Capítulo 46
ESCASSEZ E DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL
Xi'er presenciou com os próprios olhos Xiu Yun ser espancada até a morte. Ela nunca imaginou que o sorridente Eunuco Fu seria tão implacável. Além disso, o ato foi realizado diante de todas as criadas e eunucos uniformizados do palácio no Salão do Esplendor. Havia outra criada do palácio que foi espancada ao lado de Xiu Yun, a qual Xi'er não reconheceu. Foi somente por isso que ela percebeu que as duas vezes que Xiao Hua adoeceu foram por causa do envenenamento de Xiu Yun.
Xi'er ficou apavorada no local. Ela nunca soube que alguém pudesse morrer de forma tão trágica, sendo espancada até a morte diretamente pela prancha, sangrando pelos sete orifícios e com o corpo claramente espancado até virar polpa.
Após a morte, os restos das criadas espancadas foram jogados do lado de fora da propriedade. Xi'er e as demais criadas do palácio de baixa patente limparam o pátio aos poucos com água. Ninguém ousou chorar naquele momento, apenas limpando com as mãos trêmulas e os olhos opacos...
Xi'er jamais esqueceria em toda a sua vida o que vira. Aquele tipo de som surdo, as bocas amordaçadas e os rostos ferozes de Xiu Yun e daquela desconhecida empregada do palácio, e o cheiro acre de sangue... Depois que foram levadas para fora do Salão do Esplendor e para outras áreas para trabalhar, Xi'er teve pesadelos várias noites seguidas por mais de meio mês, antes de se recuperar lentamente.
Xi'er foi designada para a área de bordados da propriedade após deixar o Salão do Esplendor e era responsável pelo artesanato da propriedade. Embora não pudesse se comparar ao que ela fazia inicialmente no Salão do Esplendor, era de longe melhor do que a área da limpeza.
A Xi'er atual parecia ser uma pessoa completamente diferente se não se olhasse para o seu rosto. Ela se tornou taciturna e não gostava de interagir com os outros. Ela nunca revelou a ninguém que havia servido no Salão do Esplendor antes. Antes de partir, um dos subordinados do Eunuco Fu as advertiu para não revelarem nada sobre o salão. Pensando em Xiu Yun sendo espancado até a morte, Xi'er manteve esse aviso firmemente em sua mente.
Quando acordava no meio da noite, também pensava em Xiao Hua. Das seis, apenas Xiao Hua não fora expulsa, e ela se perguntava como ela estava. Mas ela apenas pensou um pouco sobre isso, já que os acontecimentos no Salão do Esplendor tinham muito pouco a ver com ela.
Só então Xi'er percebeu a sorte que havia tido antes, de realmente poder servir no Salão do Esplendor. Infelizmente, ela não aproveitou a oportunidade adequadamente e agora não conseguia nem tocar suas portas.
Seu eu, antes barulhento, amadureceu bastante depois dessa experiência. Só agora ela percebeu que esta propriedade grandiosa, imponente e majestosa também tinha uma face diferente.
Assim como as criadas do palácio idosas com quem ela interagia diziam, só com o sofrimento vem o crescimento, e somente aqueles que foram espancados conhecem o significado da dor. Antes, ela não levava suas palavras a sério, e só agora ela realmente sentia o que elas significavam.
"Xi'er, você trabalhou por tanto tempo. Descanse os olhos. É hora do almoço, vamos comer." Uma criada do palácio de quatorze ou quinze anos, de baixa patente, correu até Xi'er e disse com um sorriso.
Xi'er sorriu levemente em resposta e largou a agulha em sua mão.
Essa criada do palácio de baixa patente se chamava Cheng'er (Queridinha) e também era uma criada do palácio de baixa patente na área de bordados. Ela tinha mais ou menos a idade de Xi'er e era muito fofa e animada. Cada vez que via Cheng'er sorrindo, Xi'er se lembrava de si mesma no passado. Embora apenas alguns meses tivessem se passado, ela sentia que havia envelhecido bastante e não conseguia sorrir tão livremente quanto antes.
Por isso, após chegar à área de bordados, Cheng'er era a única que podia ser considerada sua amiga. O relacionamento delas era muito bom e elas também eram designadas para o mesmo quarto. Faziam tudo juntas, então naturalmente se aproximavam. Xi'er pensou que talvez, após um período de recuperação, pudesse sorrir livremente como Cheng'er novamente...
.....ooo0ooo.....
Como a Propriedade do Príncipe Jing era a residência do governante do feudo-vassalo, as regras eram muito complicadas. A propriedade era dividida em diferentes partes, para assuntos internos e externos. Por exemplo, assuntos relacionados a negócios oficiais eram assuntos externos e eram administrados pelos eunucos do centro administrativo de tributos e pelo escritório adjunto. Os assuntos internos eram administrados pelos mesmos eunucos e pela Tia Qi.
Como Consorte do Príncipe Jing, Xiao-Shi não precisava administrar nada dentro da propriedade. No entanto, embora não pudesse interferir nos assuntos externos ou no Salão do Esplendor, como consorte, ela tinha controle sobre as outras áreas.
No momento em que as criadas de baixo escalão, arranjadas pelo Eunuco Fu, foram expulsas, Xiao-Shi estava de olho nelas. No início, ela estava apenas coletando informações casualmente, e não era como se não soubesse das criadas do palácio que foram expulsas nos grupos anteriores.
No entanto, desta vez parecia fora do comum. Essas poucas criadas de baixo escalão tinham lábios muito apertados. Todas as tentativas dela de arrancar informações deles fracassaram. Apenas Chun Xiang, que havia subornado uma empregada de baixo escalão, bastante próxima de uma delas, conseguiu uma pequena informação. Elas descobriram apenas que o Salão do Esplendor havia espancado duas empregadas até a morte. Não conseguiram arrancar mais nada daquela empregada de baixo escalão. Essa anormalidade naturalmente chegou aos ouvidos de Xiao-Shi, deixando-a extremamente curiosa.
Como a Tia Qi sempre fora rigorosa com as regras, aqueles que tentavam extrair informações não ousavam agir de forma tão aberta. Vendo a falta de resultados, Xiao-Shi ficou um pouco desesperada e seus métodos se tornaram mais agressivos.
Naquele dia, Xi'er foi levada ao Pavilhão Changchun. Ela era a empregada de baixo escalão que havia vazado algumas informações. Embora não fosse ingênua e tivesse alguma perspicácia, era difícil para ela mudar completamente sua natureza. Sua boca grande a havia colocado em apuros.
Xi'er ajoelhou-se no chão. Dizia-se que era ali que a consorte morava, e era ela quem queria vê-la, o que a deixou completamente assustada. Ela não conseguia deixar de se perguntar como descobriram sobre seu tempo no Salão do Esplendor, e pensou em Cheng'er enquanto seus pensamentos se tornavam desordenados...
Algumas palavras de Nana Li e Chun Xiang ao lado, e Xi'er contou tudo, inclusive por que as pessoas foram espancadas até a morte e também o fato de Xiao Hua ainda permanecer no salão. Xi'er não conseguia entender o motivo por trás das perguntas da consorte, mas instintivamente se lembrou da madame da propriedade anterior em que trabalhava, que fazia perguntas semelhantes, e assim jogou tudo para Xiao Hua.
Ela exagerou a história, dizendo como Sua Alteza havia sido especialmente cativado por aquela empregada de baixo escalão do palácio chamada Xiao Hua, e como até o Eunuco Fu a tratava de forma diferente, e como Xiu Yun havia envenenado Xiao Hua por ciúmes.
Na verdade, Xi'er não tinha certeza de qual era a situação atual no Salão do Esplendor. Ela apenas combinou sua imaginação com algumas das coisas que havia testemunhado e criou algumas conjecturas. Embora não tivesse inventado detalhes e apenas falado com base em suas opiniões, isso ainda faria com que outros começassem a especular.
O rosto de Xiao-Shi ficou cada vez mais sério. Vendo Xiao-Shi prestes a se enfurecer, Nana Li rapidamente acenou com a mão para que alguém acompanhasse Xi'er até a saída.
"Consorte, acho que essa empregada de baixo escalão chamada Xi'er não está sendo totalmente honesta." Chun Xiang falou de lado. Naturalmente, como assistente de confiança de Xiao-Shi, ela não era simplória. Seu julgamento de caráter, por si só, era formidável. Empregadas de baixo escalão como Xi'er nem sequer eram dignas de carregar os sapatos de Chun Xiang, e seus pequenos truques não enganavam ninguém.
Xiao-Shi franziu as sobrancelhas e acenou com as mãos, nervosa: "Mesmo que tenha havido alguma desonestidade, partes do que ela disse foram definitivamente baseadas em fatos. Só com base na situação do envenenamento e dos espancamentos, podemos inferir muitas coisas."
O ambiente ao redor de repente ficou muito silencioso. Todos estavam cientes, em seus corações, das implicações disso.
"Eunuco Fu, aquele velho! E a vadia da Tia Qi, são todos hipócritas baratos!" Xiao-Shi quebrou a xícara de chá ao seu lado, com o rosto vermelho de raiva: "Enfiando mulheres na boca de Sua Alteza, não tenho ideia de como eles conseguiram fazer isso! Todas as mulheres do harém dele estão mortas? Por que eles precisam enviar essas vagabundas desqualificadas?"
Nana Li, Chun Xiang e as demais não ousaram dizer uma palavra. Basicamente, Xiao Shi estava presa em uma situação impossível. Ela arruinou o relacionamento quando se casou e o Príncipe Jing nunca passou a noite no Pavilhão Chang Chun. Felizmente, ele raramente passava em outro lugar, gerando ciúmes, ressentimentos e lutas por favores desnecessários.
O ditado de "não ter medo da escassez, mas ter medo da distribuição desigual" poderia ser aplicado aqui. Tudo bem se ninguém fosse favorecido, mas se alguém aparecesse de repente, não era surpresa que Xiao Shi ficasse furiosa.
"Nana, o que devemos fazer? Se um neto real realmente nascer, então não haverá lugar para mim nesta propriedade!"
"Isso não vai acontecer, isso não vai acontecer! Nós só estamos pensando muito. Afinal, não temos certeza de como é realmente a situação no salão. Ninguém tem certeza. Não é como se nós não conhecêssemos o caráter apático de Sua Alteza. Se ele realmente tivesse colocado as mãos nas criadas do palácio, as várias tentativas do Eunuco Fu não teriam terminado com a expulsão de todas."
"Mas desta vez é diferente. No passado, todos foram expulsos em meio mês. Este grupo também foi expulso, exceto uma. Deve haver um motivo para isso."
