— Amiga Ming, por favor, me salve.
Num canto sombrio e escasso da floresta profunda, uma mulher vestida de vermelho estava amarrada ao tronco de uma árvore por vinhas vermelho-sangue, incapaz de se mover. Sua roupa vibrante irradiava calor, dificultando saber se ela estava ferida.
Naquele momento, ela fitava a jovem de azul que surgira por perto, com a expressão cada vez mais sombria. Depois de lutar em vão contra as vinhas implacáveis, um lampejo de frustração passou por seus olhos. Ao levantar o rosto novamente, seu semblante mudou para um de impotência e súbita esperança.
Ming He permanecia à distância, sem qualquer intenção de se aproximar. Depois de saltar até o topo das árvores e confirmar que o artefato espiritual em forma de estrela não estava nos palácios do vale, ela se separara de Su Cheng Feng e dos outros.
Afinal, aquela caverna antiga estava repleta de oportunidades, e ela não tinha motivos para esperar que seguissem seus planos. Quanto às oportunidades… Ming He estreitou os olhos, decidindo ignorá-las.
Após confirmar a ausência do artefato nos palácios do vale, não era difícil deduzir onde ele poderia estar.
Aquela floresta densa, conectada por pedras negras e que se estendia além da beira do penhasco, era um lugar que até mesmo a antiga e feroz besta Kui temia pisar.
Assim que determinou a direção, ela seguiu com cautela até lá, evitando o caminho trilhado antes com Qin Chu Yi. E foi ali que encontrou aquela mulher de vermelho — uma possível parceira Dao do Jovem Mestre Zheng Qi da Seita Hehuan?
Pela aura, ela parecia estar no oitavo nível do Guiamento Espiritual, dois pequenos reinos acima de Ming He, equivalente ao nível de Su Cheng Feng.
Vinhas vermelho-sangue…
Ming He encarou as vinhas que quase haviam ceifado sua vida anteriormente, mantendo a expressão impassível enquanto ponderava sobre a presença daquela mulher ali.
— Você me conhece? — perguntou Ming He, notando que as vinhas não mostravam sinais de atacá-la. Encostou-se preguiçosamente ao tronco de uma árvore imponente, falando devagar, completamente indiferente à urgência de vida ou morte da situação.
Afinal, a mulher estava apenas presa; ainda não morreria.
Ela ainda tem tempo, pensou Ming He, inclinando-se ainda mais confortavelmente contra a árvore.
— Sim — respondeu a mulher de vermelho, com a expressão tornando-se mais vulnerável ao notar a falta de pressa de Ming He. Por dentro, quase riu.
A atitude fria e indiferente é divertida — se ao menos não estivesse voltada contra mim, neste momento de perigo.
De fato, aquilo era uma caverna ancestral.
Sua cultivação estava severamente suprimida. Naquele instante, talvez nem fosse capaz de derrotar aquela pequena cultivadora que normalmente ignoraria.
Que lugar miserável!
Praguejou em silêncio. Se não fosse pela Tranca Estelar, jamais me rebaixaria a vir para essa remota Região Oriental!
— Ouvi do jovem mestre sobre o Açougueiro Mãos de Sangue, e sei que ele morreu por sua mão — disse suavemente, com os olhos cheios de esperança de sobrevivência.
— É mesmo? — Ming He deu alguns passos à frente, lançando um olhar às vinhas vermelho-sangue, estranhamente imóveis. Um leve brilho de curiosidade surgiu em seu olhar. — E qual é o seu nome?
Naquela caverna, oportunidades e perigos sempre andavam juntos. Ela já havia explorado oportunidades suficientes. Quanto aos perigos…
Ming He sorriu de leve, esperando pela resposta.
— Meu sobrenome é Ji, e meu nome é Wu Xu — disse a mulher de vermelho, erguendo a cabeça para encarar diretamente Ming He.
Ming He. A discípula herdada da Seita Liu Yun?
Ela se lembrou.
Ji Wu Xu? Ming He repetiu o nome em pensamento, achando-o vagamente familiar. Sua mente se aguçou, e ela se afastou do tronco, abandonando a postura despreocupada ao encontrar o olhar da mulher. Ela era deslumbrante, com cabelos e olhos negros como tinta; os olhos de fênix refletiam a própria imagem de Ming He.
