—Fu Zhou também reconheceu.
Ninguém no navio sabia como era uma rosa alpina do orvalho.
As mãos de Fu Zhou tremiam.
— Todo mundo diz que você é a líder da seita da Carpa da Sorte, e parece que é verdade mesmo. Consegue encontrar pistas até assim? O que significa essa pintura? Tem palácios, noivas e rosas cobertas de neve... Será que as rosas alpinas estão neste lugar?
Ele pensou por um momento e continuou:
—Mas o que isso tem a ver com o cruzeiro? E com os ogros abissais? Onde vamos encontrar uma noiva? Ou será que as rosas alpinas só aparecem quando alguém se torna noiva?
—Acho que nenhuma dessas hipóteses está certa — disse Lin Xinghe.
—Hã?
—A prova deu dicas, lembra? Encontrar uma rosa alpina do orvalho, e depois teve outra pista. Existem apenas cinquenta rosas alpinas nesta sala de exame. Mas na pintura tem bem mais que isso — centenas, talvez até milhares.
Fu Zhou começou a contar, mas parou quando chegou em cinquenta.
—Será que só existem cinquenta rosas verdadeiras no meio desse mar de flores, e temos que identificar quais são as reais?
—Ainda não temos pistas suficientes pra afirmar nada — respondeu Lin Xinghe. — Vamos levar o quadro com a gente e procurar por mais indícios. Você tem um anel de armazenamento, não tem? Pode guardar ele.
Por precaução, Lin Xinghe tirou uma foto da pintura com o celular antes de deixá-la com Fu Zhou.
Atrás da moldura, havia uma porta secreta.
Era feita de algum tipo de metal com brilho semelhante ao ferro negro, fria ao toque.
—Que material é esse? Você sabe? — perguntou Lin Xinghe.
Fu Zhou encostou os dedos e estremeceu com o frio que sentiu.
—Também não sei. Esse mundo tem ogros abissais, parece mais um cenário de fantasia. Talvez o Jiuge saiba.
—Então vamos perguntar a ele depois que acharmos mais algumas pistas — disse Lin Xinghe.
Ela tateou a parede em busca do mecanismo para abrir a porta do espaço seguro.
Quando a porta se abriu, a luz da galeria invadiu o ambiente escuro e iluminou uma pequena parte de dentro.
Fu Zhou estalou os dedos, e um feixe de luz saltou de sua mão, condensando-se numa esfera que flutuava no ar, clareando todo o espaço como se fosse dia.
Lin Xinghe já tinha visto esse tipo de esfera antes no escudo de cabelo do Jiuge, então sabia que era uma luz mágica.
—Aquela ferramenta de luz que o Jiuge comprou — explicou Fu Zhou — ilumina uma área de cerca de cinquenta metros quadrados. Se usar duas, o alcance dobra. Uma vez, fizemos uma aposta pra ver quem perdia menos cabelo em um dia. Ele perdeu, então me deu uma dessas.
Lin Xinghe: ...Vocês homens são realmente curiosos.
Havia oito pessoas espalhadas pelos cantos do cômodo escuro. Todos tinham a pele amarelada e pareciam fracos — talvez por passarem muito tempo escondidos na escuridão —, e a luz intensa os fez cobrir os olhos.
Depois de se acostumarem à claridade, se encolheram de medo; alguns até choraram em desespero.
Lin Xinghe lançou um olhar rápido a eles e foi direto investigar o espaço ao redor.
Para sua surpresa, o ambiente tinha entre quarenta e cinquenta metros quadrados. Havia camas, tapetes, penteadeiras, biombos e até um relógio de pêndulo. Todos os móveis eram duas vezes maiores que o normal, com um estilo similar ao do palácio retratado na pintura, com detalhes luxuosos e refinados.
Mas estavam visivelmente envelhecidos.
Era, sem dúvida, o quarto de uma moça.
Lin Xinghe começou uma busca minuciosa, revirando todos os cantos possíveis do quarto. No fim, apenas um guarda-roupa trancado permaneceu intacto.
Fu Zhou também notou.
—Deve haver uma chave.