Nana Li também entendeu o que ela queria dizer, mas ainda a confortava com palavras: "Consorte, não pense demais. Vamos continuar investigando."
"Como investigar? O Salão do Esplendor é inexpugnável."
Isso mesmo, se fosse possível entrar, ela não teria ficado presa assim ao longo dos anos. Até a propriedade havia sido impermeabilizada pelos subordinados de Sua Alteza. Mesmo a Tia Qi, aquela responsável pelo pátio traseiro, que sempre foi muito, muito respeitosa com a consorte, tinha mais poder do que Xiao Shi, já que esta não era responsável por nada na propriedade. Normalmente, ela não achava isso grande coisa, mas quando precisava investigar ou fazer algo, tudo se tornava restritivo.
Dong Xiang hesitou ao lado: "Que tal deixarmos a Xi'er tentar? Ela esteve sempre com a tal Xiao Hua, desde que entraram na propriedade. Segundo ela, o relacionamento delas parece ser muito bom."
Pode-se dizer que Xi'er se meteu em uma armadilha desta vez: como queria jogar tudo para cima de Xiao Hua e tornar seu caso mais convincente, ela enfatizou especialmente o bom relacionamento delas como a razão pela qual sabia tantos detalhes secretos.
Os olhos de todos se iluminaram com as palavras de Dong Xiang. Quem se importa se funciona ou não, pelo menos vale a pena tentar!
Xi'er caminhou lentamente de volta para a área de bordado. Embora sentisse que suas pernas estavam fracas, ela ainda conseguiu voltar. Ao entrar em seu quarto, viu Cheng'er, que lhe sorriu docemente.
"Sua...! Como você pôde contar aos outros sobre isso? Eu não te disse para não contar nada?" Xi'er finalmente deixou escapar lágrimas de terror e suas mãos tremeram violentamente. Embora tivesse conseguido se comportar muito bem diante da consorte, ainda estava com medo. Ela estava com medo da morte! A cena de Xiu Yun sendo espancado até a morte apareceu diante de seus olhos novamente...
O sorriso de Cheng'er nem sequer vacilou. Ela puxou Xi'er para a cama para se sentar e disse com indiferença: "Não foi só para contar a alguém aleatório, foi para a consorte."
"Mas o Eunuco Fu já havia ordenado antes que não revelássemos nada sobre o Salão do Esplendor. Pessoas podem acabar mortas, sabia?" Xi'er estava um pouco histérica e suas mãos continuavam a tremer.
Cheng'er dispensou o assunto com um gesto e continuou a situar Xi'er em voz baixa: "Você está pensando demais. Quem é mais importante, o Eunuco Fu ou a consorte? O status da consorte é o segundo em importância nesta propriedade, depois de Sua Alteza. Trabalhando para ela, o Eunuco Fu ousaria fazer alguma coisa conosco?"
"Mas, mas..."
"Tudo bem, Xi'er, você deveria parar de pensar nisso. A consorte apenas fez algumas perguntas sobre a situação. Você disse que costumava trabalhar como empregada doméstica para uma família rica antes. Tudo no pavilhão não era responsabilidade da madame? O status do Eunuco Fu é, sem dúvida, significativo, mas a consorte ainda é de posição mais alta."
O coração de Xi'er se acalmou um pouco. Talvez Cheng'er estivesse certa? Isso mesmo, isso mesmo! A consorte era a segunda pessoa em importância, depois do príncipe. Ela não deveria continuar pensando muito. Mas, olhando para o rosto sorridente de Cheng'er, seu coração ainda se sentia extremamente complicado.
Capítulo 47
A RAPOSA TOMA EMPRESTADO O PODER DO TIGRE
Como o Príncipe Jing de vez em quando passava a noite no quarto de Xiao Hua, a disposição da mobília do quarto foi reorganizada algumas vezes. Inicialmente a decoração era um nível abaixo do de uma concubina, mas inesperadamente o Príncipe Jing passou algumas noites lá, e se a primeira vez pode ter sido porque estava muito cansado e não queria se mexer, depois da segunda noite a situação não parecia mais tão comum. Então o Eunuco Fu, que sempre foi meticuloso, reorganizou o quarto de Xiao Hua posteriormente.
Não apenas os itens da cama foram aprimorados para algo mais ornamentado e requintado, como a decoração do quarto também foi alterada. Originalmente, a cama dela já era uma cama de palanquim (parecida com uma liteira, com dossel e possível de ser levada por carregadores), mas talvez o Eunuco Fu a tenha achado pequena demais; então, ele a trocou por uma cama de palanquim mais larga, ornamentada e resistente.
O quarto era dividido em uma área interna e externa por uma tela de madeira de ágar estampada. A área externa era usada como sala de estar, e a interna, para dormir. As decorações no armário também haviam sido trocadas, e era possível perceber à primeira vista que eram consideravelmente valiosas.
Ver seu quarto passar por grandes mudanças até se tornar semelhante a um cofre de tesouros fez Xiao Hua divagar por alguns momentos. Ela já havia visto situações semelhantes antes: se o mestre favorece uma concubina, ele naturalmente não será mesquinho e concederá vários objetos para demonstrar sua apreciação. No entanto, em sua vida passada, ela teve que usar muitos esquemas para agradar o quarto jovem mestre antes que ele se dispusesse a dar tais coisas a ela. Inesperadamente, nesta vida, alguém já havia preparado tudo sem que ela precisasse fazer nada. “Quanta” consideração!
É claro que Xiao Hua lamentou que essa consideração viesse do Eunuco Fu, e não do Príncipe Jing. Embora ainda não conseguisse ver através do príncipe, ela sabia que ele não se importava com tais coisas. Embora não quisesse admitir, Xiao Hua entendia claramente que ela era apenas um brinquedo para o Príncipe Jing – um brinquedo que aquecia a cama. Já que alguém estava lhe entregando coisas, ela poderia muito bem aceitá-las e tratar isso como uma compensação em troca do seu sofrimento.
O eunuco Fu não disse nada sobre o trabalho de Xiao Hua, então ela continuou a trabalhar honestamente em seu turno todos os dias. Além de morar em um lugar melhor e usar roupas um pouco melhores em comparação com outras criadas do palácio, a situação de Xiao Hua continuava a mesma de antes. A maneira como as outras pessoas a olhavam havia mudado, mas Xiao Hua não se importava com essas coisas e fazia ouvidos moucos.
Naquele dia, o Príncipe Jing não estava presente. Vendo o céu escurecer, Xiao Hua terminou sua refeição e voltou para seu quarto. Talvez por ter que servir o príncipe de vez em quando, ela recebesse outro benefício que os outros não tinham: todas as noites, ela recebia água para tomar banho. Depois de retornar ao seu quarto, dois eunucos de baixa patente preparavam água e a levavam para ela usar.
A princípio, Xiao Hua não entendeu o que estava acontecendo. Ao ver as pessoas trazendo água, ela a havia recebido honestamente. Depois de várias repetições, ela já havia compreendido o significado da situação. Sem dúvida, fazia parte dos esquemas do Eunuco Fu. Era preciso dizer que ele era bastante atencioso. Além de rir, Xiao Hua não sabia como reagir.
Então, quando os eunucos de baixa patente apareceram novamente, desta vez para presenteá-la com as chamadas "roupas para dormir", ela as recebeu sem dizer uma palavra. O conjunto era composto por duas peças, e a aparência era algo que ela nunca tinha visto antes, mas segurando as roupas na mão ela sabia para que serviam. Em sua vida passada, não lhe faltaram roupas desse tipo.
A maior força de Xiao Hua era ser discreta e diplomática. Como não podia ofender ninguém, ela se comportava bem. Mesmo que aquele conjunto de roupas parecesse extremamente indecente, depois do banho ela sempre as vestia ao ir para a cama. Quem sabe quando o senhor poderia aparecer? O Eunuco Fu, aquele velho bastardo, provavelmente pensava da mesma forma. Ela não conseguia entender. Se o Príncipe Jing dormia ou não com mulheres, o que isso tinha a ver com o eunuco? A intromissão do Eunuco Fu em todas as coisas a deixava com medo e inevitavelmente nervosa.
Xiao Hua terminou de tomar banho, vestiu aquelas roupas e casualmente vestiu outra camada de roupas por cima, antes de chamar os eunucos de baixa patente que esperavam atrás do biombo para limpar a água do banho. Ela entrou na cama e puxou as cortinas do dossel. Os eunucos trabalharam muito rápido. Depois que terminaram, pediram licença e fecharam a porta.
Cortinas verdejantes bordadas com trepadeiras floridas pendiam sobre a cama de palanquim esculpida e laqueada. Havia uma colcha de cetim vermelho sobre a qual repousava um cobertor de seda de algodão cor de ágar, bordado com linhas douradas e duas flores de lótus.
Xiao Hua tirou a camada externa de roupas e abaixou a cabeça para examinar a camisola em seu corpo: era uma pequena camisola verde-ervilha e um par de camisas finas de musselina com calcinhas combinando. A camisola estreitava na cintura e inclinava-se para cima, fazendo-a parecer esguia e com o peito largo, com uma cintura fina. As calcinhas de musselina eram muito finas e a cintura também era muito baixa, mal chegando aos quadris. Xiao Hua pensava a todo momento que a calcinha ia cair.
Olhando ao redor, Xiao Hua sentia como se estivesse em um sonho – mas esse tipo de sentimento geralmente não durava muito, porque Xiao Hua sabia claramente, no momento em que saía pela porta, que ainda era a mesma criadinha de baixo escalão, tendo de tomar cuidado com suas palavras e ações.
A cama parecia macia e quente, fazendo com que Xiao Hua não conseguisse conter o bocejo. Depois de se deitar e se enfiar sob os cobertores, ela inconscientemente rolou e se esfregou um pouco nele. Que confortável... Tecidos de alta qualidade realmente davam uma sensação diferente.
A luz no quarto não era forte, mas também não era escura; havia apenas uma vela acesa no balcão do quarto interno. A tênue luz amarela brilhava através do fino dossel de gaze, possibilitando uma visão clara da situação lá fora, sem ser ofuscante.
Xiao Hua semicerrou os olhos e sentiu que estava adormecendo. Enquanto dormia, a luz do quarto subitamente se intensificou. Parecia um sonho, então ela esfregou os olhos exaustivamente, rolou para esconder o rosto da luz e continuou dormindo.
O Príncipe Jing, que havia levantado as cortinas pela metade, viu tudo... O cabelo preto dela era como uma cachoeira que caía sobre seus ombros e costas esbeltos. Os cobertores de seda, amontoados desordenadamente, cobriam seu corpo, com metade da perna para fora. Sob o brilho da luz, suas panturrilhas brancas como a neve pareciam ainda mais frescas e atraentes. O Príncipe Jing nunca tinha visto uma cena tão chocantemente bela em suas duas vidas. Naquele momento, ele sentiu a respiração parar.
