— Mestre, minha mão dói.
— Ossos jovens não deveriam doer. Continue escrevendo.
Xia Shi bateu os nós dos dedos sobre a mesa.
Suiyin fez uma careta diante da pilha de papéis que se erguia ao seu lado.
Qin An as encontrou assim na sala silenciosa.
Sabia que Suiyin copiava as regras da seita ali — mas não que a Elder Wuwei supervisionava.
— Elder Wuwei. — Ela bateu à porta de maneira adequada, aguardando.
— Entre.
Ao ver Qin An se aproximar, Suiyin levantou-se às pressas, lágrimas de alegria escorrendo pelas bochechas.
Você é tão gentil em me visitar, pensou Suiyin com gratidão, mentalmente agradecendo Qin An mil vezes pela oportunidade de descanso preguiçoso.
Que alma boa.
— Hum… Suiyin, preciso falar com você. — Qin An olhou com cautela para Elder Wuwei próxima.
Com a presença da elder, as palavras preparadas ficaram presas em sua garganta.
Suiyin entendeu o pedido silencioso, mas balançou a cabeça.
— Não posso deixar esta sala silenciosa.
— Sua mente está perturbada, Qin An. — Xia Shi apoiou a cabeça na mão, o olhar aparentemente fixo nos pergaminhos da mesa, mas sem perder nada.
Os lábios de Qin An tremeram.
— Um pesadelo me assustou ontem à noite.
Xia Shi finalmente ergueu o olhar, estudando Qin An com intensidade renovada.
Após uma longa pausa, ordenou:
— Venha aqui.
Qin An aproximou-se obedientemente e se ajoelhou ao lado da mesa.
Dedos frios tocaram sua testa. Um sopro gelado percorreu Qin An, surpreendentemente acalmando seus pensamentos caóticos.
Xia Shi segurava agora um fio de fumaça azul consciente que se desintegrava ao toque. Suiyin, curiosa, inclinou-se para observar.
— Mestre, o que é isso?
O fenômeno fugaz deixou até Xia Shi intrigada.
— Qin An, medite aqui até meu retorno. — Ela se virou bruscamente para Suiyin. — Volte a copiar as regras da seita. Nada de preguiça.
Suiyin: “…”
O sino de jade na cintura de Xia Shi tilintou suavemente enquanto ela se movia pelo Reino Sanqing. Sua insistência em ter Xuanhua instalado várias formações agora compensava — atravessar o reino exigia mínimo poder espiritual.
Ela materializou-se no Salão Yuxing, silenciando os discípulos que se curvavam com um gesto.
— Líder da Seita! — Seu grito ecoou pelo salão antes de entrar completamente.
Ye Xiao piscou cansado e, em seguida, franziu a testa para a intrusa.
— Não deveria estar no Salão das Escrituras?
— Licença temporária. — O tom grave de Xia Shi cortou a formalidade. — Notícias críticas.
Percebendo a urgência, Ye Xiao assumiu toda sua autoridade.
— Reporte.
— O Reino Sanqing foi violado.
— Impossível! — Sua negação foi instantânea. — Minha consciência embutida na barreira durante os reparos há um século detectaria qualquer intruso!
Os olhos de Xia Shi brilharam friamente.
— A menos que tenham contornado as formações por completo.
— Apenas Xuanchen da Cidade Qingyun possui tal habilidade entre os cultivadores dos Nove Reinos. — Ye Xiao inclinou-se para frente. — Qual a evidência?
— O espírito de Qin An. — Xia Shi explicou a energia sinistra que purgara. — Não era poder espiritual — algo mais sombrio. Se o espírito dela não tivesse se instabilizado, poderia ter permanecido oculto.
Enquanto falava, o senso espiritual de Ye Xiao varreu o reino.
Nada.
Tudo parecia perfeitamente normal.
Mas já que sua junior insistia, não podia estar errado — aquela coisa fantasmagórica devia existir de fato.
— Ficarei alerta.
Xia Shi assentiu, tranquila.
— Voltarei agora.
Ela se virou para sair, mas ao cruzar o limiar, uma voz atrás declarou:
— Saída não autorizada da sala silenciosa estende seu período de punição em sete dias.
Xia Shi girou, choque estampado no rosto.
Ye Xiao sorriu.
— Regras são regras.
——
Na sala silenciosa,
Qin An estendeu a espada com mãos trêmulas, mandíbula cerrada, protestos não ditos presos na garganta.
Suiyin piscou.
— O que é isso?
— Ela pertence a…
— Basta. — Suiyin empurrou a arma de volta com dedos suaves como jade, seu habitual jeito despreocupado substituído por seriedade. — Cultivadores de espada não presenteiam suas lâminas.
Qin An olhou para o corpo da espada.
— Não sou digna de uma espada mágica assim.
Uma mão morna pousou em seu ombro. O sorriso de Suiyin transmitia o calor do verão.
— Bobagem. Você conquistou sua posição na seita interna do Reino Sanqing pelo talento e compreensão. Esta espada mágica combina perfeitamente com você — você faria justiça às armas divinas. — Seu dedo bateu contra a lâmina, enviando vibrações pelo aço frio.
Suiyin abaixou o olhar, velando a intensidade súbita. As palavras da tia Yan ecoaram — como ela lidara com espadas ligadas a mestres desde a infância, girando lâminas destinadas em novos padrões.
Nascida para empunhar espadas.
Mas tais verdades poderiam abalar a mente de um cultivador, incitando presentes imprudentes. Nenhum verdadeiro cultivador de espada abandona sua lâmina.
A menos que…
A exceção não dita pairava entre elas: a menos que a espada se quebre.
