Capítulo 28 ao 31.1


 Capítulo 28 – Armadilha de Mel

Com a ajuda entusiasmada dos curiosos ansiosos por um bom espetáculo, o “ladrão” foi escoltado rapidamente até a Delegacia Metropolitana, sem sequer ter a chance de se defender.

Ao ver Fuyi entre a multidão, o magistrado sentiu o estômago afundar. Será que esse caso também tem a ver com a minha “sobrinha”?

— Senhor — disse Fuyi, avançando. Primeiro fez uma reverência respeitosa, como uma júnior diante de um ancião, e então lançou uma apaixonada condenação aos atos desprezíveis do ladrão, além de expressar profunda gratidão aos bons samaritanos que haviam vindo em seu auxílio.

A multidão reunida na delegacia assentia em aprovação. Sim, sim, somos mesmo pessoas bondosas e justas!

— Meritíssimo, este plebeu é um estudioso — começou o estrategista, adotando um ar sincero. — Jamais me rebaixaria a atos tão vis como o roubo. Deve haver algum mal-entendido. Peço, por favor, que o meritíssimo investigue a fundo.

— Mal-entendido? — zombou alguém na multidão. — Aquela bolsa enorme de prata caiu bem da sua manga. Como pode ser mal-entendido?

— Se não fosse pelos olhos atentos desta jovem, você já teria fugido com ela!

— É isso aí! Todos nós vimos! Aquela bolsa estava entupida de prata!

Se fosse apenas uma bolsinha de moedas, talvez nem tantos curiosos se reunissem; mas era uma bolsa tão grande e cheia de prata que ninguém conseguia ignorar.

— Estamos em meio a um julgamento. Silêncio! — ordenou o magistrado, acalmando o burburinho fora do salão e voltando-se para o estrategista ajoelhado. — Quem é você? De onde vem?

— Este plebeu não é natural da capital — respondeu o estrategista, assumindo o ar de um estudioso honesto. — Tendo falhado várias vezes nos exames imperiais, vim à capital em busca de sustento. Atualmente, trabalho como administrador da propriedade suburbana do Marquês Gongping. — Lançou um olhar sutil para Fuyi, tentando dissipar quaisquer suspeitas que ela pudesse ter.

Após a rebelião de seu pai, o Marquês Gongping não fazia mais parte da família imperial. Já não podia empregar pessoal do palácio e era obrigado a contratar por conta própria. Por isso, não havia nada de estranho em ter contratado um estudioso da província para administrar sua propriedade.

— E o que ser administrador da propriedade de um marquês tem a ver com roubar uma bolsa? — pressionou Xiayu. — Há mais de um mês, você vem se disfarçando de feirante ou vendedor de legumes, rondando o Distrito Leste. Isso também faz parte das funções de um administrador?

A expressão do estrategista vacilou. Pensava ter se escondido bem, mas aquela criada o havia desmascarado.

O magistrado, experiente em sua função, percebeu logo que havia mais por trás da história. Ao examinar o suspeito, notou que a pele do homem era lisa, os dentes limpos e as mãos livres de calosidades ou marcas de trabalho braçal. Sua aparência refinada indicava que estava mais acostumado a ser servido do que a servir.

— Senhorita, este humilde plebeu não entende do que está falando — disse o estrategista, com indignação. — Já é um absurdo me acusarem de roubo, mas agora também me difamam com acusações infundadas? Pela sua aparência, vê-se que é de família nobre. Vai usar seu status para oprimir os outros e forçar uma confissão?

— Qual a pressa? Ainda nem dissemos muita coisa — retrucou Xiayu, vendo claramente a tentativa de se fazer de vítima, guiando a opinião dos presentes para gerar simpatia. Assim, os três passariam por tiranos que abusavam do poder para intimidar um plebeu inocente. Infelizmente para ele, elas já tinham visto truques muito mais ardilosos durante o tempo em Chongzhou.

Comparado àquilo, o truque dele não valia nada.

— Nossa senhorita vive na capital há muitos anos e jamais usou sua posição para oprimir alguém. Por que começaria agora? — rebateu Xiayu. — Talvez devesse refletir sobre seus próprios atos antes de culpar os outros por ter sido pego em flagrante.

— Meritíssimo, este plebeu pode testemunhar a favor da jovem! — disse uma garota com um cesto de flores, saindo da multidão. — Ela é uma pessoa bondosa. Meses atrás, fui assediada por uns homens e ela me salvou. Ainda me acompanhou até em casa.

Era a mesma vendedora de flores que Fuyi salvara durante o Festival das Lanternas, após derrotar Wang Yanhe e seu grupo.

— Meritíssimo, este plebeu também pode testemunhar! — exclamou outra mulher. — Um tempo atrás, um oficial nos expulsou do bosque de pereiras e deixou minha filha chorando de medo. Essa jovem nos defendeu e buscou justiça.

O magistrado recordou o incidente. Aquele oficial, Lu Tanhua, fora destituído pelo próprio Imperador e enviado de volta à sua cidade natal, em Lingbei.

Ao ver aquilo, o coração do estrategista afundou. Fuyi não era pra ser uma encrenqueira notória? Como é que tantas pessoas estão vindo em defesa dela? Será que foram contratadas?!

Acostumado a viver no submundo das tramas e intrigas, o estrategista jamais imaginou que alguém lidaria com ele de forma tão direta — acusando-o de furto e submetendo-o a um julgamento público.

Com mais testemunhas surgindo em defesa do caráter de Fuyi, o olhar do magistrado suavizou ao fitá-la. Batendo o martelo de madeira, ele vociferou para o estrategista:

— Vai confessar o crime de furto ou será necessário extrair a verdade à força?

Pelas leis da Grande Dinastia Long, o roubo era punido com vinte chibatadas. Confessar significava aceitar o castigo, mas negar poderia levar a uma investigação mais profunda — e o risco de que outros segredos viessem à tona.

O suor escorria pela testa do estrategista. Agora, sua única esperança era que Ning Wang notasse seu sumiço e enviasse alguém para resgatá-lo. Então, cerrou os dentes e continuou se defendendo, decidido a ganhar tempo até a chegada dos homens de Ning Wang.

“Oh? Está esperando que Ning Wang venha te salvar?” Fuyi apenas sorriu, indiferente às tentativas de procrastinação. Ela tinha todo o tempo do mundo.

— Wangye, aconteceu uma coisa!

A essa altura, Ning Wang já estava insensível a esse tipo de urgência. Pousou calmamente a xícara de chá e perguntou:

— O que foi agora?

— O senhor Yuan foi preso.

— O quê?! — Ning Wang achou que tinha escutado errado. — Como assim, o senhor Yuan foi preso?

— Ele tinha acabado de sair da casa de chá quando foi levado para a delegacia.

Ning Wang respirou fundo, fixando o olhar no mensageiro.

— Qual foi a acusação?

— Furto de uma bolsa de moedas.

A acusação absurda quase fez Ning Wang rir.

— Roubo de uma bolsa? O senhor Yuan é brilhante e engenhoso. Como poderia roubar uma simples bolsa? Quem teve a ousadia de acusá-lo?

— Foi… foi a senhorita Yun.

— Yun Fuyi. — Ning Wang congelou por um instante e depois suspirou amargamente. — Só podia ser. Desde pequena, ela sempre foi esperta. Deve ter percebido que Yuan está ligado a mim.