Instintivamente, ele abaixou o dossel, enquanto pedia aos eunucos de baixa patente ao lado que o ajudassem a tirar suas roupas externas e, em seguida, acenou com a mão para que saíssem. Vestindo apenas suas roupas íntimas, ele caminhou até as cortinas da cama.
Xiao Hua estava meio acordada, meio dormindo, e sentia alguém acariciando seu corpo. Talvez por causa das saídas de ar aquecidas ela sentia seu corpo mole e extremamente letárgico. Somente quando sentiu uma dor aguda repentina, ela recuperou um pouco a consciência, mas logo em seguida ficou atordoada.
Ela sentiu a presença do príncipe, mas também sentiu como se estivesse sonhando e, em sua confusão, não se conteve como antes: quando doía, gemia baixinho e, quando se sentia bem, suspirava. Os gemidos e gritos faziam com que ela fosse tomada com ainda mais força. Inconscientemente, ela começou a soluçar. Parecia estar chorando, mas não estava chorando e, embora não estivesse chorando, parecia que estava.
O Príncipe Jing não esperava chegar àquela situação e ver a aparência sedutora da criada de baixo escalão do palácio. Das últimas vezes, ele percebeu que ela estava muito tensa; desta vez, ele só precisou se mover por algum tempo ela para que ela se mostrasse tão envolvida. Isso era o chamado orgasmo múltiplo e foi a primeira vez em suas duas vidas que o Príncipe Jing sentiu isso.
Ele estava um pouco insatisfeito. Parecia que esta empregada do palácio de baixa patente ainda estava agindo de forma reservada com ele nas vezes anteriores. Pensando em sua aparência normal e olhando para a mulher sedutora abaixo dele, de repente ele intensificou seus movimentos. Quanto mais ferozmente ele se movia, mais sentia o prazer delicioso e mais relutava em que terminasse.
Não se sabia quanto tempo havia se passado. Depois de tanto tempo, ele não aguentou mais. Depois disso, ele ainda podia sentir o prazer entorpecente persistindo e, inconscientemente, a abraçou junto ao peito, suas mãos acariciando distraidamente os longos cabelos da criada do palácio de baixa patente.
Xiao Hua estava bem acordada naquele momento. Ela não estava acostumada a esse tipo de intimidade. No passado, depois de fazer “aquilo”, ele não lhe dava mais atenção. Inesperadamente, desta vez foi diferente. Seus nervos ficaram à flor da pele por um tempo, mas não demorou muito para que ela voltasse a dormir. Ela nem percebeu que o Príncipe Jing a observava com suas pupilas negras como tinta.
Xiao Hua não conseguia dormir em paz. Quando finalmente estava prestes a adormecer profundamente, foi acordada novamente. Sua cabeça estava turva e suas pálpebras pesadas. Em um borrão, ela ouviu o Príncipe Jing aparentemente perguntar: "Você tem medo deste príncipe?" Ela pensou que estava sonhando e não respondeu.
Xiao Hua não tinha certeza de quando o Príncipe Jing havia saído desta vez. Quando acordou, já era meio-dia. Ela ouviu um movimento perto das cortinas e Chun Cao entrou. Ela afastou o toldo, viu Xiao Hua e disse: "Senhorita Xiao Hua, por favor, deite-se. Vou pedir que tragam água para você se banhar." Chun Cao era chamado para servi-la todas as vezes depois que o príncipe saía. Depois de algumas vezes, Xiao Hua também se acostumou.
Depois que a água quente foi trazida, Chun Cao a ajudou a ir para trás do biombo. Só depois de ficar na banheira por um tempo ela se sentiu revigorada. Ela se secou e vestiu, e Chun Cao a ajudou a pentear os cabelos.
Nesse momento, alguém trouxe o almoço e Chun Cao foi buscá-lo. Colocando-o na mesa e separando cada prato, ela disse: "O Eunuco Fu disse para você descansar bem. Não precisa se apressar para o trabalho."
Xiao Hua não conseguiu evitar que seu rosto ficasse vermelho. Toda vez que ela terminava de “servir” o príncipe, o Eunuco Fu dizia algo assim. O motivo disso foi uma ocasião em que ela serviu o príncipe, mas não se sentiu cansada no dia seguinte e chegou ao trabalho no horário. Desde então, alguém era enviado para lembrá-la de descansar todas as vezes.
O almoço era muito simples: três pratos e uma porção de sopa. Era comida suficiente para uma pessoa. Xiao Hua não tinha muito apetite, comendo casualmente alguns pedaços, tomando a sopa e voltando para se aconchegar na cama.
Como a maior parte dos pratos estava intocada, Xiao Hua deixou Chun Cao comer o resto. Desde que se mudara para o salão, Chun Cao não comia mais com ela, e Xiao Hua também não a forçava a comer. No entanto, sempre que Chun Cao estava presente, Xiao Hua dividia uma porção de sua comida com ela, já que não conseguiria terminar tudo sozinha.
Depois que Chun Cao terminou de comer, ela limpou a mesa e colocou os pratos perto da porta. Então, sentou-se aos pés da cama, costurando enquanto conversava distraidamente com Xiao Hua: "Senhorita Xiao Hua, acho que você não precisa mais continuar trabalhando. Por que continuar se esforçando tanto? Pelo que vejo, Sua Alteza gosta bastante de você. Peça a ele para lhe conceder um status."
Chun Cao queria dizer isso há muito tempo, mas nunca sabia como abordar o assunto. A Senhorita Xiao Hua parecia uma pessoa serena, mas na verdade era muito teimosa. Houve momentos em que Chun Cao não fazia ideia do que estava pensando. Antes, tudo bem, mas agora que ela se mudara para o salão, estava claro que aquele era um tratamento reservado apenas para concubinas, e não para qualquer concubina comum. Mesmo assim, ela continuou a fazer as tarefas de uma criada de palácio de baixa patente.
Xiao Hua também não sabia como explicar isso a Chun Cao e só conseguiu dizer, de forma ambígua: "Acho que assim é melhor".
Chun Cao a olhou secretamente e, vendo que ela não queria realmente discutir o assunto, parou de falar nisso e mudou para algo mais leve. Talvez a Srta. Xiao Hua tivesse seus próprios planos... Chun Cao só conseguia pensar assim por enquanto.
Houve uma batida na porta. Chun Cao foi abri-la e viu um dos eunucos que trabalhavam no salão, Xiao Qin Zi: "Eunuco Qin, aconteceu algo?"
Xiao Qin Zi seguiu Chun Cao para dentro, ficando em frente ao biombo e falando em voz baixa: "Senhorita Xiao Hua, o eunuco que guarda a porta relata que alguém está aqui para vê-la de fora. É a empregada de baixo escalão do palácio que costumava trabalhar aqui, Xi'er." Ao ouvir isso, Xiao Hua divagou.
Chun Cao conhecia Xi'er desde que dormiam no mesmo quarto, enquanto Xiao Hua estava doente. Ela também sabia que o relacionamento entre a Srta. Xiao Hua e Xi'er não era tão bom. Quando Chun Cao veio, o subordinado do Eunuco Fu lhe dera instruções, e ela sabia um pouco dos detalhes sobre o motivo pelo qual eles não pediram a uma das colegas de quarto de Xiao Hua para cuidar dela naquele momento.
Xiao Qin Zi continuou falando: "As regras do nosso salão determinam que não é permitida a entrada de estranhos. Claro, se a Senhorita Xiao Hua quiser vê-la, está livre para fazê-lo saindo do salão."
Desde que Xiao Hua se mudou para o salão, todos no Salão do Esplendor começaram a chamá-la de "Senhorita Xiao Hua". Xiao Hua não sabia que estavam em conflito sobre qual título usar para tratá-la, até que alguém finalmente pediu a An Chen para confirmar com o Eunuco Fu. O status de Xiao Hua não era claro. Todos sabiam claramente que ela não era apenas uma empregada de baixo escalão do palácio, mas aqueles acima nunca haviam especificado qual status lhe fora concedido.
O Eunuco Fu também sentiu dor de cabeça quando An Chen perguntou, e aleatoriamente disse para chamá-la de "Senhorita". Hoje em dia, até o Eunuco Fu a acompanhava e a chamava de "Senhorita". Embora fosse apenas uma forma de tratamento, demonstrava claramente a diferença dela para as demais.
Pelo menos, Xiao Hua sentia que os servos no salão a tratavam com muito mais respeito. Isso incluía tanto o Eunuco Fu quanto o Eunuco Chang. Durante suas interações com eles, ela podia sentir claramente que suas atitudes estavam mais amigáveis do que antes. E o que ela podia dizer? No passado, eles a viam de cima e não a levavam muito a sério. Agora, a tratavam como igual. Antes ela era um objeto, agora ela havia se tornado uma pessoa.
Às vezes, Xiao Hua não conseguia deixar de lamentar. Seria esta a chamada "raposa tomando emprestado o poder do tigre" (assustando os outros com o poder de outra pessoa; igual o nosso “fazendo bonito com chapéu alheio”)? Embora essa analogia possa não ser muito adequada, foi realmente graças ao Príncipe Jing que outros começaram a vê-la sob uma nova luz.
Voltando ao assunto em questão, Xiao Hua também não conseguia entender por que Xi'er de repente quis vê-la. Desde que as outras foram expulsas, ela não recebeu nenhuma notícia sobre elas. É claro que isso acontecia porque ela nunca saía do Salão do Esplendor e também porque aquelas pessoas nunca tiveram um lugar em seu coração, principalmente depois de a ignorarem na primeira vez que ela adoeceu. O comportamento desdenhoso delas naturalmente resultou em rompimento nas relações entre elas.
Chun Cao percebeu que Xiao Hua realmente não queria ver aquela Xi'er e, num súbito lampejo de inspiração, disse: "A Srta. Xiao Hua estava prestes a descansar. Esta Xi'er realmente sabe escolher o momento importuno. O Eunuco Qin poderia, por favor, pedir ao eunuco perto da porta para mandá-la embora?" Sua voz se elevou em questionamento para Xiao Hua, como se estivesse consultando sua opinião. Como esta era a primeira vez que Chun Cao se deparava com tal situação, ela naturalmente não decidiu as coisas por Xiao Hua.
Xiao Hua ouviu as palavras de Chun Cao e assentiu.
Chun Cao sorriu imediatamente e disse: "Sinto muito dar trabalho ao Eunuco Qin!"
"Tudo bem." Xiao Qin Zi entendeu o que queriam dizer e saiu do quarto.
