Capítulo 41.1 ao 43.1


 Capítulo 41 Parte 1 – Ele Não Terá Tanta Sorte (I)

O homem de meia-idade que Fuyi havia prendido estava trancado na escura e sem vida Prisão Celestial havia muito tempo. Quando finalmente foi arrastado para fora, a tênue luz das lamparinas nas paredes pareceu ofuscante, fazendo-o instintivamente cobrir os olhos com as mãos imundas.

— Zhou Huaiji, natural de Liyan. Viajou por quase dez países, incluindo Nanxiang, Nanxu e Changlie — o assistente leu do dossiê que segurava. — Sua primeira entrada em Grande Long foi há vinte e oito anos. Está tudo correto?

O homem de meia-idade semicerrava os olhos, tentando se adaptar à luz incômoda enquanto gaguejava:

— Por favor, senhor, tenha piedade... este humilde plebeu apenas veio a Grande Long em busca de sustento. Eu so-... este humilde plebeu apenas não entende como uma dama nobre de repente se ofendeu com minha presença, mas ela usou seu poder para fazer uma falsa acusação e arruinar a vida deste humilde plebeu.

A “dama nobre” de quem ele falava... devia ser Yun Junzhu. O assistente não respondeu à performance trêmula e lamentosa do prisioneiro. Em vez disso, entregou o grosso maço de documentos ao Príncipe Herdeiro. Os papéis continham todo o histórico do homem, incluindo cada pessoa com quem ele havia tido contato desde que chegou a Grande Long.

Em voz baixa, o assistente murmurou:

— Vossa Alteza Imperial, ele está acusando Yun Jun—

— Não diga mais nada — Sui Tingheng ergueu a mão, interrompendo-o. — Tanto eu quanto o Pai Imperador estamos plenamente cientes da situação.

O coração do assistente deu um salto. Então Yun Junzhu tinha a confiança não só do Imperador, mas também do Príncipe Herdeiro! Não é à toa!

Zhou Huaiji estava ainda mais chocado que o assistente. Olhou para Sui Tingheng, claramente com dificuldade para acreditar que a família imperial confiaria tanto em uma mulher que, um dia, estivera tão próxima de Ning Wang.

Naquele instante, incontáveis pensamentos se agitaram em sua mente, e seu rosto empalideceu. A rebelião dos dois príncipes. O falecido Imperador, dito ter morrido de raiva. A grande chama que consumiu a residência da Nobre Consorte Zeng, levando sua vida junto. O trono que Ning Wang havia perdido. Por trás de cada um desses eventos, quem mais se beneficiara fora o outrora negligenciado e miserável Li Wang — agora o Imperador reinante de Grande Long.

Não é à toa que a família Yun recusou-se a apoiar Ning Wang e se opôs à Nobre Consorte Zeng em cada ocasião na corte. Talvez eles fossem aliados de Li Wang o tempo todo!

Ao compreender isso, toda a força abandonou o corpo de Zhou Huaiji.

Enquanto o marisco e o maçarico lutavam, o pescador colheu o fruto — Li Wang, esse pescador ardiloso, enganou o mundo inteiro com aquela aparência fraca e inofensiva!

O assistente observou Zhou Huaiji colapsar visivelmente, como se toda esperança o tivesse abandonado, os olhos voltando-se para o Príncipe Herdeiro com um olhar de pavor e resignação.

Espere um minuto, nada nem começou ainda, não é? O assistente franziu o cenho, confuso. Nem sequer fizemos uma pergunta — por que ele já está tão assustado assim?

Com nervos tão frágeis, o que te fez pensar que poderia espionar em Grande Long?

— Se não quiser falar, não vamos forçá-lo — disse Sui Tingheng, jogando o grosso dossiê sobre a mesa. Para ele, a suposta vida impecável e os planos de Zhou Huaiji não valiam nada.

— Não importa qual nação o enviou, um monarca que só sabe usar métodos vis é incapaz de se tornar um governante sábio. — Ele se levantou e disse ao assistente: — Se ele não tem mais nada a dizer, não o interroguem mais. É só um ladrãozinho pego roubando moedas — não vale o nosso esforço.

Zhou Huaiji ergueu a cabeça, os olhos cheios de ódio e ressentimento. Para um homem orgulhoso, a morte não era assustadora — o que doía era morrer no anonimato, marcado como criminoso vulgar, desprezado por todos.

— Minha morte não importa — disse ele com uma risada. — Mas me diga — quantos na corte de Grande Long são verdadeiramente leais ao Imperador? A bagunça deixada pelo último... boa sorte limpando!

— Em busca de fama vazia, fingindo profundidade. — Sui Tingheng parou os passos e lançou-lhe um olhar frio. — Um homem raso e vulgar. Matem-no.

— Não quer saber os segredos dos seus tão chamados cortesãos leais? — Zhou Huaiji ficou ferido com o “fingindo profundidade” e não quis deixar Sui Tingheng ir embora. — Ou que forças apoiavam Ning Wang—?

Ele achava que essas palavras despertariam o interesse do príncipe herdeiro. Mas Sui Tingheng nem sequer parou. Já estava virando o corredor, prestes a desaparecer de vista.

— Volte! Eu sou o maior mestre estrategista! Vocês, de Grande Long, não podem me tratar assim!

Ele deveria morrer gloriosamente, lembrado e admirado por muitos — não em silêncio, com o nome de um ladrão.

— Alteza Imperial, como devemos proceder com este homem?

— Espancado até a morte.

A lanterna nas mãos de Sui Tingheng era a única luz no longo e estreito corredor. O lugar era vasto e assustadoramente silencioso, tomado por um fedor inescapável de podridão e mofo.

Quando as portas da prisão se abriram, ele ergueu os olhos e viu um céu repleto de estrelas. O vento da noite trazia consigo o perfume doce das flores, mascarando o ar pútrido que saía da prisão atrás dele.

