Capítulo 51 a 55


 Capítulo 51 – Completo

Lu Yufei olhou ao redor, com o coração disposto a agradar Zhao Chengjun:

— Se a Senhorita Tang quiser ir até Buda…

Zhao Chengjun sequer pensou antes de cortá-la:

— Ela não vai.

Tang Shishi abriu a boca para falar, mas ao ouvir as palavras de Zhao Chengjun, só conseguiu engolir o consentimento que estava prestes a dizer. Ela descobriu que Zhao Chengjun realmente sabia guardar rancor. Bastou mencionar “piedade filial” e ele já ficou descontente, chegando até a ameaçá-la.

Ele claramente não gostava que ela falasse sobre piedade filial com ele. Mas o problema era: quando Zhao Zixun e Lu Yufei diziam isso, por que ele não parecia se incomodar?

Era muito incoerente. Tang Shishi não conseguia entender o motivo, mas sabia que às vezes era melhor abaixar a cabeça. Imediatamente, ela colocou um sorriso dócil no rosto e disse:

— Contanto que Wangye goste, não só refeições vegetarianas ou copiar escrituras — posso fazer qualquer coisa.

Zhao Chengjun lançou-lhe um olhar. Não disse que a dispensava, mas também não insistiu que ela jejuasse. E, para Tang Shishi, isso bastava — se ele não dissesse explicitamente, significava que ela estava livre.

Lu Yufei, em pé, sentia novamente aquela sutil sensação de ser descartável. Desde o momento em que entrou, frequentemente parecia que não pertencia ao mesmo mundo que aquelas duas pessoas. Ela cumprimentava respeitosamente o Príncipe Jing, mas ele se preocupava com se os dedos de Tang Shishi estavam limpos. Ela reclamava com lágrimas nos olhos de que Zhao Zixun a tratava com frieza, mas o Príncipe Jing não se importava muito. Pelo contrário, ele olhava constantemente para a porta, como se estivesse esperando que Tang Shishi voltasse.

Agora, ela e Zhao Zixun estavam prestes a partir para o Templo Guangji, em pleno frio rigoroso. E em vez de perguntar em quem poderia confiar para deixar o filho e a nora, o Príncipe Jing apenas trocava gracejos com Tang Shishi.

Se não tivesse visto com os próprios olhos, Lu Yufei jamais acreditaria que esse homem era o famoso e resoluto Príncipe Jing.

Zhao Zixun provavelmente nunca o havia visto falar sobre outros assuntos. Era evidente que Zhao Chengjun detestava ser interrompido e perder tempo. Zhao Zixun hesitou um pouco, e quando Zhao Chengjun voltou a lhe dar atenção, ele continuou:

— Ainda tenho mais uma coisa que gostaria que meu pai permitisse.

— O que é?

— A estrada para o Templo Guangji não fica longe da vila montanhosa de Nanshan. Zhou Shunhua sempre quis ver a paisagem do campo. Planejo aproveitar a ocasião para colocá-la na vila de Nanshan.

Houve um momento de silêncio no cômodo. Era inverno agora — quem iria ao campo “ver a paisagem” nessa época? Aqueles que haviam crescido nos círculos internos entendiam bem esse tipo de eufemismo. Ser enviada para uma vila, por mais romântica e decente que fosse a justificativa, era exílio disfarçado.

Lu Yufei havia feito sua reclamação momentos antes, e Zhao Zixun, logo em seguida, despachava sua mulher favorita para o campo. Não se sabia se era mais de lamentar a frieza de Zhao Zixun ou a imensa autoridade de Zhao Chengjun.

— Muito bem — respondeu Zhao Chengjun com indiferença. — Isso é assunto seu. Decida por conta própria. Se não há mais nada, podem se retirar.

Zhao Zixun e Lu Yufei responderam ao mesmo tempo. Tang Shishi, junto com todos do pátio de Yan’an, curvou-se para se despedir:

— Respeitosamente nos despedimos de Shizi. Respeitosamente nos despedimos de Shizifei.

A voz no pátio de Yan’an era uniforme e altiva. Lu Yufei, envolvida por ela, estremeceu sem motivo aparente.

Ela de repente começou a se perguntar se sua esperteza naquele dia havia se voltado contra ela mesma. Quis conquistar a piedade de Zhao Chengjun e usá-lo para lidar com Zhou Shunhua. Agora, tudo havia saído exatamente como desejava — ou melhor, ainda melhor do que planejara. No entanto, Lu Yufei sentia calafrios por todo o corpo.

Aquele pai e filho eram muito mais assustadores do que ela imaginava. Lu Yufei teve a súbita sensação de que estava mostrando um truque infantil diante de um mestre. Será que tudo o que fez hoje estava completamente transparente aos olhos de Jing Wang?

A notícia de que Shizi e Shizifei estavam indo ao Templo Guangji orar pela saúde de Jing Wang se espalhou imediatamente. Logo, até mesmo pessoas fora da mansão sabiam que Shizifei havia convidado a família Xi para acompanhá-la, e que Jing Wang havia designado sua gugu mais velha para servir ao grupo.

A especulação sobre o relacionamento entre Jing Wang e a jovem senhorita da família Xi cresceu como o vento pelas mansões de Xiping.

Todos estavam ocupados com os preparativos da viagem de Shizi e Shizifei, enquanto a beldade favorita de Shizi, Zhou, seria enviada para o campo. As criadas discutiam fervorosamente os boatos entre Jing Wang e a segunda filha da família Xi. A mansão do Príncipe Jing estava bem agitada esses dias — mas nada disso tinha a ver com Tang Shishi.

Porque ela estava copiando escrituras budistas. Felizmente, Zhao Chengjun ainda tinha um pouco de consciência e não a obrigou a seguir uma dieta vegetariana ao mesmo tempo.

Hoje, dia dezenove do segundo mês, Zhao Zixun e Lu Yufei partiram em viagem, levando Zhou Shunhua com eles. Tang Shishi se despediu no segundo portão e depois caminhou lentamente em direção à sala de estudos com seu aquecedor de mãos.

Com a família inteira de Shizi ausente, a mansão parecia vazia. Zhao Chengjun, que apreciava o silêncio, estava satisfeito — agora não haveria mais discussões com o filho. O ambiente estava excepcionalmente quieto. Tang Shishi ficou na sala de estudos e quase sentiu a ilusão de que só restavam ela e Jing Wang na residência.

Provavelmente porque sabia que Zhao Zixun estava longe, Tang Shishi não se preocupava mais em perder os acontecimentos do enredo e estava particularmente à vontade. Copiava as escrituras budistas na sala de estudos. Depois de um tempo, sentiu que aquilo era realmente entediante e sua mente começou a ficar inquieta.

Tang Shishi se empolgou. Escutou atentamente por um tempo e se certificou de que Zhao Chengjun estava sozinho no cômodo. Imediatamente, fechou as escrituras, abriu silenciosamente a porta do pavilhão e caminhou em silêncio até o lado de fora do escritório de Zhao Chengjun.

Embora Tang Shishi estivesse tentando suavizar os passos, seus movimentos desajeitados chegaram aos ouvidos de Zhao Chengjun quase sem obstáculos. Ele largou o pincel e, antes que Tang Shishi pudesse bater à porta, disse:

— Entre.

Tang Shishi parou com a mão sobre a divisória da porta, paralisada. Como ele sabia que eu estava vindo antes mesmo de bater?

Ela não conseguiu entender e logo deixou isso de lado. Empurrou a porta da sala de estudos, entrou sorrindo e saudou:

— Saudações, Wangye.

— Ninguém vai ao Salão de Buda sem um motivo. Diga logo, o que quer?

— Wangye, suas palavras são cruéis demais — disse Tang Shishi, sem nem piscar. — Na verdade, só vim por preocupação com Vossa Alteza e para lhe dar um bom-dia.

Claro… Ainda não queria dizer a verdade.

Zhao Chengjun não se apressou:

— É raro você ter essa intenção, mas cumprimentar não basta. Só copiando escrituras é possível demonstrar sinceridade. Não posso desperdiçar tamanha dedicação sua. Sendo assim, hoje você copiará o Sutra da Grande Compaixão…

Tang Shishi se assustou só de ouvir e imediatamente interrompeu:

— Wangye!

Zhao Chengjun a encarou com olhos frios. Tang Shishi não ousou testar mais a paciência dele. Sorriu de forma agradável e apressou-se em servi-lo com chá:

— Wangye, além de saudá-lo, também tenho outra dúvida. Há alguns dias, Wangye orientou os estudos de Shizi enquanto ele e Shizifei prestavam respeito. Eu admiro imensamente a sabedoria de Wangye. Se eu puder aprender um décimo de seu conhecimento, já estarei satisfeita. Gostaria de saber qual era mesmo o livro mencionado por Vossa Alteza?

Tang Shishi havia tomado a iniciativa de perguntar sobre um livro. Zhao Chengjun, para ser sincero, ficou um pouco surpreso. Tinha boa memória e pensou por um momento:

Memórias de Funcionários Famosos de Todas as Dinastias.

Tang Shishi franziu a testa, balançou a cabeça e disse:

— Não. O outro.

— O outro?

Zhao Chengjun ergueu levemente as sobrancelhas. Será que mencionei outro livro para Zhao Zixun? Ele observou a expressão de Tang Shishi e, de repente, se lembrou:

— Ah… você quer dizer O Grande Aprendizado de Yanyi?

— Sim, é esse mesmo. — Tang Shishi não sabia o nome completo, mas lembrava da palavra Yanyi. Ela estava animada e perguntou:
— Wangye, o senhor tem esse livro aqui?

Zhao Chengjun observou atentamente a expressão de Tang Shishi e, inesperadamente, percebeu que ela realmente queria ler O Grande Aprendizado de Yanyi. Inicialmente, Zhao Chengjun pensara que ela só queria ler o livro que Zhao Zixun estava estudando para se aproximar dele.

Mas, surpreendentemente, ela mencionou outro título. Zhao Chengjun desprezava aqueles escritos pedantes e dogmáticos, e havia retirado esse livro da lista de leitura de Zhao Zixun, substituindo-o por Memórias de Funcionários Famosos. Por que Tang Shishi queria aquele livro, se nem ao menos olhava para Zhao Zixun?

Zhao Chengjun não se apressou e disse:

— O livro, naturalmente, existe. Mas você precisa me dizer com clareza: por que quer lê-lo?

— Sem motivo algum. — Tang Shishi deu de ombros. — Já que tenho que copiar livros de qualquer forma, posso muito bem copiar o que eu gosto.

O que eu gosto... Zhao Chengjun reagiu de repente. Então é isso — tem a ver com seu noivo. Não, ex-noivo, na verdade.

A diferença entre as identidades de soberanos e oficiais levava a pontos de vista diferentes. Zhao Chengjun era um príncipe. Ele zombava do confucionismo da dinastia Song, especialmente dos ensaios em oito partes. Ao escolher os livros para seu filho adotivo, ele pulava todos os que pregavam lealdade cega e piedade filial, substituindo-os por obras de pensamento mais crítico.

No entanto, para estudiosos comuns, aqueles dogmas em oito partes eram leitura obrigatória do confucionismo clássico. Seria incorreto vê-los como heresia.

Zhao Chengjun e Zhao Zixun não precisavam estudar O Grande Aprendizado, mas o ex-noivo dela, sim — ele precisava conhecê-lo de cor.

Zhao Chengjun não sabia dizer o que estava sentindo. Já fazia tanto tempo… e ainda assim ela pensava naquele homem? Seria que não conseguia esquecê-lo?

Sem entender por que, Zhao Chengjun ficou de repente irritado, e até seu tom de voz endureceu:

— Esse é um livro que estudiosos leem para se preparar para o exame imperial. Por que você quer estudá-lo?

Por que eu quero? Tang Shishi baixou ligeiramente os olhos. Sim… ela já não era mais a filha mais velha da família Tang, já não precisava agradar a família Qi nem a Qi Jingsheng. Ainda assim, queria ler esse tipo de coisa… por quê?

Tang Shishi fechou os olhos, e seus cílios tremeram levemente. Depois de um momento, sussurrou:

— Não é por causa dele. É só… algo que quero completar em mim mesma.

