Capítulo 33 Parte 1 – Pagoda dos Nove Sóis (I)


 Faziam três dias desde que Lin Jiu saíra do reino secreto. Em uma pequena cidade no mundo mortal, um homem e uma mulher discutiam em voz alta. O rosto delicado da mulher estava cheio de raiva, enquanto o homem ostentava uma expressão preocupada, suspirando repetidamente. Eles não eram outros senão Qin Yunxi e Liu Qingyin.

— Irmão Mais Velho! — Liu Qingyin bateu o pé frustrada, tentando se livrar de sua mão. — Mesmo agora, você ainda se recusa a admitir seu erro? Se o Mestre realmente quisesse nos matar, estaríamos mortos sob sua espada há dias! Ele nunca teve a intenção de tirar nossas vidas! E você não ouviu as notícias com seus próprios ouvidos? Foi só hoje que Lin Qiu foi pessoalmente trancada na Pagoda dos Nove Sóis pelo Mestre. Do que ainda está preocupado?!

Ela puxou com força várias vezes, mas não conseguiu se soltar. Com o rosto avermelhado, ela finalmente explodiu:

— Eu o encontrei logo depois que saí do reino secreto. Naquele momento, Lin Qiu ainda estava lá dentro! Se ela não saiu, como poderia ter contado ao Mestre? Todas as suas preocupações são completamente infundadas! Você só está inventando desculpas para criar um abismo entre mim e o Mestre! Solte-me! Vou voltar para a seita agora mesmo!

A calma e compostura habituais de Qin Yunxi haviam desaparecido há muito.

— Qingyin, não seja imprudente! Aquele dia em que deixamos o reino secreto, você também viu os olhos dele — será que acha que é assim que um mestre olha para seus discípulos? Se não me engano, ele e os Wang sofreram ferimentos mútuos, e ele simplesmente estava fraco demais na época para lidar conosco! Se você voltar agora, estará indo direto para a armadilha dele!

Liu Qingyin zombou:

— Não pense que não vejo sua intenção! Você quer fazer parecer que fugimos juntos para me forçar a cortar os laços com o Mestre de vez, não é? O que você realmente teme é que Lin Qiu tenha ouvido as bobagens que você me disse naquele dia e contado tudo ao Mestre. Mas agora a verdade está diante dos nossos olhos — o Mestre já a trancou na Pagoda dos Nove Sóis! Você sabe que tipo de lugar é esse? Com a cultivação da Lin Qiu, ha! Mesmo que ela não morra lá dentro, será torturada até a loucura!

A expressão de Qin Yunxi vacilou em um estranho devaneio. Por um momento, ficou sem palavras.

Ele não conseguia entender. Aquele dia, o Wei Liang que encontraram estava, sem dúvida, cheio de intenção assassina — por que, no fim, ele se conteve à força, lançando-lhes apenas um olhar frio antes de se afastar?

Qin Yunxi pensou nisso por dias, mas continuava perplexo. Naquele momento, Lin Qiu realmente estava dentro do reino secreto e não poderia ter revelado aquele segredo. Se ele não sabia, por que explodiu com tamanho ódio de matar? Era um desejo cru, sanguinário — não havia dúvida.

E se nada tivesse acontecido, por que, ao encontrar seus dois discípulos fora do reino secreto, ele não perguntou nada? Sua reação anormal era tão óbvia que até Liu Qingyin, cega pelas emoções, percebeu. Caso contrário, ela não teria tomado a decisão de fugir com ele naquela hora.

Ela já sentira a natureza aterradora daquele homem, mas ainda assim se recusava a encarar.

— Qingyin — a voz de Qin Yunxi estava pesada de cansaço — até quando vai continuar se enganando? Abra os olhos! Ele nunca te viu como algo além de uma formiga. Quando olhava para nós, era como se estivesse olhando para insetos. Você acha que alguém como ele teria sentimentos por um inseto? Ninguém tem sentimentos por insetos, Qingyin. Você deveria ter entendido isso agora.

Liu Qingyin respondeu teimosamente:

— Não importa o que aconteça, eu só sei que Lin Qiu já foi trancada na Pagoda dos Nove Sóis. Com a cultivação dela — mesmo que tenha herdado o legado de Huang Chuan — e daí? Uma vez que entrar na Pagoda dos Nove Sóis, está praticamente morta!

Qin Yunxi soltou uma risada amarga.