— Alteza Imperial! — Os guardas e atendentes pessoais do príncipe herdeiro correram até ele. Mo Wen avançou rapidamente com uma lanterna para iluminar o caminho de Sui Tingheng. — Suas Majestades já enviaram palavra duas vezes perguntando por que Vossa Alteza ainda não retornou ao palácio.

— Retornem primeiro ao Palácio Chenxi para que eu troque de roupa, depois irei prestar meus respeitos ao Pai e à Mãe — disse Sui Tingheng, entregando a lanterna a um eunuco próximo e sentando-se na liteira. — Mo Wen, amanhã você e Mo Yu devem ir às residências Yun e Liu. Ambas foram injustiçadas — devemos mostrar nosso pesar.

— Conforme ordenado.

Na manhã seguinte, enquanto comparava as duas listas de presentes em suas mãos, Mo Wen não pôde deixar de sentir ainda mais respeito pela família Yun.

Embora ambas parecessem iguais em valor, a lista da família Yun havia sido redigida pessoalmente pelo Príncipe Herdeiro, com cada item selecionado sob sua supervisão direta — o que tornava o gesto carregado de um significado muito diferente.

Mo Wen encarregou Mo Yu de entregar os presentes à família Liu e foi pessoalmente ao Solar Yun.

A família Yun era uma casa de nobreza refinada; até mesmo as árvores e pedras no interior da mansão eram dispostas com elegância, sem ostentação. O mais admirável de tudo era que, mesmo sendo oficiais civis, os membros da família tratavam os eunucos sem desprezo.

— Agradecemos pela visita, Eunuco Mo — disse Liu Qiongzhi, recepcionando-o calorosamente no salão principal para tomar chá. — Meu marido ainda está no Ministério da Fazenda e não retornou. Peço desculpas se nossa hospitalidade tiver alguma falha.

— É muita gentileza sua, Madame — respondeu Mo Wen, com cortesia. — Vossa Alteza Imperial, profundamente perturbado ao ver um oficial leal sendo difamado por canalhas, mal conseguiu dormir esta noite. Logo pela manhã, insistiu para que este servo viesse até aqui em seu nome.

— Por favor, transmita nosso agradecimento a Suas Majestades e a Sua Alteza Imperial pela preocupação — suspirou Liu Qiongzhi. — Foi por má administração dos criados que surgiu tal problema e acabamos preocupando Suas Majestades.

— O Lorde Yun serve ao povo de coração íntegro e é fiel a Sua Majestade. A senhora, Madame, tem apoiado seus maridos com dedicação e há muito é querida pelo povo de Chongzhou. A família Yun não tem culpa alguma — a responsabilidade recai sobre aqueles que abrigam más intenções. — Mo Wen acabara de concluir sua fala quando ouviu risadas alegres de moças do lado de fora.

Levantou-se e viu Yun Junzhu passando com An Junzhu e Lin Xianzhu, conversando e sorrindo. Entre elas, havia uma mulher que lhe parecia vagamente familiar, que parecia ser... Ning Wangfei?

Espere, por que a Consorte de Ning Wang estaria na Mansão Yun?

Entregando seu espanador ao eunuco ao lado, Mo Wen avançou para inclinar-se em saudação.

— Eunuco Mo? — Fuyi não esperava que ele se aproximasse e rapidamente ajeitou seu xale. — Vossa Alteza Imperial lhe confiou alguma tarefa?


Capítulo 41 Parte 2 – Ele Não Terá Tanta Sorte (II)

— Eunuco Mo? — Fuyi não esperava que Mo Wen se aproximasse e rapidamente ajeitou o xale. — Sua Alteza Imperial lhe confiou alguma tarefa?

Mo Wen desviou o olhar de Ning Wangfei e explicou o motivo de sua visita a Fuyi.

— Muitíssimo grata a Suas Majestades e a Sua Alteza Imperial pela consideração — disse Fuyi, fazendo uma reverência na direção do palácio. Após trocar algumas palavras com Mo Wen, ela conduziu suas convidadas até seu pátio.

Ao saírem da Mansão Yun, Mo Wen sorriu e comentou com o jovem eunuco atrás dele:

— Yun Junzhu é uma mulher inteligente.

O rapaz ficou confuso.

Mo Wen não explicou. Ao retornar ao Palácio Chenxi, cumpriu seu dever e relatou ao Príncipe Herdeiro que Yun Junzhu havia convidado Ning Wangfei para sua casa.

— Este servo acredita que foi intencional — disse Mo Wen por iniciativa própria. — Ela fez questão de deixar que víssemos Ning Wangfei com ela — foi sua forma de dizer a Vossa Alteza Imperial que estão em bons termos.

— Ela sempre foi correta e das mais leais. Não deixaria que meras fofocas fizessem suas amigas sofrerem — respondeu Sui Tingheng com uma risadinha leve. — Este príncipe confia nela. Não é necessário relatar esse tipo de coisa no futuro.

Mo Wen hesitou. Sua Alteza só conheceu Yun Junzhu recentemente — como pode ter tanta certeza de que ela sempre foi correta e leal?

— Vossa Alteza Imperial, o Grão-Tutor Lu está pedindo audiência.

Sui Tingheng fechou o livro que lia e ergueu a mão ao ver o Grão-Tutor Lu entrar na sala.

— Não precisa de formalidades, senhor. O que o traz aqui hoje?

— Saudações, Vossa Alteza Imperial — disse o Grão-Tutor com um aceno rápido, indo direto ao ponto: — Há um assunto de grande importância que precisa ser tratado o quanto antes.

Sui Tingheng fez um gesto para que ele tomasse chá primeiro, mas o Grão-Tutor não estava com disposição para conversa.

— Vossa Alteza Imperial, embora tenha começado a participar da corte matinal, ainda não passou pelos Seis Ministérios. Este súdito acredita que está na hora de começar.

Sui Tingheng não respondeu.