—Não deve ser tão complicado assim — disse Lin Xinghe. — Vamos quebrar a tranca.
—Se fosse possível quebrar, as pessoas daqui já teriam feito isso faz tempo.
—Claramente, eles nem tiveram chance — rebateu Lin Xinghe, balançando a cabeça. — Fazer barulho ou acender luz chamaria atenção. É bem provável que nem saibam o que tem dentro desse quarto.
Fu Zhou deu um golpe na tranca — e, de fato, ela se quebrou.
O trinco caiu no chão com um baque metálico.
Dentro do guarda-roupa, havia um vestido de noiva branco como neve, um par de sapatos de cristal e uma caixa de joias.
Lin Xinghe tirou tudo e colocou sobre a cama. Comparou cuidadosamente o vestido com o da pintura e confirmou: era o mesmo. Ao abrir a caixa de joias, encontrou um colar de safira com brincos e pulseira combinando, além de um pequeno códice de couro de carneiro, do tamanho da palma da mão.
O códice narrava uma antiga lenda nupcial—
Há muito tempo, uma donzela pura se apaixonou por um ogro abissal. O ogro, encantado com a beleza e bondade da jovem, celebrou com ela um grandioso casamento a bordo de um navio de cruzeiro. Desde então, viveram felizes para sempre, como um conto de fadas.
Fu Zhou gaguejou:
—Essa sala de exame é... um conto de fadas?
—Nem sempre as aparências dizem tudo — respondeu Lin Xinghe com calma.
—Mas... a noiva e o ogro abissal viveram felizes para sempre. Isso não é um conto de fadas?
—A noiva era humana. O ogro abissal era humano? Eles são de espécies diferentes. É possível que seres diferentes encontrem felicidade juntos. Mas, se o ogro realmente a amava, por que construir um quarto secreto escondido atrás de uma pintura? Quando se ama alguém, você quer oferecer o melhor. Isso aqui parece um bom lugar pra ela? Eu diria que é mais como uma gaiola dourada.
Fu Zhou não esperava esse tipo de raciocínio.
—Se a noiva humana e o noivo ogro abissal realmente tivessem realizado um grande casamento no cruzeiro, por que não há nenhum vestígio disso? — acrescentou Lin Xinghe. — A única pintura relacionada à noiva está escondida atrás de outra. Ah, o ogro abissal era obcecado pela beleza e bondade da donzela, mas não queria compartilhá-la com os outros. O único manuscrito que conta a história deles estava trancado dentro de uma caixa de joias, guardada num guarda-roupa trancado, num espaço escuro escondido atrás de uma moldura. Será que a noiva humana era mesmo tão ruim assim, para precisar ser escondida desse jeito? Isso não é exatamente o tipo de cafajeste moderno que fala da namorada, mas se recusa a apresentá-la e a mantém em segredo?
—Quando você coloca assim... o ogro abissal parece mesmo um cafajeste… — admitiu Fu Zhou.
—É só uma suposição — respondeu Lin Xinghe. — Não há provas suficientes para afirmar que o ogro abissal era realmente um cafajeste…
Ela voltou a folhear o manuscrito em pergaminho e finalmente encontrou uma linha na última página:
“Foi o destino que te trouxe até aqui. Tudo foi arranjado por Deus. Se você aceitá-lo, a chave para a porta da felicidade estará em suas mãos.
—Lilith.”
Pensando em algo, Lin Xinghe foi até a cama, virou o vestido de noiva e, por fim, encontrou o nome "Lilith" bordado na barra da saia.
—Que tipo de superpoder você tem? Consegue achar até uma coisa tão pequena assim?! — exclamou Fu Zhou.
—Foi só um palpite. Achei que poderia haver um bordado no vestido, mas não esperava que fosse o nome dela. Fiz uma suposição ousada e consegui confirmar.
Ela refletiu por um momento e disse:
—Então a última linha foi escrita por Lilith.
—Para quem ela escreveu?