Xiao Hua recostou-se no travesseiro, imaginando por que Xi'er viria procurá-la de repente. As duas nunca interagiram de verdade, então a situação era realmente confusa.
"Imagino que seja porque ela foi expulsa do salão. O trabalho lá fora definitivamente não é tão bom quanto aqui dentro", disse Chun Cao. Ninguém entendia isso melhor do que ela. Ela se lembrava muito bem de seus dias na lavanderia: ter que lavar roupas antes do céu clarear, comida escassa e falta de roupas adequadas... Ainda era aceitável no verão, mas o inverno era horrível. Comparado aos seus dias no Salão do Esplendor agora, a diferença era clara.
Era também por isso que o Eunuco Fu nunca havia dito explicitamente a Chun Cao para servir Xiao Hua antes de se mudar para o salão. Aparentemente, Chun Cao deveria ajudar no pátio, mas na realidade ela essencialmente servia a Xiao Hua, especialmente depois que Xiao Hua começou a "servir" o príncipe. Os pequenos trabalhos manuais pelos quais Chun Cao era responsável eram todos para Xiao Hua. Quanto à vaga de faxineira no pátio, Chun Cao percebeu naqueles poucos dias que alguém cuidaria disso se ela estivesse ocupada com Xiao Hua.
Claramente, não havia necessidade de que ela corresse para fazer aquele serviço. Não havia pessoas tolas que conseguissem permanecer na propriedade por vários anos. Mesmo que os superiores não o dissessem explicitamente, aqueles abaixo deles eram inteligentes o suficiente para ler nas entrelinhas e, assim, melhorar sua própria posição. As criadas do palácio e os eunucos no Salão dos Esplendores eram todas exemplos, e a própria Xiao Hua também. O momento certo, o lugar certo ou a pessoa certa. Esses eram todos aspectos relevantes.
Xiao Hua sentiu que o que Chun Cao estava dizendo fazia sentido, mas o que isso tinha a ver com ela? Ela era apenas uma criada do palácio de baixa patente, como poderia ajudar Xi'er? De qualquer forma, o relacionamento delas não era tão forte assim. Ela, então, deixou a visita de Xi'er de lado, ajeitou o travesseiro e deitou-se sob o cobertor.
Chun Cao viu que Xiao Hua estava prestes a dormir e levantou-se silenciosamente, abaixando as cortinas da cama, e continuou sentada aos pés da cama, mas não falou mais.
Capítulo 48
ESTE PRÍNCIPE A ESTIMA
Do lado de fora do Salão do Esplendor, o eunuco de baixa patente que guardava a porta disse: "A Srta. Xiao Hua está descansando" para Xi'er e, então, parou de prestar atenção nela.
Xi'er ainda queria dizer algo, mas o eunuco a encarou e falou novamente: "Você deveria ir embora rapidinho. Se não tivesse servido aqui no passado e não conhecesse a Srta. Xiao Hua, eu já a teria expulsado há muito tempo. Este não é um lugar acessível a uma criada qualquer." Xi'er ficou um pouco irritada com o comportamento esnobe dele, mas não ousou dizer nada e só conseguiu bater os pés e ir embora.
O coração de Xi'er estava uma bagunça completa durante todo o caminho de volta. Ela não conseguia deixar de se lembrar do que aconteceu alguns dias atrás:
"Xi'er, isso é algo ordenado pela consorte. Você tem que fazer direito", disse Cheng'er.
"Mas..."
"Sem mas. Você tem coragem de dizer à consorte que não quer ajudá-la?"
Ultimamente, Xi'er havia sofrido uma lavagem cerebral completa por Cheng'er e, aos poucos, começou a se sentir honrada por poder ajudar a consorte. Quanto ao seu medo do Eunuco Fu, ele havia diminuído bastante até que quase não restasse mais nada. Assim como Cheng'er havia dito, quem era mais importante – a consorte ou o Eunuco Fu? A consorte era a principal concubina imperial do príncipe, ela era definitivamente a pessoa mais importante dentro da propriedade. Se a consorte a protegesse, Xi'er realmente não precisava temer o Eunuco Fu. Portanto, quando Cheng'er lhe disse que a tarefa que a consorte lhe dera era encontrar uma desculpa para encontrar Xiao Hua, após alguma hesitação Xi'er concordou.
Xi'er ainda se sentia um pouco preocupada, pois sabia claramente em seu coração que seu relacionamento com Xiao Hua não era tão bom quanto ela fazia parecer. Mas, desde que ela havia subido nas costas do tigre, era difícil se soltar. Ela também não ousou recusar as ordens da consorte e só pôde reunir coragem e esperar que Xiao Hua estivesse disposta a encontrá-la uma vez, com base em seu "relacionamento" do passado.
Quanto ao que ela deveria fazer quando se encontrassem, Cheng'er não disse. Ela apenas disse para levá-la para um encontro e tentar descobrir algumas informações, se possível. Quem diria que, depois de chegar ao Salão do Esplendor, ela nem sequer seria capaz de ver a pessoa em questão?
Xi'er retornou à área de bordados. Cheng'er a viu retornar e encontrou uma desculpa para sair. Depois de cerca de uma hora, Xi'er foi novamente levada ao Pavilhão Changchun.
Esta foi sua segunda vez lá. Na primeira vez, ela estava tão ocupada com o medo que não prestou atenção em mais nada. Desta vez, sua situação era diferente, e ela pôde perceber que o Pavilhão Changchun era realmente grandioso, merecedor de ser a residência da consorte. A "irmã mais velha Chun Xiang" que Cheng'er frequentemente mencionava também era muito imponente. Todas as criadas do palácio no pavilhão a trataram com respeito e deferência no caminho até lá. Como seria bom se ela pudesse se tornar como a irmã mais velha Chun Xiang em algum momento! Todas teriam que obedecê-la.
Enquanto Xi'er estava perdida em seus próprios pensamentos, ela foi levada para uma sala no prédio leste. Desta vez, Xi'er não conseguiu ver a Consorte Jing, e foi uma avó idosa que servia ao lado da senhora que lhe fez algumas perguntas. Após ouvi-la dizer que não tinha conseguido encontrar a pessoa, a avó idosa não pôde deixar de franzir a testa e perguntou sobre a situação em detalhes.
Xi'er respondeu, apreensiva. Será que a consorte a estava evitando por desgosto com seu fracasso? Ela não percebeu que realmente havia pensado demais. A Consorte Jing só a viu pela primeira vez devido ao seu pânico e impaciência. Como ela poderia ser alguém que uma criada de palácio de baixa patente como ela pudesse encontrar sempre que quisesse?
Nana Li terminou seu interrogatório e saiu. Chun Xiang se aproximou, com um sorriso no rosto: "Xi'er, certo? Isto lhe foi concedido pela consorte. Faça bom proveito."
Xi'er apertou a bolsa bordada em suas mãos. Ela se sentiu um pouco sobrecarregada com o favor e não sabia como reagir.
"Vou mandar alguém te acompanhar."
Chun Xiao terminou de falar e chamou uma criada de palácio de baixa patente para acompanhar Xi'er.
Dentro do Pavilhão Chang Chun, no quarto oeste da residência principal, após ouvir o relato de Nana Li, as mãos de Xiao Shi apertaram seu lenço com força. Ao lado, Qiu Xiang e as demais permaneceram em silêncio.
Xi'er ainda era jovem e não havia compreendido o significado de muitos detalhes durante seu encontro. Todas na sala eram pessoas experientes. Apenas com base na frase "A Srta. Xiao Hua está descansando", elas podiam ver muitos problemas.
Por que ela estava descansando no meio do dia? Será que ela estava cansada da noite anterior? Xiao Shi pensou amargamente consigo mesma. Embora não fosse exatamente o caso, também não estava longe da verdade.
O lenço de Xiao Shi havia sido rasgado em pedaços, mas o ódio em seu coração ainda não se tinha aliviado. As pessoas ao lado viram sua aparência e todas encolheram a cabeça, sem ousar fazer um som.
"Mande-a ir de novo e executar o plano!"
.....ooo0ooo.....
Xiao Hua tirou uma soneca à tardezinha e acordou à noite para uma refeição satisfatória. Ela se sentia desperta e cheia de energia. Ela não conseguiria dormir tão cedo, então chamou Chun Cao para conversar e costurar.
Falando em costura, ultimamente Xiao Hua vinha aprendendo aos poucos. Ela ainda não conseguia fazer nada mais elaborado, e suas peças maiores se limitavam a meias e roupas íntimas. Ela não conseguia fazer mais nada.
Depois de ter deixado a costura de lado nos últimos dias ela a retomou, pois tinha mais tempo livre. Como suas roupas eram todas preparadas por outras pessoas, ela não tinha nada com que trabalhar. Portanto, pegou alguns pedaços de tecido e praticou a costura neles.
Chun Cao era quem a ensinava a costurar. Embora fosse jovem, ela sabia bastante. É claro que ela só sabia o básico e só conseguia bordar um pouco de grama e flores. Ela ainda era iniciante.
Xiao Hua normalmente não tinha ninguém por perto com quem se sentisse próxima. Apesar de saber que as habilidades de Chun Cao eram limitadas, ela ainda aprendia com ela e encarava isso como prática. Às vezes também aprendia com Nana He mas, devido à idade da vovó, Xiao Hua se sentia mal por pedir que ela forçasse a vista para lhe ensinar.
Somente quando a voz do Eunuco Fu soou perto da porta, as duas pararam de se mexer. Elas levantaram a cabeça e viram o Príncipe Jing na porta. Chun Cao imediatamente se ajoelhou, e Xiao Hua acompanhou-a, surpresa. O Eunuco Fu acenou com a mão. Chun Cao saiu e ele próprio a seguiu, fechando a porta atrás de si.
Ao ver aquela pessoa e pensar nos eventos da noite anterior, Xiao Hua não pôde deixar de ficar vermelha. Como ele não lhe disse para se levantar, ela não ousou fazê-lo. Suas pálpebras semicerradas viram o Príncipe Jing dar dois passos para dentro do quarto e, em seguida, se virar e puxá-la para cima.
Xiao Hua não ousou levantar a cabeça durante todo esse tempo e, naturalmente, não viu os olhos do Príncipe Jing percorrerem seu corpo várias vezes.
Ela o seguiu até a parte interna do quarto, atrás do biombo. O Príncipe Jing levantou os braços e ela, obedientemente, começou a despi-lo, deixando-o apenas de cueca. Os olhos do Príncipe Jing percorreram o quarto e ele se sentou diante da penteadeira: "Coroa."
