Capítulo 32: Oportunidades por Toda Parte


 — Olha, aquilo é uma Fruta Espiritual de Fogo! — vozes empolgadas ecoaram pela vasta extensão da antiga morada.

— E ali tem Erva Barba de Dragão! — outras vozes se juntaram, igualmente entusiasmadas.

Ming He caminhava em passo constante pela morada, os olhos atentos ao redor. Talvez por essa morada não ter sido extraída à força com uma grande formação, a escuridão que a envolvia há tanto tempo dissipou-se à medida que ela emergia para o mundo.

Materiais celestiais e tesouros terrenos brilhavam com cores vibrantes, repletos de energia espiritual. O sol escaldante, os ventos que mudavam de direção e as nuvens em constante movimento criavam um cenário dinâmico. O farfalhar das feras e o canto melodioso dos pássaros misturavam-se ao caos dos passos apressados dos discípulos de diversas seitas. A cena era movimentada, assemelhando-se a um reino próspero — como um paraíso deveria ser.

— Su, discípula herdada, você não vai coletar nenhuma erva espiritual ou fruta? — um discípulo da Seita Liu Yun perguntou a Ming He, confuso com sua postura calma.

— Sem pressa — respondeu ela de maneira leve, observando o discípulo avançar com entusiasmo para recolher ervas e frutas espirituais, sem a menor intenção de explicar mais.

Eles ainda estavam na periferia da morada. Embora aquelas ervas e frutas tivessem, de fato, algum valor, naquele ponto eram de grau inferior.

Ming He buscava mais do que pequenas oportunidades. Ela almejava recompensas muito maiores.

Avançando para as profundezas, ela sabia que além das oportunidades ocultas, também enfrentaria feras formidáveis. Perigo e oportunidade coexistem — e ela havia escolhido mergulhar fundo, desprezando os tesouros ao alcance fácil.

Além disso, a morada ofereceria amplas chances… e incontáveis disputas. Tomar tesouros alheios seria bem mais eficiente do que recolhê-los um a um.

Ela não tomaria a iniciativa de matar, mas com seu atual nível de cultivo, parecia um alvo fácil. Era inevitável que alguém tentasse se aproveitar dela.

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Ming He enquanto ela se virava, escolhendo uma direção para seguir. Qin Chu Yi havia mencionado que os discípulos do núcleo da Seita Liu Yun a ajudariam a encontrar o artefato espiritual em forma de estrela, mas Ming He nutria poucas esperanças quanto à ajuda deles.

Em outras palavras, ela confiava apenas em si mesma.

Já que aceitara essa tarefa, precisava se empenhar totalmente — afinal, ele era um Jovem Mestre de uma família prestigiada.

Ming He refletiu que talvez Qin Chu Yi tivesse realmente oferecido ajuda com sinceridade naquele momento. A intensidade de sua fixação pelo artefato espiritual, seguida pela decepção, lembrara Ming He de sua própria impotência no passado — o que pode ter despertado seu desejo de ajudá-lo.

No entanto, mais tarde… dizer que não considerou o status de Qin Chu Yi como um Jovem Mestre de família nobre seria mentira.

Uma família prestigiada estava muito acima das demais; ajudar um Jovem Mestre de tal linhagem significava poder esperar uma recompensa significativa em troca.

Ah, os interesses… Ela nunca se esquecera de considerá-los.

Ming He recolheu o sorriso, segurando firme a espada longa branca em sua mão enquanto seguia por um caminho já familiar. Permitiu-se um breve momento de descontração, observando a paisagem balançar suavemente sob a luz do dia. A luz do dia é certamente melhor do que a escuridão.

Naquele dia, o artefato espiritual em forma de estrela fora levado por um gato preto — que, por sua vez, foi agarrado no pescoço por uma sombra vermelha que desapareceu num instante.

Pela silhueta e voz, aquela sombra vermelha parecia ser… uma mulher.

Uma mulher.