— Se me permitir, apresentarei uma petição a Sua Majestade para que os arranjos sejam feitos — continuou o Grão-Tutor Lu, sugerindo quase diretamente que desejava ajudar o príncipe a conquistar poder real na corte.

— Senhor, ainda sou jovem. Não há pressa para que eu me envolva nos assuntos do Estado — respondeu Sui Tingheng, baixando o olhar enquanto erguia a xícara de chá.

Ao perceber claramente que estava sendo dispensado, o Grão-Tutor Lu fingiu não notar e insistiu:

— Participar dos Seis Ministérios é uma coisa. No entanto, Vossa Alteza Imperial também deveria começar a considerar a questão do casamento...

— Já basta — disse Sui Tingheng, pousando a xícara com um ruído seco. — Esses assuntos serão tratados pelo Pai Imperador. O Ministério dos Ritos deve estar muito ocupado ultimamente — concentre seus esforços lá e evite vir novamente ao Palácio Oriental.

— Mo Wen, acompanhe o Grão-Tutor até a saída.

— Vossa Alteza Imperial! — O Grão-Tutor Lu empalideceu. Nos últimos dois anos, o Príncipe Herdeiro jamais o tratara com tamanha frieza. Ele sempre agira em benefício do príncipe — por que estava sendo dispensado de forma tão dura? Que príncipe herdeiro não desejava assumir os assuntos da corte?

O príncipe sempre fora gentil e educado — e agora tratava seu mestre com tamanha frieza. Ao sair, o Grão-Tutor Lu suava em bicas, com o rosto pálido. Ao voltar para casa, não conseguiu responder às perguntas preocupadas da esposa e dos filhos.

— Pai, tome um chá — Lu Yan lhe trouxe uma infusão calmante. — O que aconteceu hoje?

— Assuntos de Estado não dizem respeito a moças como você — disse o Grão-Tutor Lu, agitado e inquieto, já sem a paciência de sempre ao falar com a filha. — Ouvi dizer que você encontrou o grupo de Yun Fuyi recentemente e até conversou com elas?

Lu Yan abaixou a cabeça e permaneceu em silêncio.

— Já te disse antes — mantenha distância dessas inúteis! Não permita que manchem sua reputação — repreendeu ele com severidade. — Você não é como elas.

— Mas Yun Junzhu recentemente acertou todas as flechas no banquete do Estado e trouxe honra a nossa Grande Long — disse Lu Yan, reunindo coragem para se opor. — Até Sua Majestade a elogiou — ela não é uma inútil.

— Insolente! É assim que você fala com seus mais velhos? — rugiu o Grão-Tutor Lu. — Volte para seu quarto! Se ousar se encontrar com alguém como Yun Fuyi de novo, aplicarei a disciplina familiar em você!

Lu Yan voltou para seu pátio, tomada por um humor sombrio. Fitou os altos muros e a árvore de hibisco num canto do jardim, enquanto seus pensamentos divagavam: Se Fuyi estivesse presa aqui, ela usaria aquela árvore para escalar e sair...

Clack.

Uma pedrinha pousou no pátio.

O rosto de Lu Yan imediatamente se iluminou de alegria. Ela correu até debaixo da árvore de hibisco e olhou para o topo do muro.

— O muro do seu pátio é muito alto — quase não consegui subir — reclamou Fuyi. A parte superior de seu corpo surgiu por trás do muro, carregando vários pacotes embrulhados. — Passei por uma barraca que vendia seus petiscos favoritos e comprei alguns.

Ela jogou os pacotes nos braços de Lu Yan. Ao ver os olhos da amiga um pouco vermelhos, perguntou com doçura:

— O que houve?

— Nada, só dormi mal esta noite — respondeu Lu Yan. E não mentia. Passara a noite em claro, preocupada com o que havia acontecido às famílias Yun e Liu.

— Preocupada comigo? — Fuyi bufou enquanto escalava o muro, pulando do hibisco e puxando Lu Yan para um canto do pátio a fim de consolá-la. — Não se preocupe, tanto minha família quanto a dos Liu estão bem. O Príncipe Herdeiro até enviou presentes para nossa casa esta manhã.

Lu Yan desembrulhou um dos pacotes — era um imenso joelho de porco cozido. Seus olhos brilharam, e ela começou a devorar sem hesitar.

Fuyi deu um tapinha em sua cabeça com pena. Pobre menina — tem que se esconder só para comer carne de porco.

Quando Lu Yan terminou de comer, Fuyi recolheu os ossos e os papéis engordurados, preparando-se para levá-los embora e destruir as “provas”.

— Fuyi — chamou Lu Yan —, se tiver tempo, venha me ver de novo.

— Pode deixar. Da próxima vez, trago mais guloseimas. — Ao ouvir passos se aproximando, Fuyi escalou rapidamente a árvore de hibisco e desapareceu por cima do muro num piscar de olhos.

Lu Yan limpou a boca com um lenço e ficou olhando na direção por onde Fuyi sumira, incapaz de conter a risada.

Madame Lu estava à porta do pátio, cheia de preocupação. Essa menina acabou de ser repreendida pelo pai — por que está rindo sozinha no jardim vazio? Será que ele a deixou louca?

Quanto mais temia pela filha, mais sua raiva crescia. A frustração de Madame Lu com o Grão-Tutor finalmente transbordou. Ela girou nos calcanhares, marchou até o pátio compartilhado com o marido e começou a arremessar seus preciosos livros pelo chão, em um acesso de fúria.

— S-senhora...

— Digam aos jardineiros que capturem o gato vadio — ele arranhou todos os livros do meu marido.

Madame Lu ajeitou o vestido e, antes de sair, pegou os livros mais estimados do Grão-Tutor e os jogou no lago de lótus do jardim.

Lendo, sempre lendo — vai acabar lendo até a senilidade, seu estudioso idiota!