Xiao Hua congelou a princípio, antes de se aproximar apressadamente e remover cuidadosamente a coroa de jade branca de sua cabeça. Ela escovou seus cabelos, primeiro usando um pente para alisá-los cuidadosamente, antes de prendê-los com uma faixa sob seu pescoço.
Depois de prender seus cabelos, ela não sabia o que fazer em seguida. Ela deveria puxá-lo para a cama? Embora soubesse que o Príncipe Jing só poderia estar ali para isso, ela nunca havia feito um movimento tão ousado com ele antes.
Ela não sabia qual era o problema. Em sua vida passada, ela estava muito familiarizada com tais ações, mas por algum motivo não conseguia fazê-las nesta vida. Será que sua mentalidade ainda não tinha se ajustado?
Xiao Hua às vezes ainda sentia bastante medo do Príncipe Jing. O motivo não era outro senão a falta de conversa com ele. Quando ele ocasionalmente falava, eram apenas aquelas poucas palavras. Essa sensação era muito estranha, fazendo com que Xiao Hua frequentemente se sentisse perdida.
Ela não conseguia imaginar como alguém que se tornava cada vez mais apaixonado enquanto fazia “aquilo” podia voltar a ser apático depois. Seus corpos haviam se tornado mais compatíveis, mas seus corações nunca se aproximaram. Ela não conseguia entender o que ele estava pensando, e ele provavelmente nunca considerou seus pensamentos também. Às vezes era difícil não se sentir magoada, mas Xiao Hua afastava tais emoções imediatamente.
Enquanto ela se sentia desconfortável, uma frase soou em seu ouvido: "Roupa".
Xiao Hua congelou mais uma vez, sem entender o que o Príncipe Jing queria dizer. Ela olhou para o corpo dele, que só tinha uma camada de roupa íntima restante. Será que ele estava pedindo para ela ajudá-lo a tirar tudo? Pensando no resultado, Xiao Hua ficou extremamente envergonhada.
Mas, já que o príncipe disse isso, ela definitivamente precisava agir de acordo. A autoridade que aquele homem emitia era muito grande, especialmente quando eram apenas os dois. Isso a deixava inexplicavelmente nervosa.
Os dedos trêmulos de Xiao Hua se aproximaram do peito do Príncipe Jing e ela tirou sua camiseta, revelando seu peito belo e robusto. Ela não ousou olhar para o rosto dele e só conseguiu abaixar os olhos. No entanto, o que viu foi o peito de jade do príncipe, juntamente com seus músculos abdominais robustos. Ela não ousou encará-lo e só conseguiu abaixar a cabeça ainda mais. No entanto, desta vez, seus olhos encontraram a pequena tenda naquela área. Badum! Não apenas seu rosto estava vermelho, como todo o seu pescoço também.
"Roupa."
Ao ouvir isso, seus dedos trêmulos se aproximaram da cueca dele enquanto sua mente ficava em branco.
"Suas roupas. Troque."
Xiao Hua levantou a cabeça e piscou os olhos, confusa. O que ele queria dizer? Era necessário ser tão mesquinho com as palavras?
"Roupas." O Príncipe Jing fez uma pausa e falou novamente: "De ontem."
Desta vez, Xiao Hua entendeu. Pensando nas tolices que acabara de fazer, ela abaixou a cabeça, agarrou as roupas e fugiu pelas cortinas da liteira. Ela trocou de roupa com as mãos trêmulas e tentou reunir coragem para sair novamente, mas estava muito envergonhada. Hesitante, colocou a cabeça para fora das cortinas e disse em voz baixa: "Alteza, esta serva está pronta."
No momento em que as palavras saíram, ela quis se esbofetear até a morte. O que ela quis dizer com "pronta"? Pronta para quê? Ela estava com muito medo de que ele a interpretasse de forma inadequada. Na verdade, toda a situação já era inadequada, mas Xiao Hua ainda não havia conseguido reagir.
O Príncipe Jing sentou-se ali e a olhou por um longo tempo antes de se aproximar, com uma expressão obscura. Xiao Hua instintivamente encolheu a cabeça para dentro ao ver suas ações.
O Príncipe Jing entrou e sentou-se na beira da cama. Xiao Hua o encarou inexpressivamente por um tempo, antes de se ajoelhar e ajudá-lo a tirar as meias e os sapatos. Do ângulo do Príncipe Jing, ele podia ver claramente as linhas esculpidas em suas costas brancas como a neve, seu pescoço esbelto e o frágil laço da roupa que podia ser facilmente aberto. Pensando na noite anterior, seus olhos se aprofundaram em alguns tons.
O dia anterior fora devido às dicas implícitas e explícitas do Eunuco Fu. Ele não pretendia vir e iria para o salão interno descansar. No entanto, por alguma intervenção divina, seus pés o levaram na direção oposta. Ele não teve a chance de pensar com clareza ontem, mas pensando naquele conjunto de roupas hoje, ele sabia que definitivamente fora preparado por aquele velho Eunuco Fu. Ele sabia o que o Eunuco Fu planejava fazer, mas ainda assim caiu na armadilha. Durante o dia, seus pensamentos foram preenchidos com a imagem dela naquelas roupas.
Hoje, ele havia mantido os desejos em seu coração escondidos até que, agora, eles atingiram o ponto de ruptura. Ele não entendia de onde vinham esses impulsos – se era por causa da pessoa, das roupas ou do prazer que sentira na noite anterior.
Ele a puxou para seus braços e a sentiu ficar tensa. No passado, ele não percebia isso todas as vezes, mas depois da noite anterior, ficou especialmente claro.
"Este humilde príncipe te assusta?" Esta era a primeira vez que o Príncipe Jing falava seriamente com Xiao Hua. Normalmente, ele não dizia nada ou dava ordens diretamente.
Essa pergunta repentina deixou Xiao Hua perplexa: "Não, não..." Após um momento de silêncio, ela falou baixinho novamente: "Um pouquinho, um pouquinho."
O Príncipe Jing tinha dificuldade em entender o medo. Ele sabia que algumas pessoas o temiam, como as da propriedade, aquelas cujas vidas estavam em suas mãos. No entanto, outras não o temiam, como aquelas que o desprezavam profundamente ou o tratavam como insignificante desde o início. Aqueles que o desprezavam profundamente o faziam pelas costas, a menos que tivessem patrocinadores que os permitissem fazê-lo abertamente. Aqueles que o tratavam como insignificante o faziam com base em seu próprio status.
O Príncipe Jing nunca soube como confortar os outros. Ninguém lhe ensinara isso e ele nunca aprendera. Ele só conseguia falar claramente. Então ele disse com firmeza, com o rosto rígido: "Não tenha medo, este humilde príncipe a estima."
A palavra "estima" fez Xiao Hua se contrair instintivamente. Droga, por que ele precisava mentir? Como ele conseguia dizer aquelas palavras? Chegar ao ponto de dizer "estima" era ir longe demais!
O Príncipe Jing passara o dia pensando em como a criada de baixo escalão do palácio parecia temê-lo. Ele não gostava que ela tivesse medo. Ele descobrira na noite anterior que ela estivera com medo o tempo todo.
Ele não conseguia entender e, por isso, relutantemente, disse uma frase para o Eunuco Fu ao seu lado: "A criada de baixo escalão do palácio tem medo de mim."
O Eunuco Fu estava extremamente familiarizado com os padrões de fala do Príncipe Jing. Ele refletiu sobre isso em sua mente e, como um intérprete experiente e bom em compreender os outros, respondeu: "Alteza, se o senhor a estimasse, ela não teria mais medo de você."
Isso foi acompanhado por um sorriso irônico mal disfarçado. É claro que o Príncipe Jing não entendia o significado daquele sorriso, e o que ele não entendia, ele jogava para fora de sua mente. Assim, ele levou as palavras do Eunuco Fu a sério e as pronunciou em voz alta naquele momento, deixando Xiao Hua indignada até perder a voz.
Efeitos diferentes, de alguma forma, levaram ao mesmo resultado. Pelo menos, Xiao Hua não estava mais tão tensa e nervosa.
A criada de baixo escalão do palácio não o temia mais. O Príncipe Jing sentiu-se muito satisfeito.
.....ooo0ooo.....
Notas do autor:
Príncipe Jing: Não tenha medo, este humilde príncipe a estima.
Xiao Hua: A cabeça da sua mãe! (equivalente a “Teu cu”; mentira)
Capítulo 49
DESTINO OU COINCIDÊNCIA
Os dias se passaram um após o outro, enquanto o tempo esfriava. Com a chegada de novembro, o céu parecia coberto por uma neve sem fim. Xiao Hua sentia que a neve lá fora não parara de cair nem uma vez nos últimos dias. No entanto, como nunca saía do salão, o frio não a afetava de fato, e ela também não tinha tempo para verificar se a neve havia parado de cair.
Durante esse tempo, o Príncipe Jing havia deixado a propriedade novamente. Somente após sua partida Xiao Hua soube, por meio de dois eunucos de baixa patente, que um de seus condados havia sido coberto pela neve e que a situação parecia bastante grave. Portanto, ele fez uma viagem pessoalmente para verificar. Xiao Hua concluiu que o Príncipe Jing era um bom príncipe-vassalo.
Xiao Hua nunca tinha visto uma nevasca antes. Depois de ser vendida quando criança, ela morou em várias casas ricas como empregada doméstica e não presenciou nenhum desastre natural. Quando ela era muito pequena presenciou enchentes, mas não se lembrava de muita coisa. Tudo o que restava em suas memórias eram os rostos de seus pais e irmãos e o choro por toda parte.
Quando Xiao Hua concluiu que o Príncipe Jing era um bom príncipe-vassalo, a pessoa em questão cavalgava pela neve. Os guardas da propriedade recomendaram que ele pegasse a carruagem, mas ele sentiu que seria muito lento e, portanto, optou por continuar a cavalo.
A Província de Jing sempre foi um lugar frio e árido. O “árido” tornava difícil cultivar, o que fazia com que o povo vivesse na pobreza, e o “frio” se devia a estar localizada ao norte, o que tornava o clima gelado, com neve caindo pesadamente no inverno.
Como a terra era árida, o imperador era extremamente generoso. A Província de Jing era o maior feudo-vassalo em termos de área. Quando alguém dizia “planícies vastas e distantes”, era a esse lugar que se referiam.
Na verdade, o príncipe não precisava ir pessoalmente. Não havia motivo para ele ir em pessoa a um pequeno condado coberto de neve. Mas o Príncipe Jing sempre foi sério ao lidar com seus assuntos. Em sua vida passada, ele não era tão diligente na administração de seu feudo-vassalo, e o lugar sempre fora pobre. Nesta vida, ele decidiu se dedicar mais à terra que lhe foi confiada.