Fuyi sempre fora imprevisível. Ele deveria ter previsto que ela não o deixaria escapar impune tão facilmente.

— Wangye, o que devemos fazer para resgatar o senhor Yuan?

Ning Wang fitou as folhas de chá flutuando na xícara. Após um longo silêncio, tomou uma decisão:

— O senhor Yuan foi preso como administrador da propriedade do Marquês Gongping. Deixe que o Marquês cuide disso.

Ele conhecia bem o estilo de Fuyi. Ao mandar Yuan para a delegacia, ela estava tentando provocá-lo a agir. Com o prestígio da família Yun na corte e o bom relacionamento de Fuyi com a Imperatriz, não podia se dar ao luxo de correr esse risco.

— Mas e se o senhor Yuan—

— Não se preocupe. Ele preferiria morrer a me trair.

Marquês Gongping, que vivia em constante apreensão há dois anos, recusou-se até mesmo a mostrar o rosto ao saber que seu administrador fora acusado de roubar a bolsa de moedas de Fuyi. Apenas enviou uma mensagem ordenando ao magistrado que tratasse o caso com imparcialidade.

Após o estrategista ser arrastado e receber vinte chibatadas, Fuyi foi visitá-lo. Ela se agachou ao lado do homem, estirado no chão, o corpo coberto de sangue, e zombou:

— Está esperando que Sui Ruijing venha te resgatar?

— Esta humilde pessoa não entende do que a senhorita está falando — gaguejou o estrategista, tremendo de dor.

— No momento em que te descobri, você já era uma peça descartada — disse Fuyi com um risinho. — Ele não vai vir. Daqui em diante, você não vai sair da prisão do magistrado.

O estrategista estremeceu. Sabia que Fuyi dizia a verdade. Ning Wang não o salvaria. Para conquistar grandes feitos, era preciso saber abrir mão — uma lição que ele próprio havia ensinado a Ning Wang. E agora, era ele o sacrifício.

— Senhorita, do que está falando? Esta humilde pessoa não conhece Ning Wang.

— Pode negar o quanto quiser, mas isso não importa — disse Fuyi com naturalidade. — Basta eu acreditar que você está ligado a Ning Wang. — Achando desconfortável a posição agachada, ela se sentou de pernas cruzadas. — Nunca ouviu falar de mim? Eu não me incomodo em seguir as regras.

— A senhorita Junjun parece bem consciente de si mesma.

— Agradeço o elogio — respondeu Fuyi com um sorriso, visivelmente animada. — Você apareceu na capital logo depois que Sui Ruijing foi rebaixado a Junwang. Eu sei que ele não confia facilmente nos outros, e mesmo assim você parece ter bastante influência sobre ele. Como conseguiu conquistar a confiança dele tão rápido?

O estrategista fechou os olhos, recusando-se a responder ou a encará-la.

— Há alguns dias, uma família de mercadores se mudou para uma casa perto de onde você estava hospedado. Eles não são da capital, e têm três filhas que estão sempre com véu no rosto e nunca saem de casa. — Fuyi bateu no queixo, pensativa. — Aposto que essas três jovens devem ser beldades de cair o queixo, talvez até comparáveis à falecida Consorte Nobre Zeng.

A pálpebra do estrategista estremeceu levemente. Quando abriu os olhos novamente, estavam cheios de hostilidade gélida.

— Do que exatamente está me acusando, senhorita Yun?

— Acusei alguma coisa? — Fuyi arqueou uma sobrancelha e se inclinou, abaixando o tom de voz. — Mas já que estamos falando de beldades, é difícil não pensar naquela velha armadilha da sedução. Eu estava pensando em fazer uma visitinha às jovens senhoritas.

— Se for tarde demais, pode não encontrar nada — retrucou o estrategista com frieza. — Não tem medo de que suas ações tragam desgraça?

— Ainda tenho uma vida longa pela frente. Não tenho medo — disse Fuyi ao se levantar, sacudindo casualmente a saia. — Ah, e sua preocupação é inútil. Deveria saber dos meus métodos — antes do amanhecer, mandei meus criados garantir que elas não pudessem sair de casa.

— Está agindo de forma tão descarada... Não se importa nem um pouco com sua reputação? — O estrategista não conseguia entender como uma jovem mulher podia agir assim. Ela não se preocupava com suas chances de casamento?

— Pra que eu preciso de reputação? — Os olhos de Fuyi se curvaram num sorriso radiante. — Obrigada por confirmar: aquelas três mulheres são mesmo suspeitas.

Depois de dizer isso, virou-se e foi embora, ignorando o estrategista.

Observando a figura dela se afastando, o estrategista sentiu um misto de raiva e impotência. Só podia esperar que seu mestre começasse a levar aquela mulher a sério e deixasse de ser tão condescendente com ela.

— Senhorita, por que não continuou interrogando ele?

— Inútil. Alguém como ele preferiria morrer a revelar algo de valor — respondeu Fuyi com tranquilidade. — É mais útil vivo do que morto.

— Com licença, senhoritas. Poderiam me indicar o caminho para o Pavilhão Caiyin? — Um jovem se aproximou, acompanhado por dois guardas. As roupas deles eram claramente diferentes das usadas pelo povo da Grande Long.

— Aqui é a delegacia metropolitana. Não há casas de entretenimento por perto — disse Fuyi. Notando a expressão um tanto constrangida dele, sorriu. — Vire à esquerda e siga meia hora a pé. Vai encontrar.

— Muito obrigado, linda dama. — O jovem fez uma reverência típica do Reino do Sul, Nanxu, um gesto que Fuyi reconheceu imediatamente. Com a cerimônia de nomeação do Príncipe Herdeiro se aproximando, os emissários estrangeiros já haviam começado a chegar à capital. Estrangeiros agora eram uma visão comum nas ruas.

— De nada. — Fuyi despediu-se e apressou-se para encontrar as três “filhas reclusas do mercador”.

Eram mesmo beldades raras — uma tão deslumbrante quanto uma flor de pêssego, outra fria e serena como a lua crescente, e a última, gentil e graciosa, com um charme acessível.

— Fuyi, o tal pai mercador delas já fugiu — disse Lin Xiaowu, irritada. — A identidade delas é incerta. Devemos denunciá-las às autoridades ou...?

A beleza diversificada das três mulheres fez Fuyi lembrar de uma pessoa: a mãe de Ning Wang, a falecida Consorte Nobre Zeng.

Nas três, ela viu traços da consorte falecida.

Se a Consorte Nobre Zeng tinha feito parte de uma armadilha de sedução contra o antigo imperador, qual seria o verdadeiro objetivo por trás desse plano? O controle total da Grande Dinastia Long?

Ning Wang, o estrategista, a armadilha de sedução, a Consorte Nobre Zeng... era o mesmo truque de sempre, só que reempacotado.

— Xiaowu! — Fuyi segurou a mão de Lin Xiaowu. — Preciso entregar meu token e entrar no palácio.

Ela ainda era jovem, então o que fazer ao encontrar um problema grande demais pra lidar? Ora, deixar para os adultos, claro! Uma armadilha de sedução só funciona se o alvo tiver um coração fraco; do contrário, que influência uma mera beleza poderia exercer?

A culpa era do falecido imperador, aquele velho tolo. Se tivesse sido um governante virtuoso, o tesouro nacional da Grande Long não estaria tão vazio que até ratos passariam pena e deixariam uns grãos por caridade.

