CAPÍTULO 3 Na cozinha, Wang DaNi estava preparando o almoço...


 

Na cozinha, Wang Dani estava preparando o almoço. O marido voltaria da lavoura em breve e sua filha parou de protestar, então ela decidiu fazer uma boa refeição ao meio-dia.

Ela pegou a chave da despensa que ficava presa na calça e abriu o armário, pegando o saco de farinha branca refinada. Ela abriu o saco puxando a linha que fechava a aniagem com força e o aroma de trigo subiu da farinha branca subiu. Ela tirou uma medida de farinha branca mais generosa do que faria habitualmente, fechou o saco de novo e cobriu com um pano branco, trancando novamente o armário. 

 Não é que ela seja mesquinha, mas nesse momento da história do país, algumas famílias sequer têm o que comer, quem dirá ter farinha branca refinada ou arroz branco (essa é uma época de muita carência, entre os anos 1965 até meados dos anos 80, a China viveu uma grande fome e muita gente morreu, por isso as pessoas eram muito econômicas e usavam grãos integrais/grossos para comer). Nem mesmo os restaurantes governamentais, que vendem comida ao público nas cidades, ousam utilizar esses ingredientes com abundância (nessa época, era proibido a particulares vender qualquer coisa e o governo monopolizou o comércio, inclusive os restaurantes). A pobreza gera o costume da economia, e ela se acostumou a ser econômica... 

Mas hoje, ela está pensando que logo a filha irá para um encontro às cegas, então é bom que ela se alimente bem para parecer saudável, e é melhor que a barriga da filha fique cheia na casa da família, né?

Na verdade, era o amor de mãe que falava mais alto e a fez superar o medo da fome e o hábito da economia.

Ela pegou metade da farinha branca refinada e amassou para fazer macarrão. O resto, ela planejava utilizar para fazer alguns bolinhos brancos (baozi/bun) mais tarde. Quando ela pegou os ovos na cesta, não se sentiu tão angustiada, porque há três galinhas na família que podem pegar ovos todos os dias (o número de galinhas que uma família podia ter era limitado pelo número de membros e a venda de ovos era proibida, então eles só tinham o que a galinha botava no dia).

Sun Wenjun e Sun Xiuyun foram felizes para a cozinha. Ah, meus bons amigos, a mãe deles estava com a mão aberta hoje, e até estava disposta a dar macarrão branco para eles! Macarrão branco era um prato que a mãe deles só fazia para o Ano Novo Chinês! Fora dessa data ela normalmente nem pensa nisso! 

Sun Wenjun disse à mãe: "Mãe, que bicho te mordeu?"

"Vá encher o saco da sua avó, seu pirralho! Se você me encher o saco, vai ver quando eu cozinho para você!" Wang Dani repreendeu e riu. Ver seu filho e filha felizes faz seu coração de mãe feliz também. 

Que bom que seus filhos se entenderam. O menino deve ter descoberto que a irmã também queria o encontro às cegas, caso contrário, ele não seria capaz de rir com ela de tão bom-humor.

"Não, mãe! Eu quero comida! Como assim você vai fazer comida boa e não vai me deixar comer? Isso não está certo."

“"Então venha aqui e acenda o fogo para sua mãe velha."

Ao ouvir que sua mãe o havia autorizado a comer, Sun Wenjun puxou o banquinho para perto do fogão e disse à irmã: "Xiuyun, vamos acender o fogão juntos e eu assarei milho para você comer."

"Eu não quero milho queimado, viu?"

"Não se preocupe, seu irmão é bom em culinária."

Sun Xiuyun sentiu o amor de sua família que não via há muito tempo e cuspiu no seu eu do passado novamente, com o coração partido. Ela foi tão estúpida em sua vida passada! Depois de perder todas as pessoas que a amavam, ela iria proteger sua família nesta vida.

Wang Dani não se importava com a brincadeira entre os irmãos. Na opinião dela, aquilo é que dava vida à casa. A família precisava ser organizada, mas também animada. Ela não brinca mais como quando era jovem, mas gosta de ver seus filhos se divertindo em um ambiente acolhedor.

"Qual de vocês vai amassar o macarrão e qual vai pegar uma cesta e colher feijão para a mãe? Eu vou cozinhar feijão e batatas ao meio-dia, e depois eu vou fazer um pudim para vocês."

Sun Xiuyun ficou com um pouco de fome quando ouviu o que sua mãe disse, então ela rapidamente se ofereceu: "Mãe, eu vou para a horta."

"Então você vai, mamãe cozinha o macarrão agora e o feijão eu preparo quando voltar."

Sun Xiuyun pegou uma pequena cesta e foi para o quintal. Havia feijão plantado na horta em frente à sua casa, mas então ela percebeu que não havia pepinos no quintal da frente. Ela queria colher alguns pepinos e fazer uma máscara facial para si mesma depois de comer.