Como as plantações eram difíceis de cultivar, ele reuniu alguns agricultores talentosos que sabiam plantar culturas adequadas ao clima da Província de Jing – por exemplo, culturas de alto rendimento em terras estrangeiras, como batata e inhame. Nesses dois anos sob seu governo, quase não houve casos de pessoas morrendo de fome.
Como os negócios eram difíceis de desenvolver, ele fez com que seu próprio povo fosse a propriedades de províncias prósperas para negociar. Ele até mesmo tinha produtos especiais sob sua jurisdição, coisas boas como roupas de couro e ginseng, vendidos no exterior para atrair negócios. O modo de pensar do Príncipe Jing era simples: se ele não conseguia nem governar seu feudo-vassalo adequadamente, então ele não teria qualquer chance de mudar seu próprio destino. Em alguns anos, o efeito foi muito bom: não só a quantidade de impostos recebidos aumentou, como os próprios cofres do Príncipe Jing também ficaram suficientemente cheios.
Desta vez, o motivo de sua viagem também foi para demonstrar força, alertando os vários governantes abaixo dele para não maltratarem as pessoas sob seus olhos. Ele não precisava fazer mais nada – bastava fazer uma viagem de ida e volta e passar alguns dias nos condados para que todos os seus subordinados o levassem a sério, e não haveria ninguém morrendo de fome ou frio. O Príncipe Jing achou que era um ótimo negócio. Embora a maneira de pensar do príncipe fosse diferente da dos outros, os plebeus sob seu governo viviam vidas razoavelmente boas. Nos últimos anos, todos o elogiavam como um bom príncipe-vassalo.
Quando ele partiu não estava nevando forte, mas no caminho a neve foi engrossando cada vez mais. Os ventos também ficaram mais fortes e, combinados com a neve, tornou-se difícil ver as condições da estrada à frente. Um guarda, vestindo a armadura da guarda de honra e uma capa preta com forro carmesim por dentro, aproximou-se da montaria do Príncipe Jing com a sua: "Alteza, há uma vila aqui perto. Sugiro irmos até lá para nos abrigarmos da neve. Está nevando muito." No momento em que o guarda abriu a boca, um bocado de flocos de neve entrou.
O Príncipe Jing não demorou a responder e, em vez disso, assentiu imediatamente. O guarda conhecia bem o caráter do príncipe e, com um aceno de mão, fez outro guarda cavalgar à frente para liderar o caminho.
O grupo galopou por mais um tempo antes de avistar a vila. De longe, a vila não parecia muito grande. As casas eram pequenas e rústicas, mas com aquele tempo a visão deixou todos alegres e ansiosos. Porém, antes de entrarem na vila, o vento trouxe sons fracos de gritos e choro. O Príncipe Jing estava na liderança e puxou as rédeas. Seu corcel parou e os guardas atrás dele imitaram suas ações.
O Príncipe Jing não foi o único a ouvir os sons anormais. Os guardas atrás dele também ouviram. Um deles acenou com a mão. Ao seu gesto, alguns dos guardas se separaram da formação para entrar na aldeia primeiro. O Príncipe Jing e os demais seguiram atrás.
No momento em que entraram na aldeia, uma cena trágica se apresentou aos olhos deles. Havia muito sangue no chão coberto de neve. Alguns cadáveres jaziam espalhados pelas ruas estreitas da aldeia – pela aparência, claramente aldeões.
Ao ver que havia pessoas mortas, o grupo paralisou, em choque. O príncipe abriu a boca: "Olhem."
Desta vez, o Príncipe Jing trouxe consigo dezenas de guardas; independentemente do que tivesse acontecido, não havia nada a temer. Ouvindo a ordem do príncipe, um grupo de pessoas se separou de forma claramente disciplinada e galopou em direção aos gritos.
O príncipe e os cerca de dez guardas restantes pararam na encruzilhada da aldeia, e um oficial blindado disse: "Alteza, este subordinado encontrou uma casa vazia para protegê-lo da neve."
O Príncipe Jing assentiu e desceu do cavalo. Eles encontraram a casa vazia nas proximidades e entraram. Na verdade, não precisaram procurar por uma – há muito tempo eles já tinham percebido as portas encancaradas das casas. Os olhos dos guardas eram aguçados e, naturalmente, viram que também havia cadáveres dentro daquelas casas. Quem teria coragem de massacrar toda uma aldeia? Só pelo que viram, já davam para perceber que muitos aldeões haviam morrido.
Quando o Príncipe Jing entrou na sala, os guardas que entraram primeiro já estavam limpando o local. Dois deles limparam um espaço para sentar e os outros dois arrastaram os cadáveres para uma casa diferente.
Haviam os cadáveres de velho, um jovem e o de uma esposa. Havia também o cadáver de uma criança de apenas alguns anos. Era claramente uma família de quatro pessoas, mas todos haviam perdido a vida a golpes de lâmina. Inesperadamente, a casa aleatória em que o Príncipe Jing escolheu entrar teria uma cena tão trágica.
Esses guardas não tinham medo de sangue e morte, mas ao ver alguém tratar aldeões inocentes daquela maneira eles ficaram com raiva e acharam difícil de encarar: "Filhos da puta! Que desgraçado foi tão implacável?" Não faltavam homens rudes entre os guardas, e, à medida que seus ânimos se exaltavam, eles naturalmente não conseguiam controlar seus xingamentos. No entanto, o Príncipe Jing agiu como se não tivesse ouvido e permaneceu sentado, embora seus olhos normalmente apáticos estivessem extremamente frios.
Após cerca de quinze minutos, os guardas enviados retornaram gradualmente. O vice-comandante da Guarda da Propriedade do Príncipe Jing, Lin Qing Ting, foi um dos que foram verificar a situação. Depois de um momento, voltou para relatar ao príncipe.
Foi realmente um massacre. Quando chegaram, havia vários homens empunhando sabres e golpeando à vontade. Eles foram divididos em vários grupos e vasculhavam as casas, uma a uma, matando pessoas.
"Alteza, havia cerca de quarenta criminosos. Quando nos aproximamos para detê-los, vários resistiram e foram mortos. Os demais foram capturados e derrubados."
"Houve algum sobrevivente?"
"Sim." O Vice-Comandante Lin fez uma pausa e continuou em voz baixa: "Restam menos de vinte do grupo. Chegamos tarde demais. Quando os assassinos nos viram chegando para impedir suas ações, não ficaram assustados e não correram; em vez disso, suas lâminas caíram ainda mais rápido. Os guardas só conseguiram salvar pouco mais de dez pessoas da aldeia."
Todos os que restavam na aldeia pareciam ter se reunido do lado de fora da casa. Todos os tipos de ruídos se misturavam, enquanto os sons de xingamentos e gritos ecoavam. Quando o Príncipe Jing saiu, viu várias pessoas vestidas como aldeões chutando e espancando os criminosos amarrados.
"Seus animais, como tiveram coragem!..." Uma senhora idosa pareceu sentir que os chutes e espancamentos não eram suficientes. Ela pegou uma pedra da lateral e a jogou contra o corpo de uma das pessoas. "Devolvam meu filho e meu neto!..."
Situações semelhantes estavam acontecendo com os outros aldeões sobreviventes: todos pegaram vários objetos e os usaram contra os criminosos. Os guardas do príncipe não os impediram, pois haviam testemunhado a devastação ocorrida e, naturalmente, permitiram que os aldeões extravasassem sua raiva. Eles somente afastaram os aldeões quando viram o Príncipe Jing e o Vice-Comandante Lin se aproximando.
"Quem aqui pode explicar o que aconteceu? Quem aqui sabe por que esse grupo de pessoas veio e começou a matar pessoas nesta aldeia?"
Todos os sobreviventes balançaram a cabeça, inexpressivos. Eles também não sabiam o motivo. Eles nem perceberam quando a matança começou, e somente quando ouviram os sons perceberam que algo estava errado, correndo para fora para dar uma olhada.
Os que saíram primeiro foram mortos diretamente. Ao verem as pessoas sendo mortas, todos os aldeões entraram em pânico e correram para todos os lados, mas havia muitos malfeitores e os aldeões não tinham forças nem para amarrar uma galinha. Eles não tinham armas nem como se defender.
O grupo foi de casa em casa matando pessoas. Mataram cada uma delas, sem poupar nem mesmo os idosos e os jovens. A idosa que chorava tinha visto seu neto, ainda enrolado no berço, ser esfaqueado até a morte por aquelas pessoas. Foi extremamente trágico.
Os aldeões conversavam aqui e ali, juntando as peças do quebra-cabeça. Embora parecessem ter dito muito, a maior parte eram palavras inúteis. O Príncipe Jing fez um gesto e o Vice-Comandante Lin ordenou que seus subordinados separassem os assassinos para interrogatório.
"Se vocês sabem de alguma coisa, como se houve alguma circunstância incomum na aldeia antes disso acontecer, por favor, falem. Isso nos ajudaria a descobrir quem foi o verdadeiro culpado", disse um guarda aos aldeões.
Um dos sobreviventes era um adolescente de quatorze ou quinze anos, que disse chorando: "E o que isso importa? Ninguém da realeza tem qualquer humanidade, são todos uns animais! Vocês também não podem ajudar, ninguém pode ajudar!"
Os guardas na área olharam para o adolescente com expressões extremamente estranhas, como se quisessem rir, mas não conseguissem. Mas, vendo que a vila estava de fato em um estado trágico, não ousaram revelar quem estava ali.
O Vice-Comandante Lin abriu a boca e disse: "Jovem, se você sabe de algo, pode falar. Aqui está Sua Alteza, o Príncipe Jing. Você está no feudo-vassalo dele. Acha que há algo em que ele não possa ajudá-lo?"
O adolescente olhou para a pessoa que estava sendo chamada de Príncipe Jing, perplexo: "Você é Sua Alteza, o Príncipe Jing?"
O Príncipe Jing havia saído vestindo suas roupas informais desta vez, mas os guardas estavam todos usando o uniforme de guarda de honra da Mansão do Príncipe Jing. Acontece que o adolescente não tinha muita experiência e, naturalmente, não conseguia reconhecê-lo. Se fosse qualquer oficial sob a jurisdição da Província de Jing, eles seriam capazes de dizer pelos guardas que, mesmo que não fosse o Príncipe Jing em pessoa, as pessoas estariam fora sob suas ordens.
O Príncipe Jing olhou nos olhos do adolescente e assentiu.
O adolescente murmurou: "Meu pai disse que Sua Alteza, o Príncipe Jing, é uma boa pessoa. Como você pode provar que é Sua Alteza?"