Ao ouvir que Fuyi tinha entrado no palácio para ver sua mãe, Sui Tingheng pegou uma caixa de folhas de chá da prateleira e disse ao Tutor Imperial Lu:

— Senhor, este príncipe recebeu recentemente uma caixa de chá de flores e gostaria de levá-la à Mãe Imperatriz para que experimente. O senhor deveria ir para casa e descansar. Sua saúde anda frágil — não deve se esforçar demais.

— Sim, Alteza — respondeu o Tutor Lu, profundamente comovido. Como não perceber a gentileza do Príncipe Herdeiro? A entrega do chá não exigia que ele mesmo fosse. Era evidente que Sua Alteza se preocupava com sua saúde e usava aquilo como desculpa para mandá-lo descansar mais cedo.

Sui Tingheng apressou-se até o Palácio Zhaoyang, apenas para ouvir sua mãe dizer entre risos:

— Se quer saber, acho que Heng’er anda gostando de uma jovem serena como a lua e talentosa, além de tudo.

O rosto de Sui Tingheng mudou imediatamente. Quando ele dissera que gostava de uma mulher assim? Como sua mãe podia manchar sua reputação desse jeito na frente de Fuyi?

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Nota da Autora:

Sui Tingheng: — Isso não é verdade! Eu nunca disse isso! Mãe, não calunie seu próprio filho!


Capítulo 29 – Junzhu

Adentrando o salão interior com passos largos, Sui Tingheng olhou instintivamente para Yun Fuyi, que estava sentada ao lado de sua mãe.

— Heng’er, o que faz aqui a essa hora? — A Imperatriz se surpreendeu momentaneamente com a chegada repentina de Sui Tingheng. — Você já sabe?

O coração de Sui Tingheng vacilou, um aperto insuportável tomou conta de seu peito. Há pouco, sua mãe mencionara algo sobre uma beleza — estaria ela planejando escolher uma princesa consorte para ele?

Seus cílios tremularam levemente ao se curvar em saudação formal.

— Este filho presta reverência à Mãe Imperatriz. Recentemente obtive uma lata de chá de flores e quis trazê-la para que Vossa Majestade experimentasse.

— Sente-se primeiro. — A Imperatriz pegou o chá e fez um gesto para que uma das aias preparasse a infusão. — Então ainda não sabe o que está acontecendo.

Sui Tingheng ergueu o olhar, alternando-o entre a mãe e Fuyi.

— A senhorita Yun poderia me esclarecer?

— Saudações, Alteza Imperial. — Fuyi se levantou e respondeu: — Esta filha súdita veio implorar perdão por uma ação impensada.

Sui Tingheng queria que ela permanecesse sentada enquanto falava, mas, vendo o salão cheio de criados do palácio, preferiu apenas pegar a xícara de chá servida por uma aia e colocá-la diante da mãe. Com as mãos cruzadas atrás das costas, perguntou:

— Por que a senhorita Yun diz isso?

Fuyi, então, relatou tudo o que acontecera desde o momento em que notou algo suspeito num homem de meia-idade, levando-a a mandar vigiá-lo.

— Diante da urgência, esta filha súdita não teve escolha senão agir por conta própria e capturar o estrategista. Humildemente, peço o perdão de Vossa Majestade e de Vossa Alteza Imperial.

— Hahahahaha! Isso sim é saber aproveitar a oportunidade! Não se preocupe, não só você não tem culpa alguma, como também prestou um grande serviço. — O Imperador entrou no salão às gargalhadas, erguendo uma das mãos para indicar que Fuyi não precisava se curvar. — Como era de se esperar de uma filha da família Yun — extremamente perspicaz.

Ele segurou a mão da Imperatriz e a conduziu para se sentar ao lado dele, depois fez um gesto a Sui Tingheng e Yun Fuyi:

— Heng’er, Fuyi, sentem-se também e conversem.

— Agradeço, Vossa Majestade. — Assim que se sentou, Fuyi ouviu o Imperador perguntar, curioso:

— Que tipo de beleza poderia me enfeitiçar a ponto de abandonar minha imperatriz?

— Uh… — Fuyi ficou rígida, lançando primeiro um olhar à Imperatriz e depois ao Príncipe Herdeiro. Vossa Majestade, precisa mesmo ser tão curioso? Se trouxermos essas mulheres ao palácio para que as veja, a capital inteira vai saber que tentaram usar uma armadilha de mel contra o senhor!

Infelizmente, o Imperador pouco se importava com aparências e imediatamente ordenou à Guarda do Dragão que trouxessem as três beldades diante dele.

Quando finalmente foram apresentadas, o Imperador mal lhes lançou um olhar antes de perder o interesse e dispensá-las com um aceno.

— Braços finos, pernas magras — nem de longe têm a graça da Imperatriz. Como eu cairia num truque tão idiota?

— Vossa Majestade e Sua Majestade possuem um laço profundo. Naturalmente, nenhuma outra mulher chamaria sua atenção — Fuyi sorriu. — Mas quantos homens neste mundo são tão devotados quanto Vossa Majestade? Para muitos, as mulheres não passam de adornos. A única razão de Vossa Majestade nunca ter vacilado é que... acreditavam que ainda não havia surgido uma mulher apropriada.

Ao ouvir Fuyi elogiando seu amor pela esposa, o sorriso do Imperador se alargou, satisfeito.

— Sou o verdadeiro Filho do Céu — como eu poderia ser como esses homens vulgares?

Beleza é comum; verdadeira devoção, rara. O que esses homens rudes sabem sobre o amor?

— Mas talvez nem todas as três beldades tenham sido enviadas para Vossa Majestade — disse Fuyi, com os lábios curvados em leve sorriso, lançando um olhar a Sui Tingheng.

— Hmm… — O Imperador captou a indireta e se voltou para o filho. — Que tipo de mulher você gosta? Diga ao seu pai, e vou resolver isso o quanto antes, antes que você vire o próximo alvo de uma armadilha idiota dessas.

— Pai Imperador, este filho não tem intenção de se casar no momento. — Sui Tingheng olhou para a Imperatriz. — Além disso, este filho nunca gostou de uma mulher serena como a lua e ainda por cima talentosa.

A Imperatriz, confusa com o olhar do filho, pensou: Se não gosta, tudo bem. Mas por que está me olhando assim?

Ao ver a família imperial começar a discutir o casamento do Príncipe Herdeiro, Fuyi abaixou a cabeça discretamente para se tornar menos visível, quebrando a cabeça para encontrar uma desculpa e fugir dali.

— Se não é alguém serena como a lua, então prefere uma mulher apaixonada como o fogo? — O Imperador se voltou para Fuyi. — Fuyi, você conhece bem as jovens da capital. Quais são mais temperamentais?

Fuyi: “…”

Vossa Majestade, isso é apropriado? Sou apenas filha de um oficial, não sua filha. Está me tratando como parte da família!!

Ela olhou para a Imperatriz em busca de socorro, apenas para encontrá-la olhando com expectativa também. Fuyi, sinceramente, não conseguia entender por que o casal imperial confiava tanto nela.

Felizmente, o Príncipe Herdeiro interveio imediatamente, com as sobrancelhas franzidas:

— Pai Imperial, é extremamente impróprio fazer esse tipo de pergunta à senhorita Yun.