Na verdade, Tang Shishi não sentia falta de Qi Jingsheng e nem podia dizer que o amava. Ele era bonito, gentil, esforçado — que mulher não teria uma boa impressão? Mas, fora isso… não havia nada mais.

Não era exatamente por Qi Jingsheng que ela sentia saudade, mas pela versão dela mesma daquela época. Naquele tempo, ela se esforçava tanto, era tão decidida.

Qi Jingsheng lia os Quatro Livros fluentemente, era capaz de recitá-los de trás pra frente. E, na verdade, Tang Shishi também podia. No entanto, Qi Jingsheng era elogiado por todos, enquanto os esforços dela não valiam nada.

Ela queria voltar a ser completa como antes. Mas desta vez, não por ninguém — apenas por si mesma. Queria provar que também era capaz de estudar os livros dos estudiosos.

Tang Shishi queria se consolar com essa ideia. No entanto, quando sua resposta chegou aos ouvidos de Zhao Chengjun, o significado foi completamente distorcido. Até mesmo a expressão em seu rosto — que mais parecia nostalgia com um toque de paixão — soou irritante aos olhos dele.

Ela realmente sentia tanta falta daquele homem assim? Mesmo depois de virarem estranhos, ela ainda se lembrava de cada pequeno gesto dele?

Se não podiam ficar juntos na realidade, ela queria completá-lo em sua fantasia?

Zhao Chengjun não queria ouvir mais. Com o rosto impassível, disse em tom frio:

— Liu Ji vai levar o livro até o pavilhão mais tarde. Se não houver mais nada, pode ir.

Tang Shishi ficou surpresa por um instante. Quando voltou a si, respondeu rapidamente:

— Obrigada, Wangye.

Ela sabia que Zhao Chengjun não gostava de ser incomodado pelos outros — especialmente por ela. Tang Shishi conhecia bem o seu lugar e saiu imediatamente assim que recebeu o que queria.

A porta da sala de estudos se fechou com um estalo. Zhao Chengjun estava debruçado sobre o relatório imperial, mas não virava a página fazia muito tempo.

Ela sorrira, o bajulara por causa de um livro… e, assim que o conseguira, fora embora sem olhar para trás. Não quis ficar nem por um instante a mais.

Zhao Chengjun sentia uma raiva sem explicação — e o mais estranho era que nem sabia direito do que estava com raiva.

Pouco depois que Tang Shishi voltou ao pavilhão, Liu Ji levou o livro, como prometido.

Na capa lia-se claramente: O Grande Aprendizado de Yanyi.

Então era isso mesmo, pensou Tang Shishi. Imediatamente, abriu a primeira página e começou a copiar enquanto lia. Mas o conteúdo dos livros preparatórios para o exame imperial estava longe de ser simples. Tang Shishi tropeçava na leitura, não compreendia completamente as interpretações, então apenas copiava mecanicamente.

Depois de terminar uma página, o entusiasmo inicial já havia passado. Ela só estava fazendo aquilo por causa das crenças que tinha na juventude. No entanto, havia certas coisas que, depois de esperarmos por tanto tempo, ao finalmente alcançá-las… percebemos que não passam de nada demais.

Era exatamente assim que Tang Shishi se sentia agora. Logo perdeu o interesse e passou a copiar os livros apenas para passar o tempo. De qualquer forma, não importava o que fizesse — teria que passar o dia inteiro na sala de estudos.

À noite, Tang Shishi saiu por um momento e, ao retornar, viu Zhao Chengjun parado no pavilhão, segurando algumas folhas de papel nas mãos.

Zhao Chengjun passou os olhos pelas folhas e disse:

— Há muitos caracteres errados. Você sabe o que isso significa?

Tang Shishi balançou a cabeça.

— Não sei.

— Você não entende o significado. Não é de se admirar que tenha copiado errado. — Zhao Chengjun suspirou, sem paciência. E disse com naturalidade, como se fosse um comentário qualquer:

— A vida é curta, a energia é limitada. Não desperdice esforço com coisas inúteis.

Tang Shishi teve a sensação de que aquela frase tinha uma segunda intenção, mas no momento ela até fazia sentido — era como se ela estivesse apenas sendo impulsiva. Pensou por um instante e logo deixou pra lá:

— O que Wangye quis dizer é que, com o nível que tenho, só dá mesmo para ler romances históricos. Estou longe de ter base suficiente para estudar esse tipo de obra séria.

— Como isso pode ser considerado aprendizado sério? — Zhao Chengjun refutou, e pegou a cópia que ela havia feito.

— Venha aqui. Você errou em vários trechos.

Zhao Chengjun começou a marcar os erros dela um a um. Tang Shishi olhava a cena diante de si, atônita, sem conseguir reagir.

Zhao Chengjun está mesmo corrigindo meu trabalho? Seria porque ele estava entediado… ou Tang Shishi estaria tendo alucinações?

Zhao Chengjun assinalou mais alguns trechos e percebeu que ela ainda não se mexera. Lançou-lhe um olhar levemente frio:

— Ainda não veio?

Tang Shishi despertou como se saísse de um sonho e correu até o lado dele, perguntando humildemente:

— Wangye, poderia me ensinar?

Zhao Chengjun primeiro apontou os erros de caligrafia e depois explicou o significado da frase, detalhando onde ela havia falhado. A interpretação das palavras, explicou, sempre deveria ser contextualizada. Para que ela compreendesse aquele ponto, ele precisou relatar todo o contexto. Aos poucos, Zhao Chengjun começou a recitar o capítulo para Tang Shishi desde o início. Em certos trechos, quando achava que a explicação no livro não estava clara, ele simplesmente riscava e escrevia sua própria interpretação.

Tang Shishi estava verdadeiramente lisonjeada. Se alguém contasse isso ao Shizi, ele não ficaria furioso de ciúmes? Contudo, pensando objetivamente, as explicações de Zhao Chengjun, com uma visão mais abrangente, tornavam aqueles livros secos de confucionismo algo muito mais interessante. Até mesmo as alfinetadas filosóficas pareciam vívidas.

Liu Ji foi até o estúdio levar chá. Estranhou não encontrar Jing Wang por lá, embora o pincel e a tinta ainda estivessem sobre a mesa — sinal de que ele não tinha saído.

Liu Ji refletiu por um instante e foi silenciosamente até o pavilhão dos fundos, onde Tang Shishi copiava os textos. Não se aproximou de imediato, apenas esticou o pescoço e espiou por uma fresta da porta. De seu ângulo, podia ver Tang Shishi inclinada sobre a escrivaninha, escrevendo com a cabeça baixa. Não dava para saber o que ela copiava, mas viu claramente quando levou uma batida no dorso da mão com um pincel.

— Eu já falei sobre isso. Não lembra?

— Mas o senhor não tinha dito isso antes… — Ela nem terminou a frase e levou outra batida na mão. Liu Ji parou por um momento, desistiu de entrar com o chá e foi embora discretamente.

Liu Ji tinha vindo da Corte Imperial interna. Embora sua origem fosse humilde, estudara vários anos no Palácio. Não podia se considerar um erudito, mas entendia o básico.

Aquilo que Wangye estava explicando agora não era precisamente o Yanyi? Que coincidência… Wangye sempre desprezara esse tipo de livro-modelo e dizia com todas as letras que apenas estudiosos pedantes liam obras igualmente pedantes.

Poucos dias antes, a instrução que dera ao Shizi ainda ecoava na memória de Liu Ji. E agora, como podia Wangye não só ler esses livros… mas também explicá-los palavra por palavra para outra pessoa?

Capítulo 52 – Nevasca

À noite, Dujuan veio trazer o chá. Viu que Tang Shishi ainda estava com um livro nas mãos, sentada sob a luz, escrevendo.

Dujuan colocou o chá sobre a mesa, pegou um fósforo, foi até o castiçal e acendeu o pavio. Então brincou:

— A senhorita vive reclamando que está cansada de copiar livros e que não quer ler uma palavra sequer quando volta. Por que mudou de temperamento hoje e ainda está estudando tão tarde?

Tang Shishi virou a página e lançou um olhar para Dujuan:

— Vai fazer suas tarefas, pare de se intrometer aqui.

Dujuan sorriu:

— Entendi, agora as coisas mudaram. Antes, a senhorita achava o quarto entediante e me chamava pra fazer companhia. Agora que tem o livro de Wangye, eu naturalmente virei um estorvo. Estou em falta, vou me retirar imediatamente.

— Fala menos. — Tang Shishi enrolou o livro, fingindo que ia bater em Dujuan. Dujuan largou o protetor da lamparina e saiu sorrindo, fugindo às pressas. Um riso contido ecoou entre as criadas lá fora. Tang Shishi não se deu ao trabalho de se importar. Guardou o livro com cuidado e gritou:

— Fechem direito as janelas externas. Não sei qual delas não está bem travada, fica rangendo e isso me irrita.

As criadas correram para verificar as janelas. Tang Shishi pegou um pedaço de fruta e colocou na boca, comentando com desdém:

— Que vento forte é esse hoje?

Uma das criadas, ao escutar aquilo enquanto ajustava uma tranca, respondeu:

— Talvez vá nevar.

Tang Shishi assentiu distraída, com a fruta na boca. Na verdade, não deu muita importância. Ela vivia na mansão, não precisava sair ou fazer viagens. Nevar ou não nevar, tanto fazia para ela. Só pensou que seria difícil caminhar se nevasse, então decidiu que, no dia seguinte, pediria às criadas para prepararem suas botas de sola grossa com forro de pele de veado.

Tang Shishi já havia estudado os Quatro Livros antes, mas naquela época era tudo decorado mecanicamente, como quem engole o conteúdo sem mastigar. Aquela era a primeira vez que alguém anotava e explicava os trechos para ela. Tang Shishi, sem perceber, começou a ler com certo encantamento. Por isso, pela primeira vez em muito tempo, não se preocupou em revisar a trama da história antes de dormir.

No dia seguinte, Tang Shishi foi copiar o livro como de costume. O tempo estava sombrio, as nuvens bem baixas e o vento, feroz. Tang Shishi estava sentada na sala de estudos aquecida, com um braseiro aos pés, chá e frutas por perto — como se o vento lá fora não tivesse nada a ver com ela. Lia enquanto comia nozes já descascadas. Quando não entendia algo, fazia uma marcação e depois perguntava a Zhao Chengjun.

Ele mesmo foi quem disse isso, afinal, não foi nenhum pedido dela. Tang Shishi achava até desnecessário. Já que tinha que passar o tempo de qualquer jeito, que ao menos arrastasse alguém para acompanhá-la.

À tarde, quando viu que havia poucas pessoas por perto, Tang Shishi pegou o livro e foi procurar Zhao Chengjun. Depois de revisar os trechos literários recém-copiados, Zhao Chengjun comentou:

— Está bem melhor do que ontem. Pelo menos não tem palavras erradas. Há algo que você não entendeu no conteúdo de hoje?

Tang Shishi assentiu com honestidade:

— Tem, sim.

Zhao Chengjun suspirou, impotente:

— Você é mesmo honesta. O que não entendeu?

Tang Shishi apontou várias anotações em ordem. Zhao Chengjun escreveu explicações ao lado da caligrafia dela e disse:

— Essa frase aqui é uma baboseira deles. Não precisa ler isso, basta decorar o texto original dos Quatro Livros. As alusões dos antigos usadas aqui são…

Zhao Chengjun foi explicando frase por frase. Tang Shishi não compreendia tudo por completo e já começava a se cansar. Ao ver sua reação lenta, Zhao Chengjun bateu de leve na testa dela:

— Eu falei isso ontem. Já esqueceu hoje? No que você fica pensando o dia inteiro? Por que esses estudos não entram na sua cabeça?

Tang Shishi segurou a testa, agoniada:

— Não dá pra engordar com uma única mordida. Como eu ia lembrar de tudo depois de tanta coisa? Já faz tempo que estou ouvindo, estou cansada. Vamos fazer uma pausa.

Zhao Chengjun olhou para o incenso marcador de tempo e disse com frieza:

— Ainda não se passou nem meia hora. Sente-se e termine este capítulo direito.