Pelo que ela se lembra, no quintal dos fundos foram plantados na horta repolho, pepino, berinjela, pimentão, feijão e duas fileiras de milho. Deve haver morangos no canto leste, que seu pai plantou para ela. 

Mudas de morango não precisam ser plantadas todos os anos; após plantadas, darão morangos na época certa todos os anos por três ou cinco anos. Os professores das equipes ensinaram sua mãe a adubar a terra e plantar batatas e repolho, para sempre ter acesso a esses alimentos (nessa época, muita gente não sabia mais como plantar, então o governo enviou professores para esses lugares, ou mobilizou os próprios agricultores, para que ensinassem todos como cultivar e o que era aproveitável da terra, para que ninguém comesse, por exemplo, cogumelos venenosos)

Depois de colher o feijão, ela colheu duas espigas de milho e, em seguida, escolheu dois pepinos de tamanho moderado para si. 

Quando ela saiu da horta, ela cobriu os olhos com as mãos e olhou para o sol no céu. O clima estava quente e agradável. Ela não conseguiu evitar um pequeno sorriso e, então, a covinha em sua bochecha também surgiu.

Mãe e filhos cooperaram para preparar o almoço. Na verdade, a cozinheira principal foi mesmo Wang Dani; os irmãos apenas colheram vegetais e acenderam o fogão. Eles ficaram chateados com Wang Dani e disseram que não era legal que ela fizesse tudo sozinha, mas ela disse que eles queimariam o arroz porque o fogo era difícil de controlar no forno a lenha e Wang DaNi cozinhava com pressa para o marido comer quando viesse da roça.

O velho pai voltou da roça e entrou no quintal, caminhou até a porta da casa e ouviu a conversa animada da mãe e dos dois filhos, e sua testa franzida relaxou. A melancolia em casa nos últimos dois dias deixou todo mundo desconfortável. E a mulher dele cozinhou apenas alimentos com picles! Ele comeu aquilo e não tinha nem forças para trabalhar. 

Ouvindo a agitação, ele pensou que as nuvens negras devem ter ido embora e o astral deve ter clareado. Depois de sentir o cheiro da comida, ele abaixou a cabeça, lavou as mãos e foi direto para a cozinha.

Quando o velho pai chegou à mesa e a família começou a comer, era mais ou menos meio-dia (os relógios nessa época eram manuais e não havia satélite, então as pessoas sabiam ‘mais ou menos’ o horário de acordo com alguns eventos, entre eles a posição do sol). Os agricultores evitam trabalhar ao meio-dia nas áreas rurais, por medo de insolação, e a família ficará descansará um pouco depois de comer e lavar a louça. 

O velho pai e Wang Dani se deitaram no kang da casa grande, e Sun Xiuyun também retornou ao seu pequeno quarto nos fundos. O quarto de Sun Wenjun ficava em frente à casa grande. A família estava sonolenta depois de comer e planejava cochilar um pouco.

Sun Xiuyun puxou uma pequena colcha sobre o corpo. Embora estivesse quente, o quarto ainda estava um pouco fresco, e ela estava realmente muito cansada. Os altos e baixos emocionais de hoje foram muito intensos. 

Antes, ela estava tomada pela tristeza, pelo desespero e sem vontade de viver. Ter passado pela morte, retornando ao momento em que ainda estava junto de sua família e podia consertar tudo... Não importa se foram os fantasmas ou os deuses, ela agradeceu sinceramente quem lhe deu a chance de voltar. 

Ela disse a si mesma: ‘não se preocupe, não entre em pânico, você vai encontrá-lo em apenas alguns dias.’ 

Ao ver Yang Jiangang, ela iria abraçá-lo e lhe dar um grande cheiro!

Sun Xiuyun fechou os olhos e respirou lentamente. Ela dormiu um pouco e, depois, se levantou para fazer uma máscara. Aliás, ela tinha que escolher alguma roupa entre todas as que tinha para o encontro! 

Ela iria vê-lo em alguns dias! 

Pensando nisso, seu coração inquieto gradualmente se acalmou.

Vê-lo, que lindo! 

Este foi o último pensamento dela, antes de ir para a cama.

.....ooo0ooo.....

Sun Xiuyun dormia pacificamente. Ela sonhou que encontrou Jiangang pela primeira vez em sua vida anterior. Ela não gostara dele e ficou de cara feia, mas ele a observava com uma expressão séria. Ela forçou um sorriso de oito dentes (um sorriso padrão, de recepcionista) e sorriu em seu sonho, apenas pensando que ele era tão bobo e fofo...

"Xiuyun! Xiuyun! Mamãe me pediu para te acordar e disse que a casamenteira está aqui! Ela pediu para você levar duas xícaras de água com açúcar (essa era uma cortesia muito grande, açúcar era caro)." 

Sun Xiuyun ouviu seu irmão chamar e disse: "Tá bem, já vou." 

Ela se sentou e esfregou a cabeça tonta. Olhando para fora, o sol já não estava alto no céu. Ela deveria ter dormido por cerca de duas horas. 