Graças aos céus, pelo menos um ser racional restou nesta família imperial. Fuyi soltou um suspiro discreto de alívio.

— Se isso se espalhar, não trará rumores e problemas desnecessários para a senhorita Yun?

Mas esse não é o ponto! Alteza Imperial, por favor, seja mais racional!!

— Você tem razão, de fato não é apropriado — os pais assentiram em uníssono. O Imperador então acenou para Fuyi:

— Pensei demais. Amanhã, vamos mandar outra pessoa...

— Pai Imperial, este filho também não gosta de mulheres apaixonadas e temperamentais. — Sui Tingheng, já não suportando mais, interrompeu. — Por favor, não se preocupe com isso.

— Não gosta disso, não gosta daquilo. Que tipo de mulher você quer, então? Uma donzela celestial? — O rosto do Imperador estava cheio de suspeita. — Ou… já se interessou por alguém?

— Não. — Sui Tingheng abaixou o olhar. Sabia que Fuyi também o observava naquele momento. Respirou fundo, tentando manter as emoções sob controle, e respondeu com calma: — O tesouro nacional está vazio, e os países vizinhos nos cercam com intenções hostis. Este filho não tem tempo para romance.

— O tesouro pode estar vazio, mas seu pai ainda tem dinheiro suficiente para arranjar um casamento pra você...

— Basta — interrompeu a Imperatriz. — Esse assunto não é urgente; podemos discuti-lo mais tarde. Já está na hora do almoço. Vamos comer primeiro.

Após a refeição, o Imperador se levantou e disse:

— Heng’er, Fuyi, venham dar um passeio comigo.

Fuyi seguiu atrás do Imperador, que os conduziu até o jardim imperial. De repente, o Imperador apontou para um canto distante onde havia um jardim de pedras e falou para Fuyi:

— Da primeira vez que Zhen te viu, você nem chegava à altura da minha perna. Você estava agarrada naquele jardim de pedras, então Zhen teve que te carregar para descer.

Seguindo o gesto do Imperador, Fuyi olhou para o jardim de pedras, e uma memória começou a surgir em sua mente.

Naquela época, ela tinha uns cinco ou seis anos. Como um sacerdote taoista da corte do falecido imperador afirmara que ela possuía um destino auspicioso que beneficiaria a Estrela Púrpura¹, o imperador anterior frequentemente a convocava ao palácio para breves estadias.

Ela não gostava das criadas do palácio que a vigiavam, então costumava fugir para brincar no jardim imperial. Uma vez, depois de subir num jardim de pedras, percebeu que estava com medo demais para descer. Temendo que as rigorosas criadas a descobrissem, só pôde ficar ali agachada, esperando que alguém bondoso passasse e a ajudasse.

Teve sorte. Logo, um homem vestido com uma túnica antiga passou por ali. Ela acenou para que ele a carregasse para baixo. Depois que ele fez isso, percebeu sua expressão abatida e puxou sua manga, perguntando:

— Você está chorando?

O homem a ignorou, então ela se inclinou mais perto, olhando seu rosto.

— Você está mesmo chorando, não está?

— Eu nunca choro — respondeu o homem, secamente, sentando-se nos degraus ao lado dela e até pegando metade dos doces do saquinho na cintura dela. — Para que serve chorar?

— Quem disse que chorar não serve para nada? — vendo o machucado na testa dele, tirou um lenço para limpar e deu o resto dos seus doces para ele. — Vocês, adultos, se importam demais com a dignidade. É por isso que acham que chorar não adianta.

O homem mastigava os doces ruidosamente.

— O que uma pestinha como você sabe sobre dignidade?

— Quem disse que eu não sei? — ela ficou incomodada e puxou metade dos doces que tinha dado de volta. — Eu tenho muita dignidade na frente dos meus amigos — eles todos me chamam de chefe.

— Você se importa com sua dignidade, mas quer que eu jogue a minha fora e chore?

— Você é muito bobo — Fuyi pôs as mãos na cintura, com desdém. — Você só deve chorar quando for importante — tipo quando eu choro só na frente do meu pai, da minha mãe e de Sua Majestade.

O homem logo terminou os doces e estendeu a mão.

— Me dê mais.

— Não — Fuyi segurou seu saquinho com cuidado, mas antes que terminasse a frase, ele se deitou no chão, fingindo chorar.

Com medo de que as criadas do palácio escutassem, ela apressadamente enfiou os doces na mão dele.

— Tudo bem, tudo bem! Só não chore!

O homem riu e assentiu enquanto comia.

— Chorar funciona, né?

— Hmph! — a pequena Fuyi, aproveitando que ele estava distraído, pisou nele e saiu correndo sem olhar para trás, levantando a saia enquanto fugia.

Esse episódio havia acontecido há tanto tempo que Fuyi já não conseguia lembrar do rosto do homem — só que um adulto sem vergonha a havia enganado e roubado metade dos seus doces.

Ao lembrar da sua insistência infantil em conferir se ele estava chorando, Fuyi desejou poder esconder o rosto.

— Zhen nunca imaginou que uma criança tão pequena tivesse força de bezerro. Minha perna doeu por dois dias depois daquele chute — o Imperador riu da lembrança. Vendo Fuyi hesitar entre cobrir o rosto e não se atrever, ele riu ainda mais.

— Venha, vamos dar uma olhada naquele jardim de pedras.

— Vossa Majestade — a voz de Fuyi estava fraca —, esta filha da vossa serva era jovem e ignorante...

E você, um homem crescido, enganou uma garotinha para roubar seus doces. Nem foi tão maduro assim.

— Então é verdade que o Pai Imperador e a Senhorita Yun se conhecem há tanto tempo — Sui Tingheng falou, aliviando o constrangimento de Fuyi. — Que conexão de destino.

Quando criança, ele e sua mãe temiam sempre que o falecido imperador chamasse seu pai ao palácio. Toda vez que isso acontecia, seu pai era repreendido e espancado, sem exceção.

Depois que ele fez oito anos, o falecido imperador parou de convocar seu pai, mencionando-o apenas com desprezo, chamando-o de fraco, covarde e incompetente, sem qualquer traço de afeto.

O jardim de pedras, que antes parecia impossível de escalar e muito alto para ela pular, agora parecia bem pequeno. Fuyi olhou para ele e deu um sorriso meio sem jeito para o Imperador.

— Aqui — o Imperador tirou um saquinho cheio de doces feitos exclusivamente pela cozinha imperial. — Devolvendo seus doces.

Fuyi: "..."

Você me enganou e roubou esses doces há mais de dez anos e só agora está devolvendo?

É claro que ela aceitou o saquinho com um sorriso gracioso:

— Obrigada pela recompensa, Vossa Majestade.

— Yun Fuyi, ouça o decreto de Zhen — o Imperador riu. — Yun Wanggui, Ministro da Receita, tem uma filha que desde pequena é inteligente e já contribuiu muito para a nação. Zhen a concede o título de Junzhu², oferece uma carruagem vermelha com o símbolo da fênix e lhe dá um feudo com trezentas famílias.

— Vossa Majestade?! — ajoelhada no chão, Fuyi olhou para ele chocada.

Esse imperador mão de vaca vai me dar terras?!

Trezentas famílias não eram muitas, mas receber terras significava receber sua receita tributária e, mais importante, um título hereditário.