Um guarda ao lado repreendeu: "Este pirralho realmente tem olhos, mas não reconhece o Monte Tai (não consegue reconhecer o que está na frente de seu nariz). Sua Alteza precisa enganar um pirralho sem barba como você? Consegue reconhecer o uniforme no meu corpo? Isso é algo que só a guarda de honra do príncipe pode usar."
O adolescente olhou ao redor para o grande grupo de guardas e se lembrou da incrível demonstração de habilidade deles antes. Eles haviam lidado com aqueles assassinos sem suar a camisa. Vendo novamente a expressão apática, porém imponente, do Príncipe Jing, ele sentiu que era quase certamente verdade. Mas sua expressão ainda era hesitante. “Isso é muito importante. Também não tenho certeza de que foi esse o motivo da calamidade que se abateu sobre nossa aldeia. Na época, meu pai hesitou por vários dias antes de finalmente partir, mas nunca mais voltou.”
O Príncipe Jing lançou um olhar para o Vice-Comandante Lin e voltou para dentro de casa. O Vice-Comandante Lin pegou o adolescente e o seguiu.
"Fale."
O adolescente contou o que sabia sobre a situação. Descobriu-se que o pai do adolescente era o prefeito da aldeia. A aldeia chamava-se Vila Sangshan (Monte Alto) e era uma pequena aldeia com apenas algumas dezenas de famílias.
A aldeia ficava perto do Monte Dahei (é um trocadilho: significa “Grande Montanha Negra”, mas também significa “reprimir atividades ilegais”; devia ser um lugar perigoso e o pai do menino era a autoridade responsável pela fiscalização). A aldeia era muito remota e extremamente pobre. Somente quando o Príncipe Jing assumiu o poder e espalhou culturas de alto rendimento, como batatas e inhames, é que os habitantes conseguiram encher a barriga.
Na aldeia, os homens aravam os campos, enquanto as mulheres costuravam. Eles passavam os dias fazendo trabalho duro, mas honesto, mas a situação era muito melhor do que antes. Com o gentil príncipe-vassalo reduzia os impostos sempre que nevava, as vidas de todos melhoraram gradualmente.
Tudo era pacífico até que, um dia, um aldeão estava catando pedras da montanha para construir um chiqueiro. Como mencionado anteriormente, a vila ficava próxima ao Monte Dahei, que tinha pouquíssimas árvores, mas muitas pedras. Muitos aldeões usavam essas pedras para suas casas ou cercados para porcos e ovelhas. As pedras apropriadas eram todas retiradas diretamente da montanha. Se as pedras para chiqueiros fossem muito grandes seria difícil carregá-las, e se fossem muito pequenas, seria difícil usá-las. Portanto, o aldeão pensou bastante e pegou um balde cheio de pedras de volta.
Ao retornar, percebeu que uma das pedras tinha uma cor diferente. Era difícil de descrever: prateada, mas não totalmente prateada. Na verdade, estava cheia de prata por dentro. O motivo pelo qual o Monte Dahei era chamado de Monte Dahei era porque todas as pedras nele eram pretas. O súbito aparecimento de uma pedra prateada foi muito surpreendente.
Muitos moradores vieram se juntar à animação. O pai do adolescente, o prefeito, também veio dar uma olhada. Ele sentiu que as coisas não estavam bem e levou a pedra de volta para um exame mais detalhado. Depois de voltar para casa, ele poliu a pedra, tentando entender por que a pedra preta emitia tons prateados que brilhavam sob a luz das velas.
Polir não foi suficiente, então ele usou o método mais básico e quebrou a rocha. Inesperadamente, depois que a rocha foi quebrada, descobriu-se que ela não era prateada; em vez disso, a rocha preta continha muitas partículas de prata.
Como prefeito, ele naturalmente tinha um certo conhecimento. Este prefeito hesitou por um longo tempo, mas ainda assim levou a rocha ao escritório do Condado de Heishan, que supervisionava a Vila Shangsan...
Tendo falado até aquele ponto, as coisas basicamente se tornaram claras. Claramente, o honesto prefeito da vila havia descoberto algo incomum e relatado ao escritório do condado. O magistrado do condado ouviu as explicações do administrador e viu o pedaço de rocha quebrado. Então, ele secretamente enviou pessoas à montanha para investigar. O lugar para onde foram foi onde a rocha foi encontrada.
O magistrado era uma pessoa experiente e, naturalmente, trouxe consigo aqueles que entendiam do assunto. A investigação revelou uma grande revelação. Quando o magistrado soube disso, sabia que não seria fácil varrer para debaixo do tapete. No entanto, os humanos eram gananciosos por natureza, e assim nasceu a ideia de massacrar a aldeia para silenciar a todos. A riqueza comove corações, mas também destrói vidas.
O adolescente resumiu a situação deste lado e os guardas do outro lado também terminaram seus interrogatórios. A situação era aquela que o Príncipe Jing supôs. Os culpados eram o próprio magistrado do condado e homens que o serviam. Mas o que o adolescente sabia era apenas um lado da história, e os assassinos interrogados também não sabiam muito.
Embora tivessem uma teoria sólida em mente, o Príncipe Jing não tratou o caso levianamente e levou seus guardas para o Condado de Heishan.
.....ooo0ooo.....
Quando tragédias acontecem, as pessoas costumam atribuí-las ao destino ou à coincidência. Fosse por destino ou coincidência, um morador daquela aldeia trouxe de volta o pedaço de rocha prateado e, por causa do pedaço de rocha, quase toda a aldeia foi massacrada.
O destino e a coincidência também quiseram que o relatório recebido pelo Príncipe Jing informando que muitas aldeias teriam morrido por causa da nevasca veio do mesmo magistrado do Condado de Heishan, o mentor do massacre.
O magistrado provavelmente planejava usar a neve pesada como desculpa para o assassinato das pessoas. A Província de Jing frequentemente via nevascas e, para explicar o grande número de mortes repentinas sob sua administração, o magistrado planejava culpar a neve. Primeiro, ele relatou a nevasca aos superiores e, em seguida, enviou pessoas para massacrar a vila. Se o Príncipe Jing não tivesse viajado desta vez, depois que a neve parou, as evidências poderiam muito bem ter sido encobertas e ele teria se safado. Quem diria que o príncipe viria verificar pessoalmente...
Como se pode imaginar, o magistrado sofreu um final trágico. Depois de alguns anos, o Príncipe Jing se lembraria dessa situação. O único beneficiário, na verdade, era ele mesmo.
Isso, é claro, era outra história.
Capítulo 50
NÃO PODEMOS DEIXÁ-LA DAR À LUZ
Xi'er veio procurar Xiao Hua mais duas vezes. Infelizmente, uma delas foi pela manhã, enquanto o Príncipe Jing estava no quarto com ela; Xiao Qin Zi não se atreveu a reportar e mandou o eunuco que guardava a porta dispensá-la. Na segunda vez, o eunuco que guardava a porta foi reportar e foi xingado por Xiao Qin Zi, que o expulsou imediatamente.
Hoje, Xi'er voltou. O eunuco que guardava a porta franziu a testa ao vê-la: "Por que você voltou? Da última vez que anunciei sua chegada, levei uma bronca. Vá embora logo e não volte mais."
O rosto de Xi'er congelou, mas ela rapidamente forçou um sorriso: "Irmão mais velho, eu realmente tenho alguns assuntos a tratar com a Srta. Xiao Hua. Você poderia, por favor, me ajudar a anunciar minha chegada? Meu relacionamento com a Srta. Xiao Hua era muito bom no passado. Se ela soubesse que eu vim procurá-la, com certeza viria me ver. Posso te incomodar para me ajudar?" O rosto do eunuco de baixa patente parecia preocupado, e Xi'er, vendo isso, continuou falando: "Naquela ocasião, contarei à Srta. Xiao Hua sobre isso, e ela também lhe será muito grata."
Este eunuco de baixa patente era alguém do Salão do Esplendor. Embora fosse apenas o porteiro, ele sabia que a Srta. Xiao Hua era a nova favorita de Sua Alteza. Mesmo que ela temporariamente não tivesse nenhum status, parecia que o obteria facilmente no futuro. Além disso, ela era alguém sob a tutela do Eunuco Fu. Se não fosse por essas considerações, ele não teria anunciado repetidamente a chegada de Xi'er para ela anteriormente. Todos tinham ambições, e este eunuco não era diferente. Portanto, ele hesitou ao ouvir a última parte.
Xi'er viu que ele estava um pouco convencido e se esforçou um pouco mais. Ela colocou algo em suas mãos e disse: "Irmão mais velho, eu sei que estou te dando trabalho. Não se preocupe, definitivamente não vou deixar esquecer de você por me ajudar."
O eunuco de baixa patente hesitou por meio segundo antes de dizer: "Espere aqui, eu vou perguntar." Ele disse a outro eunuco de baixa patente para ficar de vigia. Depois de um tempo, o eunuco retornou: "Espere um momento. A Srta. Xiao Hua chegará em breve."
Xiao Hua também sabia que Xi'er viera várias vezes dizendo que queria vê-la. Nas duas últimas vezes, isso não havia sido anunciado, e ela só descobriu depois. Hoje, ela estava bastante ociosa e, inesperadamente, Xi'er voltou.
Será que ela realmente tinha algum assunto a tratar com ela? Elas haviam sido colegas de quarto no passado. Embora tenha havido alguns conflitos durante esse tempo, Xi'er não havia feito nada de mais. Como ela veio tantas vezes, Xiao Hua decidiu encontrá-la uma vez, para ver se realmente havia algo.
Ao chegar às portas do Salão do Esplendor, ela viu Xi'er de longe, vestida com seu traje de empregada de palácio de baixa patente. Ela parecia mais magra do que antes, e seu temperamento também parecia ter mudado. O espírito inocente e impassível do passado parecia ter desaparecido.
"Xi'er, por que está me procurando?"
Xi'er viu Xiao Hua se aproximando e seus olhos brilharam. Hoje, Xiao Hua usava uma jaqueta branca azulada bordada com flores de camélia. Sua saia de cetim era amarelo-alaranjada, bordada com nuvens verde-bambu. Esta nova roupa de inverno era de muito melhor qualidade do que as anteriores que o Eunuco Fu havia preparado; era evidente apenas pelo material.
Ultimamente, a pele de Xiao Hua estava muito boa, e ela tinha acabado de sair do salão aquecido. Seu rosto pálido exibia um brilho avermelhado e sua pele estava bem hidratada, como se água pudesse ser espremida. Ela parecia alegre e sua figura estava muito mais cheia do que antes. Seu peito estava saliente, completamente diferente de seu antigo ovinho frito.
"Eu, hum, não te vejo há algum tempo e queria vir ver se você está bem ultimamente."