—Provavelmente para outra pessoa. Segundo a lenda da noiva no códice, foi Lilith quem se apaixonou primeiro pelo ogro abissal. Se ela se apaixonou primeiro, não faz sentido falar em aceitar ou não os avanços dele. Suas palavras parecem tentar convencer outra pessoa a aceitar os ogros abissais. Então… quem é essa outra pessoa? Quem foi guiado pelo Destino até aqui…
Lin Xinghe pensou mais um pouco, mas não conseguiu chegar a uma conclusão.
Nesse momento, os passageiros reencarnados que estavam encolhidos no canto pareciam um pouco menos assustados. Um deles até criou coragem para perguntar:
—Vocês… quem são vocês?
—Não precisam ter medo — disse Lin Xinghe. — O ligui a bordo assinou o Tratado da Rosa Alpina Conífera conosco. Agora, nós, humanos, e os ligui vivemos em paz. Se qualquer um de vocês me fornecer uma informação útil, todos poderão sair daqui.
Ela fez a todos os outros passageiros reencarnados a mesma pergunta que havia feito a Ling Xiran — não que não confiasse nela, mas achava que talvez os outros tivessem informações diferentes.
—…Aqui não é completamente seguro, mas eu nunca contei isso pra ninguém. Tive medo de causar pânico — disse de repente um homem baixinho, no canto.
Lin Xinghe olhou para ele e disse:
—Continue.
—É verdade que os ligui e os ogros abissais não podem entrar aqui, mas depois de meio ano, um ogro especial aparece e mata todos que estiverem dentro.
—Como você sabe disso? — perguntou Fu Zhou.
—Meu irmão mais velho também embarcou neste cruzeiro, e eu vim procurá-lo depois que ele desapareceu. Quando subi a bordo pela primeira vez, encontrei o espírito dele, que me contou sobre esta zona segura. Nem os ligui nem os ogros abissais podiam entrar, mas todas as pessoas que se esconderam aqui só tinham meio ano de vida. Se não escapassem da maldição do navio, um ogro especial viria exterminar todos nesse quarto a cada meio ano. Meu irmão se escondeu aqui e foi morto pelo ogro especial seis meses depois. Seu espírito sobreviveu até o fim do segundo massacre, até eu embarcar no navio, mas depois disso nunca mais o vi…
Lin Xinghe obteve uma informação crucial — um ogro especial.
Foi também nesse momento que ela percebeu que havia buracos por toda a parede oposta à entrada.
O homem baixinho disse novamente:
—Esses buracos aparecem quando a parede é exposta à luz ou ao som, mas quando a luz e o som desaparecem, eles também desaparecem.
Lin Xinghe achou aquilo um tanto enigmático.
Ela pediu a Fu Zhou que guardasse a esfera de luz.
Quando o cômodo voltou a ficar escuro, ela tocou a parede e percebeu que os buracos realmente tinham desaparecido. A superfície estava lisa e fria. Mas quando Fu Zhou lançou novamente a esfera de luz ao ar, os buracos tornaram-se visíveis a olho nu.
Ela estendeu a mão e cutucou um — levava mesmo para o lado de fora. Não era de se espantar que as pessoas ali dentro não pudessem emitir nenhum som ou luz — os ligui do lado de fora fariam de tudo para matá-los através daqueles buracos.
—O material da parede é o mesmo do material da entrada atrás da pintura — disse Lin Xinghe a Fu Zhou. — Pode chamar o Jiuge para ver se ele sabe o que é?
Pouco depois, Jiuge apareceu.
Ele não sabia o que era, mas sugeriu:
—Parece um tipo de metal que só existe nas profundezas do mar, especificamente na zona abissal.
—…Mar profundo? Zona abissal… — murmurou Lin Xinghe.
—Também tem relação com os ogros abissais? — perguntou Fu Zhou.
—Tenho uma dúvida agora — disse Lin Xinghe. — A partir das pistas, podemos deduzir que só o ogro especial consegue entrar aqui. Presumivelmente, as características desse material não o afetam. Os buracos também são artificiais, e só é possível que o ogro especial os tenha feito. Ou seja, esses buracos são repletos de contradições…
Ela se calou, pensativa.
Fu Zhou achou que ela havia chegado a alguma conclusão e perguntou, esperançoso:
—E então?
—Essa sala de prova é bem interessante — respondeu Lin Xinghe.
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