— Você ajudou a resolver os fundos militares na fronteira, enfraqueceu a influência do Ning Wang e frustrou conspirações contra Zhen e o Príncipe Herdeiro. Se fosse homem, há muito teria sido promovida por esses méritos, mas Zhen não ignorará suas conquistas só por causa do seu gênero — o olhar do Imperador era caloroso e gentil, o carinho por ela, claro. — Se o Ministro Yun não fosse tão relutante, Zhen já teria adotado você como filha adotiva.

Enquanto Sui Tingheng ajudava Fuyi a se levantar, a menção a ‘filha adotiva’ imediatamente o deixou alerta — segundo a lei ancestral, irmãos adotivos não podem se casar.

— Esta filha da vossa serva é indignada...

— Fique tranquila, Zhen não roubará a querida filha do Ministro Yun — o Imperador riu de coração. — Você não dizia que os súditos são filhos de Zhen? Mesmo que Zhen não a adote formalmente, ainda a considera minha filha.

Ele estendeu a mão e beliscou o coque de cabelo no alto da cabeça de Fuyi.

— Vá brincar com Heng’er. Zhen vai voltar ao gabinete imperial para cuidar dos assuntos do governo.

Uma garotinha não entenderia o quanto um punhado de açúcar pode ser doce para um homem adulto que foi levado ao desespero pelo próprio pai, incapaz de proteger esposa e filho, humilhado e levado à beira do abismo.

Ele a enganou, fingindo chorar para tirar metade dos seus doces, assim como usou essa mesma artimanha para fazer seu pai o desprezar como um covarde inútil, até que ele fosse ignorado por completo.

Foi assim que sua família de três finalmente conseguiu um respiro. Conseguiram sobreviver até o dia em que ele subiu ao trono.

— Vossa Alteza Imperial — Fuyi segurou seu coque de cabelo agora amassado e virou-se para Sui Tingheng.

— O Pai Imperador às vezes... não se importa com a etiqueta, mas nunca brinca com essas coisas — Sui Tingheng a amparou enquanto desciam o jardim de pedras. — Ele realmente te vê como sua própria sobrinha.

Própria sobrinha? Isso soa ominoso. Os verdadeiros sobrinhos do imperador... não estavam todos mortos, exceto Sui Xun?

Vendo sua expressão, Sui Tingheng adivinhou seus pensamentos e riu.

— Não pense demais. Apenas imagine que você é a única sobrinha que ele reconhece.

Fuyi respondeu com uma risadinha.

— E... por favor, não leve as palavras dos meus pais a sério. Eu não tenho tais pensamentos.

— Quais palavras? — Fuyi não entendeu de imediato. Saltou levemente dos degraus, e Sui Tingheng instinctivamente a segurou pelo pulso.

— Sobre encontrar uma mulher que eu admire — disse ele, segurando firmemente seu pulso por dentro da manga. — Eu não gosto daquelas mulheres.

Nem antes. Nem no futuro.

Fuyi olhou para ele com curiosidade.

— Então, Vossa Alteza Imperial—

— Vossa Alteza Imperial, o Príncipe Herdeiro?! — Num caminho estreito perto do jardim de pedras, a Princesa Kangyang olhou horrorizada para o aperto de Sui Tingheng no pulso de Fuyi, tremendo por todo o corpo. — Como você pôde—

Como pode estar tão perto desse notório causador de problemas?!

Oh, queridos ancestrais da família Sui!! Levantem-se e façam o Príncipe Herdeiro voltar à razão!

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Nota da autora:
Princesa Kangyang: “Ancestrais, olhem só para ele!”

Sui Tingheng: “Pai, eu imploro, pare de adotar filhas aleatoriamente!”

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Notas:

[1]: Astrologia da Estrela Púrpura: Também conhecida como Ziwei doushu (紫微斗数), é uma forma de adivinhação na cultura chinesa. Usa o ano, mês, dia e hora de nascimento no calendário lunar para montar o horóscopo e calcular o destino da pessoa. A Estrela Púrpura é a primeira e principal estrela usada no horóscopo, daí o nome.
[2]: Junzhu (郡主): Princesa de Terceira Classe. Um título geralmente concedido à filha de um qinwang (príncipe de alto escalão).


Capítulo 30 Parte 1 – Cortesia (I)

Depois de guiar Fuyi até o caminho de pedras, Sui Tingheng soltou calmamente o braço dela e fez uma reverência para a Princesa Kangyang.

— Saudações, Grande Tia Kangyang.

A Princesa Kangyang apressou-se em se afastar para evitar a reverência dele, olhando ora para o Príncipe Herdeiro, ora para Yun Fuyi, até finalmente fixar o olhar na garota.

— O que a Senhorita Yun está fazendo aqui?

— Respondendo a Vossa Alteza, esta filha da serva entrou no palácio para solicitar uma audiência com Sua Majestade — respondeu Fuyi. Ao ver a expressão claramente descontente da Princesa Kangyang, ela assentiu mentalmente — Ainda bem que é a Princesa Kangyang normal!

Da última vez, quando a princesa lhe sorriu calorosamente, ela havia se sentido um pouco... desconfortável.

A Princesa Kangyang brincou:

— A Senhorita Yun certamente circula bastante; está em todos os lugares.

— Agradeço o elogio, Vossa Alteza — Fuyi sorriu docemente. — Esta filha da serva tem o dever de compartilhar os fardos de Sua Majestade. Não chamaria isso de diligência.

A Princesa Kangyang engasgou com as palavras. Momentaneamente sem saber o que dizer, virou a cabeça e revirou os olhos.

— Que falta de decoro! — Desde que a família Yun havia recusado a proposta de casamento da família Liu, ela não tinha mais motivos para se conter, e a expressão escureceu ao repreendê-la. — Você não passa da filha de um simples oficial e não sabe o seu lugar. Como ousa sorrir quando Este Palácio está falando com você—

— Grande Tia — interrompeu Sui Tingheng — Fuyi prestou grandes serviços ao país. Em reconhecimento aos seus méritos, o Pai Imperador acabou de conceder-lhe o título de Junzhu. Além disso, o Pai Imperador a vê como da família, e Este Príncipe também a considera uma das nossas. Se somos família, por que nos prender a formalidades rígidas?

— Se formos seguir estritamente a etiqueta, não deveria a Grande Tia primeiro se curvar a mim?

Como príncipe herdeiro, Sui Tingheng era um soberano em espera. Segundo o protocolo da corte, exceto o imperador e a imperatriz, todos os demais deveriam se curvar a ele.

A Princesa Kangyang lembrou-se de como o príncipe herdeiro a cumprimentara com o respeito de uma geração mais jovem. O ar régio imponente que ela mantinha ruiu instantaneamente, substituído por um sorriso radiante.

— É nossa grande sorte que Sua Alteza Imperial trate seus mais velhos com gentileza. Esta velha falou com muita severidade há pouco, então...

Ela se voltou para Fuyi, e, surpreendentemente, seu sorriso não parecia forçado.

— Espero que a Senhorita Yun me perdoe.

— Esta filha da serva não ousa se ofender.

A Princesa Kangyang sempre fora habilidosa em se curvar quando necessário — uma habilidade essencial para quem nasce na família imperial. Em especial, ela sabia que jamais deveria ofender os que detêm o poder. Durante o reinado do falecido imperador, ela bajulou tanto ele quanto Ning Wang. Agora que o novo imperador estava no trono, naturalmente não arriscaria ofender o príncipe herdeiro.