Durante a pausa momentânea de Suiyin, Qin An ergueu a cabeça com fogo renovado no olhar.
A jovem cultivadora tremia com a determinação despertada, dedos empalidecendo ao redor do punho.
— Obrigada. — Lembrando as instruções de Elder Wuwei, ela caiu em meditação imediatamente.
Suiyin piscou para a discípula sentada de repente. Quem realmente medita assim quando é mandado?
Aproveitando a ausência da mestre, a prodígio assumiu a postura espelhada — joelhos juntos, palmas voltadas para cima.
Olhos fechados…
Ela havia adormecido.
Quando Xia Shi retornou, encontrou duas figuras no chão. Uma movia-se com precisão disciplinada, a energia espiritual girando ao redor mesmo durante a respiração — cada movimento parte da prática de cultivo. A outra continuava cochilando, um sorriso bobo colado ao rosto.
Xia Shi caminhou até a mesa, agarrou um pergaminho de bambu e bateu sem piedade na cabeça de Suiyin. Um pensamento passageiro surgiu: disciplinar discípulos era estranhamente satisfatório. Não era à toa que a Mestre tantas vezes batia na própria cabeça no passado.
Suiyin saltou sentada, mãos cobrindo o crânio.
— Fofocando? — veio a voz da Mestre do alto.
Sabendo que havia sido pega, Suiyin arrastou-se até a mesa com pernas dormentes. Do outro lado da sala, Qin An abriu os olhos que brilhavam como riachos sob o sol — vibrantes, focados, irradiando uma determinação recém-descoberta.
As sobrancelhas de Xia Shi se ergueram. Uma mudança de estado de espírito tão profunda durante sua breve ausência? Seu olhar deslizou entre as duas. Alterar a mentalidade de alguém exigia tanto a percepção do orador quanto a resolução latente do ouvinte. O fato de Qin An ter respondido tão profundamente dizia muito.
— Elder Wuwei. — A voz da garota soou clara agora.
— Qual pico reivindica você, Qin An?
— Pico Jingyang.
Ah. Domínio dO Mestre Fan. Xia Shi recordou como os anciões do pico supervisionavam a conduta, mas raramente guiavam o cultivo — exceto para discípulos pessoais. A maioria dos discípulos internos recebia o mesmo treinamento genérico, amplitude sobre profundidade. Ela já havia argumentado a favor de instrução especializada, mas a Mestre descartara a ideia. Anos depois, Senior Sister Ye Xiao claramente mantinha a mesma tradição falha.
— Visite o Salão das Escrituras a cada terceiro amanhecer. — Xia Shi retirou um tomo esfarelado de seu anel de armazenamento, suas páginas sussurrando como folhas de outono. Qin An aceitou reverentemente, dedos mal tocando as bordas frágeis.
— Pratique este método do coração com o Estilo da Espada das Três Mil Águas Fracas. — Os lábios de Xia Shi se curvaram. — Três movimentos podem parecer poucos, mas um cultivador de espada precisa apenas de um golpe aperfeiçoado para gravar sua lenda.
Os olhos de Qin An se arregalaram. Orientação real de Elder Wuwei? A garota se curvou profundamente, a gratidão brilhando mais intensamente que sua determinação recém-descoberta.
Enquanto os passos se afastavam, um murmúrio irônico surgiu da mesa:
— Que nobre é nossa Mestre. — O tom seco de Suiyin carregava tanto provocação quanto verdade.
As palavras soavam azedas e estranhamente sarcásticas.
Xia Shi: “…”
Colocando a pena de lado, Suiyin ficou ainda mais irritada enquanto resmungava:
— Eu também quero aprender!
— Aprender o quê? Onde? — Xia Shi respondeu friamente, fitando-a. — Derrubar o Salão das Escrituras? Ou fazer o líder da seita nos desmontar às duas?
O bombardeio de perguntas silenciou Suiyin.
Ela caiu sobre a mesa, murmurando:
— Ensinar aos outros, mas não a mim…
Na sala silenciosa e apertada, ambas sabiam exatamente a quem aquelas palavras se dirigiam.
Xia Shi de repente bufou.
— Você não dominou Tudo Aguarda a Primavera? O que resta para ensinar?
Suiyin se ergueu com um sobressalto.
— Tudo Aguarda a Primavera?
— Aquele golpe final contra irmã Sênior Zuo Ji deveria ser Tudo Aguarda a Primavera. Mas sem intenção de espada em sua energia, você o torceu em Tudo Aguarda o Inverno. — A irritação de Xia Shi reapareceu. Seu movimento elegante de espada fora deformado além do reconhecimento — transformado de arte intricada em um golpe mortal de ceifador.
Suiyin abaixou a cabeça.
— irmã Sênior Zuo Ji também disse que me falta intenção de espada.
— Você nunca teve? — Xia Shi piscou. Supôs que Suiyin escondia sua intenção por constrangimento, nunca a percebendo na energia da garota.
A intenção de espada revelava a verdadeira natureza do cultivador — muitas vezes peculiar. Alguns a escondiam deliberadamente.
Mas não ter nenhuma? Inédito.
Xia Shi conhecera aqueles sem coração de espada ou energia de espada, mas nunca uma cultivadora de espada sem intenção de espada. Era tão inerente quanto respirar para quem empunhava lâminas.
— Mestre — Suiyin perguntou —, o que é intenção de espada? Todos possuem?
Sim. Todos, exceto você.
Xia Shi permaneceu em silêncio. A verdade machucaria, e ela nunca havia encontrado tal anomalia.
— Esta mestre… investigará.
Buscar precedentes.
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