Tang Shishi ignorou completamente suas palavras. Levantou-se e andou pela sala à vontade:

— Ficar sentada por muito tempo faz mal para a cintura. Ei, está nevando lá fora.

Tang Shishi abriu a janela. O mundo exterior já estava todo branco, e ela nem tinha percebido. Estendeu a mão para apanhar os flocos de neve no ar, admirada:

— Está nevando forte. Já estamos no segundo mês e ainda assim neva desse jeito?

Pouquíssimas pessoas no mundo ousavam ignorar as ordens de Zhao Chengjun. Infelizmente, Tang Shishi era uma delas. Ele havia dito para ela não se mexer, mas ela nem escutou — ainda decidiu por conta própria abrir a janela para ver a neve. Zhao Chengjun não teve escolha. Como Tang Shishi não era um de seus oficiais, ele não podia nem bater nem repreendê-la, só podia acompanhá-la com resignação.

Tang Shishi ficou parada diante da janela, observando a neve. Naquele dia, usava um vestido longo branco com a bainha descendo até os joelhos, e uma sobreposição azul-clara com fios dourados nas bordas. Em pé no salão, com aquela roupa clara e a neve ao fundo, ela parecia uma pintura minuciosa cuidadosamente composta.

Zhao Chengjun observou por um momento e se aproximou lentamente da janela. Olhou para a neve que caía como penas de ganso, espessa e macia, e de repente se lembrou de algo:

— Há quanto tempo está nevando assim?

Tang Shishi brincava com os flocos quando ouviu a pergunta. Virou-se, confusa:

— Não deve fazer muito tempo. Por quê?

Aquilo era só um ditado comum: neve auspiciosa prenuncia uma boa colheita. Nevar forte não deveria ser algo bom? Mas o rosto de Zhao Chengjun mudou repentinamente. Olhou fixamente para a neve pesada diante de si, virou-se de repente e ergueu a voz:

— Liu Ji!

Liu Ji respondeu e logo apareceu na sala:

— Estou aqui. Quais são as ordens, Wangye?

— Envie uma carta imediatamente para o vilarejo de Nanshan e pergunte se Zhao Zixun partiu hoje, e a que horas.

Assim que ouviu isso, Liu Ji assumiu uma expressão séria e respondeu com firmeza:

— Sim, senhor.

Logo após dar a resposta, Liu Ji saiu correndo para fazer os preparativos. Tang Shishi levou alguns segundos para se dar conta. Sim, claro... Neve auspiciosa podia ser algo bom para os agricultores locais, mas para quem está em viagem, uma nevasca forte era tudo — menos uma boa notícia.

Especialmente porque a neve começou a cair ao meio-dia, Zhao Zixun provavelmente já estava na estrada e agora devia estar preso em algum lugar no meio do nada. Seria uma sorte se a neve parasse logo. Mas, se continuasse nesse ritmo, Zhao Zixun não conseguiria nem seguir em frente, nem voltar — e seria um grande problema ficar preso no caminho.

A Mansão do Príncipe Jing possuía aves especiais para enviar mensagens. Dessa vez, para transmitir a notícia o mais rápido possível, Liu Ji soltou uma águia. A resposta chegou quando já estava escurecendo.

As pessoas da aldeia disseram que o Shizi deixou a bela Zhou na vila e partiu com a Shizifei logo pela manhã.

Zhao Zixun acompanhou Lu Yufei até o Templo Guangji para fazer oferendas ao Buda e, aproveitando a viagem, mandou Zhou Shunhua para a vila cultivar-se. A vila de Nanshan ficava a cerca de meio dia da província de Xiping. O comboio da Mansão do Príncipe Jing e a família Xi se encontraram em Xiping. Depois, Zhao Zixun levou Zhou Shunhua primeiro até Nanshan e organizou para que todos descansassem uma noite na vila. No dia seguinte, Zhou Shunhua ficou para trás, e Zhao Zixun e as outras mulheres seguiram viagem.

Ninguém imaginava que haveria uma nevasca naquele dia. A neve começou ao meio-dia e caiu durante toda a tarde sem trégua, ficando cada vez mais forte. Quando a águia mensageira retornou, a neve na Mansão do Príncipe Jing já tinha três polegadas de espessura.

E isso dentro da mansão. Afinal, na cidade ainda havia pavilhões e muralhas. E no campo aberto? A nevasca não estaria ainda pior?

O ambiente na sala de estudos estava pesadíssimo, e Tang Shishi se recolheu cedo para seu quarto. As criadas esfregavam as mãos para se aquecer e reclamavam com Tang Shishi:

— De manhã estava tudo bem, por que começou a nevar de repente? Está ventando, nevando, escuro por todos os lados... que medo.

Tang Shishi estava sentada junto à janela, olhando para a noite lá fora com o olhar perdido.

— O céu já escureceu, não dá mais para continuar o caminho. Será que eles conseguiram encontrar algum abrigo?

Não era só Tang Shishi que estava preocupada. Outros na Mansão do Príncipe Jing também estavam aflitos. Em caso de nevasca, era quase um tabu permanecer no meio do nada. Nem era preciso falar de chacais ou lobos — só o vento gelado já poderia matar alguém congelado. Para piorar, era fácil se perder sob a neve. Se não encontrassem abrigo a tempo, não importava o quão bem equipado estivesse o comboio — não resistiriam à noite.

Tang Shishi suspirou. Esquecera de ler o enredo no dia anterior e, como resultado, justamente deixou passar a nevasca de hoje. Se soubesse, teria enviado uma carta logo pela manhã para impedir o Shizi de sair.

Mas não viu. Quando percebeu, o enredo já era irreversível.

O capítulo sobre a nevasca no livro ainda não havia sido atualizado, sinal de que a parte relevante da história ainda não tinha se encerrado. Tang Shishi esperou ansiosa até acabar cochilando de tanto vigiar o livro. Logo no amanhecer seguinte, acordou assustada.

Abriu os olhos — as cortinas estavam todas abaixadas, a bolsa de água quente ao pé da cama ainda estava morna, e tudo ao redor parecia enevoado. Ainda era bem cedo, e as criadas não haviam acordado. Tang Shishi abriu discretamente uma fresta na cortina da cama e espiou pela janela.

Um reflexo branco de neve iluminava o papel da janela, o vento estava calmo, e ocasionalmente se ouvia um chilrear de pássaros do lado de fora. Tang Shishi respirou aliviada.

Finalmente parou de nevar.

Tang Shishi abriu rapidamente o livro. Na noite anterior, estava tão sonolenta que dormira antes que o enredo fosse atualizado. Agora, não fazia ideia do que tinha acontecido.

Ao virar para a página mais recente, a primeira linha que leu foi: “Num dia ensolarado, uma pessoa rebaixada da vila salvou vidas em noite de nevasca e prestou mérito.”

Tang Shishi sentiu, na hora, um mau pressentimento. E quanto mais lia, mais complexos ficavam seus sentimentos.

O halo da protagonista era algo realmente impressionante — quase inacreditável.

Aquele capítulo revelava duas notícias. A boa era que Zhao Zixun ainda estava vivo. A má: o mérito, mais uma vez, era de Zhou Shunhua.

Zhou Shunhua havia sido mandada para a vila. No dia seguinte, Lu Yufei, orgulhosa e hipócrita, lhe dirigiu algumas palavras de falsa compaixão antes de seguir viagem com Madame Xi e Xi Yunchu. E, como os fatos comprovavam: aqueles que se exibiam na frente da protagonista nunca terminavam bem.

Lu Yufei e sua comitiva foram surpreendidos por uma nevasca no caminho. Zhao Zixun quis voltar para a vila, mas Lu Yufei não aceitou. Se voltassem agora, não seria uma nova chance para Zhao Zixun e Zhou Shunhua?

Claro que Lu Yufei recusou. Propôs que, como já estavam na metade do caminho, seguissem adiante e procurassem abrigo mais à frente. Como resultado, o comboio avançou por muito tempo sob a nevasca — e, quando perceberam que a vila ainda não aparecia no horizonte, já era tarde demais. Zhao Zixun entendeu que a situação estava crítica e ordenou a retirada.

Infelizmente, sob a nevasca, ninguém conseguia ver para onde ir — e acabaram se perdendo.

Por outro lado, após ser deixada na vila, Zhou Shunhua não se lamentou. Pelo contrário — procurou se ambientar ativamente. Depois do almoço, percebeu que o céu estava encoberto por nuvens escuras pesadas, como se fosse nevar. E, sem saber por quê, pensou em Zhao Zixun. Então mandou algumas pessoas checarem as placas na estrada que indicavam o caminho. Como esperado, logo caiu uma forte nevasca.

Zhou Shunhua esperou até o entardecer e não viu sinal de Zhao Zixun e os outros retornando. Todos na vila achavam que o Shizi já havia chegado ao próximo posto de descanso, mas o instinto de Zhou Shunhua dizia o contrário. Apesar de todos tentarem impedi-la, insistiu em sair para procurar. Levou consigo um velho criado que conhecia bem as trilhas da vila. Os soldados de escolta ao redor de Zhao Zixun haviam procurado em vão por muito tempo, sem sucesso. Mas Zhou Shunhua saiu por conta própria — e aconteceu de encontrar Zhao Zixun.

Provavelmente esse era o poder do halo da protagonista, pensou Tang Shishi, com um certo amargor. Zhou Shunhua saiu para procurar alguém, acompanhada apenas de um velho servo. Tudo ao redor era coberto por neve, sem visibilidade. Se aquele velho tivesse más intenções e a matasse ali no meio do nada, quem saberia?

Talvez esse fosse o motivo pelo qual ela mesma não poderia ser uma protagonista. Tang Shishi tinha um lado obscuro demais — e gostava de imaginar que os outros também o tinham.

No entanto, no enredo da protagonista, Zhou Shunhua não encontrou nenhum perigo. Ela levou o velho criado consigo, apareceu de forma inesperada e abriu caminho para as pessoas da Mansão do Príncipe Jing, que estavam em situação embaraçosa. Ela e o velho criado lideraram o grupo, lutando até a meia-noite, e finalmente trouxeram Zhao Zixun e sua comitiva de volta para a vila de Nanshan.

No fim do capítulo, o constrangimento de Lu Yufei, Madame Xi e das outras contrastava com a bravura e astúcia de Zhou Shunhua. Da vila até o comboio, todos elogiaram Zhou Shunhua por sua inteligência e coragem.

Tang Shishi fechou o livro e, mais uma vez, não tinha nada a dizer.

Ela passou muito tempo lendo, e o som de passos do lado de fora do quarto começou a se espalhar. Tang Shishi escondeu o livro, levantou a cortina e saiu da cama.

Dujuan e as outras ouviram que Tang Shishi havia acordado e entraram às pressas para servi-la. Dujuan a ajudou a lavar o rosto — embora estivesse com as mãos ocupadas, a boca se recusava a ficar quieta:

— Senhorita, a notícia mais recente é que o Shizi e a Shizifei voltaram para a vila de Nanshan.

Essa era a mensagem enviada pela águia mensageira no meio da noite. Quando os portões foram abertos pela manhã, a notícia se espalhou do pátio externo para o pátio interno. Assim que Dujuan soube, correu para contar a Tang Shishi. No entanto, ao ouvir, Tang Shishi apenas respondeu com indiferença.

Dujuan, que havia preparado aquele anúncio como se fosse um grande feito, esperava ver Tang Shishi boquiaberta — mas sua reação foi completamente apática. Surpresa, Dujuan perguntou:

— Senhorita, você não quer saber como o Shizi e a Shizifei voltaram?

No dia anterior, era óbvio que Tang Shishi estava aflita com a nevasca e nem sequer conseguira dormir bem.

Tang Shishi perguntou casualmente:

— Como foi que eles voltaram?

Dujuan começou a contar a história de Zhou Shunhua enfrentando bravamente a nevasca, exagerando um pouco aqui e ali. Tang Shishi não demonstrou nenhuma emoção enquanto ouvia. Embora alguns detalhes fossem diferentes, a trama geral era a mesma do livro. Pelo visto, o que o livro celestial descrevia era bem preciso.