E quanto à mulher dentro da antiga morada? Quem saberia qual era sua origem? Talvez fosse poderosa além do que Ming He podia imaginar, mas sua força, com certeza, estaria limitada.

Afinal, pela lógica habitual, aquela mulher deveria ser inimiga do mestre da morada, selada ali por ele, certo?

Com o pingente de jade feito de Pedra de Reunião Espiritual e a Técnica de Controle da Respiração, obter o artefato espiritual em forma de estrela não deveria ser difícil. O verdadeiro desafio seria localizá-lo.

As chances de encontrá-lo naquele vale eram mínimas, especialmente com a antiga fera feroz Kui à espreita. Ming He não tinha intenção de entrar lá.

Mas “mínimas” não significava “nulas”. E se…? Ela não gostava de suposições incertas.

Precisava de alguém para testar o terreno por ela.

Ming He calculava mentalmente. Ah, como seria maravilhoso se já tivesse cultivado o terceiro nível da Técnica de Controle da Respiração. Certamente tudo estaria mais fácil agora.

Quem será o infeliz enviado para sondar o caminho?

Nesse momento, ouviu uma comoção à distância. Sons de combate chegaram suavemente aos seus ouvidos. Parecia haver muitas pessoas envolvidas.

— Entreguem o núcleo demoníaco da Fera Xuanhu, e pouparei suas vidas — uma voz autoritária, repleta de arrogância, chegou aos ouvidos de Ming He. Ela ergueu o olhar em direção à base de grandes árvores, onde um grupo de pessoas estava em confronto. Ao reconhecer as identidades, seus olhos se estreitaram; não tinha planos de intervir naquele momento.

— Que absurdo! Foi o Irmão Sênior Su quem matou a Fera Xuanhu! Isso não tem nada a ver com o Palácio Wu Ji! — um discípulo de vestes brancas respondeu, furioso. Ele era um discípulo do núcleo da Seita Liu Yun.

O Irmão Sênior a quem se referia era ninguém menos que Su Cheng Feng.

— Hah — zombou o discípulo à frente do grupo do Palácio Wu Ji, com olhos cheios de desdém. — Vocês são muito ingênuos!

— Uma vez dentro da morada, com os tesouros à nossa frente, quem se importa com moral ou certo e errado? Naturalmente, quem tem o punho mais forte é quem leva o núcleo demoníaco.

Ao dizer isso, ele avançou de repente, diminuindo rapidamente a distância entre si e Su Cheng Feng. Com um movimento leve, desviou a mão que Su Cheng Feng estendia com sua espada. Em um instante, riu suavemente no ouvido de Su Cheng Feng, então voltou ao seu lugar original, segurando o núcleo demoníaco ensanguentado com um sorriso provocativo, o rosto brilhando de satisfação.

— Irmão Sênior Xia é impressionante! — os discípulos do Palácio Wu Ji olharam para ele com orgulho e admiração.

Xia Shaojie sentiu-se vaidoso com a adoração dos irmãos e irmãs juniores. Encarando o olhar furioso de Su Cheng Feng, deu um sorriso sarcástico. Apesar de ter uma posição respeitável no Palácio Wu Ji, ainda era jovem e inexperiente. Em termos de cultivo, ele e Su Cheng Feng estavam no mesmo nível — ambos no oitavo estágio do Guiamento Espiritual — um praticava a espada, o outro, técnicas de palma. Quem venceria num duelo direto era incerto.

Infelizmente, Su Cheng Feng era um cavalheiro. Cavalheiros não se previnem contra canalhas — e foi por isso que Xia Shaojie teve sucesso no ataque repentino.

— E agora? — Xia Shaojie sacudiu o núcleo demoníaco em sua mão. — Está comigo agora, então é meu. O Jovem Mestre Su pretende tomá-lo de volta?

Estava zombando das origens de Su Cheng Feng.

