Capítulo 28. Situação Atual.


 O vento soprava suavemente pelo pátio durante a noite.

A porta da loja de remédios estava fechada, e lanternas iluminavam o pátio.

Yin Zheng havia pedido algumas lanternas antigas a Du Changqing, limpou-as com um lenço e as pendurou sob os beirais nos quatro cantos do pátio. À medida que o céu escurecia, o chão de pedra azul era banhado por um brilho suave e amarelado.

A luz da lua, como prata, se espalhava pelo pátio. Uma lamparina fora colocada sobre a mesa de pedra ao centro.

Lu Tong estava sentada à mesa, socando lentamente os remédios.

O medicamento estava guardado em um pote de prata, cuja superfície era adornada com padrões intricados de flores preciosas e ramos. O pequeno martelo de prata produzia um som nítido a cada batida no pote, ecoando na quietude da noite.

Yin Zheng saiu da casa, segurando algumas flores de seda recém-feitas. Ela fez um gesto em direção ao cabelo de Lu Tong.

— Senhorita, fiz algumas flores de seda novas. Experimente. Aquela flor de veludo azul ficou encharcada de sangue e não deu pra limpar, então não pode ser mais usada. Fiz essas duas novas, e devem ficar boas.

Os olhos de Lu Tong recaíram sobre as flores na mão de Yin Zheng, e ela ficou momentaneamente atônita.

Ela não tinha habilidade com enfeites. Tendo passado a maior parte da vida na montanha, raramente via muitas pessoas. Ocasionalmente, durante os festivais, a Senhora Yun se empolgava e descia até a cidade para comprar roupas para ela. Quando as roupas não serviam, esperava-se pelas próximas.

A última vez que a Senhora Yun lhe comprara roupas novas fora há um ano. Pouco depois, a Senhora Yun faleceu.

Lu Tong possuía apenas algumas peças de roupa, e era impensável ter qualquer tipo de adorno. Mas Yin Zheng, sendo habilidosa, sempre escolhia lenços de cores combinando e fazia flores de seda para que ela usasse junto às roupas.

Lu Tong não parou de socar os remédios e apenas disse:

— Na verdade, eu não preciso disso.

— Como não? — disse Yin Zheng, gesticulando. — Na sua idade, é a hora de se enfeitar. Se usar roupas simples demais, é um desperdício do seu rosto bonito. Essas flores de seda custam só algumas moedas de cobre pelos lenços, mas acrescentam muito charme ao seu visual.

— Senhorita, acredite nas minhas habilidades — Yin Zheng pegou a flor de seda que estava no cabelo de Lu Tong e cuidadosamente ajustou a agulha e a linha. — No começo, eu não me atrevia a dizer, mas eu sou mesmo boa em vestir e pentear os cabelos.

— Depois que o Mestre Du pagar nosso salário do mês, a senhorita pode ir comprar alguns pés de musselina clara. Em alguns meses será verão, temos que fazer dois vestidos leves para a estação.

Lu Tong sorriu gentilmente.

Enquanto falava, Yin Zheng se lembrou de algo e olhou para a jovem que diligentemente socava as ervas sob a luz da lua.

— Ouvi do Alfaiate Ge, ali do lado, que o Salão Médico Xinglin reabriu hoje. O gerente Bai pediu desculpas aos plebeus que compraram os remédios e os compensou generosamente. Também prometeu nunca mais vender o ‘Chun Yangsheng’. Depois que os plebeus receberam o dinheiro, pararam de causar confusão. Acho que essa história vai acabar morrendo por si só.

Lu Tong respondeu:

— Dinheiro move o mundo. Bai Shouyi escolheu gastar para evitar o desastre. Ele é um homem esperto.

Yin Zheng, percebendo a tranquilidade de Lu Tong, sentiu-se um pouco preocupada.

— Mas eles sofreram uma perda dessa vez. Será que vão guardar rancor da gente por isso?

Lu Tong nem ergueu a cabeça, continuando a socar as ervas no pote.

— E se guardarem? Se eu quiser ganhar fama, não posso evitar ofender os colegas. O Salão Médico Renxin não é particularmente excepcional. Para me destacar, preciso pisar nas placas de outros salões médicos.