— Mestre, as provas da colaboração secreta de Lu com Liyan foram plantadas em seu escritório. Ele é o tutor do Príncipe Herdeiro e ainda sugeriu recentemente que ele tomasse o poder do Imperador. Uma vez confirmada a culpa, nem mesmo o Príncipe escapará impune.

— Excelente — disse a figura sentada na cadeira principal do aposento. Usava um chapéu de bambu, e sua voz rouca não permitia identificar se era homem ou mulher. — Uma amarga luta de poder entre pai e filho — nada chama tanta atenção quanto isso.

— Quando seria o melhor momento para expor o caso?

— Quanto antes, melhor. Os enviados de Liyan ainda estão na capital — como poderiam ficar de fora dessa peça? — a figura riu com desprezo. — Quanto mais demorar, maior o risco. Providencie alguém para fazer a denúncia ainda esta noite.

— Não acredito que o tal Lu tenha a mesma sorte de Yun Wanggui e Liu Zihe, escapando ileso.

Mesmo que Yun Fuyi tivesse algum tipo de sorte misteriosa, não havia como ela ajudar a família Lu a sair dessa. As duas famílias não tinham relação alguma, e era bem sabido que o Mestre Lu desprezava vadios.

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Nota da autora:
Fuyi: “Só estava passando, foi tudo coincidência~”

Capítulo 42 Parte 1 – Preconceito (I)

— Absurdo completo! — Mestre Lu ordenou furiosamente que os criados arrumassem o escritório. Ao descobrir que seus preciosos livros raros haviam desaparecido completamente, ficou tão furioso que sua barba se eriçou e os olhos se arregalaram. — Aquela menina está cada vez mais desobediente, e é tudo culpa sua por tê-la mimado demais!

— E como é culpa minha? A Yan’er ainda se comporta bem, não é? — Madame Lu dispensou os criados da sala com um gesto e, em seguida, apontou o dedo para o nariz de Mestre Lu, praguejando: — Que filha maravilhosa Yan’er é — olha só no que você a transformou! Tudo o que te importa é sempre decoro, decoro e mais decoro! Por que não se casou com sua adorada decência, então?

— Que bobagem ignorante vinda de uma mulher! — Mestre Lu ficou tão desgostoso que mal conseguia respirar. Suas mãos tremiam ao perguntar: — Onde você jogou meus livros? Traga-os de volta agora!

— Já era. — Madame Lu sorriu com desdém. Os livros estavam de molho no lago havia horas — já tinham afundado há muito tempo!

— V-você… — Mestre Lu caiu fraco sobre uma cadeira de madeira. — Não entendo por que você faria algo assim.

Não entende? — exclamou Madame Lu, tomada de raiva. — Você sabe o que Yan’er estava fazendo esta tarde quando fui vê-la?

— O que ela estava fazendo? — Ao ver a dor e a indignação no rosto da esposa, Mestre Lu finalmente percebeu a gravidade da situação e se levantou depressa. — Aquela menina tentou fazer alguma besteira...?

— Pai! Mãe! — A porta do escritório se abriu com força. Lu Yan entrou às pressas, aflita. — A culpa é toda da sua filha — por favor, parem de brigar!

— Yan’er, isso não tem nada a ver com você. — Ao ver a filha querida com os cabelos todos bagunçados de tanto correr, Madame Lu a puxou para trás de si, ainda lançando um olhar fulminante ao marido. — Agora se importa com sua filha, é? Achei que você planejava passar o resto da vida ao lado da sua preciosa virtude!

O rosto de Mestre Lu ficou rubro de constrangimento, mas ele não teve coragem de admitir o erro. Murmurou:

— Só não queria que ela se aproximasse demais daquelas vadias inúteis… só isso…

— E o que tem se for uma vadiagem? Yun Junzhu prestou grandes serviços ao salvar Sua Majestade e humilhou o enviado de Liyan no banquete de investidura do Príncipe Herdeiro. — Madame Lu zombou. — E além disso, ela é uma junzhu imperial. Já que você preza tanto etiqueta e formalidade, não deveria chamá-la pelo título adequado? Um verdadeiro cavalheiro não calunia os outros pelas costas. Seu comportamento não é diferente daqueles velhos fofoqueiros da rua!

— Estou fazendo isso apenas para o bem da nossa filha…

Ao ver os pais discutirem de novo, Lu Yan rapidamente interveio:

— Pai, Mãe, a culpa é toda minha. Por favor, parem de brigar.

— Você não fez nada de errado. Quem está sendo tolo é seu pai. Acho que ele já está ficando gagá. — Madame Lu bufou, apertando a mão de Lu Yan com os olhos marejados. — Yan’er, se algum dia estiver chateada, conte para a Mamãe. Não guarde tudo para si. Se algo acontecer com você… seria como arrancar um pedaço do meu coração.

— Mãe, eu estou bem. Não se preocupe.

— Se está bem, então por que ficou no pátio sorrindo sozinha esta tarde? E por que não jantou?

— Eu… — Lu Yan não teve coragem de dizer à mãe que não sorria para o vazio, mas para Fuyi. Muito menos que não jantara porque tinha comido demais mais cedo.

— Está tudo bem, minha querida — Mamãe sabe que você foi injustiçada. — Madame Lu segurou a mão da filha e a puxou para fora da sala. — Vamos, vou te levar para ficar na casa do seu avô.

— Senhora! — Mestre Lu não esperava que a situação escalasse tanto e correu para impedi-las.

Nesse instante, o som de incontáveis passos ecoou do lado de fora do pátio. O rosto de Mestre Lu mudou drasticamente. Ele se colocou diante da esposa e da filha, encarando a entrada do pátio com desconfiança.

— Lorde Lu, perdoe-nos pela intrusão — disse o comandante da Guarda Imperial ao entrar no pátio, fazendo uma reverência respeitosa. — Um relatório o acusa de colaborar com o Reino de Liyan e de esconder cartas traiçoeiras em seu escritório. Por ordem de Sua Majestade, estamos aqui para conduzir uma busca. Pedimos sua compreensão.