— Tesouros celestiais e terrenos, oportunidades por toda parte — quem não os desejaria? — Su Cheng Feng desembainhou sua espada. — Para obter o núcleo demoníaco da Fera Xuanhu… já perguntou à minha espada?

— Não se trata de conseguir — e sim, de manter. — Ele riu friamente, apontando a espada. — Xia, cuidado.

Clang!

O som cortante da lâmina ecoou. O vento soprou forte. Atrás deles, os discípulos da Seita Liu Yun e do Palácio Wu Ji se entreolharam, pondo as mãos em suas armas, prontos para agir a qualquer instante.

Ming He permaneceu oculta, observando as duas figuras em combate — um com espada, o outro com golpes de palma — ambos relutando em ceder. Ela estreitou os olhos, pensando em como poderia atrair discretamente o pessoal do Palácio Wu Ji para investigar a situação naquele vale.

Como cultivadores no oitavo nível do Guiamento Espiritual, estava claro que o pai do Herói Dragão era, de fato, diferente. Naquele momento, o ataque de Xia Shaojie contra Su Cheng Feng era feroz, mas todos podiam ver que ele já estava em desvantagem — não conseguia atingir Su Cheng Feng. O resultado era previsível.

Um cultivador da espada pode derrotar seu inimigo com um único golpe ou dissipar o ataque enquanto acumula energia. Ninguém quer disputar resistência com um espadachim de mesmo nível — o desfecho é claro.

Mesmo sem poder espiritual ou energia da alma, mesmo que não lhes restasse nada… um espadachim não se renderia facilmente. Afinal, eles eram cultivadores da espada.

Ming He observava Su Cheng Feng, sua túnica branca manchada de sangue da batalha contra a fera, ainda assim mantendo-se sereno. A pergunta de Qin Chu Yi ecoava em sua mente: “Por que você pratica a espada?”

Por que eu pratico a espada?

Porque a espada… é forte?

Talvez.

Ming He sorriu e saiu de seu esconderijo em direção ao grupo da Seita Liu Yun.

— Irmão — chamou suavemente Su Cheng Feng.

— Xiao He — ele respondeu com ternura, tomando o núcleo demoníaco das mãos de Xia Shaojie com expressão calma. — Vai se juntar a nós daqui em diante?

Antes da partida, o Mestre da Seita havia lhes instruído a encontrar algo na morada para levar de volta — mas não especificou o quê, apenas mencionou que Ming He saberia, e que poderiam agir juntos.

O que seria aquilo…?

Su Cheng Feng então se lembrou da Mulher de Branco que encontrara enquanto procurava por Ming He no Pico Qingyun. Foi a primeira vez que viu Qin Chu Yi de perto.

Será que aquilo… tem relação com o Chefe Qin?

Enquanto ponderava sobre a conexão, seu olhar tornou-se mais profundo.

—Claro. —Ming He lançou um olhar para Xia Shaojie, cujo rosto estava pálido como cinzas, sem demonstrar a menor preocupação. Desta vez, ela não recusou o convite de Su Cheng Feng; havia mais coisas que precisava confirmar, e mais mãos seriam úteis.

—Irmão, vamos. —Ela apontou na direção oposta ao palácio do vale e falou suavemente, deliberadamente injetando um toque de desdém no olhar que lançou a Xia Shaojie antes de se virar.

—Certo. —Su Cheng Feng apertou com firmeza o punho da espada e liderou os outros discípulos na direção indicada por Ming He, sem sequer lançar um olhar para os membros do Palácio Wu Ji.

A fúria de um homem gentil é a mais temível de todas.

—Hmph. —Xia Shaojie sacudiu a manga com desdém. —Vamos por aqui. —Declarou, apontando para a direção oposta à de Su Cheng Feng e seu grupo.

Ao ouvir suas palavras, um leve sorriso curvou os lábios de Ming He. Então, ela seguiu Su Cheng Feng, afastando-se ainda mais.