O humor de Tang Shishi ficou ainda mais pesado. Desde que o livro celestial surgiu, ela vinha se esforçando muito, sempre tentando inverter o enredo e mudar seu destino. No entanto, a história continuava seguindo seu curso original. Os pequenos detalhes até podiam mudar, mas a direção geral jamais se alterava.

Ela tentou roubar o papel de Zhou Shunhua e mudar a aversão de Zhao Zixun por ela. Mas, no fim, Zhou Shunhua ainda se tornou a criada de Zhao Zixun e sua concubina mais favorecida, enquanto Zhao Zixun continuava tratando Tang Shishi com frieza.

Todos os seus esforços haviam sido em vão. E por ela ter se envolvido ativamente, Zhao Zixun a odiava ainda mais. Isso significava que, por mais que tentasse, Tang Shishi jamais conseguiria mudar o final trágico que lhe estava destinado?

Estaria ela confinada ao enredo, esperando pela morte em vão?

Tang Shishi ficou cabisbaixa, sem vontade de falar por muito tempo. Dujuan tagarelava, mas quando se virou e viu Tang Shishi limpando os dedos em silêncio, percebeu que havia algo errado. Imediatamente se calou e não ousou dizer mais nada.

Depois de se arrumar, Dujuan serviu o desjejum a Tang Shishi. Foi então que um pequeno eunuco entrou às pressas do lado de fora e fez uma reverência:

— Senhorita Tang, o Wangye ordenou que hoje você não precisa ir à sala de estudos.

— Oh? — Tang Shishi pousou a tigela e os hashis, e perguntou: — Por quê?

— A estrada para Nanshan está bloqueada pela neve. O Wangye vai limpar o caminho e buscar o Shizi. Ele não estará na mansão nesses próximos dois dias.

Zhao Chengjun vai até Nanshan resgatar... Tang Shishi reagiu de imediato e perguntou:

— Quando o Wangye parte?

— Agora mesmo.

Tang Shishi largou os hashis sem nem terminar a refeição e disse prontamente ao eunuco:

— Vá dizer ao Wangye que eu o acompanharei. Dujuan, troque minhas roupas rápido!

Capítulo 53 – Obcecada

Com uma neve tão intensa, sair não era apenas uma questão de conversa fiada. Enquanto ajudava Tang Shishi a trocar de roupa, Dujuan não pôde deixar de reclamar:

— Senhorita, subir a montanha para resgatar pessoas não é tarefa fácil. Com o Wangye presente, o Shizi e a Shizifei ficarão bem. Se estiver mesmo preocupada, pode recitar os sutras budistas aqui mesmo na mansão. Por que se incomodar em olhar lá fora?

Tang Shishi permaneceu indiferente e disse:

— Pare de falar. Já tomei minha decisão. Enquanto eu estiver fora nestes dois dias, fique de olho na porta e não deixe a raposinha sair correndo por aí.

Dujuan relutou de todas as formas possíveis, mas no fim, não teve escolha a não ser obedecer. Tang Shishi vestiu um manto espesso e saiu. Assim que abriu a cortina, foi engolida pelo vento.

Tang Shishi quase foi levada pela ventania e hesitou por um momento. Agora que tudo estava decidido, o enredo que deveria ocorrer entre os protagonistas já havia acontecido, e o momento de destaque de Zhou Shunhua também. Ela não podia fazer nada quanto ao passado, mas teria que arcar com as consequências. Tang Shishi vacilou por um instante, mas no fim, cerrou os dentes e continuou em frente.

As oportunidades são reservadas apenas para quem está preparado. Ela já havia perdido demais. Não havia mais como remediar — só lhe restava comparecer à cerimônia de encerramento do papel de Zhou Shunhua.

Tang Shishi já havia renunciado a muita coisa para entrar no Palácio Imperial. Com certeza, ela não veio para servir aos outros.

Com medo de que Tang Shishi passasse frio no caminho, Dujuan a embrulhou como uma bola, a ponto de ela mal conseguir correr. Tang Shishi se apressou até o segundo portão, onde Liu Ji já a aguardava com algumas pessoas. Ele examinou a vestimenta volumosa de Tang Shishi e comentou:

— Senhorita Tang, viajar num dia de neve é diferente de uma simples saída. A senhorita vai sofrer bastante no caminho. Sem contar que ninguém sabe como está a situação na montanha. Se tiver azar, talvez precise descer da carruagem e andar por conta própria. A senhorita pensou bem nisso?

— Já pensei — respondeu Tang Shishi, assentindo. — Gonggong, obrigada por me alertar. Estou ciente.

Liu Ji havia tentado persuadi-la por consideração, mas não insistiria. Ao ver que não adiantava, desistiu de dissuadi-la e passou a explicar a situação dentro da carruagem:

— O braseiro e o aquecedor de mãos já estão prontos, mas o Wangye quer viajar com pouca bagagem e não permitiu carregar muito carvão. É melhor economizar pelo caminho. Há frutas cristalizadas e petiscos na gaveta, e não há como acender fogo na estrada. Se não conseguirmos chegar à vila de Nanshan hoje, só restará comer comida fria.

Tang Shishi assentiu a tudo e agradeceu:

— Gonggong, obrigada por sua consideração. Dei muito trabalho ao senhor, sinto muito. Quando voltarmos, irei pessoalmente lhe agradecer.

— Ora, não há de quê — disse Liu Ji, sorrindo. — Tudo isso é pelo Wangye. Que trabalho seria esse? Durante a viagem, espero que a senhorita o lembre de não se arriscar pessoalmente.

Tang Shishi concordou. Sabia que Zhao Chengjun estava com pressa e não falou mais com Liu Ji. Com a roupa tão pesada, foi um desafio subir na carruagem. Como Liu Ji havia dito, o interior era pequeno, mas bem organizado. Considerando o pouco tempo, ele realmente havia se preparado muito bem.

Depois que Tang Shishi se acomodou, a carruagem começou a se mover. Ela saiu pelo portão lateral, parou por um instante e logo seguiu viagem.

As rodas da carruagem rangiam sobre a neve, junto ao som firme e cadenciado dos cascos dos cavalos.

A carruagem de Tang Shishi seguia na parte de trás do comboio. Discretamente, ela abriu a cortina e viu vários cavaleiros os seguindo. Estavam próximos o bastante para cercar a carruagem por todos os lados. Eram homens de semblante frio, fortes e imponentes, montados como se fossem deuses invencíveis. Os passantes se calavam diante daquela presença. Só quando estavam longe é que ousavam cochichar:

— Que família nobre está viajando?

— Quem mais seria? Naturalmente é Sua Alteza, o Príncipe Jing. Mesmo considerando o país inteiro, são poucos com esse poder — e aqui em Xiping, só ele consegue mobilizar tantos soldados de elite.

— A neve ontem foi pesada, e a estrada hoje está péssima. Por que o Príncipe Jing saiu?

— Ninguém sabe. Deve ser algo urgente.

— Mas então, por que trazer uma carruagem numa emergência?

Isso realmente deixava todos intrigados. Um dos curiosos hesitou e sugeriu:

— Talvez... tenha acontecido algo com a família da Shizifei?

— Dizem que a Shizifei e a família Xi foram ao templo dias atrás. Saíram com um grande comboio. Como nevou o dia inteiro ontem, não houve tempo de voltar. Então como essa poderia ser a Shizifei?

Esse comentário confundiu ainda mais. Ninguém chegava a um consenso:

— Será que é a Wangfei? O Príncipe Jing lidera o comboio. Quem mais poderia estar nessa carruagem além da Wangfei?

— Bobagem. Como poderia haver uma Wangfei na Mansão do Príncipe Jing?

Tang Shishi sacolejava dentro da carruagem. No começo, a estrada de Xiping ainda era razoável, mas depois de deixar a cidade, tornou-se muito mais difícil.

Nevou por um dia e uma noite inteiros. No interior, a neve não havia sido retirada e já estava com quatro ou cinco polegadas de espessura. Os cavalos afundavam até a metade das pernas. A carruagem mal conseguia se mover, balançando pesadamente pela neve.

Felizmente, os homens que Zhao Chengjun trouxera eram experientes. Sempre que encontravam um trecho intransitável, sacavam as ferramentas e abriam caminho. Tang Shishi passava longos períodos parada antes de a carruagem voltar a se mover.

A viagem teve muitas interrupções. Um trajeto que normalmente levaria meio dia ainda não havia sido concluído após seis horas. Mas, felizmente, já haviam adentrado os arredores de Nanshan, e a vila do Príncipe Jing podia ser vista após atravessarem um trecho da montanha.

Porém, justamente esse trecho era o mais difícil. Tang Shishi esperou muito tempo na carruagem até que o cocheiro bateu na porta e avisou:

— Senhorita Tang, esse pedaço da estrada é perigoso, e a carruagem está escorregando. O Wangye pediu que a senhorita desça e siga a pé.

Tang Shishi naturalmente não se opôs. Era delicada e detestava dificuldades, mas sabia reconhecer a gravidade da situação. Todos estavam ajudando a desobstruir a estrada da montanha — ela, pelo menos, não deveria atrapalhar.

Apoiada no eixo, Tang Shishi desceu com cuidado. O vento lá fora era muito forte, e o uivo da ventania levantava a neve do chão como se uma nova nevasca estivesse começando.

Ela apertou o capuz e caminhou com dificuldade pela neve. Agora o comboio todo estava praticamente parado. Após alguns passos, a frente parou completamente.

Tang Shishi ergueu o rosto com esforço, tentando ver adiante:

— O que aconteceu?

O cocheiro também havia descido. Conduzindo o cavalo, respondeu:

— Este trecho da estrada é perigoso. Talvez algo tenha caído da montanha e esteja bloqueando o caminho.

Tang Shishi suspirou. A neve já era um obstáculo por si só, e ainda havia risco de deslizamento. Que provação. Zhao Chengjun estava liderando o grupo na remoção da neve mais adiante, e o comboio todo ficou parado. Tang Shishi permaneceu no mesmo lugar, esperando. Depois de um tempo, o frio começou a penetrar por suas botas e atingir seu corpo. O aquecedor de mãos já esfriava. Ela começou a tremer, apertou o manto e se encolheu como uma bola.

Zhao Chengjun estava preocupado com ela. Após organizar o trabalho de desobstrução, foi até os fundos ver como ela estava. De longe, viu Tang Shishi encolhida, parecendo uma bolinha vermelha no meio da neve.

Aproximando-se, perguntou:

— O que houve com você?

Tang Shishi enterrou o rosto nos joelhos e se envolveu firmemente com o manto. Vagueiramente, ouviu uma voz acima dela e, com dificuldade, ergueu a cabeça:

— Hã?

Ela parecia rechonchuda, mas seu rostinho era puro e claro. As roupas, inchadas pelo volume, faziam seu rosto parecer do tamanho de uma palma. Zhao Chengjun parecia estranhamente amolecido. Ele se inclinou, ajudou Tang Shishi a se levantar e disse:

— Não pode ficar agachada assim na neve. Se estiver com frio, volte para a carruagem e espere. Vou mandar alguém te chamar quando a estrada estiver desobstruída.

Tang Shishi se levantou com o auxílio de Zhao Chengjun, balançou a cabeça e respondeu:

— Estou bem.

Zhao Chengjun estendeu a mão para sentir a temperatura do rosto dela, e seus olhos afundaram um pouco.

— Tá bem? Você é tão sensível, cuidado para não pegar febre tifóide com o vento. Volte rápido, não tente ser corajosa demais.

— Uma árvore caiu na estrada da montanha por causa do vento — disse Zhao Chengjun. Embora poucas palavras, seu tom era firme — Não é nada sério, já cavaram metade e logo vai dar para passar. Pode voltar e se aquecer tranquila. Não se preocupe.

Quando Zhao Chengjun falou, seus olhos brilharam e a voz soou firme, como se grandes problemas fossem coisas pequenas perto dele, fazendo qualquer um querer se apoiar. Tang Shishi relaxou lentamente e disse:

— Certo, você também precisa tomar cuidado.

Zhao Chengjun fez um sinal para que ela entrasse imediatamente na carruagem. Nesse momento, alguém o chamou à frente. Ele puxou o manto de Tang Shishi e falou:

— Você fica aqui sozinha por enquanto. Depois eu volto.