Com ele, vieram oficiais do Tribunal de Revisão Judicial e do Ministério da Justiça.

— Sempre fui leal a Sua Majestade. Jamais trairia o país! — Mestre Lu rugiu. — Isso só pode ser calúnia! Uma conspiração!

— Lorde Lu, Sua Majestade jamais duvidou de sua lealdade — disse o comandante, suspirando diante de sua fúria. — Mas o denunciante tirou a própria vida, batendo a cabeça contra a coluna do Tribunal de Revisão Judicial, diante de muitas testemunhas. Para limpar seu nome, Sua Majestade não teve escolha senão ordenar esta busca.

Quando Sua Majestade soube do caso, também ficou furioso. Mestre Lu era o tutor do Príncipe Herdeiro — se fosse considerado culpado de traição, Sua Alteza Imperial também seria gravemente implicado.

Ao saber que o acusador havia cometido suicídio, Mestre Lu sentiu um calafrio no peito. Mesmo um tolo perceberia — estavam usando isso como arma contra o Príncipe Herdeiro.

Mas quem?

Algum dos príncipes colaterais sobreviventes?

Ning Wang?

Ou talvez o Marquês de Gongping?

O fato de o Imperador ter enviado a Guarda Imperial para realizar a busca indicava que queria impedir qualquer tentativa de plantar provas falsas. Do contrário, por mais que tentasse provar sua inocência, seria inútil.

Ciente de que não tinha escolha, Mestre Lu se afastou, permitindo a entrada no escritório.

— Entendo. Deixo tudo em suas mãos competentes.

Os oficiais do Ministério da Justiça e do Tribunal de Revisão Judicial também compreenderam a intenção do imperador. Permaneceram calados no centro do escritório, observando a Guarda Imperial realizar a busca sem tocar em nada por conta própria.

Como encarnações da vontade de Sua Majestade, os Guardas Imperiais foram meticulosos — folhearam todos os livros, examinaram o chão, as paredes e até o teto com extrema atenção.

As palmas de Madame Lu estavam encharcadas de suor frio. Ela não ousava dizer uma palavra.

— Mãe — disse Lu Yan, amparando-a pelo braço —, não se preocupe. Papai jamais faria algo assim.

Madame Lu forçou um sorriso amargo. Aquilo não era tão simples — estava claro que alguém queria derrubar a família Lu. Como uma acusação tão oportuna podia ser mera coincidência? O denunciante morrera sob custódia do Tribunal de Revisão Judicial e, mesmo assim, supostamente conseguiu revelar a localização exata da suposta carta traiçoeira antes do último suspiro.

Quem estivesse por trás disso, queria destruir sua família por completo.

— Relatando, senhores. Nenhuma carta suspeita foi encontrada entre os livros.

— O mesmo nas paredes e no chão — nenhum compartimento oculto ou lugar para esconder qualquer coisa.

— Nada de anormal no telhado também — disseram alguns guardas imperiais ao descerem, e um deles segurava um saquinho manchado de fuligem. — Mas encontramos um esconderijo com moedas de cobre e pedaços de prata.

Os oficiais lançaram olhares curiosos para Mestre Lu — esconder dinheiro no telhado? O Lorde Lu devia estar em excelente forma, subindo e descendo com facilidade.

O rosto de Mestre Lu ficou rubro. Fingindo não notar os olhares estranhos dos colegas, uniu as mãos e disse:

— Se ainda não estiverem convencidos, fiquem à vontade para vasculhar o restante da casa. Sempre conduzi minha vida com retidão e não tenho nada a esconder.

Nem o Tribunal de Revisão Judicial, nem o Ministério da Justiça disseram uma palavra, mas o comandante da Guarda Imperial percebeu que suas dúvidas ainda não haviam desaparecido. Virou-se para Mestre Lu e disse:

— Agradecemos pela colaboração, senhor. Pedimos sua permissão para continuar a busca.

A busca prosseguiu na residência Lu por toda a noite. Nenhuma prova de traição ou colaboração com o inimigo foi encontrada — apenas esconderijos secretos com dinheiro particular de Mestre Lu e alguns potes de vinho refinado.

Quando a corte matinal se reuniu, o Juiz-Chefe e os dois vice-ministros da Justiça estavam tão exaustos que mal conseguiam manter os olhos abertos. Todos pensavam com fervor a mesma coisa: Se pegássemos o canalha que tramou tudo isso e nos fez passar a noite em claro, o arrastaríamos para fora e daríamos uma surra nele!

Sentado sobre o majestoso trono do dragão, o Imperador chorava amargamente. Desde que subira ao trono, governara com dedicação e zelo, sempre cuidando de seu povo — e, apesar de seus esforços, alguém ousara armar contra um súdito leal. Isso só podia significar que ele, como soberano, falhara em algum ponto, permitindo que tamanha injustiça e humilhação recaíssem sobre aqueles em quem mais confiava!

— Tudo culpa da incompetência de Zhen! — lamentou o Imperador em pranto, como se ele mesmo tivesse sido falsamente acusado.

Mestre Lu, que também passara a noite em claro, ficou profundamente comovido, com os olhos avermelhados de emoção.


Capítulo 42 Parte 2 – Preconceito (II)


— Tudo culpa da incompetência de Zhen! — lamentou o Imperador com profunda dor, como se ele mesmo tivesse sido falsamente acusado.

Mestre Lu, que também passara a noite em claro, ficou profundamente comovido, os olhos vermelhos de emoção. Ao final da sessão da corte, suas mangas estavam encharcadas de lágrimas. Quando seu olhar se cruzou com o de Yun Wanggui e os oficiais da família Liu, havia um lampejo de cumplicidade em seus olhos — como camaradas unidos pela desgraça compartilhada.

— Lorde Yun — chamou Mestre Lu, a voz ainda rouca —, vossa senhoria também sofreu bastante.