— É verdade — suspirou Yin Zheng, mas logo sorriu. — De qualquer forma, o Salão Médico Xinglin vai ficar quieto por um tempo. Nosso salão médico ganhou certa reputação. Pelo menos, a receita da senhorita não pode ser copiada por ninguém. O Mestre Du praticamente te venera. Seu posto como médica do salão está garantido.

Lu Tong sorriu.

— Sim.

Ela começava a se sentir mais confiante agora que o Salão Médico Renxin a reconhecera oficialmente como médica. Agora, era hora de considerar a questão da família Ke.

Família Ke...

Ao pensar na família Ke, os olhos de Lu Tong escureceram.

Eles já deviam ter recebido as notícias sobre “Wang Yingying”.

Na Mansão Ke, a Velha Senhora Ke comia algumas frutas cristalizadas.

Bolos de mel, queijos doces e frutas em calda estavam guardados em uma pequena caixa de mogno do tamanho da palma da mão, cada compartimento com um sabor diferente.

A Velha Senhora Ke, já de idade avançada e com um notável gosto por doces, se entregava a guloseimas diariamente. Apesar dos avisos do médico e do Filho Mais Velho, ela seguia sua dieta açucarada sem interrupções.

Sentada em uma cadeira de pau-rosa amarelo adornada com entalhes de fênix, ela recostava-se com os olhos semicerrados. A ama Li, massageando-lhe os ombros gentilmente, conversava de forma casual.

— Senhora, Bi Qing comentou que a Jovem Senhora teve outra briga com o Filho Mais Velho por causa de dinheiro.

A Velha Senhora Ke franziu o cenho e abriu os olhos, com a expressão fechada.

— A família Qin passa dos limites. Ela se comporta como uma tirana dentro de casa, respaldada pelo cargo do pai. Controla as finanças do marido com mão de ferro. Dias atrás, eu dei um dinheirinho extra para Xing’er. Ela não só aceitou sem dizer nada como ainda me repreendeu de maneira indireta. Claramente estava encenando.

A ama Li sorriu.

— A Jovem Senhora vem de uma família nobre. É natural que tenha o ego elevado.

— Ego elevado? Ela não tem respeito nem noção de conduta apropriada — rebateu a Velha Senhora Ke, cada vez mais irritada. — A esposa anterior, apesar de cheia de defeitos e problemas, era mais fácil de lidar e servia bem. Esta aqui... é mais como se tivessem casado com uma Bodisatva do que com uma esposa!

A ama Li permaneceu em silêncio. A Velha Senhora Ke suspirou.

— Mandei alguém investigar sobre Wang Yingying lá em Changwu. Confirmaram que a família Lu tinha mesmo uma parente com esse nome, que viveu com eles há uns oito ou nove anos.

A ama Li refletiu.

— Deve ser a mesma senhorita Wang que nos visitou.

— Exato. Veio para se aproveitar — a Velha Senhora Ke tomou um gole de chá para limpar o paladar. — Se a família Lu ainda fosse influente, talvez eu a ajudasse financeiramente. Mas agora, com a família Qin tão controladora com o dinheiro, não posso correr esse risco. Mencionar a irmã da esposa anterior só traria mais problemas. É melhor deixar isso de lado.

A ama Li sorriu.

— Senhora é mesmo de bom coração.

A Velha Senhora Ke abanou a mão, sem paciência.

— Não é bondade, é evitar mais confusão. O tempo está esquentando, logo teremos que nos preparar para o banquete de aniversário do Grão-Preceptor, e nossa família precisa enviar porcelana.

Xing’er, que normalmente é descuidada e preguiçosa, agora estava sob vigilância, pois a família Ke dependia fortemente da mansão do Grão-Preceptor. Qualquer descuido poderia causar problemas — como aconteceu com a família Lu.

A Velha Senhora Ke fez uma pausa súbita, um traço de medo relampejando em seus olhos, embora ninguém soubesse o que lhe passava pela mente. A ama Li, sentindo a tensão, permaneceu em silêncio e ficou quieta atrás dela.

Depois de um tempo, a Velha Senhora Ke suspirou e acenou com a mão.

— Deixa pra lá. Avise que quero comer bolinhos de ameixa. Mande ela ir cedo ao mercado de flores para colher flores de ameixeira.

A ama Li prontamente respondeu:

— Sim.


Postar um comentário

0 Comentários