Piu—

Rooaar—

Após cerca de quinze minutos de caminhada, os olhos de Ming He brilharam ao ver um raio de luz intensa disparar para o céu na direção por onde Xia Shaojie e seu grupo haviam seguido, seguido por um rugido ensurdecedor que fez a terra tremer.

O rugido era selvagem e inconfundível — era a fera feroz ancestral Kui, a mesma criatura que Ming He havia enfrentado em sua fuga entre a vida e a morte.

—O que foi isso? —perguntou um discípulo da Seita Liu Yun, sua voz carregada de confusão ao ouvir o tumulto distante. Momentos depois, a empolgação surgiu em seu tom. —Deve estar acontecendo algo extraordinário!

Ele se firmou e virou-se para a pessoa ao seu lado.

—Irmão Sênior Du, Irmão Sênior Su, Su, o discípulo herdado… devemos ir investigar?

O tal Irmão Sênior Du era Du Lei, um discípulo do núcleo da Seita Liu Yun e o principal competidor da competição recente, com cultivo no auge do oitavo nível do Guiamento Espiritual.

—O Mestre da Seita ordenou que todas as ações sigam a liderança de Su, o discípulo herdado —respondeu o jovem chamado de Irmão Sênior Du, com tom respeitoso enquanto lançava um olhar para Ming He.

Ming He piscou, levemente surpresa com sua atitude tranquila.

—Então vamos ver —disse ela.

Ver… quem foi o azarado da vez.

—Aquele é… um artefato de espada de classe Xuan!

—E um forno de alquimia, e um forno de forja!

—Aquele é um talismã explosivo de classe Xuan!

—Aquela jade é minha!

O palácio do vale, antes sereno, agora era um verdadeiro caos, com a luz radiante perfurando os céus. Cultivadores espalhados pela área, atraídos pela comoção, corriam em velocidade máxima. Seus olhos brilhavam de ganância diante dos tesouros celestiais e materiais terrestres, e entraram com avidez na disputa frenética.

Roaar!
Kui, a fera ancestral, despertou mais uma vez de seu sono. Desta vez, os invasores eram ainda mais numerosos que antes. Seus olhos turvos e injetados de sangue se abriram abruptamente, e soltou um uivo ensurdecedor que fez a caverna inteira tremer, desestabilizando-a instantaneamente.

—O… o que é aquilo? —murmurou um cultivador, com a voz trêmula ao vislumbrar a besta em meio ao caos. No instante em que recuperou os sentidos, virou-se e fugiu, abandonando a fúria pelos tesouros.

—Kui! Aquela é a fera feroz ancestral Kui!

—Corram!

—Como aquela coisa veio parar aqui?

A multidão de cultivadores se dispersou em pânico. Alguns largaram os tesouros pelos quais lutavam, enquanto outros, movidos pelo desespero, agarraram o que puderam antes de fugir.

Afinal, com tanta gente fugindo, Kui não poderia perseguir apenas um, certo…?

Ou assim pensava. No instante seguinte, percebeu que Kui estava justamente atrás dele.

Cultivador: —……

—Irmão Sênior, joga o forno fora! —gritou um cultivador próximo, furioso com a tentativa descarada de jogar o perigo sobre os outros.

—Tá bom! —rosnou o cultivador entre os dentes, olhando relutante para o pequeno e delicado forno de alquimia em sua mão. Com um movimento rápido, lançou-o na direção de Kui.

Mas ao se virar novamente… Kui ainda estava bem atrás dele. O pavor o dominou, sua mente ficou em branco, restando apenas um instinto primordial:

“Corre! Corre agora!”

Ming He permanecia no alto de uma árvore distante, seu olhar afiado observando tudo atentamente. A rajada de luz traçou um arco elegante no ar antes de desaparecer sem deixar vestígios.

Por que estava acontecendo isso…?

Ilusão ou realidade? Verdade ou engano…?

Ela murmurou para si mesma, perdida em pensamentos.

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