Yun Wanggui ergueu uma sobrancelha. Aquela era a primeira vez que Mestre Lu lhe dirigia a palavra de forma espontânea. Embora ambos carregassem o título de tutores do Príncipe Herdeiro, Yun Wanggui jamais havia realmente lecionado para ele, e Mestre Lu sempre parecera ter certo desprezo por sua presença. Na corte, mal trocavam acenos formais.

Ele retribuiu a cortesia e lançou um olhar à manga encharcada de lágrimas.

— Cuide bem de sua saúde, Lorde Lu.

— Sua Majestade me trata tão bem… Com certeza retribuirei essa bondade até o fim da minha vida. — Dito isso, enxugou o rosto com a manga e concluiu: — Lorde Yun, preciso ir ao Ministério dos Ritos preparar os exames de outono. Até logo!

“…”

Observando Mestre Lu se afastar com o espírito elevado, Yun Wanggui permaneceu em silêncio, as mãos cruzadas às costas.

Um pensamento inquietante passou por sua mente. A pessoa que armou para derrubar Mestre Lu havia provocado uma confusão tão grande. Será mesmo que não deixou nenhuma prova?

Que tipo de plano trapalhão organizaria a armadilha… mas negligenciaria o desfecho?

— Como assim a carta sumiu? Os Guardas Imperiais reviraram o escritório da família Lu e não encontraram nada, e agora você me diz que a carta já havia sido colocada lá?!

— Mestre, este subordinado com certeza enviou o espião para deixá-la no escritório! — O homem se contorcia tentando entender como a prova plantada podia simplesmente ter desaparecido.

— Então está dizendo que os Guardas Imperiais, o Ministério da Justiça e o Tribunal de Revisão Judicial conspiraram juntos para acobertar o tal Lu? — zombou a figura vestida de preto por trás de um chapéu com véu. — Se ele tivesse esse tipo de influência, ainda estaria mofando no Ministério dos Ritos sem fazer nada?!

— Inútil!

— Por favor, Mestre, tenha piedade — eu realmente deixei a prova — mmph!

Das sombras, surgiu uma figura que, sem hesitar, enfiou uma adaga na garganta do homem. O sangue jorrou fresco, formando uma poça rubra no chão.

— Que sangue bonito — murmurou a figura de preto enquanto se erguia, pisando na cabeça do cadáver. — Teve a ousadia de me enganar? Por que ele achou que eu o deixaria vivo?

— Mestre — disse o assassino, limpando o sangue da adaga —, desde que Zhou Huaiji foi preso, nossos homens perderam completamente o rastro dele. Suspeito que já esteja morto.

A figura de preto não respondeu. Chutou o cadáver para o lado e disse ao assassino:

— Esqueça-o. Ele não vai nos trair.

— Entendido.

— Há uma pessoa que deve ser eliminada. — A figura de preto entregou um retrato ao assassino. — Yun Fuyi precisa morrer.

— Conforme sua ordem.

— Seja extremamente cauteloso. — A figura tornou a falar. — Essa mulher, Yun Fuyi, não é comum. Três anos atrás, várias forças tentaram exterminar a família Yun. Ela levou várias flechadas e caiu de um penhasco — e ainda assim sobreviveu. Matá-la não será fácil.

— Pode ficar tranquilo, Mestre. — O assassino se ajoelhou sobre um dos joelhos. — Este subordinado está disposto a dar a vida por nosso rei.

Satisfeito, a figura de preto estendeu a mão e ajudou o assassino a se levantar.

— Sua lealdade sempre foi muito apreciada por meu irmão.

O assassino teve um vislumbre das mãos gravemente desfiguradas sob as mangas e desviou o olhar depressa, temendo despertar a ira do mestre.

— Mãe, a senhora já está sentada aqui ao lado do lago de lótus há meio dia. — Lu Yan segurava um guarda-sol para proteger a mãe do sol escaldante. — Papai está bem agora. Por favor, não se preocupe.

Apesar de estar sentada sob o sol por tanto tempo, as mãos de Madame Lu estavam geladas como gelo. Ela olhou ao redor e disse a Lu Yan:

— Ontem, num acesso de raiva com seu pai, joguei alguns dos livros favoritos dele neste lago de lótus.

Lu Yan entendeu na hora.

— Mãe… a senhora está dizendo que…

A evidência que acusava seu pai de traição… poderia ter sido escondida justamente naqueles livros.

— Me diga com sinceridade: por que estava rindo sozinha no pátio ontem? — Madame Lu estava tomada pelo medo. Se não tivesse jogado aqueles livros fora por raiva, toda a nossa família já poderia estar atrás das grades!

— Eu não estava rindo à toa, é porque… — o assunto era sério demais para Lu Yan continuar escondendo — porque a Fuyi veio me ver ontem. Por isso eu estava de bom humor.

— Fuyi? — A voz de Madame Lu se elevou. — Está falando da Yun Fuyi?!

Com medo de que a mãe interpretasse mal, Lu Yan se apressou em explicar como Fuyi se tornara sua amiga e a tratava com carinho.

— Preocupada com a minha reputação, ela sempre toma cuidado para que ninguém nos veja juntas. Costuma vir só para conversar, mas sempre pula o muro para não levantar suspeitas. — Lu Yan jogou o guarda-sol de lado e apertou com força a mão da mãe. — Mãe, a Fuyi é realmente gentil. Ela não tem nada a ver com aquela encrenqueira arrogante dos rumores.

Madame Lu olhou para a mão que a filha segurava tão firmemente e esboçou um sorriso amargo.

— Seja qual for a verdade, de uma coisa temos certeza: ela é a salvadora da nossa família.

— Salvadora? — Mestre Lu entrou no pátio, já sem o ar abatido do dia anterior, mas cheio de ânimo e energia.

Sua esposa o chamou com um gesto e lhe contou, em voz baixa, tudo o que havia acontecido no dia anterior — incluindo suas crescentes suspeitas.