Sui Tingheng era, de fato, educado e cortês, mas ela não era ingênua a ponto de achar que cortesia equivalia a fraqueza. A família Li Wang havia saído da desgraça sob o falecido imperador para agora sentar-se firmemente no trono imperial. Uma reviravolta tão dramática certamente não fora conquistada só com gentileza.

— Eu realmente fui rude — admitiu Kangyang. — Tirei minha frustração pela proposta de casamento frustrada do meu sobrinho-neto na Senhorita Yun. — Ela lançou um olhar para o Príncipe Herdeiro e suavizou ainda mais o tom. — Uma donzela bonita é o que qualquer cavalheiro busca, mas se Liu Zihe não conquistou a simpatia da Senhorita Yun, é uma falha dele. Não deveria ter cobrado isso de você.

Proposta de casamento, romance... Kangyang poderia muito bem estar gritando para o Príncipe Herdeiro: “Por favor, abra os olhos! Você e essa causadora de problemas não combinam!”

— Esta filha da serva não tem interesse em romance e nunca considerou casamento — Fuyi conhecia bem o temperamento de Kangyang e não pretendia guardar rancor da velha. — Espero que Vossa Alteza não me culpe — O jovem Mestre Liu é um bom homem e certamente encontrará alguém adequado para passar a vida ao seu lado.

Sem interesse em romance? Kangyang sentiu-se estranhamente dividida. Ela certamente não queria que Fuyi fosse a futura princesa herdeira, mas ouvi-la rejeitar o tema com tanta firmeza era igualmente irritante.

O príncipe herdeiro da família Sui era refinado, inteligente e cortês — o retrato de um cavalheiro perfeito. E ainda assim, ao lado de uma obra-prima de carne e osso dessas, essa garota dizia não ter interesse em romance? Inacreditável!

— Ahem — Kangyang endireitou-se. — Bem, são assuntos triviais. Este Palácio não entende de assuntos da corte, mas já que você prestou serviços ao país, deve ser uma grande conquista.

Aquele sobrinho imperador notoriamente mão de vaca havia realmente concedido a Yun Fuyi o título de Junzhu, o que significava que seus méritos não eram pequenos.

Falando nisso, o leal serviço de Yun Fuyi à família imperial era, de fato, um grande serviço para ela também.

Com esse pensamento, Kangyang de repente achou essa garota irritante um pouco mais suportável.

— Esta filha da serva apenas cumpriu meu dever. Tudo graças à benevolência de Sua Majestade.

Vendo que Fuyi lhe dera uma saída elegante, em vez de aproveitar para humilhá-la, Kangyang decidiu que, enquanto essa garota não maltratasse seu querido neto, evitaria falar mal dela às escondidas.

— Vossa Alteza Imperial e a Senhorita Yun vieram aqui para passear? — Kangyang lançou um olhar ao jardim de pedras monótono, pouco impressionada.

— O Pai Imperador estava dando um passeio conosco nos jardins mais cedo. Ele tinha assuntos para resolver, então voltou ao gabinete imperial — Sui Tingheng então virou-se para Kangyang. — A propósito, em que ocasião a Grande Tia veio ao palácio hoje?

— Não foi nada importante. Esta velha simplesmente veio conversar com Sua Majestade — Ao saber que o Príncipe Herdeiro e Yun Fuyi não haviam vindo sozinhos, mas acompanhando o imperador, Kangyang finalmente suspirou aliviada. Então não há nenhum relacionamento privado entre eles. Graças a Deus!!

Felizmente, os ancestrais da família Sui ainda tinham alguma influência, pelo menos o suficiente para impedir que essa causadora de problemas preguiçosa se tornasse princesa herdeira da Dinastia Long!

— Por favor, fique à vontade, Grande Tia. Não a incomodaremos mais — Sui Tingheng fez um gesto cortês e se afastou, conduzindo Yun Fuyi por um caminho estreito.

Kangyang agarrou os objetos escondidos na manga e apressou-se para o Palácio Zhaoyang. Assim que viu a imperatriz, tirou um pacote.

— Vossa Majestade, dê uma olhada nestes.

Era um grosso maço de folhas de retratos.

— Tia, o que é isso? — A Imperatriz abriu as folhas, revelando retratos de jovens mulheres.

— Sua Alteza Imperial, o Príncipe Herdeiro tem um status nobre acima dos demais. Seu casamento é, naturalmente, um assunto importante para o país — Kangyang bateu orgulhosa no maço. — Estes são os retratos de todas as jovens de boa família na capital. Eu as conheço pessoalmente — não há engano.

A Imperatriz riu divertida. Não é de se admirar que a Princesa Kangyang tenha organizado tantos banquetes nos últimos dois meses — então esse era o motivo. Ao folhear os retratos, a Imperatriz viu que cada ficha detalhava a idade, a origem familiar e o temperamento da moça.

Eram todas jovens bem-educadas e talentosas. Só de olhar esses retratos, dava para perceber o empenho genuíno da Princesa Kangyang.

— Nosso príncipe herdeiro é muito talentoso em literatura e artes marciais. Sua aparência supera até o lendário Pan An. A escolha da princesa herdeira deve ser feita com o máximo cuidado — Kangyang hesitou por um momento antes de finalmente falar aquilo que estava na cabeça desde o encontro no jardim. — A propósito, Sua Alteza Imperial e a filha do Ministro Yun parecem bem próximas?

— Heng’er sempre foi uma criança atenciosa e filial. Sabendo que sua mãe gosta de Fuyi, ele a trata com carinho especial — a Imperatriz instruiu sua atendente a recolher os retratos e perguntou sorrindo: — A tia viu os dois juntos há pouco?

Então, a afeição da imperatriz também está em jogo aqui. Kangyang deixou suas preocupações de lado por completo.

Claro! Um jovem tão talentoso quanto meu sobrinho-neto jamais se interessaria por alguém tão rebelde e problemática quanto Yun Fuyi. Isso é simplesmente impossível!

Ela havia se esquecido completamente de Liu Zihe.

— Está certo. Esta velha passou pelo jardim imperial e viu o Príncipe Herdeiro ajudando a Senhorita Yun a descer os degraus — disse Kangyang. Ao não notar mudança na expressão da Imperatriz, continuou: — Sua Alteza Imperial é realmente um cavalheiro atencioso. Fico imaginando qual jovem terá a sorte de ser sua companheira para a vida toda?

A Imperatriz apenas sorriu, sem demonstrar preferência.

— O coração dos jovens é difícil para nós, mais velhos, entender.

De fato, Kangyang concordou animada. Assim como ninguém jamais imaginou que Liu Zihe, depois de alcançar a melhor nota no exame imperial, se apaixonaria por Yun Fuyi.


Capítulo 30 Parte 2 – Cortesia (II)

Enquanto a Imperatriz recebia a visita da Princesa Kangyang, Sui Tingheng conduzia Fuyi ao Palácio Chenxi, para onde ele havia se mudado recentemente. O palácio recém-renovado agora estava bem protegido, com guardas e servos distribuídos por toda parte.

A luz da tarde estava um pouco ofuscante quando se acomodaram no bosque de bambu no pátio interno. O suave farfalhar das folhas de bambu conferia ao local uma atmosfera serena.