— Você é uma discípula da Seita Hehuan? Qual é a sua relação com Zheng Qi? Por que entrou na caverna? O que está fazendo aqui? E como acabou presa pelas vinhas vermelho-sangue?
— Está agindo sozinha? Por que não está com os outros?
— É uma cultivadora de espada? Por que, sem mais nem menos, o Mestre da Seita Zheng mencionaria o Açougueiro Mãos de Sangue para você?
A mente de Ming He fervilhava com perguntas, os olhos fixos no rosto impecável de Ji Wu Xu, determinada a não perder nenhum traço de sua expressão.
Aquele nome que parece familiar só pode ser de algum personagem da história original.
Ji Wu Xu.
Ao refletir melhor, percebeu que não tinha nenhuma lembrança marcante do nome — apenas uma leve impressão. Ou é alguém importante… ou uma figurante descartável.
Mas uma figurante sobrevive tanto tempo assim? Afinal, o Herói Dragão nem nasceu ainda.
Será que é uma figurante experiente? Ming He abriu a mente sem receios, especulando enquanto aguardava a resposta de Ji Wu Xu.
Ji Wu Xu: — …
— Olhe nos meus olhos — disse ela suavemente, com uma voz calma, mas que parecia carregar certa magia.
No instante em que Ji Wu Xu levantou o olhar, Ming He sentiu o coração acelerar, um aviso disparando em sua mente. Mas, ao ouvir Ji Wu Xu falar, não conseguiu evitar de encarar seus olhos de fênix — sua consciência começou a se apagar, e ela sentiu a mente ficando enevoada.
— Saque sua espada e corte as vinhas. — Ji Wu Xu piscou os olhos encantadores, com a voz tornando-se ainda mais suave, porém cheia de uma sedução irresistível.
Sob seu comando, Ming He sacou a espada sem controle próprio, canalizou energia espiritual até a ponta da lâmina e a brandiu — cortando as vinhas vermelho-sangue que caíram ao redor.
— Muito bem. — Ji Wu Xu observou os pedaços das vinhas espalhados pelo chão e, ao ver que finalmente estava livre, relaxou o olhar e soltou o ar. — Agora, vire-se, saia deste lugar e…
Ela olhou para a garota de azul, parecendo ouvir novamente a enxurrada de perguntas que acabara de receber, um brilho travesso surgindo em seus olhos escuros.
— Encontre um penhasco e pule. Ouviu?
— Ouvi. — Absurdo!
Ming He olhou para si mesma, horrorizada ao ver que realmente havia sacado a espada e a usado para salvá-la — depois ouviu aquela ordem absurda, tão ridícula que teve vontade de rir.
Absurdo!
Justo quando estava prestes a retrucar, ouviu a própria voz, sem emoção alguma, enquanto começava a se virar lentamente.
Ei? Ei! Não é possível?
Ming He sentiu como se algo tivesse aprisionado sua consciência dentro do corpo, observando enquanto ele se afastava da floresta com passos decididos, escolhendo uma direção e marchando adiante… rumo à morte certa?
Isso é ridículo!
Quem vai para a morte com tanto espírito de luta?
Ming He praguejou em silêncio, então se lembrou, com um atraso irritante, de que a bela mulher de vermelho havia sugerido que ela procurasse um penhasco para se atirar?
Não é possível, né? Ela não pode estar mesmo caminhando rumo à própria morte assim, tão calmamente?
Ming He suspirou em seu espaço de consciência, seus olhos afiados captando uma visão no horizonte distante, onde o céu azul profundo tocava a terra — e o penhasco estava bem à frente.
Ming He: “…”
— Ha! — Ji Wu Xu observou a silhueta de Ming He se afastando com um sorriso radiante. Sua beleza deslumbrante, realçada pelo vestido vermelho, era de tirar o fôlego — uma verdadeira encantadora capaz de derrubar reinos, uma figura hipnotizante que deixava uma impressão poderosa.
Ela considerou aquilo como uma resposta àquela série de perguntas!
Ji Wu Xu sorriu de lado; se Ming He morresse mesmo, era apenas um sinal de fraqueza dela. Ia culpar quem?
Hmph!
Ela chutou as vinhas vermelho-sangue já sem vida sob seus pés e virou-se, desaparecendo na floresta profunda.
Na beirada de um penhasco, dentro da morada ancestral, a jovem vestida com roupas azuis segurava com força sua longa espada branca, avançando passo a passo com precisão mecânica. Cada movimento era calculado e desprovido de emoção. A área estava estranhamente silenciosa — um canto isolado da morada onde não havia cultivadores presentes.