Tang Shishi assentiu, com metade do rosto escondido sob o capuz. Zhao Chengjun ajeitou o chapéu dela e saiu rapidamente em direção ao grupo. Tang Shishi observou por um momento e estava prestes a entrar na carruagem quando notou que o cocheiro olhava fixamente na direção em que Zhao Chengjun partira, sem saber o que ele via.

Tang Shishi ficou confusa e chamou:

— Cocheiro?

O cocheiro recuperou-se subitamente, baixou os olhos e respondeu:

— Senhorita Tang.

Tang Shishi perguntou curiosa:

— O que está olhando?

— Nada. Estou preocupado com a estrada à frente, não prestei atenção.

Tang Shishi respondeu:

— Se está preocupado, vá ajudar. Eu não faço nada aqui, só uma pessoa basta.

O cocheiro não recusou e obedeceu, andando cabisbaixo para a frente. Quando passou perto, Tang Shishi abaixou a cabeça e viu um sachê familiar preso a ele.

Ela parou por um instante, sentindo um estranho desconforto. Parecia já ter visto aquele sachê antes, mas não conseguia lembrar onde.

Franziu a testa e pensou com força. De repente, sua mente recordou uma pessoa.

Vovó Wu! Na última vez em que Vovó Wu lhe deu a pílula para suicídio, ela a retirou do mesmo tipo de sachê. Por que o cocheiro tinha um sachê igual ao da Vovó Wu?

Tang Shishi percebeu quase imediatamente que o cocheiro não era um homem comum. Era o espião plantado pela Imperatriz Viúva. Virou-se e viu o cocheiro se aproximar passo a passo de Zhao Chengjun, que estava parado à beira da estrada conversando com seus subordinados, não longe do penhasco. A nevasca cobria tudo, e ninguém percebeu a aproximação do cocheiro.

O coração de Tang Shishi subiu à garganta. O que o cocheiro queria fazer? Pretendia fazer mal a Zhao Chengjun? Naquele momento, sua mente zumbia. Instintivamente, queria gritar cuidado, mas quando a voz estava para sair, ela se conteve.

Ela não podia gritar. Se gritasse, ela, a família Tang e sua mãe teriam que morrer.

Tang Shishi olhou para os próprios pés, sem saber como reagir. Rapidamente, apoiou-se no eixo da carruagem e então, propositalmente, caiu para fora dela. A queda foi real. Tang Shishi rolou várias vezes na neve antes de parar. Sua cabeça doeu ao bater no chão.

A melhor atuação é aquela que não parece atuação. Tang Shishi caiu com força e não fingiu o grito de dor. Todos ficaram chocados com seu grito. Zhao Chengjun, que conversava com seus subordinados, ouviu o grito feminino e virou-se imediatamente.

Sua face tornou-se fria ao ver Tang Shishi rolando da carruagem. Ele deixou o grupo e caminhou rápido em direção a ela.

Os subordinados também pararam de conversar um a um e o seguiram rapidamente. Zhao Chengjun e vários soldados de elite saíram da estrada da montanha e rapidamente cercaram a carruagem; os outros também olharam para aquela direção. A ação do cocheiro foi interrompida, percebendo que não conseguiria encontrar outra brecha, ele guardou seus movimentos a contragosto.

Tang Shishi começou a chorar. O que ela estava pensando ao cair na neve fria? O que estava fazendo?

Zhao Chengjun era tio do Imperador, um príncipe feudal com forte exército à disposição, o maior problema para a Imperatriz Viúva Yao e o alvo da viagem de Tang Shi. A Imperatriz Viúva Yao queria matar Zhao Chengjun, e ele queria matar a imperatriz. Tang Shishi não podia, nem queria controlar a luta desses poderosos do clã imperial.

Ela só queria viver sua vida bem. Para ser clara: por mais ruim que Zhao Chengjun fosse, ele ainda era um príncipe. Vivendo na mordomia e no poder. Não sabia quantos trunfos escondidos ele tinha, mas Tang Shishi era só uma pequena beleza, incapaz até de salvar a própria vida. Por que teria coragem de salvar Zhao Chengjun?

Se Zhao Chengjun vivesse ou morresse, que diferença faria para ela? Ele morreria cedo ou tarde.

Tang Shishi estava tão confusa que não sabia onde estava. O mundo girava, e ela sentiu que alguém a pegava. O abraço era frio e forte, e a pessoa perguntava sem parar:

— Tang Shishi, como está? Onde está machucada?

Tang Shishi fitou o rosto de Zhao Chengjun, atordoada, sem se mexer por um longo tempo. Ele assustou-se com a reação dela. Ignorando as formalidades, abriu seu manto rapidamente, segurou o braço dela e examinou os ferimentos um a um.

Temia fraturas, já que não havia sangue visível. A palma de Zhao Chengjun era larga e envolvia completamente o braço de Tang Shishi, mesmo por cima das roupas. Ele conferiu os dois braços e suspirou aliviado.

Felizmente, nada quebrado ou deslocado. Ele ia examinar as pernas dela quando Tang Shishi finalmente voltou ao normal e segurou sua mão rapidamente.

— Wangye, o que está fazendo?

— Não arrume confusão — disse Zhao Chengjun. Normalmente, falava com um sorriso ou tom brincalhão, mas agora estava sério, falando com imponência e frieza. Tang Shishi percebeu que, mesmo quando a repreendia antes, ele sempre diminuía o tom.

Esse era o verdadeiro rosto dele quando levava algo a sério.

Tang Shishi assustou-se e recuou. As lágrimas nos olhos tornaram-se incontroláveis. Zhao Chengjun, zangado e sem jeito, viu ela chorar e perguntou:

— Por que está chorando?

— Eu caí, e você ainda está bravo comigo.

— Não — ele suspirou, impotente — Só estou checando seus ossos. Você não sabe os perigos de uma fratura. Se um osso sair do lugar, você não vai conseguir se mexer e terá que ser carregada imediatamente, ou as consequências serão graves.

— Eu estou bem — Tang Shishi sentiu que havia recuperado o controle do corpo. Ela se debateu para soltar o braço e disse:

— Estou bem. Consigo me levantar.

Zhao Chengjun segurou seu ombro e falou calmamente:

— Não faça besteira.

— Eu não estou fazendo besteira — Tang Shishi olhou rápido para trás. Os guardas estavam afastados, com os olhos discretamente baixos. Mas isso não significava que não ouviam. Ela baixou a voz e disse suavemente a Zhao Chengjun:

— Homens e mulheres não devem se tocar assim. Acho que você está só brincando. Deixe-me levantar.

Capítulo 54  -  Comovida

Zhao Chengjun ficou surpreso e sentiu uma raiva sem motivo. Ele não estava bravo com a recusa de Tang Shishi, mas com as palavras dela.

— Impróprio para homens e mulheres se tocarem.

Naquela dinastia, a etiqueta era rígida. Homens e mulheres sentavam separados a partir dos seis anos de idade. Quando uma garota crescia, não podia ver homens além do pai e dos irmãos. Às vezes, até primos distantes do lado masculino tinham que evitar contato. Essas poucas palavras representavam um abismo intransponível de etiqueta.

Zhao Chengjun percebeu que, para Tang Shishi, ele também era um estranho.

Tang Shishi o excluiu com uma só frase. Zhao Chengjun queria argumentar que eles eram as belezas dadas pela Imperatriz Viúva Yao à mansão do Jing Wang. Que até aquelas terras no Noroeste eram dele, quanto mais Tang Shishi? Porém, ele sabia que o que ela disse era verdade. Ela era solteira e inocente. Outros homens no mundo eram estranhos para ela. Não podiam olhar seu rosto diretamente nem tocar seu corpo.

Exceto o próprio pai, irmãos e futuro marido.

Zhao Chengjun ficou olhando Tang Shishi imóvel por um tempo, soltou lentamente a mão dela e deixou que ela se levantasse. Tang Shishi soltou os braços e rapidamente se ergueu do chão. Cambaleou por um instante e só então sentiu uma dor surda nas costas e no bumbum.

Apesar da dor, Tang Shishi pensou feliz. Que sorte que as roupas eram grossas, a neve amortecia a queda e a pele não se feriu. Se não, com uma cicatriz grande nas costas, teria que chorar até morrer e renascer de novo.

Zhao Chengjun percebeu que a expressão dela não estava certa e perguntou:

— Onde dói?

Tang Shishi ficou envergonhada, respondeu que a dor era nas costas e no bumbum, mas balançou a cabeça:

— Tá tudo bem. Eu estou usando várias camadas de roupa, não machucou o corpo.

Zhao Chengjun viu pela expressão que ela mentia, mas felizmente não machucou o físico, no máximo era uma lesão superficial. Um pouco de arranhão ou sangramento era ferida pequena para ele.

— Tente dar dois passos devagar no chão. Sua perna dói?

Tang Shishi caminhou conforme ele indicou e negou com a cabeça. Zhao Chengjun perguntou:

— E o tornozelo?

Ela continuou negando. Zhao Chengjun ficou completamente aliviado e falou:

— Que bom. O chão é duro no inverno e uma queda não é coisa pequena. Da próxima, tenha mais cuidado, não seja descuidada.

Tang Shishi abaixou os olhos e respondeu baixinho. Zhao Chengjun achou que ela era desastrada, mas não sabia que a queda tinha sido de propósito.

Era exatamente o que Tang Shishi queria. Ela desejava que Zhao Chengjun nunca descobrisse.

Hoje, ela conseguiu esconder do espião da Imperatriz Viúva Yao com a queda e secretamente salvou Zhao Chengjun. Embora não soubesse se ele precisava ser salvo.

Tang Shishi baixou os olhos e se avisou mentalmente: só desta vez, não pode se repetir. Na próxima, não teria a sorte de hoje, e o alvo dela seria Zhao Zixun.

Zhao Chengjun era só um degrau destinado a morrer jovem; Zhao Zixun seria o futuro Imperador. Ela arriscou a vida para salvar alguém que não tinha nada a ver com ela. Tang Shishi se perguntou: será que enlouqueceu?

Zhao Chengjun suspirou aliviado ao ver que Tang Shishi estava bem.

— Ainda bem que está bem. Tudo o que você faz deixa os outros preocupados. Volte logo para a carruagem e descanse. Não se preocupe com o que está fora daqui. Eu cuido de tudo.

Tang Shishi assentiu e caminhou em direção à carruagem, enrolada no manto grosso. Zhao Chengjun a acompanhou. Quando ela subia, ele lançou um olhar ao eixo da carruagem e franziu a testa.

A princípio, achou que Tang Shishi tinha escorregado ao entrar. Mas o eixo estava limpo, sem nenhum sinal de escorregão.

Em vez disso, havia uma marca muito plana no chão, como alguém parado pisando forte para esmagá-la. Pois só assim a neve marcaria as bordas.

Os olhos de Zhao Chengjun apertaram um pouco. Ele lançou um olhar silencioso para Tang Shishi, que estava calma e coberta por várias roupas. Três camadas por dentro, três por fora. Ela não estava acostumada a tanta roupa. Além disso, havia neve nas solas dos sapatos. Ela tropeçou em poucos passos. Quando pisou no banquinho da carruagem, o cavalo impacientemente avançou alguns passos. A carruagem começou a se mover. Tang Shishi tentou subir, mas o corpo inteiro inclinou pela inércia e ela caiu para o lado.

Zhao Chengjun estendeu a mão para segurá-la firme. Ele ficou ao lado dela, metade do corpo dela caiu na direção dele. Com uma mão, ele a sustentou estável.

Daquele ângulo, parecia que Tang Shishi tinha se jogado de propósito em seus braços. Ela ficou envergonhada e apressou-se em dizer:

— Wangye, me perdoe. Juro que não foi minha intenção.

Falou enquanto tentava se levantar do abraço de Zhao Chengjun. O braço que acabara de libertar foi segurado por outra força. Zhao Chengjun agarrou seu pulso com facilidade e não a deixou sair.

Tang Shishi olhou surpresa. Sem falar nada, ele colocou a outra mão atrás do joelho dela e, de repente, a ergueu. Tang Shishi sentiu o corpo leve e deu um pequeno grito. Ao recobrar os sentidos, tapou a boca depressa.