Depois de ouvir tudo, Mestre Lu parecia ter sido atingido por um raio. Virou-se, atônito, para encarar o lago de lótus. Só após um longo silêncio murmurou:

— O que foi que eu fiz… Olhar com desdém para a nossa salvadora… como ouso me chamar de erudito…

— Mãe, o que houve com o pai?

— Não ligue pra ele. Vamos agora mesmo fazer uma visita como se deve à família Yun.

Naquela tarde, Fuyi estava descansando em seu pátio, saboreando uma tigela de frozen cream[1], quando um criado correu para anunciar que a família do Grão-Tutor Lu havia chegado — e pediam para vê-la especificamente. Ela parou, com a colher a meio caminho da boca.

Espera… será que o Grão-Tutor Lu descobriu que eu ando dando joelho de porco escondido pra filha dele?

Limpou a boca depressa e correu para o salão de recepção no pátio da frente, torcendo para que a pobre Lu Yan não levasse a culpa.

Ao chegar ao portão, viu Lu Yan sentada em silêncio, com a cabeça baixa, nervosa demais para sequer levantar o olhar.

— Esta júnior saúda Lorde Lu e Madame… — Fuyi entrou apressadamente.

— Yun Junzhu! — Mestre Lu se levantou assim que a viu e fez uma profunda reverência. — Este velho foi míope e grosseiro. Vim pedir o perdão de Vossa Senhoria Junzhu.

Fuyi quase pulou de susto, correu em poucos passos até o lado de Lu Yan e sussurrou:

— Seu pai ficou louco por minha causa?

Ele era o tutor do Príncipe Herdeiro! Se eu deixei ele maluco, como vou me desculpar com Sua Alteza Imperial?!

— Lorde Lu, o que está fazendo? — Liu Qiongzhi também se assustou com o comportamento de Mestre Lu e se levantou. — Vamos sentar e conversar com calma. Isso deve ser algum tipo de mal-entendido, não?

— Não há mal-entendido algum. Fui arrogante, preconceituoso e agi de forma imprópria. — Mestre Lu curvou-se novamente diante de Fuyi. — Meu coração está cheio de vergonha.

Fuyi se apressou em retribuir a reverência várias vezes, apavorada.

— Lorde Lu, Vossa Senhoria está exagerando.

Vendo que Mestre Lu não se erguia de sua profunda reverência, ela só pôde continuar se curvando também.

— Vossa Senhoria é um erudito de vasto conhecimento, nobre de caráter, leal ao país e tutor do Príncipe Herdeiro. Por que se depreciaria com palavras tão duras?

Ao ouvir tal elogio, Mestre Lu cobriu o rosto com a manga e chorou.

— Junzhu, vossa generosidade é imensa. Este velho está realmente envergonhado, profundamente envergonhado! — Sempre a desprezara como inútil… e ela o considerava virtuoso. Que besta ele fora! Uma desgraça para o nome "erudito"!

Fuyi:

Será que todos os oficiais civis são assim dramáticos? Só elogiei um pouquinho e ele já tá chorando desse jeito?!

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Nota da autora:

Fuyi: “Tio… por favor, para de chorar. Tá me assustando!”

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[1] Frozen cream (酥山) é uma forma antiga de sorvete feita ao derreter — uma substância entre creme e manteiga — até obter uma consistência macia, moldá-la no formato de uma pequena montanha (), e então congelá-la em uma casa de gelo.

Capítulo 43 Parte 1 – Desculpa, Perdi a Compostura (I)

Foi a primeira vez que Fuyi percebeu quantas palavras extravagantes um erudito era capaz de juntar quando queria elogiar alguém — embora ela ainda não fizesse ideia do motivo pelo qual a atitude do Mestre Lu com ela havia mudado tão drasticamente. Quanto aos presentes que a família Lu trouxera, ela nem ousou recusá-los, com medo de que, se abrisse a boca para recusar, Mestre Lu começasse a chorar de novo.

Pra ser sincera, ela estava um pouco assustada com ele agora.

Depois de acompanhar os pais e a filha da família Lu até o portão, Fuyi quis dizer mais algumas palavras a Lu Yan, mas não teve coragem de provocar o desagrado do Mestre Lu. Em vez disso, piscou discretamente para a garota, sinalizando para que fosse embora tranquila.

Lu Yan sorriu docemente e assentiu. Mestre Lu, ao perceber essa pequena troca, virou o rosto silenciosamente, fingindo que não viu nada.

Talvez o preconceito fosse a maior montanha de todas.

No estúdio imperial, o imperador, cansado de ler a pilha aparentemente infinita de memoriais, lançou um olhar ao filho, que o ajudava a organizar os documentos.

— Os enviados de Liyan ainda não mencionaram nada sobre a partida?

— Liyan vem sofrendo com desastres naturais nos últimos dois anos e teve colheitas fracas — respondeu Sui Tingheng, folheando habilmente alguns pedidos rotineiros sem nem olhar. — Ainda não conseguiram arrancar nenhum benefício de nós — como estariam dispostos a partir? Se não fosse pelo moral do exército deles enfraquecido pelas colheitas fracassadas, suspeito que já teriam provocado uma guerra nas fronteiras há muito tempo.

— Um lobo faminto morde com cuidado, mas um esfomeado perde toda a razão — suspirou o imperador. Seu povo só recentemente começara a ter uma vida melhor, e ele não queria iniciar uma guerra agora.

— Eles ainda não estão desesperados. Segundo os últimos relatórios, a corte de Liyan começou a exigir tributos de nações vizinhas, como Nanxu e Nanxiang — disse Sui Tingheng, enquanto marcava memorial após memorial com tinta vermelha — muitos deles cheios de floreios inúteis em vez de irem direto ao ponto. — Estão escolhendo alvos fáceis. Vendo como o Grande Long é firme, não ousam arriscar guerra conosco, então se voltam para oprimir estados mais fracos ao redor.