— Vossa Alteza Imperial, este bosque de bambu é realmente um lugar maravilhoso — Fuyi fechou os olhos por um momento, aproveitando o instante.

A luz morna da primavera filtrava-se pelas frestas entre as folhas, deixando manchas claras sobre a mesa de jade branco onde estavam sentados. Fuyi estendeu a mão para apanhar a luz dispersa e inclinou a cabeça para Sui Tingheng.

— Parecem estrelas diurnas aos meus olhos. E Vossa Alteza, como vê?

Sui Tingheng sorriu.

— O mesmo que você.

O bosque de bambu era tranquilo, e sua serenidade permitia que Fuyi gradualmente se desprendesse do turbilhão de acontecimentos daquele dia. Ela ficou olhando por um momento os traços refinados e marcantes do jovem antes de desviar o olhar.

— O Palácio Chenxi de Vossa Alteza Imperial deve ser um lugar confortável para se viver.

— Se gostar, está convidada a visitar com frequência — Sui Tingheng levantou a barra de sua túnica e serviu chá para Fuyi. — Não tenho irmãos, e os outros membros da família imperial da minha idade não são próximos. Além dos professores e subordinados que meu pai me arranjou, raramente recebo visitas aqui no Palácio do Leste¹.

Seu olhar baixou um pouco, carregando uma sombra de solidão e melancolia.

— Se Vossa Alteza Imperial não se importar, esta filha da serva gostaria de incomodá-lo com minhas visitas frequentes — disse Fuyi, pousando a mão levemente no peito. Mesmo que tivesse um coração de pedra, não pôde evitar sentir-se amolecida naquele momento!

A luz do sol espalhou-se pelo vestido dela como se as estrelas no céu não pudessem esperar para cair em seus braços.

— Claro que sempre te receberei — respondeu Sui Tingheng, observando os brilhos na barra da saia dela. — A qualquer hora.

— Então já agradeço a Vossa Alteza Imperial desde já — Fuyi ergueu a xícara e tomou um gole antes de mudar de assunto. — Aliás, depois de amanhã será sua cerimônia de investidura. Esta filha da serva não tem nada grandioso para oferecer, por isso preparei este presente.

Ela puxou um pequeno sachê bordado da manga e entregou a Sui Tingheng com ambas as mãos.

— Quando criança, esta filha da serva era arrogante e ignorante às dificuldades, frequentemente recebendo recompensas do falecido imperador sem compreender o sofrimento alheio. Depois que meu pai foi rebaixado, muitos de nossos pertences preciosos foram confiscados. Gostaria de lhe dar algo mais grandioso, mas imagino que Vossa Alteza Imperial não se importe com coisas materiais.

Sui Tingheng aceitou o sachê e cuidadosamente despejou seu conteúdo: uma pequena espada de madeira, não maior que um dedo, e uma conta de jade redonda presa a um cordão vermelho.

— A espada de madeira foi esculpida por mim, desta vez, em madeira de pêssego², e a conta de jade foi polida de uma pedra encontrada à beira do rio em Chongzhou. O material é bem simples — Fuyi riu timidamente. — Esta filha da serva não é habilidosa no bordado, e Vossa Alteza já tem muito mais tesouros do que eu poderia oferecer, então só posso dar esses pequenos enfeites para diversão.

A conta de jade trazia um padrão auspicioso de nuvens entalhado, embora o acabamento fosse tosco e simples.

— Eu mesma a esculpi — acrescentou rapidamente, preocupada que ele achasse que dera um presente malfeito. — Há dois anos, enquanto me recuperava das feridas, minha família me mantinha confinada em casa. Fiquei muito entediada e comecei a esculpir pequenos objetos.

O que ela não disse é que aquela era a melhor conta de jade que já havia conseguido fazer.

— É muito bonita — disse Sui Tingheng enquanto amarrava a conta de jade à cintura. O cordão vermelho balançava conforme ele se movia, capturando o olhar de Fuyi.

“A cintura do príncipe... magra e forte. Bem bonita.”

— Você é realmente talentosa, Fuyi, até para esculpir jade — Sui Tingheng guardou a espada de madeira na túnica. — Mas há uma coisa sobre a qual você estava enganada.

— O que seria?

— Você nunca foi arrogante nem ignorante às dificuldades — ele a olhou firmemente. — Quando o falecido imperador ainda vivia, você frequentemente ajudava os servos do palácio que eram maltratados e até defendia oficiais quando o imperador se enfurecia. Você tem noção de quantas pessoas no palácio lhe devem favores?

— Isso foi só algo que fiz por impulso... — Fuyi tocou o nariz constrangida, surpresa por o Príncipe Herdeiro saber desses fatos antigos. Quando era mais jovem, ela realmente usava o favor do falecido imperador para agir com inocência e intervir em várias situações, às vezes até salvando oficiais de serem levados para execução.

Infelizmente, à medida que o imperador envelhecia, confuso pela influência dos monges taoistas, e quando a Consorte Nobre Zeng passou a vê-la com hostilidade, ela já não conseguia mudar suas decisões. No fim, mal podia proteger a si mesma.

Nunca falara dessas coisas para ninguém. Nem mesmo Ning Wang, que costumava brincar com ela na infância, sabia. Como o Príncipe Herdeiro descobriu?

— No palácio não existem segredos — Sui Tingheng sorriu. O olhar dele vagou para o bosque de bambu atrás dela, carregado de emoções profundas. Mas quando Fuyi o encarou, só viu um sorriso quente e gentil. — Quem deseja saber algo, nada fica escondido.

— Então, Vossa Alteza Imperial deseja investigar o homem que capturamos hoje? — perguntou Fuyi. — Meu instinto diz que ele não é uma pessoa comum e pode ter ligações com Ning Wang.

— Segundo nossas observações — ela começou.

— Certo — Sui Tingheng a cortou. — Investigarei sua conexão com Ning Wang. Se houver qualquer sinal de traição, não deixarei passar impune.

Fuyi piscou confusa. Ainda nem terminei de falar — por que ele concordou tão facilmente?

Notando sua expressão atônita, Sui Tingheng tomou um gole do chá, achando-o levemente amargo.

— Além dele, quem mais devemos investigar?

— B-bem, talvez devêssemos checar a origem daquelas três belas — Fuyi acrescentou. — Preparar uma armadilha de mel não é tarefa fácil. Conseguir mulheres adequadas, treiná-las, comprar roupas e joias... tudo isso deixa rastros.

— Entendido — Sui Tingheng passou os dedos levemente sobre a conta de jade presa à cintura. — Fique tranquila, descobrirei a identidade delas no menor tempo possível.


Nota do autor:
Irmão Sui disse: “Não precisa dizer mais. Tudo o que você disse está certo.”

Dicionário do Irmão Sui: Considera ela da família = Ela pertence à minha família.


Notas:

[1] Palácio do Leste não é nome real de palácio; a residência principal de um príncipe herdeiro é sempre chamada de Palácio do Leste.
[2] Acredita-se que a madeira de pessegueiro tenha efeito de afastar o mal.



Capítulo 31 Parte 1 – Amigos (I)

Quando o sol começou a se pôr, Sui Tingheng acompanhou Fuyi para fora do palácio. Caminhando lado a lado pelo caminho, eles ocasionalmente passavam por ramos floridos que espreitavam por cima dos muros vermelhos, fazendo Fuyi olhar para cima em admiração.