— Wangye...

— Sei que você não quis — disse Zhao Chengjun. Os braços dele eram fortes e poderosos, e Tang Shishi estava cercada como por um muro de ferro inabalável. Ele a colocou na carruagem. Tang Shishi tentou esticar a cabeça para fora, mas Zhao Chengjun segurou e empurrou para dentro.

— Fique na carruagem com cuidado — disse ele, com o rosto calmo, os olhos escuros e frios, e um leve brilho cortante — Não faça mais essas travessuras.

Tang Shishi encarou os olhos de Zhao Chengjun e ficou inexplicavelmente com medo de se mexer. Depois que ele a acomodou, fechou a porta da carruagem e voltou para a neve.

Ele lançou um olhar vago para o cocheiro enquanto passava pela carruagem.

Tang Shishi estava na mansão do Jing Wang há muito tempo. Sentia mais e mais a diferença quando Zhao Chengjun brincava e quando levava as coisas a sério. O jeito dele de falar agora era muito penetrante, e ela não ousava desafiá-lo. Parou de resistir e ficou obedientemente na carruagem para descansar.

Tang Shishi estava realmente cansada, e a queda fora de verdade. Depois de tanto tempo, ainda doía a lombar. Ela suspeitava que já estivesse roxa. Encostou-se na carruagem; o vento uivava lá fora, mas ela sentia um estranho alívio.

Parecia que, acontecesse o que fosse, tudo se resolveria bem. Jing Wang não estava longe, e tudo ficaria bem.

Tang Shishi não sabia quanto tempo esperara. De repente, a carruagem começou a andar. Ela ergueu a cortina e perguntou:

— A estrada está liberada? Essa parte é difícil de passar. Vou descer e seguir a pé.

Sem perceber, alguns guardas acompanhavam a carruagem. Ao ouvir, um deles se endireitou, mas os olhos se mantiveram baixos, com respeito:

— Senhorita Tang, Wangye ordenou que os jovens generais alargassem a estrada nevada para que a carruagem passe. Senhorita Tang, fique tranquila na carruagem, não precisa sair e se expor ao frio.

Tang Shishi olhou à frente e viu que a estrada estava muito mais larga. Seu coração ficou apertado. Antes de sair da mansão, ela insistira em acompanhar. Se não fosse por ela, Zhao Chengjun e os guardas já teriam avançado, sem precisar limpar tanta neve, nem estariam sendo retardados por Tang Shishi. A jornada teria sido muito mais rápida.

Agora, eles haviam limpado a estrada, deixando-a três ou quatro vezes mais larga para ela. Depois que o guarda terminou de falar, desviou o olhar e encarou adiante, sem olhar na direção de Tang Shishi. Ela não sabia o que dizer, então apenas baixou a cortina e suspirou silenciosamente no coração.

Ao longo do caminho, paravam com frequência e, antes do anoitecer, chegaram à vila da montanha em Nanshan. O vilarejo estava em clima sombrio. O porteiro olhava para a neve preocupado. Viu um grupo de forças sombrias se aproximando à distância e, entre eles, um homem profundo vestido com armadura de ferro, como se fossem tropas imperiais chegando. O porteiro ficou chocado. Esfregou os olhos com força e percebeu que as forças não tinham desaparecido.

— De fato, é a cavalaria! — pensou. O Noroeste era feudo do Jing Wang, e todas as tropas pertenciam a ele. Aqueles só podiam ser homens de Jing Wang. O porteiro ficou radiante e gritou para a vila:

— Estamos salvos, estamos salvos! Wangye mandou gente!

Na vila, Lu Yufei, que não estava bem, ficou na frente de uma cama conversando com Madame Xi:

— Madame, como a senhora está?

Madame Xi era muito idosa, incomparável às jovens como Lu Yufei. A jornada fora implacável, e ainda ontem passou mais um dia frio do lado de fora. Estava com fome e medo. Assim que voltaram à vila, Madame Xi adoeceu.

Além de Madame Xi, várias outras mulheres também não estavam bem. Lu Yufei sofria com o frio, mas tentava consolar Madame Xi. Xi Yunchu, que sempre teve temperamento delicado, agora doente, chorava ao lado da cama de Madame Xi.

Lu Yufei queria saber da saúde de Madame Xi e acalmar Xi Yunchu, mas logo se sentiu tonta e exausta. Mesmo assim, não podia mostrar que estava mal. Ela era Shizifei e havia sido quem organizou a viagem ao Templo Guangji desta vez. Se ela adoecesse, a determinação dos outros desmoronaria.

Naquele momento, não daria outra chance para Zhou Shunhua se exibir?

Lu Yufei recusou-se e resolveu tudo na vila, ignorando a resistência das criadas. A vila fornecia legumes e produtos selvagens para a mansão do Jing Wang — não era uma casa de campo para diversão. De repente, tanta gente precisava de ajuda para se estabelecer, deixando o lugar um caos completo. Lu Yufei teve que cuidar das refeições e alojamento de todos, consolar mãe e filha da família Xi, vigiar Zhou Shunhua e ainda se preocupar se a estrada da montanha estaria aberta. Em apenas meio dia, estava visivelmente abatida.

Xi Yunchu limpava as lágrimas e dizia:

— Já disse para não fazer essa viagem, mas vocês não escutaram. Olha só como estamos agora. Está nevando forte lá fora e estamos presos aqui. Ninguém sabe que estamos morrendo de fome.

Desde ontem, Lu Yufei ouvia essa reclamação repetidamente. Xi Yunchu nunca dizia estar cansada, mas Lu Yufei já estava exausta de ouvir. O rosto dela estava pálido. Mas ao lembrar que Xi Yunchu poderia ser a futura Wangfei, ela suportava e respondeu sorrindo:

— Quem sobrevive a uma calamidade está destinado à sorte. É uma bênção termos chegado bem à vila. Yunchu, eu sei que você está ansiosa, mas não fique falando de vida e morte o tempo todo. Isso traz má sorte.

— Má sorte? — Xi Yunchu zombou, segurando o lenço — Não falo nada e só fecho os olhos bem apertados. Isso é sorte? A questão é se encontraremos uma saída.

— Na vila tem carvão e mantimentos que vão durar bastante — tentou acalmá-la Lu Yufei — Fique calma, não se afobe, vamos esperar. Ontem, Shizi tentou avisar Wangye. Ele certamente mandará alguém nos salvar.

Ao ouvir o nome Zhao Chengjun, Xi Yunchu finalmente se acalmou e não perdeu a paciência com Lu Yufei, mas o tom sarcástico permaneceu:

— Carvão e comida não faltam, mas e os remédios? Minha mãe está muito doente. Se algo ruim acontecer, quem vai arcar com isso?

Mesmo querendo agradar Xi Yunchu, Lu Yufei não conseguia mais suportar. Sorriu, meio forçado. O que Xi Yunchu queria dizer? Que Lu Yufei era responsável pela doença de Madame Xi?

Mas foi a família Xi quem quis fornecer a Luz Eterna para Xi Yunwan. Lu Yufei lhes deu a chance de se aproximar da mansão do Jing Wang e se esforçou para organizar comida e alojamento durante o caminho. No fim, Xi Yunchu não reconheceu nada e reclamou que Lu Yufei lhes causara sofrimento?

Lu Yufei ficou tão irritada que quase perdeu a compostura. Foi então que um anúncio urgente chegou de fora, interrompendo o diálogo.

— Shizifei, estamos salvos. Wangye trouxe gente!

O quê? Lu Yufei levantou-se de repente. Até Madame Xi, deitada na cama, abriu os olhos com dificuldade:

— Jing Wang?

Xi Yunchu sentou-se atônita no banquinho bordado e murmurou, incrédula:

— Será mesmo Jing Wang? Não ouvi errado, né? Sua Alteza, Jing Wang está aqui?

Ninguém na sala prestou atenção em Xi Yunchu. Lu Yufei correu para fora. Não importava o que as criadas faziam, todas correram para a porta. Até Madame Xi se esforçou para se levantar e tossiu:

— Me ajudem a levantar e vão rápido receber Wangye.

Do lado de fora, uma cavalaria parou no campo aberto coberto de neve. O líder, vestido com um traje forte de mangas estreitas em tom vermelho-ocre e uma capa preta, saltou do cavalo.

Um grupo de soldados uniformizados o seguia. Zhao Chengjun entregou as rédeas aos confiáveis e ficou parado na neve, sendo o ponto mais marcante na vastidão branca. Majestoso, frio e poderoso, exalava uma aura assassina.

Ao ver o visitante sob o beiral, os olhos de Lu Yufei ficaram marejados, quase chorando. Zhao Zixun caminhou rápido até o espaço aberto e saudou:

— Pai.

Zhao Zixun olhou para Zhao Chengjun incrédulo:

— Pai, por que está aqui?

Zhao Chengjun não respondeu, virou-se e foi para trás:

— Falaremos depois. Prepare logo água quente e um quarto vazio. Esquece, não precisa. Eu mesmo vou providenciar.

Mal terminou de falar e já se contradisse. Zhao Zixun nem respondeu o que deveria fazer. Observou, surpreso, enquanto Zhao Chengjun foi até a frente da carruagem e disse suavemente:

— Ainda está acordada? Chegamos. Pode descer.

A cortina da carruagem se moveu suavemente. Logo a porta abriu por dentro, e uma mulher com capa vermelha apareceu. Ela se curvou ligeiramente, com movimentos que pareciam difíceis. Zhao Chengjun estendeu a mão, meio para ajudar, meio para segurar, e a colocou no chão.

Depois que ela se firmou, levantou o capuz. A neve branca brilhava prateada, e ela era como uma ameixa vermelha no meio da neve. Ao tirar o capuz, revelou um rosto delicado, luminoso e radiante.

Sua pele estava um pouco pálida, como se o frio da viagem a tivesse afetado. Mas o preto dos cabelos e o vermelho dos lábios brilhavam mais a cada instante. Ela era uma beleza resplandecente no meio do branco.

Zhao Zixun ficou atônito. Madame Xi, que acabara de chegar segurando a moldura da porta, ficou surpresa ao ver a mulher perto de Zhao Chengjun:

— Quem é essa mulher?

Tang Shishi já tinha sofrido demais, não deveria passar por tamanha provação só para correr até a vila da montanha por uma parcela tão pequena e miserável. Estava fraca e exausta demais para sequer animar-se diante do protagonista masculino, em quem tanto pensava.

Ela fez uma reverência rápida a Zhao Zixun e disse:

— Tang Shishi presta respeito a Shizi.

Zhao Zixun olhou para Tang Shishi, depois lançou um olhar rápido a Zhao Chengjun. Seu instinto dizia que algo estava diferente. Perante Zhao Chengjun, ele não ousou aceitar a cerimônia de Tang Shishi. Desviou-se levemente e disse:

— Senhorita Tang, por favor, levante-se. Foi difícil para você vir até aqui.

— Wangye ama seu filho e ficou impaciente — respondeu Tang Shishi — Quando Wangye soube que Shizi e Shizifei estavam presos, ele imediatamente trouxe pessoas para explorar o caminho pessoalmente. Wangye e Shizi são bondosos e respeitosos, até o sol e a lua podem testemunhar. Isso realmente comove profundamente.

Ao ouvir isso, Zhao Zixun fez uma reverência a Zhao Chengjun e disse:

— Obrigado, pai. Falhei em compartilhar suas preocupações e causei-lhe problemas. Estou mesmo envergonhado.

— Levante-se — disse Zhao Chengjun. — Já que as coisas chegaram a este ponto, de que adianta falar agora? A carta dizia que você não estava bem por causa do vento. Não fique do lado de fora, entre para conversarmos.

Zhao Chengjun e Zhao Zixun caminharam até a sala principal. Um grupo de mulheres os viu e saudou em uníssono:

— Wangye.

Zhao Chengjun passou com passos largos e respondeu casualmente:

— Dispensado.

Ele já estava acostumado com essas formalidades. Desde que nasceu, as pessoas sempre se ajoelhavam diante dele e o chamavam respeitosamente de “Wangye”.