Liyan não ousaria atacar o Grande Long em seu estado atual, mas bater em alvos menores como Nanxu era tarefa simples. Ao contrário de Liyan, o Grande Long prezava pela harmonia; contanto que os pequenos países se submetessem, não seriam oprimidos. Até mesmo o falecido imperador — por mais depravado que fosse — apenas exigia bajulação nos tributos oficiais. Liyan, por outro lado, fazia exigências sempre que estava de mau humor.

Em matéria de desfaçatez, Liyan era imbatível.

— Se não fosse por aquele velho… — resmungou o imperador, sem se incomodar em esconder o desprezo por seu antecessor na frente do filho.

Se o antigo imperador não tivesse drenado o tesouro, eles teriam recursos para lançar uma campanha contra Liyan — em vez de estarem presos nesse jogo enlouquecedor de cabo de guerra!

— O clima está esquentando cada vez mais — interrompeu Sui Tingheng, cortando o desabafo — já ouvira mais que o suficiente sobre o imperador fantasiando liderar campanhas. — Quando planeja ir para o Palácio de Verão, pai?

O imperador o olhou, surpreso. Esse filho seu não demonstrara o menor interesse na viagem no ano passado.

— O Departamento de Astronomia determinou que daqui a cinco dias será um dia auspicioso para viajar. — Ele jogou uma lista de participantes para Sui Tingheng. — Se quiser levar alguém, é só acrescentar o nome.

Sui Tingheng desenrolou o pergaminho e viu apenas nomes de oficiais.

— As famílias dos ministros importantes também deveriam nos acompanhar. Ficaremos no palácio de verão por dois meses — não seria certo separá-los de seus entes queridos por tanto tempo.

— Claro que alguns membros da família também irão, mas a lista das participantes femininas está com sua mãe — respondeu o imperador, de forma casual, voltando à papelada. O silêncio retornou ao estúdio.

Momentos depois, ele de repente ergueu os olhos, que agora brilhavam.

— Meu filho querido, seja honesto com seu pai — qual moça quer levar junto?

— O quê? — Sui Tingheng levantou a cabeça calmamente, franzindo ligeiramente a testa. — Pai Imperador, do que está falando?

Ao ver o rosto do filho perfeitamente composto, o imperador percebeu que tinha se empolgado à toa.

— Achei que tivesse se interessado por alguma moça e quisesse levá-la ao palácio de verão. — Suspirou, desapontado. — Pelo visto, me enganei.

— Pai Imperador, terminei de revisar os memoriais — disse Sui Tingheng, empilhando os papéis com precisão e colocando-os sobre a mesa. — O restante fica sob seus cuidados. Seu filho irá se retirar agora.

— Ei! — O imperador rapidamente agarrou sua manga. — O pai só estava brincando, não leve a sério.

Com um sorriso bajulador, enfiou o restante dos memoriais nos braços do filho.

— O país pode ser meu agora, mas um dia será seu. Ajudar a governá-lo é mais do que justo.

— Ai… — Ao pensar em quanto de prata seria gasto nessa ida ao palácio de verão, o imperador suspirou com melancolia. Pegou a lista de convidados e a analisou repetidamente, cortando ainda mais nomes.

Cada um dos seis ministérios tinha dois vice-ministros; um de cada ficaria na capital.

Entre os membros do clã imperial, apenas os com títulos de Junwang ou superiores poderiam ir.

Cortar onde puder, economizar em tudo! Nada de desperdício!

Depois de finalmente concluir a edição da lista e enviá-la de volta ao Ministério dos Ritos, Sui Tingheng pousou o pincel vermelho.

— Pai Imperador, está ficando tarde. Este filho deve voltar e descansar.

O imperador lançou um olhar para o céu ainda claro, confuso.

Desde quando Heng’er dorme tão cedo?

No caminho de volta ao Palácio Chenxi, Sui Tingheng acabou encontrando uma dama da Corte do Departamento de Administração do Palácio, que carregava a lista de participantes femininas que acompanhariam a estadia no palácio de verão. Ele a deteve e folheou a lista.

Ao ver o nome de Yun Fuyi listado na seção das Junzhu, passou o dedo suavemente sobre o caractere “Yi” antes de devolver o papel.

— Alteza Imperial — perguntou cautelosamente a dama da corte — há algo de impróprio nesta lista?

— Nada. A Imperatriz Mãe sempre trata esses assuntos com muita atenção — respondeu Sui Tingheng, levantando os olhos para o sol escaldante ainda alto no céu. O ar no Palácio de Verão de Changyang era fresco, e havia pistas de equitação e campos para cuju. Se ela fosse junto, com certeza se divertiria.

No dia seguinte, a lista de acompanhantes foi entregue a todas as residências. Dos quatro membros da família Yun, três estavam elegíveis para a viagem — apenas o pobre Yun Zhaobai teria de ficar sozinho em casa.

— Tudo bem, irmãozinho. Você pode não desfrutar da brisa fresca do palácio de verão, mas vai saborear o calor do nosso lar — disse Fuyi alegremente, terminando um melão gelado mergulhado em água de poço e limpando a boca com um sorriso. — Lin Xiaowu me convidou para fazer compras — trago um frozen cream pra você na volta.

Yun Zhaobai, bufando, avançou para beliscar sua bochecha, mas Fuyi já recolhia as saias e saía correndo, rindo junto de Xiaoyu e Qiushuang enquanto as três se espalhavam para fora da mansão.

— Está tão quente, mas as crianças parecem nem sentir — comentou Liu Qiongzhi, abanando-se enquanto orientava os criados a começar a arrumar as malas para a viagem ao palácio de verão.

— A senhorita e o Jovem Mestre se dão muito bem. A maioria dos irmãos por aí nem é tão próxima assim — comentou uma das criadas, sorrindo.

— Ambos são simplesmente… indisciplinados demais — respondeu Liu Qiongzhi, sorrindo de forma impotente enquanto continuava a arrumação.



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