Em comparação, Xi'er estava mais magra do que antes. Seu rosto, antes pequeno e redondo, havia afinado bastante, fazendo seus olhos parecerem ainda maiores. Sua pele pálida continha um toque de palidez amarelada, fazendo-a parecer sem muita energia.
Se ela estava “bem?” Essa pergunta escondia segundas intenções. Xiao Hua não pensou muito, antes de responder à sua maneira antiga: "O que há para estar bem? Está tudo igual a sempre."
"Ouvi todos te chamando de Srta. Xiao Hua."
Xiao Hua fez uma pausa e disse com a mesma atitude: "Isso é apenas para eles não me menosprezarem. Afinal, estou servindo Sua Alteza no salão. No passado, até mesmo as criadas de famílias ricas eram respeitadas se servissem ao lado do mestre."
"Você parece ter mudado drasticamente. O Eunuco Fu a mandou servir Sua Alteza?"
Xiao Hua ergueu os olhos e olhou para Xi'er. Ela viu sua expressão inexplicavelmente sombria e seus olhos faiscantes, e subitamente sentiu-se exausta de tanta falsidade e também se sentiu um pouco arrependida por ter decidido atender o chamado. Acontece que Xi'er estava ali apenas para perguntar sobre isso.
Ela sorriu e piscou os olhos inocentemente: "O que você quer dizer? Eu sempre servi Sua Alteza dentro do salão. Minhas tarefas são, de fato, organizadas pelo Eunuco Fu." Xi'er ainda queria para falar mais, mas foi interrompida por Xiao Hua: "Você veio me procurar para perguntar isso? Eu realmente pensei que você quisesse falar comigo." O tom de Xiao Hua era muito frio e demonstrava a intenção de acompanhar a visitante até a saída. Xi'er percebeu naturalmente.
"Não, é só curiosidade, nada demais. Só pensei em ver como você estava, já que costumávamos ser colegas de quarto."
"Ah, nesse caso, obrigada pela preocupação. Se não há mais nada, voltarei para dentro. Como uma empregada de baixo escalão do palácio, você também sabe que não temos muito tempo livre para conversar. O tempo lá fora também está frio, você deveria se apressar e voltar."
"Sim, sim, então eu vou embora."
Xiao Hua se virou e voltou para dentro, e Xi'er também saiu rapidamente.
A alguma distância, alguém vestida com trajes de empregada de palácio a esperava. Aquela empregada de palácio estava observando as portas de longe e perguntou sobre a conversa. Ela, então, ordenou que Xi'er se apressasse e retornasse à área de costura, saindo rapidamente.
No Pavilhão Changchun.
Chun Xiang esperou que a pessoa retornasse e, após perguntar detalhadamente, foi para o quarto interno da residência principal. Ela relatou detalhadamente tudo o que lhe foi dito pela serva e, em seguida, permaneceu em silêncio ao lado.
Chegando a esse ponto, tudo estava extremamente claro, e de fato era como elas haviam imaginado. Embora não pudessem ver a situação internamente, com base nas reações dos servos ao lado, bem como no que seus subordinados testemunharam, eles julgaram que a empregada de baixo escalão do palácio, chamada Xiao Hua, havia de fato “servido” ao Príncipe Jing.
A Consorte Jing não tinha certeza de como as coisas se desenvolveriam dali em diante. Afinal, o Salão do Esplendor não havia revelado nenhum plano de adicionar alguém ao pátio traseiro. A Consorte Jing calculou o momento e estava inquieta. Por não saber a real situação interna, estava ainda mais consumida pela raiva.
A xícara de chá foi estilhaçada no chão. Ultimamente, a frequência de xícaras quebradas no Pavilhão Changchun havia aumentado drasticamente. Os conjuntos haviam sido substituídos repetidamente, mas ainda não conseguiam acompanhar os ataques de raiva da Consorte Jing.
"Isso não vai dar certo. Precisamos fazer alguma coisa a respeito dessa situação. Precisamos pensar em algo." A Consorte Jing se levantou e andou de um lado para o outro como uma sequelada. De repente, ela falou: "Nana, não podemos deixá-la dar à luz antes de mim. Definitivamente não podemos."
"Tudo bem, tudo bem. Nana vai pensar em algo. Temos tantas pessoas. Se nos unirmos, definitivamente podemos pensar em algo."
.....ooo0ooo.....
Xiao Hua estava prestes a entrar no salão quando parou para pensar e se virou. Ela viu o eunuco de baixa patente que guardava a porta antes: "Bom dia, eunuco."
"Bom dia, Srta. Xiao Hua." O eunuco que ajudou a anunciar Xi'er estava cheio de sorrisos, com o ar de estar sendo dominado pelo favor de um superior. Será que a Srta. Xiao Hua estava prestes a promovê-lo?
"Gostaria da sua ajuda."
"Srta. Xiao Hua, por favor, fale. Se houver algo em que eu possa ajudar, farei sem hesitar."
"É assim. Se aquela empregada de baixo escalão que veio antes voltar no futuro, você poderia me ajudar a mandá-la embora?" A expressão de Xiao Hua demonstrava certa hesitação.
O eunuco de baixo escalão era perspicaz e percebeu imediatamente que Xi'er e a Srta. Xiao Hua não tinham um bom relacionamento. Depois de ser esclarecido, ele se repreendeu por sua tolice. Deveria ter sido óbvio para ele: afinal, uma foi expulsa, enquanto a outra permaneceu servindo Sua Alteza. Como o relacionamento delas poderia ser bom?
"A culpa é desta humilde por ouvir as bobagens dela. Eu só a anunciei porque ela vivia dizendo como o relacionamento entre vocês era bom e que tinha alguns negócios com você. Se eu soubesse antes, esta humilde definitivamente não teria lhe dado chance."
Xiao Hua tentou entender as intenções de Xi'er, mas não conseguiu pensar em nada. Vendo a aparência nervosa do eunuco de baixa patente, ela disse, confortando-o: "Tudo bem, nós apenas dividimos o quarto no passado. Se ela voltar, apenas me ajude a mandá-la embora. Não precisa vir avisar."
"Sim, sim, sim."
Vendo Xiao Hua se afastando, o eunuco enxugou o suor frio da testa enquanto xingava aquela trapaceira Xi'er. Ele decidiu que, se ela voltasse, não apenas a expulsaria, mas também lhe daria uma boa bronca.
.....ooo0ooo.....
O Eunuco Fu não acompanhou o Príncipe Jing desta vez. O tempo estava frio, nevava lá fora, e o Eunuco Fu era velho. O Príncipe Jing o deixou na Propriedade do Príncipe Jing.
Depois que o príncipe partiu da propriedade, o Eunuco Fu ficou bastante ocioso. Ele se entediou durante sua ociosidade e, assim, começou a se preocupar com coisas que não lhe diziam respeito: "O Príncipe a procurou muitas vezes, por que não aconteceu nada com a moça?"
O Eunuco Fu se trancou na cozinha interna desde a manhã, discutindo isso com Nana He. Como ele achava que este assunto era confidencial, ele havia dispensado todas as outras.
O rosto de Nana He ficou rígido: "Você sabe que Sua Alteza é apático por natureza, como pode ser tão rápido?
"Não acho normal. Eu contei, sabia? Em outubro, foram sete ou oito vezes. Também já aconteceu uma vez em novembro."
Nana He suspirou profundamente e falou com uma expressão tranquila: "Aquela moça ainda é jovem e sua menstruação começou recentemente. Não seria tão rápido."
"Ah, é assim que funciona?"
Esta pergunta foi respondida por Nana He, revirando os olhos: "Eu entendo dessas coisas melhor do que você."
O Eunuco Fu coçou o queixo e forçou um sorriso: "Claro que Nana entende melhor." Esta velha senhora já havia servido às concubinas imperiais do palácio no passado. Ela naturalmente sabia muito sobre os assuntos das mulheres.
"A menstruação daquela mocinha Xiao Hua estava um pouco irregular, então eu a estou ajudando a fortalecer o corpo. Não precisa ficar impaciente, haverá boas notícias em breve. Este assunto não pode ser apressado."
Nana He minimizou a situação, mas ainda revelou algumas coisas. No entanto, ela não contou a verdade ao Eunuco Fu. A menstruação de Xiao Hua era mais do que apenas um pouco irregular; era extremamente irregular. Embora Nana He não pudesse ser considerada médica, apenas com base no que sabia de suas conversas sobre o passado de Xiao Hua, ela sabia que Xiao Hua devia ter sofrido muito na infância, resultando em seu útero um pouco frio. Quanto a esse problema, ela tinha meios para curá-lo, mas levaria algum tempo.
Ela também estava ciente dos pensamentos do Eunuco Fu, e foi por isso que não lhe contou a verdade, apenas a evitou vagamente. Tendo passado algum tempo com aquela moça, ela passou a gostar bastante dela e inevitavelmente desejaria protegê-la um pouco. Ela temia que, se a verdade fosse descoberta, o Eunuco Fu sentiria que Xiao Hua não era mais útil, ou que ele não aguentasse esperar e acabasse desistindo da menina. Afinal, Sua Alteza não havia demonstrado qualquer indicação de que conferiria um status a ela. Durante seu tempo no palácio, ela vira muitas mulheres serem abandonadas por diversos motivos. Ela realmente não queria ver aquela moça acabar da mesma forma.
O Eunuco Fu era um homem inteligente e Nana He também sabia disso. Portanto, ela não ousava lhe contar a verdade, mas também não ousava esconder tudo, e só conseguia descrever o problema superficialmente. Dessa forma, mesmo que ele descobrisse no futuro, só poderia presumir que ela o havia subestimado. Afinal, Nana He era apenas uma criada do palácio e não uma médica. Seria melhor se ele nunca descobrisse. Assim, poderia-se dizer que ela havia ganhado algum tempo para Xiao Hua. Nana He era realmente uma defensora de Xiao Hua.
"Então você precisa ajustar a condição dela adequadamente. É verdade que a moça tem apenas quatorze anos, então não deveria acontecer tão rápido. Se precisar de ingredientes médicos ou algo assim, diga diretamente ao Eunuco Chang.Temos sobrando.”
Nana He sorriu e zombou: “Preciso que você me diga isso?”
“Não tenho outros pensamentos, só quero ver Sua Alteza ter um herdeiro. Ai, quem sabe o que Sua Alteza está pensando.” O Eunuco Fu suspirou, com o rosto cheio de lamento, e zombou de si mesmo: “Que caso maluco, não é Sua Alteza quem está desesperado, mas sim eu, o eunuco.”
Nana He não disse nada, mas seu olhar era um pouco complicado.
0 Comentários