Para Zhao Chengjun, essa situação não era novidade há muito tempo, e ele jamais dava privilégios a ninguém. Esta casa de campo na montanha fornecia produtos da montanha para a mansão do Jing Wang, e normalmente muito poucas pessoas vinham aqui. Havia apenas duas entradas, a da frente e a dos fundos. Felizmente, afinal, era uma propriedade da mansão do Jing Wang. Apesar de pequena, a construção era organizada e bem feita.

A primeira sala principal que ele adentrava era a mais honrada. Agora que Zhao Chengjun estava presente, aquela sala cumpriria a função de um salão. Ele entrou e viu Madame Xi. Saudou-a com um gesto:

— Madame Xi.

— Wangye — Madame Xi arrastou seu corpo doente para cumprimentar Zhao Chengjun. Xi Yunchu ficou ao lado da mãe e lançou um olhar rápido para Zhao Chengjun. Saudou timidamente, com delicadeza.

Xi Yunchu era tímida e reservada, com uma figura marcante. Possuía a beleza frágil e delicada que muitos homens apreciavam, um tipo de timidez presente em cada movimento. Uma pena que Zhao Chengjun nem a notasse. Seus olhos permaneceram fixos em Madame Xi, e ele fez um gesto indicando que Madame Xi se sentasse no lugar de honra.

Mas onde Madame Xi teria coragem? Ela recusou na hora. Depois de duas insistências de Zhao Chengjun, ele mesmo ocupou a cadeira principal, e Madame Xi sentou-se em frente a ele.

Os demais sentaram-se em ordem, conforme sua hierarquia. Zhao Zixun e Lu Yufei ocuparam cadeiras de madeira de pera, Xi Yunchu levou um banquinho bordado para ficar ao lado da mãe, Tang Shishi ficou em pé perto de Zhao Chengjun, e os outros seguiram seus mestres.

Zhao Chengjun perguntou a Madame Xi:

— Soube que a senhora adoeceu durante a viagem. Como está seu estado agora?

— Não é nada — Madame Xi ainda estava doente na cama pouco antes. Agora que Jing Wang chegou, parece que ela recuperou força de repente, parecendo mais animada. — É o meu corpo fraco que faz Wangye rir de mim.

Zhao Chengjun respondeu:

— Madame, o que está dizendo? A senhora é uma convidada ilustre da mansão do Jing Wang. Foi a negligência da mansão que a fez adoecer durante a viagem. Provavelmente a estrada da montanha já foi limpa. Ordenei aos meus subordinados que reforcem o caminho. Amanhã, poderemos voltar direto para a cidade.

— Sério? — Todos ficaram radiantes ao ouvir isso, e até Madame Xi tossiu de emoção, cobrindo a boca com dificuldade:

— Obrigada, Wangye. Mas eu havia concordado em ir ao Templo Guangji para rezar ao Buda com Shizifei. Se voltarmos para a cidade, não estaremos abandonando o Buda?

— Não faz mal. Pode rezar em qualquer lugar. O mais importante é a sua segurança — disse Zhao Chengjun num tom nem rápido nem lento. Ele sempre falava assim, com calma e dicção clara, e ao terminar cada frase, parecia deixar um eco. Provavelmente um hábito do palácio imperial: evitar arrogância e impaciência, ser gentil e solene, mas com cada palavra carregando um caráter rigoroso atrás de uma aparência suave e impecável.

Zhao Chengjun falou de forma bela. Todas as mulheres na sala, exceto Tang Shishi, tinham os olhos marejados. Estavam aterrorizadas e amedrontadas o dia todo. Agora, alguém surge dizendo: “Sua segurança é o mais importante.” Quem não se emocionaria?

Madame Xi enxugou os olhos e disse:

— Obrigada, Wangye. Realmente não sei como retribuir sua bondade.

— Madame, a senhora é educada — sorriu Zhao Chengjun levemente — Foi a mansão do Jing Wang que tirou a senhora e a segunda jovem senhora da província de Xiping. De qualquer forma, vou garantir que vocês duas voltem em segurança para a família Xi, ou não corresponderei à confiança deles. Se a senhora não estiver bem, pode se recuperar tranquila na vila. Depois, minha guarda ficará na vila para escoltar a senhora e a segunda jovem senhora de volta à cidade.

A guarda ficará… Ou seja, Jing Wang partiria cedo? Madame Xi não pôde esconder a decepção. Inicialmente, pensava em ficar alguns dias a mais com Jing Wang, usando a doença como pretexto para criar oportunidades para Xi Yunchu e Jing Wang. Agora, parecia que Jing Wang partiria amanhã, e não adiantaria ela ficar.

Depois de pensar, Madame Xi falou:

— Os guardas de Wangye são soldados de elite escolhidos a mil léguas. Eles têm uma grande responsabilidade para proteger o país. Não seria uma demora nos assuntos militares deixá-los comigo? Minha doença não é grave, podemos partir juntos amanhã.

Xi Yunchu olhava para Zhao Chengjun discretamente, e só recobrou a consciência ao ouvir isso. Pegou a mão da mãe e franziu o cenho preocupada:

— Mãe...

Madame Xi acariciou as costas da mão de Xi Yunchu e disse:

— Não é nada. Wangye está ocupado, não atrase Wangye.

Xi Yunchu lançou um olhar rápido a Zhao Chengjun, abaixou os cílios e respondeu tristemente:

— Sim.

Zhao Chengjun agiu como se não visse. Mantinha um sorriso leve e apropriado, e disse a Madame Xi:

— Madame, não se force. Seja qual for sua decisão, a mansão do Jing Wang estará ao seu lado até o fim.

Madame Xi decidiu partir. Não estava confortável na vila, então melhor seguir com Jing Wang. Sem preocupação com segurança na estrada e ainda poderia fortalecer o vínculo com a mansão. Decidida, falou com firmeza:

— Wangye, obrigado pela bondade. Minha doença não é séria, e podemos partir amanhã.

Zhao Chengjun apenas foi educado. Como Madame Xi insistia, não tinha mais o que dizer. Levantou-se e disse:

— Então, madame pode descansar tranquila. Não vou atrapalhar sua recuperação.

Madame Xi levantou-se para acompanhar Zhao Chengjun. Parecia constrangida e falou:

— Wangye também vai descansar na vila esta noite? Wangye é nobre, e a sala principal deve ser ocupada por Wangye. Tenho vergonha de ocupar a sala principal. Vou me retirar imediatamente...

— Madame, não precisa se retirar — interrompeu Zhao Chengjun. — A senhora é uma anciã e está doente. Deve ficar na sala principal. Vou mandar limpar um quarto lateral. A senhora pode descansar com tranquilidade.

Madame Xi ficou profundamente impressionada. Zhao Chengjun era um príncipe, mas demonstrava grande respeito à família Xi. Era um homem nostálgico, que ainda sentia falta de Wan’er mesmo depois de tanto tempo. Xi Yunchu cresceu ouvindo o nome de Zhao Chengjun desde pequena. Agora que ele estava em uma posição alta, nobre e digno, ainda assim cuidava da família de todas as formas. O coração dela já batia acelerado havia muito tempo.

Xi Yunchu olhou para Zhao Chengjun com olhos brilhantes, bochechas coradas e um pouco de jeito de menina. Ao ver a expressão da filha, Madame Xi brincou:

— Wangye é tão educado, sinto um profundo respeito e humildade por você. É que as montanhas e a selva são apressadas, e não tivemos tempo para preparar nada esta noite, o que realmente descuida Wangye. Seria diferente se houvesse uma Wangfei. Wangye, vou falar uma heresia: você não tem ninguém para cuidar das suas necessidades básicas. Não sei quando pretende arrumar alguém para isso.

Tang Shishi não se surpreendeu com o assunto. Estava na mansão há pouco tempo, mas em seis meses, muita gente já havia perguntado sobre isso aberta ou secretamente. As madames e jovens senhoras da província de Xiping se preocupavam, os subordinados da mansão do Jing Wang também, a Imperatriz Viúva Yao no Palácio Imperial ficava atenta, e até as próprias pessoas dela.

Tang Shishi ouvira várias vezes que Liu Ji tentava convencer Zhao Chengjun a se casar. Mas em todas, ele fora afastado pela atitude indiferente de Zhao Chengjun. Tang Shishi achava que seria a mesma coisa desta vez e não dava muita atenção. Até que ouviu Zhao Chengjun dizer:

— Deve ser em breve.

Capítulo 55 — Favorita

Tang Shishi ficou atônita, os olhos arregalaram de repente. O que Zhao Chengjun havia dito?

Todos os presentes também ficaram surpresos. Quando Madame Xi perguntou sobre quando ele se casaria com uma Wangfei, ela estava só tentando a sorte e não esperava mesmo uma resposta. Ninguém imaginava que Zhao Chengjun fosse realmente responder, ainda mais agir como se levasse a sério, falando rápido.

Será que ele já tinha alguém em mente?

Um sorriso de alegria apareceu de repente no rosto de Xi Yunchu. Tang Shishi olhou para Zhao Chengjun e depois para Lu Yufei, compreendeu claramente e abaixou os olhos.

Diferente da mulher presente, Zhao Zixun simplesmente ficou chocado. Ele passou mais tempo na mansão do Jing Wang e conhecia Zhao Chengjun melhor que ninguém. Sempre pensaram as mulheres que, não importando o que Zhao Chengjun dissesse, no fundo ele queria casar com uma Wangfei. Mas Zhao Zixun sabia que o coração de Zhao Chengjun era como uma pedra — impossível de mudar.

Ele dizia que não gostava, e aquilo realmente não dava margem para negociação. Senão, não teria adotado crianças alheias tão cedo.

Ao longo dos anos, Zhao Zixun percebeu com clareza que Zhao Chengjun não se interessava por filhos. Ele tinha ambições maiores e objetivos distantes. Portanto, a ideia de um homem comum apressado em casar e ter filhos era algo muito pouco atraente para ele. Zhao Zixun sempre achou que Zhao Chengjun não casaria, pelo menos não até suas ambições serem realizadas. Ele não permitiria nada que desviassse seu tempo e energia.

Uma esposa e filhos, obviamente, seriam uma distração.

Zhao Zixun não acreditava que uma pessoa mudasse seu modo de pensar e planos em pouco tempo. Em duas décadas, ninguém havia abalado a visão de Zhao Chengjun. Por que ele mudaria em apenas um ano? Quem no mundo teria esse poder?

Zhao Zixun refletiu bastante, mas continuava achando impossível. Será que Zhao Chengjun disse aquilo só para mostrar à família Xi? Mas se fosse esse o caso, por que se preocupar com os outros?

Zhao Zixun não entendia. Todos na sala estavam pasmos com essa reviravolta inesperada e ainda não se recuperavam. Além disso, Zhao Chengjun não tinha interesse em explicar. Ele apenas acenou levemente para Madame Xi e disse:

— Madame Xi, fique à vontade. Eu me retiro. Madame Xi, recupere-se com calma.

Dito isso, ele caminhou rapidamente contra o vento cortante. Tang Shishi recobrou a consciência, saudou Zhao Zixun e Lu Yufei às pressas e saiu correndo atrás dele.

Depois que Zhao Chengjun partiu, Zhao Zixun, como homem de fora, não podia ficar mais tempo. Sentou-se por um instante e logo aproveitou para sair.

Com a saída dos homens, só restaram algumas mulheres na sala. Lu Yufei finalmente pôde falar livremente. Olhou para Xi Yunchu e a provocou de propósito:

— Madame Xi é mesmo sortuda. As duas filhas nasceram com destino de riqueza e honra. Irmã Chu, tem que cuidar mais de mim no futuro.

Xi Yunchu estava ausente e perdida em pensamentos desde antes. Ao ouvir Lu Yufei, despertou e corou de repente:

— As palavras da Shizifei não fazem sentido. Você é Shizifei, a única que cuida dos outros. Quem mais cuidaria de você na província de Xiping?

Lu Yufei sorriu:

— Não preciso me preocupar com uma jovem comum, mas quando é com a mais velha, tenho que caprichar para agradar.