— Pagoda dos Nove Sóis, Pagoda dos Nove Sóis! É só isso que você consegue pensar? Na vida passada, eu mesmo tranquei Lin Qiu naquela pagoda, e ela não morreu. Mais que isso, ela ganhou grande poder lá dentro e quase escapou para te matar! Qingyin, agora só há um lugar que pode nos ajudar! O tempo está acabando — não podemos perder mais tempo. Me perdoe!

No momento em que sua aura espiritual disparou, Liu Qingyin foi pega desprevenida. Sua visão escureceu, e ela caiu mole nos braços de Qin Yunxi.

...

“Ninguém mais vai nos perturbar?”

Dentro da Pagoda dos Nove Sóis, os olhos de Lin Jiu se arregalaram ligeiramente enquanto encarava a escuridão à sua frente, surpresa com o sussurro de Wei Liang.

O que ele queria dizer com isso? Esta era a Pagoda dos Nove Sóis — não deveria fazê-la trilhar o mesmo caminho da personagem coadjuvante Lin Qiu? E ainda assim, agora...

Ela não via nada, mas sentia nitidamente a alta figura dele pairando sobre si, os lábios próximos ao seu ouvido, perto o bastante para misturar o hálito. Com sua postura tensa lentamente relaxando, um cheiro frio familiar se espalhou suavemente pela escuridão ao redor, quieto e persistente.

Lin Jiu percebeu nitidamente o cheiro de sangue dele.

A respiração de Wei Liang caiu em seu ouvido, levemente pesada enquanto murmurava:

— Hmm?

Ele percorreu seus lábios com os dedos, então apertou suavemente seu queixo, forçando sua cabeça a se erguer.

A escuridão estranha dentro da pagoda era suficiente para cegar até um cultivador. Mesmo tão perto, Lin Jiu não conseguia enxergar nada. Sentiu quando ele se endireitou, um momento silencioso se estendeu enquanto seu olhar intenso recaía sobre ela.

Então ele se inclinou e a beijou.

Lin Jiu não sabia exatamente o que sentia naquele instante — apenas que seu peito parecia cheio de algodão emaranhado e sufocante. Sentia a respiração pesada dele, junto com a sensação dos lábios. Quente e frio, seu toque carregava uma fragrância gelada familiar. Cada movimento era terno e, ainda assim, seu coração não vacilava nem um pouco.

Finalmente, ela cedeu, os lábios se entreabrindo, desistindo de toda resistência.

Ela finalmente compreendeu a astúcia e crueldade dos cultivadores. Vivendo séculos ou até milênios, cada um era um mestre da manipulação. Comparado à selva que é o mundo da cultivação, a sociedade moderna e regida por leis da sua vida passada era apenas uma estufa protegida. Gritar princípios vazios não bastava para sobreviver neste mundo brutal. Sem força, oportunidades, sorte e proteção eram indispensáveis.

Ela não tinha família nem amigos. Naquele momento, o único que podia ajudá-la, salvá-la, era o homem diante dela — ninguém mais.

Se era isso que ele queria, que assim fosse. Pelo menos era uma troca aberta e justa.

Uma lágrima escorreu do canto de seu olho. Lin Jiu sentiu o coração e os lábios formigarem. Ficou olhando fixamente para frente, sem enxergar nada além da opressiva escuridão.

— O que há de errado? — Depois de um tempo, Wei Liang não continuou. Soltou-a, a voz calma a ponto de ser assustadora. — Por que está chorando?

Um soluço sufocado escapou de seus lábios. Ela deu dois passos para trás, abraçou os ombros e se agachou. Por algum motivo, assim que ele perguntou, as lágrimas jorraram como água de uma represa rompida — incontroláveis, impossíveis de conter.

Ela nem sabia direito do que se sentia injustiçada, só sabia que se sentia assim. Não sabia o que a fazia miserável, apenas sabia que estava miserável.

Não tinha família, nem amigos — como um fantasma errante. E ele... ele era poderoso demais. Até coisas que ele desprezava, descartadas sem pensar duas vezes, eram coisas que ela jamais poderia retribuir, por mais que tentasse. Não era falta de esforço dela — era que a distância entre eles era um abismo, algo que não se preenche em poucos dias ou meses.

Ela precisava de tempo. Precisava de uma chance para crescer.

Por essa chance, ela poderia ceder, poderia dar a ele tudo o que tinha a oferecer — mas isso nunca foi o que ela realmente quis.

Ela queria ser forte, encontrar um parceiro igual, estar lado a lado com alguém que a equiparasse em força. Mas a realidade era a que era. Se recusasse Wei Liang agora, não passaria de teimosia ignorante — um convite à morte.

Pelo menos, Wei Liang não lhe guardava mágoa. Isso já era algo precioso.


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