A casamenteira está aqui! 

Sim, ela deve se levantar! 

A casamenteira veio para a casa da família dela. Quando ela sair da casa deles, com certeza irá para a casa de Jiangang para contar o que viu e ouviu!

Ela sabe que, se mostrar uma aparência relutante, a casamenteira não dirá isso lá, pois terá medo de que o homem retire a proposta, mas se ela se mostrar mais entusiasmada, a casamenteira com certeza dirá o que viu e até exagerará, contando a reação dela para o homem, para dar a ele esperança e encorajamento.

Ela se levantou e tirou as roupas pretas que estava usando. As roupas com que ela dormiu agora estavam todas amassadas. Ela veio do futuro e, naquela época, ela era mais cuidadosa com a aparência do que em sua juventude. 

Ela olhou no armário e encontrou uma blusinha azul-celeste, vestiu-a e, em seguida, olhou-se no espelho, arrumou os cabelos bagunçados de dormir, fez uma trança espinha de peixe solta e natural e a colocou sobre os ombros. 

A garota no espelho é jovem e natural, com um sorriso doce e com covinhas, daquelas que as celebridades da internet das gerações posteriores matariam para ter.

Sun Xiuyun foi até a cozinha, pegou duas tigelas (bowls, pequenos potes redondos que servem para comer e beber, lembre-se da época e da carência de tudo) e tirou do armário a lata de açúcar de sua mãe.

Ela ficou muito impressionada com aquele balde branco com tampa verde. Não havia nada delicioso nos anos oitenta. Este balde de açúcar é o que ela se lembra de sua vida passada. Se a pessoa quisesse algo doce, tinha que preparar uma tigela de água com açúcar e engolir, e isso bastava para satisfazer a vontade de doce; mas para aqueles que vivenciaram o século XXI, o açúcar não é atraente sozinho. 

Ela rapidamente preparou a água com açúcar e a levou para a sala. 

Sua mãe e a casamenteira estavam sentadas, conversando animadamente. 

"Ah, essa é a Xiuyun da sua família? Ela realmente merece esse nome! Ela é tão branquinha, parece mesmo uma nuvem no céu azul!" A casamenteira a elogiou tanto que ela não conseguiu conter o sorriso.

"Pare de bajular ela, Comadre Zhang! Não precisa dizer que ela é linda. Beba um pouco de água com açúcar." Wang Dani está realmente muito feliz, e ela não é exceção. Qual é a mãe que não gosta de ouvir outros elogiando seus próprios filhos?

"Não estou bajulando, essa garota é muito bonita." 

A casamenteira olhou para Sun Xiuyun. Esta garota não é muito alta e nem muito baixa, e veste uma blusinha azul que deixa seu rosto branco obviamente mais pálido.

Todo mundo sabe que todas as meninas da área rural têm que ir para o chão, então todas têm a pele queimada (é por isso que eles valorizam tanto a brancura da pele, significa que a pessoa não é pobre. Só gente pobre tem a pele queimada de sol). O marido dela tem um parente que trabalha na cidade, mas nem a garota da família dele é tão branca quanto Sun XiuYun. Essa garota é branca, com olhos grandes, um sorriso e covinhas, e faria o maior sucesso no mercado de encontros às cegas. Qualquer pessoa que encontre com essa garota ficará satisfeita. 

Nesse momento, a casamenteira sentiu que aquela família era realmente um pouco cega (podia conseguir um genro na cidade, mas se contentou com o rapaz da aldeia).

A casamenteira disse com inveja: "Comadre mãe da Xiuyun, você é muito boa em dar à luz. Seus dois filhos são muito bonitos."

"Ah, Comadre Zhang, já que você gostou tanto de Xiuyun, olhe bem por ela... Essa criança também concordou em ver o rapaz mais velho da Família Yang, então contamos com suas boas palavras desta vez."

"Esta bolsa é por minha conta! (Deixa comigo!)"

Sun Xiuyun viu que a casamenteira tinha uma boa impressão dela, então saiu rapidamente e encontrou alguma coisa para fazer. Ela foi para a cozinha ferver água e escutou a casamenteira e sua mãe a elogiando, mas não ouviu o resto. Ela sentiu que, se ficasse mais tempo ali, teria vontade de furar um buraco de rato (enfiar a cabeça no buraco da avestruz, se esconder de vergonha).

Vendo a satisfação da casamenteira com ela, ela sabe que a casamenteira a elogiará por ser bonita, quando for à casa de Jiangang. É melhor deixá-lo ansioso para encontrá-la, porque ela pensa nele todos os dias. Mesmo que ele não tenha nada a ver com ela agora, ela quer que ele pense nela.

Pensando nisso, ela cobriu o rosto e riu, depois enterrou a cabeça nos joelhos, um pouco envergonhada. Ela não conseguia controlar a saudade de Yang Jiangang, depois que voltar no tempo.

Postar um comentário

0 Comentários