— Pare! — a voz de Ming He trovejou dentro de sua consciência. O canto dos pássaros parecia anormalmente claro e melodioso. O ar estava imóvel, e uma brisa suave fazia as folhas farfalharem e caírem ao chão. Era a perfeita encarnação do vento outonal da solidão.
— Droga! — Ming He murmurou entre dentes, seus olhos fixos na borda do penhasco que se aproximava rapidamente. Cem metros! Cinquenta metros! Dez metros! Um metro!
— Hmph! — Com um grunhido desafiador, Ming He invocou uma força inesperada, alimentada por um ressentimento profundo e uma raiva fervente, soltando um grito feroz que deteve seus passos a tempo. Ao recobrar os sentidos, percebeu que de alguma forma havia retomado o controle de seu corpo da técnica secreta de Ji Wu Xu.
Olhando para baixo, Ming He notou uma pequena pedra que havia chutado sem querer cair no abismo escuro e enevoado abaixo — sem fazer som algum. Seu dedão do pé direito estava na beira do penhasco, metade dele já suspenso no vazio.
Rapidamente, Ming He recuou o pé e firmou-se na beirada, de frente para o vento. Ela fitou as nuvens distantes e o pôr do sol radiante, um arrepio de medo percorrendo seu corpo. O controle sobre seu corpo… não era semelhante àquele último encontro com o gato preto na morada ancestral?
Não, era mais forte. Os miados do gato preto apenas a haviam paralisado, mas Ji Wu Xu havia tomado posse completa de seu corpo. O método do gato preto era sonoro — bloquear sua audição bastaria para impedi-lo. Mas a técnica de Ji Wu Xu era algo completamente diferente.
Ming He estreitou os olhos, ponderando se aquilo não seria a técnica de encantamento mencionada brevemente nas escrituras da Seita Liu Yun, entre os registros de fenômenos estranhos. O termo lhe soava vagamente familiar, mas de que adiantava apenas uma vaga lembrança? Continuava sem pistas. Se enfrentasse aquilo de novo, duvidava que conseguiria resistir.
Então como havia se libertado dessa vez? Ming He fechou os olhos, revivendo aquele momento entre a vida e a morte — sua resistência feroz à manipulação, seus profundos arrependimentos de sua vida passada. Foi a recusa em ser controlada que a impulsionou a romper a técnica. Seu esforço total lhe concedera uma nova chance de viver.
Ao abrir os olhos, um brilho gélido cintilava dentro deles — intenso e hipnotizante. Essa mulher não podia ser apenas a parceira do jovem mestre da Seita Hehuan. Por mais significativa que fosse, a Seita Hehuan ainda era pequena, no grande esquema das coisas. Aquela mulher de vermelho, Ji Wu Xu, certamente vinha de um mundo muito mais vasto.
Qual era o objetivo dela aqui? Ming He arqueou uma sobrancelha, retornando pela floresta profunda até o local onde o chão estava coberto por vinhas partidas — e nada mais. Ji Wu Xu havia de fato ido embora; do contrário, Ming He jamais teria ousado voltar.
Vinhas vermelho-sangue. Ming He se ajoelhou, seus dedos tocando as vinhas rompidas, notando sua total imobilidade. Uma hipótese começou a se formar em sua mente. Elas não a atacaram.
Morada ancestral, palácios do vale, a antiga fera feroz Kui, o artefato espiritual em forma de estrela, as vinhas vermelho-sangue, as abelhas sugadoras de sangue, o gato preto e, por fim, aquela mulher — Ji Wu Xu. Ming He organizou seus pensamentos, observando o ambiente ao redor, e a resposta finalmente cristalizou em sua mente.
O artefato espiritual em forma de estrela também era conhecido como Tranca Estelar, como Qin Chu Yi havia mencionado. Ji Wu Xu havia vindo atrás dele. Técnicas de encantamento, sedução, talvez o Segundo Nível da Técnica de Controle da Respiração… e o sexto ponto da técnica Fechando os Pontos de Acupuntura poderiam ser usados contra Ji Wu Xu?
Ming He especulou em silêncio, aceitando com pesar que possuía apenas o pergaminho superior. Então, virou-se e deixou a floresta profunda, escolhendo um caminho que a levava na direção oposta à de Ji Wu Xu.
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