curvaram:
— Este súdito saúda Vossa Majestade!
Diferente da primeira voz, que era firme e clara, a segunda era fria e profunda, atingindo os ouvidos de Han Yan como um trovão, deixando-a atônita por um longo tempo:
— Este ministro saúda Vossa Majestade!
— Não precisam de tanta formalidade. Levantem-se.
Han Yan ergueu os olhos de repente e viu aquela figura alta em pé no salão — elegante, refinada, com uma aura de nobreza. O manto familiar e imponente de pele de leopardo-das-nuvens escuras repousava sobre seus ombros, carregando um leve frio úmido de inverno que a atingiu com uma onda de reconhecimento.
O homem misterioso do bosque de ameixeiras era, na verdade, o Príncipe Xuanqing, Fu Yunxi!
Han Yan o encarava fixamente de costas, com os punhos cerrados dentro das mangas. Estar enredada com alguém de status tão elevado… será isso uma bênção ou uma maldição?
Deng Chan percebeu algo estranho em Han Yan. Ao vê-la fixada em Príncipe Xuanqing no salão, inclinou-se para seu ouvido e provocou:
— E não era você quem estava me repreendendo? Agora parece que foi quem caiu primeiro. Não fique encarando assim não. Cuidado, ou sua tia vai ver e arrumar confusão.
O rosto de Han Yan ficou corado. Estava prestes a retrucar, mas percebeu que Deng Chan falava com sinceridade. A família Zhou a observava com atenção, ávida para flagrar qualquer deslize. Se notassem seu momento de distração, seria um desastre. Assim, abaixou a cabeça, concentrando-se nas folhas de chá verde que giravam lentamente em sua xícara.
Deng Chan soltou uma risadinha e cutucou Han Yan:
— Boba, acredita em tudo. Um olhar não vai te matar. Olha ao redor, todas as moças aqui estão encarando. Um par de olhos a mais não vai fazer diferença.
Han Yan ficou surpresa e ergueu os olhos. De fato, as jovens aristocratas ao redor estavam todas coradas enquanto olhavam fixamente para o Príncipe Xuanqing, enquanto o pobre General Cheng era completamente ignorado. Os olhares apaixonados não eram menores do que quando viram He Lian Yu pela primeira vez — na verdade, agora estavam até mais ousadas!
Han Yan não pôde deixar de se lembrar do que Deng Chan havia dito: ele era o mais comentado da capital. Embora o Príncipe Xuanqing não fosse tão bonito quanto He Lian Yu, nem tão gentil quanto Wei Ru Feng, nem tão despreocupado quanto Jiang Yulou, nem tão valente quanto Cheng Lei, havia nele uma graça e um encanto que não precisavam de enfeites. Se ela tivesse que descrevê-lo com uma palavra, seria incomparável.
E mesmo com todas essas qualidades, aquele olhar frio e glacial era o bastante para intimidar qualquer um. Como pode haver tantas mulheres apaixonadas por ele? Enquanto pensava nisso, Han Yan continuava encarando suas costas, repleta de confusão.
Nesse momento, ele virou levemente a cabeça, e um brilho enigmático passou por seus olhos escuros, pousando quase imperceptivelmente sobre Han Yan.
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