— Sobre Liu Zihe, aquele que a Grande Tia Kangyang mencionou... — O olhar de Sui Tingheng alcançou o portão Dongfeng à frente, e ele parou devagar. — Se eu soubesse antes que ele gostava de você, teria dado um pouco mais de incentivo da última vez no campo de cuju.

— Vossa Alteza Imperial, por favor, não pense demais — Fuyi respondeu imediatamente. — Esta filha da serva não conhece o Jovem Mestre Liu, e não há possibilidade de algo entre nós no futuro. Por favor, não trate ninguém de forma diferente por minha causa.

— Então você não o conhece — murmurou Sui Tingheng, um leve sorriso surgindo em seus olhos. — Nesse caso, Liu Zhuangyuan foi bastante presunçoso — agindo só pelos próprios desejos, sem considerar sua opinião.

— É uma questão trivial. Esta filha da serva não levou a sério.

— Mesmo que não leve, isso não justifica a impertinência dele — Sui Tingheng colocou uma mão atrás das costas e continuou caminhando, com a postura elegante de sempre. — Quem realmente te valoriza jamais te colocaria em situação difícil. Liu Zhuangyuan ainda é jovem e não sabe ser atencioso.

Jovem? Fuyi arqueou a sobrancelha. Liu Zihe não é na verdade um ano mais velho que o príncipe?

Mesmo assim, sorriu e assentiu — tudo o que Sua Alteza Imperial dissesse estava certo; ela não discutiria.

Quando chegaram ao portão Dongfeng, avistaram a carruagem da família Yun esperando do lado de fora. Sui Tingheng parou.

— Sua carruagem chegou.

— Obrigada pela hospitalidade, Vossa Alteza Imperial — Fuyi se despediu e entrou pelo portão. Pouco antes de subir na carruagem, olhou para trás e viu o Príncipe Herdeiro ainda parado ali — alto e imponente, exalando uma aura de elegância real com sua coroa de jade e túnicas bordadas.

Momentaneamente distraída, entrou na carruagem e encontrou Yun Zhaobai já dentro.

— Irmão... — Fuyi sentiu-se um pouco culpada.

— Parece que sua viagem foi bem-sucedida — Yun Zhaobai jogou o livro que segurava sobre a mesa. — Há meia hora, oficiais do Ministério dos Ritos vieram à nossa casa anunciar o decreto — Sua Majestade conferiu a você o título de Junzhu. O que você fez?

— Fiz só uma coisinha, realmente insignificante — Fuyi mostrou com os dedos uma pequena distância. — Irmão, não se preocupe. Não vou agir de forma imprudente.

— Fuyi, só espero que você esteja bem e segura — Notando que o coque do cabelo da irmã estava um pouco amassado, como se alguém tivesse apertado, Yun Zhaobai puxou um pente de madeira da gaveta da carruagem e indicou que ela se sentasse à sua frente.

— Irmão, não se preocupe. Eu não colocaria minha segurança em risco — Fuyi sentou obediente.

Yun Zhaobai desfazia habilmente o coque e penteava seus cabelos.

— Se alguma vez se encontrar numa situação que não possa lidar, lembre-se de nos avisar.

— Avisarei — Fuyi abraçou o braço dele. — Irmão é o melhor.

— Ei, fique quieta! — Yun Zhaobai a segurou para que não se mexesse enquanto refeita o penteado com eficiência. — Sempre que você sai, volta toda bagunçada — igual quando era criança.

— Não sou mais criança! E meu coque foi amassado por Sua Majestade — resmungou Fuyi, antes de contar rapidamente a história de como conhecera o imperador na infância. Yun Zhaobai ficou em silêncio por um tempo antes de dizer:

— Lembro quando você chegou em casa, ainda criança, e me contou que um adulto havia chorado e feito birra para te enganar e ficar com metade do seu saco de doces. Nunca imaginei que esse homem fosse Sua Majestade.

Para algo tão indigno, Sua Majestade não só lembrou, como contou para sua irmã. Seria um sinal do afeto dele por Fuyi? Ou uma demonstração sutil da confiança e consideração pela família Yun?

Sua Majestade estava no trono há apenas dois anos, e a corte ainda não estava totalmente alinhada com ele. Com resquícios do antigo regime persistindo, ele precisava de apoiadores leais para consolidar seu poder.

— Não é de se espantar que Sua Majestade tenha te concedido dois títulos nobres em poucos meses, e que a Imperatriz e o Príncipe Herdeiro te tratem com tanta gentileza — Yun Zhaobai guardou o pente e segurou delicadamente a cabeça da irmã, admirando seu trabalho. — Ele é um governante benevolente e sábio. Apenas aja naturalmente perto dele e não pense demais.

— Irmão, no ano que vem haverá um exame imperial extra na corte. Você vai participar?

— Ainda não é hora — Yun Zhaobai ajeitou seu enfeite no cabelo. — Não tenho pressa de entrar na corte. Esperaremos mais alguns anos.

— Entendi — Fuyi assentiu e não insistiu.

Yun Zhaobai olhou para os doces na mesa.

— Esses são todos seus favoritos. Por que não está comendo?

— Acabei de comer doces no Palácio Chenxi. Não consigo comer mais — Fuyi puxou um livro de histórias, encontrou uma posição confortável e se esticou no assento. — Irmão, coma você.

Palácio Chenxi... Yun Zhaobai pegou um pedaço de doce e olhou para a irmã, que estava espalhada na postura menos delicada possível.

— Vossa Alteza Imperial te acompanhou até o portão Dongfeng?

Absorvida na leitura, Fuyi apenas respondeu com um aceno distraído.

A testa de Yun Zhaobai franziu-se ainda mais enquanto mordia o doce.

O Príncipe Herdeiro sempre foi tão atencioso com seus subordinados?

Quando a carruagem passou pelo Pavilhão Sifang, vozes altas e arrogantes podiam ser ouvidas do lado de fora.

Fuyi largou o livro e olhou pela janela.

— São pessoas do País Liyan — a expressão de Yun Zhaobai escureceu.

Durante o reinado do falecido imperador, Liyan invadiu repetidamente as fronteiras, mas em vez de resistir, o imperador cedeu terras e pagou indenizações. Isso encorajou Liyan, que ficou cada vez mais insolente, a ponto de se considerarem superiores ao Grande Long.

O Pavilhão Sifang era destinado a receber enviados estrangeiros e, portanto, estava sob jurisdição do Ministério dos Ritos. Ao ver os enviados de Liyan dando ordens aos servos e plebeus do Grande Long, Fuyi respirou fundo e saiu da carruagem.

— Vocês nem conseguem carregar um baú direito! Sabem o quanto os tesouros dentro valem? Gente inútil do Long...

— Se seu baú é tão precioso, por que não o carrega você mesmo? — Fuyi interrompeu, justo quando viu um enviado de Liyan levantando o chicote para bater em um servo do Pavilhão Sifang. Ela estendeu a mão e pegou o chicote no ar. — Ou será que seu rei se recusa a dar acompanhantes suficientes para seus enviados, e vocês têm que pedir ajuda aos servos do Grande Long?

— Quem é você? — O enviado de Liyan era um homem alto e corpulento. Ao ver uma simples jovem se atrever a parar seu chicote, sua arrogância e desdém ficaram evidentes.

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