Lu Yufei era Shizifei e não precisava dar satisfação a ninguém no Noroeste. As únicas que deveria chamar de superiores eram a Imperatriz Viúva Yao em Jinling e a futura Wangfei do Jing Wang. Jing Wang estava estacionado no Noroeste e raramente entrava na capital. Embora a Imperatriz Viúva Yao fosse formalmente sua sogra, na prática não podia interferir nos assuntos de Lu Yufei.

O que Lu Yufei insinuava era claramente a Jing Wangfei.

As criadas e as mulheres mais velhas na sala riram ao ouvir isso. Madame Xi abanava o lenço sorrindo, mas sem comentar. Xi Yunchu corou ao perceber os olhares de deboche, virou as costas com ressentimento e falou com raiva:

— Shizifei é tão injusta, está me zoando de novo. Vá lá agradar sua superior. Por que tem que zombar de mim?

Lu Yufei sabia que Xi Yunchu tinha um temperamento forte, e podia ser tão cruel quanto uma faca com os outros. Se alguém ousasse falar dela, ficava brava e hostil. Por isso, Lu Yufei não se atrevia a provocá-la demais e sabia quando parar:

— Só estou pensando no futuro. Meu pai sempre se cansou dos outros insistindo para que ele se casasse. Repetidamente disse que não tinha intenção de arrumar esposa. Até então estava tudo bem. Mas quando veio à casa de campo desta vez, de repente falou demais. Não sei se é o feng shui dessa vila ou as pessoas que estão aqui. Meu pai veio hoje, viu algumas pessoas e mudou de ideia do nada.

As criadas riram ainda mais, e a jovem governanta ao lado de Madame Xi brincou:

— A segunda jovem senhora da nossa família cresceu. É bonita e inteligente. Quem não gosta dela? Até eu, que não sou homem, depois de olhar para a segunda jovem senhora, mal posso esperar para tê-la no meu domínio.

Xi Yunchu foi provocada sem pudor. Levantou-se, bateu o pé e falou:

— Que conversa é essa? Não vou ficar louca por sua causa.

Depois de falar, jogou o lenço para o lado, cobriu o rosto e saiu correndo. Abriu a cortina da porta e saiu. As pessoas atrás riram ainda mais, e Madame Xi gritou:

— Vista-se direito, não fique doente!

Xi Yunchu fechou a cortina e foi embora, sem saber se ouviu as palavras da mãe. Madame Xi suspirou repetidas vezes:

— Caihuan, vá rápido atrás dela. Não deixe que congele.

A criada mais velha, Caihuan, respondeu e saiu apressada, com um manto. Madame Xi suspirou e disse:

— Não sei o que lhe devo na vida passada. Ela veio cobrar dívidas nesta. Pensando bem, ela é extremamente teimosa e realmente problemática.

Lu Yufei sorriu e falou:

— Madame, não se incomode. A senhora não imagina quantas pessoas invejam sua boa vida lá fora. Tem essas duas lindas irmãs que realmente nasceram em um ninho de bênçãos. A filha mais velha era digna e bela, prometida como Wangfei para a família imperial. Infelizmente, era frágil e morreu cedo. Mas agora parece que a segunda jovem está superando a irmã. Ela é mais notável na aparência e postura, e tem um corpo mais forte que a mais velha. Talvez seja até mais sortuda.

Ao mencionar Xi Yunwan, Madame Xi suspirou levemente:

— Irmã Chu se parecia com a irmã desde pequena. Quando a irmã Wan foi nomeada Wangfei, ela queria ainda mais aprender com a irmã mais velha. Pena que Wan partiu cedo. Nunca pude ver as duas se casarem, e me arrependo toda vez que penso nisso.

Lu Yufei pensava: se Xi Yunwan não tivesse morrido, o que seria de Xi Yunchu agora? Mas, aos olhos de uma mãe, não importa o quê, a filha sempre é a melhor. Lu Yufei não falou muito, respondeu com um sorriso:

— A filha mais velha sabe disso mesmo após a morte e certamente ficará feliz que a segunda jovem vai se casar. Madame, relaxe o coração. Depois que a segunda jovem se casar, a senhora ainda terá bênçãos sem fim.

Na verdade, Madame Xi sentia um orgulho oculto mesmo reclamando pela boca. Quão orgulhosa ela era por ter as duas filhas favorecidas por Jing Wang! Ela estava originalmente debilitada pela gripe e abatida, mas ao receber a boa notícia, sua tristeza desapareceu e seu corpo melhorou bastante.

Quando Lu Yufei viu as expressões triunfantes dos mestres e servos da família Xi, sentiu um leve amargor e descontentamento. Ela elogiava Xi Yunchu por cortesia, mas a família Xi realmente aceitava aquilo como se a mansão Jing Wang estivesse implorando por eles. Era ridículo. Qual era o status familiar da mansão Jing Wang e qual era o status da família Xi? Se não fosse pelo fato de as duas famílias estarem prometidas há muitos anos, quem hoje em dia conheceria a família Xi?

Mas quem fez Jing Wang favorecer a segunda jovem da família? Lu Yufei só podia admitir isso naquele momento, por mais que estivesse descontente. Para uma nora, sua vida dependia da sogra. A sogra controlava firmemente a vida e a morte da nora, tanto no protocolo quanto na realidade. Xi Yunchu provavelmente seria sua futura sogra, e Lu Yufei não ousava ofendê-la.

Ela ainda teria que cumprimentar os membros da família Xi com um sorriso no rosto. Lu Yufei sorria, mas suspirava silenciosamente por dentro. Xi Yunchu não tinha um temperamento justo e razoável. Mais tarde, não faltariam sofrimentos vivendo sob seu domínio. Contudo, de qualquer forma, a mansão Jing Wang estava prestes a receber uma legítima Wangfei. Contanto que Lu Yufei bajulasse a legítima sogra e deixasse a Wangfei à frente de tudo, Madame Xu e a família Xu não significariam nada para ela.

Lu Yufei se sentia um pouco decidida. No geral, ainda era algo bom.

Depois que Tang Shishi saiu, hesitou por um longo tempo e perguntou em voz baixa:

— Wangye, você realmente pretende casar com uma Wangfei?

— En — respondeu Zhao Chengjun. Ele olhou para Tang Shishi de relance e perguntou num tom ambíguo:

— Qual é o problema? Você não quer?

— Não, como essa garotinha poderia? — Tang Shishi ficou surpresa e recusou na hora. Devia estar brincando. Como ousaria aceitar uma acusação dessas? Se dissesse que sim, Xi Yunchu a arrancaria a pele viva ao entrar na casa.

Aquilo não era brincadeira com o temperamento de Xi Yunchu. Zhao Chengjun viu que ela negou rapidamente, como se temesse ser mal interpretada. Seu bom humor rapidamente escureceu.

Calmamente, em tom casual, Zhao Chengjun disse:

— Se você tem alguma opinião, pode falar agora. A futura Wangfei do Jing Wang quer conviver bem com as pessoas da mansão por muito tempo. Se tem algo a dizer, é melhor falar antes.

Tang Shishi apenas sorriu ao ouvir isso. Jing Wang dizia que não importava e que ela podia falar o que quisesse. Esse tipo de conversa era só para ouvir de longe. Se ela realmente falasse, estaria ferrada.

Aquele homem maldito guardava um rancor enorme contra ela.

Mas também não adiantaria ficar calada depois que Jing Wang falou. Tang Shishi pensou um pouco e buscou cuidadosamente uma forma de expressar sua opinião sem ofender de verdade:

— É uma alegria para toda a mansão que Wangye se case com a Wangfei. Só que o pátio Liuyun é um pouco complicado. A nova Wangfei não pode se deixar enganar quando chegar. Enfim, Wangfei é a mulher favorita de Wangye. Ela deve ser sábia, inteligente e generosa, e não ciumenta como uma mulher comum, independente de quem tenha razão ou não.

Tang Shishi dizia isso para dar um aviso a Zhao Chengjun. Já tinha pressentido que, depois que Xi Yunchu entrasse na casa, com o entusiasmo da segunda jovem da família Xi, várias damas da corte seriam miseravelmente atormentadas. Ela estava falando primeiro para, se fosse azarada, ainda poder implorar com Zhao Chengjun.

Zhao Chengjun não resistiu e riu ao ouvir aquilo. Lançou um olhar para Tang Shishi com um sorriso e disse:

— Então você vai se decepcionar. Ela não é nem inteligente nem generosa, e gosta de tomar decisões por conta própria e oprimir suas inimigas. Ela não tem nenhuma das virtudes que você mencionou, mas você tem razão em um ponto: ela é de fato minha pessoa favorita.

Tang Shishi não conseguiu segurar o riso. Céus, isso era assustador demais. O coração de Zhao Chengjun já estava tão enviesado, mesmo antes da Wangfei entrar na casa. Depois do casamento, com uma bela senhora sempre ao lado para mimá-lo, não ficaria ainda mais parcial?

Tang Shishi sentiu que seu futuro estava sombrio. Tinha que acelerar as coisas. Se continuasse servindo Zhao Chengjun e esperasse Xi Yunchu virar Wangfei, ela seria a primeira a ser manipulada por ela.

Mas Zhao Chengjun conhecia Xi Yunchu muito bem. Ela não era nem inteligente nem generosa. Também era arrogante ao eliminar suas inimigas. Tang Shishi não pôde evitar zombar. Desde que a mulher fosse jovem e bonita, todos os defeitos podiam ser ignorados. O que estava acontecendo com esses homens? Quando seriam maduros o suficiente para enxergar o caráter verdadeiro além da aparência, e reconhecer uma beleza com comportamento e aspecto excelentes, como ela?

Tang Shishi revirou os olhos mentalmente, mas ainda teve que responder superficialmente:

— Wangye é sério demais. Seus requisitos para a Wangfei são altos demais, e você diz que ela não é nem inteligente nem generosa. Na verdade, a Wangfei tem feito um bom trabalho.

Depois que Tang Shishi falou de forma superficial, percebeu que Zhao Chengjun começava a rir de novo. Ele fechou o punho e cobriu a boca, parecia se esforçar para segurar a risada. Os olhos brilhavam como estrelas.

Tang Shishi ficou furiosa com a risada dele. Olhou para Zhao Chengjun com um tom claramente irritado:

— Wangye, eu estou elogiando a futura Wangfei. Por que está rindo?

Ele lançou um olhar para Tang Shishi, sorrindo, depois desviou o olhar, sorrindo sem dizer nada. Os olhos de Zhao Chengjun eram negros e brilhantes. O olhar que dera pouco antes parecia natural, solto, ofuscante e, de certa forma, bastante atraente.

Era a primeira vez que Tang Shishi via a beleza de um homem assim. Já tinha visto muitos homens bonitos, como Qi Jingsheng, Zhao Zixun e Zhao Chengjun. Mas todos eram só beleza superficial; poucos faziam Tang Shishi sentir a dinâmica da beleza masculina.

Ela até pensava que Zhao Chengjun estava cego por esse tipo de beleza. Veja seu temperamento terrível, rancoroso, seus métodos sujos disfarçados por um sorriso superficial. Ao menos metade do motivo de ele não ter casado era por culpa própria.

Tang Shishi ficou pasma. Zhao Chengjun bateu na cabeça dela e disse:

— Não viaje na maionese. Tem tanta gente olhando. Você devia se controlar.

Tang Shishi foi puxada de volta à realidade pela dor na testa. Ao se recompor, ficou furiosa:

— Quem disse que eu estava olhando para você? Só os outros olham para mim, quando eu vou olhar para os outros? Pfft! Você, homem feito, é tão narcisista.

O sorriso no rosto de Zhao Chengjun não mudou, mas os olhos afundaram visivelmente. Ele sorriu e falou calmamente:

— Pois é, eu te entendi mal. Eu estava preocupado com seu alojamento esta noite, mas agora parece que você vai conseguir resolver sozinha.

Tang Shishi ficou boquiaberta:

— Como?

Ela viera com Zhao Chengjun, e ele arranjara a hospedagem. Será que não se importava com ela?

Zhao Chengjun disse:

— Não é adequado que homem e mulher se toquem. Então, não é bom você ficar muito perto de mim. Por acaso, você e a irmã Zhou Shunhua têm uma ligação profunda. Hoje à noite, pode passar a noite com ela.


Postar um comentário

0 Comentários